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Capítulo No.29– O Caminho Para o Eu Real.

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O CAMINHO PARA O EU REAL


Capítulo n 29
by Eva Broch Pierrakos

O INDIVIDUO E A HUMANIDADE

Existem certas leis inalteráveis, que governam a vida, o crescimento, o


desenvolvimento, a evolução. Algumas dessas leis, suas reações em cadeia, causas e
efeitos, foram discutidas nestes capítulos e podem ser vivenciadas como fato por
qualquer um que não se esquive do esforço exigido pelo Pathwork. Essas são leis
naturais – tão impessoais quanto qualquer lei da natureza, sejam as leis que regulam a
eletricidade, a gravidade, fórmulas químicas ou leis psicológicas e espirituais. As
últimas não diferem em essência de qualquer lei física. Quanto mais o eu é explorado e
compreendido, melhor essa afirmação será entendida. Todos os organismos vivos
funcionam de acordo com essas leis; todos os níveis do individuo também – físico,
mental, emocional e espiritual.

As mesmas leis se aplicam ao macrocosmo e ao microcosmo; a organismos


unicelulares, a entidades individuais, bem como à humanidade como um todo. A
totalidade de todos os indivíduos – a humanidade – também é uma “entidade”. O
relacionamento de um indivíduo com a soma total de todos os indivíduos é o mesmo
que o relacionamento de uma célula no corpo humano com a pessoa inteira. Do mesmo
modo como um individuo pode ignorar certas motivações que inconscientemente guarda
no coração, o que o torna ambivalente e desarmônico, também a humanidade oculta
facetas “inconscientes” de si mesma – partes não compreendidas e que regem de
maneira infantil e destrutiva – o que causa conflito, dissensão e desarmonia.

De acordo com a ciência de hoje, sabe-se que cada átomo representa uma réplica do
universo. É um universo em si mesmo. Esse fator incorpora o mesmo princípio descrito
sobre o relacionamento entre a célula, o indivíduo e a humanidade. Mais uma vez, esses
conceitos podem, de início, ser apenas sentidos vagamente, como uma teoria que parece
ter validade. Quando se pensa neles profundamente, eles começam a assumir uma forma
mais definida e a se tornar concisos em sua estrutura, lógicos e equiparáveis a todos os
princípios e leis conhecidas no universo. Entretanto, uma profunda compreensão e
discernimento a este respeito, como acontece com qualquer outra realidade espiritual, só
pode advir do autoconhecimento.

Vamos agora dar uma olhada em uma comparação breve e geral entre o
desenvolvimento de um indivíduo e o da humanidade, coletivamente.

Ao bebê falta a consciência de seu ego, ou seja, não tem consciência de si mesmo,
nenhuma noção do eu. Tudo o que o bebê vivencia são impressões sensoriais – prazer
ou dor. Está completamente isolado em sua busca por seu próprio prazer sensorial. Não
pode ponderar o benefício duradouro ou a desvantagem do preço que ele próprio ou
outros possam ter que pagar para obter um prazer específico. Quer o que quer, a
qualquer preço. Em direta conexão com esse egocentrismo pueril, o bebê é dependente
de outros já que, nesse estado, não é capaz de cuidar de si mesmo.
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Quando um adulto explora os recônditos de sua psique, encontra um bebê egocêntrico,


irracional, insaciável, indefeso, dependente vivendo dentro dele. Ele se manifesta
sempre que houver problemas. Ou melhor, os problemas existem porque essas áreas
imaturas não puderam crescer até a superfície, expondo-se abertamente onde pudessem
ser confrontadas e tratadas com ponderação, inteligência, decência e justiça. Conflitos
não reconhecidos privam o indivíduo de liberdade, independência, livre escolha e
induzem à compulsão, à dependência de outrem, de circunstâncias, de opiniões, de
aprovação, de condições fora de seu controle. Isso significa que a pessoa em conflito é
sempre dependente de algum fator fora de sua esfera de influência e controle.
Egocentrismo, dependência, concepções errôneas, compulsão são diretamente
conectados e interdependentes de qualquer forma de agitação, caos, doença,
infelicidade, insatisfação. Fica comprovado o caráter incorreto da ideia geral do homem
de que seus problemas com os outros não tem nada a haver com seus próprios
problemas internos quando ele testa a si mesmo em uma situação em que se deixar
perturbar por outros. É praticamente impossível sentir-se, ao mesmo tempo, bem
consigo mesmo. Isso prova a conexão profunda entre o eu e os outros. Por um lado, a
preocupação com os outros, amor, independência, liberdade, honestidade, conceitos
corretos, realismo, um senso de responsabilidade estão diretamente conectados com
saúde, felicidade, realização em todo aspecto possível. Não se trata de punição ou
recompensa, mas do simples funcionamento de leis imutáveis. O trabalho no caminho
deve comprovar isso extensivamente.

