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INTRODUÇÃO..........................................................................................................................4
CAPÍTULO I – O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA E A
PEDAGOGIA DA ORALIDADE............................................................................................9
1.1.Introdução.........................................................................................................................9
1.2. Caracterização do ensino e a aprendizagem da Língua Portuguesa no contexto cabo-
verdiano...................................................................................................................................9
1.3. Caracterização do ensino da oralidade em Cabo Verde.................................................12
1.4. A importância da oralidade no ensino e aprendizagem do Português no contexto cabo-
verdiano.................................................................................................................................13
1.5. A subvalorização do oral...............................................................................................15
1.6. A atitude do professor perante o ensino da oralidade....................................................17
1.7. A importância da prática da comunicação/expressão oral na sala de aula....................19
1.8. Actividades adequadas ao desenvolvimento da oralidade na sala de aula.....................21
1.9. Os tópicos da expressão oral..........................................................................................22
1.10. Conclusão.....................................................................................................................24
CAPÍTULO II – PROPOSTA DE ABORDAGEM DA NOVELA “QUEM ME DERA
SER ONDA” DE MANUEL RUI VISANDO A COMPETÊNCIA ORAL........................25
2.1. Introdução......................................................................................................................25
2.2. O desenvolvimento da competência oral na aula de leitura...........................................25
2.2.1. A oralidade ao serviço da leitura.............................................................................25
2.3. Abordagem textual com vista a desenvolver a competência da oralidade.....................26
2.4. – A abordagem da oralidade a partir da novela “Quem me dera ser onda” de Manuel
Rui.........................................................................................................................................28
2.4.1. Biobibliografia do escritor Manuel Rui...................................................................29
2.4.2. Contextualização socio-cultural da obra..................................................................30
2.4.3. Resumo da obra “Quem me dera ser onda” de Manuel Rui...................................31
2.4.4. Proposta de procedimentos metodológicos para abordagem da oralidade a partir da
obra Quem me dera ser onda com alunos de 11º ano de escolaridade..................................33
2.5. Conclusão.......................................................................................................................36
CAPÍTULO III – O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA ORAL NA
ABORDAGEM DA NOVELA QUEM ME DERA SER ONDA: UM ESTUDO COM OS
1
PROFESSORES DO 11º ANO DO LICEU DOMINGOS RAMOS E DO LICEU
AMÍLCAR...............................................................................................................................37
3.1. Introdução......................................................................................................................37
3.2. Opções metodológicas...................................................................................................37
3.3. Caracterização do instrumento de recolha dos dados....................................................39
3.4. Contexto de intervenção................................................................................................40
3.4.1 Critério de selecção das escolas................................................................................41
3.4.2. Critério de selecção dos professores........................................................................41
3.4.3. Caracterização do Liceu Domingos Ramos.............................................................42
3.4.4. Caracterização do Liceu Amílcar Cabral.................................................................43
3.4.5. Caracterização dos coordenadores de Português.....................................................44
3.4.6. Caracterização dos professores inquiridos...............................................................44
3.5. Análise e interpretação dos dados..................................................................................46
3.5.1. Introdução................................................................................................................46
3.5.2. Situação do ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa no Ensino Secundário e
Cabo Verde...........................................................................................................................46
3.5.3. Aprendizagem das competências da Língua Portuguesa.........................................48
3.5.4. Competência que mais se trabalha na sala de aula..................................................50
3.5.5. Ordenação das competências por grau de importância............................................51
3.6. Conclusão.......................................................................................................................62
CONCLUSÕES.......................................................................................................................64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................67
ANEXOS..................................................................................................................................72
2
Índice dos Quadros
3
INTRODUÇÃO
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Língua Portuguesa, adquirindo uma fluência mental e verbal e adequando o seu discurso às
diferentes situações de comunicação.
Devido às exigências, necessidades, e problemas levantados a nível do ensino da
oralidade, decidimos, no âmbito da apresentação do trabalho para obtenção do grau de
Licenciatura em Estudos Cabo-verdianos e Portugueses, escolher o tema “Estratégias de
Trabalho da Competência da Oralidade em Língua Portuguesa: Uma Abordagem
Contextualizada a Partir da Obra Quem me Dera Ser Onda de Manuel Rui”.
A escolha deste tema deve-se às razões acima apresentadas, mas também prende-se
com o facto de ouvirmos muitas preocupações manifastadas pelos professores perante a
situação dos alunos do Secundário, mais precisamente os do 3º ciclo, que, segundo dizem,
terminam o ensino secundário sem saber comunicar/expressar oralmente em Língua
Portuguesa. Sensibilizadas com esta situação, na qualidade de agentes educativos reflexivos,
responsáveis pela busca da compreensão das causas dos problemas e também pela procura de
melhores estratégias para os resolver, decidimos reflectir sobre o ensino oralidade.
A escolha da abordagem da oralidade “Contextualizada a Partir da Obra Quem me
Dera Ser Onda de Manuel Rui” prende-se com a constatação feita de que o programa do 11º
ano propõe essecialmente o estudo dos géneros, subgéneros e tipologias de textos. Com isso
vimos que o desenvolvimento da competência oral nesta fase só seria possível no ambito do
estudo dos géneros os subgéneros textuais recomendados. Assim, tendo verificado e que a
referida novela apresenta inúmeras situações a partir das quais se pode trabalhar a
competência em questão, optamos por ela.
Deste modo, pensamos que com a elaboração deste trabalho estamos a dar alguma
contribuição, ainda de forma modesta, para a Didactica do Português Língua Segunda em
Cabo verde e, mais precisamente para minimizar a problemática da deficiência oral nos
alunos do 3º ciclo.
Para levar avante este trabalho fizemos em primeiro lugar uma revisão bibliográfica para
verificarmos o quê que os teóricos já têm escrito a esse respeito. De seguida, fizemos um
levantamento de informações, através da aplicação de inquérito por questionário, a cerca da
situação da Língua Portuguesa, mais concretamente do ensino e da aprendizagem da oralidade
dos alunos do 11º ano de escolaridade e a sua abordagem aplicada à novela “Quem me Dera
Ser Onda”.
Desta feita, o nosso público alvo foi os professores que leccionam a disciplina de
Língua Portuguesa no 11º ano de escolaridade. Pensámos que com esta recolha vamos obter
ajuda no sentido de verificar se realmente os alunos apresentam deficiência oral no 3º ciclo, e
6
também recolher subsídios a nível de estratégias de ensino e de aprendizagem com o intuito
de obter mais valias e minimizar este problema.
Tendo em conta a problemática acima mencionada e em busca de uma solução
adequada propusemos para este trabalho de investigação os seguintes objectivos:
- Gerais:
Conhecer a origem da deficiência na competência da oralidade no 3º ciclo –
11º ano de escolaridade;
- Específicos:
Caracterizar o contexto de ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa
destacando o ensino da oralidade em Cabo Verde;
7
Relativamente ao 2º capítulo, falaremos sobre a abordagem textual virada para o
desenvolvimento da oralidade na sala de aula, ou melhor, pretendemos propor e demonstrar
como é possível trabalhar a oralidade a partir da novela “Quem me Dera Ser Onda”
combinada com a abordagem textual.
No que tange ao 3º capítulo, vamos incidir mais sobre a parte prática. Justificamos a
opção metodológica, caracterizamos o contexto de intervenção e por fim apresentamos a
análise e discussão crítica dos dados recolhidos.
Por último, apontaremos as principais conclusões a que chegamos com esta
investigação. Para além das referências bibliográficas, apresentamos os anexos, onde
colocaremos um exemplar do questionário que aplicamos aos professores e os quadros, que
utilizámos como instrumentos de análise dos dados, com as informações recolhidas mais
detalhadas.
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CAPÍTULO I – O ENSINO E A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA
PORTUGUESA E A PEDAGOGIA DA ORALIDADE
“…parece que a porta da sala funciona como uma fronteira e que, ao transpô-la,
deixa de haver necessidade de se comunicar em português, recorrendo-se ao
crioulo” (Pinto, 2001).
1.1.Introdução
A Língua Portuguesa tem estatuto de Língua Segunda em Cabo Verde. Por isso a
maioria das pessoas aprendem-na formalmente. Assim, dependendo da região de residência,
da distância da escola, da disponibilidade financeira, ou do estrato social a que as famílias
pertencem, uns alunos têm o privilégio de começar a aprendê-la no pré-escolar, mas muitos
começam a aprendê-la a partir do primeiro ano de escolaridade (Gomes, 2008: 26).
Naturalmente, como acontece no ensino de todas as línguas, a modalidade oral é aprendida
em primeiro lugar, ou seja, é usada ao serviço da aprendizagem da escrita e da leitura e
posteriormente do funcionamento da língua.
10
consideração de aspectos ligados ao uso da Língua Portuguesa para expressão dos
significados respeitantes às matérias específicas das outras disciplinas (op. cit.).
Contudo deve-se reconhecer o esforço das autoridades competentes no sentido de
colmatar os referidos problemas. Deve-se destacar as reformas já efectuadas, a revisão
curricular a decorrer, o aumento de professores formados. Com isso pensa-se que os alunos
poderão beneficiar grandemente destas formações e pode-se perspectivar uma melhoria num
futuro próximo.
Segundo Matos e Lopes (1997: 1) o Sistema Educativo Cabo-verdiana tem
conhecimento desta situação, aliás, foi no âmbito desta problemática, ou seja, para colmatar
ou reduzir a taxa de insucesso na disciplina de Língua Portuguesa, e também para adequar as
metodologias de ensino e programas ao contexto nacional, que se implementou a Reforma do
Sistema Educativo, no ano de 1996. Com ela, introduziu-se um novo programa que justifica
que a introdução da disciplina de Língua Portuguesa no Ensino Secundário é determinada
pelo estatuto de língua oficial que a referida língua tem em Cabo Verde. Sendo língua oficial,
um dos objectivos do Ensino Secundário é promovê-la, reforçando a capacidade de expressão
oral e escrita dos alunos.
Neste sentido, as novas metodologias de ensino recomendado no nosso país privilegiam
a comunicação interactiva, a qual provoca o adequado comportamento linguístico em
situações diversificadas, e põem ênfase no treino e desenvolvimento de aptidões de
comunicação verbal – compreensão e expressão da linguagem oral e escrita – nas suas várias
formas (cf. Plano de Estudos para o Ensino Secundário, 1996 apud Gomes, 2008: 26).
Para o cumprimento daquilo que é almejado pela política educativa e para atingir os
objectivos traçados nos programas de Língua Portuguesa, entende-se que o seu ensino deve
ser muito exigente. A competência comunicativa passa a ser o objectivo em vez da construção
de conhecimento gramatical ou da memorização de forma, tal como vem sendo feito (op. cit.).
O que já vimos até aqui leva-nos a pensar que se torna necessário seguir a nova
metodologia que privilegia a comunicação interactiva e coloca a tónica no desenvolvimento
das competências de comunicação verbal nas suas diversas formas.
11
1.3. Caracterização do ensino da oralidade em Cabo Verde
12
1.4. A importância da oralidade no ensino e aprendizagem do Português no contexto
cabo-verdiano
“É importante definirmos uma pedagogia da oralidade, começando por reflectir
sobre as suas vertentes de comunicação e expressão e sobre o modo como se
cruzam em aula” (Albuquerque, 2006: 55).
É neste âmbito que a Constituição da República de Cabo Verde estabelece que todos os
cidadãos nacionais têm o dever de conhecer as línguas oficiais e o direito de usá-las (nº 3 do
art. 9°). Ainda, a Lei de Bases do Sistema Educativo (LBSE) elege como uns dos objectivos
do ensino secundário propiciar a aquisição de conhecimento com base na cultura humanística,
cientifica e técnica visando, nomeadamente, a sua ligação com a vida activa (LBSE, alínea b
do art. 22°) e promover o domínio da Língua Portuguesa, reforçando a capacidade de
expressão oral e escrita (LBSE, alínea c do art. 22°apud Gomes 2008: 25).
