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1 VASCO PEREIRA DA SILVA - Verde Cor de Direito: Lições de Direito do Ambiente, 2002
2 JORGE MIRANDA - A Constituição e o Ambiente in Direito do Ambiente, obra colectiva, INA, 1994
3Neste
sentido, a anotação ao artigo 66.º da Constituição da República Portuguesa por MARIA DA GLÓRIA GARCIA e
GONÇALO MATIAs in MIRANDA, Jorge/MEDEIROS, Rui - Constituição Portuguesa Anotada, I, Coimbra, 2010
4 GOMES CANOTILHO - Procedimento Administrativo e Defesa do Ambiente in Revista de Legislação e Jurisprudência, nº 3802
5 JORGE MIRANDA - ob. cit.
6 VASCO PEREIRA DA SILVA - ob. cit.
7 VASCO PEREIRA DA SILVA - ob. cit.
subjectiva, que caracteriza o sentido e a função dos preceitos constitucionais. É a dimensão subjectiva
que fornece o conteúdo essencial dos preceitos, que não pode ser sacrificado a outros valores
comunitários”. Com efeito, mesmo quando, no artigo 9.º, alínea d) trata das tarefas estaduais, refere-se
expressamente aos direitos ambientais. No entendimento do Professor VASCO PEREIRA DA SILVA, o
direito ao ambiente deverá ser considerado como direito fundamental, não apenas em razão da
consagração constitucional de uma noção ampla de direitos fundamentais, como também pelo
fundamento axiológico enquanto manifestação da dignidade da pessoa humana e por apresentar uma
estrutura comum a todos os direitos fundamentais, de primeira, segunda ou terceira geração, isto é,
combina uma vertente negativa, correspondente a uma esfera protegida de agressões estaduais,
impedindo o Estado de agir, se essa acção puser em causa o ambiente sadio e ecologicamente
equilibrado, com uma vertente positiva, que obriga à intervenção dos poderes públicos de modo a
permitir a realização plena e efectiva de tais posições de vantagem e que se traduz em concretas
actividades de promoção de um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado ou de controlo de acções
capazes de o degradar.
Nesta lógica, os Professores MARIA DA GLÓRIA GARCIA e GONÇALO MATIAS apontam para a
existência de uma nova categoria de direitos humanos, onde o direito ao ambiente se insere, categoria
essa a que se vem chamando direitos/deveres ou direitos circulares. Assim, o direito fundamental ao
ambiente não seria um puro direito perante o Estado, mas, outrossim, um direito que “co-envolve o
dever de todos contribuírem para o que do Estado solicitam, isto é, em concreto a defesa do ambiente
sadio e ecologicamente equilibrado, o que abre espaço para a dimensão auto-reflexiva do direito”. 8
Deste modo, na perspectiva do Professor VASCO PEREIRA DA SILVA9, “o entendimento mais
correcto acerca dos direitos fundamentais é o de admitir a sua “dupla natureza”, já que, “por um lado,
eles são direitos subjectivos e, por outro lado, eles constituem “elementos fundamentais da ordem
objectiva da comunidade” (HESSE). Além disto, não se afigura justificável a distinção, aliás maioritária
na doutrina portuguesa, entre direitos de primeira, segunda, ou de terceira categoria, como seriam os
direitos subjectivos, os interesses legítimos e os e os interesses difusos. Será de preferir um tratamento
unificado, pois encontramo-nos perante “posições substantivas de vantagem, destinadas à satisfação de
interesses individuais, que possuem idêntica natureza ainda que podendo apresentar conteúdos
diferenciados, que são por isso de configurar como direitos subjectivos”. 10
No que respeita às consequências em termos de regime decorrentes da natureza jurídica do
direito ao ambiente, observa o Professor VASCO PEREIRA DA SILVA que não se devem separar o regime
dos direitos, liberdades e garantias e o dos direitos económicos, sociais e culturais, pois “estas regras
jurídicas devem ser aplicadas a todos os direitos fundamentais no que diz respeito às respectivas
vertentes negativa e positiva”. Assim sendo, e focando-nos no direito ao ambiente, será de aplicar o
regime jurídico dos direitos, liberdades e garantias, na medida da sua dimensão negativa, e o regime dos
direitos económicos, sociais e culturais, na medida da sua dimensão positiva”.
A consagração do direito fundamental ao ambiente surge-nos, então, como fundamento para a
existência de relações jurídicas administrativas de ambiente. Como ensina o Professor VASCO PEREIRA
DA SILVA 11 “o alargamento dos direitos subjectivos públicos com base nos direitos fundamentais
implicou, portanto, a reformulação do conceito de relação jurídica, obrigando a considerar como
sujeitos das ligações administrativas outros privados que não apenas aqueles a quem são aplicáveis
normas ordinárias de cariz indiscutivelmente subjectivo, ou que são os imediatos destinatários de actos
administrativos. Esses particulares, titulares de direitos subjectivos públicos, já não podem mais ser
considerados “terceiros” em face da Administração, ou perante aqueloutros privados imediatamente
destinatários da sua acutação, antes como autónomos sujeitos de uma relação multilateral, que tem de
incluir direitos e deveres recíprocos dos particulares (de cada um deles relativamente ao outro, ou
outros, e de cada um deles em face da autoridade administrativa) e da Administração (relativamente a
cada um dos particulares).
12 Neste sentido, VASCO PEREIRA DA SILVA - Em Busca do Acto Administrativo Perdido, Coimbra, 2003