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CREDENCIADA JUNTO AO MEC PELA

PORTARIA Nº 1.282 DO DIA 26/10/2010

MATERIAL DIDÁTICO

EDUCAÇÃO: JUDICIALIZAÇÃO E
JURISPRUDÊNCIA

Impressão
e
Editoração

0800 283 8380


www.ucamprominas.com.br
2

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 3
UNIDADE 1 – A JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ............................................... 8
1.1 SURGIMENTO DO FENÔMENO DA JUDICIALIZAÇÃO .................................................... 8
1.2 CONCEITOS E DEFINIÇÕES ................................................................................... 12
1.3 O PRINCÍPIO DA “RESERVA DO POSSÍVEL” E DO “MÍNIMO EXISTENCIAL” ..................... 15
1.4 ATIVISMO JUDICIAL.............................................................................................. 21
1.5 CONSEQUÊNCIAS DA JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ............................................. 23
UNIDADE 2 – O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO PROCESSO DE
JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ........................................................................ 28
2.1 A ESTRUTURA DO MINISTÉRIO PÚBLICO (MP) ....................................................... 28
2.2 ÁREAS DE ATUAÇÃO DO MPF .............................................................................. 30
2.3 FUNÇÕES E PRINCÍPIOS DO MP ............................................................................ 32
2.4 ATUAÇÃO DO MPF NA JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO ........................................... 34
UNIDADE 3 – JURISPRUDÊNCIA E A GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO . 38
3.1 CONCEITOS E DEFINIÇÕES ................................................................................... 38
3.2 A RELAÇÃO PÚBLICO-PRIVADO NA EDUCAÇÃO E O STF .......................................... 40
3.3 EMENTAS DE DECISÕES DOS TRIBUNAIS E AÇÕES PROMOVIDAS PELO MINISTÉRIO
PÚBLICO (AÇÃO CIVIL PÚBLICA OU INQUÉRITOS CIVIS) RELACIONADAS À EDUCAÇÃO ........ 41
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 49
3

INTRODUÇÃO

A efetivação universal do direito à educação tem trazido à baila a questão da


judicialização da educação, a qual tem marcado presença na academia e na agenda
das pesquisas nesse campo.
Esse fenômeno traz implicações seja para as instituições de ensino, para os
educandos e educadores, enfim, para a sociedade de maneira geral, principalmente
no tocante ao comportamento desses atores e no desfecho das decisões.
As atividades que envolvem a efetivação dos direitos previstos na
Constituição Federal de 1988 dependem da existência de recursos financeiros, de
dotações orçamentárias prévias, executadas segundo programa de prioridades
estabelecidos pela própria Administração Pública, razão pela qual, diante da
insuficiência de recursos para atender todas as demandas, cabe ao administrador
definir qual serviço e em qual região será efetivado prioritariamente. Há ainda a
alegação de que não há como se cobrar, somente dos municípios, a manutenção do
sistema de ensino, especificamente o atendimento a crianças em creches e escolas
de educação infantil e justifica que a matrícula de milhares de crianças em algumas
unidades de creches envolve questões de orçamento e disponibilidade do Erário,
com dotação específica para a implantação de meios à concretização das medidas
pleiteadas e que a carência de novos aportes de recursos para financiar a educação
infantil limitou o atendimento em todo o Município e a possibilidade de ampliação do
atendimento em educação infantil (ARAÚJO, 2009).
Não que concordemos com as justificativas acima, embora em parte sejam
alegações verdadeiras, mas fato é que o desenvolvimento do novo direito
constitucional ou neoconstitucionalismo no Brasil, após a Constituição Federal de
1988, teve como principais mudanças de paradigma, no plano teórico, a força
normativa da Constituição e a expansão da jurisdição constitucional que envolve a
interpretação e aplicação da Constituição. Tais fatores foram as causas que
propiciaram a constitucionalização e judicialização das relações sociais, sendo
necessário enfatizar que, no caso brasileiro, a jurisdição constitucional é exercida
amplamente: do juiz estadual ao Supremo Tribunal Federal, já que todos interpretam
a Constituição, podendo, inclusive, recusar aplicação à lei ou outro ato normativo
que considerem inconstitucional.
4

Além disso, existem outros motivos, conforme destaca LUÍS ROBERTO


BARROSO (2006, p. 140), nos seguintes termos, in verbis:

[...] Sob a Constituição de 1988, aumentou de maneira significativa a


demanda por justiça na sociedade brasileira, em primeiro lugar, pela
redescoberta da cidadania e pela conscientização das pessoas em relação
aos próprios direitos e pela circunstância de haver o texto constitucional
criado novos direitos, introduzido novas ações e ampliando a legitimação
ativa para tutela de interesses mediante representação ou substituição
processual.

Essas breves assertivas justificam os temas de estudo deste módulo:


judicialização da educação, o papel do Ministério Público para efetivação do acesso
e qualidade de educação e algumas jurisprudências, visto que os Tribunais de
Justiça no Brasil produzem milhares de decisões anualmente sobre a temática da
educação (CARVALHO, 2014).
De acordo com a Constituição Federal, cabe ao Ministério Público brasileiro:
 a defesa dos direitos sociais e individuais indisponíveis;
 a defesa da ordem jurídica; e,
 a defesa do regime democrático.

Figura 1: Ministério Público.


Fonte: https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias

Quanto à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), ela se constitui


num conjunto de decisões essenciais para a preservação das garantias expressas
no texto constitucional. Além disso, a plena aplicação da Constituição tem o poder
de apaziguar os conflitos sociais ao reforçar regras que possibilitam a adoção de
soluções eficazes para demandas sociais cada vez mais complexas. Nesse sentido,
5

a atuação da Corte Suprema oferece à sociedade brasileira critérios de identidade e


estabilização institucional das legítimas disputas políticas e sociais (PELUZO, 2011).
Por meio de suas decisões, o Supremo Tribunal Federal vem exercendo
papel de destaque na consolidação da democracia brasileira. O compromisso do
STF com a aplicação da Constituição e das leis legitimamente editadas representa a
afirmação inequívoca da supremacia da legalidade democrática, a prevalência de
uma ordem jurídica justa e a vigência dos grandes ideais humanitários
consubstanciados no rol de direitos fundamentais.

Figura 2: Jurisprudência.
Fonte: http://www.tce.sc.gov.br/acom-intranet-ouvidoria-biblioteca

Desejamos boa leitura e bons estudos, mas antes algumas observações se


fazem necessárias:
1) Ao final do módulo, encontram-se muitas referências utilizadas
efetivamente e outras somente consultadas, principalmente artigos retirados da
World Wide Web (www), conhecida popularmente como Internet, que devido ao
acesso facilitado na atualidade e até mesmo democrático, ajudam sobremaneira
para enriquecimentos, para sanar questionamentos que por ventura surjam ao longo
da leitura e, mais, para manterem-se atualizados.
6

2) Deixamos bem claro que esta composição não se trata de um artigo


1
original , pelo contrário, é uma compilação do pensamento de vários estudiosos que
têm muito a contribuir para a ampliação dos nossos conhecimentos. Também
reforçamos que existem autores considerados clássicos que não podem ser
deixados de lado, apesar de parecer (pela data da publicação) que seus escritos
estão ultrapassados, afinal de contas, uma obra clássica é aquela capaz de
comunicar-se com o presente, mesmo que seu passado datável esteja separado
pela cronologia que lhe é exterior por milênios de distância.
3) Em se tratando de Jurisprudência, entendida como “Interpretação
reiterada que os tribunais dão à lei, nos casos concretos submetidos ao seu
julgamento” (FERREIRA, 2005)2, ou conjunto de soluções dadas às questões de
direito pelos tribunais superiores, algumas delas poderão constar em nota de rodapé
ou em anexo, a título apenas de exemplo e enriquecimento.
4) Por uma questão ética, a empresa/instituto não defende posições
ideológico-partidária, priorizando o estímulo ao conhecimento e ao pensamento
crítico.
5) Pedimos compreensão por usar a lógica ocidental tradicional que funciona
como uma divisão binária: masculino x feminino, macho x fêmea ou homem x
mulher, mas na medida do possível iremos nos adequando à identidade de gênero,
cientes de que no mundo atual as pessoas tem liberdade de se expressarem de
forma tão diversa e plural e que o respeito à singularidade e a tolerância de cada
indivíduo torna-se fator de extrema importância.
6) Sabemos que a escrita acadêmica tem como premissa ser científica, ou
seja, baseada em normas e padrões da academia, portanto, pedimos licença para
fugir um pouco às regras com o objetivo de nos aproximarmos de vocês e para que
os temas abordados cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos
científicos.
Por fim:
7) Deixaremos em nota de rodapé, sempre que necessário, o link para
consulta de documentos e legislação pertinente ao assunto, visto que esta última

1
Trabalho inédito de opinião ou pesquisa que nunca foi publicado em revista, anais de congresso ou
similares.
2
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio. Versão 5.0. Editora
Positivo, 2005.
7

está em constante atualização. Caso esteja com material digital, basta dar um Ctrl +
clique que chegará ao documento original e ali encontrará possíveis leis
complementares e/ou outras informações atualizadas. Caso esteja com material
impresso e tendo acesso à Internet, basta digitar o link e chegará ao mesmo local.
8

UNIDADE 1 – A JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

Figura 3: A judicialização da educação.


Fonte: http://www.revistaeducacao.com.br/quando-a-educacao-e-caso-de-justica/

1.1 Surgimento do fenômeno da judicialização


O processo de judicialização da política é um fenômeno relativamente
recente no mundo e pode-se afirmar que, de modo geral, está presente em todas as
sociedades democráticas. Na América Latina, por exemplo, confluiu com os
processos de redemocratização e foi intensificado, sem dúvida, pelo
3
desenvolvimento e falência do Welfare State . É certo que o processo ganha
dimensões diferentes em cada Estado, o que contribui para a formação de opiniões
distintas a respeito de seus efeitos, o que não é nosso interesse aprofundar no
estudo atual.
De modo geral, os fatores que concorreram para a judicialização da política
no mundo se concentram, sobretudo, no período após a Segunda Guerra Mundial, a
partir da constituição do Estado de Bem-Estar Social; um período marcado por
intensa atividade legisladora para regular os direitos sociais e por uma grande