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No contexto cabo-verdiano, quando um aluno chega à escola, depara com um novo
mundo linguístico, mais complexo, pois, ele tem que interagir na sala de aula com os novos
colegas e com o professor usando uma outra língua, a portuguesa. Encontra-se deste modo
diante de uma nova situação de uso da linguagem verbal. Perante esta situação e para facilitar
a aprendizagem, a oralidade constitui o principal recurso, pois, “ é a forma de linguagem que
primeiro se adquire e se domina a que ocorre como mais natural, a que permite maior
espontaneidade e expressividade como suporte permanente da comunicação” (Amor 1993:
62).
Pelas razões apresentadas o professor deve dar uma atenção especial a esta modalidade
da língua, com vista a desenvolver a competência em questão. Deverá criar condições
propícias, dito de outra forma, deve criar uma ambiente de respeito, carinho, incentivo,
oportunidade e de liberdade para que o aluno possa desenvolver a sua capacidade de produção
de textos orais e poderá aperfeiçoá-la, pois adquire segurança para sua manifestação. Agindo
desta forma, até mesmo os alunos mais tímidos conseguem libertar-se do medo de se exporem
os seus sentimentos, opiniões, pontos de vista, etc., que muitas vezes são desenvolvidos no
seio da família. Conseguir que o aluno ouse se exprimir, ganhe desinibição na oralidade, é o
primeiro passo para a instalação da dinâmica interactiva na sala de aula (Lopes, 2003).
O professor deve fazer com que o aluno se habitue desde cedo a usar as várias
modalidades da língua, a fim de que possa identificar a forma mais adequada do seu uso para
cada situação de comunicação (o que se denomina de gramática interiorizada) e que também
possa valorizá-las. Daí que é preciso que o professor leve o aluno a tomar consciência da
riqueza de ideias que possui e que deve mobilizar (fluência mental) e o apoie na descoberta
das palavras e na selecção das estruturas que traduzam as suas ideias (fluência verbal), bem
como na adequação do seu discurso às diferentes situações de comunicação (Gomes, 2008).
É por este motivo, que pensamos que é da responsabilidade do professor formar alunos
capazes de comunicar oralmente em qualquer situação de comunicação dentro e fora do
recinto escolar.
Em suma, a Escola deverá organizar um conjunto de actividades que possibilitem ao
aluno desenvolver o domínio da expressão/comunicação oral em situações de uso público da
linguagem, ou melhor, é preciso garantir a cada aluno, em cada ciclo de escolaridade, o
desenvolvimento de competências específicas no domínio do modo oral (compreensão e
expressão oral) na disciplina da Língua Portuguesa. Só assim, é possível formar indivíduos
competentes, capazes de adequar os seus discursos em qualquer situação de comunicação
oral.
14
1.5. A subvalorização do oral
O ensino tradicional tende a trabalhar apenas com a modalidade escrita da língua, não
considerando a língua falada, ou seja, desconsiderando a situação da comunicação oral
(Serafim, 2007: s/p1). Essa supervalorização da escrita afectou profundamente a língua oral,
atribuindo à fala o lugar do erro, e do informal (Fávero, 2001:s/p apud Serafim, 2007:s/p).
Muitos professores não dão o divido valor à modalidade do oral na sala de aula, não
fazem com que os seus alunos desenvolvam esta competência comunicativa-interativa. Isto,
talvez porque alguns acreditam que o oral serve mais como um meio para desenvolver as
outras competências do que como um fim.
Desta feita, Amor (1993:62) apresenta a seguinte justificação a respeito do desleixo para
com a competência oral:
1
Sem página
15
Sem dúvida, o papel da escola é o de discutir com os alunos essas duas modalidades de
uso da língua, mas sem reduzir a oralidade a algo menor e nem atribuir superioridade à
escrita. Marcuschi (2001 apud Serafim, 2007) chama a atenção para este facto. Conforme este
autor,
“não se deve analisar as relações entre língua oral e escrita numa perspectiva
dicotómica, pois assim estaríamos atribuindo à modalidade escrita um caráter
explícito, planejado e elaborado, ao passo que à modalidade oral caberia a
implicitude, o não-planeamento e a falta de elaboração. Tal visão ainda prejudicaria
o trabalho do professor, pois este não discutiria com os alunos a possibilidade de
existir textos formais em língua falada, como uma palestra, por exemplo, e textos
formais em língua escrita, como o bilhete.”
16
1.6. A atitude do professor perante o ensino da oralidade
No item anterior falámos sobre a importância da prática da oralidade. Perante este facto
os docentes devem ter sempre em mente que a sala de aula constitui espaço privilegiado para
a aprendizagem e prática da oralidade. Não obstante, a prática diária da aprendizagem dá-se
quase que exclusivamente pela oralidade do professor. Sendo a oralidade considerada um dos
requisitos iniciais no processo de aprendizagem da língua e condição para a aquisição do
conhecimento nas várias disciplinas, importa questionar: Qual o tempo dedicado à
aprendizagem da comunicação oral? Qual a importância deste aprendizado? É possível e
necessário realizá-lo? Estas são algumas questões que requerem uma resposta imediata.
A este respeito, Amor (1993:68) diz que,
“numa aula de Língua Portuguesa, o professor fala incessantemente. Ele fala três
ou quatro vezes mais que a totalidade dos alunos (…) monopoliza a fala durante a
aula, transmitindo os conhecimentos, sendo o aluno um mero ouvinte passivo.
Além disso, utiliza o seu discurso para realizar o ensino, isto é, para definir o que
constitui o conhecimento e transmiti-lo aos alunos, quer pela forma de exposição
directa quer por meio de interrogatório.”
Quando é assim, o aluno limita-se a ouvir, e raras vezes fala ou dá a sua opinião a
cerca do assunto a ser tratado. Consequentemente, a autora referida (op. cit.) diz que em
correspondência com estes comportamentos do professor, o aluno quase não precisa de falar,
quando fala, poucas vezes o faz por sua iniciativa e, portanto, não fala, responde.
Perante este facto, ela (op. cit.) deixa-nos entender que este processo abre uma clivagem
na aula, em termos comunicativos: de um lado a comunicação legítima, controlada pelo
professor, no seio da qual o aluno tente a não ser um anunciador pleno; do outro a
comunicação marginal protagonizada pelos alunos, que raramente ultrapassa essa condição,
não chegando a integrar-se na dinâmica comunicativa da aula.
É preciso mudar este cenário, ou antes, despertar nos alunos o interesse para ouvir com
atenção, criar condições para que eles manifestem os seus sentimentos, as suas experiências,
ideias e opiniões de forma mais fluente possível.
Todavia, não se exige só que o aluno fale na sala de aula. A questão que se coloca é
como e quando que o aluno deve intervir? Que regras de comunicação/expressão oral seguir?
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Primeiramente, as situações de comunicação oral criadas na sala de aula devem
aproximar-se tanto quanto possível de situações reais de comunicação. Assim, ele perante
uma situação comunicativa, saberá como reagir e posicionará com à vontade perante o facto
ou situação/problema.
Cabe ao professor disponibilizar aos alunos essas condições e assegurar a participação
dos alunos, nas diversas actividades, em termos de aprendizagem social, de modo que cada
aluno tenha direito a intervir e a ser ouvido pelos seus colegas e pelo próprio professor, para
que o aluno adquira capacidade crescente de compreensão e expressão orais.
Outro aspecto é que hoje, com as mudanças e inovações a nível do ensino, se propõe que
o ensino se centre no aluno. É o aluno que descobre, é ele que problematiza, que indaga, que
pergunta, que responde, que propõe e que soluciona. No entanto, na prática pedagógica não é
isto que acontece.
Quem descontenta com a postura de alguns professores, face ao ensino e aprendizagem
centrado no professor, é Carvalho. Ela faz de seguinte explanação a respeito da atitude dos
professores, que nos parece ser semelhante ao que acontece no contexto cabo-verdiano:
Face a esta situação, torna-se necessário que os docentes façam uma reflexão profunda
sobre a sua prática, para que o ensino seja mais funcional, ou seja, centrado nas necessidades
do aluno de forma a satisfazer as reais necessidades dos alunos.
18
1.7. A importância da prática da comunicação/expressão oral na sala de aula
2
- Cf. forumpatria.com/lingua-portuguesa/a-lingua-portuguesa-essa-desconhecida
3
- Este autor não disponibilizou as informações sobre a data e a página no documento que escreveu.
19
Carvalho4 recorre a outros autores que também falam da importância da oralidade na
sala de aula. Segundo ela, Castilho (1998: 121) sugere que uma ênfase particular deveria ser
dada à língua falada porque esta modalidade retém muitos dos processos de constituição da
língua, os quais não aparecem na língua escrita. Ou como lembra Marcuschi (1986 s/p), a
língua falada representa uma dupla proposta de trabalho: por um lado trata-se de uma missão
para a ciência linguística que deveria dedicar-se à descrição da fala e, por outro, é um convite
a que a escola amplie seu leque de atenção.
Nesta perspectiva, Cardoso (2009) deixa claro que o ensino da língua deve ser
fundamental na concepção de linguagem como forma ou processo de interacção, analisando a
língua como um conjunto de variedades linguísticas utilizadas pelo indivíduo de acordo com o
exigido pela situação de interacção comunicativa em que está inserido.
Sendo assim, a autora supracitada (2009) afirma que se deve criar um espaço de
liberdade, para que cada aluno seja o “autor” de sua história, consciente de que é através da
linguagem que ele poderá exercer o seu papel diante da sociedade. Assim, torna-se
fundamental redefinir o professor como quem cuida da aprendizagem dos alunos, tomando o
termo “cuidar” em seu sentido forte. O docente tem de levar em conta que saber cuidar
significa dedicação envolvente e contagiante, compromisso ético e teórico, habilidade
sensível e sempre renovada de suporte do aluno, incluindo-se a rota de construção da
autonomia. Trata-se do cuidado que não abafa, afoga, tutela, mas liberta, colocando o
professor não como dono ou capataz do processo, mas como mentor capaz de mediar o
conhecimento.
Para concluir, Cardoso (op. cit.) deixa belas dicas para os professores de línguas como:
“O evento comunicativo através da modalidade oral da língua, deverá ocupar
posição relevante nas actividades que permeiam o contexto educacional. Em vez da
padronização, propor a singularidade; em vez de dependência, construir a
autonomia em vez de isolamento e individualismo, o colectivo e a participação; em
vez da privacidade do trabalho pedagógico, propor que seja público; em vez de
autoritarismo, a gestão democrática; em vez de cristalizar o instituído, inová-lo; em
vez de qualidade total, investir na qualidade para todos.”
Para além das tais dicas, de uma forma mais específica, é preciso que o professor saiba
desenvolver a oralidade na sala de aula. Para isso, Gomes (et al, 1991: 72) afirma que no
momento em que os alunos iniciam o ensino e aprendizagem de uma língua, compete ao
professor as tarefas seguintes:
4
- Documento sem data e sem página.
20
“Aproveitar e valorizar a tendência natural que os alunos possuem para a oralidade;
assegurar tanto quanto possível, a apresentação dos objectos a que se faz referência
em Língua Portuguesa; aproveitar ao máximo todas as formas de comunicação
como contributo para a compreensão do que diz; recorrer a situações ligadas às
vivências dos alunos e à cultura do seu povo, como bases da aprendizagem da
comunicação oral, adequada, útil e eficaz na vida real.”
Para que o professor possa desenvolver tais tarefas é preciso utilizar estratégias de
actividades diversas com os seus alunos que visam o desenvolvimento da modalidade da
língua em estudo. Por esta razão, o supracitado autor recomenda aos professores a
desenvolver estratégias para os alunos: “ouvirem o que os outros dizem; compreenderem o
que ouvem; reagirem adequadamente ao que ouvem; sentirem prazer e utilidade em
comunicar” (op. cit.).
Efectivamente, segundo Gomes (et al op. cit.) o professor deve propor aos alunos
actividades que, gradualmente, lhes permitam “expressar-se por imitação do professor;
expressar-se sistematicamente, respeitando indicações fornecidas; expressar-se
espontaneamente, sem interrupções inconvenientes.”
Diante destas sugestões, é da responsabilidade do professor, na sua acção, ser paciente,
inovador, criativo, utilizando materiais, estratégias e técnicas indispensáveis para o
desenvolvimento da oralidade.
