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SISTEMA DE ENSINO PRESENCIAL CONECTADO

SERVIÇO SOCIAL

NOME DO ALUNO

OS 30 ANOS DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - AVANÇOS E


DESAFIOS.

NILOPOLIS/RJ
2020
NOME DO ALUNO

OS 30 ANOS DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - AVANÇOS E


DESAFIOS.

Trabalho de Atividade Interdisciplinar Individual.


apresentado à Universidade Norte do Paraná -
UNOPAR, como requisito parcial para a obtenção de
média bimestral na disciplina, Pesquisa Social/Pesquisa
Social e Oficina de Formação; Políticas Setoriais e
Políticas Setoriais Contemporâneas; Gestão Social e
Análise de Políticas Sociais; Instrumentalidade em
Serviço Social

Orientador: Prof. Patrícia Soares Alves da Silva; Paulo


Sergio Aragão; Maria Angela Santini; Amanda Boza
Gonçalves.

NILÓPOLIS/RJ
2020
SUMÁRIO

I-
INTRODUÇÃO.............................................................................................................3

II- DESENVOLVIMENTO.............................................................................................4

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE....4

O DIREITO BRASILEIRO DO ANTIGO AO MODERNO.............................................5

O ECA (UMA NOVA PERSPECTIVA)........................................................................10

ECA 25 ANOS: CONFIRA LINHA DO TEMPO SOBRE OS DIREITOS DE


CRIANÇAS E
ADOLESCENTES,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,,11

AS FRAGILIDADES DA REDE DE PROTEÇÃO DA INFÂNCIA E DA


JUVENTUDE..............................................................................................................23

GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E INTERSETORIALIDADE: DIÁLOGO E


CONSTRUÇÕES ESSENCIAIS PARA OS CONSELHOS MUNICIPAIS..................24

SERVIÇO SOCIAL NA AREA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA......................27

CONCLUSÃO.............................................................................................................34

REFERÊNCIAS..........................................................................................................35
3

1 INTRODUÇÃO

Conforme ressalta Corral (2004), nas antigas sociedades (grega ou


romana) a criança e o adolescente sequer eram considerados suscetíveis de
proteção jurídica, senão meros objetos de propriedade estatal ou paternal,
caracterizados por um estado de imperfeição que se perdia somente com o passar
do tempo, e unicamente suavizado por um dever ético-religioso de piedade. Só
recentemente é que começaram a olhar para a criança e o adolescente como uma
pessoa no sentido pleno do termo, permitindo-lhe atingir direitos e liberdades de que
são beneficiários como condição geral, mesmo no período de tempo durante o qual
estão em processo de formação. Igualmente, é cediço que a condição econômico-
financeira, a era em que viveu, a criação dada pela família, a cultura na qual está
inserida e, para aqueles que acreditam a sorte ou o destino, são algumas das
diversas conjunturas probantes que a infância acontece de forma distinta para cada
criança, trazendo a cada uma delas experiências diversificadas que contribuirão de
forma benéfica, ou não, em todos os estágios de sua evolução, até a conquista da
fase adulta.
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2 DESENVOLVIMENTO

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

No decorrer da história crianças e adolescentes deixam de ser


tratados como meros objetos de proteção e passam a condição de sujeitos de
direito, tendo como resultado a garantia imediata da doutrina da proteção integral.
Isso porque um dos princípios fundamentais da República brasileira é a dignidade da
pessoa humana, dando ênfase a crianças e adolescentes, que hoje são
reconhecidos como centro autônomo de direitos e valores essenciais a realização
plena de sua condição como pessoa humana e em constante desenvolvimento.
Na família romana o poder paterno (pater familiae) e marital, era
exercido pelo chefe da família, o pai que era a autoridade familiar e religiosa,
incumbido no cumprimento dos deveres religiosos.
Como autoridade o pai exercia poder absoluto sobre seus filhos,
enquanto vivessem na mesma casa, independentemente de menoridade, não
havendo naquela época distinção entre maioridade e menoridade. Os filhos eram
tratados não como sujeitos de direito, mas como objeto de relações jurídicas, em
que o pai exercia sobre eles um direito de proprietário.
O pai tinha o poder de decidir sobre a vida e a morte de seus
descendentes. “A educação formal era privilégio de poucos e até conquistar
autonomia, os filhos eram considerados propriedade dos pais.”. Grifos do autor.
Os gregos mantinham vivas apenas crianças saudáveis e fortes. Em
Esparta, cidade grega famosa por seus guerreiros, o pai transferia para um tribunal
do Estado o poder sobre a vida e a criação dos filhos, com objetivo de preparar
5

novos guerreiros. As crianças eram, portanto, “patrimônio” do Estado. No Oriente era


comum o sacrifício religioso de crianças, em razão de sua pureza. Também era
corrente, entre os antigos, sacrificarem crianças doentes, deficientes, malformadas,
jogando-as de despenhadeiros; desfazia-se de um peso morto para a sociedade. A
exceção ficava a cargo dos hebreus que proibiam o aborto ou o sacrifício dos filhos,
apesar de permitirem a venda como escravos.
As crianças não eram tratadas por seus pais como filhos, mas
representavam apenas aquilo que fosse de utilidade para a sociedade e para o
Estado.
A idade média foi marcada pelo crescimento da religião cristã com
seu grande poder de influência sobre os sistemas jurídicos da época. “Deus falava, a
igreja traduzia e o monarca cumpria a determinação divina”. O homem não era um
ser racional, mas sim um pecador e, portanto, precisava seguir as determinações da
autoridade religiosa para que sua alma fosse salva.
O Cristianismo trouxe uma grande contribuição para o início do
reconhecimento de direitos para as crianças: defendeu o direito à dignidade para
todos, inclusive para os menores.
Como reflexo, atenuou a severidade de tratamento na relação pai e
filho, pregando, contudo, o dever de respeito, aplicação prática do quarto
mandamento do catolicismo: “honra pai e mãe.”.
A Igreja através de seus dogmas passou a dar certa proteção aos
menores, como aplicação de penas corporais e espirituais aos pais que
abandonavam e expulsavam seus filhos. Em contrapartida a igreja discriminava os
filhos que fossem nascidos fora do matrimônio, pois indiretamente atentavam contra
a instituição sagrada, que naquela época era a única forma de construir família.
Apesar desse panorama histórico e da Igreja discriminar os filhos
nascidos fora do casamento, em função dos interesses alheios aos da criança, como
os relativos à propriedade, herança, alimentação entre outros, será necessário mais
adiante o reconhecimento da igualdade entre os filhos nascidos fora ou não do
matrimônio, para assegurar os direitos fundamentais dessas crianças e para o
próprio conceito moderno de sociedade.
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O DIREITO BRASILEIRO DO ANTIGO AO MODERNO

