Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
E SOBRANCELHAS
Daniele Simão
Biossegurança na estética
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Há muito tempo, as consequências do trabalho na vida e na saúde do
ser humano são objeto de análise, discussão e estudo. Por isso, hoje se
compreende a importância de desenvolver ações específicas de proteção
à vida, à saúde e ao meio ambiente. O conjunto de ações que engloba
desde o uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) até o manuseio
dos resíduos gerados e o seu descarte com o menor risco possível ao
meio ambiente é denominado “biossegurança”.
Os profissionais que prestam serviços na área da estética e da beleza
estão expostos a riscos biológicos, químicos, ergonômicos e de aciden-
tes. Portanto, eles precisam estar atentos à aplicação dos princípios da
biossegurança no exercício de suas atividades. Neste capítulo, você vai
estudar a biossegurança e conhecer os seus princípios. Você também vai
verificar quais são os instrumentos legais que determinam a aplicação da
biossegurança na estética. Além disso, vai ver como proceder para atuar
em ambientes estéticos biosseguros.
1 O que é biossegurança?
Acredita-se que o jaleco tenha surgido na Idade Média. Por algum tempo,
a sujeira e os resquícios de sangue na vestimenta indicavam que o médico
tinha muitos pacientes, o que lhe garantia respeito e reconhecimento. O jaleco
branco e limpo só se tornou norma após a comprovação, por meio de estudos
científicos, de que muitas doenças eram transmitidas justamente pela falta
2 Biossegurança na estética
classificadas como prioridade alta (P1) também foram descritas. Entre estas
últimas, destacam-se os casos de queimaduras relacionadas à criolipólise e
danos decorrentes da micropigmentação, com relatos de danos aos olhos de
clientes (ANVISA, 2017; 2018; 2019).
Na opinião de especialistas, a principal limitação não está nas tecnologias
disponíveis para eliminar ou minimizar os riscos, e sim na modificação com-
portamental dos profissionais. Assim, o grande desafio da biossegurança no
Brasil é a mudança de culturas institucionais e, principalmente, a conquista
do comprometimento e da responsabilidade profissional em relação à adoção
de práticas biosseguras (BRASIL, 2010).
Esse cenário fica evidente ao se observar o risco de transmissão microbiana
quando manicures e pedicures, por falta de preparo ou conhecimento sobre as
recomendações, não aderem às medidas de biossegurança simples, como utilização
de EPIs e de técnicas apropriadas de esterilização no reprocessamento de artigos,
descarte de materiais de uso único e até higienização das mãos. No entanto,
com os milhares de atendimentos, há poucos registros de infecções relativas
aos profissionais e à clientela. Isso pode ser atribuído à ausência de notificação
e de estudos epidemiológicos nacionais e/ou internacionais bem dirigidos e com
impacto direcionados a esse tipo de atividade (GARBACCIO; OLIVEIRA, 2013).
Como você pode evitar esse cenário e ser um profissional responsável
e comprometido com a biossegurança, e ainda regularizar seu negócio ou
procurar ambientes regularizados para trabalhar? Primeiramente, você precisa
conhecer os princípios de biossegurança para a área de estética e embeleza-
mento, bem como as exigências na sua região de atuação. Depois, deve se
comprometer a aplicar as técnicas e atender às exigências adequadamente. Por
fim, precisa orientar colegas de trabalho e clientes. Desse modo, é possível
reverter o quadro atual.
Há normas e procedimentos para manter seu ambiente de trabalho seguro.
Eles são regulamentados por agências federais, estaduais e municipais, ampa-
radas em pesquisas e normatizações de órgãos internacionais, como a OMS. As
agências ou órgãos federais instituem diretrizes para a fabricação, a venda e o
uso de equipamentos, materiais e componentes químicos, como cosméticos e
produtos de limpeza e desinfecção. Além disso, criam diretrizes para garantir
a biossegurança no ambiente laboral e definem os tipos de serviços que podem
ser realizados nos estabelecimentos estéticos e de embelezamento. Por sua
vez, as agências ou órgãos estaduais e municipais regulamentam, concedem
e acompanham licenças e condutas.
As obrigações quanto à biossegurança e à regularização dos estabele-
cimentos de interesse à saúde são determinadas por regulamentações: leis
8 Biossegurança na estética
sanitárias para essa área são definidas por estados e municípios, com base
nas regulamentações federais.
