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Economia de Empresas

GESTÃO AMBIENTAL
PROATIVA

Carmen Silvia Sanches


Economista pela Unicamp, Mestre e
Doutoranda em Administração de
Empresas pela EAESP/FGV.
E-mail: csanches@fgvsp.br

RESUMO ABSTRACT
As empresas industriais que procuram manter-se competiti- Industrial companies that look for a competitive advantage
vas ou mesmo sobreviver e se ajustar a um ambiente de ne- or to even survive and to adjust to a turbulent and
gócios turbulento e imprevisível percebem cada vez mais que, unforeseeable business environment realize that they need
diante das questões ambientais, são exigidas novas postu- to increasingly strike new attitudes related to environmental
ras, num processo de renovação contínua, seja na maneira problems. These new attitudes include a continuous
de operar seus negócios, seja em suas organizações. Nesse changing process on the manner to manage their business
sentido, as empresas industriais estão desenvolvendo novas in the organizations. Thus, some industrial companies are
formas de lidar com os problemas ambientais, mediante developing new ways to deal with the environmental
mecanismos de auto-regulação ou por meio de uma gestão problems through auto-regulation mechanisms or proactive
ambiental proativa. environmental management.

PALAVRAS-CHAVE
Auto-regulação, empresa proativa, estratégia de negócios e meio ambiente, tecnologias ambientais,
instrumentos de gestão ambiental.

KEY WORDS
Auto-regulation, proactive company, business strategy and environment, environmental technologies,
environmental management tools.

76 RAE - Revista de Administração de Empresas • Jan./Mar. 2000 RAE


São• Paulo,
v. 40 • v.n.401 • n.Jan./Mar.
1 • p. 76-87
2000
Gestão ambiental proativa

INTRODUÇÃO meio de regulamentações ambientais, ou se pro-


vierem de uma imagem pública negativa, como por
O ambiente de negócios na década de atritos com comunidades locais ou um desastre am-
90 tem-se mostrado bastante instável e tur- biental. Essas mudanças podem, ainda, ser
bulento, verificando-se a existência de mu- gerenciadas internamente mediante mecanismos de
danças bastante drásticas no processo eco- auto-regulação ou por ações individuais, como será
nômico e produtivo mundial, com implica- visto a seguir.
ções diretas para as empresas industriais.
Fatos como transformações na economia in-
ternacional e globalização da produção e do AS EMPRESAS INDUSTRIAIS
consumo têm sido acompanhados de outras QUE PROCURAM MANTER-SE
mudanças como, por exemplo, um crescente
grau de exigência dos consumidores, que, COMPETITIVAS PERCEBEM
por meio de seu poder de compra, estão bus-
cando variedade de produtos, demonstran-
CADA VEZ MAIS QUE, DIANTE
do a sua preocupação pela qualidade e ma- DAS QUESTÕES AMBIENTAIS,
nifestando uma constante exigência para
melhorar o binômio preço-desempenho. SÃO EXIGIDAS NOVAS
A emergência desse consumidor mais POSTURAS, NUM PROCESSO
agressivo e exigente reflete em grande par-
te as mudanças que a própria sociedade vem DE RENOVAÇÃO CONTÍNUA.
sofrendo quanto a valores e ideologias e que
envolvem suas expectativas em relação às
empresas e aos negócios. Esses novos va-
lores e ideologias incluem a democracia, a A AUTO-REGULAÇÃO
igualdade de oportunidades, a saúde e a se-
gurança no trabalho, a proteção ao consu- A auto-regulação representa iniciativas toma-
midor, um meio ambiente mais limpo, en- das pelas empresas ou por setores da indústria para
tre outras questões. Seja como consumido- empreender e disseminar práticas ambientais que
res, ou como trabalhadores, ou ainda por promovam uma maior responsabilidade das em-
meio do governo ou da mídia, a sociedade presas quanto às questões ambientais, mediante a
tem pressionado para que as empresas in- adoção de padrões, monitorações, metas de redu-
corporem esses valores em seus procedi- ção da poluição e assim por diante. Num sentido
mentos operacionais. Como conseqüência, mais amplo, pode-se dizer que é uma das diver-
as empresas estão se deparando com um sas maneiras de equilibrar as forças de mercado e
ambiente externo em que cada vez mais as distribuir de maneira mais justa, em termos mo-
questões sociais, políticas e legais, inexis- netários, os danos que a sociedade está suportan-
tentes ou apenas latentes em períodos an- do como efeito da modificação da qualidade do
teriores, adquirem uma nova perspectiva meio ambiente.
administrativa. A auto-regulação tem-se apresentado sob diver-
As empresas industriais que procuram sas formas. Uma delas são os acordos voluntários,
manter-se competitivas ou mesmo sobrevi- que têm sido usados desde a década de 70, especi-
ver e se ajustar a esse novo ambiente de almente em países desenvolvidos, algumas vezes
negócios, que já se mostra bastante concor- para complementar e tornar mais fortes as regula-
rido, marcado por incertezas, instabilida- mentações já existentes. Trata-se de contratos en-
des e rápidas mudanças, percebem cada vez tre autoridades públicas (por exemplo, o Ministé-
mais que, diante das questões ambientais, rio ou a Secretaria do Meio Ambiente) e a indús-
são exigidas novas posturas, seja na manei- tria (uma associação industrial ou uma firma indi-
ra de operar seus negócios, seja em suas or- vidual) ou entre uma firma e uma municipalidade
ganizações. Essa renovação implica contí- ou associação de moradores locais, sob os quais as
nuas mudanças, que podem ser dolorosas e indústrias ou firmas se comprometem a alcançar
custosas também em termos financeiros, es- uma série de objetivos ambientais. Os contratos têm
pecialmente se forem impostas, como por a força de lei privada, somente, e não acarretam