No Brasil-Colônia as Ordenações do Reino Unido se ampliaram em


sua aplicação. Os pais continuavam como autoridade máxima no seio familiar. Com
o objetivo de resguardar essa autoridade, era assegurado ao pai o direito de castigar
o filho como forma de educá-lo, sendo excluída a ilicitude da conduta do pai se no
exercício da aplicação do castigo ao filho, este viesse a falecer ou sofrer lesão.
Durante a fase imperial tem início a preocupação com os infratores,
menores ou maiores, e a política repressiva era fundada no temor ante a crueldade
das penas. Vigentes as Ordenações Filipinas, a imputabilidade penal era alcançada
ao sete anos de idade. Dos sete aos dezessete anos, o tratamento era similar ao do
adulto com certa atenuação na aplicação da pena. Dos dezessete aos vinte e um
anos de idade, eram considerados jovens adultos e, portanto, já poderiam sofrer a
pena de morte natural (por enforcamento).
Diante dessa política repressiva de usar a crueldade das penas
surge uma pequena alteração com o Código Penal do Império, de 1830, que
introduziu o exame da capacidade de discernimento para aplicação da pena.
Menores de 14 anos eram inimputáveis. Contudo se houvesse
discernimento para os compreendidos na faixa dos 7 aos 14 anos, poderiam ser
encaminhados para casas de correção, onde poderiam permanecer até os 17 anos
de idade.
O primeiro Código Penal dos Estados Unidos do Brasil manteve a
mesma linha do código anterior com pequenas modificações. Menores de 9 anos
eram inimputáveis. A verificação do discernimento foi mantida para os adolescentes
entre 9 e 14 anos de idade. Até 17 anos seriam apenados com 2/3 da pena do
adulto.
Com esse modelo de penalidade entre as faixas etárias para
crianças e adolescentes, com a finalidade de correção, ainda não era suficiente para
se chegar a uma política adequada de regeneração e valorização.
Vale lembrar que, diante da inexistência de instituições
especializadas para o atendimento dos menores de idade, os mesmos, quando
condenados, eram inseridos no sistema carcerário dos adultos, sofrendo os abusos
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decorrentes dessa promiscuidade.


No decorrer desses fatos, em 1926 surge o primeiro Código de
menores do Brasil, que foi publicado pelo decreto de nº 5.083.
Em 1926 foi publicado o Decreto nº 5.083, primeiro Código de
Menores do Brasil que cuidava dos infantes expostos e menores abandonados.
Cerca de um ano depois, em 12 de outubro de 1927, veio a ser substituído pelo
Decreto 17.943-A, mais conhecido como Código Mello Mattos. De acordo com a
nova lei, caberia ao Juiz de Menores decidirem-lhes o destino. A família,
independente da situação econômica, tinha o dever de suprir adequadamente as
necessidades básicas das crianças e jovens, de acordo com o modelo idealizado
pelo Estado. Medidas assistenciais e preventivas foram previstas com o objetivo
minimizar a infância de rua.
Já no campo infracional crianças e adolescentes até os quatorzes
anos eram objeto de medidas punitivas com finalidade educacional. Já os jovens,
entre quatorze e dezoito anos, eram passíveis de punição, mas com
responsabilidade atenuada. Foi uma lei que uniu Justiça e Assistência, união
necessária para que Juiz de Menores exercesse toda sua autoridade centralizadora,
controladora e protecionista sobre a infância pobre, potencialmente perigosa.
Já que no campo jurídico toda essa questão veio sendo abordada,
faltava no campo das políticas públicas da ênfase a essa questão, somente no
governo de Getúlio Vargas é que o Estado cria o Departamento Nacional da Criança
(1940), tendo como objetivo coordenar no âmbito nacional as atividades à infância.
O Serviço Social passa a integrar programas de bem-estar, desenvolvendo
atividades de amparo aos menores desvalidos e infratores, sendo criado então, em
1941, o Serviço de Assistência ao Menor (SAM). A ideia desse serviço era a retirada
de crianças e adolescentes das ruas e colocá-los em regime de internato com
quebra dos vínculos familiares, substituídos por vínculos institucionais. O objetivo
era recuperar e reintegrar o menor, adequando-o ao comportamento colocado pelo
Estado.
No entanto na década de 60 o SAM passou por severas críticas, não
cumpria mais com seu objetivo inicial, desvia-se da finalidade de recuperação
desses menores, passando estes a receber um tratamento extremamente violento e
repressivo. Nessas instituições começaram a surgirem problemas que motivaram
sua extinção, como: Superlotação, ensino precário, incapacidade de recuperação
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dos internos, entre outros.


A promiscuidade, a violência, o tratamento desumano, a atuação
repressiva dos “monitores”, as grades e muros altos, o distanciamento da população
através da organização interna das instituições garantiam a arbitrariedade e o
desconhecimento por parte da população do que acontecia “intramuros.”.
Com o golpe militar de 1964, interrompeu, entre muitos sonhos o de
modificar o tratamento precário e desumano a crianças e adolescentes. Diante dos
problemas que aconteciam e com a extinção do SAM, na tentativa de produzir uma
política para atender aos direitos infanto-juvenis, criou-se a FUNABEM (Fundação
Nacional do Bem-Estar do Menor), que era baseada na PNBEM (Política Nacional
de Bem-Estar do Menor) com gestão centralizadora e verticalizada. Legalmente a
PNBEM contemplava uma política pedagógica assistencialista, que na prática era
mais um instrumento de controle político autoritário exercido pelos militares, que
reproduzia a continuidade do tratamento desumano e repressivo.
Essas instituições deram prosseguimento, continuaram funcionando,
sob novas fachadas, abrangendo-se numa rede nacional de Fundações Estaduais
de Bem-Estar do Menor (FEBEMs). Estas com um discurso assistencial tentavam
esconder às arbitrariedades dos monitores, o despreparo dos técnicos, as situações
de extrema violência e o tratamento humilhante que os menores ali enfrentavam.
O abuso sexual, o tratamento humilhante, os milhares de relatos de
situações de extrema violência evidenciam que a PNBEM, embora tivesse um
discurso mais assistencial, escondia uma prática inaceitável. As denúncias na
imprensa, livros, documentários, grupos de defesa do menor geraram uma
mobilização social que se contrapunha a essa prática e exigia mudanças radicais.
Com a perceptível falta de respeito e tratamento adequado desses
adolescentes começam a surgir os debates, movimentos populares, em defesa
desses menores.
No final dos anos 60 e início da década de 70 iniciam-se debates
para reforma ou criação de uma legislação menorista. Em 10 de outubro de 1979 foi
publicada a Lei nº6.697, novo Código de Menores, que, sem pretender surpreender
ou verdadeiramente inovar, consolidou a doutrina da Situação Irregular.
Durante todo este período a cultura da internação, para carentes ou
delinquentes foi a tônica. A segregação era vista, na maioria dos casos, como única
solução.
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Com o desgaste e a necessidade de mudar todo esse panorama


