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RIO DE JANEIRO
2017
Bernardo Ramos Pinto
RIO DE JANEIRO
2017
AGRADECIMENTOS
RAMOS, Daniel. Guitar Texture Analysis. Rio de Janeiro, 2014. Dissertation (Master
Degree in Music). Programa de Pós-Graduação em Música, Centro de Letras e Artes, Escola
de Música, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2015.
Guitar Texture Analysis results from the associaton between the information about the
textural structure, described using the Partitional Analysis (GENTIL-NUNES, 2009) language,
and the the technical procedures used in guitar pieces. The main objective of the Guitar Texture
Analysis is to deepen the knowledge about composition for guitar and its idioms. At first, a data
collection about composition for guitar avaiable in the most importants orquestration and
instrumentation studies is made. This shows how superficial is the approach about the subject
in this literature. After the discussion about the conceptual tools extracted from Partitional
Analysis used in the presente work, the fundamental concepts of the Guitar Texture Analyis are
developed. Texural Proposal is a mechanism used to determinate a hierarchy between the
textural configurations found in a piece, based on acumulated duration. GTP (Guitar texture
Proposal) is the final result of the association between texture and instrumental procedures.
The 20 pieces of the Estudios Sencillos (BROUWER, 1972) are individually analysed, and its
results are compared. It was composed the work Intensidades I, developed with the structural
models extracted from the Brouwer’s pieces.
Figura 1: A peine si le coeur vous a considérées, images et figures (MILHAUD, 1934). Sob a
partitura, a análise da textura proposta por Berry (1976). Cada número indica um fator
textural real. Os números maiores que 1 indicam a quantidade de componentes sonoros
contidas em cada fator. ............................................................................................. 22
Figura 2: Análise proposta por Berry de A peine si le coeur vous a considérées, images et
figures (ver Figura 1). A) aumento do número de componentes sonoros (densidade-
número) e de fatores reais. B) redução do número de fatores reais com manutenção da
densidade-número..................................................................................................... 23
Figura 3: Partições do número 5.......................................................................................... 24
Figura 4: A peine si le coeur vous a considérées, images et figures (MILHAUD, 1934), c. 1-2:
Particionamento Rítmico (1) – letra (a), (2) – letras (b) e (1+1) – letras (c). A análise de
Berry é indicada pela letra (d), e despreza as letras (b) em favor de uma visão mais
generalizada.............................................................................................................. 25
Figura 5: Representação numérica de notas e blocos utilizada no particionamento rítmico. . 29
Figura 6: Estudo 14 (BROUWER, 1972). Partes unitárias (letras B, C e D) e parte binária (letra
A). Em cores, as barras ilustram as superposições entre as partes concorrentes. ........ 30
Figura 7: Representação gráfica da interação entre as partes em fragmento do Estudo 14
(Figura 6). ................................................................................................................ 30
Figura 8: Partições do número quatro nas grafias integral e abreviada. ................................ 30
Figura 9: Estudo 1 (BROUWER, 1972, c. 1-2). Grafia original (O), interpretação utilizando as
durações literais no centro (I1) e uma outra (I2), na qual se prolongam as durações
destes........................................................................................................................ 32
Figura 10: Fórmula alternativa de APFs sugerida pelo autor para o Estudo 6 (BROUWER,
1972). ...................................................................................................................... 33
Figura 11: Estudo 1 (VILLA-LOBOS, 1952), um APF, seguido de sua transcrição em bloco.
Os números circulados, que representam as cordas nas quais deve-se executar cada nota,
ilustram uma das condições de possibilidade do APF: as notas devem localizar-se em
cordas diferentes. ...................................................................................................... 33
Figura 12: Estudo 6 (BROUWER, 1972). Análise por particionamento rítmico a partir do modo
original de escrita resulta nas partições [1] e [1²]....................................................... 33
Figura 13: Estudo 6 (BROUWER, 1972). Transcrição baseada em representação de efeito de
execução em APF. Partições encontradas: [1], [12], [13], [14]e [15]............................ 34
Figura 14: Estudo 6 (BROUWER, 1972). Arpejos transcritos (APFs) em blocos. Obtém-se,
como resultado analítico da textura, uma única partição, [5]. .................................... 34
Figura 15: Tocatta Arpegiatta (KAPSBERGER, 1604, Tablatura para Tiorba). Composição
apresentada integralmente em blocos (sequência de acordes em tablatura). O Símbolo
% é instrução para execução arpejada ....................................................................... 35
Figura 16: Estudo 7 (VILLA-LOBOS, 1952). Versão original (letra A) e transcrição dos APFs
para blocos (indicada por linha pontilhada, letra B). Partições [1] e [1 4]. ................. 36
Figura 17: Exemplo de estruturas texturais geradas por acordes quebrados. a) sequência de
acordes de quatro sons apresentados em blocos (partição [4]); b) Uso da sequência a em
padrão de acordes quebrados na qual predomina a partição [1 3]; c) uso da sequência de
“a” em padrão de acordes quebrados na qual predomina a partição [122]. ................. 36
Figura 18: A peine si le coeur vous a considérées, images et figures (MILHAUD, 1934), c. 1-
2: apresentação das partições [1] – letra (a), [2] – letras (b) e [1²]– letras (c). Adotada a
interpretação, para fins de análise, [1²] como partição referencial, tem-se [1] como
subpartição e [2] como subsoma. .............................................................................. 38
Figura 19: Estudo 7 (BROUWER, 1972). Partições [1], [3] e [2]. Estudo monódico.
Predomínio da partição [1]. APFs transcritos em blocos............................................ 39
Figura 20: Durações (medidas em pulsos) das partições encontradas no Estudo 7 (BROUWER,
1972). ....................................................................................................................... 40
Figura 21: Estudo 1 (BROUWER, 1972). Partições: [1 2], [1] e [2]. ................................... 40
Figura 22: Durações relativas às ocorrências das partições contidas no Estudo 1 ([1 2], [1] e
[2]). .......................................................................................................................... 40
Figura 23: Estudo 5 (BROUWER, 1972). APFs transcritos em blocos. Partições encontradas:
[4], [3], [2] e [1]. As duas primeiras compõem o conjunto principal relativo à proposta
textural da peça. [2] e [1] são partições ..................................................................... 42
Figura 24: Durações das partições encontradas no Estudo 5 (BROUWER, 1972). As partições
[3] e [4] ocupam, conjuntamente, aproximadamente 80% da extensão da peça.......... 42
Figura 25: Perfil gráfico das propostas texturais relativas aos estudos 7, 18 e 14 (BROUWER,
1972), da esquerda para direita. Letras a: alto patamar (partição principal). Letras b:
contraste acentuado. Letras c: declive inferior (abrange as partições secundárias). .... 43
Figura 26: Perfil gráfico de propostas texturais múltiplas relativa aos Estudo 5 e seção “A” do
Estudo 11 (BROUWER, 1972), da esquerda para direita. O Declive superior (letras a):
conjunto principal, Contraste acentuado (letras b). Declive inferior (letras c): partições
secundárias. .............................................................................................................. 44
Figura 27: Durações acumuladas relativas às partições do Estudo 12 (BROUWER, 1972). O
declive superior (letra a) indica [1] e [122] e [1 2] como as partições do conjunto
principal. Declive inferior (letra c) abrange as partições secundárias. Queda acentuada
(letra b) sugere o ponto de divisão dos agrupamentos. ............................................... 44
Figura 28: Transcrição com APFs em bloco do Estudo 12. Duração acumulada da partição [1]
é alta devido ao padrão da figuração, que expõe o baixo isoladamente de modo
ostensivo. ................................................................................................................. 45
Figura 29: Estudo 1 (BROUWER, 1972). Encontra-se proposta textural simples tendo [1 2]
como partição principal. ........................................................................................... 46
Figura 30: Variações sobre fragmento do Estudo 1 (BROUWER, 1972 c. 1). Nos dois casos
forma-se a partição [1 2]. Na variação 1, blocos (representados pela parte [2]) são
transcritos para registro inferior. Na variação 2 blocos “envolvem” a linha melódica. 47
Figura 31: Estudo 4 (BROUWER, 1972). ........................................................................... 47
Figura 32: Diagrama descritivo da PTV relativa ao Estudo 1. Partição principal: [1 2]. Padrão
de digitação de mão direita (letras em itálico) e o uso exclusivo de cordas soltas na parte
[2] (zero). ................................................................................................................. 48
Figura 33: Diagrama geral de PTVs. As partes devem localizar-se segundo a orientação do
eixo de alturas. Os dados relativos aos procedimentos de mão esquerda (M.E.)
registram-se à esquerda da partição. Do mesmo modo, registra-se os dados relativos à
mão direita (M.D.) na lateral direita do gráfico. ........................................................ 49
Figura 34: Diagrama descritivo da PTV relativa ao Estudo 1 (BROUWER, 1972) acrescido de
indicação relativa à classificação da proposta textural encontrada (proposta textural
simples). ................................................................................................................... 50
Figura 35: Exemplo de representação gráfica de uma PTV com proposta textural múltipla. Três
partições compõem o conjunto principal; no caso: [1] (à esquerda), [1 2] (no centro), e
[1²2] à direita. ........................................................................................................... 50
Figura 36: Durações globais das partições no âmbito dos Estudos Sencillos. No eixo vertical
plota-se as durações; no horizontal, todas as partições encontradas no conjunto das
peças, organizadas por valor de duração acumulada. ................................................. 52
Figura 37: Estudo 1 (BROUWER, 1972, c. 1-2). À esquerda, o diagrama de sua PTV. ....... 53
Figura 38: Seção central do Estudo 1 (c. 8-19, BROUWER, 1972). Uso esporádico de blocos
envolvendo o emprego de cordas presas em c. 9, c. 10, c. 14 e c. 15. ........................ 54
Figura 39: Estudo 4 (BROUWER, 1972, c. 6-10). a) grafia original: as partições [1] e [1 2]
ocupam, igualmente, cinco tempos do total de 10; b) transcrição com articulação legato
na estrutura superior: [1 2] ocupa 8 tempos; c) PTV da obra: padrão de digitação de mão
direita registrado em itálico. Classificação: composta (apresenta partições secundárias
não pertinentes ao complexo da partição principal). .................................................. 55
Figura 40: Estudo 13 (BROUWER, 1972). a) exemplo (c. 1-4): articulação do centro (parte
[2]) com uso ligados simultâneos originados em cordas soltas (terceira e quarta, no
caso); b) PTV: ligados ascendentes simultâneos originados em cordas soltas
caracterizam a articulação da parte binária. Os zeros representam notas em cordas soltas,
x e y referem a notas em cordas presas. ..................................................................... 56
Figura 41: Estudo 13, variação textural por acréscimo (linha em registro superior), gerando a
partição [1²2]. a) exemplo (c. 19-26, entrada da linha adicional em c. 21); b) PTV
relativa ao trecho variado (c. 21-29): parte [2] mantém-se com a mesma articulação e
procedimentos instrumentais da proposta original (Figura 40b). Uma linha é
acrescentada no registro superior, gerando a partição [1²2]. ...................................... 56
Figura 42: Estudo 14 (BROUWER, 1972). a) exemplo (c. 20-23): uso de ligados simultâneos
ascendentes e descendentes, incluindo notas presas na origem dos gestos; b) PTV
relativa ao Estudo 14. As letras x e z representam notas de origem do ligado, y e w
descrevem as notas de chegada. ................................................................................ 57
Figura 43: Estudo 15 (BROUWER, 1972), seção B. Frase 1 (c. 14-17) é acompanhada por
intervalos harmônicos atacados em bloco. Já em sua recorrência (18-21) a estrutura
binária é arpejada (APFs de dois sons). ..................................................................... 58
Figura 44: Estudo 15, APFs transcritos em blocos. a) variação 1 (c. 14-21), divide-se em: frase
1 (c. 14-17) e V1 (c. 18-21); b) PTVs da variação 1 (c. 14-21, item a). À esquerda, a
estruturação da frase 1. Em V1, a parte binária é arpejada (APFs), o que é indicado pela
linha sinuosa à sua direita. ........................................................................................ 58
Figura 45: Estudo 15. a) exemplo: variação 2 (c. 32-39) com transcrição dos APFs em blocos.
Subseção c2 (c.40-54): inversão de registro entre as partes [1] e [2], no caso, a primeira
ocorre no registro superior, “sobre” a parte binária. b) PTV da variação 3 (c. 40-54).