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penalidades legais pela quebra de seus termos. Al- entre outras, interessadas em promover a
gumas de suas vantagens, sob o ponto de vista da implementação da Carta da CIC e
indústria, relacionam-se ao fato de oferecerem um (com)partilhar as melhores práticas de ges-
incentivo para as firmas investirem em processos tão ambiental.
de produção mais adequados, em vez de se sub- Trata-se, todas as formas de auto-
meterem aos objetivos ambientais impostos por regulação, de iniciativas que marcam um
autoridades governamentais, além de concederem novo contexto de participação do empresa-
uma imagem pública mais positiva da indústria riado rumo à consciência e às responsabili-
para os governos, as comunidades locais e a pró- dades ambientais, também com a preocu-
pria sociedade (Potier, 1994). pação de adequar os princípios de susten-
tabilidade à realidade dos mercados em que
as empresas estão inseridas.
TRATA-SE, TODAS AS
FORMAS DE AUTO- A POSTURA PROATIVA

REGULAÇÃO, DE INICIATIVAS A auto-regulação também se estende a


empresas agindo por sua própria iniciativa
QUE MARCAM UM NOVO
e interessadas no desempenho de seus pró-
CONTEXTO DE PARTICIPAÇÃO prios negócios. Nesse sentido, empresas in-
dustriais adotam posturas proativas em re-
DO EMPRESARIADO RUMO lação ao meio ambiente mediante a incor-
À CONSCIÊNCIA E ÀS poração dos fatores ambientais nas metas,
políticas e estratégias da empresa, consi-
RESPONSABILIDADES derando os riscos e os impactos ambientais
não só de seus processos produtivos mas
AMBIENTAIS.
também de seus produtos. Assim, a prote-
ção ambiental passa a fazer parte de seus
objetivos de negócios e o meio ambiente
Outra forma de auto-regulação, mais recente- não é mais encarado como um adicional de
mente utilizada, são os princípios e códigos de con- custo, mas como uma possibilidade de lu-
dutas empresariais internacionais, como o Progra- cros, em um quadro de ameaças e oportu-
ma Atuação Responsável (Responsible Care) da nidades para a empresa.
indústria química, elaborado em 1985 no Canadá Nesse contexto, o meio ambiente assu-
e disseminado em diversos outros países, inclusi- me as características descritas por Buchholz
ve no Brasil, pelas associações nacionais do setor; (1992) como de uma questão estratégica para
os Princípios Ceres (antigamente chamados Prin- os negócios de uma empresa, a saber: a) co-
cípios Valdez), que datam de 1989, mas com uma loca uma tendência ou oportunidade atual ou
nova versão de 1992; o Keidaren Global prospectiva; b) surge de alguma tendência
Environment Charter, organizado no Japão em ou desenvolvimento interno ou externo; c)
1991; a Carta de Princípios para o Desenvolvimen- pode ter um impacto potencial importante
to Sustentável, lançada pela Câmara Internacional no crescimento, na rentabilidade ou na so-
de Comércio (CIC) em 1991, entre outros. brevivência dos negócios; d) o curso ou im-
Também se enquadram nas iniciativas de auto- pacto da questão podem, de alguma forma,
regulação as parcerias formadas entre empresas, ser influenciados pela ação da empresa.
como, por exemplo, o Compromisso Empresarial Sob esse prisma, o meio ambiente gera
para a Reciclagem (Cempre), com empresas naci- uma nova perspectiva na agenda de negó-
onais e multinacionais voltadas para o desenvol- cios de empresas proativas, que pode ser
vimento e a capacitação da indústria brasileira nes- estabelecida sob duas óticas distintas: o
sa área; ou a Gemi (Global Environmental meio ambiente como base de negócios ou
Management Initiative), uma “rede de negócios de desenvolvimento de idéias. Como base
verdes” sediada em Washington, Estados Unidos, de negócios, o meio ambiente apresenta
formada por 20 empresas norte-americanas de oportunidades e ameaças para os interes-
grande porte, como a Procter & Gamble, a AT&T, ses dos negócios. A base de negócios pode