legal, a sociedade civil brasileira, mediante formas de mobilização, articulação e
organização reivindicam um novo pacto político-jurídico social, resultado numa
profunda modificação no tratamento das crianças e adolescentes (VOLPI, 2001,
p.31).
Em 1990, já completamente desgastada pelos mesmos sintomas
que levaram à extinção do SAM, a FUNABEM foi substituída pelo CBIA- Centro
Brasileiro para infância e Adolescência. Percebe-se, desde logo, a mudança
terminológica, não mais se utilizando o estigma menor, mas sim “criança e
adolescente”, expressão consagrada na Constituição da República de 1988 e nos
documentos internacionais.
Com a Constituição de 1988 aconteceram significativas mudanças
em nosso ordenamento jurídico, bem como quebras de paradigmas que eram
necessários para reafirmar valores no nosso ordenamento sobre as crianças e os
adolescentes.
A intensa mobilização de organizações populares nacionais e de
atores da área da infância e juventude, acrescida da pressão de organismos
internacionais, como o UNICEF, foi essencial para que o legislador constituinte se
tornasse sensível a uma causa já reconhecida como primordial em diversos
documentos internacionais como a Declaração de Genebra, de 1924; a Declaração
Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas (Paris, 1948); a Convenção
Americana Sobre os Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica, 1969) e
Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e
da Juventude – Regras Mínimas de Beijing (Res.40/33 da Assembleia-Geral, de
29/11/85). A nova ordem rompeu, assim, com o já consolidado modelo da situação
irregular e adotou a doutrina da proteção integral.
Desse esforço foram aprovados os textos dos artigos 227 e 228 da
Constituição Federal de 1988, que introduziu a Doutrina de proteção integral a
crianças e adolescentes.
Ao colocar sob a responsabilidade da sociedade, além do Estado e
da família, o dever de assegurar à criança e ao adolescente os direitos
fundamentais, a Constituição Federal (art.227) abriu ensejo a uma participação
efetiva de todos na nobre tarefa.
Após a aprovação do texto na Constituição Brasileira, surge a
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necessidade de regulamentar e implementar o novo sistema, que faça com que


crianças e adolescentes passem a serem sujeitos de direitos, considerados como
pessoas em desenvolvimento e tratados com prioridade absoluta. Então no Brasil é
promulgada a lei 8.069, de 13 de julho de 1990, (o ECA), de autoria do Senador
Ronan Tito e relatório da Deputada Rita Camata.

O ECA (UMA NOVA PERSPECTIVA)

A lei 8.069, denominada Estatuto da Criança e do adolescente foi


criada para garantir a efetividade das garantias constitucionais no que tange aos
direitos fundamentais e a proteção integral da criança e do adolescente que ainda
não completaram 18 anos de idade, e que esta norma regula a relação destes
indivíduos com o Estado, a sociedade e a família.
O ECA surge nesse movimento de consolidação da Constituição
Federal, rompendo com a lógica do antigo Código de Menores. Os avanços de seu
texto merecem reconhecimento, porém, apesar de ser chamada de “lei moderna”, a
lógica de controle e dominação do Código de Menores perpetua-se. Muda-se o
discurso, mudam-se os procedimentos, mas muito ainda há que se percorrer para
superar as razões da tutela na intervenção da esfera pública nas demandas por
direitos da juventude. Nesse sentido, constata-se que, antes da aprovação do ECA,
um jovem era privado de sua liberdade para “sair das ruas” e parar de “oportunar a
ordem”; hoje, os jovens são privados de liberdade para se “reeducá-los”, “protegê-
los”, “ajuda-los”, enfim, para que as instituições executem o que a família não fez.
Observa-se, então, que na atualidade novas configurações se estabelecem e
produzem novas faces de controle e punição.
Também declara Barros em seu texto:
O Estatuto substituiu o antigo Código de Menores, Lei nº 6.698/79,
cuja incidência era voltada precipuamente ao menor em situação de irregular. Bem
ao contrário, com visão mais humana, o Estatuto da Criança e do Adolescente se
ampara sobre o pilar da proteção integral dos nossos jovens.
Toda sistemática formada por um conjunto de princípios e regras
que regem diversos aspectos da vida, desde o nascimento até a maioridade é
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amparada pelo princípio da proteção integral, o qual é mencionado no artigo 1º do


Estatuto da Criança e do adolescente.
Essa proteção integral tem o objetivo de tutelar a criança e o
adolescente de forma ampla, não se limitando apenas a tratar de medidas
repressivas contra seus atos infracionais. Pelo contrário, o Estatuto dispõe sobre
direitos das crianças e dos adolescentes, formas de auxiliar sua família, tipificação
de crimes praticados contra o menor, infrações administrativas, tutela coletiva entre
outros.
Por isso o Estatuto da Criança e do Adolescente é considerado uma
lei especial, pois abrange matérias de diversas áreas jurídicas, como trabalhista,
penal, processual e administrativa, organizado de forma sistemática regula aspectos
e desdobramentos do direito voltado à tutela da criança e do adolescente.
As crianças e adolescentes possuem direitos fundamentais como: o
Direito à Vida e à Saúde; o Direito à Liberdade, Respeito e Dignidade; o Direito à
Convivência Familiar e Comunitária; o Direito à Educação, ao Esporte, à Cultura e
ao Lazer; o Direito à Profissionalização e Proteção no Trabalho, tendo o Estado,
juntamente com a família e a sociedade o dever de garantir à criança e ao
adolescente condição dignas para seu completo desenvolvimento.
Nesse sentido menciona, “in verbis”:
Art. 4º. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e
do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária (ECA).
Tanto o artigo 4º como o 3º e 5º do ECA reproduzem a aplicação
das normas da Constituição, para a efetivação dos direitos fundamentais das
crianças e dos adolescentes.
Para aplicação desses direitos e normas constitucionais o ECA traz
medidas de proteção que garantem a essas crianças e adolescentes quando
violados esses direitos, bem como ainda dão a esses como forma de sanção e
oportunidade de ressocialização a aplicação das medidas socioeducativas.

ECA 25 anos: confira linha do tempo sobre os direitos de


crianças e adolescentes
12

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 25 anos de


existência nesta segunda-feira, 13 de julho. Contudo, ações de assistência e
proteção de crianças e adolescentes começaram no Brasil desde a época colonial
com a criação da "Roda dos Enjeitados" e chegaram aos debates recentes no
Congresso sobre mudanças na maioridade penal. Para entender melhor a legislação
e ações do Estado em relação ao setor, o Portal EBC produziu uma linha do tempo
com datas e fatos históricas relacionadas ao tema.
 
1º de Janeiro de 1726
Crianças são abandonadas para caridade nas "Rodas dos Expostos"

A atenção às crianças no Brasil português tinha caráter religioso. Em 1726, a


Irmandade da Santa Casa de Misericórdia criou a primeira "Roda dos Expostos", na
Bahia. Tratava-se de compartimento cilíndrico instalado na parede de uma casa que
girava de fora para dentro. A criança era colocada ali para ser abrigada e criada pela
entidade, preservando a identidade de quem a abandonava. A medida foi
regulamentada em lei e se tornou a principal forma de assistência infantil nos
séculos 18 e 19. Popularmente, também era conhecido por “Roda dos Rejeitados”.