Parte binária em registro inferior. Padrão de digitação da mão direita em itálico. ...... 59
Figura 46: Estudo 3 (BROUWER, 1972). a) exemplo (c. 1-2). b) versão do exemplo a com a
articulação rítmica dos tempos reduzidas a blocos. Comportamento da mão esquerda
utilizado nesta execução assemelha-se ao demandado pela versão original; c) PTV:
blocos de dois sons “desmembrados” por articulação sequencial na mão direita. O
número zero indica a execução exclusivamente em corda solta referente ao elemento em
registro inferior: pedal de Mi1. ................................................................................. 60
Figura 47: Duração das partições encontradas no Estudo 11 (BROUWER, 1972). .............. 61
Figura 48: Estudo 9 (BROUWER, 1972). a) introdução (c. 1-4). Figuração F1, partição
principal: [13]. Baixos foram registrados com durações estendidas afim de mostrar que
a digitação aplicável ao trecho permite tal modo de execução; b) Versão de F1 com as
apojaturas retiradas. c) PTV da versão original de F1 (item a): ligados ascendentes
desmembram a parte binária, gerando a partição [13]; d) PTV da versão de F1 com
ornamentação retirada (item b), partição [1 2]. .......................................................... 62
Figura 49: Estudo 9 (BROUWER, 1972, c. 9). Figuração F2: predomínio da partição [1 3]. 63
Figura 50: Estudo 9 (BROUWER, 1972), c. 6-7. a) partitura original. b) transcrição com APFs
em bloco. .................................................................................................................. 63
Figura 51: Durações acumuladas das partições encontradas no Estudo 9 (BROUWER, 1972).
Partição [1], única partição secundária, em destaque. ................................................ 64
Figura 52: PTVs relativas às seguintes obras ou trechos: a) Estudo 1. b) Estudo 4. c) Estudo
13. d) Estudo 14, e) Estudo 15, variação 1, frase 2 (c. 17-20). f) Estudo 15, variação 3
(c. 40-54). g) Estudo 13, variação (c. 21-29). h) Estudo 3. h) Estudo 9, figuração F1 (c.
1-4)........................................................................................................................... 65
Figura 53: Estudo 6 (BROUWER, 1972). A) partitura original. B) transcrição em blocos
utilizada na análise de textura violonística. ............................................................... 66
Figura 54: Diagrama das PTVs relativas aos estudos 6 e 5, estruturados por APFs (indicados
por linha vertical sinuosa na lateral direita das partições ou partes arpejadas)............ 66
Figura 55: Estudo 5 (BROUWER, 1972), c. 1-7. a) Partitura original. b) transcrição com APFs
em bloco. Uso das partições [4], [3] e [2]. ................................................................. 67
Figura 56: Estudo 17 (BROUWER, 1972). a) Partitura original com indicação da digitação e
do uso das cordas (números circulados) referentes ao padrão de arpejo; b) Transcrição
para APF, notas ornamentadas são eliminadas do bloco de cinco notas, gerando a
partição [1 4]; c) PTV do Estudo 17, parte A (c. 1-11). Partição [1 4] resulta de aplicações
de ornamentos (executados com ligados compostos, “x y z”) sobre notas internas de
acordes de cinco sons arpejados (partição [5], contorno pontilhado). ........................ 68
Figura 57: Estudo 17. Parte B (c. 12-29). ............................................................................ 69
Figura 58: Durações das partições no Estudo 11 (BROUWER, 1972). ................................ 70
Figura 59: Estudo 11, Seção A (BROUWER, 1972, c. 1-8). Acima: a) APFs de cinco sons; b)
APFs de três sons; c) inserções de notas melódicas nos APFs; d) fragmentos lineares.
Abaixo: transcrição com APFs em bloco e partições utilizadas ([5], [1 4], [3] e [1]). 70
Figura 60: PTV do Estudo 11, seção A. (BROUWER, 1972, c. 1-8). Linhas sinuosas verticais
indicam que partição massiva à sua esquerda é um APFs. Partições: a) [1 4], derivada
de APF de cinco sons ([5] grafada em contorno pontilhado; b) [3]; c) [5]; d) [1]. ...... 71
Figura 61: Estudo 11, seção B (c. 13-26, BROUWER, 1972). Figuração 1 e suas variações 1a
e 1b. Abaixo de cada exemplo, a respectiva transcrição com APFs em Bloco. Trechos
ornamentados destacados por setas e círculos). ......................................................... 71
Figura 62: Estudo 11 (BROUWER, 1972, c. 17). Representação gráfica da primeira posição
do violão, na qual mostra-se a utilização de cordas soltas (0) e presas (dedos utilizados
indicados por números) nas notas do acorde (em azul escuro) e nas apojaturas inseridas
(em rosa claro). ......................................................................................................... 72
Figura 63: Estudo 11, seção B (c. 13- 26, BROUWER, 1972). Pauta superior: figurações 2 e
2a. Pauta inferior: transcrição do mesmo trecho com APFs em bloco e partições
utilizadas. ................................................................................................................. 73
Figura 64: Estudo 11, seção B (c. 13-26, BROUWER, 1972). Figuração 3, uso da partição [1
2]. ............................................................................................................................. 73
Figura 65: Durações das partições encontradas no Estudo 11, seção B (c. 13-26, BROUWER,
1972). ....................................................................................................................... 74
Figura 66: PTV relativa às utilizações das estruturas massivas de cinco sons no Estudo 11
(BROUWER, 1972). À esquerda, APFs ([5], indicado por linha vetical sinuosa). À
direita, APFs com a inserção de notas melódicas executadas com ligados simples (xy)
gerando a partição [1 4]. ........................................................................................... 74
Figura 67: PTV relativa às utilizações das estruturas massivas de quatro sons ne Estudo 11
(BROUWER, 1972). À esquerda, APFs (indicado por linha vetical sinuosa). À direita,
APFs com a inserção de notas melódicas executadas com ligados simples, gerando a
partição [1 3]. ........................................................................................................... 75
Figura 68: PTV relativa às utilizações das estruturas massivas de três sons ne Estudo 11
(BROUWER, 1972). I: APFs. II: APFs ornamentados. III: Acordes quebrados. IV:
acordes quebrados com parte massiva desmembrada................................................. 75
Figura 69: Estudo 20 (parte B, BROUWER, 1972). Os módulos devem ser executados
repetidamente em quantidade indeterminada. No trecho são usados apenas segmentos
da escala pentatônica de sol maior. Ao longo da seção, inserem-se as cromas Fá♯ e
Dó. ........................................................................................................................... 77
Figura 70: Localização das notas da escala pentatônica de sol maior na primeira posição. Os
números circulados são indicação de corda. Os círculos pequenos referem-se ao uso de
corda solta. A digitação varia de acordo com o movimento melódico e articulação. .. 77
Figura 71: PTV do Estudo 20, parte B. À esquerda da partição, os ligados simples ascendentes
originados em corda solta e os simples descendentes com chegada em corda solta. Letra
x refere-se à nota em corda presa. ............................................................................. 77
Figura 72: Durações acumuladas relativas às partições encontradas no Estudo 7. ................ 78
Figura 73: Estudo 7 (BROUWER, 1972). a) Partitura original; b) transcrição do arpejo em
bloco. O Arpejo (APF) dura apenas um tempo, pois é preciso trocar de posição (letra A,
c. 1.2) para executar a linha a seguir. ........................................................................ 78
Figura 74: Ocorrência esporádica de em bloco de intervalos harmônicos (partição [2]). ...... 79
Figura 75: PTV do Estudo 7. Partição principal ([1]) articulada com uso corrente de ligados
simples. .................................................................................................................... 79
Figura 76: Durações acumuladas das partições encontradas no Estudo 10: alto patamar
(partição principal, letra a) contraste acentuado (letras b e d), patamar intermediário
(partição secundária com maior duração, letra c) e declive (demais partições
secundárias). ............................................................................................................. 79
Figura 77: Estudo 10 (BROUWER, 1972). Nota Pedal Mi1 (Ocorrem movimentos
esporádicos para Sol1) é atacada, predominantemente, em silêncios da melodia, gerando
a partição [1]. ........................................................................................................... 80
Figura 78: a) Transcrição do Estudo 10 com os baixos prolongados (comparar com Figura 77).
Deste modo [1²] passa a predominar (em termos de duração acumulada) sobre as demais;
b) PTV do estudo 10. Duplo círculo indica a relação entre elementos característica das
estruturas do tipo “melodia sobre pedal”, destacando a melodia como elemento
ativo. ........................................................................................................................ 80
Figura 79: Estudo 10 (BROUWER, 1972, c. 13-20). a) partitura original; b) transcrição com
APFs em bloco. Na seção central da obra (c.15-22) concentram-se as partições
secundárias. Destaca-se o uso de APFs de três sons, empregado, majoritariamente, sobre
pedal, gerando a partição [1 3]. ................................................................................. 81
Figura 80: Estudo 16 (BROUWER, 1972). a) Exemplo (c. 1-2): linha ornamentada sobre baixo;
b) PTV da estrutura: duplo círculo indica a relação entre elementos característica das
estruturas do tipo “melodia sobre pedal”, destacando a melodia como elemento ativo,
xyz indica o uso corrente de ligados compostos. ........................................................ 82
Figura 81: Itens a e b: fragmentos do Estudo 16 (BROUWER, 1972) estruturados a partir de
APFs “desmembrados”. Itens a.1 e b.1: transcrição dos respectivos itens a e b, com
APFs em bloco. Note-se que, em a.1, na quintina, a terceira fusa não foi ligada à quarta.
O ataque adicional traz o elemento inferior de volta ao bloco, mantendo a mesma
partição ([122]) durante as cinco notas, uma vez que, da quarta para a quinta, o elemento
superior “se move” ganhando independência. Itens a.2 e b.2: PTVs dos respectivos itens
a e b. No registro inferior, a parte [1] registra o baixo pedal, executado com o dedo p.
Sobre este, APFs de três e quatro sons (3 e 4, com contorno pontilhado) são decompostos
pois um dos elementos do bloco é decomposto pela inserção de notas executadas com
ligados simples (representados por x y), gerando, respectivamente, as subpartições [1 2]
e [1 3], que, por sua vez, compõem junto ao baixo pedal, as partições [122] e [123]. . 83
Figura 82: Duração acumulada das partições no Estudo 16 (BROUWER, 1972). Conjunto
principal: [1], [12], [122] e [123] ................................................................................ 84
Figura 83: Durações acumuladas das partições encontradas no Estudo 18 (BROUWER, 1972).
Partição principal ([1]) em destaque. ......................................................................... 85
Figura 84: Estudo 18 (BROUWER, 1972). Abaixo, partições utilizadas de acordo com com as
durações indicadas na partitura. a) blocos (parte [3]). b) linhas ornamentadas (parte [1]).
................................................................................................................................. 86
Figura 85: Descrição do uso da partição [1²3] no Estudo 18. Parte [3]: Grafia pontilhada indica
ocorrência virtual. “0” representa elemento do bloco em corda solta; “w” e “k”, sem
preenchimento, descrevem os demais que, localizados em cordas presas, não
permanecem durante a ocorrência da partição. .......................................................... 86
Figura 86: Estudo 18 (BROUWER, 1972). No trecho, ocorrem duas linhas, sendo aquela
localizada em registro inferior mais ativa rítmica e linearmente. ............................... 87
Figura 87: Estudo 18 (BROUWER, 1972). a) partitura original. b) transcrição com
configurações em APF em bloco. I1, I2, I3 e I4 são os incisos componentes da frase.
Asterisco conduz à instrução: “resvalando o “i”, como em uma harpa”. .................... 88
Figura 88: Uso da partição [1²] no Estudo 18. APF de dois sons (partição [2], linha pontilhada)
é desmembrada por movimento linear descendente executado com ligado simples (x y).
Asterisco remete à instrução especial de execução arpejada. ..................................... 88
Figura 89: Estudo 18 (c. 14, BROUWER, 1972). Partições [1] e [1 2]. ............................... 89
Figura 90: Estudo 18 (BROUWER, 1972). a) partitura original. b) transcrição com APFs em
bloco. Uso da partição [1 3]. ........................................ Erro! Indicador não definido.