Para concluir, corroborámos com a ideia de Marcuschi (1986) que chama atenção aos
docentes, alertando-os que não é apenas uma questão de dar voz aos alunos, nem de ensinar-
lhes a falar a norma culta, mas reconhecer a comunicação oral como um conteúdo que lhes
será importante para além da sala de aula, uma vez que a sociedade valoriza a comunicação
oral como elemento indispensável para a convivência e o desempenho profissional.
21
aprendizagem a fim de treinar os alunos a sua capacidade de escuta com os objectivos
seguintes:
“Ouvir para responder, para se informar, para se recrear; pronunciarem com
articulação e entoação adequadas; poderem relatar as suas experiências, exprimir as
suas ideias e desejos, pedir esclarecimentos e dar opiniões; poderem falar sem
serem constantemente interrompidos pelo professor, mesmo que seja para
correcção de erros (…) dialogar; trocar informações; relatar experiências; narrar
histórias; dizer anedotas, adivinhas e formas de expressões tradicionais, cantar,
fazer jogos orais, fazer recontos, fazer descrições, fazer dramatizações, comentar
textos, criticar textos, fazer debates” (Gomes et al, 1991: 28),
treinar a articulação, a recitação e a conversação (conversação formal, natural e a discussão)
(Chagas, 1957: 322).
Na organização das actividades orais de comunicação, o professor deverá ter em conta
alguns princípios da Didáctica. De entre os quais se destaca os seguintes:
“Falar e fazer falar os alunos sobre temas relacionados com as suas necessidades e
interesses; Partir das do nível de conhecimento dos alunos como base para as
aquisições orais seguintes; Procurar que a linguagem oral dos alunos se aproxime
Porém, todos esses exercícios têm de ser organizados de um modo atraente e facilitador
para uma participação activa dos alunos. Também se deve levar em conta nestas actividades
os diversos tópicos da expressão oral.
Já vimos que para propor actividades que visam o desenvolvimento da competência oral
o professor deve levar em conta os respectivos tópicos de modo a propor estratégias
adequadas ao desenvolvimento de cada um deles e de forma a ir de encontro às necessidades
dos alunos. É com este propósito que propomos desenvolver este item.
Para isso Necho5 dá-nos o conhecimento de alguns típicos da expressão oral: a dicção a
respiração, a ressonância a velocidade, a pausa, o volume, o tom e o vocabulário.
Dos tópicos acima referidos, destaca o primeiro, a dicção, como sendo a mais
importante na medida em que consiste na “maneira de dizer ou falar com a articulação e
modulação correctas” (Ferreira, 1986 apud Necho).
“É algo que deve receber especial dedicação por parte daqueles que desejam se
expressar melhor porque, torna a expressão oral mais compreensível e aumenta a
5
Este autor não disponibilizou as informações sobre a data e a página no documento que escreveu.
22
eficiência da argumentação do orador (pelo simples facto de que ele será bem mais
compreendido), cansa menos o ouvinte e melhora a imagem do orador perante seus
ouvintes. (…) Uma pessoa com má dicção terá, consequentemente, problemas no
que respeita à sua argumentação, pois encontrará barreiras à persuasão do público a
que se dirige e, por esta razão, é conotado muitas vezes como pessoa com formação
cultural deficiente” (Necho).
Outro aspecto importante a ser levado em conta na oralidade é a fluência. Este aspecto
da língua constitui um dos requisitos indispensáveis para que um indivíduo possa afirmar que
domina uma língua por completo. Ela refere-se ao uso espontâneo, rápido, fácil e preciso de
uma língua.” (Crystal, 1999 apud Fabiano 1999: 89). A este respeito, Filmore (1979 apud op.
cit.) ressalta que algumas pessoas conversam facilmente, enquanto outras falam pouco e/ou
mais vagarosamente, de uma maneira mais hesitante. Ele apresenta várias maneiras pelas
quais se julga se uma pessoa é ou não fluente, e relaciona cinco tipos de pessoas consideradas
fluentes, a saber:
“O indivíduo que preenche o tempo com conversas (…) racionais e semanticamente
densas; (…) que tem coisas apropriadas a dizer em número variado de contextos
diferentes daqueles que só são fluentes em ambientes conhecidos e se calam
completamente na presença de estranhos em situações inesperadas; (…) que é
criativo no uso da língua, expressa suas ideias, faz piadas, trocadilhos, constrói
metáforas, varia estilos, etc. (…) que reúne todas essas habilidades.”
O mesmo autor (op. cit.) dá-nos a conhecer os tipos de conhecimentos que entram na
formação da fluência oral:
“De formas linguísticas fixas (…); de um vasto repertório de respostas prontas que
corresponderiam a um número também grande de situações; Dos processos de
formação de palavras; Do mundo; Dos vários tipos de esquemas interaccionais
usados na conversação; Dos esquemas discursivos; Da adequação de determinadas
palavras, formas, construções sintácticas a contextos específicos (conhecimento de
estilos e registros)”.
Lennon (apud Fabiano et al, 1999) apresenta também a sua perspectiva em relação à
fluência. Ele acredita que o termo fluência é usado com dois sentidos: um amplo e outro
restrito. Em sentido amplo, “fluência é sinónimo de proficiência oral”. Em sentido restrito,
“fluência é um componente da proficiência oral.” Assim, um indivíduo pode ser considerado
fluente, mas apresentar uma gramática má, ou ser fluente, mas não possuir um vocabulário
extenso e variado. O inverso também é verdadeiro, ou seja, um indivíduo pode falar
correctamente sem ser fluente (op. cit.).
23
Entendemos que a fluência se relaciona com a habilidade de um falante em atrair a
atenção do ouvinte para aquilo que ele quer dizer (Lennon, op. cit.). Portanto uma pessoa
fluente não tem de ser necessariamente perfeito em relação à gramática, ao léxico e à fonética,
basta ter um discurso adequado, criativo e adaptado às diversas situações de linguagem. Neste
sentido achamos que o objectivo do professor deve ser de formar alunos competentes em
todos os tópicos apontados aqui, ou seja, fazer com que eles sejam proficientes.
1.10. Conclusão
No que tange a este capítulo, pudemos tirar as seguintes conclusões: A Língua
Portuguesa, por ser a Língua oficial de Cabo Verde, constitui língua e matéria de ensino do 1º
ao 12º de escolaridade. Pelo mesmo motivo, o ensino da oralidade também é uma exigência.
Apesar disso, nota-se que os professores, os manuais e os programas dão pouca atenção a esta
competência. Por esta razão os alunos terminam o ensino secundário com muita dificuldade
em expressar/comunicar oralmente em Português.
Também vimos que as dificuldades residem nos próprios professores que apresentam
muitas limitações, na comunicação, na gestão dos conteúdos, na metodologia usada e na
subvalorização do oral em detrimento das outras competências por não lhe atribuir a
importância que merece. As dificuldades estão igualmente nos alunos que têm falta de
motivação e falta de pré-requisitos.
Portanto urge reflectir e adoptar uma estratégia de superação.
Chamamos atenção aos professores de Português no sentido de levarem em conta que
todas as competências são relevantes e que portanto merecem igual valorização
24
CAPÍTULO II – PROPOSTA DE ABORDAGEM DA NOVELA “QUEM
ME DERA SER ONDA” DE MANUEL RUI VISANDO A COMPETÊNCIA
ORAL
2.1. Introdução
Como já vimos no capítulo anterior, a oralidade na aula de leitura tem sido abordado
como meio e como fim. Como meio, ou seja, para verbalizar os conhecimentos adquiridos,
surge mais frequentemente, e muitas vezes os professores acham que são actividades
suficientes para o desenvolvimento da competência oral. Mas, o nosso trabalho incide
essencialmente sobre a oralidade como fim. A nossa proposta é precisamente contrária à
abordagem habitual. Nós pretendemos desenvolver a oralidade de forma mais eficaz, através
da abordagem textual. Assim propomos aulas de oralidade. De todo o modo vamos apresentar
as duas modalidades de abordagem, pois, não podemos deixar de reconhecer que ambas as
modalidades contribuem para o desenvolvimento da oralidade.
A oralidade é o primeiro estádio do ensino e aprendizagem de uma língua. Por isso esta
forma de comunicação, deve passar assim a constituir uma preocupação constante da escola,
principalmente no contexto cabo-verdiano em que a Língua portuguesa não é a Língua
Materna. É por isso que esta modalidade da língua deve ser ensinada e aprendida de forma
25
adequada, por ser um dos instrumento essenciais para uma comunicação eficaz nas situações
formais de comunicação, e nas relações com o mundo lusófono.
Em relação à abordagem textual - estudo do texto aos mais variados níveis, com vista à
realização da sua leitura. O texto terá de ser encarado na sua globalidade e unidade, como um
todo que é. E não se poderá perder de vista que nele tudo significa e tudo se encontra
interligado (Silva, 1999: 37), visando a competência da oralidade, em primeiro lugar,
aconselhamos os professores a seguir Moor (2005) que diz que para o desenvolvimento da
26
oralidade de maneira natural, deve-se partir da hipótese de que um aluno motivado e à
vontade tem um melhor desempenho na língua e desenvolve a proficiência com maior
sucesso.
A autora afirma que a motivação é indispensável para este tipo de abordagem. Mas,
antes de mais o professor deve ter paixão pela leitura para poder saber manter e/ou
desenvolver essa mesma paixão em seus alunos, partindo do princípio de que ninguém pode
dar aquilo que não tem.
A mesma autora fala de falta de motivação para leitura registada nos últimos anos,
situação que também se verifica no contexto cabo-verdiano. Foi na tentativa de encontrar uma
metodologia motivador que pensou trabalhar a desenvolver a oralidade, ligada ao texto
(op.cit).
Assim encontrou a forma de conciliar as duas competências e desenvolvê-las de uma
forma motivadora.
Com isso, informou-se que se pode, através de actividades orais, reconstruir a motivação
dos alunos levando em conta os dois conceitos de motivação propostos por Gardner &
Lambert (1972 apud Moor, 2005): a motivação instrumental, que consiste em aprender para
dispor de instrumento de comunicação para poderem se integrar bem na sociedade e
futuramente integrar-se à comunidade da língua alvo comunicando com proficiência e
motivação integrativa que consiste em levar os alunos a sentir necessidade de envolver nas
actividades orais para se divertirem, para não ficarem de fora.
Existem outros estudos ligados a este tipo de abordagem. Alguns estudiosos têm
pesquisado outros enfoques da motivação, como Crookes & Schmidt, 1991; e Gardner &
Tremblay, 1994 apud Moor, 2005) sugeriram outros tipos de motivação, ou seja, ter uma
razão para a aprendizagem, vontade de atingir uma meta, atitude positiva em relação ao
ambiente de aprendizagem e comportamento de esforçar-se na direcção do aprender. Isso
pode acontecer em relação á abordagem que propomos, na medida em que o interesse pela
participação nas actividades da oralidade implica o envolvimento dos alunos na leitura da
obra para melhor compreenderem as situações que vão servir de motivos para as actividades
de oralidade a fim de se integrarem nela da melhor forma possível.
Esta experiência permitiu-nos observar que na esteira da motivação veio a prática na
construção da competência comunicativa (Hymes, 1976 apud Moor, 2005) o desenvolvimento
de outras competências inclusive a oral. Dentro da competência oral importa-nos salientar o
desenvolvimento das competências gramaticais, estratégicas, sociolinguísticas e discursivas
27
na Língua Alvo. A competência sociolinguística surge implicada na prática de se expressar
em diferentes situações de vida, considerando a situação apresentada. E, por último, a
competência discursiva que espelhada na prática da produção de textos orais coerentes.
As actividades da oralidade são por si só motivadoras, porque os alunos em geral
envolvem nelas com prazer. Para além disso dão ênfase ao conhecimento implícito; propiciam
um input extensivo. Constitui uma forma de valorizar o conhecimento prévio do aluno, ou
seja, são oportunidades de output.
Não se deve esquecer que tudo isso deve ser conduzido em uma abordagem interactiva
em que os alunos possam interagir uns com os outros, para poderem desenvolver a
proficiência na língua. É importante não descuidar das diferenças individuais, além de atentar
para que a avaliação seja de produção livre e controlada (Moor, 2005).