Se o bebê com sua mentalidade egocêntrica e irresponsável, tivesse, simultaneamente,


os poderes psíquicos de um adulto, ele destruiria a si mesmo e a tudo que o cerca.
Quanto mais níveis emocionais permanecem infantis, mais destruição é moldada no
indivíduo e em seus arredores Mas o restante da personalidade impulsiona em direção a
seu destino natural – ou seja, crescimento em todos os níveis – as camadas
negligenciadas deve terminar por alcançar as demais. A verdadeira doença mental
resulta quando a psique de um adulto permanece no nível de um bebê. Qualquer forma
de destruição é o resultado de uma entidade não ter posto em prática seu potencial de
crescimento. Desamparo e dependência são naturais em um bebê, mas quando
acontecem em um adulto, a consequência é, necessariamente, alguma forma de
destruição. O estado de desamparo do bebê, que precisa de uma autoridade que
determine sobre ele, é uma proteção e uma prova do modo maravilhosamente sábio pelo
qual a natureza proporciona uma presciência infinita. Também prova que cada
expressão da natureza aponta na direção da evolução, crescimento, desenvolvimento,
vida, expansão – e não para o fim da vida, destruição, estagnação. Toda tensão existente
é consequência de recusar à natureza sua sabedoria.

Analisemos agora a humanidade a partir deste ponto de vista. O homem primitivo é


comparável ao bebê. A sociedade primitiva era tão destrutivamente egocêntrica e, ao
mesmo tempo, tão desamparadamente dependente quanto um bebê. Sobreviveu apenas
porque o homem vivia nem comunidades muito pequenas, isoladas e separadas uma das
outras. E os que viviam juntos tinham que aprender a se unirem contra o inimigo
comum que confrontava o homem – as intempéries, os animais. Na verdade, esses são
perigos menores do que as possibilidades de destruição entre os próprios homens. Sob
as circunstâncias vigente na época, para sobreviver, mesmo em um pequeno círculo do
ambiente humano, o homem teve que aprender os primeiros rudimentos de interesse
pelos outros, cooperação, disciplina, justiça, responsabilidade e compartilhamento. Ele
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precisou se dar conta muito cedo de que, de outra forma, a sobrevivência não seria
possível.

Essa fase pode ser comparada a uma criança que cresce e entra na idade escolar. Ela
também precisa aprender a refrear seus instintos antissociais a fim de se entender com
os outros e de ser aceita. Quanto mais velha ela fica, mais desenvolve uma noção de eu.
Ainda que a princípio isso pareça paradoxal, quanto mais consciente de si mesmo o
indivíduo se torna, mais interesse ele desenvolve pelos outros. Mais uma vez, fica
comprovada a profunda interconexão entre o eu e os outros. Os medos profundos do
homem resultam de sua igualmente profunda convicção de que ele e os outros estão em
duas facções opostas. Assim que o homem se der conta de que ele e os outros são um,
seus problemas terão fim. As primeiras tentativas rudimentares de inclusão dos outros –
tanto pelo indivíduo quanto pela humanidade como um todo – foram ditadas pela
necessidade e não teriam podido, em um primeiro momento, ser incitadas por
sentimentos autênticos. O instinto de autopreservação força o homem, por assim dizer, a
reduzir o seu egoísmo e a encontrar a verdade do amor. Mas essas primeiras etapas eram
muito rudimentares. A crueldade e a brutalidade do homem primitivo excedia, de longe,
qualquer dose existente hoje em dia Se o homem primitivo possuísse a engenhosidade
intelectual do homem moderno, a humanidade teria se exterminado muito tempo atrás.
Tem sido como colocar uma arma carregada nas mãos de um bebê. Essas mentes
primitivas tiveram que inventar deuses cruéis e vingativos, quase que como uma
proteção contra seus próprios instintos destrutivos.