Figura 91: Estudo 18 (BROUWER, 1972). a) partitura original. b) transcrição com APFs em
bloco. Abaixo, partições utilizadas. [1²2] resulta de APF “desmembrado”. ............... 90
Figura 92: Estudo 2 (BROUWER, 1972). ........................................................................... 91
Figura 93: Durações das partições encontradas no Estudo 2 (BROUWER, 1972). São elas [1
3] e [3]...................................................................................................................... 92
Figura 94: PTV do Estudo 2 (BROUWER, 1972). Letras em itálico indicam a digitação de
mão direita utilizada. ................................................................................................ 92
Figura 95: Estudo 8 (seção “A”, BROUWER, 1972). Uso das partições [1²], [2], [1] e [3]. . 93
Figura 96: Durações das partições encontradas no Estudo 8, seção “A” (c. 1-8, BROUWER,
1972). ....................................................................................................................... 93
Figura 97: Estudo 8, seção “B” (c. 9-20, BROUWER, 1972). Fórmulas de arpejo utilizadas: a)
p i m; b) a i m. .......................................................................................................... 94
Figura 98: PTV do Estudo 8, seção “B” (c. 9-20, BROUWER, 1972). Partição principal: [1²2].
I) partição [3], em contorno pontilhado, com linha vertical sinuosa à sua direita, indica
comportamento de mão direita característico de APF de três sons; II) padrão de mão
direita predominante: “p i m”; III) parte [1], referente à melodia principal, em registro
inferior, articulada com o dedo p utilizado no padrão de mão direita predominante (item
II); IV) parte [2], referente ao bloco de dois sons, arpejado (APF) pelos dedos i e m,
utilizados nos padrões II e V. Os símbolos 0 e x, à esquerda da parte, indicam,
respectivamente, que uma das notas do bloco localiza-se em corda solta enquanto a outra
encontra-se em corda presa; V) padrão de mão direita eventual (eventualidade marcada
por parênteses): “i m a”; VI) parte [1], referente ao contracanto articulado com o dedo
a, empregado no padrão de mão direita eventual (item V). ........................................ 94
Figura 99: Estudo 12 (BROUWER, 1972). ......................................................................... 95
Figura 100: Durações acumuladas das partições encontradas no Estudo 12 (BROUWER,
1972). ....................................................................................................................... 95
Figura 101: Estudo 12 (BROUWER, 1972). Partições encontradas: [1], [1²2] e [1 2]. a) baixo
pedal; b) linha interna; c) blocos arpejados (APFs) em registro superior, transcritos
como blocos. ............................................................................................................ 96
Figura 102: PTV do Estudo 12 (BROUWER, 1972). Numeral zero indica uso exclusivo de
corda solta. Linha vertical sinuosa à direita da parte indica articulação em APF. Letras
em itálico indicam uso dos dedos da mão direita. ...................................................... 97
Figura 103: Durações acumuladas das partições encontradas no Estudo 19 (BROUWER,
1972). Partições componentes do conjunto principal em destaque. ............................ 98
Figura 104: Estudo 19 (BROUWER 1972, c. 1-4). a) partição [4] registra acordes em bloco.
[1 3] descreve estrutura do tipo baixo-centro; b) PTV do trecho em partição [4] (c. 1-2);
c) partição do trecho em partição [1 3] (c. 3-4).......................................................... 98
Figura 105: a) Estudo 19 (c. 12-16). Usos da partição [1 3]: estrutura baixo-centro (I), voz
superior contra bloco (II) e voz interna contra bloco (III); b) PTV do trecho II (c. 13-
14); c) PTV do trecho III (c.15-16). O par “x y” conectado por linha em arco, indica o
padrão de articulação baseado em ligados ascendentes simples. ................................ 99
Figura 106: Estudo 6 (c. 1, BROUWER, 1972). Grafia alternativa, com a utilização do código
LV.. ........................................................................................................................ 101
Figura 107: a) Estudo 1 (BROUWER, 1972) e Intensidades I; b) PTVs das duas peças: Estudo
1 à direita e Intensidades I à esquerda. Na segunda, a linha sinuosa entre parênteses
indica que a parte [2] é eventualmente articulada em APFs. A letra i, entre parênteses,
indica que o dedo indicador substitui, eventualmente, o dedo polegar (p, fora dos
parênteses), empregado predominantemente. O símbolo “x y”, registra o uso corrente de
ligados simples na articulação da parte [1]. ............................................................. 102
Figura 108: Intensidades I figurações a2 (c. 5-6) e a3 (c. 7-10) ......................................... 103
Figura 109: Nota pedal e blocos utilizados na elaboração de b1 (c. 24-40). ....................... 104
Figura 110: Intensidades I, seção B, fragmento b1. ........................................................... 104
Figura 111: Intensidades I, seção: b2 (c. 41-44) e b2’ (c. 45-48). ...................................... 105
Figura 112: Intensidades I, seção B: b3 (49-52). ............................................................... 107
Figura 113: Intensidades I, seção B: b4 (53-54). ............................................................... 107
Figura 114: Intensidades I, seção B: b5 (c. 55-56) e b5’ (c. 57-60). ................................... 108
Figura 115: Material utilizado na elaboração da figuração do plano secundário, seção C. . 108
Figura 116: Padrão figurativo do plano secundário, seção C. ............................................ 109
Figura 117: Seção C: c1 (c. 70). ........................................................................................ 109
Figura 118: Intensidades I, Seção C: c2’ (c. 79-80). .......................................................... 109
Figura 119: Intensidades I, Seção C: c4 (c. 77-78). ........................................................... 110
Figura 120: Intensidades I, figurações a4 (c. 98-99) e a5 (c. 100-101). ............................. 110
Figura 121: a) PTV da figuração a4 (c. 98-99). Parte [2] estruturada, exclusivamente por cordas
soltas (0), articulada alternadamente com ataques em blocos e arpejos (linha sinuosa
entre colchetes). Parte [1] central atacada com o dedo p e com ligados simples. Parte [1]
inferior executada com o dedo p; b) PTV da figuração a5 (c. 100-103). Parte um
executada com dedos p e i, com uso corrente de ligados simples descendentes de nota
em corda presa (x) para nota em corda solta (0). ..................................................... 111
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 15
1 VIOLÃO, INSTRUMENTAÇÃO E TEXTURA .................................................... 19
2 ANÁLISE DE TEXTURA VIOLONÍSTICA.......................................................... 28
2.1 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DO ASPECTO TEXTURAL ........................................ 28
2.1.1 Particionamento Rítmico.......................................................................................... 29
2.1.2 Complexos Particionais ........................................................................................... 37
2.1.3 Proposta Textural ..................................................................................................... 39
2.2 PROPOSTA TEXTURAL VIOLONÍSTICA (PTV) ................................................ 46
2.2.1 Representação gráfica das PTVs .............................................................................. 48
INTRODUÇÃO
Uma mudança significativa nesse quadro ocorre (...) através da obra de Wallace Berry,
Structural Functions in Music, onde esse autor propõe uma primeira e minuciosa teoria
analítica da matéria. Desde então, a análise de texturas tem sido utilizada em estudos
não só no campo da música de concerto, acústica ou eletroacústica, mas também em
campos muito diferentes, como, por exemplo, o da música popular e o da
etnomusicologia em geral (...) (SENNA, 2007, p. 1)
A presente pesquisa limita-se à música de concerto. A maior parte das obras analisadas
pertence ao âmbito da música para violão, produzidas em meados do século XX, com ênfase
nos Estudos de Brouwer. A abordagem limita-se, portanto, dentre os diversos tipos de violão
existentes, ao violão de cordas de nylon em sua estruturação tradicional (seis cordas), mais
comumente utilizado no repertório de concerto. Não obstante, as ferramentas de análise
desenvolvidas no presente trabalho não se limitam da mesma maneira, podendo ser utilizadas
em processos criativos e analíticos relacionados a outros tipos de violão e guitarras elétricas,
desde que consideradas as idiossincrasias de cada um.
O trabalho é estruturado em quatro capítulos. No primeiro, realiza-se uma revisão
bibliográfica, apresentando a abordagem relativa ao violão pelos principais autores no campo
da instrumentação/orquestração. Ademais, serão apresentadas as transformações na observação
1 Estudos Simples
18
2 De fato, tal progressão não ocorre de modo literal mas apresenta-se como uma tendência (ver Anexo).
19
3 Single-line melodies, chords or melodies with accompaniments are all possible on the classical or acoustic
guitar, which is fingered with four fingers of the left hand and plucked with all five fingers of the right hand. A
fretted finger-board makes it easier to locate pitches. Harmonics, especially natural harmonics are very effective,
but you must keep in mind that a nonamplified guitar is quite soft, and harmonics may be almost inaudible.
Therefore, harmonics is best used in solos or very small combinations of softer strings and winds, or with voice.
20
Adour (1999) ataca diretamente a questão, realizando um trabalho que pode ser descrito
como um suplemento das seções dedicadas ao violão encontradas nos tratados de orquestração
ou, mais precisamente, um manual de composição para violão. 4
Ajudar a enriquecer a paleta sonora daqueles que escrevem é sempre uma tarefa de
extrema urgência e utilidade. No que compete a nós, usaremos todos os esforços para
suprir esta lacuna específica: as informações sobre o violão (...) O que temos a oferecer
é um suporte bibliográfico, uma dissertação totalmente dedicada ao assunto. (p. 2)
Entretanto, Adour precisou lidar com limites encontrados no campo teórico, no que se
refere a descrição do aspecto textural.
4 Adour discorda desta conclusão: “Não achamos que o compositor pode usar esta informação como manual; as
informações são altamente entrecruzadas e interdependentes, (...)” (1999, p. 245). Entretanto, observa-se que a
inadequação ao gênero manual à qual se refere diz respeito a diferenças de estilo, não de conteúdo. De fato, o texto
acadêmico, sendo um meio de exposição de reflexões, produções do pensamento e diálogo com outras obras, não
fornece a praticidade com relação à consulta característica dos manuais; no entanto, o conteúdo é referencial o
suficiente para torná-lo útil neste campo.
5 Texture is conceived (determined, conditioned) by the voice or number of voices and other components projecting
musical materials in the sounding medium, and (when there are two or more components) by the interrelations
and interactions among them.
21
Duas linhas movendo-se em terças paralelas podem ser, em um importante sentido, ditas
como um único fator textural real composto por dois componentes. Caso algum ponto
de diferenciação seja estabelecido – no ritmo, na duração do movimento, na distância
do movimento, ou em qualquer outro sentido – a textura que consiste em um fator real
(composto por dois componentes sonoros) se torna uma textura de dois componentes
reais (ou, pelo menos, menos progride no sentido da diferenciação). 7 (p. 186)
6 ‘Density’ is defined as that textural parameter, quantitative and measurable, conditioned by the number of
simultaneous or concurrent components and by the extent of vertical “space” encompassing them:
7 Two lines moving in parallel 3rds may in an important sense be said to constitute a single real textural factor
consisting of two components. At any point at which differentiation is established - in rhythm, in direction of
motion, in the distance of motion, or in any other sense-a texture initially consisting of a ‘single real factor’ (of
two sounding components) becomes a texture of ‘two real factors’ (or at least progresses in the direction of such
differentiation).
22
Figura 1: A peine si le coeur vous a considérées, images et figures (MILHAUD, 1934). Sob a partitura, a análise
da textura proposta por Berry (1976). Cada número indica um fator textural real. Os números maiores que 1
indicam a quantidade de componentes sonoros contidas em cada fator.
23
Figura 2: Análise proposta por Berry de A peine si le coeur vous a considérées, images et figures (ver Figura 1).
A) aumento do número de componentes sonoros (densidade-número) e de fatores reais. B) redução do número de
fatores reais com manutenção da densidade-número.
No entanto esta teoria não será suficientemente abrangente para dar conta de certas
obras nas quais uma característica singular as diferencia das elaboradas por Berry – a
superação da noção de vozes ou partes (p. 18).
