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D E M O C RA C I A V I VA 40

SETEMBRO 2008
IBASE
OPINIÃO
Luciano Cerqueira*1

Participação
cidadã, onde avançamos,
onde emperramos?
O fim dos regimes ditatoriais na América Latina foi acompanhado pelo surgimento de

novas formas de organização dos grupos sociais excluídos pelas elites hegemônicas,

que até então governavam. As novas organizações se destacavam não apenas por

seu ativismo político, mas também pelo intenso envolvimento dos(as) participantes no

processo decisório. Comunidades eclesiais de base, movimentos sociais urbanos e

1 Este artigo foi baseado conselhos de fábrica desempenharam papel importante na transição para a democracia,
na dissertação de mestrado
que, sob a orientação do
professor Renato Boschi, foi
apresentada ao Programa de em função do atendimento de reivindicações populares e do fato de haverem se
Ciência Política do Instituto
Universitário de Pesquisas
do Rio de Janeiro (Iuperj), tornado autênticas “escolas” de prática participativa para a sociedade civil.
no ano de 2004.

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A importância atribuída a esses experi- O processo de ampliação da chamada
mentos colaborou para que fossem incluídas esfera pública se deu por meio da combinação
no texto constitucional garantias da partici- de dois mecanismos de participação forneci-
pação cidadã no controle das ações governa- dos por duas formas de democracia distintas.
mentais e na tomada de decisões concernentes Elas não devem ser vistas como excludentes
às políticas públicas. Descentralização, cida- ou concorrentes, mas como complementares.
dania e participação cívica tornaram-se refe- São elas:
rências obrigatórias nos discursos dos mais Democracia representativa – Cada uma
variados atores políticos. das formas assumidas pela representação
A Constituição Federal Brasileira de política decorrentes do direito ao voto.
1988 é considerada um marco da participa- Se traduz na representação política dele-
ção cidadã. Foi a partir dela que a discussão gada aos membros eleitos no legislativo
sobre participação ganhou espaço na nossa e no executivo, em qualquer nível de go-
realidade, passando a ser vista como impres- verno (federal, estadual e municipal).
cindível para que o Estado pudesse garantir
Democracia direta – Conjunto de todas
o mínimo de condições de sobrevivência a
as formas de participação junto ao poder
uma parcela da população.
público, no qual a sociedade se apre-
A partir de então, privilegiam-se as re-
senta para fazer sua própria represen-
lações sociedade-Estado, os mecanismos cria-
tação política nos espaços dos conselhos,
dos para ampliar a autonomia dos municípios
nas audiências públicas, nos próprios
e os espaços de participação da sociedade.
fóruns colegiados, onde os chamados
Adotou-se um modelo descentralizado, pen-
grupos de interesse elegem seus dele-
sado inicialmente para permitir o desenvolvi-
gados e se utilizam de instrumentos,
mento de novas formas de gestão, com a inten-
como o plebiscito e o referendo (ver So-
ção de tornar mais eficazes o atendimento das
lidary Community Council Brazil; Insti-
necessidades dos diferentes grupos sociais,
tuto Brasileiro de Administração Pública,
especialmente daqueles tradicionalmente ex-
2002, p. 19).
cluídos dos processos decisórios.
Embora a participação nos processos No quadro da democracia represen-
de gestão municipal seja uma preocupação tativa (a que vivemos), a direção do governo
anterior ao marco histórico da Constituição pode ser partilhada com a sociedade, mas
de 1988, é a partir daí que ela se instituciona- não integralmente delegada. Até para as
liza, ajudando a ampliar as discussões sobre pessoas mais otimistas, é difícil imaginar que
poder local, cidadania e processos de gestão. o governo, na prática, abra mão de todo seu
A Constituição define, em seu artigo primeiro, poder de decisão.
parágrafo único, a natureza e a finalidade do Com a aprovação da Constituição de
Estado que se está instituindo, bem como 1988, a participação no Brasil adquiriu dimen-
seus fundamentos: são institucional, provocando a ruptura do
Art. 1º A República Federativa do Brasil, modelo clássico de democracia representativa
formada pela união indissolúvel dos Es- pura para introduzir, no ordenamento jurídico-
tados e Municípios e do Distrito Federal, constitucional do país, a concepção de demo-
constitui-se em Estado Democrático de cracia participativa.
Direito e tem como fundamentos: Os(as) constituintes entenderam, por-
tanto, que o regime político brasileiro deveria
I – a soberania;
ser uma democracia semidireta, combinando
II – a cidadania; elementos de participação indireta (represen-
tação) e de participação direta. Segundo o
III – a dignidade da pessoa humana;
princípio participativo, foram acolhidos, na
IV – os valores sociais do trabalho e da Constituição, diversos institutos jurídicos nos
livre iniciativa; capítulos referentes ao planejamento e à ges-
tão de políticas públicas, fiscalização da admi-
V – o pluralismo político.
nistração pública, defesa e garantia de direi-
Parágrafo único. Todo o poder emana do tos coletivos (seguridade social; ensino; cultura
povo, que o exerce por meio de represen- e atendimento aos direitos da criança e do
tantes eleitos ou diretamente, nos termos adolescente), gestão de empresas privadas e
desta Constituição (Brasil, 1994, p. 3). da vida política em geral. Foram estabelecidos