Por um longo tempo, a sociedade foi regida pelo domínio dos indivíduos mais fortes
sobre os mais fracos. Nesse estágio, a humanidade precisou dessa forma de ordem e de
governo. Idealmente, os poucos indivíduos espiritualmente mais evoluídos deveriam ter
assumido o governo, com justiça, responsabilidade e preocupação pelos outros. Seu
poder superior seria justificado somente se suas qualidades espirituais estivessem
evoluindo de acordo, sendo sua maturidade emocional e espiritual adequada à posição
de um governante. A história nos mostra que esse não foi sempre o caso. Houve muitas
ocasiões em que indivíduos verdadeiramente infantis assumiram o poder por meio da
força bruta. Puderam manter as massas sob controle por um tempo limitado, mas, por
fim, o resultado eram guerras, revoluções, derramamento de sangue, cujo efeito eram
pobreza e doença. Esses resultados muito deploráveis eram a única maneira de a
humanidade aprender melhor como um todo. Eles a forçavam a pensar, a sondar, a olhar
além da superfície, a prontificar-se a deixar a preguiça por ações mais intencionais.

Não é coincidência que os recursos ocultos do mundo, com os seus imensos poderes e
todos os avanços técnicos deles derivados, não puderam ser encontrados pela
humanidade em um período quando não teria sido possível a ela ter maturidade
suficiente para lidar com tais poderes. Elas não os poderia ter utilizado, pois lhe faltava
maturidade em geral. Não se trata de uma divindade personificada que arbitrariamente
decidiu não “permitir que o homem encontrasse” aquilo que existe no universo. Em vez
disso, o mesmo mecanismo minuciosamente regulador de que falamos anteriormente
em outras conexões – o eu real da humanidade – determina aproximadamente a
extensão do desenvolvimento, mantendo-o mais ou menos em equilíbrio. Logicamente,
é preciso que haja alguma liberdade de movimento, alguma rédea solta. É essa margem
extra, necessária à própria escolha e ao livre crescimento, que pode ocasional e
esporadicamente pôr em risco a existência exterior do homem. Hoje, “a humanidade
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inteira” está potencialmente pronta para utilizar construtivamente os poderes que


encontrou. Se vai ou não fazer isso, depende das partes que a compõem – os indivíduos.

Quando a humanidade deixou a primeira infância, passando a estágios posteriores da


puerícia, não era mais possível para um governante acalentar seu egoísmo às custas de
outrem sem pelo menos fingir que suas ações eram benéficas para seus subordinados.
Em estágios anteriores, isso não era necessário. As massas esperavam ser usadas,
exploradas, torturadas, não apenas para servir ao governante mais forte, mas mesmo em
decorrência dos caprichos deste, que não requeriam motivos ou explicações. Hoje, isso
é impensável. O crescimento da humanidade não depende tanto do fato de que, na
atualidade, não se possa encontrar ninguém que não queira assumir o papel de um
governante à antiga. O processo de crescimento contínuo pode ser determinado pelo
fato de que a humanidade em geral não suportaria tais ações. É como uma criança
quando cresce: ela descobre que não precisa mais se submeter a um pai ou mãe mais
forte e cruel. Ela deixa de estar vinculada a eles. O governante de períodos posteriores
precisou pelo menos desenvolver uma pseudopreocupação, fingir que se importava.
Esse fingimento se tornou cada vez mais necessário para que ele pudesse governar. Tal
fingimento certamente não é aconselhável nem indicativo de progresso do indivíduo que
o pratica. Mas, do ponto de vista da humanidade como um todo, mostrou um começo.
Se a comunidade exigia que se importassem com ela, isso comprovava seu progresso.
Se a humanidade ainda não podia distinguir entre a preocupação real e falsa, isso
construía o próximo degrau em direção ao aumento da consciência.