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Gestão ambiental proativa

identificar novas oportunidades para o de- fluxo de trabalho. Também se requerem novas for-
senvolvimento de processos, produtos e mas de relacionamento com os grupos de interes-
mercados, assim como para influenciar e ses da organização, como trabalhadores, consu-
alterar as exigências de consumo nos mer- midores, fornecedores, agências governamentais,
cados já existentes, podendo, ainda, obri- comunidades, etc., para dar-lhes sinais de que es-
gar o fechamento de uma fábrica. Já como forços estão sendo concentrados para atender às
base de desenvolvimento de idéias, o meio suas exigências e para prever demandas futuras.
ambiente contribui como parte de uma aná- Conseqüentemente, é buscada uma estrutura que
lise crítica da forma como a sociedade e os suporte essa interação, integração e comunicação,
negócios operavam no passado, levantan- interna e externa.
do questões acerca dos paradigmas existen-
tes e a construção de novos paradigmas. A
base de desenvolvimento de idéias coloca UMA EMPRESA QUE ADOTA
novas formas de pensamento e questões UMA POSTURA PROATIVA
como o desenvolvimento sustentável e a
responsabilidade ambiental (Roome, 1994). DIANTE DOS IMPERATIVOS
Partindo dessas novas bases de negó-
cios e de idéias, a empresa estabelece uma
AMBIENTAIS PRECISA INOVAR
responsabilidade ambiental por processos NÃO SÓ SEUS PRODUTOS E
e produtos que envolve um relacionamen-
to diferente, compartilhado, com fornece- PROCESSOS MAS TAMBÉM
dores e consumidores, no que se refere à SUA ORGANIZAÇÃO.
prevenção da poluição, à minimização dos
resíduos e à proteção dos recursos natu-
rais. A essa responsabilidade, adicionam-
se outras, por questões ambientais mais Uma terceira necessidade de mudanças internas
difusas, como o bem-estar dos trabalhado- identificada é a busca de novas informações, seja
res, da comunidade e até de gerações fu- sobre os impactos ambientais de processos e pro-
turas. Isso obriga as empresas industriais dutos, atuais e futuros; seja sobre conceitos, ferra-
a usarem horizontes de longo prazo e vi- mentas, técnicas, tecnologias e sistemas para cap-
sões mais amplas de seus processos de de- turar esses impactos ambientais; seja sobre as exi-
senvolvimento de produto e análise de de- gências e tendências externas. Ao mesmo tempo, é
sempenho. Com isso, requer-se um novo preciso acolher formas de pensamento e análise que
conjunto de valores, incluindo políticas e comportem as ambigüidades, complexidades e in-
metas que incorporem a dimensão ambien- terdependências dessas informações. Requerem-se,
tal na organização. assim, novos sistemas que comportem as novas ta-
Verifica-se, assim, que as empresas in- refas, assim como talentos gerenciais para lidar
dustriais que buscam uma postura proativa com a dimensão ambiental.
em relação às questões ambientais depa- Assim, uma empresa que adota uma postura
ram-se com necessidades de mudanças que proativa diante dos imperativos ambientais preci-
começam por seu próprio ambiente inter- sa inovar não só seus produtos e processos mas tam-
no, mudanças essas que podem ser de di- bém, como coloca Roome (1994), sua organização.
versos graus, conforme as especificidades Ao realizar essas inovações – nos processos, nos
da organização e as pressões existentes produtos, nas estratégias e na organização –, as em-
para que se adote uma postura diferencia- presas industriais desenvolvem uma capacidade de
da em relação ao meio ambiente. De uma se antecipar às exigências externas, dos governos,
maneira geral, as mudanças internas ne- dos mercados ou da própria sociedade, mais do que
cessárias envolvem o reconhecimento da esperar que essas exigências se desenvolvam e se
natureza interdisciplinar e interfuncional tornem pressões para a adoção de práticas ambien-
dos problemas ambientais, o que exige que tais mais sustentáveis.
a s á r e a s f u n c i o n a i s d a o rg a n i z a ç ã o É interessante notar que a abordagem proativa
interajam e se integrem entre si, em ter- não é restrita à gestão do meio ambiente, mas par-
mos de comunicação, de autoridade e de te de uma tendência que está emergindo na admi-

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nistração em geral. Essa tendência é evidenciada tal preventiva integrada aos processos e
nas obras e declarações de Peter Drucker (1992; produtos para reduzir riscos aos seres
Netz e Carvalho, 1995), Davidow e Malone (1993), humanos e ao meio ambiente (What...,
Hamel e Prahalad (1994, 1995a, 1995b), entre ou- 1994). Para os processos produtivos, a
tros autores, que incentivam as empresas a enxer- estratégia ambiental inclui a conserva-
garem mais longe e se anteciparem às mudanças, ção de matérias-primas e energia, a eli-
permitindo a obtenção de vantagens competitivas minação de matérias-primas tóxicas e a
em seus mercados e também a criação de novos redução da quantidade e toxicidade de
mercados. As prescrições sempre passam por re- todas as emissões e resíduos antes de
formas na organização que incluam a alteração das deixarem o processo. Para os produtos,
estruturas e sistemas, mudanças no pensamento ou a estratégia concentra-se na redução de
nas filosofias e aprendizado de novos comporta- impactos por todo o ciclo de vida do pro-
mentos e práticas da empresa industrial. Sendo duto, da extração das matérias-primas
assim, a gestão ambiental proativa também requer até a disposição final do produto.
o tipo de reforma organizacional que é buscada O emprego de tecnologias de produtos
para que os negócios sejam bem-sucedidos econô- e processos concorre para uma série de be-
mica e comercialmente. nefícios para uma empresa proativa ambi-
entalmente, dentre os quais se podem des-
Tecnologias ambientais: emprego e gestão tacar (Maimon, 1994; Donaire, 1994; Porter
Um elemento fundamental para assegurar o de- e Van der Linde, 1995a, 1995b; Roome,
sempenho econômico, produtivo e ambiental de 1994; Shrivastava 1994/1995):
uma empresa industrial é a utilização de tecnolo- • melhorias na eficiência produtiva com
gias ambientais. O uso da tecnologia já vem se menor utilização de energia e materiais
mostrando um fator importante nas últimas déca- por unidade de produto;
das para assegurar a rentabilidade e a competitivi- • minimização da quantidade de resíduos
dade da maioria das empresas industriais. No caso dispostos no meio ambiente;
da proteção ambiental, as tecnologias ambientais • desenvolvimento de tecnologias mais
envolvem: limpas, que se transformam em vanta-
a) tecnologias de controle de poluição (end-of- gens competitivas e até mesmo em pro-
pipe), cujo principal objetivo é combater as duto, com a possibilidade de auferir re-
saídas indesejáveis de resíduos do processo pro- ceitas com transferência de tecnologia,
dutivo (poluição), sem realizar intervenções no como, por exemplo, o licenciamento de
próprio processo. Trata-se de equipamentos de patentes, a prestação de assistência téc-
controle de emissões e efluentes, tais como fil- nica, etc.;
tros purificadores, incineradores e redes de tra- • desenvolvimento de novos produtos para
tamento de água e esgoto, entre outros, que re- novos mercados, seja mediante o
movem os resíduos poluentes ou reduzem sua reaproveitamento de resíduos e sua uti-
toxicidade; lização como um novo produto, seja me-
b) tecnologias de prevenção da poluição, diante o desenvolvimento de produtos
centradas no processo produtivo para torná-lo com atributos ambientais;
mais eficiente, ou seja, ampliar a taxa de utili- • maior segurança pública e minimização
zação dos insumos nos produtos fabricados. Es- dos impactos ambientais de produtos;
sas tecnologias permitem não só reduzir os re- • melhoria da imagem pública e das re-
síduos e poluentes na fonte mas também lações com os órgãos governamentais,
reutilizar ou reciclar os resíduos produzidos, com a comunidade e grupos ambienta-
preferencialmente ainda na planta industrial, listas, permitindo até um maior escopo
voltando diretamente ao processo produtivo, e, para auxiliar e influenciar os governos
em último caso, tratar os resíduos que não po- em novas regulamentações;
dem ser eliminados, reutilizados ou reciclados; • melhoria nas condições de segurança e
c) tecnologias de produtos e processos dentro do saúde dos trabalhadores e nas relações
que foi conceituado pelo Programa das Nações de trabalho;
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) como a • maior comprometimento de todo o staff
aplicação contínua de uma estratégia ambien- da empresa.