11 de Outubro de 1890
Código Criminal da República determina penalização de crianças entre 9 e 14
anos
13

Em 1890 cria-se o Código Criminal da República para conter o aumento da violência


urbana. A responsabilização penal passa a considerar a Teoria do Discernimento.
Assim, crianças entre 9 e 14 anos são avaliadas psicologicamente e penalizadas de
acordo com o seu "discernimento" sobre o delito cometido. Elas poderiam receber
pena de um adulto ou ser considerada imputável.
 Imagem:
O Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, Chefe do Governo Provisório da
Republica dos Estados Unidos do Brazil decreta o 1º Código Criminal da República
quase um ano depois da proclamação da República no Brasil. Imagem do quadro
"Proclamação da República", de 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto (1853-
1927).

5 de Janeiro de 1921
Idade mínima para responder criminalmente passa a ser de 14 anos

A lei nº 4.242 tratou da assistência e proteção de "menores abandonados" e


"menores delinquentes", sendo regulamentada posteriormente em 1923 por decreto.
Aqueles jovens autores ou cumplices de crime ou contravenção, considerados
"menores delinquentes", tornaram-se imputáveis até os 14 anos, não valendo mais a
Teoria do Discernimento de 1890.

Imagem:

O artigo 24 que regulou a lei 4.242 afirmava que "o menor de 14 anos, indigitado
autor ou cumplice de facto qualificado crime ou contravenção, não será submetido a
14

processo penal de espécie alguma; a autoridade competente tomará somente as


informações precisas, registrando-as, sobre o facto punível e seus agentes, o estado
physico, mental e moral do menor, e a situação social, moral e econômica dos pais,
ou tutor, ou pessoa em cuja guarda viva.”.

20 de Fevereiro de 1926
Caso Bernardino: menino é violentado na prisão

O engraxate Bernadino, de 12 anos, foi preso ao jogar tinta em uma pessoa que saiu
sem pagar pelo serviço. Colocado em uma prisão junto a 20 adultos, o menino negro
foi violentado de várias formas e jogado na rua. Levado para um hospital, narrou o
ocorrido para jornalistas. O caso ganha repercussão e mobiliza debates sobre locais
específicos para destinar crianças que cumpram algum tipo de pena. 

14 de Dezembro de 1932
Com reforma penal, Vargas consolida mudanças na idade penal para 14 anos.

Em 1932, realizou-se uma reforma maior do Código Penal Brasileiro para validar
várias alterações já feitas desde 1890, entre elas a mudança maioridade penal de 9
para 14 anos.
15

Imagem:
O Decreto nº 22.213, de 14 de dezembro de 1932, conhecido como Consolidação
das Leis Penais, afirmaram novamente, em seu art. 27, §1º, que não são criminosos
os menores de 14 anos.

5 de Novembro de 1941
Serviço de Assistência a Menores (SAM) é criado para atender todo o Brasil

Institui-se o Serviço de Assistência a Menores (SAM), primeiro órgão federal a se


responsabilizar pelo controle da assistência aos menores em escala nacional.
Atendia aos "menores abandonados" e "desvalidos", encaminhando-os às
instituições oficiais existentes, e aos "menores delinquentes", internando-os em
colônias correcionais e reformatórios.
Imagem:
O modelo de assistência centralizada aos menores de 18 anos foi instalado no
Governo Getúlio Vargas.

1º de Dezembro de 1964
Militares criam FUNABEM e FEBEMs

Após o golpe de 64, os militares extinguem o SAM e criam a Fundação Nacional do


Bem-Estar do Menor (Funabem) e a Política Nacional do Bem-Estar do Menor
(PNBEM), que deveriam coordenar todas as ações na área. A questão da infância
16

passou a ser tratada como problema de segurança nacional e deu origem às


Febems em nível estadual.
Imagem:
A Funabem e Febems receberam muitas críticas de diferentes setores da sociedade
pelas fugas constantes, violência interna e ineficácia na ressocialização dos jovens.

19 de Junho de 1975
CPI do Menor investiga situação da criação desassistida

Foi a 1ª Comissão Parlamentar de Inquérito (CPMI) destinada a investigar o


problema da criança desassistida no Brasil, contribuindo para a elaboração de um
novo Código de Menores.
Imagem:
Em 1974 o Senador Nelson Carneiro apresenta projeto de reformulação do Código
de Menores que não vai à votação. Em 1975 e 1976, o Congresso Nacional realiza
um "CPI do Menor" para analisar a violência do Estado contra crianças e jovens.

10 de Outubro de 1979
2º Código de Menores adiciona doutrina de proteção integral

Em 1979, é promulgado um novo Código de Menores. Ele traz a doutrina da


proteção integral presente na concepção futura do ECA. Porém, baseia-se no
mesmo paradigma do menor em situação irregular da legislação anterior de 1927.
17

Imagem:
O Código permitia ao Estado recolher crianças e jovens em situação irregular e
condená-los ao internato até a maioridade.

5 de Outubro de 1985
Ciranda da Constituinte marca aprovação da emenda na Constituição

No dia em se votou no Congresso a Emenda Criança (que deu origem aos artigos
227 e 228 da Constituição), mais de 20 mil meninos e meninas fizeram uma
"Ciranda da Constituinte" em torno do Congresso Nacional.

1º de Março de 1988
Entidades da sociedade civil criam Fórum de Defesa das Crianças e
Adolescentes

O Fórum Nacional de Entidades Não-Governamentais de Defesa dos Direitos da


Criança e do Adolescente (Fórum DCA) é criado a partir do encontro de vários
segmentos organizados de defesa da criança e do adolescente. Teve papel
preponderante no processo de discussão e elaboração da Nova Constituição e do
ECA.

Imagem:
Em vigor até hoje, a principal tarefa do Fórum é lutar pela efetivação dos direitos das
crianças e dos adolescentes por meio de proposição e monitoramento das politicas
públicas. Fotografia do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
(Conanda) que reuniu-se nos dias 12 e 13 de julho de 2017 para a 263ª Assembleia
18

Ordinária do colegiado e para celebrar os 27 anos do Estatuto da Criança e do


Adolescente (ECA).

5 de Outubro de 1988
Artigo 227 torna-se base para a criação do ECA

O artigo 227 da Constituição Federal de 1988 estabelece como dever da família, da


sociedade e do Estado "assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com
absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão".

13 de Julho de 1990
Nasce o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

Aprovado no Congresso Nacional, Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é o


marco legal que reuniu reivindicações de movimentos sociais que trabalhavam em
defesa da ideia de que crianças e adolescentes são também sujeitos de direitos e
merecem acesso à cidadania e proteção. O ECA foi publicado sobre a lei federal nº
8069. 
Imagem:
Reproduz grande parte da Convenção Internacional dos Direitos das Crianças e da
Declaração Universal dos Direitos da Criança de 1979, sendo reflexas leis
internacionais.
19

2 de Setembro de 1990
Brasil assina Convenção Internacional sobre os Direitos da Criança

A Convenção Internacional sobre os direitos da Criança é um tratado aprovado na


ONU em 20 de novembro de 1989, o Brasil para assegurar os direitos da criança
mundialmente. Apesar de o Brasil ter se baseado no documento para redigir o ECA,
o Estado Brasileiro somente ratificou o tratado no Brasil em 1990.
 
Imagem:
O decreto 99.710 de 1990 declara em seu artigo 1º que "a Convenção sobre os
Direitos da Criança, apensa por cópia ao presente Decreto, será executada e
cumprida tão inteiramente como nela se contém".