Pensamos que uma abordagem textual feita desta forma permite desenvolver a
competência oral, isto é, cria-se diversas oportunidades para a compreensão e expressão oral,
em fim desenvolve-se todas as habilidades importantes como a dicção, a fluência, para além
das outras como a capacidade de reflexão crítica.
Desta forma, o professor estará motivar os alunos para a leitura, porque passam a ter
habilidades para interagir melhor com o texto, e ao mesmo tempo, formar os seus alunos para
a vida, isto é, a formar indivíduos competentes capazes de usar de forma adequada e correcta
o discurso oral em qualquer situação de comunicação.
2.4. A abordagem da oralidade a partir da novela “Quem me dera ser onda” de Manuel
Rui
No sentido de demonstrar a possibilidade de conciliar a abordagem textual com o
desenvolvimento da competência oral, escolhemos a novela “Quem me dera ser onda”. Já
apresentamos os motivos desta escolha, mas achamos pertinente repisá-los.
A nossa experiência, como professoras de Português e agentes reflexivos, permitiu-nos
ver que, para além da obra ser interessante, o seu tema desperta nos alunos o desejo de se
expressarem face à situação-problema apresentada. O tom de humor e de ironia, o carácter
cómico, que predomina durante toda a narrativa, o grotesco, são características desta novela
que despertam nos alunos o gosto, a motivação e o interesse pela leitura e em expressar. Para
além disso, depara-se na obra com inúmeras situações caricatas a partir das quais se pode
partir para a oralidade e abordá-la de forma muito divertida. Assim, como conteúdo, estudo da
novela “Quem me dera ser onda”, se enquadra no âmbito do estudo dos subgéneros textuais,
em que o objectivo principal é conhecer as características deste subgénero de texto, pensamos
28
que atingido o objectivo principal sugerido pelo programa, o professor poderia tomar a
liberdade de abordar a competência oral.
Abordando a obra desta forma, estaremos a fornecer bases para a habilidade de
organização de síntese, para recontar, para conversação, debates, dramatizações, para a
avaliação crítica, para discutir ideias e conceitos, e para posterior formação de opiniões e
pontos de vista.
Para concretizar a nossa proposta pretendemos dar conta, em primeiro lugar, da
biobibliografia do escritor. Em seguida apresentar de forma sucinta o resumo da novela
“Quem me dera ser onda” do escritor angolano Manuel Rui e por fim deixamos o nosso
contributo no âmbito do desenvolvimento do trabalho oral a partir desta novela. Sempre com
o propósito de contribuir para o melhoramento do ensino e aprendizagem do Português no 11º
ano a nível da oralidade.
Manuel Rui Alves Monteiro nasceu no Huambo em 1941, tendo vivido durante anos em
Coimbra onde se licenciou em Direito. Em Portugal foi advogado e membro da direcção da
revista "Vértice", de que foi colaborador. Regressou a Angola em 1974, onde ocupou diversos
cargos políticos, tendo sido Ministro da Informação do Governo de Transição. Foi também
professor universitário e Reitor da Universidade de Huambo, e posteriormente funcionário
superior da Diamang e de novo jurista. Um dos principais ficcionistas Angolanos. Licenciou-
se em Direito pela Universidade de Coimbra onde foi também membro fundador do Centro de
Estudos Jurídicos. Poeta, ficcionista, ensaísta e cronista, entre as suas obras possui textos
traduzidos para diversas línguas, entre elas, checo, servo-croata, romeno, russo, árabe e
hebraico. Tem colaboração dispersa em diversos jornais e revistas lusófonos, entre os quais, o
jornal O Público e o Jornal de Letras. Foi Ministro da Comunicação Social do Governo de
transição que antecedeu a independência de Angola, Director do Departamento de Orientação
Revolucionária e do Departamento de Relações Exteriores do M.P.L.A. É autor da letra do
primeiro Hino Nacional de Angola e de outros hinos como o “Hino da Alfabetização, “Hino
da Agricultura” e versão angolana da “ Internacional”. Também é autor de canções com
parcerias como Rui Mingas, André Mingas, Paulo de Carvalho e Carlos do Carmo (Portugal)
e Martinho da Vila (Brasil), entre outros. Da sua vastíssima obra destacam-se os dois últimos
títulos: «O Manequim e o Piano» (2005) e «Estórias de Conversa» (2006). Outras obras
6
- www.revista-atlantica.com, consultado em 2009-04-09
29
publicadas: Quem me Dera ser Onda (1982), A Casa do Rio (2007) "Crónica de um mujimbo"
(1989) e Rioseco (1997).
Quem me dera ser onda (1982), da autoria do escritor angolano Manuel Rui, é,
aparentemente, uma história infantil. De facto, tendo em conta que as personagens principais
são duas crianças e um animal, um porco, é natural que a primeira impressão dada pela obra
seja o relato de uma história infantil.
O argumento principal centra-se exactamente nestas figuras, duas crianças e um porco.
Delas nasce uma relação que era perfeitamente possível num tempo já esquecido pelos adultos
desta sociedade tão alienada pelo sistema colonial - aquele tempo em que homens e animais
conviviam em plena harmonia, numa relação extremamente humana. Agora, num tempo e
numa sociedade em que os adultos perderam, por força de um sistema alienante, a memória
desses tempos, resta às crianças (que serão o futuro daquela nação) restabelecer os laços com
esse passado e reatar esse sentimento de fraternidade e harmonia entre os dois mundos: o
mundo dos homens e o mundo dos animais. Daí que Quem me dera ser onda nos transporte
para uma fortíssima relação dos miúdos como o porco - relação essa em que os adultos não
entram. O mundo dos dois é de tal forma unido que chega mesmo a confundir-se, de tal
maneira que o animal é visto por eles como mais um membro da família. E sofrem. Sofrem
por não entender como é possível que alguém que começa a fazer parte de uma família possa,
no fim, ser morto para alimentar essa mesma família.
Na verdade, a figura fundamental que perpassa todo este texto é a ironia e é-o
exactamente pelo facto de se incorporar a este texto, aparentemente simples e despretensioso,
uma incrível paródia política e uma cerrada crítica à sociedade de Luanda da época, que
esqueceu e apagou todos os valores antigos.
Quem me dera ser onda deve ser visto como um autêntico relatório dos problemas e
evidências que merecem atenção pela preocupação que despertam: ao longo da leitura somos
embalados e como que convidados a entrar num mundo citadino definitivamente alienado, em
que reina a confusão de situações sociais, culturais e vivenciais que há que revelar, estudar e
entender como factos a rever - a alienação cultural, social e política é-nos dada através da
figura do pai das crianças que não entende certas preocupações humanas e se revela
7
- Idem
30
completamente desintegrado do espaço social representado pelo prédio e mesmo pela cidade
em que vive.
Há que entender esta alienação nos seus diferentes aspectos: homens, mulheres e
crianças habituados à vida nos musseques vêem-se, repentinamente, "transferidos" para
andares em prédios centrais na cidade de Luanda. Confiná-los (a eles e a todos os "bens" que,
por norma, tinham nas suas casas do musseque) ao espaço reduzido de um apartamento
(erigido em altura, sem terra à volta, onde não sentiam os pés na terra, como era seu hábito) é
forçá-los a uma situação social para a qual não estavam preparados nem tinham recebido
qualquer instrução.
Para além disso, retrata também a marcante imagem das classes mais baixas que,
famintas, aproveitam os restos dos faustosos almoços dos hotéis deitados no lixo; há ainda a
figura dos aproveitadores do sistema que, a qualquer preço, tentam ascender socialmente; a
crítica à educação, ao sistema educativo da época, é também aqui retratado através da figura
dos Delegados Escolares responsáveis pela análise de textos escritos por estas crianças,
revelando, também eles, uma fortíssima alienação e mesmo desconhecimento ao não
entenderem e, muito menos, aceitarem que duas crianças possam fazer de um porco uma
personagem tão principal, um herói, detentora de semelhantes façanhas tão insultuosas para
uma sociedade como era a sua.
"Quem me dera ser onda" é a frase final desta novela que recebe o mesmo nome. É uma
frase marcante, como o é todo o texto, e, dita por uma criança, revela que na hora de matar o
seu maior amigo - o porco - esta criança deseja ardentemente não sentir, não pensar, ser um
ser inanimado como a onda. Tudo, para não padecer como estava a padecer pela enunciada
morte incompreensível de um ser querido.
Pela mensagem importante e acusatória que esta novela fez passar, Manuel Rui vê
Quem me dera ser onda ser galardoada com o importante Prémio Nacional Agostinho Neto,
que lhe reconhece o alerta que fez passar e premeia esta chamada de atenção a um povo que
perdia, dia-a-dia, a sua mais profunda autenticidade.
A novela “Quem me dera ser onda”, escrita em 1982, põe em destaque a temática da
liberdade do povo angolano, simbolizada na figura de Carnaval da Vitória, um leitão que se
tornou o centro das atenções da família do Diogo, do prédio em que viviam e da escola em
que estudavam as crianças da família.
31
O leitão foi levado por Diogo para o apartamento no sétimo andar onde vivia com a
família, desrespeitando as regras do prédio e contrariando as regras estabelecidas pela
comissão dos moradores representada pelo vizinho Faustino.
Com a chegada do leitão, os filhos Zeca e Ruca e a esposa Liloca alegraram-se, pois,
nos últimos tempos, a dieta da família resumia-se a peixe frito com arroz. No entanto, o porco
só deveria ser comido no Carnaval.
A família teve de tomar algumas precauções para evitar que o porco incomodasse os
vizinhos, mas o pior de tudo foi terem de se livrar de um fiscal enviado por Faustino com a
conivência de Nazário, o responsável máximo pelo prédio. Porém, Zeca e Ruca utilizaram um
belo estratagema, por isso, venceram a batalha e propuseram a alteração do nome do porco:
Carnaval da Vitória.
À tarde, na escola, Zeca, Ruca e Beto (filho de Nazário); contaram a pequena aventura
que tinham tido com o fiscal, embora um pouco deturpada. De volta para a casa, encheram o
saco com restos de comida nas traseiras do hotel Trópico para o porco e ainda tiveram o
tempo de ter uma pequena discussão com Nazário, à entrada do prédio.
Enquanto os filhos se afeiçoavam ao Carnaval da Vitória, tratando-o como um membro
da família, Diogo só pensava na altura de o comer e irritava-se com ele por tudo e por nada.
Por seu turno, Carnaval da Vitória tinha algumas manias, como por exemplo, ouvir rádio com
um auscultador ao ouvido, tomar banho na casa de banho e alimentar-se da comida do melhor
hotel.
Um dia, Zeca e Ruca levaram o porco para a escola e apresentaram-no aos colegas e à
professora. Contudo, Carnaval da Vitória acabou por fugir, mas os irmãos reencontraram-no.
No entanto, não escaparam às represálias violentas de Diogo.
Na escola, Ruca fez uma composição sobre Carnaval da Vitória, que foi seleccionada
para participar num concurso. O júri do concurso não gostou do tema e censurou a professora
por ter desviado, apesar de reconhecer que era a melhor composição.
A preocupação dos miúdos aumentava e intensificava-se a luta contra os dois maiores
inimigos do porco: Diogo e Nazário. A nova estratégia consistia em arranjar a tão sonhada
carne, retirada dos restos alimentícios de um hotel de luxo, com o intuito de acalmá-lo e fazer
com que ele esquecesse de comer carne de porco. O plano resultou durante alguns tempo, mas
foi sol de pouca dura: acabou por aumentar a ganância de Diogo em matar o porco para comer
a sua carne.
Depois de muitos esforços infrutíferos, chegou o Carnaval. Para não assistir à execução,
os miúdos foram ver o desfile, com o coração despedaçado.
32
No final, Carnaval da vitória foi morto; até Nazário e Faustino foram participar no
banquete. Porém, os miúdos ficaram nas escadas do prédio à espera de um milagre. Ruca,
ficou na praia de Chicala para não presenciar o facto. Então, contaminado pela fúria linda das
vagas, deseja ardentemente não sentir, não pensar, ser um ser inanimado como a onda.