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Entretanto, não é a mera posse da tec- quanto em suas estruturas organizacionais, buscan-
nologia que assegura o sucesso de sua im- do também garantir que os negócios sejam bem-
plementação, mas sua apropriada gestão. sucedidos econômica e comercialmente.
Nesse sentido é que as empresas industri-
ais que buscam a proteção ambiental vêm
incorporando uma nova função administra- É INTERESSANTE NOTAR QUE
tiva em sua estrutura, com um corpo técni-
co específico e um sistema gerencial espe- A ABORDAGEM PROATIVA NÃO
cializado. Essa nova função administrati- É RESTRITA À GESTÃO DO
va, um departamento ambiental na estrutu-
ra da organização, permite que a empresa MEIO AMBIENTE, MAS PARTE
industrial administre adequadamente suas
relações com o meio ambiente, avaliando e DE UMA TENDÊNCIA QUE
corrigindo os problemas ambientais presen- ESTÁ EMERGINDO NA
tes, minimizando os impactos negativos
futuros, integrando articuladamente todos ADMINISTRAÇÃO EM GERAL.
os setores da empresa quanto aos imperati-
vos ambientais e realizando um trabalho de
comunicação ativo, interno e externo.
Em estudos realizados com empresas Resistências à adoção de posturas proativas
norte-americanas de diversos setores, Hunt em relação ao meio ambiente
e Auster (1995) verificaram que o departa- Embora a direção da proteção e da responsabi-
mento ambiental de empresas proativas é lidade ambientais pareça inevitável no contexto de
provido de pessoal com indivíduos deter- mudanças das empresas industriais e favorável aos
minados, motivados, de alto nível, que têm interesses dos negócios pelas melhorias na com-
um conceito de gestão ambiental que vai petitividade global da empresa, é ainda uma práti-
muito além da idéia do policiamento e da ca pouco difundida, como mostram pesquisas efe-
prevenção da poluição. Esse departamento tuadas com empresas da Comunidade Européia, que
promove programas preventivos que se es- detectaram que a responsabilidade ambiental nem
tendem por toda a organização, treina os sempre faz parte da estratégia de uma empresa in-
empregados e promove a conscientização dustrial, a não ser que esta receba sinais claros de
e responsabilidade ambiental em todos os exigências do mercado (Maimon, 1994). Por sua
níveis da organização, monitora as opera- vez, uma pesquisa nos Estados Unidos, conduzida
ções continuamente e trabalha rapidamen- em 1992 pela Associação Nacional de Gerentes
te para corrigir problemas assim que ocor- Ambientais, concluiu que a maioria das empresas
rem. Também há uma grande ligação entre que empregam gerentes ambientais o fazem por
a função ambiental e os níveis mais altos questões de conformidade às regulamentações, sen-
de administração, por meio de relações de do que quase nenhuma delas pensa em termos de
informações diretas, encontros periódicos melhorias em projetos ou processos (Wheeler III,
ou laços informais. Assim, as exigências e 1992). No Brasil, o quadro é mais dramático, uma
as metas quanto aos ditames ambientais são vez que 75% das maiores empresas industriais do
claras em todos os níveis da organização, e país nem possuem um sistema de gestão ambien-
sistemas que facilitam o alcance dessas tal, segundo pesquisa realizada pela Price
metas são constituídos em cada área da Waterhouse (Gomes, 1996). A maioria das empre-
empresa. Adicionalmente, há uma forte atu- sas industriais, tanto no Brasil como nos países de-
ação com os agentes reguladores, o próprio senvolvidos, enfim, ainda não estão dando a devi-
governo e também em comunidades locais. da importância à dimensão ambiental e a suas im-
Enfim, empresas industriais que adotam plicações para suas atividades de negócios, não
uma postura proativa em relação ao meio desenvolvendo, assim, respostas adequadas.
ambiente procuram continuamente se capa- A relutância em adotar uma postura proativa em
citar melhor para enfrentar os desafios am- relação aos imperativos ambientais fica expressa
bientais e promover a proteção e a respon- na profusão de reclamações quanto às políticas am-
sabilidade ambientais, tanto externamente bientais governamentais, quanto à sua rigidez,