1º de Janeiro de 1993
Criada Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Criança e Adolescente

Criada nacionalmente em 1993, a formação desse movimento suprapartidátiro com


a participação de 49 deputados e 13 senadores, coordenado, na época, pela
deputada Rita Camata e pelo deputado Aloizio Mercadante. A frente tem origem
durante as mobilizações em torno da Assembleia Nacional Constituinte.
 
Imagem:
Em 2003, dez anos depois, a Frente Parlamentar foi revitalizada, passando a ser
integrada pelo número recorde de 133 deputados e 25 senadores, sob a
coordenação da senadora Patrícia Saboya (PSB-CE), no Senado, e das deputadas
Maria do Rosário (PT-RS) e Telma de Souza (PT-SP), na Câmara.
20

1º de Janeiro de 2003
Governo federal assume Disque 100 para receber denúncias

O Disque Denúncia foi criado em 1997 por organizações não-governamentais que


atuam na promoção dos direitos das crianças e dos adolescentes. Mas em 2003,o
serviço passou a ser de responsabilidade do governo federal chamando Disque 100
- Disque Direitos Humanos.
 
Imagem:
Somente em 2014, o Disque 100 registrou 91.342 denúncias sobre violação de
direitos de crianças e adolescentes, com o relato principalmente de casos de
negligência, violência psicológica, física e sexual.

1º de Maio de 2003
Crimes bárbaros pautam discussão sobre maioridade penal

Sempre que acontece no país algum crime bárbaro cometido por adolescentes o
tema da redução da maioridade penal retorna à pauta política. Em 2003, o tema
voltou com muita força após o assassinato do casal de namorados Liana
Friedenbach e Felipe Silva Café, em São Paulo, cometido por um adolescente
(Champinha) e quatro adultos.
Imagem:
Champinha, atualmente com 28 anos, segue internado na Unidade Experimental de
Saúde, na Vila Maria, onde está há nove anos.
21

1º de Junho de 2003
CPI reforça campanha contra exploração sexual

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) foi criada para investigar as


redes de exploração sexual de crianças e adolescentes. Durou até julho de 2004
com críticas de parte dos movimentos sociais sobre o esvaziamento do debate sobre
outras temáticas importantes.
Imagem:
A Comissão recebeu mais de 800 denúncias de exploração sexual, visitou 22
estados, promoveu 20 diligências, ouviu 285 pessoas e analisou 958 documentos.

1º de Novembro de 2003
Brasil entrega primeiro relatório da Convenção da ONU

O Estado brasileiro deveria ter feito um relatório sobre implementação da


Convenção Internacional dos Direitos da Criança em 1992, e em seguida, a cada
cinco anos. Mas o Brasil deixou de cumprir essa obrigação por mais de dez anos.
Imagem:
Em novembro de 2003, o governo da época encaminhou ao Comitê da ONU um
primeiro informe com o panorama da situação da infância no Brasil entre 1991 e
2002.
22

1º de Abril de 2015
Eleições para Conselho Tutelar acontecem em todo o Brasil

As eleições dos conselheiros tutelares, responsáveis por zelar pelo cumprimento dos
direitos da criança e do adolescente, passaram a acontecer de forma unificada em
todo o país. O processo de inscrição começou em abril. As eleições diretas
acontecem em outubro.
 Imagem:
A determinação de uma data única para a escolha dos conselheiros foi definida pela
Lei Federal nº 12.696/2012, que também assegurou a esses profissionais direitos
como licença maternidade e paternidade, cobertura previdenciária e férias.

2 de Julho de 2015
Câmara aprova emenda que reduz maioridade penal para 16 anos

Sob o comando do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), em menos de


24 horas a Câmara dos Deputados rejeito e em seguida aprovou a redução da
maioridade penal no começo da madrugada do dia 2 de julho. A emenda substitutiva
reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos para crimes hediondos, homicídio
doloso e lesão corporal seguida de morte.
 Imagem:
23

Aprovado debaixo de polêmica, o texto ainda será votado em segundo turno na


Câmara e, caso aprovado, no Senado.

AS FRAGILIDADES DA REDE DE PROTEÇÃO DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.609/90, sofreu


algumas alterações desde a sua entrada em vigor. Considerando que tem por objeto
a proteção integral de sujeitos em um estágio peculiar de desenvolvimento, a família
é o principal e o primeiro núcleo, não o único, de exteriorização dessa política.
Para tanto, considerando que as constituições familiares estão
ganhando dimensões, entendimentos e configurações que superam a visão
patriarcal (pai do sexo masculino, mãe do sexo feminino e filhos), entende-se que
tais modificações visam a adequação da norma as novas realidades. Afinal, os
vínculos afetivos estão sendo valorizados, não sendo exclusividade dos laços civis e
sanguíneos da constituição de uma família.
Reconhecendo a complexidade da realidade social, a Lei 12.010 de
2009, popularmente conhecida como a “nova Lei de adoção”, trouxe para o
microssistema de atendimento de crianças e jovens, a importância da
municipalização da política de atendimento, aproximando o gestor da realidade local
em consideração a diversidade oriunda da dimensão geográfica do Brasil.
Conforme o artigo 226 da CF/88, a família é a base do Estado e
recebe proteção especial, ou seja, o ECA – no sentido do texto constitucional –
reitera a importância desse convívio para o pleno desenvolvimento do sujeito de
direito.
Analisando essa fragilidade, ressalta-se as consequências que ela
acarretam para a realidade das crianças e adolescentes. Além, a comunicação
24

otimiza as ações e garante que todos os informados se coloquem a disposição


desenvolvendo a totalidade do seu potencial.
Além, a capacitação permite o fortalecimento da compreensão
formal por parte dos agentes. Os entendimentos de cunho intimo devem ser
afastados em respeito á realidade social dos jovens e infantes. Afinal, por mais que
apresentem limitações de ordem econômica, cultural, intelectual, é o que compõe a
história desses sujeitos.
Não se pode instituir um padrão de vida para uma sociedade
plurima, cabendo respeito as diversidades, sendo inviável julgar qual família é mais
adequada para o atendimento das necessidades do cidadão em desenvolvimento. A
melhor entidade será sempre a família de origem, salvo nos casos extemos que
coloquem em risco a dignidade e a vida.

GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS E INTERSETORIALIDADE: DIÁLOGO E


CONSTRUÇÕES ESSENCIAIS PARA OS CONSELHOS MUNICIPAIS

Com o advento da constituição federal brasileira de 1988 (brasil,


1999), institui-se um reordenamento das relações socioinstitucionais na gestão das
políticas públicas. a gestão das ações sociais públicas passa a ancorar-se na
parceria entre estado e sociedade porque “a gestão social tem, com a sociedade e
com os cidadãos, o compromisso de assegurar, por meio das políticas e programas
públicos, o acesso efetivo a bens, serviços e riquezas da sociedade. por isso
mesmo, precisa ser estratégica e consequente" (carvalho, 1999, p.15).