Esta proposta tem em conta que a escola é um lugar onde se deve conduzir os alunos ao
aprendizado das práticas sociais orais no seu dia-a-dia, para que eles não só aprendam, mas
também se sintam o prazer de ler de forma reflexiva e participativa e possam desenvolver
competências que lhes permitam exercer plenamente a sua cidadania. É neste sentido que
pretendemos com este ponto debruçar sobre os exercícios orais.
Assim sendo, dos quatro teóricos consultados nomeadamente: Figueiredo (1989), Amor
(1993), Barreto (1993), Silva (1999:) e Chiavenato (2008) corroboram a ideia de que para
uma leitura integral do texto/obra é preciso seguir as três fases de abordagem textual a indicar:
1ª - Fase preparatória (dimensão contextual do texto) ou pré-leitura
2ª - Fase analítica (dimensão contextual) ou de leitura propriamente dita
3ª - Fase valorativa ou de pós leitura.
Na primeira fase faz-se a introdução à abordagem ao texto, isto é, uma espécie de
preparação do material que se prevê necessário para a realização do acto da leitura. Nesta fase
os alunos, sob a orientação do professor, podem fazer em trabalho de grupo ou individual,
uma pesquisa sobre vida e obra do autor da obra em estudo e fazer uma exposição oral na
aula; podem ainda desenvolver actividades como por exemplo, comentar a gravura da capa,
caso existir, título e subtítulo; ou ainda o professor pode levar para a sala um assunto
pertinente retirado da obra para a discussão, porém, sem os alunos saber da existência da obra,
o aluno pode prever o assunto da obra ou do texto pelo título, ou a partir de uma frase do
texto.
Na segunda fase, faz-se a leitura propriamente dita e levanta-se as linhas de força
internas que estruturam o texto e do estabelecimento das relações que entre eles se
33
desenvolvem, isto é, a fase de consideração do texto. Nesta fase, podem responder questões
orais de interpretação e de compreensão da obra colocadas pelo professor e pelos colegas;
podem fazer dramatização da obra por meio cenas e cenários, caso ela permitir; podem
realizar debates à volta de temas interessantes presentes na obra, entre outras actividades
orais. Isto ajuda os alunos a compreender melhor o conteúdo do texto.
Na terceira fase elabora-se um discurso crítico, filtrado pela perspectiva pessoal do
receptor-leitor. É a fase da aceitação ou rejeição do texto e, portanto, momento de grande
importância para o estudante, ou seja, o receptor-leitor emitir juízos de valores perante o
texto. Tem liberdade de concordar ou de discordar sobre assuntos abordados na obra.
Ainda, na última fase, os alunos têm a liberdade de exporem oralmente as suas
apreciações críticas e sentimentos acerca da obra terminada de estudar. Também podem
discutir até que ponto o autor foi feliz ou não ao escrever a obra, bem como o impacto do
conteúdo da mesma sobre os leitores. Ainda, o professor pode levar os alunos a confrontar a
posição inicial (da fase preparatória) com a que obteve com a leitura, fundamentando-a ou
reformulando-a apresentando os seus argumentos.
Também é nossa preocupação apresentar os objectivos e as competências a serem
desenvolvidos no âmbito da competência oral tendo em conta a novela. Pretendemos dotar os
alunos de competências ao nível da oralidade, quer ao nível da compreensão quer ao nível da
expressão.
Assim, vamos deixar expresso as nossas propostas:
Competências:
- Expressar-se oralmente com coerência, de acordo com as finalidades e situações de
comunicação;
- Saber escutar criticamente discursos orais, identificando factos, opiniões e enunciados;
- Saber captar a atenção do ouvinte;
- Intervir oportunamente.
Conteúdos
- Debate sobre temas polémicos: – “Comer ou não comer carne de porco?”; “Deve-se
criar um porco no prédio?”
- Apresentação oral do trabalho de pesquisa;
- Dramatização da novela;
- Jogos do saber;
- Reconto oral;
34
- Audição de resumos orais para estabelecer comparações entre o texto lido e o texto
escrito;
- Juízo crítico da novela;
35
- Conversação sobre a Gripe Suína – a sua origem e depois os alunos Conversa com os
alunos sobre a Gripe Suína – a sua origem e depois os alunos vão posicionar-se sobre o
assunto do debate, apresentando a tese, os argumentos e os contra argumento;
. Ou então debater o tema levando os alunos a posicionar-se sobre o assunto do debate,
apresentando a tese, os argumentos e os contra argumentos.
Perante esta proposta, estamos cientes de que não esgotamos todas as actividades orais a
partir desta novela, são apenas modestos contributos. Ainda se pode fazer muito mais. Podem
servir de ponto de partida para imaginação de outras actividades, quiçá mais interessantes.
Somos conscientes que ao abordar esta obra não faltará pretextos para promover a capacidade
oral dos alunos.
2.5. Conclusão
Para finalizar este capítulo, queríamos sublinhar que o desenvolvimento da oralidade
pela abordagem textual tem duplo resultado. Este tipo de abordagem serve não só para
desenvolver a competência oral mas também serve para motivar os alunos para a leitura.
Ficámos com a ideia de que o professor tem de ser um artista dentro da sala de aula, isto é, ser
capaz de criar sempre situações e oportunidade motivadoras para pôr os alunos descobrir e a
fazer coisas. Para isso ele deve estar motivado, e deve ter o gosto pela leitura para poder
despertá-los nos seus alunos.
Concluímos que para se ter alunos interessados em aprender; e para se obter uma
aprendizagem sólida e eficaz deve-se dar vez e voz aos alunos, dar-lhes oportunidade de
participar na construção dos seus conhecimentos.
Em suma, as actividades da oralidade permitem o desenvolvimento da competência oral
mas também constituem condições para os alunos abordarem um texto/obra com prazer de
desvendar os enigmas que poderão estar por detrás das informações presentes na obra. Afinal,
a aprendizagem não se dita, se constrói.
36
CAPÍTULO III – O DESENVOLVIMENTO DA COMPETÊNCIA ORAL
NA ABORDAGEM DA NOVELA QUEM ME DERA SER ONDA: UM
ESTUDO COM OS PROFESSORES DO 11º ANO DO LICEU
DOMINGOS RAMOS E DO LICEU AMÍLCAR
3.1. Introdução
O trabalho que propomos apresentar na sequência deste capítulo resulta dos seguintes
aspectos: por um lado, a constatação, enquanto aluna de Língua Portuguesa, de que o
desenvolvimento da competência da oralidade tem merecida pouca atenção tanto dos
programas como também dos docentes, agravando-se ainda mais no 3º ciclo. Por outro lado
está o entendimento do professor como um agente fundamental em educação (cf. Alarcão,
1998: 46), na medida em que a sua percepção da realidade escolar, seja ao nível dos
conteúdos, dos aprendentes, dos contextos, das práticas didácticas ou de si próprio, influi nas
suas atitudes e opções didácticas. Assim, entendemos que, mais de que ninguém, estão em
melhores condições de nos fornecer informações de que necessitávamos.
Assim, neste capítulo vamos dar conta dos procedimentos de trabalho que adoptamos
com o intuito de atingir alguns objectivos traçados inicialmente; vamos justificar a nossa
opção pela utilização do questionário; procedemos à caracterização do instrumento que
escolhemos para a recolha dos dados; apresentamos a descrição do contexto em que foi
realizado o inquérito, os Liceus Domingos Ramos (LDR) e Amílcar Cabral (LAC) bem como
os professores de Língua Portuguesa do 11º ano de escolaridade pertencentes aos referidos
Liceus que constituíram o nosso público-alvo. Em seguida vamos centrar na apresentação,
análise e interpretação dos dados bem como a síntese dos resultados.
37
É nesta perspectiva que no decorrer da revisão bibliográfica, procurámos centrar a nossa
atenção neste problema. Deste modo, tivemos a oportunidade de verificar que a aplicação do
questionário tem sido privilegiada em estudos desta natureza, didáctico pedagógica, e que tem
grande aceitação na área da educação, devido ao seu potencial para estudar as questões
relacionadas com escola e o ensino e aprendizagem (Gomes, 2008). Então, procedemos em
primeiro lugar à revisão bibliográfica para o enquadramento teórico do trabalho e aplicação
do questionário para darmos conta do desenvolvimento da Competência Oral na Abordagem
da novela “Quem me dera ser onda” pelos professores do 11º ano do Liceu Domingos Ramos
e do Liceu Amílcar Cabral.
Escolhemos o questionário porque esta metodologia possibilita uma maior
sistematização dos resultados fornecidos, permite uma maior facilidade de análise e reduz o
tempo que é necessário despender para recolher e analisar os dados. Este método de inquirir
apresenta ainda vantagens relacionadas com o custo, sendo este menor (Amaro, 2004:6). É a
técnica mais adequada ao estudo extensivo de conjuntos de indivíduos (normalmente através
da medida de certos atributos de uma amostra representativa); facilita a resposta para um
sujeito que não saberia ou que poderia ter dificuldade acrescida em responder a uma
determinada questão (Gomes, 2008:70); permite recolher uma amostra dos conhecimentos,
atitudes, valores e comportamentos dos inquiridos; para além de permitir uma interacção
indirecta entre o investigador e o inquirido (Amaro, 2004:6). Portanto, adequa-se ao nosso
estudo dado que, para além de ser mais fácil de tratar e de exigir menos tempo, o universo dos
sujeitos é constituído apenas por catorze professores, coincidindo assim com o universo da
amostra.
Também ficámos com a consciência de que se por um lado a aplicação de questionários
é vantajosa, por outro lado possui algumas desvantagens, pois, sabemos que o material
recolhido pode ser superficial; que a padronização das perguntas não permite captar
diferenças de opinião significativas ou subtis entre os inquiridos e também que as respostas
podem dizer respeito mais ao que as pessoas dizem que pensam do que ao que efectivamente
pensam (cf. Almeida & Pinto, 1994 apud Gomes, 2008:70). A sua construção é uma tarefa
difícil e por vezes morosa, pois deve ter-se em conta uma grande variedade de parâmetros,
que implicam alguma destreza e experiência por parte de quem os formula, tais como: a quem
se vai aplicar, o tipo de questões a incluir, o tipo de respostas que se pretende e o tema
abordado.
Salientamos que ponderamos todas as vantagens e desvantagens do inquérito por
questionário e vimos que seria o método mais eficaz para estudo desta natureza. Aliás,
38
tivemos a oportunidade de verificar que este é muito utilizado nos trabalhos de pesquisa
relacionados com a Didáctica das Línguas.
Como já tínhamos referido no ponto anterior, para a recolha dos dados pretendidos,
seleccionamos o questionário.
Para isso procedemos de acordo com Amaro (2004:6) que diz que é importante ter em
conta o que se quer e como se vai avaliar, devendo haver rigor na selecção do tipo de
questionário a aplicar de modo a aumentar a credibilidade do mesmo.
Na sua elaboração procuramos obedecer os três critérios fundamentais que se devem ser
levado em conta na elaboração do questionário: clareza e rigor na apresentação, bem como
comodidade/agrado para o inquirido (op. cit.). Ainda tivemos que levar em conta a quem se
vai aplicar, o tipo de questões a incluir, o tipo de respostas que se pretende e o tema abordado.
Tivemos em conta também que o conjunto de questões deve ser muito bem organizado e
conter uma forma lógica para quem a ele responde, evitando as questões irrelevantes,
insensíveis, intrusivas, desinteressantes, com uma estrutura (ou formato) demasiado confusos
e complexos, ou ainda questões demasiado longas (Amaro et al, 2005 apud Gomes, 2008:73).
Antes de administrar o questionário, tivemos o cuidado de proceder a uma revisão
gráfica pormenorizada daquele, de modo a evitar erros ortográficos, gramaticais ou de sintaxe,
que tanto podem provocar erros ou induções nas respostas dos inquiridos, como fazer baixar a
credibilidade do questionário por parte destes e de submeter o instrumento a um pré-teste a
fim de detectar as possíveis falhas e corrigi-las.