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quanto à sua eficiência e especialmente quanto aos vas, para os problemas ambientais, há efe-
altos custos de conformidade, 1 especialmente nos tivamente casos que não têm considerado
países desenvolvidos, nos quais os governos vêm a postura governamental como uma bar-
intensificando sua ação nessa área. Alguma razão reira, mas sim como uma base de lança-
pode ser dada a essas críticas, se se considerar que mento de inovações, conseguindo benefí-
os custos de conformidade às regulamentações cios internos e vantagens sobre muitos
ambientais podem ter um impacto adverso na concorrentes que relutam ou retardam em
lucratividade de setores ou empresas industriais segui-los. Alguns desses casos que se pode
que já têm menor competitividade no mercado. É apontar são:
o caso daqueles setores sujeitos a maiores custos a) Forçada a obedecer a novas regulamen-
de mão-de-obra, menor disponibilidade de capital tações norte-americanas para reduzir as
ou atraso tecnológico, nos quais os custos ambien- emissões de solvente, a 3M, do setor quí-
tais representam uma compressão ainda maior das mico, descobriu uma forma de evitar o
margens de lucro das empresas. Nesses casos, po- uso dessa substância, substituindo-a por
rém, os problemas não parecem se relacionar uni- soluções aquosas. Tal mudança resultou
camente ao meio ambiente, e não seria só a políti- não só numa melhoria de produtivida-
ca ambiental que afetaria o desempenho econômi- de, por se tratar de substituição de um
co-financeiro dos setores ou das empresas indus- material por outro mais barato e mais
triais em questão. seguro, mas também propiciou à empre-
sa uma vantagem de liderança no desen-
volvimento de produtos sobre os concor-
O PAPEL DA ALTA rentes, que a seguiram só mais tarde
(Porter e Van der Linde, 1995a).
ADMINISTRAÇÃO É b) Atenta à gestão de resíduos, que está sob
FUNDAMENTAL PARA QUE AS uma rigorosa legislação nos Estados
Unidos, a Du Pont & Co., empresa do
INICIATIVAS E OS ESFORÇOS setor químico, descobriu um novo pro-
DA ORGANIZAÇÃO RUMO duto químico, conhecido como HMI. A
empresa verificou que o HMI,
À PROTEÇÃO E ÀS subproduto do processo produtivo do
nylon, poderia ser usado nas indústrias
RESPONSABILIDADES farmacêutica e de tintas e, desde então,
AMBIENTAIS TENHAM SUCESSO. o HMI se tornou uma das principais fon-
tes de lucro para a Du Pont (Wheeler III,
1992).
c) Empresas européias fabricantes de pa-
Também não se pode negar que as regulamen- pel estão sujeitas a uma regulamentação
tações ambientais afetam a estrutura de custos das de gestão de resíduos sólidos, que, em
empresas industriais, mesmo das que não têm os relação à regulamentação norte-ameri-
problemas acima identificados. Dados da Organi- cana, é mais rigorosa e está em vigor há
zação para a Cooperação e Desenvolvimento Eco- muito mais tempo. No entanto, os fabri-
nômico (OCDE), porém, mostram que os custos cantes europeus conseguiram desenvol-
de conformidade ambiental nos países membros – ver uma infra-estrutura de gerenciamen-
que são os que em geral praticam as políticas am- to de resíduos tão mais sofisticada que
bientais mais restritivas – constituem em média os norte-americanos que lhes está per-
menos de 3% dos custos totais ou de giro na maio- mitindo obter produtos de melhor qua-
ria dos setores industriais (Stevens, 1993). lidade, menos contaminados e conquis-
Uma série de iniciativas bem-sucedidas por par- tando fatias crescentes no mercado asi-
te de algumas empresas industriais pode, ainda, tor- ático, em detrimento dos fornecedores
nar alguns desses argumentos defensivos uma fa- norte-americanos (Biddle, 1993).
lácia. Sem discutir aqui a eficiência e efetividade d) Algumas pequenas destilarias indianas
das políticas ambientais dos governos em incenti- usavam tecnologias antigas e tradicio-
var a busca de soluções alternativas, mais criati- nais para a produção de seus produtos,

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Gestão ambiental proativa

lançando um cheiro desagradável e subs- consumidores mas também o fornecimento crescen-


