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Biossegurança em Saúde

Biossegurança em Estabelecimentos de Beleza e Estética


Daniele Cristiana de Oliveira Lemes; Jamilla Ferraz Damasceno; Luiza Helena dos Reis
Cruz; Nayara Batista de Sales; Thais Mendes Cunha¹;
Danilson Fernandes de Oliviera²

1. INTRODUÇÃO

Devido à grande expansão do setor de estética no Brasil, condutas de qualidade na prestação de


serviços se tornaram fundamentais, especialmente aquelas relacionadas a biossegurança, visto que
a adoção de medidas de prevenção de riscos inerentes nos procedimentos de beleza e estética
preconiza a prevenção da saúde dos profissionais e clientes.

Essa pesquisa tem como objetivo fazer uma breve revisão bibliográfica no intuito de conhecer
algumas pesquisas acerca da biossegurança nos espaços de beleza e estética. Verificar os
apontamentos para a conscientização da importância da biossegurança e das proposições feitas para
a adoção de práticas efetivas de prevenção nos ambientes em que vende o produto: beleza, bem
como fomentar uma discussão a respeito da temática para próximos trabalhos.

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) O exercício das atividades
profissionais de cabeleireiro, barbeiro, esteticista, manicure, pedicure, depilador e maquiador foi
regulamentado pela Lei nº 12.592, de 18 de janeiro de 2012. Conforme o art. 4º da Lei, é
responsabilidade desses profissionais efetuar a esterilização de materiais e utensílios utilizados no
atendimento a seus clientes.

Em virtude disso, é de extrema importância a conscientização e treinamento adequado pelos


profissionais, para que seja aplicado de forma ética e responsável, as medidas de biossegurança que
tem como objetivo minimizar, e até mesmo evitar os riscos de contaminações por agentes
microbianos, e consequentemente prevenir a proliferação de vírus e bactérias.

Segundo Piatti (2018), atualmente, boa parte dos profissionais são tecnicamente despreparados e, na
maioria dos casos, há um desconhecimento básico de doenças que podem ser disseminadas por
contato físico dentro de ambientes fechados. Além disso, a relação entre o profissional e o cliente
exige uma maior proximidade, sendo inevitável o contato físico, já que a função envolve a realização
de tratamentos como a limpeza de pele, por exemplo.

Os profissionais deste ramo manuseiam áreas do corpo habitadas por organismos que podem ser
transmitidos pelas mãos do profissional, pelos utensílios, produtos contaminados ou por acidentes
com os materiais perfurocortantes. Segundo Leão (2022) a falta de informação sobre biossegurança
e sobre questões voltadas ao meio ambiente nas estéticas e salões de beleza oferece riscos para a
saúde pública dos funcionários e clientes.

Contudo as medidas de biossegurança abrangem um conjunto de cuidados que vai desde a


esterilização de matérias até o uso adequado de Equipamentos de Proteção Individual e Coletivo
(EPIs) e (EPCs) e administração correta de resíduos biológicos e químicos gerados pelos
estabelecimentos.

Parafraseando Zamoner (2008), a adoção de procedimentos e regramentos, licenciamentos na área


da biossegurança e gerenciamento de resíduos se torna imprescindível diante do avanço da demanda
pelo produto beleza.
1 Nome dos acadêmicos
2 Nome do Professor tutor externo
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Biomedicina (FLC8953BBI) – Prática do Módulo II
08/07/22
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Conforme a Cartilha de Boas Práticas de funcionamento para institutos e salões de beleza, estética,
cabeleireiro e similares produzida pela Prefeitura Municipal de Belo Horizonte em parceria com o
SUS,
As lesões na pele, visíveis ou não, são a principal porta de entrada de
microrganismos como bactérias, fungos e vírus. Algumas bactérias e
fungos estão presentes no corpo humano sem causar doenças, entretanto
quando ocorrem lesões ou abrasoe da pele estes microrganismos penetram
em nosso corpo podendo causar infecções bacterianas manifestadas como
furúnculos ou abcessos e infecções fúngicas conhecidas como micoses. Os
vírus podem causar verrugas, tumores na pele, hepatite B e C e infecções
pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV), também pode ocorrer a
transmissão de parasitas causando escabiose (sarna) e pediculose (Piolho).
BELO HORIZONTE, 2015, p. 3)

Diante disso, pode-se dizer que com o risco iminente, o perigo de contaminação é constante, e para
minimizar os adventos mencionados acima, a adoção da prática de biossegurança relacionada a
limpeza e higienização de instrumentos e ambiente se tornam fundamentais nestes
estabelecimentos proporcionando assim segurança e bem-estar para a equipe de trabalho e para os
clientes.