A Lei nº 12.592, de 18 de janeiro de 2012, reconheceu o exercício das
atividades profissionais da área de beleza e congêneres e a obrigatoriedade
da aplicação de normas sanitárias. Já a Lei nº 13.643, de 3 de abril de 2018,
regulamenta a profissão de esteticista e determina responsabilidade técnica
para salas de atendimento estético e centros de estética.
Para fins de licenciamento, os serviços de estética estão condicionados à
classificação do grau de risco das atividades econômicas sujeitas à vigilância
sanitária pela Resolução – RDC nº 153, de 26 de abril de 2017. A atividade de
estética se encontra no Anexo III da Instrução Normativa nº 16/2017 — Risco
dependente de informação (Classificação Nacional de Atividades Econômicas
[CNAE] nº 9602-5/2002 — Atividades de estética e outros serviços de cuidados
com a beleza). Assim, tais estabelecimentos devem seguir as legislações para
controle de infecções e processamento de produtos para saúde, conforme a
Resolução RDC nº 15, de 15 de março de 2012, que dispõe sobre requisitos
de boas práticas para o processamento de produtos para saúde e dá outras
providências.
Outras duas resoluções sobre esse assunto são importantes para você: a
Resolução – RE nº 2.605, de 11 de agosto de 2006, que estabelece a lista de
produtos médicos enquadrados como de uso único, isto é, proibidos de serem
reprocessados (por exemplo, materiais perfurocortantes, como agulhas e lâ-
minas); e a Resolução – RE nº 2.606, de 11 de agosto de 2006, com diretrizes
para elaboração, validação e implantação de protocolos de reprocessamento
de produtos médicos (ANVISA, 2006a).
Com base nesses instrumentos legais para controle de infecções, o processo
de descontaminação está subdivido em três níveis, utilizados conforme o
material utilizado e o contato com tecidos ou fluidos biológicos. São eles:
limpeza, desinfecção e esterilização. A limpeza é a remoção de sujidades
visíveis e detritos dos artigos, realizada por ação mecânica com água adicionada
de sabão ou detergente, de forma manual ou automatizada, que proporciona
a redução da carga microbiana. A limpeza sempre precede os processos de
desinfecção e esterilização.
Já a desinfecção é o processo físico ou químico que elimina a maioria
dos micro-organismos patogênicos de objetos e superfícies. Por sua vez, a
esterilização é processo físico ou químico que elimina todas as formas de
vida microbiana, desde vírus, fungos e bactérias até esporos bacterianos. A
esterilização é considerada o mais alto nível de descontaminação (OMS, 2014;
ANVISA, 2006b).
10 Biossegurança na estética
Você deve estar se perguntando: por que higienizar as mãos tantas vezes? É
fácil entender por que isso não é exagero. A higiene das mãos é mundialmente
reconhecida como uma das principais estratégias para prevenir a disseminação
de infecções e de micro-organismos, especialmente os multirresistentes. Estes,
na maioria das vezes, são veiculados e transmitidos pelas mãos (BRASIL, 2010).
Reconhecendo essa importância, a Anvisa publicou a RDC nº 42, de 25 de
outubro de 2010, que trata da obrigatoriedade de disponibilização de preparação
Biossegurança na estética 17
ABNT. ABNT NBR 16283:2015. Salão de beleza: terminologia. Rio de Janeiro: ABNT, 2015.
ABNT. ABNT NBR 16483:2016. Salão de beleza: competências de pessoas que atuam nos
salões de beleza. Rio de Janeiro: ABNT, 2016.
ABNT. ABNT NBR 9050:2020. Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipa-
mentos urbanos. Rio de Janeiro: ABNT, 2020.
ANVISA. Gerenciamento de resíduos de serviços de saúde. Brasília: ANVISA, 2006b.
ANVISA. Higienização das mãos: quando e como fazer? Brasília: ANVISA, 2020b. Dispo-
nível em: https://www20.anvisa.gov.br/segurancadopaciente/index.php/publicacoes/
item/higienizacao-das-maos-quando-e-como-fazer?category_id=177. Acesso em: 6
ago. 2020.
ANVISA. Instrução Normativa – IN n° 16, de 26 de abril de 2017. Dispõe sobre a lista de
Classificação Nacional de Atividades Econômicas – CNAE classificadas por grau de
risco para fins de licenciamento sanitário. Brasília: ANVISA, 2017. Disponível em: http://
portal.anvisa.gov.br/documents/10181/2718376/IN_16_2017_.pdf/e721c3cd-2fcc-40f9-
9e22-6e62d751328c. Acesso em: 6 ago. 2020.