Senna (2007) adota a teoria e o léxico desenvolvidos por Berry, identificando nestes a
solução para os problemas da abordagem tradicional da textura:
A princípio, essas definições não parecem ser tão diferentes dos primeiros conceitos
relacionados à textura, aqueles que (se) ocupam em classificar as configurações em
texturas monódicas, homofônicas, polifônicas ou heterofônicas. Esses termos, de
caráter extremamente redutivo, foram e ainda são aplicados em análise de música onde
os aspectos harmônicos e contrapontísticos tradicionais prevalecem. Contudo, são
muito pouco eficientes para a análise de música pós-tonal, ou seja, de Debussy em
diante (com exceção, é claro, de música moderna ou contemporânea composta segundo
os parâmetros clássico-românticos). A proposta de Berry, e aí reside um dos aspectos
mais importantes de seu trabalho, define textura como um jogo de densidades, algo mais
amplo e profundo. (p. 17)
24
Por outro lado, assim como Lucas, Senna reconhece limitações do trabalho de Berry no
trato da música que extravasa noções como as de vozes e partes:
Uma das limitações mais evidentes da teoria de Berry é sua aparente dificuldade em
lidar com música cujo conteúdo não possa ser reduzido a linhas ou partes com alturas e
durações claramente determinadas. Isso inclui, por exemplo, música para instrumentos
de altura indeterminada, a maior parte da música experimental, a partir da década de 60
e, praticamente, toda a produção acusmática e digital. (p. 30)
5
4+1
3+2
3+1+1
2+2+1
2+1+1+1
1+1+1+1+1
Figura 4: A peine si le coeur vous a considérées, images et figures (MILHAUD, 1934), c. 1-2: Particionamento
Rítmico (1) – letra (a), (2) – letras (b) e (1+1) – letras (c). A análise de Berry é indicada pela letra (d), e despreza
as letras (b) em favor de uma visão mais generalizada.
menores no intervalo de movimento, em nível mais superficial“ (Berry, 1976, p. 188). 8 São
registradas apenas as transformações texturais que alcançam extensão próxima à da unidade
morfológica de primeiro nível (ver MEYER, 1973, p. 31 e GENTIL-NUNES, 2016, p. 157) –
o motivo (no caso, um compasso; ver Figura 4).
O Particionamento Rítmico, sendo uma varredura exaustiva sobre as transformações
texturais oriundas das relações rítmicas – observadas nota a nota – oferece descrição
conceitualmente mais independente em relação a um determinado sistema musical, em outras
palavras, desde que uma obra seja baseada em um esquema de durações bem definido, esta pode
ser analisada por tal ferramenta.
Além do Particionamento Rítmico, a AP dispõe de outras ferramentas de análise,
incluindo um complexo estudo sobre os processos de transformação textural. Sobre estes, não
serão tecidas descrições mais detalhadas, tendo em vista que tais recursos não serão utilizados
no presente trabalho.
As análises disponibilizadas pela AP podem ser facilitadas a partir de aplicativo
computacional. O PARSEMAT (GENTIL-NUNES, 2008) produz gráficos automaticamente (a
partir de arquivos MIDI), agilizando a leitura global das relações envolvidas.
Moreira (2015) propõe o conceito de Contorno Textural a partir de nova aplicação da
Teoria dos contornos (FRIEDMANN, 1985, MORRIS ,1987, MARVIN E LAPRADE 1987,
entre outros) no campo da textura, utilizando conceitos da Análise Particional. São apresentadas
novas ferramentas analíticas, incluindo o aplicativo computacional JACQUARD (MOREIRA,
2015).
Fortes (2016), propõe o desenvolvimento da ferramenta analítica, baseada na AP,
dirigida sobretudo à música eletroacústica e à música instrumental, influenciada por seus
conceitos e técnicas. Gentil-Nunes lançou proposta similar com o Particionamento de Eventos
(ver GENTIL-NUNES, 2009), entretanto, Fortes desenvolve mais definitiva, com modos
alternativos de segmentação e de determinação das unidades em jogo.
Fato comum às demais tradições instrumentais, o campo do violão apresenta um léxico
singular, referente à própria estrutura do instrumento, seus procedimentos técnicos básicos e
avançados. Apresenta também um repertório de símbolos destinados a representações
específicas na partitura, que formam um “dialeto” violonístico a ser compreendido por aqueles
interessados na composição para violão. Shearer (1959) apresenta estes elementos de forma
completa e detalhada, ainda que lenta e gradativamente, dado que sua obra é um guia para
8 “(…) we are overlooking minor differentiations in interval of motion at the most foreground level.”
27
estudantes, abrangendo inclusive fundamentos técnicos básicos. Adour (1999), por abordar
diretamente a composição para violão, realiza uma apresentação mais objetiva destes itens.
28
9 Na escrita violonística os dedos da mão direita – polegar, indicador, médio e anular – são, tradicionalmente,
indicados por suas iniciais. O dedo mínimo, indicado pela letra c, apresenta utilização menos comum. Esta é tratada
por Wiese (2013) e Postlewate (2010).
10 O uso do violão inclui uma série de outros recursos, pertencentes ao campo de sua técnica expandida, como
ataques percussivos em seu corpo, uso de objetos acessórios, etc. Estes não serão abordados no presente trabalho.
29
4;
3 + 1;
2 + 2;
2 + 1 + 1;
1 + 1 + 1 + 1.
Figura 6: Estudo 14 (BROUWER, 1972). Partes unitárias (letras B, C e D) e parte binária (letra A). Em cores, as
barras ilustram as superposições entre as partes concorrentes.
Figura 7: Representação gráfica da interação entre as partes em fragmento do Estudo 14 (Figura 6).
A análise por Particionamento Rítmico pode ser realizada a partir de arquivos MIDI
pelo aplicativo PARSEMAT (GENTIL-NUNES 2004). O trabalho de produção de arquivos
deste tipo, destinados às análises contidas no presente trabalho, deparou-se com alguns
problemas, que demandaram reflexões acerca da escrita para violão e de determinados recursos
31
texturais específicos do instrumento. Abaixo, serão expostas tais reflexões bem como as
soluções adotadas.
2.1.1.1 Preparação de arquivos MIDI para análise digital: adaptações de escrita, arpejos em
posição fixa (APFs), acordes quebrados
acorde é incompleta, quando se trata do universo do violão. Em geral, trata-se de uma forma de
executar um arpejo cujas notas dispõem-se em cordas distintas, gerando, a não ser que haja
alguma indicação específica na partitura, uma superposição gradativa entre suas notas. Isto é o
que será denominado, no presente trabalho, arpejo em posição fixa (APF). De modo mais
proposicional, pode-se dizer que o APF apresenta duas condições de existência:
a) suas notas devem estar dispostas em cordas distintas;
b) deve ser possível a execução de suas notas em bloco.
Figura 9: Estudo 1 (BROUWER, 1972, c. 1-2). Grafia original (O), interpretação utilizando as durações literais
no centro (I1) e uma outra (I2), na qual se prolongam as durações destes.
fato de que, no caso do APF, os dedos podem ser posicionados de modo gradual, de acordo
com a ordem de execução de suas notas, o que, em alguns casos, pode acarretar em trocas de
acordes mais fluidas e em economia de energia.
Figura 10: Fórmula alternativa de APFs sugerida pelo autor para o Estudo 6 (BROUWER, 1972). 11
Figura 11: Estudo 1 (VILLA-LOBOS, 1952), um APF, seguido de sua transcrição em bloco. Os números
circulados, que representam as cordas nas quais deve-se executar cada nota, ilustram uma das condições de
possibilidade do APF: as notas devem localizar-se em cordas diferentes.
A grafia dos APFs realiza-se como uma prescrição simplificada. Em geral, escreve-se
apenas as notas em sucessão melódica (linearmente), indicando, geralmente, a sustentação dos
baixos (Figura 12).
Figura 12: Estudo 6 (BROUWER, 1972). Análise por particionamento rítmico a partir do modo original de
escrita resulta nas partições [1] e [1²].
Se, deste modo, esta representação dos APFs na partitura torna-se consideravelmente
mais prática, por outro lado distancia-se do resultado sonoro, mais cumulativo, uma vez que
sua análise por particionamento rítmico resulta em uma estrutura composta por duas linhas
(partição [12]). Por isso, a própria identificação de um APF em um texto violonístico depende
da experiência do leitor a respeito dos recursos idiomáticos do violão ou de uma indicação de
digitação que induza a este entendimento (notas em cordas diferentes).
Dado que a produção do arquivo MIDI para a realização do particionamento rítmico se
dá a partir de uma partitura digital, a consistência do resultado analítico depende da maior
11 A nota de cabeçalho é traduzida por “Este estudo admite novas formulas, por exemplo:”
34
proximidade possível entre grafia e efeito, sobretudo no que tange ao parâmetro duração.
Entretanto, a tentativa de transcrição buscando uma representação do efeito sonoro (Figura 13)
de cada nota do APF também produziu resultados analíticos insatisfatórios. Tomando-se como
exemplo o Estudo 6 (BROUWER, 1972), ao contrário da grafia original (Figura 12) que reflete
exclusivamente o caráter linear do APF, a transcrição baseada nas durações de efeito
sobrevaloriza a independência dos elementos componentes, sugerindo uma autonomia entre
partes que não corresponde à unidade sonora que o arpejo constitui.
Figura 13: Estudo 6 (BROUWER, 1972). Transcrição baseada em representação de efeito de execução em APF.
Partições encontradas: [1], [12], [13], [14]e [15].
A opção pela transcrição em blocos (Figura 14) expõe, no resultado analítico, a condição
técnica de possibilidade relativa ao APF: este deve constituir-se por um acorde em potencial,
isto é, um conjunto de notas dispostas no violão de tal modo que permite a execução acordal.
Assim, um primeiro cruzamento entre análise da textura e técnica instrumental pode ser
observado: as partições que retratam as texturas massivas ([2], [3], [4], [5] e [6], no caso do
violão), passam a representar não necessariamente a descrição de um específico resultado
musical final, mas uma variedade de modos de execução: blocos e toda a sorte de sequências
arpejadas. 12
Figura 14: Estudo 6 (BROUWER, 1972). Arpejos transcritos (APFs) em blocos. Obtém-se, como resultado
analítico da textura, uma única partição, [5].
12No presente trabalho, sequências de duas notas poderão ser consideradas APFs, desde que se disponham
conforme os padrões determinantes deste.
35
integralmente composta por blocos, que devem ser arpejados segundo fórmulas sugeridas pelo
autor ou definidas pelo próprio interprete.
Na introdução do seu libro primo (1604) para tiorba, Kapsberger forneceu exemplos
práticos de como executar tal arpejo, e seus avvertimenti, assim como os de Frescobaldi,
foram ampliados nas suas publicações posteriores. (...)Tanto Coelho(...) quanto Nigel
North(...) alertaram para o fato de que os instrumentistas deveriam ter outras fórmulas
de arpejo para serem usadas de acordo com o requerido por determinada situação, o que
possibilita outras fórmulas de arpejo. (BURMESTER, 2010 p. 106 e p. 107)
Figura 15: Tocatta Arpegiatta (KAPSBERGER, 1604, Tablatura para Tiorba). Composição apresentada
integralmente em blocos (sequência de acordes em tablatura). O Símbolo % é instrução para execução arpejada
.
Sendo assim, todos os APFs encontrados nas obras analisadas no presente trabalho
foram transcritos em bloco. Esta interpretação foi expandida, sendo também adotada para
estruturas arpejadas em interação com outros elementos. O Estudo 7 de Villa-Lobos (1952), em
sua parte B (c. 15-28), por exemplo, se configura como melodia acompanhada por acordes
36
arpejados (APFs). Estes foram redigidos como blocos para a produção do arquivo MIDI a ser
analisado (Figura 16).
Figura 16: Estudo 7 (VILLA-LOBOS, 1952). Versão original (letra A) e transcrição dos APFs para blocos
(indicada por linha pontilhada, letra B). Partições [1] e [1 4].
Quanto aos acordes quebrados13, optou-se por uma abordagem diferente. Ao contrário
dos APFs, que apresentam um resultado textural específico (já detalhado anteriormente), estes
permitem a produção de uma complexa variedade de estruturas texturais (ver Figura 17),
combinando partes massivas ([5], [4], [3] ou [2])14 e lineares ([1]).
Figura 17: Exemplo de estruturas texturais geradas por acordes quebrados. a) sequência de acordes de quatro
sons apresentados em blocos (partição [4]); b) Uso da sequência a em padrão de acordes quebrados na qual
predomina a partição [1 3]; c) uso da sequência de “a” em padrão de acordes quebrados na qual predomina a
partição [122].