As mãos são os principais e mais preciosos instrumentos de trabalho que o profissional da beleza
possui. Além da higiene e apresentação pessoal, a higienização das mãos de forma constante faz
parte de medidas simples para evitar a contaminação. Além disso, são sugeridas ações preventivas
como o descarte adequado de perfurocortantes, o uso de equipamentos de proteção individual –
EPI’s, a limpeza, desinfecção e esterilização de utensílios de limpeza e desinfecção de superfícies
de forma adequada e constante.
Vale aqui apresentar a definição dos termos relacionados por Valle e Teixeira:

Limpeza- é o processo pelo qual são removidos materiais estranhos


(matéria orgânica, sujidade) de superfícies e objetos. Normalmente é
realizada através da aplicação de água e sabão ou detergente e ação
mecânica.
Desinfecção– é um processo físico ou químico que destrói
microrganismos presentes em objetos inanimados, mas são
necessariamente os esporos bacterianos.
Esterilização– é um processo físico ou químico, através do qual são
destruídas todas as formas microbianas, inclusive os esporos bacterianos.
Descontaminação– é o processo de desinfecção ou esterilização terminal
de objetos e superfícies contaminados com microrganismos patogênicos,
de forma a torná-los seguros para manipulação.
Antissepsia– Procedimento através do qual microrganismos presentes em
tecidos soa destruídos ou eliminados papos a aplicação de agentes
antimicrobianos. (VALLE, TEIXEIRA, 196. P 136)

Parafraseando Ramos (2009), a transmissão de agentes infecciosos pode ocorrer de maneira direta
por meio do contato físico e indireta por meio de instrumentos contaminados ou contaminação
cruzada. De maneira direta, a contaminação pode ocorrer por via aérea ou de forma cutânea quando
se tem o contato com sangue ou áreas contaminadas e picadas de agulha ou lâmias, ainda na forma
direta por via aérea através de inalação de microrganismos ou partículas aerossóis e por gotículas.

Nesta perspectiva de prevenção em estabelecimentos de beleza e estética, é recomendável a


utilização de aspiração ou varredura úmida para evitar a dispersão de poeira contaminada, além da
implementação de um plano de limpeza e desinfecção do ambiente levando em conta os riscos
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iminentes em cada espaço e estrutura, sem se esquecer de fazer usos dos EPIs para todas as ações
preventivas.

Os estudos feitos por Garbaccio e Oliviera quanto as recomendações de biossegurança, descrevem


aspectos relacionados à baixa adesão e o pouco conhecimento dos profissionais da área de beleza
e estética, evidenciados por:

insuficiente quantidade de instrumentais para o atendimento dos clientes, o reuso


de materiais descartáveis como as lâminas, a inadequada desinfecção e esterilização
de instrumentais e equipamentos, o uso incorreto de soluções químicas
desinfetantes, a inadequada assistência no pós trauma à pele e mucosas, o baixo
índice de imunização contra o vírus de hepatite B (VHB) e desconhecimento
da necessidade de vacinar, o incorreto descarte de materiais cortantes e
perfurantes, o uso incorreto ou o não uso de equipamentos de proteção
individual (EPI)e as falhas na prevenção de acidentes associado a más
condições físicas e sanitárias dos locais (GARBACCIO; OLIVEIRA, 2012 p. 704)

Numa outra publicação mais direcionada as mesmas autoras, fizeram uma pesquisa em salões de
beleza credenciados na cidade de Arcos/MG e em uma escola técnica de Podologia na cidade de
Belo Horizonte/MG no intuito de avaliar o conhecimento e a adesão às recomendações de
biossegurança por manicures/pedicures (denominadas no gráfico abaixo como MP) que trabalham
em salões de beleza e entre os estudantes de Podologia (EP).

Conforme o gráfico acima, Garbaccio e Oliviera (2013) avaliam que, o processo de


descontaminação foi, de forma equivocada, associado à esterilização: fricção por álcool, fervura,
uso de desinfetantes, detergentes de uso doméstico e flambagem. Nenhuma MP citou o detergente
enzimático e apenas uma das 30 EPs entrevistadas afirmou usar tal produto, apesar de 36,7% delas
terem o conceito correto de descontaminação.