O ciclo de crescimento de um indivíduo se move da camada física mais externa para o


centro espiritual mais interior. Na primeira infância, como dito anteriormente, a
preocupação dos sentidos físicos constitui toda a gama de experiência. Reações
emocionais são exclusivamente dependentes da percepção dos sentidos físicos. Isso
muda gradualmente, à medida que a criança cresce. De maneira semelhante, a sociedade
primitiva se preocupava, principalmente, com a sobrevivência física e com o prazer
sensorial.

A criança, ao chegar à idade escolar, começa aprender a ter consideração pelos outros,
se relacionando com os outros em um nível de maior igualdade do que tinha no
relacionamento com os pais. Além disso, começa a acumular conhecimento intelectual.
Em outras palavras, as camadas intelectual e, em menor grau, emocional, estão
começando a entrar em jogo. O mesmo se aplica aos primeiros períodos da história. A
humanidade aprendeu muito, do ponto de vista intelectual. Seu desenvolvimento
emocional é, como acontece com a criança, menos evidente.

Na adolescência, o crescimento físico é completado. O crescimento mental e emocional


são acelerados. Quando a maturidade completa é atingida, o crescimento espiritual deve
ter início – logicamente, em conjunção com o crescimento emocional e mental, que se
tornam cada vez mais inter-relacionados. Esse é o estado ideal, quando não existe
nenhuma repressão, nenhuma deficiência e nenhuma sonegação – assim, não existem
conflitos ou conceitos errôneos, imagens nem pseudossoluções. Quase todos os
indivíduos, bem como a humanidade como um todo, precisam se esforçar por desfazer
os conceitos errôneos, de modo que o crescimento harmonioso possa ter lugar.

Cada fase do crescimento indica uma etapa de afastamento da reclusão e da separação,


em direção à maior inclusão dos demais. Concomitantemente, cada etapa do
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crescimento é uma etapa em direção à maior liberdade por meio da responsabilidade.


Cada fase do crescimento é marcada por esses fatores. O estado anterior ao nascimento
é, certamente, um estado de maior proteção, reclusão, isolamento, impotência do que a
primeira infância, após o corte do cordão umbilical. A mesma diferenciação se aplica ao
período quando o bebê é desmamado e, posteriormente, quando a criança começa a
frequentar a escola, com suas primeiras responsabilidades, distante da proteção
doméstica e, mais uma vez, posteriormente, quando o jovem sai para a vida para
construir uma profissão e, ainda mais tarde, quando uma família é formada. Todas essas
fases indicam cada vez mais inclusão, responsabilidade, independência, liberdade,
preocupação, realização, evolução das próprias faculdades – e, portanto, o verdadeiro
crescimento. A morte não põe um fim a esse ciclo. O ciclo continua além da percepção
humana, exceto para aqueles que tenham vivenciado a maior verdade da criação, por
meio do crescimento dinâmico contínuo de sua consciência e percepção.

Essas fases definidas do crescimento são, com frequência, marcadas por crises, devido
ao antagonismo da entidade com relação à fase seguinte. A resistência contra o novo
estágio e seus requisitos é, muitas vezes, inconsciente. Com frequência, a entidade tende
à maior liberdade do novo estado, ao mesmo tempo em que teme e resiste ao que
parecem ser cadeias indesejáveis de obrigações. Desses conceitos errôneos, com suas
motivações e metas conflitantes, nasce a crise. Se tais atitudes estiverem profundamente
incorporadas à psique de entidade, seu nascimento será um esforço maior do que
quando a psique está relativamente livre. Puberdade, menopausa, morte – cada uma
dessas fases óbvias e aparentes pode se caracterizar pela crise, ou ser relativamente
amena, dependendo de a entidade “nadar a favor da corrente” ou não. Logicamente, há
numerosas outras transições e fases do crescimento, normalmente não observadas, que
se aplicam somente ao ritmo de crescimento de cada indivíduo, quando a mesma lei se
aplica.

O crescimento da humanidade também é marcado por fases distintas semelhantes, que


indicam novos conjuntos de valores, uma gama expandida de experiências, estendendo-
se em direção à maior abrangência. Estudar as várias fases da história a partir desta
perspectiva revelará que a resistência contra um espectro mais amplo de
autorresponsabilidade e consideração gerou tensão e caos – que, com frequência, se
manifestaram na forma de guerra, revolução e derramamento de sangue.