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OPINIÃO

com a Constituição: referendo; iniciativa po- Hoje, os conselhos municipais são ins-
pular; plebiscito; colegiados de órgãos pú- tâncias públicas de formação de opinião, de
blicos; planejamento público. vocalização de demandas, de manifestação de
As constituições estaduais e leis orgâ- vontade política, muito mais do que meros
nicas municipais, de acordo com as normas instrumentos do governo ou da sociedade.
da federação brasileira, seguiram os princí- Como espaço institucional de represen-
pios fundamentais da Constituição Federal. tação de interesses, os conselhos atribuem o
A supremacia da Constituição atua em dois sen- status político aos grupos ali representados,
tidos – a conformidade do ordenamento jurí- e devem assegurar a participação principal-
dico de todos os entes da federação às normas mente dos segmentos sociais que não têm
constitucionais e a obrigação de aplicar tais espaço nos canais tradicionais de influência na
normas, sob pena de incorrer em inconstitucio- tomada de decisão (como a mídia comercial) e
nalidade por omissão. Foi a partir dela que o nos canais próprios do exercício da democra-
Estado brasileiro passou a ser constituído de cia representativa (como o Legislativo). Hoje,
estados, municípios e do Distrito Federal.2 os conselhos já representam uma cultura ins-
Com o estabelecimento da proposta titucional e política no processo cotidiano da
(o debate com a sociedade civil e a realização tomada de decisão na esfera pública.
efetiva dos sistemas de parceria), melhora-se Além dos conselhos, variadas formas de
a estratégia para amenizar as desigualdades relação estabelecidas entre a sociedade e o
existentes, além do déficit de cidadania de mi- Estado, embora não signifiquem participa-
lhões de pessoas que vivem em situação de ção direta nas decisões, correspondem a pro-
risco social total ou parcial. cessos que (por tornarem o Estado mais per-
meável à conquista de direitos) podem ser
O governo percebeu que o enfrentamento
entendidos, em sentido amplo, como momen-
da pobreza deve ser entendido como uma
tos de partilha do poder. São os casos, por
questão de construção de cidadania, de
exemplo, de audiências públicas democráti-
democracia, de empoderamento, de dar
cas, processos de consulta, fiscalização sobre
voz e vez às populações em situação de
ações de governo em canais formais, em reu-
pobreza. [...] e que é importante estimu-
niões ou assembléias de bairros e entidades.
lar e apoiar o surgimento de entidades
Mas o objetivo de uma gestão democrática
comunitárias autônomas, redes e movi-
envolve, necessariamente, conferir à popula-
mentos próprios da população em situa-
ção que participa o real direito de decisão, e
ção de pobreza e evitar que os governos
não apenas consulta. Há diferença qualitativa
e as organizações não-governamentais as
entre espaços de deliberação e consulta que
substituam. Neste sentido, é essencial que
não pode ser subestimada.
as organizações comunitárias sejam reco-
A formalização dos canais de participa-
nhecidas enquanto tais, sem maior preo-
ção cidadã, de acordo com Renata Villas-Bôas
cupação com a sua profissionalização.
(1994), passa pela clara definição de atribui-
Deve-se evitar, portanto, a criação de
ções, critérios de representação e regras de
novos mecanismos que possam vir a subs-
funcionamento, e sua riqueza dependerá da
tituir essas mesmas organizações a pre-
dinâmica de funcionamento cotidiano que vai
texto de maior eficiência (Camarotti;
transformando a própria experiência (Villas-
Spink, 1999 (ou 2003), p. 192).
Bôas, 1994, p. 60). Com relação a esse ponto,
normalmente, enfrentamos os problemas decor-
Mecanismos de participação
rentes do grau ainda incipiente de organiza-
Um dos principais mecanismos de participa- ção da sociedade civil, que dificulta a criação
ção nas grandes cidades brasileiras é o conse- dos canais e prejudica a capacidade de res-
lho municipal. Esse canal de comunicação di- sonância das representações.
reta com a população surgiu e deu início a um Já para Bolívar Lamounier (1981), os
processo de desmistificação existente em se- canais de representação devem se tornar mais
2 Os municípios, em que
tores da população brasileira, que acreditavam densos e encontrar novas fórmulas de partici-
pese sua esdrúxula colocação que a sociedade não estava preparada para pação mais ágeis e diferenciadas, capazes de
entre os entes federativos,
o que torna a Constituição participar, que não se deveria compartilhar suplementar, mas não de substituir, a partici-
brasileira única no mundo,
continuam a ser divisões
governabilidade com a sociedade (pois esta já pação por meio de eleições clássicas. Por outro
dos estados, estes sim, participa votando) e que esses fatores atrapa- lado, lembra que não pode haver democra-
os verdadeiros núcleos do
pacto federativo. lhariam as tomadas de decisão. cia sem processos formais de representação,