tâncias tóxicas no meio ambiente. Veri- te de sobras de papel pós-consumidas, especialmen-
ficando o enrijecimento das legislações te por programas de reciclagem em escritórios.
ambientais em todo o mundo, essas des- Como resultado, as duas empresas estão aumen-
tilarias buscaram uma organização inter- tando suas fatias de mercado por meio do próprio
nacional especializada que as ajudou a posicionamento como empresas que oferecem pro-
desenvolver e instalar um processo de dutos ambientalmente responsáveis (Biddle, 1993).
tratamento que não só reduziu em 95%
os resíduos tóxicos no meio ambiente
mas também gerou um subproduto, o EMBORA A DIREÇÃO DA
metano, que passou a ser utilizado como PROTEÇÃO E DA
substituto energético, reduzindo também
os custos de consumo de energia nas em- RESPONSABILIDADE
presas (North, 1992).
Já outras empresas lidavam com proble-
AMBIENTAIS PAREÇA
máticas ambientais muito antes do advento INEVITÁVEL NO CONTEXTO DE
recente da preocupação ambiental e das
pressões regulamentares mais duras. Mui- MUDANÇAS DAS EMPRESAS
tas questões de gestão ambiental eram abor- INDUSTRIAIS E FAVORÁVEL AOS
dadas, monitoradas e controladas por meio
da produção diária, sem que fossem esta- INTERESSES DOS NEGÓCIOS
belecidos os conceitos e termos que utili-
zamos quanto aos problemas ambientais
PELAS MELHORIAS NA
nem as pressões externas a que as empre- COMPETITIVIDADE GLOBAL DA
sas industriais estão sujeitas atualmente.
Esse é o caso da Volkswagen, que reconhe- EMPRESA, É AINDA UMA
ceu as considerações ambientais como um PRÁTICA POUCO DIFUNDIDA.
interesse operacional e estratégico somen-
te no final da década de 80. No entanto,
desde a construção de sua primeira planta
em Wolfsburg, na Alemanha, em 1938, a Tais exemplos podem representar uma possibi-
empresa vem considerando os aspectos am- lidade de mudança no comportamento e nos para-
bientais, buscando a utilização de proces- digmas da concorrência industrial e tratar a quali-
sos de produção baseados na minimização dade ambiental como uma fonte potencial de ren-
do uso de água e de sua reciclagem, devido tabilidade e vantagem competitiva. A indústria e
à escassez de água na região próxima à fá- as atividades industriais têm íntima relação com
brica (Welford, 1994). os problemas ambientais da sociedade moderna e
Também os fabricantes do setor de pa- também com as soluções para a reversão do pro-
pel inserem-se na mesma situação. Por cesso. A indústria tem mostrado que, por meio da
exemplo, as norte-americanas Fort Howard tecnologia e da racionalização, pode melhorar a
Wisconsin Tissue Mills e Marcal já vêm eficiência em termos de uso dos recursos, substi-
usando a reciclagem de sobras de papel tuir recursos escassos e reduzir o desperdício.
como fonte principal de seus processos de Como exemplo, pode-se citar a Revolução da Qua-
fabricação desde a década de 20. Fazendo lidade, inicialmente implementada pelas indústri-
isso, elas exploraram um recurso barato que as japonesas e disseminada a partir da década de
lhes permitiu produzir produtos como len- 70 por toda a indústria ocidental, que permitiu o
ços de papel em posições competitivas. Ao surgimento de sistemas de produção enxutos (lean
mesmo tempo, essas empresas não divul- production), altamente produtivos. Também vale
gavam publicitariamente que seus produ- mencionar os “choques do petróleo” das décadas
tos continham fibra reciclada porque os de 70 e 80, que elevaram os preços dos combustí-
consumidores no passado viam nisso uma veis fósseis e levaram à busca e utilização de ener-
indicação de baixa qualidade. Atualmente, gias alternativas, como o etanol produzido da cana-
ambas as empresas têm não só o apoio dos de-açúcar e utilizado por automóveis brasileiros.

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Trata-se de exemplos em que as indústrias fo- O papel da alta administração é funda-


ram desafiadas a encontrar novas formas de lidar mental para que as iniciativas e os esforços
com os problemas enfrentados. Atualmente, os de- da organização rumo à proteção e às respon-
safios envolvem problemas globais, tanto o da sabilidades ambientais tenham sucesso. Nes-
crescente interdependência econômica mundial se sentido, novas abordagens têm surgido
quanto o da crescente interdependência ambien- para que empresas industriais proativas e
tal. A interdependência econômica é reconheci- seus top-executivos reforcem um compro-
da no processo de globalização e pelas profundas metimento da organização com a melhoria
mudanças nos mercados locais e internacionais da qualidade do meio ambiente, como uma
que esse processo acarreta. Por outro lado, evi- declaração de princípios ambientais e um
dencia-se uma interdependência ambiental, em- plano estratégico ambiental, instrumentos
butida nesse processo de globalização econômi- gerenciais que serão vistos a seguir.
ca, adicionada a efeitos paralelos na forma de
danos ambientais globais, diretos e indiretos, das INSTRUMENTOS GERENCIAIS DE
atividades industriais, como o uso intensivo de PROMOÇÃO DA PROTEÇÃO E
recursos e o esgotamento de recursos naturais, a RESPONSABILIDADE AMBIENTAIS
depreciação da camada de ozônio, a poluição, os
acidentes industriais, entre outros. Declaração de princípios ambientais
Os estudos realizados por Hunt e Auster
(1995), já citados, assim como os de North
INDEPENDENTEMENTE (1992) quanto à integração da dimensão
DA FORMA QUE UMA ambiental na organização, constataram que,
freqüentemente, é a média gerência que tem
EMPRESA INDUSTRIAL tomado as primeiras iniciativas quando a
empresa se defronta com problemas am-
ESCOLHA REALIZAR SUAS bientais, muitas vezes sem um apoio ex-
MUDANÇAS, AS QUESTÕES presso por parte dos níveis mais altos até
que uma certa maturidade no pensamento
AMBIENTAIS COLOCAM ambiental da empresa tenha sido atingida.
PERMANENTEMENTE NOVOS No entanto, especialmente nos casos em
que a alta administração assume efetiva-
DESAFIOS À INDÚSTRIA. mente um comprometimento e apoio aos
esforços de melhoria da qualidade ambien-
tal dos processos e produtos da empresa é
que tais esforços são bem-sucedidos. Des-
Independentemente da forma que uma empre- sa forma, o papel da alta administração é
sa industrial escolha realizar suas mudanças, fundamental para perceber e modificar a
engajando-se em iniciativas conjuntas de auto- sensibilização da organização quanto aos
regulação ou agindo individualmente, as ques- problemas ambientais, seja no ambiente
tões ambientais colocam permanentemente no- externo da empresa, seja no interno.
vos desafios à indústria que devem ser supera- O comprometimento da alta administra-
dos para garantir o sucesso e a própria continui- ção, na maioria dos casos, é formalizado
dade dos negócios. Assim, faz-se necessária a mediante uma declaração de política cor-
gestão adequada dos problemas ambientais, in- porativa, expressa em palavras, que inte-
tegrando-a aos sistemas de gestão convencionais gra as questões ambientais aos negócios da
e permitindo que a organização avance para uma empresa. O propósito dessa formalização é
mais ampla aceitação dos conceitos e princípios não só divulgar o envolvimento na solução
ambientais, no desenvolvimento de técnicas e de problemas ambientais à própria organi-
sistemas para capturar os impactos ambientais zação mas também encorajar um compro-
de produtos e processos e no reconhecimento da misso de toda a empresa, além de tornar pú-
necessidade de uma reforma organizacional e blica a decisão a outros grupos de interes-
gerencial para atingir melhores desempenhos ses, como governos, consumidores, inves-
ambientais. tidores e comunidades locais.

