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Instalação de sprinkler e o golpe de aríete

Cuidados mínimos no acabamento final de uma instalação de chuveiros automáticos

Como qualquer obra de engenharia, uma instalação de chuveiros automáticos precisa de


um acabamento final para que tudo ocorra dentro do esperado e que os sprinklers só
funcionem em caso de incêndio. Para a felicidade de todos, este retoque final não requer
anos de experiência ou mesmo o conhecimento de segredos guardados a sete chaves,
basta seguir os requisitos presentes na norma de instalação ABNT NBR 10897 e nos
catálogos técnicos dos produtos. Grande parte das patologias em instalações de chuveiros
automáticos não ocorrem por falhas na operação do sistema durante um incêndio e sim
durante o período que a instalação está em repouso. Vazamentos, aberturas inesperadas
de bicos de sprinkler, rompimento de tubulações e conexões, danos a manômetros e
chaves de fluxo são alguns dos inconvenientes vividos por muitos proprietários deste tipo
de instalação. Quando um proprietário vive o calvário de uma patologia em sua instalação
de sprinkler, geralmente, ele passa a enxergar o sistema de forma pejorativa, visto que a
entrada de água em um local sem necessidade pode trazer prejuízos tão grandes quanto
um princípio de incêndio. Bicos de sprinkler não são projetados para abrirem em situações
de temperatura normal no ambiente. Sendo assim, por que em algumas instalações temos
chuveiros entrando em funcionamento sem que se atinja a temperatura de operação dele?
Geralmente, a resposta a este fenômeno advém do cuidado no manuseio e instalação do
próprio equipamento. Os bicos de sprinklers são um dos elementos mais sensíveis de uma
instalação, porém, não é raro este produto ser tratado como uma peça qualquer. Em
muitas obras, os instaladores recebem os bicos devidamente embalados de fábrica,
incluindo até presilhas plásticas para proteger o elemento sensível, sendo desembalados
pelo encanador e jogados dentro de caixas para serem levados ao local da instalação.
Como se não bastasse, é comum alguns encanadores usarem chaves inapropriadas para o
rosqueamento do bico na tubulação, causando danos físicos ao elemento termossensível
imperceptíveis a olho nu. Esta falta de zelo pode acarretar na abertura do bico por causa
da quebra do elemento termossensível e não pelo excesso de temperatura. Todos os
fabricantes trazem no catálogo de seus produtos que eles não podem ser manuseados
desta maneira e a maioria, inclusive, vem com estas informações nas próprias
embalagens dos sprinklers. Vale ressaltar ainda que a própria NBR 10.897 indica que deve
ser disponibilizado, junto aos bicos de sprinklers, reservas chaves próprias para instalação
dos bicos, afim de disponibilizar para o proprietário do sistema uma ferramenta adequada
para manuseio futuro.

VAZAMENTOS

Em geral, os vazamentos estão associados à ausência de testes hidrostáticos da rede ou