Em que ponto se encontra a totalidade da espécie humana neste período, do ponto de


vista de seu desenvolvimento em geral? Ela já abandonou a infância, quase atravessou a
adolescência e está praticamente pronta para deixar essa fase. A humanidade ainda não
é uma entidade adulta madura. Comparativamente à vida de um indivíduo, o estado
presente da humanidade equivale à puberdade, com as dores do crescimento, seus
esforços, sua insegurança, seus conflitos entre os hábitos antigos e seguros próprios de
uma criança, e novos valores desafiadores, com suas obrigações e responsabilidades
concomitantes. A tensão especial por que passa a humanidade hoje em dia se deve,
parcialmente, ao medo da maturidade, a querer permanecer no modo de vida
aparentemente mais seguro e menos exigente, em que alguns poucos assumem o fardo
para os demais. Há outras partes da humanidade enquanto entidade que se rebelam
contra essa restrição, sendo insensatas, impetuosas, extremadas. Há também o eu mais
interior e mais sábio da humanidade, que orienta em direção à autorregulação, à
autorresponsabilidade, a valores maduros, por meio da capacidade de abdicar da
obstinação infantil – culminando na unificação de seus aspectos internos divergentes.
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Mas essa voz interior ainda não penetrou por completo nem atingiu a consciência
superficial, ainda não tendo descoberto propriamente como atingir a maturidade com
sucesso.

A humanidade – da mesma forma que o indivíduo – está dividida por facetas


conflitantes de si mesma. Essas facetas da humanidade são nacionalidades, várias
formas de governo, causas, doutrinas, crenças, religiões, sociedades, seitas – grupos que
se reúnem de acordo com localização geográfica e/ou ideologia. Algumas delas
representam crescimento, desenvolvimento, realização funcional e propositada dos
potenciais para os quais agora a entidade está inerentemente preparada. Isso requer não
apenas mais amor, menos egoísmo, maior desapego, menos preguiça do coração e da
mente, mais justiça e objetividade, mas também requer uma obrigação de cultivar o
nível espiritual de desenvolvimento, ir até a raiz das causas a avaliar um problema ou
uma questão, em vez de julgar superficialmente de acordo com sua aparência, efeito e
manifestação. Política, economia, sociologia e até mesmo religião abordam a vida e
seus problemas em um nível superficial e exterior de manifestação e, portanto, não
podem encontrar as verdadeiras soluções. Mas, visto que a humanidade está se
aproximando da maturidade generalizada, apesar dos desvios, ela aprenderá, como
acaba por acontecer com o indivíduo, a desenvolver suas faculdades interiores e sua real
consciência.

A maioria das pessoas se dá conta, vez por outra, de quão fútil é tentar solucionar um
problema ou compreender uma confusão valendo-se de sua aparência externa. É
somente quando se chega às raízes – por mais difícil que isso possa parecer de início,
visto que geralmente requer uma honestidade rigorosa consigo mesmo – que o cerne do
problema pode ser verdadeiramente encontrado e sua causa compreendida, o que
permite solucionar o problema. Caso contrário, a solução será efêmera. O problema
voltará a se manifestar, mais forte que nunca, talvez sob uma aparência distinta.
Encontrar uma solução é a única maneira de uma pessoa poder viver em paz consigo
mesma e, assim, com tudo que a cerca. O resultado de superar a resistência que
normalmente acompanha tal abordagem, devido à possibilidade de ser preciso enfrentar
um fator indesejável no próprio eu, é cem vezes mais valioso do que o preço a pagar por
ele.