Assim, o atual contexto da gestão social exige que o conjunto das


políticas públicas e as instituições que as programam redimensionem o processo de
formular e operacionalizar suas estratégias e ações. Além disso, a instauração de
modelos flexíveis e participativos que envolvam negociação e participação dos
usuários e demais interlocutores nas decisões e ações das diversas políticas
públicas. As relações partilhadas entre Estado e sociedade passam a determinar
mudanças na cultura das instituições públicas e de seus agentes nas capacidades
propositivas.
25

Destaca-se, nesse movimento de democratização e participação, a


descentralização como um processo de transferência de poder dos níveis centrais
para os periféricos. Pode ser considerada como uma estratégia para reestruturar o
aparelho estatal, não para reduzi-lo, mas para torná-lo mais ágil e eficaz,
democratizando a gestão através da criação de novas instâncias de poder e
redefinindo as relações entre Estado e sociedade. Demarca-se, então, uma nova
ordem ético-política para compor estratégias, ações e relações entre as diferentes
áreas das políticas públicas, as esferas organizacionais e os sujeitos sociais,
fundamentada pela democracia, autonomia e participação (JUNQUEIRA, 1999).
À essa reestruturação requerem algumas precondições que passam
pela garantia do acesso às informações necessárias para a gestão, garantia de
assento aos segmentos subalternizados socialmente na composição dos conselhos
e à transparência dos processos de gestão e tomada de decisões. Como categorias
constitutivas do processo de descentralização, a democracia, a autonomia e a
participação, redefinem as relações de poder e a ação compartilhada do Estado e da
sociedade civil na provisão de bens e serviços que atendam às necessidades
humanas básicas (STEIN, 1997).
Nessa lógica, a Carta de Ottawa (2006) enumera pré-requisitos
envolvendo a garantia de condições básicas e recursos fundamentais indispensáveis
quando se tem por objetivo melhorar a qualidade de vida da população assistida.
São eles: paz, abrigo, educação, alimentação, recursos econômicos, ecossistema
estável, recursos sustentáveis, justiça social e equidade. Salienta que para
concretizar essas condições básicas e as expectativas da população é preciso
seguir algumas estratégias: advogar a favor da saúde como um recurso de
fundamental importância para o desenvolvimento social, econômico e pessoal e para
a qualidade de vida; capacitar a população, com o objetivo de reduzir as
desigualdades existentes e garantir a igualdade de oportunidades, facilitando o
acesso a informações, melhorando as condições de vida que permitam opções
saudáveis. Esses requisitos para garantir a promoção da saúde demandam ações
coordenadas entre diferentes áreas e setores, sistemas sociais, culturais e
econômicos, de abrangência local ou regional. Precisam contar com a participação
social na gestão das políticas públicas, o que ocorre através dos conselhos
gestores, que estabelecem um canal aberto de comunicação e decisões entre a
população e o poder público.
26

A experiência brasileira (a partir de 1990) tem mostrado que a


participação social na gestão das políticas públicas vem se ampliando desde a
formalização dos conselhos gestores de políticas públicas, a instituição dos fundos
orçamentários e a elaboração dos planos na atenção local. Essas políticas são
reconhecidas como instrumentos necessários que fortalecem o processo de
descentralização para assegurar os interesses da grande maioria da população.
Dessa forma, entram em cena novos atores na gestão dos serviços públicos com
atribuições partilhadas, resignificando as relações de poder em prol de decisões e
práticas intersetoriais que assegurem o acesso e a efetivação de direitos sociais.
Os limites atingidos pelas formas tradicionais de conceber e
operacionalizar a intervenção no campo das políticas públicas provoca a
desarticulação interinstitucional e a falta da integralidade na atenção ao conjunto dos
direitos sociais, não respondendo mais aos graves e complexos problemas sociais
historicamente vivenciados por uma parcela significativa da população brasileira.
Frente a isso, coloca-se a intersetorialidade, alinhada à descentralização das
políticas públicas em vigência no Brasil, como uma alternativa capaz de encontrar
novos arranjos e novas articulações para o enfrentamento desses problemas.
O processo de descentralização das políticas públicas vem sendo
operacionalizado no Brasil há, aproximadamente, duas décadas, requerendo o
rompimento com as 'velhas concepções e práticas' que ainda permeiam as ações
assistenciais em diferentes áreas. A atenção às demandas sociais dá-se, via de
regra, de modo fragmentário, pontual, reparador e com sobreposições na oferta de
programas, projetos e serviços. Assim, há a necessidade urgente de estimular
alternativas na perspectiva de integralizar a atenção e o atendimento aos problemas
sociais, uma vez que o mundo se tornou mais complexo e vem produzindo
problemas e novas situações em que conhecimentos focalizados e fragmentados
são incapazes de explicar e nem a ação setorial, em si, é capaz de resolver
(AKERMAN, 1998).
27

SERVIÇO SOCIAL NA AREA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA

As percepções da necessidade de pessoal capacitado e da


profissionalização de diferentes esferas da atenção à infância estiveram presentes
nos CPNs desde a sua primeira edição. Entretanto, o aparecimento da atividade do
serviço social como 'a principal nova profissão' para as ações voltadas à assistência
infantil foi sendo construído pouco a pouco e esteve registrado nos congressos.
Duas tendências eram identificadas. Uma ligada diretamente à área
da saúde. A outra, com enfoque mais amplo, vinculada à área social. A primeira se
apresentava como uma nova ferramenta destinada a amplificar e qualificar os
serviços de saúde infantil e materna e enfocava ações ligadas à saúde pública, à
higiene, à sanidade materno-infantil. O perfil profissional se aproximava ao da
"enfermeira visitadora" e, de acordo com Di Liscia (2005, p.111), implicava "maior
intromissão... nos lares pobres", objetivando "regular a vida doméstica com
indicações morais" e "higiênicas", atuando no combate ao abandono e na defesa da
lactância materna.
A segunda tendência objetivava colocar-se como um instrumento
amplo de ação sobre todas as dimensões das políticas e iniciativas assistenciais
para a infância e os setores pobres, vinculando-se à ampliação do rol de instituições
e à efetivação da nova assistência. Propunha reorganizar as atividades já existentes
e criar um sistema de assistência pautado pela técnica científica, eficiência, maior
abrangência, e coordenado pelo poder público. Como interpretaram Iamamoto e
Carvalho (1991) para o caso do Brasil, o Estado ampliava seu campo de intervenção
para coordenar a "gestão da assistência social", reforçando e centralizando a sua
"participação própria e regulando as iniciativas particulares", sendo necessário, para
concretizar essa nova forma de atuação, a "formação técnica especializada", ou
quadros capacitados, o que incluía a trabalhadora social (p.179, 188).
Ambas as tendências, a médica e a pública, pressupunham a
criação de novos métodos de ação, nos quais a aproximação da vida concreta da
população infantil e de sua família era fundamental para um melhor diagnóstico dos
possíveis problemas enfrentados por eles e para uma recomendação mais precisa
dos tratamentos reputados como necessários para mitigar os problemas.
28