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Gestão ambiental proativa

Não há um modelo definitivo dessa de- • Dominar as poluições acidentais: como respon-
claração, mas algumas empresas adotam a sáveis, devemos desenvolver os instrumentos e
Carta de Princípios para o Desenvolvimento as medidas necessários para impedir que possam
Sustentável, da CIC, ou os Princípios Ceres, ocorrer efeitos adversos ao meio ambiente devi-
ou ainda os Princípios do Programa Atua- do ao mau funcionamento de nossas instalações.
ção Responsável, especialmente se for do Isso é assegurado por meio de estudos de riscos,
setor químico, ou se espelham neles. que envolvem equipes multidisciplinares de en-
O conteúdo de uma declaração de prin- genheiros. Tais estudos resultam em investimen-
cípios ambientais não só menciona o com- tos que garantem a diminuição dos riscos exis-
prometimento, mas também estabelece as tentes. A prevenção de acidentes se faz por meio
metas básicas da empresa industrial em re- de estudos de riscos, que levam à melhoria dos
lação à causa ambiental. Nesse sentido, a processos de exploração, possibilitando a imple-
maioria das declarações incluem a confor- mentação de planos de emergência e a formação
midade a todas as regras e regulamentações das pessoas envolvidas.
aplicáveis, assim como o comprometimen-
to de cada empregado em verificar se essa
UMA ABORDAGEM MAIS
conformidade é respeitada e assegurar que
as operações e os produtos possam ser de- PROATIVA ENVOLVE TAMBÉM
senvolvidos de uma forma ambientalmente
segura. Isso porque o gerenciamento da O GERENCIAMENTO DO RISCO,
conformidade pode proteger uma empresa A PREVENÇÃO DA POLUIÇÃO E
de ações mais drásticas decorrentes das re-
gulamentações existentes. A COMUNICAÇÃO, O QUE
Já uma abordagem mais proativa envol-
AJUDA A ORGANIZAÇÃO A
ve também o gerenciamento do risco, a
prevenção da poluição e a comunicação, o ADMINISTRAR AS POLÍTICAS
que ajuda a organização a administrar as
políticas ambientais também para o futu- AMBIENTAIS TAMBÉM
ro. Mediante o gerenciamento do risco, PARA O FUTURO.
uma empresa industrial identifica danos
potenciais e assegura que as prioridades
estão sendo colocadas e os recursos,
alocados de acordo com a prioridade de • Gerenciar com rigor a eliminação de
risco. Já a prevenção da poluição repre- efluentes e resíduos: a gestão rigorosa da eli-
senta a minimização ou eliminação da po- minação de resíduos e de efluentes líquidos e
luição causada pela atividade industrial. A gasosos deve ser feita não somente em respeito
comunicação é um mecanismo que parti- à legislação, mas utilizando a melhor tecnolo-
lha a importância do sucesso ambiental da gia disponível e economicamente compatível.
empresa com todos os empregados e os • Desenvolver e comercializar produtos com
grupos de interesses. um estrito respeito à saúde humana e ao meio
Esses aspectos estão evidenciados na ambiente: o respeito à saúde humana e ao
Política de Meio Ambiente da Rhodia S.A., ecossistema não é uma preocupação recente da
que declara (Rhodia, 1992): Rhodia. (...) Cada etapa de vida de um produto
• “ Minimizar a produção de efluentes – da concepção à destruição – deve considerar
e resíduos, por meio de tecnologias a proteção ao meio ambiente.
limpas e reciclagens: a redução de • Desenvolver a comunicação interna e exter-
efluentes e resíduos, por meio de tecno- na: (...) Em relação ao público externo, e con-
logias limpas e processos de reciclagens, forme o conceito de ‘portas abertas’, enfatizam-
constitui o ponto fundamental de nossa se a maior integração das fábricas com as co-
política. A idéia básica: preferimos pro- munidades vizinhas às suas instalações e a va-
duzir menos efluentes e resíduos e ob- lorização do diálogo com as autoridades, os ór-
ter melhores rendimentos, em vez de gãos de controle ambiental e a imprensa. A
suportar os custos de tratamento. Rhodia dispõe de ferramentas de gestão – os