Levando em consideração estes aspectos, elaboramos o questionário dividido em duas
partes distintas:
A primeira parte destina-se ao preenchimento dos dados socioprofissionais e factuais
que permitiram obter informações que facilitam a caracterização dos mesmos, bem como a
identificação dos factores que pudessem influenciar as suas práticas nomeadamente no que
diz respeito à formação académica e profissional e anos de experiência. Para ajudar a
ultrapassar a desvantagem de obter respostas pouco sinceras e/ou reais, garantiu-se o
anonimato das respostas, já que os inquiridos não utilizaram os seus verdadeiros nomes, mas
sim um código ou nome fictício.
A segunda parte contém perguntas de reflexão sobre a situação da Língua Portuguesa
em Cabo Verde, mais concretamente sobre abordagem da Competência da Oralidade no 11º
39
ano de escolaridade, e na abordagem da novela quem me dera ser onda de Manuel Rui, com o
intuito de recolher informações pertinentes que podem constituir amostras das metodologias
usadas pelos professores com vista a desenvolver a competência em questão. Salientamos que
para além disso estas amostras poderão servir não só para o enriquecimento da experiência
mas também como ponto de partida para uma reflexão profunda sobre este aspecto a nível das
escolas e até mesmo a nível das instâncias decisoras, com vista a encontrar uma solução mais
adequada para a problemática da questão abordada, deixando assim alguma contribuição para
a Didáctica da Língua.
Ao procedermos à pesquisa bibliográfica demos conta que ao administrar o questionário,
o investigador selecciona o tipo de questão a apresentar de acordo com o fim para o qual a
informação é usada, as características da população em estudo e o método escolhido para
divulgar os resultados, tendo em conta as vantagens e desvantagens de cada tipo de resposta.
É nesta perspectiva que incluímos no questionário, um total de vinte e quatro questões, sendo
treze do tipo fechado e onze do tipo aberto. Assim, optamos por questões de escolha múltipla
em leque fechado e em leque aberto. Com estas últimas deu-se aos professores inquiridos a
possibilidade de apresentar um ou outro aspecto não considerado no questionário (Gomes,
2008).
Para isso, levámos em consideração as sugestões de Amaro (2004: 4) que diz as
questões de resposta aberta permitem ao inquirido construir a resposta com as suas próprias
palavras, permitindo deste modo a liberdade de expressão. Por sua vez, as questões de
respostas fechadas são aquelas nas quais o inquirido apenas selecciona a opção (de entre as
apresentadas), ou seja o inquirido só tem de reflectir e escolher as opções apresentadas que
vão de encontro com a sua percepção e que mais se adequa à sua percepção.
Também é usual aparecerem nos questionários questões dos dois tipos no mesmo
questionário, sendo este considerado misto. Colocámos também questões deste tipo, questões
com os dois tipos de perguntas: abertas e fechadas, para e ajudar o inquirido a ser mais
realista possível nas suas respostas.
Para realizar o inquérito escolhemos dois Liceus: Liceu Domingos Ramos situado na
cidade da Praia e Liceu Amílcar Cabral na cidade de Assomada.
40
3.4.1 Critério de selecção das escolas
A escolha desses estabelecimentos de ensino não foi por acaso. Justifica-se, em primeiro
lugar, pelo facto de serem os dois centros educativos mais antigos da ilha de Santiago,
localizados nos conselhos mais populosos da ilha, albergando assim um número considerável
de alunos e consequentemente de professores. Em segundo lugar, levamos em consideração
que por se tratarem das escolas mais antigas, podem possuir professores com muita
experiência profissional, capazes de fornecer dados e informações que constituem mais valias
para o processo de ensino e de aprendizagem da Língua portuguesa em geral e para e
desenvolvimento da oralidade em particular.
Tendo em conta que a parte prática do trabalho incide sobre as actividades orais
possíveis que podem ser desenvolvidas a partir da novela “Quem me Dera Ser Onda” de
Manuel Rui, e que esta novela é trabalhada só no 11º ano de escolaridade, decidimos inquirir
os professores que trabalham ou que já trabalharam com o ano de escolaridade já referido.
Pensámos que esses professores, com a experiência que possuem, por exemplo de como
lidar com as dificuldades que surgem e de propor actividades que visam o desenvolvimento
das competências da Língua Portuguesa, estão mais aptos para responder determinadas
questões, contribuindo assim para o desenvolvimento do trabalho. Sabemos também que eles
são mais capazes de fundamentar, justificar e defender as suas ideias.
Não podemos esconder também a nossa pretensão em conseguir encontrar, no seio
desses inqueridos, professores coordenadores da disciplina de Língua Portuguesa, que são
escolhidos de entre os mais habilitados, mais experientes e mais competentes, e que, por
conseguinte, se sentem mais à vontade, mais abertos para comunicar de modo aberto e seguro
(Gomes, 2008:80). Esta escolha também prende-se com o facto de sabermos que para além
das experiências que esses professores nos podem transmitir para a melhoria da prática
educativa, influenciam de uma certa forma os outros professores com os seus discursos e
sugestões nas reuniões de coordenação. Assim pensamos que as informações fornecidas por
eles podem representar as dos outros não inquiridos na medida em que eles exercem fortes
influencias nas escolas, enquanto coordenadores, pois têm a competência de dar instruções e
acompanhar as práticas educativas de português, no sentido de contribuir para um discurso
didáctico comum que se traduza em acções concretas, de qualidade e articuladas (op. cit.) a
41
nível da escola onde trabalham e a nível do país. Isto porque esses professores, enquanto
coordenadores de disciplina, também trabalham no sentido de unificar as práticas a nível
nacional.
3.4.3. Caracterização do Liceu Domingos Ramos
42
Com esses dados das formações académicas dos professores desse estabelecimento de
ensino, podemos concluir que realmente a instituição está preparada para atingir o sucesso no
ensino e aprendizagem. Contudo, ficámos com alguma preocupação uma vez que a escola
ainda possui docentes sem formação. Assim, é uma mais valia para o nosso trabalho e
também justifica a nossa escolha desse Liceu.
43
3.4.5. Caracterização dos coordenadores de Português
44
LAC possui 7 (sete) professores com idade compreendida entre vinte e cinco a trinta e
cinco anos; 2 (dois) têm idade entre trinta e seis a quarenta e seis anos.
Quanto ao tempo de serviço prestado pelos inquiridos verificámos que LDR possui 7
(sete) professores com idade compreendida entre quatro a catorze anos; e 2 (dois) têm idade
entre quinze a vinte e cinco anos de serviço.
LAC possui 1 (um) professor com idade compreendida entre dez a vinte e cinco anos; 1
(um) têm idade entre vinte e seis a trinta e seis e 3 (três) professores têm idade compreendido
entre trinta e sete a quarenta e sete anos.
Com esta análise chegámos a conclusão que realmente esses professores são bastante
experientes, com o tempo de serviço razoável no Sistema Educativo. Temos razão em
escolher esses professores.
Todos os professores pertencentes ao Liceu Domingos Ramos são professores e
directores de turma com excepção de uma professora que é coordenadora da disciplina da
Língua Portuguesa. Todavia, os de Santa Catarina uma professora é coordenadora e os outros
ocupam o cargo só de professor.
Quanto à carga horária, os inqueridos trabalham com números de turmas entre 4 (quatro)
a 7 (sete) turmas, que se traduzem entre 12 (doze) a 23 (vinte três) horas lectivas, tendo 1
(um) professor com uma carga horária de seis horas não lectivas.
No Liceu Domingos Ramos, todos os professores já leccionaram outras disciplinas,
como por exemplo: Matemática, história e Educação Visual. Os do Liceu Amílcar Cabral, 2
(dois) professores, nunca leccionaram outras disciplinas, os restantes já trabalharam com
outras disciplinas nomeadamente Educação Artística e Formação Pessoal e Social.
Os dados adquiridos até este ponto permitem-nos concluir que as duas escolas reúnem
condições tanto estruturais como em termos de capacitação dos professores em geral, dos de
Português em particular, que possibilitam implementar um ensino de qualidade, pese embora
o facto do Liceu Amílcar Cabral não reunir condições que permitam aos alunos a acesso ao
uso do computador, havendo ainda um número bastante elevado de alunos que terminam o
Ensino Secundário info-analfabetos, situação inadmissível nesta era de informação.
Também obtivemos respostas para as nossas expectativas, pois conseguimos inquerir os
coordenadores do terceiro ciclo de ambas as escolas e professores experientes na medida em
que 8 (oito) professores dos inqueridos têm mais de 10 (dez) anos de leccionação. Pensámos
que conseguimos obter uma amostra significativa pelos motivos já avançados anteriormente,
isto é, conseguimos informações dos professores que têm poder de decisão, de transmissão de
45
orientações e experiências e que contribuem com forte influência na unificação das
metodologias de ensino a nível do país.
3.5.1. Introdução
Este ponto destina-se a análise e interpretação dos dados dos questionários. Recordámos
que os mesmos foram aplicados aos professores de Língua Portuguesa do 11º ano de
escolaridade em exercício nos Liceus Domingos Ramos e Amílcar Cabral. O inquérito foi
aplicado com o intuito de recolher as informações e conhecer as suas opiniões e posições
relativas à situação o ensino e aprendizagem da Língua Portuguesa em cabo Verde, mais
precisamente sobre o ensino visando o desenvolvimento da Competência Oral no geral e mais
precisamente na abordagem da novela “Quem me Dera Ser Onda” de Manuel Rui.
Pretendemos ainda recolher sugestões alguns subsídios que constituirão uma mais valia para o
ensino da Língua Portuguesa a nível da competência oral e na abordagem textual visando a
desenvolvimento desta competência. Ainda pretendemos e que contribuam também para a
superação das dificuldades a nível desta competência.
Assim, vamos analisar as questões por ordem em que elas aparecem no questionário, ou
seja, por ordem numérica das questões.
Como já foi dito, o inquérito foi aplicado 14 (catorze) professores de Português que
trabalharam no presente ano lectivo com o 11º ano de escolaridade no Liceu Amílcar Cabral
localizado na cidade de Assomada e no Liceu Domingos Ramos localizado na cidade da
Praia. Como o número de professores é reduzido decidimos trabalhar os dados com números
inteiros.
46
Quadro 2: Avaliação da situação do ensino e aprendizagem em Cabo Verde
M.Bom Bom Razoável Mau
LDR - - 5 -
LAC - 3 5 1
Esta avaliação é positiva mas é um tanto ou quanto preocupante, ainda mais feita pelos
agentes que trabalham mais directamente com o ensino, na medida em que uma maioria
significativa acha que a situação de ensino e aprendizagem é razoável. Isto demonstra que há
que reflectir profundamente as questões relacionadas com a educação para elevá-la pelo
menos a uma percepção de bom, na perspectiva dos professores.
Para além das afirmações feitas, também as justificaram, baseando em algumas razões:
Razões comportamentais
“Os alunos têm demonstrado pouco interesse e deixam-se influenciar por outras
línguas estrangeiras. Os próprios manuais e programas não motivam”;
“Por razões várias nomeadamente a quase ausência do hábito da leitura, bem como a
nível da audição (material áudio)”;
“… porque a grande maioria não gostam dessa disciplina, consideram-na estranha;
não falam, nem escrevem correctamente e nem se importam em saber.”.
Razões cognitivas
“ A maioria consegue expressar-se em Português seja em que contexto for.”
47
Essas justificações apresentadas têm razão de ser, uma vez que cada turma constitui uma
realidade diferente, cada aluno é um aluno e cada professor é um professor, as experiências
também são diferentes. Estes factores contribuem para a obtenção de diversas representações.
Servem também para verificar que os professores são conscientes de que existem
problemas, pois souberam identificá-las. Este indicador é bom porque em educação o
diagnóstico do problema já é um grande passo porque a partir daí se pode adoptar soluções
adequadas.
De igual modo, como se pode observar no quadro seguinte, tanto os inquiridos do LDR
como do LAC afirmam que os seus alunos apresentam dificuldades na disciplina da Língua
Portuguesa e em todas as competências (oralidade, leitura, escrita e funcionamento da língua).
Quadro 3: Competências
Oralidade Leitura Escrita Funcionamento
da língua
LDR 5 5 5 5
LAC 9 9 9 9
Total 14 14 14 14
Competência Oral:
Dos professores do LDR, 1 (um) afirma que a oralidade é insuficiente, 2 (dois) acham
ser suficiente, 1 (um) acha ser bom e 1 (um) absteve-se.