Portanto, a trabalhadora social também deveria ser capacitada para


informar diferentes alternativas de soluções disponíveis (onde colocar, a quem
encaminhar o que fazer diante de certos 'tipos' de problemas), além de intervir
diretamente nos casos, indicando qual instituição ou profissional deveria ser
procurado para resolver o problema. Deveria ainda orientar organismos estatais,
como o Juizado de Menores, de qual era a real situação da criança ou do
adolescente e qual seria o tratamento mais recomendado a ser imposto pelo juiz, por
exemplo.
Nos CPNs, as duas tendências estiveram presentes, conforme
veremos.
Na busca de definir a área do serviço social, Júlio Bauzá (1928,
p.85), delegado oficial do Uruguai ao Quinto CPN e diretor do Servicio de Protección
a la Primera Infância de Montevidéu, apresentou, nesse evento, um panorama da
expansão do serviço social nas Américas e no mundo e afirmou que essa área seria
"o conjunto de esforços voluntários, tendentes por métodos científicos a corrigir
necessidades de ordem social", cuja finalidade também era a de "aumentar o bem-
estar social". Ele ainda caracterizou a profissão ao ressaltar a predominância do
aspecto médico, apesar de contemplar também a esfera da assistência, quando
afirmou que:
O serviço social é hoje um meio imprescindível para o tratamento
dos males de ordem higiênica e social... . As obras de assistência, de profilaxia geral
ou especial... não podem chegar a um resultado útil sem o concurso da
visitadora/trabalhadora social. As obras de proteção à criança, pré-natal ou pós-
natal, não podem dar resultado proveitoso máximo se não se as complementa com o
trabalho das visitadoras sociais. A higiene da criança em idade pré-escolar e
escolar, os tribunais dedicados a julgar os menores delinquentes requerem:
absolutamente o concurso da visitadora social (p.94).
Essa ênfase na questão médica diz respeito à maneira como o
serviço social foi implementado no Uruguai e a função atribuída a ele para atender a
novas demandas médicas, como aperfeiçoar os diagnósticos; ser mais preventivo,
evitando a busca desnecessária dos serviços de saúde infantil; difundir mais
incisivamente noções de higiene e cuidados sanitários às famílias populares (Ortega
Cerchiaro, 2003).
29

A outra tendência do serviço social propunha uma matriz mais ampla


e incisiva no âmbito das ações de assistência social e foi defendida pelo Museo
Social Argentino, no Sétimo CPN, ao apresentar sua Escuela de Servicio Social,
criada em 1930, com o objetivo de realizar "a formação de uma consciência coletiva
que levaria à organização científica da beneficência e da instrução de um pessoal
tecnicamente especializado, para que, com pleno conhecimento das causas e
efeitos da miséria, aplicasse os procedimentos e métodos do serviço social"
(Museo..., 1937, p.868).
Diversos estudos norte-americanos defenderam a profissão da
trabalhadora social como a fundadora de uma nova relação da infância e da família
popular com os aparatos estatais ou privados, na qual se combinariam assistência,
controle e prevenção social, ao se concretizarem as políticas de bem-estar.
Aqui, o serviço social era pensado como fator capaz de alterar a
concepção de como deveriam ser realizadas as ações no campo da assistência,
ganhando uma centralidade maior quando comparada à sua inserção na área da
saúde (nos serviços de saúde a assistente social era mais uma das ferramentas
disponíveis e atuava ladeada pelos médicos e pelas enfermeiras, por exemplo). Na
área assistencial, as trabalhadoras sociais tinham três campos de atuação: "atuar
nas obras de beneficência"; "promover a organização dos serviços sociais na
indústria e no comércio"; e, por fim, "trabalhar como pessoal técnico auxiliar nas
obras de proteção à infância abandonada ou delinquente" (Museo..., 1937, p.868).
Nesta divisão, havia matizes particulares, como no caso dos planos
de serviço social focados na vida infantil e familiar rural, a exemplo do México, onde
eram relevantes o campesinato e o mundo rural, potenciais fontes de instabilidade à
ordem pós-revolucionária. Atuar sobre esse universo era visto como indispensável
motivo pelo qual se reivindicava a especialidade da "Trabalhadora Social Rural". Na
verdade, os mexicanos Jenaro Vásquez e Gilberto Loyo, licenciados e
representantes do Departamento del Trabajo do México, propunham, no Sétimo
CPN, a especialização tanto na esfera urbana, quanto na rural, pois deveria ser
considerado "que as muito diversas condições sociais do meio rural e do meio
urbano" exigiam "na realidade duas classes de Trabalhadoras: a Trabalhadora
Social Urbana e a Trabalhadora Social Rural" (Vásquez, Loyo, 1937, p.852). Isso
denotava a importância atribuída ao serviço social para além do mundo das cidades
30

e do ambiente industrial, como o saber capaz de atuar sobre as diferentes


conjunturas direcionadas à manutenção da estabilidade social.
Com o passar do tempo, o espectro da atuação da trabalhadora
social ampliou-se ainda mais, tanto na esfera da infância, quanto na dos adultos,
estendendo-se às seguintes subespecialidades: serviço de saúde; serviços de bem-
estar; serviço de proteção à infância; serviço social escolar; serviço social na
indústria; serviço em instituições de assistência social; serviço para indivíduos e
grupos especiais.
Para a infância, essa profissional se colocava como apta a fiscalizar
e atuar em reformatórios, internatos, maternidades, centros de saúde, creches,
asilos, preventórios, berçários, Juízo de Menores, além de fazer a triagem do público
infantil para essas instituições e, também, monitorar a colocação familiar, tutelas e
famílias populares.
A trabalhadora social deveria exercer, conforme a circunstância, um
papel central ou complementar às áreas da saúde, da assistência, do direito e das
políticas sociais. Essa estreita colaboração entre as áreas atuantes com o público
infantil era outra forte característica sua. A ramificação da sua atuação ligava-se à
busca de qualificação científica dos procedimentos de intervenção social,
objetivando melhorar seus resultados, e, para isso, passavam a ser considerados as
causas dos problemas, os instrumentos para mitigar ou resolvê-los e a ampliação da
capacidade de atuação preventiva.
Na questão do método do serviço social, havia quase unanimidade a
respeito da sua capacidade de diagnose, de proposição de remédios e da
antecipação preventiva de futuros problemas (prevenção). Ou, como observa Julio
Bauzá (1928, p.85):
O serviço social pode ser considerado sob três aspectos.
Como paliativo, pondo um remédio momentâneo nos males sociais. Esse é o
procedimento mais seguido geralmente, o mais custoso e o de menor rendimento
útil. Algumas vezes tal procedimento pode chegar a ser curativo, ou seja, pode
conseguir não apenas aliviar, senão até curar um mal social. Mas o verdadeiro
serviço social, o que considera não os efeitos, mas as causas deve ser preventivo,
estudando e orientando as ações (grifos do original).
A concepção genérica do serviço social transformava-o em um
dispositivo inovador no plano da gestão social da pobreza, posto que o identificasse
31

como capaz de articular os problemas às soluções; de diagnosticar e mitigar, antes