13 Sobre a expressão, explica Adour: “Esta é uma terminologia relativamente improvisada, cuja única intenção é
abordar uma maneira de execução que não é nem simultânea, nem totalmente “fragmentada” (...). Acordes
Quebrados se referem à possibilidade de separar, no tempo, notas isoladas ou em grupo de uma harmonia.” (1999,
p. 102-103)
14 O violão permite execução em bloco de, no máximo, seis notas, gerando a partição [6]. Esta não foi mencionada
na descrição pois é impossível que componha uma estrutura em acordes quebrados, uma vez que, para isto, seria
necessário que o acorde de origem fosse composto por mais de seis notas.
37
(...) a independência entre estas vozes deve incluir também a possibilidade de eventuais
coincidências de ataque. Caso as vozes precisassem articular sempre em pontos de
tempo diferentes, haveria algum grau de dependência estrutural na construção da trama
(...) (GENTIL-NUNES e RAMOS, no prelo)
Figura 18: A peine si le coeur vous a considérées, images et figures (MILHAUD, 1934), c. 1-2: apresentação
das partições [1] – letra (a), [2] – letras (b) e [1²]– letras (c). Adotada a interpretação, para fins de análise, [1²]
como partição referencial, tem-se [1] como subpartição e [2] como subsoma.
Figura 19: Estudo 7 (BROUWER, 1972). Partições [1], [3] e [2]. Estudo monódico. Predomínio da partição [1].
APFs transcritos em blocos.
Figura 20: Durações (medidas em pulsos) das partições encontradas no Estudo 7 (BROUWER, 1972).
Figura 22: Durações relativas às ocorrências das partições contidas no Estudo 1 ([1 2], [1] e [2]).
De fato, o critério duração (soma das durações de uma determinada partição) orientou
as escolhas relativas à partição que expressa de modo global as estruturas analisadas
anteriormente.
Em um processo de produção de obra ou trecho no qual se propõe articular determinada
partição, é possível que surja a demanda por entradas sucessivas de elementos ou procedimentos
rítmicos que resultem em exposição parcial destes (subpartições), justamente como acontece
no Estudo 1 (Figura 21). Também é possível que haja eventuais convergências rítmicas
(subsomas) entre as partes em jogo (Figura 18, letras b). Além disso, deve-se considerar,
inclusive, a possibilidade de uso de partições estranhas ao complexo particional daquela com a
qual se pretende trabalhar (ver Figura 19). Tais configurações atuam como coadjuvantes,
atribuindo mobilidade criativa à exposição da partição escolhida, sempre conduzindo à
percepção desta. Dado que textura, no presente trabalho, é entendida como o jogo de relações
rítmicas entre elementos, não parece haver outro modo de expressar o protagonismo de uma
configuração textural a não ser pelo predomínio de sua própria presença, já que não é possível
observar relações deste tipo considerando elementos ocultos.
Deste ponto de vista, é possível descrever o aspecto textural global a partir da partição
ou do conjunto de partições que predominam, em termos de duração, em um determinado trecho
ou obra. No presente trabalho, isto será denominado proposta textural.
O Estudo 1, como já visto anteriormente, constitui-se pela presença ostensiva da
partição [1 2], que ocupa aproximadamente 87% da extensão total da obra. Assim, a peça
apresenta proposta textural cuja partição principal é [1 2]. As outras partições encontradas –
[1] e [2], denominadas partições secundárias – são subpartições de complexo particional [1 2].
Este dado qualifica a proposta textural da obra em questão, mostrando que esta apresenta,
exclusivamente, jogos com os elementos texturais da partição principal.
Já o Estudo 7, cuja partição principal é [1] (ver Figura 20), apresenta partições
secundárias estranhas à configuração predominante.
O caso do Estudo 5 (BROUWER 1972, Figura 23) no qual encontram-se as partições
[4], [3], [2], [1 2] e [1], não há partição principal, pois nenhuma evidentemente predomina sobre
as outras. Entretanto, as partições [3] e [4], que são as de maior duração, ocupam
aproximadamente 80% (Figura 24) da extensão total do estudo. Deste modo, estas determinam
o que será denominado, no presente trabalho, conjunto principal.
42
Figura 23: Estudo 5 (BROUWER, 1972). APFs transcritos em blocos. Partições encontradas: [4], [3], [2] e [1].
As duas primeiras compõem o conjunto principal relativo à proposta textural da peça. [2] e [1] são partições
secundárias.
Figura 24: Durações das partições encontradas no Estudo 5 (BROUWER, 1972). As partições [3] e [4] ocupam,
conjuntamente, aproximadamente 80% da extensão da peça.
15A duração acumulada de uma partição é calculada somando-se as durações de todos os fragmentos configurados
a partir de uma mesma partição. Por exemplo, caso se encontre em uma peça três fragmentos estruturados pela
partição [3], cada um destes com a duração de 2 pulsos, a duração acumulada da partição na peça é de seis pulsos.
43
Figura 25: Perfil gráfico das propostas texturais relativas aos estudos 7, 18 e 14 (BROUWER, 1972),
da esquerda para direita. Letras a: alto patamar (partição principal). Letras b: contraste acentuado.
Letras c: declive inferior (abrange as partições secundárias).
c) Proposta textural composta: assim como a simples, compõe-se por partição principal, e
partições secundárias (ver Figura 25); a diferença encontra-se na existência de partições
secundárias estranhas ao complexo particional da partição principal.
Este cálculo pode ser realizado automaticamente pela função computacional partglobaldur (GENTIL-NUNES,
2017), a partir de arquivos MIDI.
44
Figura 26: Perfil gráfico de propostas texturais múltiplas relativa aos Estudo 5 e seção “A” do Estudo 11
(BROUWER, 1972), da esquerda para direita. O Declive superior (letras a): conjunto principal, Contraste
acentuado (letras b). Declive inferior (letras c): partições secundárias.
Figura 27: Durações acumuladas relativas às partições do Estudo 12 (BROUWER, 1972). O declive superior
(letra a) indica [1] e [122] e [1 2] como as partições do conjunto principal. Declive inferior (letra c) abrange as
partições secundárias. Queda acentuada (letra b) sugere o ponto de divisão dos agrupamentos.
16Há casos nos quais que não há partições secundárias nas propostas texturais múltiplas. Estes ocorrem quando
todas as partições têm a mesma duração acumulada ou quando tais valores são muito próximos.
45
Figura 28: Transcrição com APFs em bloco do Estudo 12. Duração acumulada da partição [1] é alta devido ao
padrão da figuração, que expõe o baixo isoladamente de modo ostensivo.
A partição [1] é, portanto, uma expressão parcial das partições [1 2] e [1²2], ou seja,
uma subpartição dos complexos particionais (ver 2.1.2) destas. Dentre os 19 pulsos nos quais
ocorre, 16 são registrados nos primeiros tempos do padrão figurativo acima descrito. Deste
modo, apesar de sua presença ostensiva, esta é interpretada como estrutura complementar. Já
as partições que expressam a própria estrutura figurativa, de modo integral, adquirem
protagonismo. São estas:
a) [1²2], resultante de acordes de quatro sons “desmembrados” em três elementos: pedal,
linha interna e blocos arpejados;
b) [1 2], acordes de três sons “desmembrados” em dois elementos: blocos arpejados e linha
de baixo.
Figura 29: Estudo 1 (BROUWER, 1972). Encontra-se proposta textural simples tendo [1 2] como partição
principal.
trecho um caráter notavelmente idiomático, pois trata-se de uma das configurações gestuais
mais básicas do repertório violonístico. Não é por acaso que esta configuração compõe a
primeira obra da série Estudios Sencillos, que apresenta, na sequência das peças, notável
tendência à complexidade crescente.
Figura 30: Variações sobre fragmento do Estudo 1 (BROUWER, 1972 c. 1). Nos dois casos forma-se a partição
[1 2]. Na variação 1, blocos (representados pela parte [2]) são transcritos para registro inferior. Na variação 2
blocos “envolvem” a linha melódica.
O elemento descrito pela parte [2] é predominantemente composto por blocos formados
pelas notas Sol2 e Si217 (ver Figura 29), localizados em cordas soltas, o que torna
consideravelmente mais simples o trabalho realizado pela mão esquerda, usada, quase sempre,
apenas na execução das notas da linha de baixo
O Estudo 4 (Figura 31), por outro lado, apresenta variante mais complexa da proposta.
Este é estruturado de modo semelhante ao Estudo 1, porém apresenta movimentações lineares
no elemento em registro superior (parte [2]), demandando o uso corrente da mão esquerda para
a sua realização.
Por fim, os atributos observados pela presente análise, relativos ao Estudo 1, podem ser
listados, de modo resumido, de acordo com os seguintes parâmetros:
Textura: Predomina a partição [1 2] (ocupa aproximadamente 80% da extensão da obra),
com ocorrência esporádica de subpartições de seu complexo particional ([1] e [2]).
Assim, o trecho apresenta-se como uma proposta textural simples na qual [1 2] é
partição principal.
Relação de registro entre as partes: estável, de modo que a parte binária (blocos de dois
sons) é localizada “sobre” (ver Figura 29) a parte unitária (linha de baixo).
17Registra-se, em ocorrência menos ostensiva, blocos formados pelas notas Ré2 e Sol2, também localizadas em
cordas soltas. Em regime esporádico, encontram-se blocos utilizando cordas presas (ver Anexo).
48
Gestual da mão direita: A linha de baixo é executada pelo dedo p e os blocos pelo ataque
simultâneo de i e m.
Gestual de mão esquerda: Utiliza-se a mão esquerda, quase sempre, apenas na execução
da linha de baixo, uma vez que os blocos se compõem predominantemente por notas
localizadas em cordas soltas.
Figura 32: Diagrama descritivo da PTV relativa ao Estudo 1. Partição principal: [1 2]. Padrão de digitação de
mão direita (letras em itálico) e o uso exclusivo de cordas soltas na parte [2] (zero).
Figura 33: Diagrama geral de PTVs. As partes devem localizar-se segundo a orientação do
eixo de alturas. Os dados relativos aos procedimentos de mão esquerda (M.E.) registram-se à
esquerda da partição18. Do mesmo modo, registra-se os dados relativos à mão direita (M.D.) na
lateral direita do gráfico.
18 Caso um procedimento específico em se dirija a uma determinada parte da partição, exclusivamente, sua
representação gráfica deve estar localizada mais próxima desta.
19 A produção dos dados relativos aos procedimentos de mão direita e esquerda se limita aos casos nos quais é
possível identificar um padrão, sendo este sugerido na composição analisada ou evidentemente o mais prático. Em
muitos casos, há múltiplas possibilidades de digitação, o que demanda escolhas do intérprete.
50
Figura 34: Diagrama descritivo da PTV relativa ao Estudo 1 (BROUWER, 1972) acrescido de indicação
relativa à classificação da proposta textural encontrada (proposta textural simples).
Figura 35: Exemplo de representação gráfica de uma PTV com proposta textural múltipla. Três partições
compõem o conjunto principal; no caso: [1] (à esquerda), [1 2] (no centro), e [1²2] à direita.
As obras do tipo estudo são fontes ideais para investigações acerca do idiomatismo dos
instrumentos, uma vez que estas são elaboradas para inserir o estudante no domínio do
vocabulário instrumental. Os Estudios Sencillos (BROUWER, 1972), conjunto de obras
amplamente utilizado nos âmbitos pedagógicos e artísticos, são especialmente adequados a este
propósito (MORAIS, 2013).
Na presente seção, o conjunto de 20 peças é examinado a partir da Análise de Textura
Violonística.
Visando revelar o grau de predominância relativa a cada uma das partições que integram
os Estudios Sencillos, realizou-se a medição de duração acumulada (soma das durações de todas
as partições iguais) sobre um arquivo MIDI composto por todo o conjunto de peças encadeado.
Os dados obtidos a partir deste procedimento (Figura 36) fundamentam a organização dos
estudos expostos a seguir.
As partições encontradas são agrupadas do seguinte modo:
Uma vez pensados a partir do caráter didático e idiomático da série Estudos Sencillos,
esta disposição de dados possibilita algumas considerações gerais. Quanto ao número de partes
por partição, por exemplo, observa-se que entre as partições com duração acumulada altíssima,
alta e média encontra-se apenas duas partições com mais de duas partes: [122] e [13]. Partições
deste tipo predominam apenas entre as partições de baixa duração acumulada, que compõem
estruturas acessórias, não configurando partições principais nas propostas texturais
encontradas. Ademais, não foi registrada nenhuma ocorrência de partições compostas por mais
de três partes. Estes fatos indicam o caráter não idiomático e a tendência a maior complexidade
técnica relativos às estruturações que envolvem mais de dois elementos em divergência rítmica.