Analisando o conhecimento sobre descontaminação, 50% das MPs não souberam expressar
qualquer definição para o termo avaliado, não respondendo à questão. Fato semelhante foi
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encontrado para o termo desinfecção, com apenas 16,7% das MPs e 43,3% das EP definindo
corretamente este método de reprocessamento (p<0,05). Houve pouca clareza e incoerência entre
11% das MPs e 20% das EPs para diferenciar desinfecção de esterilização.

A adesão à esterilização de artigos foi referida por mais de 90% dos participantes, mas o conceito
deste processo não foi descrito claramente, com diferença significativa entre MP e EP (p<0,05).
Dentre as que afirmaram utilizar algum método de esterilização, o mais citado foi o calor seco,
representado pela estufa com 83% para o grupo MP e 57,1% pelo EP, mas em uma avaliação mais
detalhada percebeu-se que, entre as MPs, o aparelho de esterilização era um "forninho" (aparelho
sem termômetro externo). No tocante ao calor úmido a utilização da autoclave foi pouco referida
(MP/3,8% e EP/25%). O álcool etílico foi citado em maior porcentagem pelo grupo MP (7,5%) o
que corroborou com o desconhecimento do conceito de esterilização maior entre as MPs (92,6%),
comparado às EPs (40%). Foi relatado ainda que a desinfecção ou esterilização de artigos ocorre
apenas quando há contaminação por sangue (MP/9,5% e EP/10%) ou quando percebe alguma
sujeira no instrumental (MP/1,8% e EP/3,3).

No conhecimento sobre os métodos de esterilização, houve maior acerto nas questões pelas EPs
(p< 0,05). A esterilização para artigos metálicos citados pelo grupo MP foi a estufa ou forno na
temperatura de 100ºC por 30 minutos com 74,1% e no grupo EP 10%. A autoclave a 121ºC por 15-
30 minutos foi pontuada por 90% das EPs e 14,8% das MPs.

No que se refere aos invólucros próprios para esterilização, percebeu-se que houve
desconhecimento por parte das MPs da existência deles e as profissionais deste grupo responderam
que os instrumentais eram colocados dentro do "forninho" sem qualquer embalagem e mantidos
dentro do aparelho até sua utilização. O grupo EP (100%) afirmou conhecer as embalagens,
contudo uma pequena parcela (23,3%) as utilizava (Figura 2).

Na avaliação acerca da higienização de bacias/cubas, a maior parte das entrevistadas (MP/98% e


EP/83,3%) referiu usar estes artigos, e 94,4% das MPs e 53,4% das EPs, afirmaram protegê-las
com plásticos descartáveis ou higienizá-las a cada cliente com água e sabão.

Questionou-se também sobre a substituição das toalhas de tecido entre cada cliente sendo maior
pelas MPs (88%), comparado ao grupo EP (65%) (p<0,05). A troca apenas na presença de sujidade
visível foi citada por 8% das MPs e 24% das EPs e realizada sem critérios por 4% e 8% das MPs e
EPs, respectivamente.

Neste estudo, todas as profissionais afirmaram executar a limpeza e/ou desinfecção das superfícies
e mobiliários do salão de beleza, contudo, 7,5% MPs e 30% EPs utilizando espanador, algum tipo
de tecido, álcool absoluto e métodos não especificados.

Quanto aos fatores dificultadores para adesão às medidas de biossegurança a principal justificativa
foi a falta de informação a respeito do tema (43%). Questionados sobre as legislações acerca das
medidas de biossegurança, que poderiam ser divulgados pela Vigilância Sanitária (Visa), apenas
1,9% no grupo MP conhecia alguma legislação com exigências sanitárias para salões de beleza.
Menos da metade (37%) das participantes afirmou ter recebido inspeção da Visa no
estabelecimento onde trabalhava, porém todos não possuíam alvará de funcionamento.
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3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Como resultado desta pesquisa, é possível afirmar que a biossegurança é uma temática de suma
relevância e precisa ser bem estudada, compreendida, divulgada, adotada e exigida pelos órgãos
públicos no licenciamento de espaços com potencial de risco para a saúde pública como salões de beleza
e de estética.