3 Welfare State ou Estado de Bem-Estar Social baseia-se em uma ideia de que o homem possui
direitos indissociáveis a sua existência enquanto cidadão, estes direitos são direitos sociais. De
acordo com esta concepção, todo o indivíduo tem o direito, desde seu nascimento, a um conjunto de
bens e serviços que lhe devem ser oferecidos e garantidos de forma direta através do ESTADO, ou
indiretamente, desde que o Estado exerça seu papel de regulamentar isso dentro da própria
sociedade civil.
Em linhas mais gerais, os direitos sociais no Welfare State visam assegurar que as desigualdades de
classe social não comprometam o exercício pleno dos direitos civis e políticos.
9

demanda jurídica para que esses direitos fossem garantidos. Entretanto, já em 1803,
com o caso Madison VS. Marbury, no qual a Suprema Corte dos Estados Unidos
declarou nulo um ato do Poder Legislativo, entendendo que tal ato feria a
Constituição, pode-se dizer que foi aberto um caminho para o Controle de
Constitucionalidade, prática disseminada no século XX. Antes disso, ainda por volta
dos anos de 1780, já é possível identificar a prática do Controle de
Constitucionalidade, mas com um objetivo político diferente do empregado nos dias
atuais. Naquele período, sua função estava restrita a dar ao povo a proteção contra
legisladores desonestos, que por algum motivo não agiam em conformidade com a
lei (OLIVEIRA, 2011).
JOSÉ GERALDO ALENCAR FILHO (2011) explica que o fenômeno da
judicialização da política é caracterizado por uma involuntária transferência de poder
para as instâncias judiciais em detrimento de instituições políticas tradicionais, que
são o Legislativo e o Executivo. Por sua vez, juízes e tribunais passaram, dentre
outros temas polêmicos e complexos, a revisar e também implementar políticas
públicas, revendo com isso as regras do jogo democrático.
Esse fenômeno da judicialização se trata de uma interferência que se diz
involuntária, que é fruto de um processo normal do constitucionalismo moderno,
visto ser a Constituição composta por conceitos de caráter aberto que precisam ter
seu sentido interpretado pelo Poder Judiciário, seja por meio do controle de
constitucionalidade ou por decisões de natureza política (ALENCAR FILHO, 2011).
ERNANI CARVALHO (2004, p. 3) aponta as condições políticas para o
surgimento da Judicialização:
i) democracia, condição necessária, porém não suficiente;
ii) separação dos poderes, que no Brasil é princípio constitucional;
iii) direitos políticos formalmente reconhecidos pela Constituição;
iv) uso dos tribunais pelos grupos de interesse econômicos e sociais centrais
(como movimentos sindicais);
v) uso dos tribunais pela oposição, que se utiliza para frear, obstaculizar e
até mesmo inviabilizar as alterações promovidas pela maioria;
vi) inefetividade das instituições majoritárias, referindo-se a incapacidade
dessas instituições em dar provimento às demandas sociais e os tribunais, diante da
inércia, acabam em pôr fim a conflitos que deveriam ser resolvidos no âmbito
político.
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Quanto às causas da judicialização, no caso brasileiro estão relacionadas


diretamente com nosso modelo institucional e na ótica de LUIS ROBERTO
BARROSO (2009, p. 3-5), elas são três:
1ª) A redemocratização do país, que teve como ponto culminante a
promulgação da Constituição de 1988. Nas últimas décadas, com a recuperação das
garantias da magistratura, o Judiciário deixou de ser um departamento técnico-
especializado e se transformou em um verdadeiro poder político, capaz de fazer
valer a Constituição e as leis, inclusive em confronto com os outros Poderes. No
Supremo Tribunal Federal, uma geração de novos Ministros já não deve seu título
de investidura ao regime militar. Por outro lado, o ambiente democrático reavivou a
cidadania, dando maior nível de informação e de consciência de direitos a amplos
segmentos da população, que passaram a buscar a proteção de seus interesses
perante juízes e tribunais. Nesse mesmo contexto, deu-se a expansão institucional
do Ministério Público, com aumento da relevância de sua atuação fora da área
estritamente penal, bem como a presença crescente da Defensoria Pública em
diferentes partes do Brasil. Em suma: a redemocratização fortaleceu e expandiu o
Poder Judiciário, bem como aumentou a demanda por justiça na sociedade
brasileira.
2ª) A constitucionalização abrangente, que trouxe para a Constituição
inúmeras matérias que antes eram deixadas para o processo político majoritário e
para a legislação ordinária. Essa foi, igualmente, uma tendência mundial, iniciada
com as Constituições de Portugal (1976) e Espanha (1978), que foi potencializada
entre nós com a Constituição de 1988. A Carta brasileira é analítica, ambiciosa,
desconfiada do legislador. Como intuitivo, constitucionalizar uma matéria significa
transformar Política em Direito. Na medida em que uma questão – seja um direito
individual, uma prestação estatal ou um fim público – é disciplinada em uma norma
constitucional, ela se transforma, potencialmente, em uma pretensão jurídica, que
pode ser formulada sob a forma de ação judicial. Por exemplo: se a Constituição
assegura o direito de acesso ao ensino fundamental ou ao meio-ambiente
equilibrado, é possível judicializar a exigência desses dois direitos, levando ao
Judiciário o debate sobre ações concretas ou políticas públicas praticadas nessas
duas áreas.
11

3ª) É o sistema brasileiro de controle de constitucionalidade, um dos mais


abrangentes do mundo. Referido como híbrido ou eclético, ele combina aspectos de
dois sistemas diversos: o americano e o europeu. Assim, desde o início da
República, adota-se entre nós a fórmula americana de controle incidental e difuso,
pelo qual qualquer juiz ou tribunal pode deixar de aplicar uma lei, em um caso
concreto que lhe tenha sido submetido, caso a considere inconstitucional. Por outro
lado, trouxemos do modelo europeu o controle por ação direta, que permite que
determinadas matérias sejam levadas em tese e imediatamente ao Supremo
Tribunal Federal. A tudo isso se soma o direito de propositura amplo, previsto no art.
103, pelo qual inúmeros órgãos, bem como entidades públicas e privadas – as
sociedades de classe de âmbito nacional e as confederações sindicais – podem
ajuizar ações diretas. Nesse cenário, quase qualquer questão política ou
moralmente relevante pode ser alçada ao STF.

Guarde...
Conforme LOIANE PRADO VERBICARO (2008, p. 390), no contexto
brasileiro, entre as condições propiciadoras e/ou facilitadoras do processo de
judicialização da política, destacam-se:
 a promulgação da Constituição Federal de 1988;
 a universalização do acesso à justiça;
 a estrutura tripartite de organização dos poderes do Estado;
 a existência de uma Carta Constitucional com textura aberta, normas
programáticas e cláusulas indeterminadas;
 a crise do paradigma formalista de interpretação inspirado nas premissas do
positivismo jurídico;
 a ampliação do espaço reservado ao Supremo Tribunal Federal;
 a permissão por parte da Constituição de 1988 para que o Poder Executivo
edite medidas provisórias;
 a ampliação do rol dos legitimados ativos a propor a ação direta de
inconstitucionalidade;
 a veloz modificação da base econômica do Brasil;
 a existência de novas forças sociais representadas por importantes
movimentos, organizações e grupos sociais;
12

 o agravamento da crise econômica nas últimas décadas do século XX, a


ineficácia da política macroeconômica do país e a consequente explosão da
crise social;
 a hipertrofia legislativa;
 a desproporcionalidade da representação política e a crescente ineficácia do
sistema político-decisório.

1.2 Conceitos e definições


No sentido constitucional, a judicialização da política refere-se

ao novo estatuto dos direitos fundamentais e à superação do modelo de


separação dos poderes do Estado, o que provoca uma ampliação dos
poderes de intervenção dos tribunais na arena política (MACIEL;
KOERNER, 2002, p. 117).

Por meio da efetiva participação no processo referente à formulação e/ou


implementação de políticas públicas – a política se judicializa com o objetivo de
promover o encontro da comunidade com o seu sistema de valores
constitucionalmente assegurado (VERBICARO, 2008).
Os juristas usam o termo judicialização para se referirem à obrigação legal
de que um determinado tema seja apreciado judicialmente. Próximo a esse sentido,
mas já com caráter normativo, afirma-se que judicialização é o ingresso em juízo de
determinada causa, que indicaria certa preferência do autor por esse tipo de via.
“Refere-se a decisões particulares de tribunais, cujo conteúdo o analista consideraria
político, ou referente a decisões privadas dos cidadãos (como questões de família)”
(MACIEL; KOERNER, 2002, p. 115).
Judicialização significa que algumas questões de larga repercussão política
ou social estão sendo decididas por órgãos do Poder Judiciário, e não pelas
instâncias políticas tradicionais: o Congresso Nacional e o Poder Executivo – em
cujo âmbito se encontram o Presidente da República, seus ministérios e a
administração pública em geral. Como intuitivo, a judicialização envolve uma
transferência de poder para juízes e tribunais, com alterações significativas na
linguagem, na argumentação e no modo de participação da sociedade. O fenômeno
tem causas múltiplas. Algumas delas expressam uma tendência mundial; outras
estão diretamente relacionadas ao modelo institucional brasileiro (BARROSO, 2009).
13

As nossas primeiras constituições tinham apenas boas intenções, proteção


limitada, não legal e sem instrumentos jurídicos adequados à efetivação do direito à
educação, mas a partir da CF/88, a situação mudou. Nos dizeres de CARLOS
ROBERTO JAMIL CURY e LUIS ANTÔNIO MIGUEL FERREIRA (2010, p. 55):

a educação passou a ser efetivamente regulamentada, com instrumental


jurídico necessário para dar ação concreta ao que foi estabelecido, pois de
nada adiantaria prever regras jurídicas com relação à educação (com boas
intenções) se não fossem previstos meios para a sua efetividade.

Na verdade, a Constituição Federal de 1988 estabeleceu uma verdadeira


declaração de direitos relativos à educação que resumem-se em:
 gratuidade do ensino oficial em todos os níveis;
 garantia do direito aos que não se escolarizaram na idade ideal;
 perspectiva da obrigatoriedade do ensino médio, substituída pela perspectiva
de sua universalização com a Emenda Constitucional EC. 14;
 atendimento especializado aos portadores de deficiência;
 atendimento, em creche e pré-escola, às crianças de até cinco anos de idade
(redação de acordo com a Emenda Constitucional nº 53/06);
 oferta do ensino noturno regular;
 previsão dos programas suplementares de material didático-escolar;
 prioridade de atendimento à criança e ao adolescente (OLIVEIRA, 2001).

Daí podemos inferir o crescimento de pesquisas no Brasil sobre o tema, isto


é, os estudos sobre a exigibilidade do direito à educação pelo Sistema de Justiça
estão se tornando objeto de interesse por parte de pesquisadores da área do Direito
e da Educação (SILVEIRA, 2008).
Algumas pesquisas e estudos, nos últimos anos, analisam, especificamente,
o comportamento do Judiciário frente às demandas educacionais, por meio da
análise de suas decisões (MACHADO, 2003; MACHADO JÚNIOR, 2003;
GRACIANO, MARINHO, FERNANDES, 2006; LOPES, 2006; PIOVESAN, 2007;
RANIERI, 2009; PANNUNZIO, 2009; CURY, FERREIRA, 2010).
Fato é que a partir da CF/88, o Poder Judiciário passou a ter funções mais
significativas na efetivação desse direito, estabelecendo-se uma nova relação com a
educação, que se materializou através de ações judiciais visando a sua garantia e
14

efetividade. Pode-se designar este fenômeno como a Judicialização da educação,


que significa a intervenção do Poder Judiciário nas questões educacionais em vista
da proteção desse direito até mesmo para se cumprir as funções constitucionais do
Ministério Público e outras instituições legitimadas (CURY; FERREIRA, 2010).
Para os mesmos autores acima, o processo de judicialização da educação
ocorre “quando aspectos relacionados ao direito à educação passam a ser objeto de
análise e julgamento pelo poder judiciário”. Esse fenômeno se verifica quando da
ofensa ao direito à educação decorrentes de: “(a) mudanças no panorama
legislativo; (b) reordenamento das instituições judicial e escolar; (c) posicionamento
ativo da comunidade na busca pela consolidação dos direitos sociais” (p. 81).
ÁLVARO e RAQUEL CHRISPINO (2008) caracterizaram a judicialização das
relações escolares como aquela ação da Justiça no universo da escola e das
relações escolares, resultando em condenações das mais variadas, destacando que
os profissionais da educação não estão sabendo lidar com todas as variáveis que
caracterizam as relações escolares.
PAULO DE CAMARGO (2014) conceitua essa judicialização da educação
como a interferência da Justiça em relações que antes ou ficavam no âmbito das
políticas públicas de educação ou da gestão privada do ensino – ou nem chegavam
a ser debatidas.
Para falar da responsabilidade objetiva (dano e relação de causalidade, sem
a necessidade de demonstração de culpa) dos estabelecimentos de ensino (públicos
ou privados) nas relações escolares, como, por exemplo, na obrigação de guarda e
vigilância do aluno, acidentes que ocorrem em laboratório de química ou na aula de
educação física, e outras hipóteses e da responsabilidade civil dos educadores,
podemos tomar como base para apresentar várias decisões da Justiça brasileira de
ações envolvendo as escolas, os textos do Código Civil, do Estatuto da Criança e do
Adolescente e o Código de Defesa do Consumidor.
PAULO DE CAMARGO (2014) ilustra que ações, mandados de segurança,
termos de ajustamento de conduta: conceitos próprios do mundo jurídico vem se
tornando cada vez mais comuns no ambiente educacional.
Até o início da década de 1990 eram comuns apenas as batalhas judiciais
em torno de mensalidades escolares. Hoje, questões como falta de vagas em
creches, inclusão de alunos com deficiência, violência, bullying, transferência,
15

reprovação e um amplo espectro de situações típicas da vida pedagógica cotidiana


tornaram-se, literalmente, caso de justiça.
É difícil estimar o número de processos que se estendem nas diversas
instâncias do Poder Judiciário. Mas os estudos disponíveis mostram a tendência de
crescimento a partir dos anos 2000. Em artigo a ser publicado em uma revista
internacional, a jurista Nina Ranieri, da Faculdade de Direito da USP, fez um
levantamento dos casos que chegaram à Suprema Corte brasileira referentes à área
de educação. A conclusão é a de que, das 4.410 decisões tomadas pelo Superior
Tribunal Federal (STF), entre 1988 e o começo de 2013, mais de 95% (4.222)
ocorreram a partir do ano 2000, sendo a imensa maioria no final da década
(CAMARGO, 2014).