Se a humanidade desejar viver em paz, ela também deverá aprender a olhar além da
superfície de seus problemas, parar de culpar os outros e procurar um defeito em seu
próprio grupo, aplicar valores diferentes à maneira de lidar com seus interesses. Cada
nação precisa aprender o que cada vez mais indivíduos começam a aprender:
honestidade consigo mesmas, autoconfrontação, estiramento da mente a fim de abarcar
um sistema de valores mais profundo; vontade de enxergar a verdade essencial, em vez
da vontade de provar que sua própria posição está certa. A paz que cada pessoa que
segue este ou outro caminho de autorrealização semelhante vivencia após obter o
discernimento verdadeiro do eu em seu relacionamento com os outros e com o mundo,
poderá ser vivenciada pela humanidade. Quando cada nação, cada governo, analisar a si
mesmo com relação a suas próprias falhas, em vez de só e exaustivamente culpar o
outo, mesmo que o outro também esteja errado, os conflitos terão fim. Do mesmo modo
como o indivíduo pode aprender a reivindicar seus direitos eficazmente, estar ciente de
seus verdadeiros valores e livrar-se de sentimentos de culpa destrutivos e inibitórios que
permitem que ele seja explorado, somente quando pratica absoluta sinceridade consigo
mesmo, o mesmo se passa com as nações como um todo. Elas não se enfraquecerão
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quando falsas acusações forem feitas, se puderem encarar e corrigir suas próprias falhas.
Então, e somente então, elas se elevarão acima das duas alternativas igualmente
destrutivas e indesejáveis, que são se submeter à injustiça ou ser agressivamente
destrutivas.

Pode-se perguntar o que acontecerá à espécie humana quando tiver amadurecido


completamente, em todos os aspectos. Ela “morrerá” para passar para outra esfera do
ser e da consciência, como o indivíduo que tenha superado um determinado estado de
consciência? A resposta é sim. Isso levará milhões e milhões de anos, contados em
termos do tempo tridimensional. O crescimento interior, tanto do indivíduo quanto da
humanidade, a evolução completa, não pode ser predeterminada. Há quem complete
essa realização com êxito em relativamente poucas encarnações, enquanto outros podem
precisar de muito muito mais lições de vida nesta dimensão. Quando mais indivíduo
atingirem a união interior com o Infinito, deixando de viver a cisão no interior de si
mesmos, mais contribuirão com o restante da humanidade e acelerarão o
desenvolvimento geral. Mas antes que a totalidade da humanidade esteja pronta para a
transição para um estado superior de experiência espiritual, toda e cada partícula de seu
ser deverá atingir a maturidade total, concluindo a unificação. Esse deve ser um
processo inteiramente livre, uma escolha livre e voluntária, impulsionada por si mesmo,
e não uma escolha imposta. Se uma entidade for forçada a seguir até mesmo o caminho
mais virtuoso e conveniente, isso não terá um significado duradouro, não chegando a
funcionar.

No caminho individual, forçar emoções tidas de má vontade, devido à compreensão


intelectual correta, também não funciona. Enquanto as emoções de um indivíduo não
estiverem prontas para fazer uma escolha voluntária pelo crescimento, haverá mal-
entendidos ou ignorância, que precisarão ser encontrados para que possam ser
dissolvidos. O mesmo processo precisa existir para toda a espécie humana.

Para que a humanidade como um todo atinja esse estado de paz e integração, as partes
que a compõem precisam fazer o mesmo. Nações, governos, grupos precisam crescer e
se desenvolver até atingir esse estado. Para que um grupo possa fazer isso, os indivíduos
precisam fazê-lo. No início, há alguns casos isolados. Mais tarde, mais deles. É um
processo que aumenta como uma bola de neve. Não há como perceber o efeito que o
crescimento dinâmico de uma pessoa tem sobre a humanidade como um todo. O raio de
sua influência, o campo da esfera de seu ser, se estende muito além do que a imaginação
pode visualizar. O poder do mundo invisível dos pensamentos, sentimentos, reações
emocionais, atitudes, tendências, expectativas, pontos de vista, costuma ser muito maior
do que o poder das palavras e ações. Nada é mais “contagioso” do que as atitudes
psicológicas e espirituais. Uma única pessoa que esteja na verdade, mesmo sem que
haja ações específicas como consequência de tal saber, exala um clima de verdade.
Talvez isso possa ser mais bem observado durante uma discussão, quando o
conhecimento desapegado e tranquilo de um participante induz o outro a pensar , a
desistir de seu comportamento hostil e belicoso. Independentemente de quão bem uma
discussão seja conduzida, se não for embasada pelo profundo conhecimento da verdade,
será difícil convencer os outros e disseminar a paz. Esse exemplo pode proporcionar
uma leve noção do efeito que uma pessoa tem em seu meio – meramente pelo que é,
como reage, sente, vivencia, conduz seus negócios, emana seu ser interior, seu
conhecimento da verdade; isso sem falar do exemplo que representa por sua paz,
contentamento, sua maneira de encarara vida. Cada pessoa que entra na órbita de tal
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indivíduo deve, até certo ponto, ser afetada. Alguns são conscientemente influenciados e
começam a emular os modos de tal professor, outros podem ser afetados tão fortemente
que, eles também, começam a se enveredar por esse caminho; outros ainda não podem
responder conscientemente, ainda que uma semente tenha sido plantada neles, vindo a
dar frutos somente muito tempo depois. E o ser modificado de cada pessoa afeta àqueles
que adentram sua esfera.