52
Figura 36: Durações globais das partições no âmbito dos Estudos Sencillos. No eixo vertical plota-se as
durações; no horizontal, todas as partições encontradas no conjunto das peças, organizadas por valor de duração
acumulada.
A partição [1] é a mais utilizada no âmbito da série de peças. Isto se dá não apenas
devido às obras predominantemente monofônicas20, porém, em considerável parte, devido às
recorrentes manifestações em caráter “residual”, isto é, sob a forma de fragmentos de linha ou
notas isoladas. De fato, as análises apresentadas a seguir mostram que [1] ocorre,
principalmente, sob a forma de exposição parcial de configurações mais complexas; aquilo que
se denomina, no presente trabalho, subpartição (ver 2.1.2). Por exemplo, em uma estrutura
composta por duas linhas melódicas ritmicamente divergentes (partição [12]), a apresentação
isolada de fragmento de uma delas devido à presença de eventual silêncio na outra.
A partição [1 2] é a configuração mais utilizada na composição de propostas texturais:
os estudos 1, 3, 4, 9, 13, 14 e 15 compõem-se a partir desta de modo literal ou, em alguns casos,
com emprego de pequenas variações.
A localização das partições referentes a todas as estruturas em bloco ([2], [3], [4], [5] e
[6]) nos grupos de alta e média predominância indicam o caráter idiomático das configurações
acordais e sobretudo arpejadas (APFs, ver 2.1.1.1), as quais fundamentam os estudos 5, 6, 11 e
17.
Destas observações, obtém-se uma divisão da série de estudos, de acordo com a
20 São cinco obras: estudos 7, 10, 16, 18 e 20 (apenas seção B), todos com extensão correspondente à duração
média dos Estudios Sencillos. Os estudos 10 e 18 apresentam considerável extensão ocupada por partições
secundárias. Ademais, o Estudo 16 é uma monofonia com bordão, apresentando [1 2 ] como partição principal.
Portanto, a duração acumulada da partição [1] em tais obras não justifica a predominância desta no âmbito da
totalidade dos estudos.
53
3.2.1 Estudo 1
Figura 37: Estudo 1 (BROUWER, 1972, c. 1-2). À direita, o diagrama de sua PTV.
21 Optou-se por incluir as monofonias com acompanhamentos de pedais ou linhas passivas, considerando-se tais
configurações como variações das estruturas definidas por linhas isoladas.
22 Para fins de acomodação da leitura aos recursos e métodos analíticos utilizados, optou-se por ordenar os estudos,
de cordas soltas.
Na seção central da peça (c. 9-17, ver Figura 38) ocorrem “deslocamentos” do centro
para o bloco Ré2 - Sol2, igualmente localizados em cordas soltas. Além disso, há, em caráter
esporádico, utilização de blocos envolvendo o emprego de notas em cordas presas. Essas
estruturações são consideradas secundárias, não integrando a descrição da PTV da obra.
Figura 38: Seção central do Estudo 1 (c. 8-19, BROUWER, 1972). Uso esporádico de blocos envolvendo o
emprego de cordas presas em c. 9, c. 10, c. 14 e c. 15.
3.2.2 Estudo 4
Figura 39: Estudo 4 (BROUWER, 1972, c. 6-10). a) grafia original: as partições [1] e [1 2] ocupam, igualmente,
cinco tempos do total de 10; b) transcrição com articulação legato na estrutura superior: [1 2] ocupa 8 tempos; c)
PTV da obra: padrão de digitação de mão direita registrado em itálico. Classificação: composta (apresenta
partições secundárias não pertinentes ao complexo da partição principal).
3.2.3 Estudo 13
Figura 40: Estudo 13 (BROUWER, 1972). a) exemplo (c. 1-4): articulação do centro (parte [2]) com uso ligados
simultâneos originados em cordas soltas (terceira e quarta, no caso); b) PTV: ligados ascendentes simultâneos
originados em cordas soltas caracterizam a articulação da parte binária. Os zeros representam notas em cordas
soltas, x e y referem a notas em cordas presas.
Figura 41: Estudo 13, variação textural por acréscimo (linha em registro superior), gerando a partição [1²2]. a)
exemplo (c. 19-26, entrada da linha adicional em c. 21); b) PTV relativa ao trecho variado (c. 21-29): parte [2]
mantém-se com a mesma articulação e procedimentos instrumentais da proposta original (Figura 40b). Uma
linha é acrescentada no registro superior, gerando a partição [1²2].
57
3.2.4 Estudo 14
A peça (Figura 42a) consiste em uma abordagem expandida dos recursos utilizados no
Estudo 13 (ver 3.2.3). No Estudo 14, a respeito dos procedimentos de execução da parte binária,
ocorre a utilização de ligados simultâneos ascendentes e descendentes, além de serem
encontrados exemplares com notas presas na origem do gesto (Figura 42b).
Figura 42: Estudo 14 (BROUWER, 1972). a) exemplo (c. 20-23): uso de ligados simultâneos ascendentes e
descendentes, incluindo notas presas na origem dos gestos; b) PTV relativa ao Estudo 14. As letras x e z
representam notas de origem do ligado, y e w descrevem as notas de chegada.
Com relação ao elemento descrito pela parte [2], presentes nos Estudos 13 e 14, observa-
se que os intervalos harmônicos usados são compostos por notas encontradas na mesma casa
ou em casas adjacentes, quando não estão localizados em cordas soltas. Isto sugere uso dos
pares de dedos 1-2, 2-3 e 3-4 de maneira simultânea e não estendida (sem “aberturas”),
possibilitando um gesto forte e sonoroso. 23
3.2.5 Estudo 15
23As digitações mencionadas são sugeridas por Brouwer na partitura (ver Figura 42a), não obstante, é possível
digitação alternativa.
58
formais, para que se possa observar cada uma das estruturações propostas na peça.
A seção A (c. 1-10) é integralmente apresentada sob textura acordal em blocos de 3 sons
(partição [3]). Entretanto, as seções B (c. 14-21) e C (c. 32-54) apresentam diferentes
abordagens de [1 2] enquanto partição principal.
A seção B (Figura 43) é composta por uma frase (frase 1, Figura 43, c. 14-17) e sua
recorrência com acompanhamento variado (V1, c. 18-21), gerando PTVs diferentes. A frase 1
é acompanhada por blocos binários (parte [2]), em colcheias, no registro superior.
Figura 43: Estudo 15 (BROUWER, 1972), seção B. Frase 1 (c. 14-17) é acompanhada por intervalos
harmônicos atacados em bloco. Já em sua recorrência (18-21) a estrutura binária é arpejada (APFs de dois sons).
Figura 44: Estudo 15, APFs transcritos em blocos. a) variação 1 (c. 14-21), divide-se em: frase 1 (c. 14-17) e
V1 (c. 18-21); b) PTVs da variação 1 (c. 14-21, item a). À esquerda, a estruturação da frase 1. Em V1, a parte
binária é arpejada (APFs), o que é indicado pela linha sinuosa à sua direita.
59
Figura 45: Estudo 15. a) exemplo: variação 2 (c. 32-39) com transcrição dos APFs em blocos. Subseção c2
(c.40-54): inversão de registro entre as partes [1] e [2], no caso, a primeira ocorre no registro superior, “sobre” a
parte binária. b) PTV da variação 3 (c. 40-54). Parte binária em registro inferior. Padrão de digitação da mão
direita em itálico.
60
3.2.6 Estudo 3
O Estudo 3 é composto por duas linhas melódicas que se desenvolvem sobre um pedal
de Mi1. A relação rítmica entre as linhas melódicas é de extrema dependência. Os ataques
formam um padrão contrarrítmico de colcheias: cada ataque da voz intermediária é seguido de
ataque duplo de uma nota da voz superior (Figura 46a).
Figura 46: Estudo 3 (BROUWER, 1972). a) exemplo (c. 1-2). b) versão do exemplo a com a articulação rítmica
dos tempos reduzidas a blocos. Comportamento da mão esquerda utilizado nesta execução assemelha-se ao
demandado pela versão original; c) PTV: blocos de dois sons “desmembrados” por articulação sequencial na
mão direita. O número zero indica a execução exclusivamente em corda solta referente ao elemento em registro
inferior: pedal de Mi1.
Este padrão pode ser interpretado como uma variação, por articulação rítmica, de uma
estruturação em contraponto de primeira espécie24, a qual, sobre o pedal (Mi1), gera a partição
[1 2] (ver Figura 46b).
24Não se trata, no caso, das regras dirigidas aos intervalos ou contornos. Usa-se a expressão para referir-se ao
padrão rítmico da técnica referida: “nota contra nota”, formando blocos.
61
O comportamento da mão esquerda afirma tal entendimento, pois esta atua como em
uma série de blocos de duas notas, pressionando, simultaneamente 25, cada par de notas
superpostas. Deste ponto de vista, o bloco seria “desmembrado” pela mão direita, que executa
suas notas componentes em determinado padrão sequencial, o que resulta numa PTV baseada
na partição [1³] (Figura 46c).
3.2.7 Estudo 9
25A execução sequencial das notas de um bloco permite posicionamento progressivo dos dedos da mão esquerda,
o que pode resultar em economia de energia e maior fluidez técnica.
62
da figuração (parte [2], representada com contorno pontilhado, ver Figura 48c) é decomposto
em duas linhas ritmicamente distintas, gerando duas partes unitárias, ou seja, [1 2] torna-se [13].
26
Uma vez que as apojaturas da versão original são executadas com ataques de mão esquerda
(ligados ascendentes, representados por “x y”, ver Figura 48c), ocorre que o gesto de mão direita
é igual nas duas versões: ataques simultâneos de i e m na estrutura superior e ataques individuais
de p sobre a linha de baixo.
Figura 48: Estudo 9 (BROUWER, 1972). a) introdução (c. 1-4). Figuração F1, partição principal: [13]. Baixos
registrados com durações estendidas afim de mostrar que a digitação aplicável ao trecho permite tal modo de
execução; b) Versão de F1 com as apojaturas retiradas. c) PTV da versão original de F1 (item a): ligados
ascendentes desmembram a parte binária, gerando a partição [1 3]; d) PTV da versão de F1 com ornamentação
retirada (item b), partição [1 2].
encontrada em F1 (ver Figura 48c), porém ligeiramente variada. Nesse caso, os ligados, além
de serem aplicados exclusivamente à linha intermediária, são descendentes.
Figura 49: Estudo 9 (BROUWER, 1972, c. 9). Figuração F2: predomínio da partição [1 3].
Figura 50: Estudo 9 (BROUWER, 1972), c. 6-7. a) partitura original. b) transcrição com APFs em bloco. 27
27 A transcrição foi realizada, diferentemente da partitura original, utilizando-se a mesma altura (Mi1) e duração
da nota pedal nos dois compassos. Esta opção é, de fato, uma correção de erros editoriais.
28 Note-se que as partições envolvidas em F3 pertencem todas ao complexo particional [1 22].
29 8,5 ([12 ]) + 7,5 ([1 3]) + 7 ([12 2]) + 3,5 ([1 2]) = 26,5 tempos
64
Figura 51: Durações acumuladas das partições encontradas no Estudo 9 (BROUWER, 1972). Partição [1], única
partição secundária, em destaque.
Realizada a análise dos estudos 1, 3, 4, 9, 13, 14 e 15, nota-se que a partição [1 2], aquela
de maior predominância enquanto configuração de propostas texturais no âmbito dos Estudios
Sencillos (ver 3.1), é amplamente explorada por Brouwer em suas possibilidades de abordagem
violonística. Nas seis peças em questão, utiliza-se considerável variedade de recursos
instrumentais, gerando diferentes PTVs (Figura 52): ligados, APFs, diferentes relações de
registro entre partes, além de variações geradoras de novas partições.