1.3 O princípio da “reserva do possível” e do “mínimo existencial”


Não é uma conclusão que gostaríamos de apresentar de pronto, mas é uma
verdade e que “atrapalha” o caminho da educação, além de ser polêmica.

A aplicabilidade e eficácia do direito à educação dependem da peculiar


proeminência econômica dos recursos materiais.

O Princípio da Reserva do Possível (ou Princípio da Reserva de


Consistência) pode ser entendido como uma construção jurídica a qual afirma que
ao se exigir uma prestação de fazer do Estado, este, estaria sujeito à reserva do
possível. Assim, justificar-se-ia a limitação do Estado em razão de suas condições
socioeconômicas e estruturais (LIMA; MELO, 2011).
Quanto ao mínimo existencial, na visão do pensamento acadêmico
predominante, ele apresenta relação íntima com o Princípio da Dignidade Humana e
os objetivos e finalidades fundamentais da Ordem Econômica do Estado,
compreendendo o mínimo necessário para que os sujeitos de direito usufrua de uma
vida digna (VILAR, 2013).

O mínimo existencial corresponde ao conjunto de situações materiais


indispensáveis à existência humana digna; existência aí considerada não
apenas como experiência física – a sobrevivência e manutenção do corpo –,
mas também espiritual e intelectual, aspectos fundamentais em um Estado
que se pretende, de um lado, democrático, demandando a participação dos
16

indivíduos nas deliberações públicas, e, de outro, liberal, deixando a cargo


de cada um seu próprio desenvolvimento (BARCELOS, 2002, p. 45).

O direito fundamental à educação considerado um direito essencial para o


desenvolvimento da dignidade humana, tem a sua eficácia dependente das normas
de cunho programático (PESSOA, 2015).
Trata-se, portanto, de normas de eficácia limitada, pois estão condicionadas
a programas estatais e políticas públicas. Quanto ao conceito de normas
programáticas, José Afonso da Silva (1998, p. 138) leciona que são:

Normas constitucionais através das quais o constituinte, em vez de regular,


direta e imediatamente, determinados interesses, limitou-se a traçar-lhes os
princípios para serem cumpridos pelos seus órgãos (legislativos, executivos
e jurisdicionais e administrativos), como programas das respectivas
atividades, visando à realização dos fins sociais do Estado.

São normas que dependem de recursos econômicos para a implementação


desses direitos. O direito à educação de base obrigatória fornecida pelas instituições
oficiais públicas depende da reserva de verbas que estejam em conformidade com a
redistribuição orçamentária do Estado.
Destarte, a aplicabilidade e eficácia do direito à educação dependem da
peculiar proeminência econômica dos recursos materiais. Em contrapartida, a
grande discussão referente à eficácia do direito a uma educação pública digna e de
qualidade, está associada ao limite da reserva do possível inerente aos custos
financeiros do Estado (PESSOA, 2015).
A doutrina defende que os direitos sociais, apesar de serem considerados
como normas constitucionais de eficácia limitada a efeitos programáticos, não
podem deixar esvaziar o conteúdo do seu mínimo existencial. E para isso, a reserva
do possível não pode de forma alguma restringir a cláusula desses direitos. Ou seja,
o Estado não pode se negligenciar diante da concretização do direito educacional
(PESSOA, 2015).
Fica claro que o direito, enquanto direito prima facie, é um direito vinculante,
e não um simples enunciado programático, quando o tribunal afirma que o direito,
em sua validade normativa, não [pode] depender de um menor ou maior grau de
possibilidades de realização. Mas a natureza de direito prima facie vinculante implica
que a cláusula de restrição desse direito – a “reserva do possível, no sentido daquilo
17

que o indivíduo pode razoavelmente exigir da sociedade” – não pode levar ao


esvaziamento do direito (ALEXY, 2011, p. 515).
Que há um eterno debate em torno da efetivação dos direitos sociais não há
dúvida, o qual sempre gira em torno de um núcleo econômico.
O orçamento público aparece como obstáculo constitucional, mandamental e
(in)vencível. Ao determinar as escolhas políticas de quais direitos sociais privilegiar –
as chamadas escolhas trágicas –, o executivo e legislativo encontram o limite das
despesas públicas – recursos limitados – e, portanto, o equilíbrio das contas
públicas, com o fornecimento de prestações materiais. Trata-se do princípio da
reserva do possível, que limita a plenitude das prestações positivas (BEZERRA,
2017).
Sendo então os recursos limitados, deve-se fazer escolhas trágicas, e no
momento histórico atual, insuficientes para a efetivação dos mandamentos
constitucionais vinculantes relacionados a direitos públicos subjetivos, notadamente,
ao direito social fundamental à educação pública de qualidade.
Desse modo, ficam o executivo e o legislativo, vinculados a gastar
prioritariamente com o que está constitucionalizado e legalizado – normas pré-
orçamentárias impositivas – a fim de se preservar o mínimo existencial da pessoa
humana. Não se trata, obviamente, de envolver o Ministério Público e os Tribunais
nas escolhas trágicas, mas sim, na discussão acerca da vedação ao retrocesso e no
controle preventivo e concomitante dos orçamentos e dos atos discricionários do
executivo. Isso porque, estando estes desconforme, os ditames mandamentais
juridicamente vinculantes da Constituição e da Lei, serão contrários e, portanto,
ilegais, ilegítimos e inconstitucionais, vinculando o Ministério Público à exercer o
poder-dever de provocar o controle jurisdicional (BEZERRA, 2017).
Vejamos as palavras de MAURÍCIO PEDROSA FILHO (2012, p. 117), a
respeito da elaboração dos orçamentos e alocação de recursos para a implantação
de políticas com a saúde pública:

Mercê de toda essa normatização atinente à questão orçamentária é que os


gestores públicos têm a obrigação de alocar recursos necessários ao
cumprimento dos direitos sociais, eis que são prestações garantidas e
dispostas na Constituição aos cidadãos, a exemplo da prestação da saúde
(nela incluída a assistência farmacêutica).
18

Essa obrigação do gestor decorre do seu dever legal e funcional de honrar


os ditames da Constituição e das leis em geral, haja vista que ele – gestor –
enquanto no exercício do seu múnus público, só poderá agir secundum legem.
Na esteira das linhas precedentes, a ausência ou escassez de recursos no
orçamentário serve de mote para o gestor se eximir do cumprimento de alguma
prestação estatal imposta pela Constituição, a exemplo dos serviços de saúde de
cuja deficiência e reclamos são notórios em nosso país.
A reserva do possível reflete a ausência de recursos para atender a alguma
atividade estatal típica, como a saúde. A ausência de recursos, ou seja, a sua
inexistência, representa o vazio dos cofres públicos.
Outro exemplo...
Será que é possível falar em falta de recursos para a saúde quando existem
no orçamento, recursos para propaganda de governo? Antes de os finitos recursos
se esgotarem para os direitos fundamentais, precisam estar esgotados em áreas
não prioritárias do ponto de vista constitucional e não do detentor do poder (FREIRE
JÚNIOR, 2005, p. 74 apud BEZERRA, 2017).
Voltemos à questão da omissão estatal na concretização de políticas
públicas e a ausência de aplicação dos recursos financeiros destinados às diretrizes
educacionais, que tem causado intensos danos à formação escolar infantil e juvenil.
Tanto por isso, tem sido tarefa dos tribunais, em especial das Cortes,
definirem o conteúdo dos direitos fundamentais sociais através do controle
jurisdicional, de forma a assegurar e preservar o núcleo essencial desses direitos.
Para MARCOS SAMPAIO (2013, p. 248):

Resta asseverar que o Judiciário brasileiro, embora não exclusivamente,


pode e deve, como defendeu Andreas Krell, mediante decisões firmes,
exercer seu importante papel no processo político da realização dos direitos
fundamentais sociais através da melhoria gradual e permanente dos
serviços públicos básicos.

Entretanto, a polêmica que rege as discussões jurídicas tem aduzido que, o


caráter proativo dos órgãos jurisdicionais veio a invadir consideravelmente a esfera
das funções típicas dos demais Poderes. Por se tratar de direitos de cunho social,
caberia tão somente ao Legislativo e ao Executivo a execução das políticas públicas.
19

A dependência de recursos econômicos para a efetivação dos direitos de


caráter social leva parte da doutrina a defender as normas que consagram
tais direitos, assumem a feição de normas programáticas, dependentes,
portanto, da formulação de políticas públicas para se tornarem exigíveis.
Nessa perspectiva, também se defende que a intervenção do Poder
Judiciário, ante a omissão estatal enquanto à construção satisfatória dessas
políticas, violaria o princípio da separação dos poderes e o princípio da
reserva do financeiramente possível (MENDES; BRANCO, 2014, p. 628).

Em âmbito jurisdicional, a Suprema Corte brasileira tem decidido de forma


unânime que, em situações excepcionais, o Poder Judiciário poderá determinar aos
órgãos públicos medidas necessárias e assecuratórias de direitos
constitucionalmente reconhecidos, sem que esteja configurada a violação ao
princípio da separação dos poderes4.
Dessa forma, no ano de 2014 foi julgado o Agravo Regimental do Recurso
Extraordinário com Agravo 761.1275 pelo Supremo Tribunal Federal sob a relatoria
do Ministro Luís Roberto Barroso, na qual definiu a possibilidade do Poder Judiciário
determinar ao Executivo a implementação de políticas públicas para avalizar o
acesso à educação básica, sem que isso violasse a separação tripartite dos
poderes.
Mas de onde “tiramos” esse princípio da reserva do possível?

4 O julgado do Recurso Extraordinário 700.227EDD /AC, sob a relatoria da Ministra Carmen Lúcia no
ano de 2013, determinou o seu voto que: “O Tribunal de origem restringiu-se a extinguir o processo
sem resolução de mérito, por impossibilidade jurídica do pedido, por considerar inviável ao Poder
Judiciário intervir na implementação de políticas públicas. Todavia, esse entendimento não se
harmoniza com a jurisprudência deste Supremo Tribunal, que assentou que o Poder Judiciário, em
situações excepcionais, pode determinar que a Administração Pública adote medidas assecuratórias
de direitos constitucionalmente reconhecidos como essenciais, sem que isso configure contrariedade
ao princípio da separação dos Poderes” (Supremo Tribunal Federal. Segunda Turma. RE
700.227ED/AC- Acre, rel. Min. Carmen Lúcia. Decisão por unanimidade. Brasília 23.04.2013. DJ
31.5.2013. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=3890562>
5 EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO.
IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS. DETERIORAÇÃO DAS INSTALAÇÕES DE
INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE ENSINO. CONSTRUÇÃO DE NOVA ESCOLA. POSSIBILIDADE.
INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES. GARANTIA DO
DIREITO À EDUCAÇÃO BÁSICA. PRECEDENTES. As duas Turmas do Supremo Tribunal Federal
possuem entendimento de que é possível ao Judiciário, em situações excepcionais, determinar ao
Poder Executivo a implementação de políticas públicas para garantir direitos constitucionalmente
assegurados, a exemplo do direito ao acesso à educação básica, sem que isso implique ofensa ao
princípio da separação dos Poderes. Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento.
(Supremo Tribunal Federal. Primeira Turma. ARE 761.127- AgR -AP, Rel. Min. Roberto Barroso.
Decisão por unanimidade. Brasília. 24.06.2014. DJ de 18.08.2014. Disponível
em:<http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28direito+%E0+educa%
E7%E3o%29&base=baseAcordaos&url=http://tinyurl.com/nd7f5te
20

A chamada reserva do possível foi desenvolvida na Alemanha, num


contexto jurídico e social totalmente distinto da realidade histórico-concreta
brasileira. Nestas diferentes ordens jurídicas concretas não variam apenas
as formas de lutas, conquistas e realização e satisfação dos direitos, mas
também os próprios paradigmas jurídicos aos quais se sujeitam. Assim,
enquanto a Alemanha se insere entre os chamados países centrais, onde já
existe um padrão ótimo de bem-estar social, o Brasil ainda é considerado
um país periférico, onde milhares de pessoas não têm o que comer e são
desprovidas de condições mínimas de existência digna, seja na área da
saúde, educação, trabalho e moradia, seja na área da assistência e
previdência sociais, de tal modo que a efetividade dos direitos sociais ainda
depende da luta pelo direito entendida como processo de transformações
econômicas e sociais, na medida em que estas forem necessárias para a
concretização desses direitos (CUNHA JR., 2013, p. 744).