Todos os professores do LAC classificam a competência oral dos seus alunos como
sendo suficiente.
A opinião destes professores vai de encontro com o que nós observamos de forma
empírica e que nos motivou a escolher este tema. Levando em consideração que os alunos
estão no 11º ano de estudo e prática da Língua Portuguesa, sem contar com o ensino pré-
48
escolar que em muitas escolas é feito em Língua Portuguesa, a situação merece atenção, e
carece de medidas urgentes com vista a superar esta lacuna.
Leitura:
Conforme ilustra o seguinte quadro, 2 (dois) professores do LDR acham que a leitura
dos seus alunos é suficiente, 2 (dois) confirmam que é bom e 1 (um) absteve-se.
Quanto aos professores do LAC, 1 (um) disse que a leitura é insuficiente, 5 (cinco)
afirmam ser suficiente e 3 (três) classificam-na como sendo bom.
Quadro 5: Competência da leitura
M.Bom Bom Suficiente Insuficiente
LDR - 2 2 -
LAC - 3 5 1
Vê-se que a competência nesta área está mais desenvolvida do que a oral. Nós não
estranhámos esta situação, pois, trata-se da competência mais privilegiada tanto pelo
programa como pelos professores, para além de estar ao serviço do desenvolvimento de todas
as outras competências. Por estes factos a leitura é feita em quase todas as aulas.
Escrita:
Dos professores do LDR, 3 (três) certificam que a escrita dos seus alunos é suficiente, 1
(um) classifica-a de bom e 1 (um) absteve-se.
Quanto aos do LAC, todos classificam a escrita dos seus alunos como sendo de
suficiente, excepto 1 (um) que não a classificou.
Quadro 6: Competência da escrita
M.Bom Bom Suficiente Insuficiente
LDR - 1 1 -
LAC - - 8 -
Funcionamento da Língua:
49
No que diz respeito ao funcionamento da língua, dos professores do LDR, 2 (dois)
confirmam que os seus alunos são suficientes, 2 (dois) acham ser bom e um absteve-se.
No que se refere aos do LAC, 1 (um) acha que é bom, 7 (sete) confirmam que os seus
alunos são suficientes nesta competência, e 1 (um) acha que é insuficiente.
No que diz ao resultado desta competência, pode-se dizer que inspira cuidados, uma vez
que é uma das competências fundamentais para o domínio da língua. Embora sendo a
competência mais privilegiada, continua com problemas. Estes dados vêm dar razão a Lopes
(2003), Lobo (2008) e Gomes (2008) que afirmam que em Cabo Verde a metodologia não
tem sido adequada. Sem falar de outros factores envolvidos no insucesso como por exemplo
as dificuldades do professor em abordar os conteúdos, falta de conhecimentos científico, etc.
(cf, Lobo, 2008). As autoras supracitadas afirmam que esta área continua a ser abordada pelo
método estrutural.
50
“ Pessoal.”
“ Pessoal.”
“ Pessoal.”
Ordem programático:
“ Está relacionado com as abordagens propostas pelo programa.”
“ Está relacionado com as abordagens propostas pelo programa do 11º ano. ”
Combinação da opção pessoal e programático:
“É pessoal, mas também levo em conta as abordagens propostas.”
“A conjugação das duas coisas. Se bem que muito mais a opção pessoal por forças de
circunstâncias.”
“A proposta de abordagem do programa, mas não com o grau de incidência
necessário.”
“Vai ao encontro das propostas programáticas. Mas, isso não quer dizer que também
não é pessoal.”
“Muitas das vezes passa por ser pessoal, mas sempre se faz apego ao programa. O
programa não é muito funcional”.
“Opção pessoal para complementar as abordagens do programa.”
Era de esperar. Se estes professores procuraram desenvolver esta competência, na
maioria das vezes teria que ser por opção pessoal, visto que o programa dá pouca atenção a
esta competência. Aliás pode-se observar que alguns criticam o programa neste aspecto.
Sendo assim é e louvar a iniciativa destes professores, por serem autónomos. Estes estão
a ir de encontro com os paradigmas actuais de ensino de línguas que sugere que o professor
deve ser liberto dos programas e das metodologias, que deve adoptar a metodologia que
responde as reais necessidades dos alunos (Gomes, 2008).
Oralidade:
51
LDR - 2 (dois) professores ordenaram-na como sendo a primeira competência a ser
desenvolvida, 1 (um) ordenou-a como sendo a terceira e 2 (dois) professores não
apresentaram ordenação.
LAC - 4 (quatro) ordenaram-na como sendo a primeira, 1 (um) como sendo a segunda, 1
(um) a terceira, 1 (um) a quarta e 1 (um) não ordenou.
Leitura:
LDR - 1 (um) professor apontou-a como sendo a competência que ele dá segundo lugar,
1 (um) deu terceiro, 1 (um) atribuiu quarto lugar e 2 (dois) não ordenaram., mais importância,
dois colocaram-no em segundo lugar, 3 (três) acham que ela está em terceiro, e 4 (quatro)
colocaram-na em quarto lugar.
LAC – 1 (um) professor apontou como sendo a competência que ele dá o primeiro lugar,
1 (um) colocou em 2º, 2 (dois) em 3º, 3 (três) em 4º e 1 (um) não respondeu.
Neste aspecto dizer qual das competências é mais importante, é uma questão relativa
Depende do professor, da sua experiência e da turma que ele tem.
Chamámos atenção para o facto de esta questão ter um baixo grau de fiabilidade.
Mesmo porque para nós nenhuma competência é mais importante do que a outra, ou seja,
todas são igualmente importantes. Aliás é na sequência deste pensamento que nos surgiu a
ideia de trabalhar a competência da oralidade porque notamos que ela a está a ser
desvalorizada em detrimento das outras competências.
Esta situação constitui um dos riscos do questionário. De qualquer modo estes dados
permitem-nos ver que estes professores valorizam a competência oral.
Contudo, deixamos margens para as dúvidas, porque os professores podem responder
não o que pensam mas o que pensam que pode agradar o investigador. Levando em conta
também que questões deste tipo também servem para tomada de consciência dos inquiridos
(Gomes, 2008) acreditámos que mesmo que não sejam estas as verdadeiras posições dos
professores, sirvam para os sensibilizar para a problemática e para tomarem a consciência de
que esta competência é tão importante como as outras, para não dizer mais, visto que a língua
oral está mais presente nas comunicações de comunicação, é a mais usada.
Por conta dessa ordenação das competências, cada um dos referidos professores, com
excepção de 3 (três) (sendo 2 (dois) do LDR e 1 (um) de LAC), apresentou a sua justificação.
E essa foi de vária ordem:
52
Competência que serve de base para o desenvolvimento das outras competências
“Penso que para desenvolver as competências da leitura, oralidade e escrita, o aluno
tem que conhecer as regras do funcionamento da língua e saber aplicá-las”.
53
Verifica-se que alguns professores conhecem o real valor do oral. Contudo, a situação
não deixa de ser muito preocupante embora não seja estranha. Os estudos já feitos mostram
que os professores de Português de Cabo verde dão mais privilégio ao ensino da gramática.
Preocupa-nos o facto dos professores pensarem desenvolvendo o funcionamento da língua os
alunos desenvolvem a competência oral.
Todos os professores inquiridos são unânimes em dizer que não apresentam nenhumas
dificuldades em propor actividades que visam o desenvolvimento da competência em questão,
a oralidade.
De igual modo, todos têm o hábito de trabalhar a oralidade na sala de aula e consideram
importante trabalhá-la nas aulas de Língua Portuguesa. As justificações apresentadas são de
diversas ordens a indicar:
“Para que haja um completo domínio da língua Portuguesa, o aluno terá que saber
escrever, mas se não dominar o vertente oral ou seja se o professor não investir nela, os seus
alunos ficarão com lacuna na escrita.”
“O aluno pratica a Língua Portuguesa, tendo em conta que a sua língua materna é o
crioulo e ele tem poucas oportunidades de falar o Português.”
“No dia-a-dia do falante de uma língua, a componente oral é a mais solicitada, a mais
pragmática.”
Todos os professores inquiridos são unânimes em dizer que não apresentam nenhumas
dificuldades em propor actividades que visam o desenvolvimento da competência em questão,
a oralidade.
54
De igual modo, todos têm o hábito de trabalhar a oralidade aula de Língua Portuguesa e
consideram-na importante. As justificações apresentadas são de diversas ordens. Passamos a
indicá-las de forma categorizada:
“Para que haja um completo domínio da língua Portuguesa, o aluno terá que saber
escrever, mas se não dominar o vertente oral, ou seja, se o professor não investir nela, os
seus alunos ficarão com lacuna na escrita.”
“O aluno pratica a Língua Portuguesa, tendo em conta que a sua língua materna é o
crioulo e ele tem poucas oportunidades de falar o Português.”
“É uma das áreas da língua que os alunos não dominam. Por não terem a Língua
Portuguesa como língua materna. É importante trabalhar a pronúncia e a entoação.”
“No dia-a-dia do falante de uma língua, a componente oral é a mais solicitada, a mais
pragmática.”
55
“Porque é uma das competências de qualquer língua. A expressão oral é a via mais
comum de transmissão do nosso pensamento, emoções, vontades, etc.”
Através destas justificações pode-se notar que ainda muitos professores encaram o oral
como recurso. Dito de outro modo, o oral está ao serviço do desenvolvimento das outras
competências. Contudo, verifica-se que há posições mais animadoras, pois, nota-se que 50%
dos inqueridos têm consciência da importância da prática da oralidade, por ser a que se
recorre com mais frequência no quotidiano. De facto ela está mais presente, recorre-se a ela
com mais frequência do que a escrita porque está presente em todas as situações, tanto
formais como informais, de comunicação, nos serviços públicos, no parlamento, na sala de
aula e noutras situações.
O português é língua de comunicação com o mundo lusófono, com o qual Cabo Verde
está sempre em contacto. Por estes motivos a modalidade oral é usada com muita frequência
nos encontros, reuniões, simpósios, negócios, acordos, etc.
É igualmente interessante saber que os professores reconhecem que a Língua
portuguesa, por não ser a língua materna dos alunos, ela deve ser praticada na sala de aula.
Concordamos com estas posições, porque a sala de aula constitui, para a maioria dos alunos, o
único espaço para a prática da Língua Portuguesa.
56
estamos a querer dizer que estas actividades não proporcionam o desenvolvimento da
oralidade. Supomos que quem as propôs as usa com este propósito. Mas nós somos de opinião
de que os professores devem dedicar aulas inteiras para o desenvolvimento da competência
oral, assim como fazem para o desenvolvimento das outras competências.
Todos confirmaram que concordam com os professores que dizem que muitos alunos
chegam ao 3º ciclo com dificuldades na expressão oral em Língua Portuguesa. Apontaram
causas de várias ordens que estão na base dessas dificuldades. Elas são as seguintes:
Metodológica
“Uso de metodologias não muito adequadas. ”
57
Falta de estímulo para o uso da modalidade oral da língua
“Não se tem estimulado a prática da oralidade na sala de aula e fora dela.”
58
Nós achámos que os programas são orientações e que não constituem receitas para os
professores seguirem religiosamente. Para nós o que interessa é que o aluno aprenda e
pratique a Língua Portuguesa e que adquira competências para usá-la na modalidade oral e
escrita com desembaraço em qualquer situação de comunicação.
Quanto aos géneros ou subgéneros textuais adequados para trabalhar /desenvolver a
oralidade no 11º ano de escolaridade na aula de Língua Portuguesa, os professores sugeriram
os seguintes: Narrativo, Poético, Dramático, Lírico, Novela, Romance, Textos
argumentativos, Dissertativos, Dramáticos, Jornalísticos, Entrevistas e Textos dialogados.
Com isso vê-se que ao fim ao cabo todos os tipos e géneros de textos servem paras
trabalhar a oralidade.
Perante estas indicações dos géneros textuais que visam o desenvolvimento da
oralidade, apresentaram justificativas:
“São géneros que permitem ao aluno exprimir as suas ideias, usar e fazer uso da
linguagem.”
“Porque narrativo pressupõe história. E história faz com que as pessoas dialoguem.”