falta de válvula de alívio de pressão. Toda rede de sprinkler deve ser ensaiada
hidrostaticamente com uma pressão de, no mínimo, 350 kPa acima da pressão máxima do
sistema e nunca inferior a 1.350 kPa, por, no mínimo, duas horas. Válvulas de governo
devem possuir uma pequena válvula de alívio para aliviar pressões que excedam às
máximas admitidas para a rede em função de variações térmicas naturais do ambiente.
Ambos os requisitos descritos aqui estão presentes na NBR 10.897, porém, são
constantemente ignorados por maus instaladores. Vale ressaltar que a água é um líquido
incompressível, pequenas variações de temperatura tendem a elevar e muito as pressões
nas tubulações e uma tubulação não adequadamente testada a esta situação e sem
válvula de alívio tende a apresentar vazamentos, principalmente nas roscas dos bicos de
sprinklers ou nas conexões da rede. Este tipo de vazamento é característico pois,
geralmente, está associado a gotejamentos. Problemas nas conexões como
posicionamento inadequado das borrachas no acoplamento, roscas malfeitas ou conexões
trincadas são, em geral, identificados nos testes hidrostáticos. Conhecer previamente
estes problemas evitam prejuízos futuros e são essenciais para uma instalação adequada.
ROMPIMENTO Rompimentos de tubulações e conexões, bem como a quebra de
manômetros e chaves de fluxo, normalmente, estão associados a transientes hidráulicos
(Golpes de Aríete). Este tipo de fenômeno não é previsto para ocorrer em redes de
chuveiros automáticos, porém, não é raro encontrarmos patologias associadas a isto.
Golpes de Aríete são interrupções bruscas de escoamentos em uma rede hidráulica
criando sobrepressões de grande monta que, muitas vezes, superam a capacidade
máxima de pressão dos equipamentos. Basicamente, para se evitar este tipo de problema
são utilizadas válvulas de bloqueio de fechamento lento, drenagem do ar da rede e
configuração das partidas das bombas próxima das pressões máximas que estas atuam. A
NBR 10.897 indica que é proibido usar válvulas onde o tempo de fechamento delas seja
inferior a cinco segundos. A norma também indica que as pressões de partida das bombas
para automação devem levar em conta as pressões máximas admitidas na rede (bomba a
vazão zero com reservatório cheio de água) de forma que, quando a bomba principal
entrar em funcionamento, a diferença de pressão existente na rede e a pressão acrescida
ao sistema em função do funcionamento da bomba seja de no máximo 1 bar. O ar é um
elemento compressível e funciona como uma mola. Redes de chuveiros automáticos do
tipo “molhado” (Wet pipe) devem possuir água no seu interior e não ar, conforme definido
na NBR 10.897. A drenagem do ar é importante e deve ser feita antes de o sistema ser
colocado em funcionamento. Normalmente, os maiores problemas de patologias advindas
de golpe de aríete estão associados à regulagem com baixa pressão da automação das
bombas relacionadas a redes com muito ar. É comum os instaladores regularem as
pressões das partidas das bombas com valores baixos, pois nesta situação a rede ficará
em repouso com baixas pressões e a chance de vazamentos é muito menor. Os
proprietários, por sua vez, geralmente usam as redes de hidrantes para limpeza de pátios
(procedimento inadequado e proibido pelos Corpos de Bombeiros). Estas redes estando
conectadas ao sistema de sprinklers fazem com que a bomba entre em funcionamento e
quando ela é desligada não é feito um procedimento para purgar o ar. Sendo repetido
diversas vezes, este método tende a deixar a rede com muito ar. Em um momento do
futuro, por um desgaste natural, a bomba de pressurização (jockey) virá apresentar
algum defeito e se tivermos uma despressurização a bomba principal será acionada. Ou
seja, será uma combinação fatal, pois a bomba entrará em funcionamento com nenhum
ponto para água escoar. Como a pressão que a bomba exerce no sistema é muito maior
que a pressão de repouso que o sistema se encontrava, a bomba irá injetar água na
tubulação e como não temos bicos de sprinklers abertos ou hidrantes em funcionamento,
esta água irá comprimir o ar existente como se fosse uma mola sendo pressionada. A
partir daí, teremos o desenvolvimento do golpe de aríete no qual o efeito mola do fluido
na tubulação entrará em ressonância, gerando pressões excessivas na rede. Em geral,
aqui temos rompimento de tubulações, conexões e quebras de manômetros e chaves de
fluxo.

DICAS:

Para uma avaliação simples de uma instalação de sistema de sprinklers, os proprietários


devem: verificar a integridade dos bicos de sprinklers, buscando uma plataforma e
inspecionando visualmente. Normalmente, numa instalação bem-feita eles estão íntegros,
sem “mordidas”, com o defletor e os braços firmes e alinhados. Sugere-se ainda que o
clamp (presilha laranja para proteger o elemento termossensível do bico) seja retirado
somente após toda a obra estar completa, incluindo as demais instalações e os
acabamentos do ambiente; verificar junto às válvulas de governo se foram instaladas
válvulas de alívio. Normalmente, estas possuem uma tubulação de cobre flexível saindo
delas e lançando em um dreno; solicitar ao instalador o formulário com os testes
hidrostáticos da tubulação. Basicamente, ele vai conter os dados da rede, a pressão de
ensaio, a data e o tempo que ficou pressurizada; verificar se as regulagens de partidas e
parada das bombas estão compatíveis com as pressões máximas do seu sistema, levando
em conta inclusive o reservatório cheio de água. Se a partida da bomba principal estiver
com pressões próximas de 1 bar abaixo da pressão máxima do sistema é um indicativo
que as regulagens estão corretas; observar se as válvulas da rede de sprinkler são de
fechamento lento. Válvulas de esfera são admitidas apenas em drenos ou testes. Válvulas
borboletas devem possuir volante redutor (nunca usar válvulas com alancas); nunca use
ou deixe usar a rede de hidrantes para fins que não sejam de combate a incêndios,
mesmo que seja para limpeza final de obra; e se for necessário o uso de hidrantes ou se
um bico entrou em operação, restabeleça a pressão da rede de sprinklers para colocá-la
em repouso, retirando o máximo de ar possível dela. Se não tiver habilidade para isto,
solicite auxílio de um técnico experiente. Um sistema de sprinkler bem instalado e
devidamente mantido é uma das melhores armas que existem para redução de perdas e
proteção de vidas. O capricho final de uma instalação promove segurança e confiabilidade.
Fique atento e valorize o seu produto.

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