Desse modo, no Brasil, a cláusula da reserva do possível não está apenas


associada à ideia de pretensão proporcional ou razoável da exigibilidade dos direitos
no caso concreto. Mas, está vinculada ao fundamento da redistribuição de riquezas
das receitas orçamentárias (PESSOA, 2015).
Para INGO WOLFGAN SARLET (2007, p. 304), a partir do exposto, há como
sustentar que a assim designada reserva do possível apresenta pelo menos uma
dimensão tríplice, que abrange:
a) a efetiva disponibilidade fática dos recursos para a efetivação dos direitos
fundamentais;
b) a disponibilidade jurídica dos recursos materiais e humanos, que guarda
íntima conexão com a distribuição das receitas e competências tributárias,
orçamentárias, legislativas, administrativas, entre outras, e que, além disso, reclama
equacionamento, notadamente no caso do Brasil, no contexto do nosso sistema
constitucional federativo;
c) já na perspectiva (também) do eventual titular de um direito a prestações
sociais, a reserva do possível envolve o problema da proporcionalidade da
prestação, em especial no tocante à sua exigibilidade e, nesta quadra, também da
sua razoabilidade.
Ocorre que, para os órgãos públicos, a decisão sobre o critério de
disponibilização dos recursos financeiros é ocupação típica e inerente da política
legislativa e da própria administração.
Sem maiores discussões, podemos concluir que no Brasil, a polêmica não
está no conteúdo protegido e assegurado pela legislação. Mas, sim na má repartição
e alocação dos recursos econômicos e financeiros voltados para os programas de
cunho social.
21

1.4 Ativismo judicial


LUIS ROBERTO BARROSO (2010, p. 09), numa perspectiva histórica,
ensina que

ativismo judicial é uma expressão cunhada nos Estados Unidos e que foi
empregada, sobretudo, como rótulo para qualificar a atuação da Suprema
Corte durante os anos em que foi presidida por Earl Warren, entre 1954 e
1969. Ao longo desse período, ocorreu uma revolução profunda e silenciosa
em relação a inúmeras práticas políticas nos Estados Unidos, conduzida por
uma jurisprudência progressista em matéria de direitos fundamentais [...]
Todavia, depurada dessa crítica ideológica – até porque pode ser
progressista ou conservadora – a ideia de ativismo judicial está associada a
uma participação mais ampla e intensa do Judiciário na concretização dos
valores e fins constitucionais, com maior interferência no espaço de atuação
dos outros dois Poderes.

Entende-se por “Ativismo Judicial” o papel criativo dos tribunais ao trazerem


uma contribuição nova para o direito, decidindo sobre a singularidade do caso
concreto, formando o precedente jurisprudencial, antecipando-se, muitas vezes, à
formulação da própria lei (GRANJA, 2013).
Para LUIS FLÁVIO GOMES (2009), o ativismo judicial retrata, em realidade,
uma espécie de intromissão indevida do Judiciário na função legislativa, ou seja,
ocorre ativismo judicial quando o juiz ‘cria’ uma norma nova, usurpando a tarefa do
legislador, quando o juiz inventa uma norma não contemplada nem na lei, nem nos
tratados, nem na Constituição.
A doutrina traz vários conceitos para o ativismo judicial, existindo posições
favoráveis e contrárias, mas não vamos entrar no mérito dessas críticas. Entretanto,
o Ativismo Judicial é uma postura, ou seja, é uma escolha de um determinado
magistrado que visa buscar através de uma hermenêutica jurídica expansiva, cuja
finalidade é a de concretizar o verdadeiro valor normativo constitucional, garantindo
o direito das partes de forma rápida, e atendendo às soluções dos litígios e às
necessidades oriundas da lentidão ou omissão legislativa, e até mesmo executiva
(GRANJA, 2013).
Diante de novas necessidades, nas quais a lei não se mostra suficiente ou
diante de necessidades que forjam uma determinada interpretação do texto de lei, é
o momento em que o esforço do intérprete faz-se sentir. Tem-se como Ativismo
Judicial, portanto, “a energia emanada dos tribunais no processo da criação do
direito” (MIARELLI; LIMA, 2012, p. 16).
22

Dessa forma, podemos destacar que o vocábulo ativismo no âmbito da


ciência do Direito é empregado para designar que o Poder Judiciário está agindo
além dos poderes que lhe são conferidos pela ordem jurídica.
Para LUIS ROBERTO BARROSO (2009, p. 3), a judicialização nasceu do
modelo constitucional que se adotou e não de um exercício deliberado de vontade
política, já o ativismo, há uma escolha, do magistrado no modo de interpretar as
normas constitucionais a fim de dar-lhes maior alcance e amplitude. Assim, o autor
acima faz as seguintes distinções:

A judicialização e o ativismo judicial são primos. Vêm, portanto, da mesma


família, frequentam os mesmos lugares, mas não têm as mesmas origens.
Não são gerados, a rigor, pelas mesmas causas imediatas. A judicialização,
no contexto brasileiro, é um fato, uma circunstância que decorre do modelo
constitucional que se adotou, e não um exercício deliberado de vontade
política. Em todos os casos referidos acima, o Judiciário decidiu porque era
o que lhe cabia fazer, sem alternativa. Se uma norma constitucional permite
que dela se deduza uma pretensão, subjetiva ou objetiva, ao juiz cabe dela
conhecer, decidindo a matéria. Já o ativismo judicial é uma atitude, a
escolha de um modo específico e proativo de interpretar a Constituição,
expandindo o seu sentido e alcance. Normalmente ele se instala em
situações de retração do Poder Legislativo, de certo descolamento entre a
classe política e a sociedade civil, impedindo que as demandas sociais
sejam atendidas de maneira efetiva. A ideia de ativismo judicial está
associada a uma participação mais ampla e intensa do Judiciário na
concretização dos valores e fins constitucionais.

A definição de ativismo judicial se extrai da relação existente entre


participação, a maior, por parte do Poder Judiciário na concretização dos valores e
finalidades constitucionais, interferindo, assim, na esfera de competência dos outros
poderes. Entretanto, para parte da doutrina, essa atuação pode macular o equilíbrio
advindo do sistema de freios e contrapesos disposto no art. 2º da CF de 1988
(VILAR, 2013).
São exemplos do ativismo judicial no Brasil:
Um primeiro exemplo que merece ser destacado é o da declaração de
inconstitucionalidade do regime integralmente fechado, previsto no artigo 2º, da Lei
n° 8.072/19906 (Lei de Crimes Hediondos). Segundo o STF, o aludido dispositivo
viola o núcleo essencial do direito à individualização da pena, previsto no rol de
direitos e garantias fundamentais do artigo 5º, da Constituição Federal (NUNES
JÚNIOR, 2010).

6
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8072.htm
23

Outro exemplo que merece destaque é a decisão proferida pelo STF na


ADPF n° 54 (Tal ação aborda a questão da possibilidade de se realizar o aborto do
feto anencefálico ou antecipação terapêutica do parto no Brasil). A corte suprema
considerou, por maioria, que incumbia a esta e não ao Congresso Nacional regular o
tema por meio de uma ação de controle objetivo de constitucionalidade das leis. Tal
opção revelou uma nítida postura ativista em favor de uma minoria, qual seja, as
mulheres (APPIO, 2008).
Ao analisar o direito à educação (Brasil. Supremo Tribunal Federal. RE nº
410715, AgR, Relator(a): Min. Celso de Mello. Julgamento: 22.11.2005), o STF
decidiu que a educação infantil se afigura como um direito constitucional
indisponível, fundamental, haja vista que confere um desenvolvimento integral à
criança. O impedimento de efetivo acesso e de atendimento em creches e unidades
de pré-escola por parte do Poder Público Municipal configura inaceitável omissão
governamental, violando, assim, dispositivos constitucionais. Por se revelar como
direito fundamental de toda criança, a educação infantil não deve se expor, em seu
processo de concretização, a avaliações meramente discricionárias da
Administração Pública.
Por fim, lembremos o notório exemplo da distribuição de medicamentos e a
determinação de terapias mediante decisões judiciais. A matéria não foi apreciada,
ainda, de forma aprofundada pelo STF, exceto nos casos onde constam pedidos de
suspensão de segurança. No entanto, constata-se, em diversos tribunais estaduais e
federais, uma grande quantidade de decisões, condenando a União, o Estado ou o
Município a fornecer medicamentos e terapias que não constam das listas e
protocolos do Ministério da Saúde ou das Secretarias Estaduais e Municipais de
Saúde (BARROSO, 2008).

1.5 Consequências da judicialização da educação


É inegável que, em razão da relação estabelecida entre a justiça e
educação7, várias são as consequências para os atores envolvidos (CURY;
FERREIRA, 2010). Merecem destaque as seguintes hipóteses:

7 A justiça passou a ser chamada amiúde a solucionar conflitos no âmbito escolar, que extrapolam a
questão da responsabilidade civil, ou seja, se antes se contemplava na esfera do judiciário, ações de
indenizações ou reparação de danos envolvendo o sistema educacional, ou mandados de segurança
para garantia de atribuições de aulas a professores, hoje, a realidade é bem diversa, e várias são as
situações em que se provoca o judiciário com questões educacionais. A efetividade do direito à
24

a) SISTEMA DE EDUCAÇÃO:
a.1) Transferência de responsabilidade – grande parte das questões
escolares e que devem ser solucionadas na própria escola, são transferidas para a
esfera judicial. Os responsáveis pela educação não assumem o compromisso que é
próprio da educação em esgotar os recursos internos baseados no diálogo. Exemplo
típico dessa situação refere-se à questão da violência. Hoje, muitos casos
encaminhados à justiça revestem-se mais de características de ato de indisciplina do
que ato infracional. A escola, muitas vezes, sequer esgota os mecanismos previstos
no próprio regimento escolar, preferindo provocar a atuação do Judiciário, Ministério
Público, Autoridade Policial e Conselho Tutelar. Sendo ato de indisciplina, a
competência para analisá-lo continua sendo da própria escola e não do sistema de
garantia de direitos.
a.2) Desconhecimento da legislação relacionado à criança e ao
adolescente – outra questão da judicialização da educação diz respeito a este
desconhecimento legal. Várias são as situações em que a escola provoca a
instituição errada para o encaminhamento das ocorrências. Provoca-se o Poder
Judiciário ou Ministério Público quando, na verdade, o caso deveria ser
encaminhado ao Conselho Tutelar. Desconhecem as atribuições do sistema de
garantia de direitos. Há também situações em que este desconhecimento legal
acaba por levar ao Judiciário ou Conselho Tutelar, situações que não poderiam ser
encaminhadas, antes do esgotamento das medidas administrativas. No mesmo
sentido, ocorre essa hipótese quando da instauração de procedimento em face do
aluno e não são obedecidos os princípios constitucionais básicos da ampla defesa e
do contraditório.
Vale lembrar que não está se pretendendo que todo e qualquer profissional
da educação tenha o conhecimento do direito. No entanto, toda legislação que lhe
diga respeito diretamente, não pode ser ignorada. Exemplo dessa situação ocorre

educação prevista na Constituição Federal, a ocorrência de atos infracionais ocorridos no ambiente


escolar e a garantia da educação de qualidade passaram a ser objeto de questionamento judicial.
Até mesmo a responsabilidade penal tem sido chamada posto que poucas são as informações que
mostram a aplicação do art. 246 do Código Penal, que estabelece o crime de abandono intelectual,
prevendo: Art. 246 – Deixar sem justa causa de prover à instrução primaria de filho em idade escolar
– Pena: detenção de quinze dias a um mês e multa.
25

com o capítulo do direito à educação previsto no Estatuto da Criança e do


Adolescente, que não pode ser desconhecido do educador.
Como afirma JANE BEATRIZ BATISTA (1999, p. 233),

os graves problemas da escola brasileira não podem ser solucionados sem


a ação dos profissionais que nela trabalham. Mas, neste caso, tais
profissionais devem ter ciência da legislação relacionada a sua atuação.