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PARTICIPAÇÃO CIDADÃ, ONDE AVANÇAMOS, ONDE EMPERRAMOS?

embora esse discurso resulte, com certa fre- de tensão presentes são constitutivos do
qüência, no estímulo a fórmulas corporativistas próprio processo de busca de radicalização
de consulta, úteis como veículo de informa- da democracia.
ção antecipada aos que formulam políticas E apesar da idéia de democracia direta
públicas, mas escassamente eficazes como já ser discutida há muito tempo no Brasil, sua
mecanismos de controle sobre elas (Lamounier, prática ainda é algo inusitado. Para se alcançar
1981, p. 255). a cidadania ativa, teremos que vencer vários
O objetivo principal da participação obstáculos. Por exemplo: a apatia do eleitorado;
deve ser o de possibilitar o contato mais direto a pouca educação política; uma frouxa defini-
e cotidiano entre as pessoas e as instituições ção das atribuições, dos critérios de represen-
públicas, de forma a possibilitar que estas con- tação e das regras de funcionamento, pouco
siderem os interesses e as concepções polí- claros; um grau incipiente de organização;
tico-sociais daquelas no processo decisório. número insuficiente de pessoas
A participação envolve conduta ativa de cida- dispostas a participar; o funcio-
dãos e cidadãs nas decisões e ações públi-
cas, na vida da comunidade e nos assuntos de
namento precário dos canais de
participação criados pelo Estado,
A participação
interesse das coletividades de que sejam inte- entre outros.
grantes. Além disso, a participação na gestão Em um país como o Bra- envolve
pública, pretendendo-se democrática, não sil, com altíssimos patamares de
pode se limitar a este ou aquele segmento ou desigualdade social, a demo- conduta ativa
classe social. Ela deve garantir direitos iguais a cracia tem de ser vista como um
todas as pessoas, pois não existe critério pos-
sível para a exclusão a priori.
processo contínuo de lutas por
novas conquistas sociais, por
de cidadãos e
novos direitos de cidadania.
Assim, só será possível enfren-
cidadãs nas
Questão de atitude
tar e diminuir os problemas de
Com a criação de vários canais de participa- distribuição de renda, além de decisões e
ção, não se pretende que a sociedade as- implementar políticas sociais
suma as responsabilidades do poder público. que visem à melhoria da quali- ações públicas,
Pretende-se formar uma parceria na qual o dade de vida por meio de formas
Estado, entretanto, continue a exercer papel
central de regulação social e redistribuição da
criativas e inovadoras, com a par-
ticipação, a intervenção perió-
na vida da
riqueza e da renda. Uma vez que a pobreza e
a exclusão social são conseqüências dos im-
dica, refletida e constante nas
definições das políticas públicas.
comunidade e
pactos de políticas públicas, de prioridades e Embora nossa “Consti-
de escolhas, a superação delas também depen- tuição Cidadã” traga muita es- nos assuntos de
de de ação incisiva no campo das políticas perança para quem acredita na
públicas (ver Lamounier; Weffort; Benevides, radicalização da democracia, interesse das
1981, p. 10). Mas ainda falta atitude mais pro- ainda temos muitos problemas
positiva de cima para baixo, desbloqueando
os impasses que, ao não distribuir adequada-
para resolver. O texto constitu-
cional não estabelece distinção
coletividades de
mente as oportunidades, acabam por repro-
duzir – quando não produzem – a desigualdade
entre referendo e plebiscito, não
especifica, também, se as con-
que sejam
e a exclusão social. sultas são obrigatórias ou facul-
Hoje, a busca de novas estratégias para tativas, assim como não estabe- integrantes
a superação da pobreza requer novas relações lece se o resultado das consultas
com o Estado, com as diferentes organizações traduz compromisso vinculante
da sociedade civil e o setor privado. Com o sur- ou é meramente indicativo. Da mesma forma,
gimento de novos atores orientados para a não esclarece quais matérias podem (ou devem)
promoção de iniciativas conjuntas, são estabe- ser objeto de consulta e, conseqüentemente,
lecidas novas formas de diálogo, favorecendo o que deve ser excluído.
a construção de um espaço que é, claramente, Esses argumentos são irrefutáveis.
de interesse público. Mas é preciso ver, também, o lado positivo
Entretanto, há um longo e difícil cami- dessa nova fase, pois com a redemocratização
nho a ser percorrido. Com base em experiências do país surgiram novos movimentos sociais a
passadas, pode-se afirmar que os elementos partir da organização da sociedade e da