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Economia de Empresas

Índices de Meio Ambiente – que permitem uma instalado em sua própria planta (Gomes,
melhoria na comunicação interna de seus 1996). As metas quantitativas servem
objetivos e na comunicação com o público como incentivo para o esforço geral da or-
externo.” ganização e são normalmente determinadas
No entanto, uma declaração por si mesma não dentro de parâmetros possíveis de serem
é o suficiente. A fim de que a declaração não fi- alcançados.
que só na formalidade, ela é traduzida para as po- Para se implantar metas ambientais
líticas e práticas da empresa, o que normalmente é como essa, as empresas precisam primei-
feito mediante a elaboração de um plano estraté- ramente conhecer seu estado-atual-da-arte
gico ambiental. no campo ambiental, seja quanto às exi-
gências dos grupos de interesses, seja
Plano estratégico ambiental quanto aos seus impactos no meio ambi-
Os planos ambientais estabelecem a política es- ente. Em seguida, necessitam planejar suas
tratégica da empresa diante dos imperativos am- ações e estabelecer um conjunto de práti-
bientais, determinando as metas a serem atingidas, cas e procedimentos que permita adminis-
assim como as medidas a serem utilizadas para im- trar as relações empresa-meio ambiente,
plementar a estratégia, avaliar seu resultado e es- monitorando suas atividades, corrigindo
tabelecer novos planos. problemas, implementando novas solu-
O conteúdo dos planos ambientais varia de em- ções, avaliando riscos e adotando medidas
presa para empresa, mas as que se voltam para os preventivas dentro da política e dos obje-
princípios da sustentabilidade e responsabilidade tivos determinados pelo plano estratégico
ambientais geralmente utilizam requisitos internos ambiental.
ou metas até mais restritivos que os legalmente im-
postos, adotando uma abordagem integrada das CONCLUSÃO
questões ambientais em sua estratégia de negóci-
os. Alguns aspectos que normalmente são observa- O setor industrial passa por um impor-
dos nessa abordagem integrada são os seguintes: tante período de transição e ajustes diante
• prioridade à saúde e segurança dos emprega- dos imperativos ambientais, que inclui, de
dos, dos consumidores e da comunidade; um lado, o tratamento do meio ambiente
• promoção de políticas que evitem os recursos como uma questão estratégica e fonte po-
escassos, espécies em extinção e apoio a regi- tencial de rentabilidade e vantagem com-
mes opressivos; petitiva e, de outro, a busca de soluções
• influência direta da política ambiental nos pro- para os problemas ambientais, atuais e fu-
cessos de fabricação, práticas de manutenção e turos. As empresas industriais estão sendo
emissões; desafiadas a encontrar novas formas de or-
• influência da política ambiental no projeto de pro- ganização e administração da produção que
dutos e processos de formas diretas e explícitas; atendam às exigências ambientais e que re-
• redução, reuso e reciclagem de materiais; presentem uma participação ativa do
• monitoração e mensuração das emissões; empresariado no processo de mudanças de
• redução do uso e de emissão de substâncias tó- comportamento necessário para que as ex-
xicas; pectativas da sociedade relativas à melho-
• recuperação de produtos e embalagens após o ria da qualidade de vida sejam atingidas.
uso, para reuso e reciclagem; Há uma área específica de problemática
• treinamento ambiental aos empregados; referente à tecnologia como solução para
• melhoria ambiental contínua; os ditames ambientais, mas verifica-se ain-
• contabilidade de custos ambientais. da a necessidade de uma gestão adequada
Ao elaborar seu plano ambiental, muitas em- de outras questões relacionadas ao meio
presas sentem necessidade de quantificar seus ob- ambiente que permitam que uma organiza-
jetivos e medir seu desempenho ambiental. É o ção industrial e a própria sociedade avan-
caso da fábrica da Du Pont em Paulínia, SP, que se cem rumo a uma mais ampla aceitação dos
comprometeu em reduzir em 30% o consumo de conceitos e princípios ambientais. Essas
água, mesmo não tendo custos com a água que outras questões relacionam-se à possibili-
consome, a qual é retirada de um poço artesiano dade de se conciliar a expansão econômica

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Gestão ambiental proativa

e o avanço industrial e tecnológico com a em desenvolvimento, a sociedade hoje questiona o


preservação ambiental, que evidenciam o preço pago por todo esse esforço. O meio ambien-
próprio conflito da sociedade atual, que é te se tornou um elemento-chave para se repensar
o de aliar o crescimento à qualidade de vida, os valores e as ideologias vigentes e se estabele-
de crescer sem destruir, de garantir a sua cer novas formas de pensamento e ação em todas
futuridade. as práticas produtivas. O meio ambiente tem-se
De fato, no que se refere ao meio ambi- tornado um elemento vital para se estabelecer os
ente, é exatamente o problema com o qual novos paradigmas da concorrência industrial e,
a sociedade moderna se depara. Depois de por isso, aflora como importante questão para se
períodos de crescimento contínuo e explo- estabelecerem os rumos futuros dos mercados e
sivo, de adoção de modelos de desenvolvi- da sociedade, locais ou globais. Mesmo que soe
mento que viabilizassem o crescimento a “piegas” falar sobre meio ambiente e proteção
qualquer preço, especialmente nos países ambiental. 

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NOTAS

Este artigo foi produzido a partir da financeiro da Capes (Fundação Coordenação trabalhadores e cidadãos comuns norte-
Dissertação de Mestrado A evolução da de Aper feiçoamento de Pessoal de Nível americanos atacando as regras ambientais,
prática ambiental em empresas Superior). alegando questões de custos e de direitos.
industriais: algumas considerações sobre o Também os artigos de Walley e Whitehead
estado-atual-da-arte e o caso brasileiro, (1994a, 1994b, 1994c) defendem esse
apresentada à EAESP-FGV, sob a orientação 1. Essa postura é evidenciada em Cordtz posicionamento, acrescentando os efeitos
do Prof. Dr. José Carlos Barbieri e com apoio (1994). O autor apresenta firmas, na competitividade industrial do país.

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