a.3) Trabalho em parceria: não há como negar que a tarefa educativa é de


competência do professor. Contudo, vários problemas que ocorrem na escola, antes
mesmo de se transformarem em questões judiciais, podem ser resolvidos com um
trabalho conjunto do sistema educativo (diretores, coordenadores, supervisores e
professores) com o sistema de proteção dos direitos da criança e do adolescente
(Conselho Tutelar, Poder Judiciário, Ministério Público, Policia Militar e Civil).
Nesse sentido, vale destacar Batista (1999, p. 237) quando afirma que

o pedagogo precisa estar preparado para ações integradas com os demais


profissionais e com o espaço educativo como um todo, assim como para o
entendimento da realidade e a produção de saberes pedagógicos com
vistas à construção de práticas educativas que veiculem os conhecimentos
e valores necessários à sociedade contemporânea.

Até porque, “os problemas escolares deixaram de ser eminentemente


educacionais, os problemas sociais converteram-se em problemas escolares e os
professores não estão preparados pra enfrentar essa nova realidade” (ALMEIDA,
1999, p. 12). O enfrentamento destes problemas deve ocorrer de forma conjunta.
Todos em prol de uma educação de qualidade.
b) SISTEMA DE PROTEÇÃO:
b.1) Desconhecimento do sistema educacional: nesta situação, ocorre o
inverso do que foi mencionado no item anterior, ou seja, o despreparo dos
integrantes do sistema de proteção – Juiz de Direito, Promotor de Justiça, Delegado
de Polícia, Policial Militar, Conselheiro Tutelar e Conselheiro Municipal.
Desconhecem o sistema de ensino e há um despreparo para lidar com os problemas
da educação. Para muitos integrantes desse sistema, o problema educacional ainda
está restrito ao professor. Se a escola é ruim ou não atrativa, se ela não apresenta
educação de qualidade, se os alunos são indisciplinados: a culpa é do professor,
transformado em culpado de todos os fracassos escolares.
26

Os professores foram transformados em verdadeiros bodes expiatórios


frente aos imensos problemas presentes nos sistemas de ensino,
favorecendo o enfraquecimento de sua profissionalização e do seu
reconhecimento social. Responsabilizá-lo pelos insucessos da escola
atende a vários interesses, dentre eles aos dos governantes, que podem se
eximir das responsabilidades quanto ao que acontece; aos dos pais, que
não conseguem enfrentar os problemas escolares com seus filhos; aos dos
pesquisadores, que não precisam rever a direção de suas pesquisas, em
boa parte sem sintonia com a realidade escolar (ALMEIDA, 1999, p. 11).

Mesmo posicionamento aponta JOSÉ ESTEVE (1995, p. 104):

Grande parte da sociedade, alguns meios de comunicação e também


alguns governantes chegaram à conclusão simplista e linear de que os
professores, como responsáveis diretos do sistema de ensino, são também
os responsáveis diretos de todas as lacunas, fracassos, imperfeições e
males que nele existem. Acabam por culpar o professor e
consequentemente a escola pelo fracasso do aluno.

Conforme esclarece DONALD SCHÖN (1997, p. 79):

atribuímos a culpa às escolas e aos professores, o que equivale a culpar as


vítimas. Sim, porque outros fatores se somam para apontar a situação atual
da escola como financiamento, retribuição salarial, jornada, carreira e
condições de trabalho, entre outras. A aplicação da lei na esfera
educacional requer do profissional do direito o conhecimento real da
situação educacional, sob pena de cometer erros e equívocos.

b.2) Exagero na forma de agir: existe ainda a situação em que, na ânsia de


provocar a defesa do direito à educação, os integrantes do sistema de proteção
extrapolam na judicialização dos atos, instaurando protocolados, inquéritos civis,
procedimentos judiciais de situações que não deveriam merecer a atenção do
sistema de justiça. Nesta hipótese, há uma indevida invasão do sistema legal no
educacional.
b.3) Burocratização das ações: num mundo informatizado e dinâmico, as
instituições jurídicas ainda convivem, em sua grande maioria, com um sistema
retrógrado e burocratizante. As relações entre este sistema e o educacional ficam
muitas vezes emperradas. Exemplo típico dessa intervenção burocrática diz respeito
ao combate à evasão escolar. Quando ocorre a efetiva intervenção, muitas vezes é
tardia, posto que a criança e o adolescente não mais têm condições de voltar ao
sistema de ensino.
A síntese é essa:
27

a judicialização da educação representa a busca de mais e melhores


instrumentos de defesa de direitos juridicamente protegidos. Essa proteção
judicial avança na consolidação desse direito da criança e do adolescente e
significa a exigência da obrigatoriedade da transformação do legal no real
(CURY; FERREIRA, 2010).
28

UNIDADE 2 – O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO NO


PROCESSO DE JUDICIALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO

Tem sido notória a participação do Ministério Público na defesa dos direitos


sociais, portanto, vamos conhecer um pouco dessa estrutura independente que
agrega valor ao Estado Democrático de Direito.

Para garantia do direito à educação, os membros do Ministério Público


atuam como um terceiro elemento para a resolução de problemas
decorrentes de desajustes sociais e de gestão dos interesses públicos.
O estabelecimento da defesa da educação como meta a ser atingida pelo
Ministério Público demonstra a importância do ensino-aprendizagem para a
construção da cidadania e revela que o direito à educação não tem sido
concretizado satisfatoriamente.
O Ministério Público tem o papel de garantir as condições necessárias para
o desenvolvimento da democracia. Essa tarefa passa, inarredavelmente,
pela realização do direito à educação (CARIBÉ, 2016, p. 15).

2.1 A estrutura do Ministério Público (MP)


O Ministério Público Federal (MPF) integra o Ministério Público brasileiro,
conquista garantida pela Constituição Federal de 1988, sendo composto pelos
Ministérios Públicos nos estados e pelo Ministério Público da União (MPU), que, por
sua vez, possui quatro ramos: o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério
Público do Trabalho (MPT), o Ministério Público Militar (MPM) e o Ministério Público
do Distrito Federal e Territórios (MPDFT).
O MPU e o MPF são chefiados pelo procurador-geral da República e a sede
administrativa do MPF é a Procuradoria-Geral da República.
O Ministério Público tem autonomia na estrutura do Estado: não pode ser
extinto ou ter atribuições repassadas a outra instituição. Os membros (procuradores
e promotores) possuem as chamadas autonomia institucional e independência
funcional, ou seja, têm liberdade para atuar segundo suas convicções, com base na
lei.
Cabe ao MPF assegurar o respeito aos direitos dos cidadãos, por meio da
fiscalização e cobrança na aplicação das leis. O MPF também atua
extrajudicialmente, ou seja, propondo acordos (Termos de Ajuste de Conduta,
recomendações, inquérito civil público, audiências públicas).
O Ministério Público Federal, assim como o Ministério Público brasileiro, não
faz parte de nenhum dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e tem
29

independência funcional assegurada pela Constituição Federal. O MPF atua em


casos federais, regulamentados pela Constituição e pelas leis federais, sempre que
a questão envolver interesse público.

Figura 4: Estrutura do Ministério Público.


Fonte: http://www.mpf.mp.br/conheca-o-mpf/sobre/sobre-a-instituicao

Os Ministérios Públicos nos estados atuam na Justiça estadual, enquanto os


diversos ramos do MPU têm a seguinte atuação:
 MPF – o Ministério Público Federal atua na Justiça Federal, em causas nas
quais a Constituição considera haver interesse federal. A atuação pode ser
judicial como fiscal da lei, cível e criminal, mas também pode ser extrajudicial,
quando atua por meio de recomendações e promove acordos por meio dos
Termos de Ajuste de Conduta (TAC);
 MPT – o Ministério Público do Trabalho (MPT) busca dar proteção aos direitos
fundamentais e sociais do cidadão diante de ilegalidades praticadas na seara
trabalhista;
 MPM – o Ministério Público Militar (MPM) atua na apuração dos crimes
militares, no controle externo da atividade policial judiciária militar e na
instauração do inquérito civil também para a proteção dos direitos
constitucionais no âmbito da administração militar;
 MPDFT – o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) é o
ramo do Ministério Público da União responsável por fiscalizar as leis e
defender os interesses da sociedade do Distrito Federal e dos Territórios.
30

A organização e as atribuições do MPU estão dispostos na Lei


Complementar nº 75/19938, conhecida como Lei Orgânica do Ministério Público da
União.

2.2 Áreas de atuação do MPF


O MPF atua como fiscal da lei, mas tem atuação também nas áreas cível,
criminal e eleitoral.
Na área eleitoral, o MPF pode intervir em todas as fases do processo e age
em parceria com os ministérios públicos estaduais.
A atuação do MPF ocorre perante o Supremo Tribunal Federal, o Superior
Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior Eleitoral, os tribunais regionais federais, os
juízes federais e os juízes eleitorais, nos casos regulamentados pela Constituição e
pelas leis federais.
O MPF tem atuação judicial (como fiscal da lei, na área civil e criminal) e
extrajudicial.
Fora da esfera judicial e antes de propor ações à Justiça, o MPF pode adotar
medidas administrativas, por meio de instrumentos como inquéritos civis públicos,
recomendações, termos de ajustamento de conduta e audiências públicas, utilizados
para coletar provas sobre a existência ou não de irregularidades.
Comprovada a existência de irregularidades, o MPF pode propor, antes de
ingressar com a ação, a assinatura de termo de ajustamento de conduta (TAC). Se
as irregularidades também forem consideradas crime, cópias dos procedimentos são
encaminhadas aos procuradores que atuam na área criminal.
Na área cível, o MPF ingressa com ações em nome da sociedade para
defender:
 interesses difusos (interesses que não são específicos de uma pessoa ou
grupo de indivíduos, mas de toda a sociedade);
 interesses coletivos (interesses de um grupo, categoria ou classe ligados
entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica); e,
 interesses individuais homogêneos (que têm um fato gerador comum, atingem
as pessoas individualmente e da mesma forma, mas não podem ser
considerados individuais, como os direitos do consumidor).