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OPINIÃO

*Luciano Cerqueira eclosão das pressões e das demandas popu- JACOBI, P. Descentralização municipal e participação dos
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dade juntos e por meio da participação cidadã. participação. São Paulo: Queiroz, 1981. p. 230-257.
E a participação democrática real só pode existir LAMOUNIER, B.; WEFFORT, F. C.; BENEVIDES, M. V. (orgs).
com a presença de duas condições: um con- Direito, cidadania e participação. São Paulo:
Queirós, 1981.
junto de cidadãos(ãs), entidades e movimentos FONTES, A. M. M.; REIS, H. C. (coords.). Orçamento público
sociais dispostos a participar e canais de parti- e desenvolvimento local. Rio de Janeiro:
cipação criados pelo Estado. Ibam/DES/NEL, 2002.
PRÁTICAS PÚBLICAS E POBREZA – Projeto especial do programa
Gestão Pública e Cidadania, volume 1, Fundação Getúlio
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REFERÊNCIAS pobreza: construindo a cidadania. São Paulo: FGV, 1999.
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– VILLAS-BÔAS, R. J. (org.). Participação popular nos popular nos governos locais, São Paulo,
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Reformas constitucionais na América do Sul3


Maurício Santoro
Jornalista, pesquisador do Ibase

No século 19, a América do Sul viveu guerras toca as relações entre as regiões. Que parcela
civis que opuseram liberais e conservadores em da riqueza deve se concentrar nas regiões em
temas como relações de poder central/provín- que são produzidas, como o oriente boliviano,
cias e Estado/Igreja. Ao fim de cada conflito, os a Amazônia equatoriana ou o litoral venezue-
vencedores promulgavam nova Constituição. lano? Quanto deve ser distribuído para áreas
No século 20, direita e esquerda se enfrenta- mais pobres ou usado para financiar políticas
ram nas urnas e, com freqüência, as forças de sociais para toda a população?
mudança social foram solapadas por golpes O aspecto mais polêmico das três refor-
militares. Neste início de século 21, os confron- mas diz respeito à ampliação dos poderes que
tos políticos se dão na Bolívia, no Equador e na serão concedidos ao presidente e ao número
Venezuela, em batalhas por novas Constituições de vezes que será permitida sua reeleição.
que procuram consolidar as mudanças sociais Muitos temem o enfraquecimento dos papéis
que estão em curso nesses países. Embora tais que o Legislativo e o Judiciário devem desem-
processos ainda estejam em andamento, já é penhar como fiscais dos direitos e das insti-
possível identificar pontos comuns entre eles. tuições democráticas. Tais controvérsias são
O primeiro é a insatisfação dos movimen- particularmente fortes na Venezuela, em fun-
tos sociais locais com os mecanismos tradi- ção da centralização política que aconteceu
cionais da democracia representativa, e seu no país desde que Hugo Chávez se tornou
desejo de complementá-los e fortalecê-los com presidente, em 1999.
instrumentos de participação popular. O caso Conflitos políticos são parte da demo-
boliviano é exemplar e remonta às mobiliza- cracia, e a capacidade de resolvê-los pacifi-
ções da década de 1990 pela valorização da camente é uma das medidas da saúde desse
3 Até o fechamento desta
edição, os processos comunidade rural indígena, o ayllu, e dos sis- sistema. Nesse sentido, cumpre observar que
constituintes no Equador temas de governo e de justiça dos povos pesquisa do Latinobarômetro,4 realizada em
e na Bolívia ainda não
haviam sido concluídos.
aymara e quéchua. novembro de 2007, mostrou alto grau de
Na próxima edição, em Outro ponto crucial é a distribuição dos satisfação com o regime democrático na Bolí-
dezembro, publicaremos um lucros oriundos da exploração dos recursos via, no Equador e na Venezuela – entre 65%
artigo internacional mais
aprofundado sobre o tema. naturais: Equador e Venezuela são grandes e 67% da população. Como comparação, a
produtores de petróleo, a Bolívia, de gás Argentina está com 63%, taxa baixa para seus
4 Pesquisa realizada há
12 anos pela Corporación natural. No passado, tais riquezas foram apro- padrões históricos que, em geral, estiveram
Latinobarómetro, ONG priadas por pequenas elites. Nas reformas acima de 70%. No Brasil, no México, no Chile,
chilena, com sede em atuais, ganha destaque a luta para o controle na Colômbia e no Peru, o índice registrado
Santiago, que pretende
medir as percepções das social dos hidrocarbonetos, até mesmo no que foi entre 43% e 48%.
populações latino-americanas
a partir de sua realidade
econômica e social.

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