O Estudo 3 apresenta proposta textural na qual [13] é a partição principal (ver 3.1.6). O
mesmo ocorre com as figurações F1 e F2 do Estudo 9 (ver 3.1.7). Em ambos os casos, a
configuração é alcançada por procedimento instrumental que, em uma das mãos, relaciona-se
com a produção do efeito textural descrito pela partição [1 2]. No Estudo 9, por exemplo,
encontra-se padrão de mão direita composto por ataques simultâneos dos dedos i e m em
divergência rítmica com articulações de p. Tal padrão apresenta relações rítmicas entre
elementos, portanto, têm sua própria textura. A descrição da textura dos gestos de mão esquerda
ou direita é fundamental para a definição de determinadas PTVs. Nas representações gráficas
utilizadas no presente trabalho, as partições ou partes que visam descrever configurações
texturais de gestos são grafadas com contorno pontilhado, explicitando que tais configurações
65
Figura 52: PTVs relativas às seguintes obras ou trechos: a) Estudo 1. b) Estudo 4. c) Estudo 13. d) Estudo 14, e)
Estudo 15, variação 1, frase 2 (c. 17-20). f) Estudo 15, variação 3 (c. 40-54). g) Estudo 13, variação (c. 21-29). h)
Estudo 3. h) Estudo 9, figuração F1 (c. 1-4).
Em Análise de Textura Violonística (ver 2), os APFs são considerados como blocos
articulados, sendo tratados em sua composição massiva (acordal).30 Os complexos particionais
das partições indicativas de estruturas acordais ([2], [3], [4], etc.) não contém subpartições ou
subsomas, portanto não geram propostas texturais simples.31 O trabalho específico sobre APFs,
3.3.1 Estudo 6
Figura 53: Estudo 6 (BROUWER, 1972). A) partitura original. B) transcrição em blocos utilizada na análise de
textura violonística.
Figura 54: Diagrama das PTVs relativas aos estudos 6 e 5, estruturados por APFs (indicados por linha vertical
sinuosa na lateral direita das partições ou partes arpejadas).
32 Com a ordem de exposição adotada, pretende-se expor os resultados analíticos em ordem de complexidade
crescente.
33 Ocorrem dobramentos em boa parte dos casos.
67
3.3.2 Estudo 5
Também dedicado aos arpejos, o Estudo 5 (Figura 55) apresenta uma estruturação mais
variada, utilizando acordes de quatro e três sons (partições [4] e [3]), além de intervalos
harmônicos ([2]).34Os arpejos sobre acordes de três e quatro sons predominam, ocupando cerda
de 80% da extensão da peça, configurando uma proposta textural múltipla, contendo as
partições [3] e [4] em seu conjunto principal (ver 2.1.3, Figura 24 e Figura 54).
Figura 55: Estudo 5 (BROUWER, 1972), c. 1-7. a) Partitura original. b) transcrição com APFs em
bloco. Uso das partições [4], [3] e [2].
3.3.3 Estudo 17
34Além destas estruturas, são encontradas ocorrências das partições [1], em fragmento linear e [1], sob a forma de
baixo sob bloco de dois sons em APF, ambas ocupando apenas dois pulsos da obra (ver Figura 24 e Anexo).
68
de ataques simultâneos aqui (...). Não podemos evitar, contudo, a presença do polegar
concomitante com algum outro dedo” (p. 106).
Realizada a transcrição dos arpejos para bloco (Figura 56b), as notas ornamentadas são
“expulsas” das formações acordais, pois ganham caráter rítmico particular. Traduzindo para a
linguagem da Análise Particional, a partição [5] perde uma parte, gerando a partição [1 4] (ver
Figura 56c).35 Os ornamentos são executados com ligados compostos (Figura 56c, “x y z”) e
simples, mantendo o padrão da mão direita (arpejo em colcheias sem interrupção, ver Figura
56a). As aplicações ornamentais são distribuídas entre as notas internas dos acordes.
Figura 56: Estudo 17 (BROUWER, 1972). a) Partitura original com indicação da digitação e do uso das cordas
(números circulados) referentes ao padrão de arpejo; b) Transcrição para APF, notas ornamentadas são
eliminadas do bloco de cinco notas, gerando a partição [1 4];36 c) PTV do Estudo 17, parte A (c. 1-11). Partição
[1 4] resulta de aplicações de ornamentos (executados com ligados compostos, “x y z”) sobre notas internas de
acordes de cinco sons arpejados (partição [5], contorno pontilhado).
35 Há trechos em que ocorrem ornamentação em notas diferentes dentro de um mesmo arpejo. Para estes casos,
optou-se por realizar a transcrição dos APFs de modo específico: registra-se um novo ataque do bloco no momento
em que uma nova nota é ornamentada. Com isso, a nota ornamentada anteriormente retorna à estrutura acordal,
mantendo-se a partição [1 4]. Deste modo evita-se resultados analíticos de alta complexidade textural ([1²3], para
o caso de um arpejo de cinco sons com duas notas ornamentadas, por exemplo), que não correspondem ao caráter
massivo dos APFs (ver 2.1.1.1).
36 Na partitura original, a ornamentação é grafada indicando que se execute com a maior velocidade possível
(Figura 56a). Na transcrição (Figura 56b), optou-se pela grafia com durações literais, para fins de produção de
arquivo MIDI (ver 2.1.1.1).
69
3.3.4 Estudo 11
O Estudo 11 é, entre as peças baseadas em arpejos contidas nos Estudios Sencillos, a mais rica
texturalmente. A peça presenta duas pequenas seções, que serão analisadas em separado.
A seção “A” (c. 1-12) é composta basicamente por:
Esta configuração pode ser observada pela análise das durações referentes às partições
encontradas (Figura 58). Os APFs de cinco sons apresentam o maior grau de ocorrência;
expressam-se a partir das partições [5] e [1 4] (Figura 59a). A primeira indica as estruturações
nas quais os blocos se mantém íntegros; a segunda descritiva das ocorrências que recebem
inserções de notas melódicas (Figura 59c), “desmembrando-se”. As durações destas, somadas,
totalizam 15 tempos. Os APFs de três sons (partição [3], Figura 59b) ocupam 14,5 tempos. Já
os fragmentos lineares (Figura 59d), que ocorrem isolados ([1]) e sobre baixo ([1²]), ocupam
10 tempos.
70
Figura 59: Estudo 11, Seção A (BROUWER, 1972, c. 1-8). Acima: a) APFs de cinco sons; b) APFs de três sons;
c) inserções de notas melódicas nos APFs; d) fragmentos lineares. Abaixo: transcrição com APFs em bloco e
partições utilizadas ([5], [1 4], [3] e [1]).
Observa-se uma proposta textural múltipla (ver 2.1.3) na qual o conjunto principal é
formado pelas partições: [1 4], [5], [3] e [1]. A representação gráfica da PTV (Figura 60) expõe
o procedimento semelhante ao observado no Estudo 17 (ver Figura 56 ), que resulta em [1 4]:
variação de um APF (partição [5], grafado em contorno pontilhado, Figura 60a) por inserção
de notas melódicas gerando, no “interior” do arpejo, breves sequências executadas em uma
mesma corda com o uso de ligados (no caso do Estudo 11, apenas ligados simples,
representados pelas letras x e y conectadas por linha curva, ver Figura 60a). Os APFs de cinco
e três notas são indicados por linha vertical sinuosa à direita da partição arpejada (Figura 60,
letras a, b e c). A função de ligação melódica entre arpejos exercida pelos fragmentos lineares
é representada por setas com origem em [1] apontadas para as conexões entre as outras partições
(Figura 60d).
71
Figura 60: PTV do Estudo 11, seção A. (BROUWER, 1972, c. 1-8). Linhas sinuosas verticais indicam que
partição massiva à sua esquerda é um APFs. Partições: a) [1 4], derivada de APF de cinco sons ([5] grafada em
contorno pontilhado; b) [3]; c) [5]; d) [1].
Figura 61: Estudo 11, seção B (c. 13-26, BROUWER, 1972). Figuração 1 e suas variações 1a e 1b. Abaixo de
cada exemplo, a respectiva transcrição com APFs em Bloco. Trechos ornamentados destacados por setas e
círculos).
A seção B (c. 13-26) é composta, principalmente, por APFs que recebem apojaturas,
sempre executadas com ligados (Figura 61), em algumas de suas notas. Este procedimento
apresenta-se de modo consideravelmente pedagógico. Expõe-se uma pequena sequência
harmônica arpejada (Figura 61, figuração 1), que é reproduzida (Figura 61, figurações 1a e 1b)
com diferentes ornamentações.
72
Figura 62: Estudo 11 (BROUWER, 1972, c. 17). Representação gráfica da primeira posição do violão, na qual
mostra-se a utilização de cordas soltas (0) e presas (dedos utilizados indicados por números) nas notas do acorde
(em azul escuro) e nas apojaturas inseridas (em rosa claro).
(ver 3.2), no qual a parte [2] da partição [1 2] é desmembrada pelo uso de ligados, resultando
também no mesmo efeito textural final.
Figura 63: Estudo 11, seção B (c. 13- 26, BROUWER, 1972). Pauta superior: figurações 2 e 2a. Pauta inferior:
transcrição do mesmo trecho com APFs em bloco e partições utilizadas.
Figura 64: Estudo 11, seção B (c. 13-26, BROUWER, 1972). Figuração 3, uso da partição [1 2].
Figura 65: Durações das partições encontradas no Estudo 11, seção B (c. 13-26, BROUWER, 1972).
Figura 66: PTV relativa às utilizações das estruturas massivas de cinco sons no Estudo 11 (BROUWER, 1972).
À esquerda, APFs ([5], indicado por linha vetical sinuosa). À direita, APFs com a inserção de notas melódicas
executadas com ligados simples (xy) gerando a partição [1 4].
75
Figura 67: PTV relativa às utilizações das estruturas massivas de quatro sons ne Estudo 11 (BROUWER, 1972).
À esquerda, APFs (indicado por linha vetical sinuosa). À direita, APFs com a inserção de notas melódicas
executadas com ligados simples, gerando a partição [1 3].
Figura 68: PTV relativa às utilizações das estruturas massivas de três sons ne Estudo 11 (BROUWER, 1972). I:
APFs. II: APFs ornamentados. III: Acordes quebrados. IV: acordes quebrados com parte massiva desmembrada.
Pode-se observar, a partir das análises dos estudos 5, 6, 11 e 17, uma considerável
variedade de utilizações de APFs. A ambiguidade de efeito própria destas estruturações – que
permitem uma escuta paralelamente massiva (os sons se superpõem) e melódica (os ataques são
isolados e sequenciais) – é amplamente utilizada enquanto recurso no repertório violonístico.
Execuções de linha melódica parcial ou integralmente configurada em APFs39, fazendo com
que esta “gere massa harmônica para si mesma”, é um procedimento idiomático do instrumento.
O Violão permite a realização em bloco (e, consequentemente, em APFs) de conjuntos de notas
contendo intervalos largos e estreitos, incluindo pequenos clusters, obtidos mais facilmente
utilizando-se combinações de notas em cordas soltas e presas.
39Forma-se APFs dispondo um as notas componentes de um determinado conjunto de modo que estas possam ser
executadas em bloco (ver 2.1.1.1).
76
Na linguagem das partições, as texturas monofônicas são aquelas representadas pela partição
[1], a qual fornece um restrito campo de procedimentos texturais: não gera subpartições ou
subsomas (ver 2.1.2) e tampouco oferece modos distintos de exposição de sua configuração,
como acontece com as partições massivas ([2], [3], [4], etc.) que geram blocos e arpejos (APFs,
ver 2.1.1.1). Isto ocorre porque a partição [1] é aquela que se refere à ocorrência isolada do
elemento constituidor das texturas (tal como é abordada no presente trabalho), a nota. Trata-se
de uma configuração textural composta pela ocorrência de notas ou sequências (linhas
melódicas) “descobertas”. Se, por um lado, a sua constituição elementar não fornece, por si
mesma, uma diversidade de “materiais” para composição textural, por outro encontra-se
presente na maioria das obras para violão, seja como partição secundária (notas ou fragmentos
lineares isolados), seja compondo os conjuntos principais das propostas texturais múltiplas (ver
2.1.3), ou como partição principal, o que será tratado na presente seção. Dadas tais
propriedades, observa-se que as propostas texturais nas quais [1] é a partição principal devem
ser analisadas a partir das tramas que realizam com as partições secundárias.
3.4.1 Estudo 20
O Estudo 20, em sua parte B 40(c. 17-52), é integralmente constituído pela partição [1],
gerando proposta textural unitária (ver 2.1.3). Trata-se de uma linha melódica composta em
módulos (Figura 69), a partir da escala pentatônica de sol maior digitada na primeira posição.