8
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/lcp/lcp75.htm
31

Nesses casos, o MPF age por meio da ação civil pública, da ação civil
coletiva ou da ação de improbidade administrativa.
O MPF também age preventivamente, extrajudicialmente, quando atua por
meio de recomendações, audiências públicas e promove acordos por meio dos
Termos de Ajuste de Conduta (TAC).
A Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) coordena, com a
colaboração de seu Grupo de Trabalho, a atuação dos membros do MPF no tema
Educação. A atuação da PFDC se dá por meio de: instauração de procedimento
administrativo, expedição de notificação a autoridades, requisição de informações e
documentos, expedição de recomendações, celebração de Termos de Ajustamento
de Conduta (TAC), realização de audiências públicas e participação em grupos
interinstitucionais, além do diálogo e interlocução direta com parlamentares,
representantes da sociedade civil e demais setores interessados.
O Grupo de Trabalho (GT) Educação da PFDC foi instituído em 2005 e, por
meio de portarias, vem tendo sua vigência renovada a cada ano. O GT atua
examinando as demandas relacionadas ao tema e propondo à PFDC estratégias de
atuação e diretrizes para orientação dos trabalhos dos Procuradores dos Direitos do
Cidadão.
Os focos de atuação do GT estão em:
 garantir o acesso democrático e isonômico aos cursos de pós-graduação, nas
Universidades Públicas, através do aperfeiçoamento do processo seletivo;
 enfrentar a questão relativa à cobrança de contribuições compulsórias em
estabelecimentos oficiais de ensino, em especial nos Colégios Militares;
 exigir a implementação de políticas públicas de educação profissionalizante
para os adolescentes em conflito com a lei;
 exigir o fomento de políticas públicas de capacitação de professores para o
magistério das disciplinas Filosofia, Sociologia (Lei 9.394/1996 – LDB),
História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena (Leis 10.639/2003 e 11.645/2008)
e Educação Ambiental (Lei 9.795/1999);
 exigir o acompanhamento e fiscalização do cumprimento dos requisitos de
adesão ao sistema educacional para os beneficiários do Programa Bolsa
Família;
 cobrar a promoção de mecanismo público que garanta a revalidação dos
diplomas dos médicos formados em Cuba;
32

 exigir e acompanhar a fiscalização da qualidade do ensino universitário,


incluindo o ensino a distância9.

2.3 Funções e princípios do MP


ROGÉRIO ARANTES (2000) destaca os dois princípios que têm regido a
atuação do Ministério Público desde a Constituição de 1988: o combate à
improbidade administrativa e a fiscalização de serviços de relevância pública,
combinados, pode-se dizer que é o conceito de cidadania da instituição.
Quanto aos seus princípios de organização, coincidem com os do Poder
Judiciário. O Ministério Público está dividido em dois ramos: Estadual e União. O
que os diferencia é a área de atuação. Apenas membros do MPF podem oficiar
perante o STF, composto pela cúpula do Poder Judiciário, que profere a palavra final
sobre a interpretação da Constituição Federal e o STJ, que uniformiza a
interpretação da lei infraconstitucional.
No âmbito federal, o chefe do Ministério Público é o Procurador Geral da
República, que é indicado pelo Presidente da República e deve ser aprovado por
maioria absoluta no Senado Federal. O mandato é de dois anos, permitida a
recondução sucessiva. Já no âmbito estadual, o chefe do Ministério Público é o
Procurador-Geral, e sua escolha se inicia com a elaboração de uma lista tríplice com
nomes indicados pelos próprios membros da instituição. O Governador do estado,
então, decide por um nome da lista. Nesse caso, a Assembleia Legislativa não tem
poder de escolha, mas tem a faculdade de destituir o escolhido do cargo, por maioria
absoluta. O mandato é de dois anos, sendo possível apenas uma recondução
(MAZZILLI, 2007).
O MP, para que consiga exercer suas atividades, precisa gozar de
autonomia funcional. Para tanto, ele é provido de três tipos de garantias:
 as garantias nas suas atividades-meio, ou seja, as garantias que envolvem a
autonomia administrativa, a autonomia financeira e a iniciativa da lei, que se
traduz em autonomia para organizar as atribuições e o estatuto do Ministério
Público, assim como criar e extinguir seus cargos e planos de carreira e criar
ou extinguir serviços auxiliares;

9
Disponível em: http://www.mpf.mp.br/atuacao-tematica/pfdc/institucional/grupos-de-
trabalho/educacao
33

 as garantias relativas a suas atividades-fim, ou seja, a garantia de exercer seu


ofício com liberdade de ação em relação aos três poderes, limitando-se
apenas à observância da lei;
 as garantias dos órgãos e agentes, o que se traduz na liberdade funcional dos
membros do Ministério Público em exercer seu ofício, podendo ser
responsabilizados por atuação irregular.
Conforme HUGO NIGRO MAZZILLI (2007), as garantias dos órgãos e
agentes se evidenciam de várias formas, como:
i. na proibição da irredutibilidade dos subsídios e na justificativa de bons
salários, para que o promotor se dedique exclusivamente ao cargo e não se
corrompa;
ii. na vitalicidade, que veda demissões administrativas, possíveis apenas em
decorrência de sentença judicial julgada;
iii. na inamovibilidade, que impede que o funcionário seja afastado de seu cargo
e de suas funções;
iv. na definição de seus poderes e da escolha dos Procuradores Gerais;
v. na existência do Promotor natural, que requer a existência de cargos e
funções predeterminadas em lei, que não podem ser alteradas na atuação
dentro do Ministério Público;
vi. na vedação de Promotor ad hoc, que impede que funcionário de outra carreira
atue nas funções destinadas à instituição; e,
vii. na responsabilidade do membro do Ministério Público, segundo a qual, a ação
irregular de um membro recairá sobre a responsabilidade dele e não da
instituição.
No Ministério Público não existem hierarquias, ou seja, sua organização é
monocrática, o que garante aos seus membros uma independência funcional. Para
MARIA TEREZA SADEK (2000), esse fato contribui para que haja um espaço para
“vontade política”, ou seja, para que a motivação e as características individuais de
seus membros tornem efetivas as prerrogativas da lei.
Um exemplo da independência funcional é a escolha dos Procuradores-
Gerais da República e da Justiça; outro, é a própria dificuldade de mensurar a real
autonomia da instituição, tendo em vista que as atribuições do Ministério Público
podem ser limitadas pelo Poder Judiciário e pela Polícia, quando facilitam ou
34

impedem as investigações ou ações. Note-se que essas instituições muitas vezes


podem sofrer pressões políticas para tanto (OLIVEIRA, 2011).

2.4 Atuação do MPF na judicialização da educação


Faz parte das atribuições do Ministério Público exercer o controle das
políticas públicas educacionais; fiscalizar a realização do direito à educação,
contribuindo para que a mesma se transforme em elemento de inclusão e
transmutação das estruturas sociais (CARIBÉ, 2016).
Em casos de ineficácia, o Ministério Público, sempre que necessário, pode
movimentar o Poder Judiciário, que deve interferir nas políticas públicas
educacionais, para garantir um mínimo existencial que proteja a dignidade da
pessoa humana e a máxima efetividade dos direitos fundamentais sociais,
aproximando, tanto quanto possível, o dever-ser normativo e o ser da realidade
social, como forma de contribuir para o progresso humano e propiciar maiores
oportunidades de vida para os excluídos.
Abaixo são elencadas, conforme ANTÔNIO CARLOS OSÓRIO NUNES
(2012, p. 2-3), algumas sugestões de trabalhos que estão ao alcance dos membros
do Ministério Público para uma atuação eficiente como articulador, mediador e
protagonista de ações sociais que efetivamente possam contribuir para a melhoria
da qualidade da educação nos seus respectivos municípios de atuação (e também
nas regiões ou no âmbito estadual).
1 – Diagnóstico da situação: a primeira ação importante a ser feita é a
realização de um diagnóstico sobre a situação educacional do município. Para tanto,
se houver possibilidade, pode ser feita uma Audiência Pública na qual serão
levantados os problemas relacionados à comunidade escolar do respectivo
município. A audiência servirá para a colheita de informações, obtenção de dados e
levantamento de problemas gerais e relacionados à comunidade escolar.
2 – Estabelecimento de canais de conversação e núcleos de articulação: na
própria audiência pública será possível estabelecer contatos com os principais
atores relacionados à comunidade escolar do município: representantes das
Secretarias de Educação; membros dos Conselhos da Educação, dos Conselhos do
Fundeb e da Alimentação Escolar; dos Conselhos de Escolas; representantes de
ONG; servidores, representantes dos pais, alunos, professores, entre outros. Dessas
pessoas, o representante do Ministério Público selecionará aquelas que ele entende
35

mais importantes ou adequadas para funcionar como elementos de interlocução


para a discussão, reflexões conjuntas e busca de melhorias na qualidade do ensino
do município. Estabelece-se uma rede de contatos na área, com possíveis
cronogramas de trabalho, com pautas predefinidas.
Cabe ainda ao MP:
 Zelar corretamente pela correta aplicação das verbas de financiamento da
educação. O artigo 212 da CF/88 estatui que “a União aplicará, anualmente, nunca
menos de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por
cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de
transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino”. Os artigos 68 e
seguintes da Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) tratam dos
recursos financeiros destinados à educação.
Nessa direção, cabe ao MP a prerrogativa e o dever de atuar preventiva e
repressivamente para uma boa fiscalização dessas verbas. Para tanto, diversas
ações podem ser feitas, entre outras:
a) zelar, com o apoio dos Conselhos ligados à educação, pelo orçamento
detalhado da Educação Básica; orçamentos genéricos permitem desvios e fraudes e
dificultam o acompanhamento de sua execução;
b) cobrar e fiscalizar a transparência da folha de pagamentos das
Secretarias da Educação;
c) fiscalizar, ou cobrar para que os conselhos fiscalizem a aquisição de bens
e a prestação de serviços ligados à Educação;
d) acompanhar e fiscalizar a eficiência nos trabalhos dos Conselhos do
Fundeb (NUNES, 2012).
 Verificação da existência e da regularidade no funcionamento dos Conselhos
municipais relacionados à Educação, a saber: Conselho Municipal de
Educação, Conselho do Fundeb e Conselho da Alimentação Escolar.
 Verificar como está a situação da educação infantil: é importante que seja
feito um levantamento para saber como anda o atendimento e a oferta de
vagas à educação infantil, que abrange as creches, de zero aos três anos, e a
pré-escola, dos quatro aos cinco anos. Todas as crianças nestas faixas
etárias têm direito à educação infantil.
 Verificar a não criação/implantação do Plano de Carreira dos Profissionais da
Educação Básica: essa é uma irregularidade ainda comum em mais da
36

metade dos Municípios brasileiros, em descumprimento ao dever


constitucional. É preciso checar se o Município implantou o Plano de Carreira
e Remuneração dos profissionais de educação básica, conforme exigência
dos seguintes dispositivos constitucionais e legais: art. 206, V da CF, art. 40
da Lei nº 11.494/200710, art. 67 da Lei nº 9.394/199611, e item 10.3.1 do Plano
Nacional de Educação (Lei nº 13.005/201412).
 Incentivar o funcionamento dos Conselhos Escolares.
 Cobrar uma escola mais inclusiva, uma vez que esta permite que os alunos
em geral vivenciem as diferenças e que aqueles discriminados pela
deficiência, ou qualquer outro motivo, ocupem o seu espaço na sociedade e
sejam cidadãos. Toda criança e adolescente têm o direito à educação na
diversidade, garantindo-se o seu aprendizado de acordo com suas
potencialidades (art. 208, V, CF).
 Segurança escolar: os cuidados com a segurança escolar interferem no
processo de ensino e de aprendizagem e, portanto, na qualidade da
educação. O Ministério Público pode colaborar com mais paz nas escolas
incentivando-as a melhorar e ampliar as relações com a comunidade local,
sobretudo com a criação e o fortalecimento dos Conselhos Escolares; a
apoiar e cobrar as ações de segurança no entorno da escola, tais como:
rondas escolares, limpeza de terrenos, fornecimento de iluminação adequada,
entre outros; zelar pela observância do perímetro escolar, que é a área
contígua aos estabelecimentos escolares na qual devem ser vedadas
determinadas atividades, tais como vendedores ambulantes, venda de
bebidas alcoólicas, entre outros.
 Prevenir e combater a evasão escolar que é um sério problema brasileiro e
desafio para todos, muito mais do que garantir a matrícula nas escolas.
Muitas são as ações das quais o Ministério Público pode participar, dando
sua contribuição para a efetivação do direito à educação, seja articulando,