Uma vez que a pele é colonizada por microrganismos que formam a flora ou microbiota natural,
elencamos um episódio no trato da beleza de uma das pesquisadoras para apontar os principais cuidados
e riscos a serem observados.

Em um dia de festa, a cliente chega ao estabelecimento para fazer cabelo e maquiagem. Ao deitar-se no
lavatório já higienizado, o profissional usar toalhas novas ou limpas, (passou por uma assepsia
adequada) para secar os cabelos da cliente. Depois ela será atendida na cadeira (limpa com álcool 70)
para arrumar os cabelos, fará uso de prendedores, pentes e escovas esterilizadas quimicamente e de uso
individualizado. As pinças, tesouras e demais utensílios de metal devem passar pela autoclave e serem
devidamente esterilizados.

Para a maquiagem, o Profissional deve fazer uso de EPIs máscara e luvas retiradas diante da cliente.
Os produtos líquidos devem ser colocados em dispenses adequados e em placas de acrílico ou metálica
devidamente higienizadas para evitar a contaminação de pincel com o produto. Os pinceis, por sua vez,
devem ser de uso individual (descartável) ou serem higienizados em uma solução 0,5% de detergente
enzimático ou dependendo do modelo do pincel deve ser higienizado com álcool 70 graus.GL. Sendo
recomendado por esse grupo que o profissional forme no mínimo três kits de pinceis e utensílios para
maquiagens para usar ao longo do dia de trabalho.

Tal conduta terá como consequência o reconhecimento pela cliente de que passou por um ambiente
seguro e por profissionais preocupados com a saúde dela. Assim, a Biossegurança em estabelecimentos
de beleza agrega valor ao trabalho do profissional transmitindo cuidado e respeito com todos os
envolvidos nos procedimentos.
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4. REFERÊNCIAS

ANVISA- Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Perguntas e respostas – serviços de


embelezamento, 24 nov. 2021. Disponível em: https://www.gov.br/anvisa/pt-
br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/publicacoes/perguntas-e-respostas-
servicos-de-embelezamento. Acesso em 18 jun. 2022.

BELO HORIZONTE, Boas Práticas de funcionamento para institutos e salões de beleza,


estética, cabeleireiros e similares. Belo horizonte, 2015.

GARBACCIO, Juliana Ladeira e OLIVEIRA, Adriana Cristina de. Biossegurança e risco


ocupacional entre os profissionais do segmento de beleza e estética: revisão integrativa. Revista
Eletrônica de Enfermagem, v. 14, n. 3, jul/set. 2012, p.702-11. Disponível em
http://www.fen.ufg.br/revista/v14/n3/v14n3a28.htm [Acessado 24 jun. 2022].

GARBACCIO, Juliana Ladeira e OLIVEIRA, Adriana Cristina de. O risco oculto no segmento
de estética e beleza: uma avaliação do conhecimento dos profissionais e das práticas de
biossegurança nos salões de beleza. Texto & Contexto-Enfermagem. 2013, v. 22, n. 4 pp. 989-
998. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0104-07072013000400015. ISSN 1980-265X.
https://doi.org/10.1590/S0104-07072013000400015. [Acessado 24 jun. 2022].

LEÃO, Odith da Silva. Estetica e Biossegurança:aséctps ligados a segurança e ao


gerenciamentyo de resíduos de serviços de saúde em estabelecimentos esteteticos. São Paulo:
Dialetica, 2022. 92p.

PIATTI, Isabel. Biossegurança e controle microbiológico na estética. Momento da estética, 30


jan. 2018. Disponível em: http://www.momentodaestetica.com.br/biosseguranca-e-controle-
microbiologico-na-estetica/. Acesso em: 18 jun. 2022.

RAMOS, Janine Maria Pereira. Biossegurança em estabelecimento de beleza e afins. São


Paulo: Atheneu, 2009.

VALLE, Silvio; TEIXEIRA, Pedro (Orgs.) Biossegurança: uma abordagem multidisciplinar.


Rio de Janeiro: Fiocruz, 1996.

ZAMONER, M. modelo para avaliação de planos de gerenciamento de resíduos de serviços ded


saúde (PGRSS) Secretaria Municipal de Saúde e/ou do meio ambiente. Ciencia & Saude
Coletiva. V.13, n.6,2008, p. 1945-1952.

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