“Há bastantes situações de diálogo. São variadas as situações que possam inspirar,
motivar o exercício da oralidade.”
“Porque são textos que permitem aos alunos a troca de opiniões, discussão de ideias,
etc.”
“Porque o leitor poderá a partir da proposta do autor questionar tendo em conta o seu
ponto de vista”.
“Porque encontram-se várias situações de oralidade, diálogo entre as personagens”.
59
Narrativo
Serve porque “São géneros que permitem ao aluno exprimir as suas ideias, usar e fazer
uso da linguagem.” Porque o leitor poderá, a partir da proposta do autor questionar tendo
em conta o seu ponto de vista.”“Porque encontram-se várias situações de oralidade, diálogo
entre as personagens”.“Porque permite aos alunos desenvolverem a prática do uso da
língua”.“Porque narrativo pressupõe história. E história faz com que as pessoas
dialoguem.”
Poético
Serve porque “Serve porque permite que o aluno expresse oralmente e ajuda-o a ser
criativo e espontâneo” “Porque os alunos gostam de falar dos assuntos da actualidade e de
representarem expressando-se”
Dramático
Serve porque “São géneros que permitem ao aluno exprimir as suas ideias, usar e fazer
uso da linguagem.” “Porque são textos que permitem aos alunos a troca de opiniões,
discussão de ideias, etc.”Porque permite aos alunos desenvolverem a prática do uso da
língua.”
Lírico
Novela
Serve porque “Há bastante situação de diálogo. São variadas as situações que possam
inspirar, motivar o exercício da oralidade.”
Romance
Serve porque “Há bastante situação de diálogo. São variadas as situações que possam
inspirar, motivar o exercício da oralidade.”
Textos argumentativos
Serve porque “Porque são textos que permitem aos alunos a troca de opiniões,
discussão de ideias, etc.” “Permitem a dramatização, provocam choque de ideias, pedem
justificação, etc.”
Dissertativos
Serve porque “Porque são textos que permitem aos alunos a troca de opiniões,
discussão de ideias, etc.” “Porque são textos que permitem aos alunos a troca de opiniões,
discussão de ideias, etc.”“Permitem a dramatização, provocam choque de ideias, pedem
justificação, etc.”
60
Dramáticos
Serve porque “permite que o aluno expresse oralmente e ajuda-o a ser criativo e
espontâneo” “Porque são textos que permitem aos alunos a troca de opiniões, discussão de
ideias, etc.”
“Porque os alunos gostam de falar dos assuntos da actualidade e de representarem
expressando-se”“Dá ao aluno, a oportunidade de se fazer uma boa Representação.”“Porque
permite aos alunos desenvolverem a prática do uso da língua”.
Jornalísticos
Serve porque “Porque são textos que permitem aos alunos a troca de opiniões,
discussão de ideias, etc.” “Porque os alunos gostam de falar dos assuntos da actualidade e
de representarem expressando-se”.
61
3.6. Conclusão
Chegando ao fim da verificação das respostas dos nossos inquiridos, podemos tirar
muitas ilações. Em primeiro lugar, as respostas não foram muito divergentes entre si, apesar
dos inquiridos serem de duas realidades educativas diferentes. Até podemos afirmar que quase
houve uma unanimidade nas respostas.
Outra conclusão, trata-se das desvantagens que o questionário apresenta, parece que os
inquiridos não respondem as questões de forma a espelhar a realidade, mas sim tentam
agradar o investigador. Sendo assim, as respostas saem um pouco fora da realidade.
Chegamos a esta conclusão, pelo facto de verificármos algumas incoerências nas respostas
(cf. os quadros nº2 e 3 no anexo nº 2), ou seja afirmam e confirmam ou tomam uma certa
posição, mas depois nas outras questões (questões 4.3 e 4.4) entram em contradição. Por
exemplo na questão 4.3, os professores afirmam que os alunos apresentam deficiência em
todas as competências e no ponto seguinte (questão 4.4) fazem a avaliação qualitativa das
competências como sendo de Bom e Muito Bom.
De um modo geral, os inquiridos corresponderam às nossas expectativas, pois
conseguimos obter informações pertinentes a cerca da competência da oralidade no ensino e
aprendizagem da Língua Portuguesa no 11º ano de escolaridade, aspecto de maior interesse
para o nosso estudo. Nomeadamente o porquê que os alunos apresentam dificuldades a nível
do oral e sugestões de actividades orais que podem ser trabalhadas a partir da novela “Quem
me dera ser onda” de Manuel Rui.
É pertinente afirmar que muitas respostas dadas pelos nossos inquiridos correspondem
às perspectivas teóricas (questões 6.1 e 6.3) que tivemos oportunidades de ler no decorrer da
revisão da literatura e já frisadas na parte teórica do nosso trabalho. Isso só nos leva a concluir
que os professores, para além da formação e da experiência que já possuem, estão a investir
na formação contínua e na auto-formação o que é muito benéfico para o nosso Sistema
Educativo.
Pelo que podemos constatar a partir do inquérito, existem problemas a nível do ensino e
aprendizagem do Português em Cabo verde não só no que tange à competência oral mas em
todas as outras competências. Trabalha-se o oral na sala de aula quase sempre ao serviço das
outras competências, ou seja, não com o objectivo de fazer com que os alunos aprendam a se
expressar/ comunicar oralmente, mas sim par verbalizar os conhecimentos adquiridos a nível
das outras competências. Alguns professores, ainda acham que ensinar uma língua é fazer
62
com que o aluno domine a sua gramática. Por outras palavras, ensinar uma língua resume-se
em ditar as regras do seu funcionamento.
Contudo, anima-nos o facto de verificarmos que alguns professores têm consciência da
importância da oralidade e trabalham no sentido de desenvolvê-la. Por isso, pela mais valia
que esses professores representam na escola onde trabalham; pela influência que têm sobre os
outros e, sobretudo por, sabermos que vão se sentir influenciados a mudar com o
preenchimento deste questionário porque este constitui também uma forma de chamar atenção
aos professores no sentido de mudarem de atitude, enquanto estudos das representações (cf.
Gomes, 2008), acreditamos que esses professores vão mudar de atitude, e melhorar as suas
práticas para o sucesso do ensino do Português e do ensino da Oralidade em particular.
63
CONCLUSÕES
A metodologia adoptada neste estudo, pela sua natureza, permitiu-nos apenas aceder ao
conhecimento declarativo dos professores do 3º ciclo, que se pressupõe ser os mais
experientes. Isto aponta para a necessidade de se realizarem outras investigações que facilitem
o acesso aos seus conhecimentos processual e contextual, redimensionando assim a
construção sobre as representações e conhecimento dos professores que este estudo
possibilitou. Propomos ainda um estudo com os outros professores menos experientes para
conhecer as suas representações e as suas práticas. Pensamos que só assim se pode ter um
estudo mais completo que possibilite tomar decisões mais eficazes.
Com a abordagem teórica, esclarecemos a importância que o ensino e da oralidade pode
ter na vida de um sujeito, e principalmente para os cabo-verdianos que têm o português como
Língua Oficial. Verificamos, pelo nosso estudo, que a problemática do ensino da oralidade, a
negligência dos professores em relação a esta competência, e a sua importância no
desenvolvimento da competência comunicativa constituem preocupação de muitos teóricos e
principalmente dos agentes envolvidos nas questões do ensino da Didáctica da Língua. Por
isso, insistem em investigar e em apresentar teorias para proporcionar aos professores
ferramentas para trabalharem de melhor forma com esta modalidade da língua.
Ficou claro que a oralidade é uma das vertentes da língua mais importantes não só pelo
facto de possibilitar o desenvolvimento das outras competências, mas também por
proporcionar ao aprendizado a oportunidade para praticar a língua na sua vertente mais lúdica
64
e funcional. Para isso, os estudiosos deixam dicas de actividades variadas e interessantes que
podem ser aplicadas nas aulas de Língua Portuguesa e na abordagem textual.
Ao procurar encontrar uma forma de ensinar a competência do oral, com aplicação ao
estudo da novela Quem me dera ser Onda de Manuel Rui, fomos ver a possibilidade de
abordagem nos estudos já efectuados. Ficamos a saber que o ensino da oralidade através da
Literatura, permite desenvolver não só a competência oral, mas também a da leitura e as
outras habilidades essenciais da língua. Que utilizando estratégias e técnicas variadas e
expressivas do oral, os alunos, a partir de uma obra, poderão desenvolver a capacidade de
expressar a sua sensibilidade face ao texto. Assim, o estudo do texto fica mais interessante. É
de salientar que para isso, cabe ao professor ter bastante conhecimento científico, possuir
habilidades, capacidades e criatividade a nível da combinação da competência oral com a
abordagem textual. A título de exemplo, que deixámos o nosso contributo na proposta que
fizemos de uma abordagem integrada da oralidade com a leitura.
65
Para finalizar, depois de toda a pesquisa feita chegámos a uma grande verdade: para se
obter sucesso na aprendizagem de uma língua e dominá-la, vê-se que não basta apenas saber
ler ou saber escrever, que é preciso saber expressar/comunicar oralmente, saber adaptar o
discurso a diferentes situações comunicativas, ter capacidade de argumentação, bem como
habilidade de improvisar, ser fluente na língua na sua vertente oral, para não provocar
situações desagradáveis para os interlocutores.
Portando, por tudo o que já se viu, pode-se concluir que as competências devem ser
desenvolvidas sempre de forma harmoniosa na sala de aula levando em conta os seus diversos
elementos.
Ao realizarmos este trabalho, percebemos que há necessidade da escola trabalhar
actividades que enfoquem a oralidade dentro de situações concretas, para que o estudo de
Língua Portuguesa se torne significativo para os alunos quando eles se depararem com
situações reais de uso da língua. Deste modo, faz-se necessário que o professor, ao trabalhar a
língua falada, leve o aluno a perceber sua função social.
Antes de concluir, gostaríamos de deixar uma recomendação aos professores no sentido
de deixarem de dizer que os alunos não têm gosto ou interesse por determinadas actividades,
que o programa é denso, que não têm tempo, entre outras queixas. Portanto, o professor, mais
do que todos os profissionais, conhece o verdadeiro valor desta modalidade de uso da língua.
Para concluir, chamamos atenção aos professores no sentido de não nunca perderem de
vista que a pedagogia actual recomenda que os professores sejam libertos dos modelos,
programas, orientações, etc. O professor não deve se esquecer nunca que o ensino deve ser
centrado no aluno, não na vontade do professor ou da escola e que os interesses e as
necessidades do aluno devem estar acima de tudo. Que por tudo isso, deve ser criativo e
autónomo o suficiente para usar estratégias e metodologias que estimulam os alunos e que
desperta neles o gosto e o interesse pelo conteúdo que pretende leccionar e sobretudo
seleccionar os conteúdos a leccionar em função das suas necessidades.
Dado que não pudemos dizer nem fazer tudo, resta-nos lançar desafios aos outros
agentes educativos para outras investigações onde também se possa reflectir sobre esta
temática no sentido de aprofundar outros aspectos que não abordámos, tendo sempre em
mente a renovação pedagógico-didáctica para o sucesso do ensino e aprendizagem da Língua
Portuguesa, para o bem da Didáctica da Língua Portuguesa como Língua Segunda e para o
progresso de sistema educativo cabo-verdiano.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
67
- MATA, A.I (1992). É só ouvir … em Português. In: DELGADO, Mª. R. et al. Para a
Didáctica do Português – Seis Estudos de Linguística. Lisboa Edições Colibri.
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REFERÊNCIAS WEBGRÁFICA
forumpatria.com/lingua-portuguesa/a-lingua-portuguesa-essa-desconhecida
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MOREIRA, N. I. Da Expressão Oral. Disponível em
www.mnecho.com/dicascomofalarempublico/expressoral.pdf – Acesso em 12-11 – 2008.
Quem me dera ser onda. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2009.
Disponível em www: <URL: http://www.infopedia.pt/$quem-me-dera-ser-onda>, Consultado
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RANGEL, Gilsenira de Alcino. (1999) A Oralidade nas salas de aula dos anos iniciais
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Professor Valorizado? Disponível em www.filologia.org.br/xicnlf/3/11.htm - Acesso em 04-
10-2008
ANEXOS
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