10 Regulamenta o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização


dos Profissionais da Educação – FUNDEB, de que trata o art. 60 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias; altera a Lei nº 10.195, de 14 de fevereiro de 2001; revoga dispositivos
das Leis nº 9.424, de 24 de dezembro de 1996, nº 10.880, de 9 de junho de 2004, e nº 10.845, de 5
de março de 2004; e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11494.htm
11
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9394.htm
12
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm
37

fiscalizando, mediando socialmente as relações e mesmo impulsionando o Estado


na escolha de critérios e prioridades de gastos (NUNES, 2012).
38

UNIDADE 3 – JURISPRUDÊNCIA E A GARANTIA DO


DIREITO À EDUCAÇÃO

3.1 Conceitos e definições


Segundo o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT),
Jurisprudência é um termo jurídico, que significa o conjunto das decisões, aplicações
e interpretações das leis.
A jurisprudência pode ser entendida de três formas:
 como a decisão isolada de um tribunal que não tem mais recursos;
 pode ser um conjunto de decisões reiteradas dos tribunais; ou,
 as súmulas de jurisprudência, que são as orientações resultantes de um
conjunto de decisões proferidas com mesmo entendimento sobre
determinada matéria.
Precedente é a decisão judicial tomada em um caso concreto, que pode
servir como exemplo para outros julgamentos similares. Há contudo, muitas
discussões, no sentido que decisões isoladas poderiam ser consideradas
jurisprudência.
Jurisprudência é ainda a interpretação reiterada, de mesmo sentido, que os
tribunais dão às leis, nos casos concretos que são levados a julgamento.
Jurisprudência é um termo jurídico que significa o conjunto das decisões,
aplicações e interpretações das leis. Também é descrita como a ciência do Direito e
do estudo das leis.
39

Figura 5: Jurisprudência.
Fonte: http://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/direito-facil-1/jurisprudencia-x-precedente

A jurisprudência surgiu com o Direito Inglês, que foi desenvolvido para ir


contra os costumes locais que não eram comuns. Para combater isso, o rei enviava
juízes que presidia o juri e constituía um sistema de regras em tribunais separados.
O direito inglês apresentou-se então como direito jurisprudencial, no qual
predominava a regra do precedente.
O real significado de jurisprudência significa “a ciência da lei”. A
jurisprudência pode ter outros significados, como a decisão de um tribunal que não
pode ser recorrida, ou um conjunto de decisões dos tribunais, ou a orientação que
resulta de um conjunto de decisões judiciais proferidas num mesmo sentido sobre
uma dada matéria ou de uma instância superior como o STJ ou TST.
Jurisprudência em sentido amplo é

a coletânea de decisões proferidas pelos juízes e tribunais sobre uma


determinada matéria jurídica. (...) Jurisprudência em sentido estrito, dentro
desta acepção, consiste apenas no conjunto de decisões uniformes,
prolatadas por órgãos do Poder Judiciário, sobre uma determinada questão
jurídica (NADER, 2013, p. 172).

Em pesquisa que investigou e analisou a atuação do Poder Judiciário,


especificamente do Supremo Tribunal Federal (STF), com relação às demandas
40

judiciais no campo do direito à educação de crianças e adolescentes no período de


2003 a 2012, SCAFF e PINTO (2016) observaram que o STF tem adotado
posicionamento favorável em prol da efetivação do direito à educação, declarando
de forma unânime que a educação – incluindo a educação infantil – é direito
fundamental social, imediatamente exigível do Estado (em sentido amplo) por meio
de via judicial, dentre outras conclusões.
Do conjunto de acórdãos analisados, observou-se que a temática mais
presente no STF em relação ao direito à educação refere-se às demandas por
acesso a vagas na educação infantil, representativas de 20% das ações analisadas.
Em seguida, estão os acórdãos referentes ao conflito entre os poderes Legislativo e
Executivo na elaboração de normas para a educação, com 6 ações analisadas
(cerca de 17%); as ações relativas à contratação temporária de profissionais da
educação pública, com 5 acórdãos (cerca de 14%); os acórdãos referentes ao
conflito entre União e os estados membros na elaboração legislativa na temática
educacional, com 4 acórdãos (cerca de 11,5%); as ações alusivas à
responsabilidade estatal na garantia ampla do direito à educação e as relativas ao
financiamento educacional, ambas com 3 acórdãos cada (cerca de 8,5%) e os
acórdãos relativos ao poder de regulação do Estado em relação aos
estabelecimentos privados de ensino, com 2 decisões (cerca de 5,5%). As demais
temáticas estão representadas por apenas 1 acórdão, sendo elas: manutenção de
turma do ensino fundamental na modalidade educação de jovens e adultos (EJA);
escolha de dirigentes de estabelecimentos de ensino mediante eleições diretas;
constitucionalidade da meia-entrada; omissão do presidente da República em
relação à erradicação do analfabetismo no país e à implementação do ensino
fundamental para todos e a constitucionalidade do piso salarial profissional para os
profissionais do magistério público da educação básica.
É um trabalho interessante e que vale a pena ser lido em sua íntegra. Pode
ser acessado em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v21n65/1413-2478-rbedu-21-65-
0431.pdf

3.2 A relação público-privado na educação e o STF


Outra importante questão, de extrema atualidade e relevância na área
educacional, também foi objeto de análise pelo STF, a relação entre o público e o
privado na educação. Ao discutir sobre o poder de regulação do Estado em relação
41

aos estabelecimentos privados de ensino, ou seja, sobre a possibilidade de


intervenção estatal na atividade exercida pela iniciativa privada no âmbito da
educação, nota-se que, embora os ministros tenham travado ferrenha discussão
quanto à natureza jurídica dos serviços educacionais – se serviço público, privado
ou de natureza dupla – e também em relação à natureza jurídica da relação entre os
estabelecimentos privados de ensino e seus usuários – se contratual, se relação de
consumo ou pautada no direito fundamental à educação –, a posição majoritária da
corte é de que a atuação da iniciativa privada na educação básica não está
desatrelada da observância das regras estabelecidas pelo Estado (SCAFF; PINTO,
2016).
Em outras palavras, a corte entendeu, por maioria, que a iniciativa privada
no âmbito do ensino deve suportar a regulação estatal, inclusive a estabelecida
pelos estados membros. De fato, a Constituição Federal autoriza o exercício da
atividade educacional pela iniciativa privada, mas a submete ao dirigismo e
regulação estatal.
O artigo 205 da CF/88, ao estabelecer que a educação é primeiramente
dever do Estado, impôs um regime jurídico que confere à administração pública a
responsabilidade de não apenas garantir o acesso à educação em estabelecimentos
de ensino públicos, mas também de fiscalizar e tutelar a prestação dos serviços
educacionais no âmbito privado (TROPARDI FILHO, 2009).
Além disso, o artigo 209 da CF/88 é expresso em afirmar que é livre a
exploração da atividade educacional privada desde que respeitada duas condições:
o cumprimento das normas gerais de educação nacional e a autorização e avaliação
de qualidade pelo Poder Público (BRASIL, 1988).
Observa-se assim que a liberdade de iniciativa na área educacional não é
irrestrita, estando limitada pelo próprio conteúdo do direito fundamental da educação
(RANIERI, 2013).

3.3 Ementas de decisões dos tribunais e ações promovidas pelo Ministério


Público (ação civil pública ou inquéritos civis) relacionadas à educação
a) Merenda escolar:
A Constituição Federal (art. 208, VII), o Estatuto da Criança e do
Adolescente (art. 54, VII) e a LDB (art. 4º, VIII) e a meta 18 do capítulo do ensino
fundamental do Plano Nacional de Educação estabelecem a necessidade de
42

atendimento ao educando, no ensino fundamental, de programa suplementar de


alimentação. Assim, o fornecimento e a qualidade da alimentação passaram a ser
objeto de análise judicial, como se observa nas seguintes ementas:
Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público Federal em face do
Município de Sapé – PB e FNDE – Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação. A ação tramita perante o Tribunal Regional Federal da Paraíba – Seção
judiciária – 2007.82.00.008137-5. Consta como pedido da ação civil pública: a) a
regularização do fornecimento da merenda escolar, conforme o cardápio elaborado,
sem deixar faltar um item sequer para a elaboração dos alimentos, inclusive os
envolvidos na preparação (açúcar, óleo, gás de cozinha, água filtrada, entre outros),
promovendo a adequação do programa a todas as exigências previstas na lei e no
regulamento; b) providencie a adequação das condições de transporte de alimentos
perecíveis às escolas situadas fora do núcleo urbano, disponibilizando para tanto
acondicionamento adequado por meio de freezers, entre outros) providencie a
adequação das condições das escolas para a conservação e armazenamento dos
gêneros alimentícios, disponibilizando água encanada, filtros, geladeiras, armários, e
tudo o mais necessário, conforme as normas de correta manipulação de alimentos
previstas pela Vigilância Sanitária; d) Sejam disponibilizadas merendeiras ou
servidores habilitados para o manuseio e preparo de alimentos para todas as
escolas municipais, no prazo de 60 (sessenta) dias; e) seja estruturado o CAE –
Conselho de Alimentação Escolar – para seu perfeito funcionamento mediante a
disponibilização de sala de reuniões, computador, telefone, secretária e veículo para
realização de inspeções e vistorias.

b) Transporte escolar:
Da mesma forma como mencionado no item anterior, a Constituição Federal
(art. 208, VII), o Estatuto da Criança e do Adolescente (art. 54, VII) e a LDB (art. 4.º,
VIII), meta 17 do capítulo do ensino fundamental do Plano Nacional de Educação,
também estabelecem a necessidade de atendimento ao educando, no ensino
fundamental, de programa de transporte. Nesse sentido, apontam as decisões a
seguir:
APELAÇÃO CÍVEL – Apelo voluntário da Municipalidade – Contagem de
prazo que se submete à regra do art. 198, II, do ECA, ainda que aplicado em dobro,
em razão do disposto no art. 188 do Código de Processo Cível – Intempestividade
43

da apelação do Município – Não conhecimento – Reexame necessário – Transporte


escolar que deve ser providenciado, gratuitamente, a todos os estudantes, crianças
e adolescentes do Município, das zonas urbanas e rural – Inteligência dos arts. 30,
VI, 211, par. 2º e 227 da Constituição Federal, combinados com os arts. 54, I e VII e
208, I e V, do ECA – Improvimento. (Apelação Cível nº 59.494-0/0 – Comarca de
Ituverava – TJSP – Relator Des. Nigro Conceição – j. 09/11/00).
MANDADO DE SEGURANÇA – Impetração objetivando compelir o
Município de Buritizal a fornecer transporte escolar a aluno do ensino fundamental
residente na zona rural – segurança concedida corretamente em primeiro grau –
Constituição Federal que impõe aos entes estatais o dever de assegurar o ensino
fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso
na idade própria, preconizando amplo atendimento ao educando através da
implementação de programas suplementares de material didático-escolar,
transporte, alimentação e assistência à saúde (art. 208, I e VII) – Reexame
necessário (pertinente na espécie) e apelo da Municipalidade não providos.
(Apelação Com Revisão 5383415200 – Relator(a): Paulo Dimas Mascaretti –
Comarca: Igarapava – Órgão julgador: 8ª Câmara de Direito Público – Data do
julgamento: 16/07/2008 – Data de registro: 22/07/2008).