ANVISA. Manual para regularização de equipamentos médicos na Anvisa. Brasília: ANVISA,
2020a. Disponível em: encurtador.com.br/biLN4. Acesso em: 6 ago. 2020.
ANVISA. Resolução – RDC n° 153, de 26 de abril de 2017. Classificação do Grau de Risco.
Brasília: ANVISA, 2017.
ANVISA. Resolução – RDC nº 07, de 10 de fevereiro de 2015. Dispõe sobre os requisi-
tos técnicos para a regularização de produtos de higiene pessoal, cosméticos e
perfumes e dá outras providências. Brasília: ANVISA, 2015. Disponível em: http://
bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2015/rdc0007_10_02_2015.pdf. Acesso
em: 6 ago. 2020.
ANVISA. Resolução – RDC nº 15, de 15 de março de 2012. Dispõe sobre requisitos de boas
práticas para o processamento de produtos para saúde e dá outras providências. Brasília:
ANVISA, 2012. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2012/
rdc0015_15_03_2012.html. Acesso em: 6 ago. 2020.
ANVISA. Resolução – RDC nº 185, de 22 de outubro de 2001. Brasília: ANVISA, 2001. Disponível
em: http://portal.anvisa.gov.br/documents/33864/284972/rdc_185.pdf/bb477d60-
4f90-419d-87e5-343f7f7c925e. Acesso em: 6 ago. 2020.
ANVISA. Resolução – RDC nº 48, de 25 de outubro de 2013. Aprova o Regulamento Téc-
nico de Boas Práticas de Fabricação para Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos
e Perfumes, e dá outras providências. Brasília: ANVISA, 2013. Disponível em: https://
bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2013/rdc0048_25_10_2013.html. Acesso
em: 6 ago. 2020.
Biossegurança na estética 19
BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2616, de 12 de maio de 1998. Brasília: MS, 1998. Dis-
ponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/1998/prt2616_12_05_1998.
html. Acesos em: 6 ago. 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho. NR 32 – segurança e saúde no trabalho em serviços de
saúde. Brasília: MTb, 2005. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/
Arquivos_SST/SST_NR/NR-32.pdf. Acesso em: 6 ago. 2020.
BRASIL. Ministério do Trabalho. NR 6 – equipamento de proteção individual – EPI. Brasília:
MTb, 1978. Disponível em: https://enit.trabalho.gov.br/portal/images/Arquivos_SST/
SST_NR/NR-06.pdf. Acesso em: 6 ago. 2020.CALLEGARI, D. C. O uso do jaleco branco
por médicos. Revista Ser Médico, São Paulo, ed. 28, 2004. Disponível em: https://www.
cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=1502004. Acesso em: 6 ago. 2020.
COSTA, M. A. F.; COSTA, M. F. B. Biossegurança: o elo estratégico de SST. Revista CIPA,
[s. l.], n. 253, 2002. Disponível em: encurtador.com.br/jACJY. Acesso em: 6 ago. 2020.
FASHION COATS. Você sabe a origem do jaleco? 2020. Disponível em: https://www.
fashioncoats.com.br/loja/noticia.php?loja=660866&id=9. Acesso em: 6 ago. 2020.
FIOCRUZ. Biossegurança em foco. Recife: Fiocruz-PE, 2020.
GARBACCIO, J. L.; OLIVEIRA A. C. O risco oculto no segmento de estética e beleza:
uma avaliação do conhecimento dos profissionais e das práticas de biossegu-
rança nos salões de beleza. Texto & Contexto – Enfermagem, Florianópolis, v. 22, n.
4, p. 989–998, 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-
-07072013000400015&script=sci_arttext. Acesso em: 6 ago. 2020.
OMS. Salve vidas: higienize suas mãos. Brasília: OPAS, 2014.
PASSOS, P. Por que os médicos usam jaleco branco? 2016. Disponível em: https://super.abril.
com.br/cultura/por-que-os-medicos-usam-jaleco-branco/2016. Acesso em: 6 ago. 2020.
RAMOS, J. M. P. Biossegurança em estabelecimentos de beleza e afins. São Paulo: Atheneu,
2009.
SILVA, J. V.; BARBOSA, S. R. M.; DUARTE, S. R. M. P. (org.). Biossegurança no contexto da
saúde. São Paulo: Iátria, 2014.
Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun-
cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a
rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de
local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade
sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links.