mesmo de se concretizar, a 'anormalidade' na vida coletiva; de interferir de maneira
científica e terapêutica na experiência cotidiana da infância e das famílias pobres; de
mediar, muitas vezes, o destino contingente de sua clientela para com as instituições
ou outros profissionais como médicos, educadores, empregadores, agentes estatais,
psicólogos.
O principal método de trabalho era o do caso individual, o case work.
Ao seu lado, com o passar do tempo, foi desenvolvido o trabalho com grupos ou
comunidades, segundo sugestões dos estadunidenses King (professora da Scholl of
Social Service, Fordham University), Laureman (professora da National Catholic
School of Service Social) e Pettit (professor da National Catholic School of Service
Social), apresentadas no Oitavo CPN, ocorrido em Washington, EUA, 1942.
Surgidas durante e após a Segunda Guerra Mundial, tais sugestões pretendiam
maximizar o alcance das ações e enfrentar o impacto considerável na sua
organização social, ocasionado pela mobilização de sua população nos esforços da
guerra e expresso na ampliação da presença de mulheres no mercado laboral, na
destruição ou desestabilização de famílias pelo envio de homens ao conflito e suas
mortes ou traumas, no caso dos sobreviventes (King et al., 1942, p.569).
Para esclarecer os objetivos do case work, Bauzá (1928, p.89) citou
a doutora Mary Richmond, considerada fundadora do método: "o serviço de casos
individuais constitui o conjunto de métodos que desenvolvem a personalidade,
reajustando, consciente e individualmente entre eles o homem com seu meio social".
O caso individual permitia aproximar-se da criança e de sua família,
facilitando a percepção de um 'desajuste', uma 'anormalidade' ou carência e atuando
de modo a evitar o agravamento do problema e, se possível, restabelecer a suposta
normalidade. Para identificar as necessidades, era utilizado outro método, muito
caro à atividade: o diagnóstico social.
O diagnóstico social, de acordo com a fala, no Oitavo CPN, da
estadunidense Rose McHugh (1928, p.71), diretora de Investigações Práticas da
Seção de Ação Social da Conferência Nacional Católica do Bem-Estar Geral, de
Washington, objetivava elaborar um "parecer" sobre as carências, os fatores de
desajuste "reais" de sua clientela, avaliando variáveis multifatoriais como saúde,
educação, condições de vida e a personalidade dos "desajustados", propondo ações
32

para corrigir isso, ou, em outras palavras, "formular um plano para adaptá-los a
condições normais".
Identificando tais métodos como pertinentes à atenção à infância
pobre, foi aprovada, no Quinto CPN, a indicação de como o serviço social deveria
proceder sobre essa população, ao dispor que:
O trabalho social para a infância deve fundar-se no princípio de uma
investigação minuciosa. Deve preceder o tratamento e deve administrar o que as
necessidades de cada criança requeiram, de acordo com os resultados da
investigação. A aplicação desse princípio depende do manejo do trabalho social, por
trabalhadoras sociais, versadas nos métodos de pesquisa, capazes de recomendar
o tratamento adequado para cada criança, fundando-se nos dados adquiridos na
investigação e utilizando os meios acessíveis para o tratamento das crianças
(Congreso..., 1928, p.55).
Em síntese, essa nova profissão era apresentada como apta para
atuar num campo deixado de lado por outras atividades, o social. E legitimava-se
enquanto área específica do conhecimento ao estabelecer analogias de sua atuação
para com outras esferas de saber, como propôs a professora mexicana, Marisbel
Simons (1937, p.841), no Sétimo CPN, ao dizer que "a trabalhadora social, assim
como o médico e o psiquiatra, estabelece o diagnóstico social e o tratamento
adequado". A atenção à infância se apresentava como primordial, pelo fato de ser
percebida como o elemento social mais apto a ser modificado, corrigido, melhorado.
Se fosse possível abstrair questões políticas e classistas envolvidas
nos planos de reforma da assistência e da sua profissionalização com o serviço
social, seria necessário, inevitavelmente, considerar que as reformas e o trabalho
social propunham trazer melhoria e condições mais dignas para a criança pobre e
sua família. Isso quer dizer que, por exemplo, uma criança que no sistema anterior
poderia ser abandonada numa roda de expostos e ter como destino, quase certo, a
morte9, pelas novas instituições disponíveis, mas principalmente pela vigilância,
orientação, diagnóstico, e, se fosse o caso, a intervenção sobre as mães e os
recém-nascidos, poderia sobreviver e ter pelo menos o direito a existir assegurado, o
que era muito positivo.
A faceta política e classista da nova assistência, entretanto,
procurava construir uma ferramenta de tutela, vigilância, curiosidade, intromissão do
Estado na vida íntima e cotidiana da criança pobre e de sua família, muitas vezes
33

incrementando, pelos inovadores métodos de diagnóstico de problemas, as


'anormalidades' de uma e de outra. Por outro lado, ampliavam-se as circunstâncias
legitimadas para se intervir nas famílias pobres e nas crianças, o que foi comum na
América Latina, nas décadas de 1960 e 1970, com a implantação de fundações
voltadas para o bem-estar do menor que se caracterizavam pela centralização,
caráter autoritário e incisividade das políticas de intervenção (Pilotti, s.d.). Isso
afetou grande quantidade de famílias, retirando crianças de suas casas e
internando-as em estabelecimentos fechados, ou fixando uma vigilância sobre o
cotidiano familiar. Nesse aspecto, a profissionalização contribuiu para a
estigmatização da vida dos pobres, pois, para eles, seria cada vez mais difícil ser
normal: a pobreza passou a ser vista como uma patologia social. Essa faceta, em
minha opinião, permite graduar os benefícios produzidos pela introdução do serviço
social nas iniciativas de assistência, indicando que não é possível avaliar esse
evento como sendo simplesmente bom ou ruim, e permite desvelar pontos de tensão
e ambiguidades envolvidos na profissionalização da assistência à infância pobre.

CONCLUSÃO
34

Inicialmente foi feita uma abordagem histórica das várias legislações


pertinentes à infância e adolescência e como tais legislações tratavam a questão do
menor em conflito com a lei, traçando, desta maneira, uma linha evolutiva das
legislações vigentes no Brasil desde o Período Colonial até o surgimento do ECA e
sua doutrina de proteção integral.
Em seguida tratou-se de se verificar as garantias dadas pelo ECA às
crianças e adolescentes e os novos fundamentos destas garantias, embasadas na
doutrina de proteção integral destacando seus três pontos fundamentais, que
basicamente são, tratar prioritariamente crianças e adolescentes, atender ao
princípio do melhor interesse da criança e reconhecer a família como grupo social
primário de fundamental importância no crescimento, desenvolvimento e bem-estar
de seus membros, especificamente para as crianças.
Concluo tecendo um comentário pessoal em que evoluímos muito na
proteção das crianças e dos adolescentes no decorrer da história, é claro que temos
muito que melhorar, seja no reconhecimento de direitos, na aplicação e efetivação
de medidas de proteção ou socioeducativas do próprio Estatuto da Criança e do
Adolescente progredindo numa perspectiva de política mais adequada do sistema.
35

REFERÊNCIAS

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PROJETOS DE CIDADES SAUDÁVEIS: UM CONVITE AO PACTO

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