c) Falta de professores:
A falta de professores prejudica o pleno desenvolvimento do educando,
regra básica prevista na Constituição Federal (art. 205), Estatuto da Criança e do
Adolescente (art. 53) e LDB (art. 2, 12 e 13). Por outro lado, a LDB estabelece toda
uma política de organização educacional (arts. 10 a 13) e normas relativas aos pro-
fissionais da educação (art. 67) que, uma vez desrespeitada, enseja medida judicial,
como a ação a seguir mencionada:
Ação Civil Pública proposta pelo Ministério Público do Estado do Amapá
objetivando que o Estado do Amapá imediatamente lote professores em todas as
disciplinas ministradas nas seguintes escolas da rede estadual sediadas na Cidade
de Calçoene: Professor Sílvio Elito da Lima Santos, Amaro Brasilino de F. Filho e
Lobo Dálmada, fixando multa diária a ser paga pessoalmente pelo senhor secretário
de Estado da Educação, no caso do não cumprimento da obrigação, conforme
previsto no art. 213, § 2º, do ECA.
44

É certo que essa questão é extremamente complexa porque nem sempre a


decisão judicial encontra efetividade, uma vez que, em muitas situações, não
existem professores habilitados ou interessados nas vagas abertas. A intervenção
judicial, nesse caso, somente encontrará resultado, desde que ocorra demanda para
as vagas existentes.

d) Condições para o desenvolvimento do aluno com deficiência:


O atendimento educacional especializado ao aluno com deficiência,
preferencialmente na rede regular de ensino (CF., art. 208, III, ECA., art. 54, III e
LDB., art. 4º, III) provocou medidas judiciais para a garantia deste direito, conforme
se observa a seguir:
APELAÇÃO CÍVEL – Ação civil Pública com pedido de tutela antecipada.
Criança portadora de paralisia cerebral infantil aliada a retardo mental. Liminar
deferida. Procedência da ação sob pena de multa diária, condenando o apelante a
inserir a criança em unidade de educação infantil. (Apelação cível nº 149.237- 0/9-00
– São Paulo – TJSP – Câmara Especial – voto nº 3.636).
AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Fornecimento de tratamento a portadores de
síndrome de autismo – Educação especializada – Art. 5º CF – Norma constitucional
de proteção à saúde pública – Controle jurisdicional dos atos discricionários –
Garantia de direito à saúde pública – Recurso não provido. (Apelação Cível nº
564.314.5/5-00-00 – Comarca de São Paulo). Apelante: Juízo ex officio. Apelado:
Victor Martucelli (menor representado por genitora).

e) Fechamento de salas de aula:


Mandado de Segurança – Autoridade de Ensino não pode suprimir salas de
aulas, com fundamento na Resolução nº 97/2004 e Resolução SE nº 125/98, as
quais violam o disposto nos artigos 208 e seus incisos e 227, caput todos da
Constituição Federal. As referidas Resoluções apenas determinam que a matrícula
do aluno deverá respeitar o turno de seu trabalho, inclusive dos que comprovarem
ser aprendizes, na forma do Estatuto da Criança e do Adolescente. Dessa forma, o
ato da autoridade impetrada que implicou em retrocesso social, fato expressamente
vedado pelos artigos 208 e seus incisos e 227 caput todos da Constituição Federal
violou direito líquido e certo dos alunos. (Tribunal de Justiça do Estado de São
45

Paulo. Apelação Cível 427.364-5/2-00. Comarca de Pacaembu. Apelante: Fazenda


do Estado de São Paulo. Apelado: Ministério Público).

f) Cancelamento de matrículas:
Ação Civil Pública – Determinação da Secretaria de Educação que
cancelava a matrícula de crianças e adolescentes que não comparecessem nos
primeiros dez dias do ano letivo. Manifesta ilegalidade. Determinar o cancelamento
da matrícula de crianças e adolescentes em razão de falta escolares, ainda que
injustificadas, viola o direito de acesso à educação. (Tribunal de Justiça do Estado
de São Paulo – Recurso ex officio nº 60.258- 0/6-00. Fazenda Pública do Estado de
São Paulo e Ministério Público).
Mandado de Segurança – Ensino. Anulação de ato administrativo.
Indeferimento de matrícula em curso de língua estrangeira, ministrado pelo Centro
de Estudos de Línguas, da Secretaria Estadual da Educação, com fundamento na
Resolução nº 6, de 22/01/2003, que estabeleceu como beneficiários do curso de
línguas somente aqueles alunos matriculados na rede pública de ensino. Alegação
desincompatibilidade superveniente do impetrante com o programa CEL diante do
fato de não mais estar matriculado na rede pública de ensino. Inadmissibilidade.
Aluno carente que foi contemplado com bolsa de estudos em escola da rede
particular para o ensino médio. Hipossuficiência não afastada. Ofensa aos
dispositivos constitucionais que garantem o acesso integral à educação. Segurança
concedida. Decisão Mantida. (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Apelação
nº 465.757-5/4. Apelante: Fazenda do Estado de São Paulo. Comarca de
Araçatuba).

g) Licença gestante:
Mandado de Segurança – Adolescente – Estudante – Licença gestante com
prazo de 120 dias – Dirigente Regional de Ensino que concedeu afastamento de
apenas 90 dias, fundado na Lei nº 6.202/75 – Prazo de 120 dias previsto no artigo
7º, inciso XVIII, da CF. Prevalência da norma constitucional. Ordem concedida.
Sentença mantida. (Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Apelação Cível nº
161.501-0/02 – Presidente Prudente. Apelante: Fazenda do Estado de São Paulo.
Apelado: Ministério Público).
46

h) Escolas particulares:
Além dos temas mencionados, existem outros que se referem
especificamente às escolas particulares. Na discussão que se trava com as escolas
particulares, o fundamento legal extrapola a Constituição Federal, LDB, ECA,
resoluções e portarias, incluindo como suporte o Código de Defesa do Consumidor –
Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. As discussões travadas têm ligação direta
com eventual cobrança por parte das escolas. São exemplos de decisões que bem
demonstram essa relação:
Apelação – Cobrança – Prestação de serviços educacionais – Comprovação
do réu de cancelamento de matrícula solicitada pelo aluno. Tendo a instituição de
ensino demonstrado expressamente que o réu protocolou pedido de cancelamento
de sua matrícula, não há como exigir-se o pagamento das mensalidades restantes.
(Apelação cível nº 1117339-0/2, Santo André, TJSP, Relatora: Des. Lino Machado).
Fornecimento de histórico escolar – Negativa ante a existência de débito –
Inadmissibilidade – Segurança concedida – Recurso improvido. (Apelação cível nº
1160767-0/2, Ituverava, TJSP, Relator: Des. João Omar Marçura).
Mandado de Segurança – Prestação de serviços educacionais. Recusa de
fornecimento de certificado de conclusão de curso de ensino médio.
Inadmissibilidade. O caput do artigo 6º da Lei nº 9.870, de 23 de novembro de 1999,
proíbe a retenção de documentos escolares ou a aplicação de quaisquer outras
penalidades pedagógicas por motivo de inadimplemento. Além disso, a negativa da
autoridade impetrada atenta contra o artigo 205 da C.F., uma vez que impede a
continuidade dos estudos do impetrante. (Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo. Recurso nº 1.075.234.0/1. São Paulo).
Prestação de serviços – Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor
à prestação de serviços educacionais – Multa limitada à 2% – Desconto
pontualidade que configura multa disfarçada e inadmissível “bis in idem” – Retenção
de documentos escolares – Dano moral – Indenização reduzida – Recurso
improvido. (Apelação cível nº 930565-0/9, São José do Rio Preto, TJSP, Relator:
Des. Eduardo Sá Pinto Sandeville).
Não pode a apelante, sem justa causa, recusar-se a fornecer os documentos
necessários para a transferência do apelado, uma vez que a Lei nº 9.870/99 no seu
artigo 6º caput e §1º, proíbe a aplicação de penalidades em razão de
inadimplemento e, ainda, dispõe expressamente, que a instituição e ensino tem o
47

dever de expedir, a qualquer tempo, os documentos mencionados. Recurso


improvido. (Apelação cível nº 1050329-0/4, São Paulo, Relator: Des. Gomes Varjão).

STJ - Agravo regimental no agravo em recurso especial AgRg no AREsp


571676 SP 2014/0217066-4 (STJ). Data de publicação: 14/04/2015.
Ementa: agravo regimental no agravo em recurso especial. Contrato de
prestação de serviços educacionais. Execução proposta contra o genitor do aluno.
Pedido de intimação da genitora para compor a relação processual. Falta de
interesse de agir. Fundamento do aresto recorrido não impugnado. Incidência das
súmulas 283 e 284/stf. Agravo desprovido. 1. Citação é o ato por meio do qual o réu
é chamado para integrar a relação processual. Ausente requerimento de citação da
mãe do menor em favor de quem se firmou contrato de prestação de serviços
educacionais, não há que se dirigir contra ela a demanda executiva. 2. A falta de
impugnação objetiva e direta dos fundamentos do acórdão recorrido denota a
deficiência da fundamentação recursal, que se apegou a considerações secundárias
que não constituíram objeto da decisão pelo Tribunal de origem, a fazer incidir, no
particular, as Súmulas 283 e 284 do STF. 3. Agravo regimental a que se nega
provimento.
TRF-1 - Agravo de instrumento AG 34955 MG 2002.01.00.034955-4 (TRF-1)
Data de publicação: 17/03/2003. Ementa: processual civil. Agravo de instrumento.
Ensino superior. Matrícula de aluno inadimplente com mensalidades escolares.
Agravo regimental não conhecido. LEI 9.870 /99. 1. Não se conhece de agravo
regimental interposto contra decisão que nega efeito suspensivo em agravo de
instrumento, nos termos do artigo 293, § 1º, do Regimento Interno do TRF/1ª
Região. 2. A Lei nº 9.870 /99, em seu art. 5º , autoriza as instituições de ensino pré-
escolar, fundamental, médio e superior a não renovar as matrículas de alunos com
mensalidades em atraso com a instituição, observado o calendário escolar. 3. Ficam,
todavia, ressalvados os créditos obtidos sob abrigo da liminar. 4. Agravo a que se dá
provimento. Agravo regimental não conhecido.
TJ-MG - Reexame Necessário-Cv REEX 10487120017180001 MG (TJ-MG)
Data de publicação: 27/06/2013. Ementa: mandado de segurança. Expulsão do
aluno. Transferência compulsória. Atos de indisciplina. Direito à educação.
Procedimento administrativo. Ausência. - O Mandado de Segurança visa a proteger
direito líquido e certo do impetrante, não amparado por Habeas Corpus ou Habeas
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Data, contra ato de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de


atribuições públicas, eivado de ilegalidade ou abuso de poder. - O aluno que pratica
atos de indisciplina, comete uma infração grave, o que autoriza sua
expulsão/transferência compulsória para outra entidade de ensino, todavia, há de se
observar o procedimento administrativo instaurado para oportunizar ao aluno a
devida defesa.
TJ-DF - Apelação Cível APC 20150110414582 (TJ-DF). Data de publicação:
17/07/2015. Ementa: ação de reparação de danos bullying em escola. Menor
portador de hiperatividade. Cerceamento de defesa. Preliminar rejeitada. Falha na
prestação de serviço. Responsabilidade objetiva da escola. Culpa in eligendo.
Restituição das mensalidades pagas antes da troca de instituição. Impossibilidade.
Danos morais. Quantum excessivo. Honorários advocatícios. Redução. Recurso
provido em parte. 1. Rejeita-se a preliminar de cerceamento de defesa, seja porque
a parte não requereu a prova pericial no momento oportuno, seja porque o acervo
probatório já era suficiente para formar a convicção do magistrado. 2. Demonstrada
a falha na prestação de serviços, já que prepostos da instituição de ensino
permitiram a prática de bullying contra menor portador de hiperatividade nas
dependências do estabelecimento, impõe-se o dever de indenizar. 3. Tendo em vista
a capacidade econômica das partes, a gravidade e a extensão do dano, merece ser
reduzida a reparação fixada a título de danos morais. 4. Não é possível a restituição
das mensalidades escolares referentes ao período em que a parte estava
matriculada na instituição, sob pena de ocorrer o seu enriquecimento sem causa. 5.
Considerando a natureza e complexidade da causa, reduz-se o valor dos honorários
advocatícios para o mínimo legal. 6. Apelação provida em parte.
49

REFERÊNCIAS

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