Nenhum pensamento, nenhum sentimento, nenhuma ação, nenhuma palavra, nenhum


movimento pode ser feito, nenhuma convicção pode ser acalentada que não afete um
reservatório cósmico a partir do qual venha a afetar o planeta. Esse planeta, por sua vez,
afeta um reservatório cósmico maior, a partir do qual o ritmo e o compasso de processos
evolutivos maiores são afetados. Se o homem soubesse o poder que exerce, a influência
que estende, seu senso de responsabilidade se desenvolveria mais rapidamente. O
mundo é criado de forma tão magnifica que o senso de responsabilidade pela
humanidade como um todo incorpora a felicidade do indivíduo. Este não pode ser feliz
a menos que atinja a maturidade espiritual. Sua maturidade espiritual, por sua vez,
contribui com a felicidade da espécie humana.

Aqueles que seguem uma estrada tão dinâmica, rápida e direta em direção ao
autodesenvolvimento como é este caminho – em contraste com o processo muito mais
gradual de meramente estar vivo e arranjar-se tão bem quanto possível, com frequência
estendendo-se por muitas encarnações em que as mesmas lições precisam ser
aprendidas muitas e muitas vezes repetidas – vivenciarão primeiro a satisfação de
endireitar sua próprias vidas. Pouco a pouco, o que era confuso, sem esperança,
doloroso, irrealizado, começará mudar para melhor. À medida que aprender a superar a
resistência inerente a encarar uma verdade desagradável, a desistir de atitudes
destrutivas, a mudar e crescer, o individuo descobrirá que o segredo da realização está
muito mais próximo de si do que ele pensava. Na verdade, tudo o que ele precisa e
deseja está bem aqui e agora mesmo. Ele simplesmente não podia se dar conta dessa
verdade, por estar encoberta por uma manifestação exterior errônea e por seu medo de
removê-la. Um conceito correto não desaparece porque um indivíduo vê apenas a sua
distorção. A verdade permanece intacta ao alcance das mãos. Não é preciso produzir a
verdade do nada ou de lugares longínquos. Ela está dentro do próprio individuo. Visto
que é verdade que o propósito do homem é a felicidade, que a Inteligência Cósmica
intenciona que ele tenha tudo que possa sonhar em sua realização gloriosa, tudo isso já
existe dentro dele. Tudo o que ele precisa fazer é remover a concepção errônea. Logo
atrás dela, na área não afetada pela dualidade, pelos limites do tempo tridimensional
com suas leis de causa e efeito, ele encontrará tudo o que jamais pode desejar.

Além da realização pessoal e da concomitante noção, ou melhor, do concomitante


conhecimento de que não há nada a temer e tudo a antecipar, que o universo é muito
benigno, a pessoa também sentirá profundamente sua contribuição para todo o esquema
evolucionário. Cada pensamento construtivo, cada sentimento cordial e amoroso, cada
minúsculo movimento pelo próprio aperfeiçoamento, cada expressão da vontade em
direção a essa meta, tem um efeito permanente no mundo. E a percepção desse fato
deve tornar a vida do homem mais rica e significativa.

Cada tentativa, cada esforço na direção do crescimento é fortalecido pelas bênçãos


divinas, que serão demonstradas por orientação e inspiração, na mesma medida da
seriedade e convicção da tentativa.

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