Gradativamente, são inseridas as notas Fá♯ e Dó). A escala pentatônica de sol maior dispõe-se
no violão de modo idiomático (ver Figura 70): utilizando-se duas notas por corda, obtém-se
pouco mais de duas oitavas deste conjunto sem necessidade de mudança de posição num espaço
de três casas. Deste modo, na primeira posição, as notas da escala pentatônica de Sol Maior
distribuem-se formando pares entre cordas soltas e cordas presas. Os módulos são executados
exclusivamente nesta disposição, articulados com ligados simples ascendentes originados em
corda solta e descendentes com chegada em corda solta (Figura 71).
40A seção A, do Estudo 20 é uma repetição literal da seção Ado Estudo 19. Sua Análise será apresentada somente
na subseção reservada ao segundo (3.5.4).
77
Figura 69: Estudo 20 (parte B, BROUWER, 1972). Os módulos devem ser executados repetidamente em
quantidade indeterminada. No trecho são usados apenas segmentos da escala pentatônica de sol maior. Ao longo
da seção, inserem-se as cromas Fá♯ e Dó.
Figura 70: Localização das notas da escala pentatônica de sol maior na primeira posição. Os números circulados
são indicação de corda. Os círculos pequenos referem-se ao uso de corda solta. A digitação varia de acordo com
o movimento melódico e articulação.
Figura 71: PTV do Estudo 20, parte B. À esquerda da partição, os ligados simples ascendentes originados em
corda solta e os simples descendentes com chegada em corda solta. Letra x refere-se à nota em corda presa.
3.4.2 Estudo 7
trabalho (ver 2.1.1.1, Figura 12): registra-se a estrutura melodicamente sugerindo, por sua vez,
o prolongamento do baixo sobre as demais notas (Figura 73a, c. 1). É necessário observar
também que, no caso, existe a possibilidade de digitação das notas em cordas diferentes,
confirmando a viabilidade de execução sugerida. A outra estrutura secundária encontrada no
Estudo 7, a partição [2], consiste em ataques em bloco de intervalos harmônicos (Figura 74).
Quanto à articulação da partição principal ([1]) observa-se a utilização ostensiva de ligados
simples, ascendentes e descendentes. A representação da PTV (Figura 75) indica, pelas letras x
e y, notas localizadas em cordas presas ou soltas. 41
Figura 73: Estudo 7 (BROUWER, 1972). a) Partitura original; b) transcrição do arpejo em bloco. O Arpejo
(APF) dura apenas um tempo, pois é preciso trocar de posição (letra A, c. 1.2) para executar a linha a seguir.
41
Caso uma das notas encontradas localize-se em corda solta, a outra deve ser presa, já que
ligados devem acontecer entre notas na mesma corda.
79
Figura 75: PTV do Estudo 7. Partição principal ([1]) articulada com uso corrente de ligados simples.
3.4.3 Estudo 10
O alto patamar (Figura 76, letra a), que define [1] como partição principal;
Um patamar intermediário (Figura 76c), resultado do contraste acentuado (Figura 76
d) entre a duração da partição [1²] e a as durações referentes às demais partições
secundárias (Figura 76e).
Figura 76: Durações acumuladas das partições encontradas no Estudo 10: alto patamar (partição principal, letra
a) contraste acentuado (letras b e d), patamar intermediário (partição secundária com maior duração, letra c) e
declive (demais partições secundárias).
80
Figura 77: Estudo 10 (BROUWER, 1972). Nota Pedal Mi1 (Ocorrem movimentos esporádicos para Sol1) é
atacada, predominantemente, em silêncios da melodia, gerando a partição [1].
Figura 78: a) Transcrição do Estudo 10 com os baixos prolongados (comparar com Figura 77). Deste modo [1²]
passa a predominar (em termos de duração acumulada) sobre as demais; b) PTV do estudo 10. Duplo círculo
indica a relação entre elementos característica das estruturas do tipo “melodia sobre pedal”, destacando a
melodia como elemento ativo.
81
Figura 79: Estudo 10 (BROUWER, 1972, c. 13-20). a) partitura original; b) transcrição com APFs em bloco. Na
seção central da obra (c.15-22) concentram-se as partições secundárias. Destaca-se o uso de APFs de três sons,
empregado, majoritariamente, sobre pedal, gerando a partição [1 3].
3.4.4 Estudo 16
Trata-se de uma obra dedicada ao estudo de ornamentos. Para isto, Brouwer parte de
uma estruturação textural simples: uma linha melódica em registro superior, na qual diferentes
ornamentações são aplicadas, executada sobre uma linha de baixo simples, na qual predomina
comportamento passivo, em pedal (ver Figura 80a). As ornamentações, inicialmente, geram
estruturas lineares executadas com ligados compostos. Deste modo, a PTV do trecho
assemelha-se àquela encontrada no Estudo 10, diferenciando-se, apenas, pela indicação do
padrão de articulação na parte superior (xyz, indicando comportamento baseado no uso de
ligados compostos, ver Figura 80b). Entretanto, durante o desenvolvimento da obra, estas
estruturas são substituídas por conformações mais complexas: APFs desmembrados com o uso
de ligados. A duração acumulada das partições encontradas na obra (ver Figura 82) confirma o
predomínio destes dois padrões, indicando uma proposta textural múltipla, na qual o conjunto
principal – [1], [12], [122], [123] – pode ser organizado em dois diferentes agrupamentos:
82
a) linha sobre baixo (Figura 80a): [1²] registra a ocorrência superposta dos
elementos (melodia e linha de baixo) e [1], indicativa da eventual ocorrência
isolada de um destes (subpartição).
Figura 80: Estudo 16 (BROUWER, 1972). a) Exemplo (c. 1-2): linha ornamentada sobre baixo; b) PTV da
estrutura: duplo círculo indica a relação entre elementos característica das estruturas do tipo “melodia sobre
pedal”, destacando a melodia como elemento ativo, xyz indica o uso corrente de ligados compostos.
Figura 81: Itens a e b: fragmentos do Estudo 16 (BROUWER, 1972) estruturados a partir de APFs
“desmembrados”. Itens a.1 e b.1: transcrição dos respectivos itens a e b, com APFs em bloco. Note-se que, em
a.1, na quintina, a terceira fusa não foi ligada à quarta. O ataque adicional traz o elemento inferior de volta ao
bloco, mantendo a mesma partição ([122]) durante as cinco notas, uma vez que, da quarta para a quinta, o
elemento superior “se move” ganhando independência. Itens a.2 e b.2: PTVs dos respectivos itens a e b. No
registro inferior, a parte [1] registra o baixo pedal, executado com o dedo p. Sobre este, APFs de três e quatro
sons (3 e 4, com contorno pontilhado) são decompostos pois um dos elementos do bloco é decomposto pela
inserção de notas executadas com ligados simples (representados por x y), gerando, respectivamente, as
subpartições [1 2] e [1 3], que, por sua vez, compõem junto ao baixo pedal, as partições [1 22] e [123].
84
Figura 82: Duração acumulada das partições no Estudo 16 (BROUWER, 1972). Conjunto principal: [1], [1 2],
[122] e [123]
3.4.4 Estudo 18
Figura 83: Durações acumuladas das partições encontradas no Estudo 18 (BROUWER, 1972). Partição
principal ([1]) em destaque.
a) [1²3]: Dois pequenos trechos (Figura 84) compostos por três elementos: linha melódica
em registro superior ([1]), centro composto por blocos de três sons ([3]) e baixo pedal
([1]). Os blocos são compostos por notas localizadas nas cordas 2, 3 e 4, sendo que a
nota da corda 2 é sempre Si2, disponível na corda solta.
Os dedos da mão esquerda utilizados para a realização das notas componentes
dos blocos, localizadas nas cordas 3 e 4 (Sol♯2 e Dó♯2, Figura 84a), precisam abandonar
sua posição para atuarem na execução ornamental da linha superior (Figura 84b),
interrompendo a sustentação da estrutura acordal. Com isso, parte da superposição entre
linha superior e blocos, indicada na partitura, não pode se dar na execução instrumental.
O dilema analítico – referenciar-se pela estrutura escrita ou por aquela possível no
campo da performance – demanda, neste caso, considerações inéditas até o momento.
Figura 84: Estudo 18 (BROUWER, 1972). Abaixo, partições utilizadas de acordo com com as durações
indicadas na partitura. a) blocos (parte [3]). b) linhas ornamentadas (parte [1]).
Figura 85: Descrição do uso da partição [1²3] no Estudo 18. Parte [3]: Grafia pontilhada indica ocorrência
virtual. “0” representa elemento do bloco em corda solta; “w” e “k”, sem preenchimento, descrevem os demais
que, localizados em cordas presas, não permanecem durante a ocorrência da partição.
Brouwer dispõe alguns elementos que favorecem a concretização, ainda que não
integral, do efeito desejado. A nota Si2, integrante do bloco (parte [3]) que compõe a
partição em questão, localiza-se em corda solta; isto permite que, ao menos, um
“resíduo” desta estrutura massiva realize a duração indicada. A presença do baixo pedal
também colabora para ocultar da escuta a interrupção das demais notas do bloco.
Ademais, a linha superior é executada utilizando-se apenas a primeira corda, não
demandando o emprego das cordas 2, 3 e 4, “reservadas” aos blocos. Com isso, as
condições instrumentais de superposição entre as partes [1], referente a linha superior
(Figura 84b), e [3] (Figura 84a), descritiva dos blocos, conforme a indicação da
partitura, são parcialmente atendidas. Seria como dizer que, se o violonista tivesse
alguns dedos a mais seria possível concretizar a superposição. Estas configurações
instrumentais promovem o reconhecimento de uma permanência virtual dos blocos,
suscitando percepções desta, mesmo que em potencial, para o ouvinte e para o próprio
violonista. Trata-se de uma situação na qual a partitura extrapola sua função prescritiva,
87
atuando como um elemento provido de força poética própria, na medida em que registra,
mais do que orientações de execução instrumental, uma paisagem textural virtual. A
partir da compreensão de que esta força não deve ser desprezada na análise, optou-se
por considerar a duração registrada.
A representação gráfica do uso da partição [1²3] (Figura 85) indica, com o
emprego dividido de linhas pontilhadas e cheias, a parcial virtualidade da parte [3]. Ao
lado esquerdo desta, as letras x e y, sem preenchimento, indicam que duas notas, dentre
as três que compõem os blocos, não podem cumprir a duração prescrita na partitura,
compondo fração virtual de tais ocorrências; já o numeral zero sobre estas, preenchido,
indica que uma das notas é localizada em corda solta, sendo a porção integralmente atual
da estrutura.
A parte [1] em registro superior recebe o símbolo “x y z”, já utilizado em análises
anteriores, para representar a predominância de ligados compostos. Quanto à outra parte
[1], em registro inferior, indica-se o uso exclusivo de corda solta (numeral zero, à
esquerda) e a digitação de mão direita (uso do dedo p).
b) [1²]: registra os trechos nos quais a linha melódica ocorre sobre baixo pedal (estático),
entretanto, são encontradas situações inversas, nas quais a linha de baixo adquire a
concentração da atividade rítmico-linear (Figura 86).
Além desta situação, [1²] ocorre em uma configuração que pode aparentar
irrelevância devido à sua extensão, porém, apresenta uma estruturação que ilustra os
efeitos de “ressonância” recorrentes em vários procedimentos encontrados no Estudo
18. O caso consiste em uma frase composta por quatro incisos, I1, I2, I3 e I4 (Figura
87a e Figura 87b), a qual recebe uma instrução especial de execução: utiliza-se o dedo
indicador para atacar sequência de cordas, simulando sonoridade de harpa.
Figura 86: Estudo 18 (BROUWER, 1972). No trecho, ocorrem duas linhas, sendo aquela localizada em registro
inferior mais ativa rítmica e linearmente.
88
Figura 87: Estudo 18 (BROUWER, 1972). a) partitura original. b) transcrição com configurações em APF em
bloco. I1, I2, I3 e I4 são os incisos componentes da frase. Asterisco conduz à instrução: “resvalando o “i”, como
em uma harpa”.42
Figura 88: Uso da partição [1²] no Estudo 18. APF de dois sons (partição [2], linha pontilhada) é desmembrada
por movimento linear descendente executado com ligado simples (x y). Asterisco remete à instrução especial de
execução arpejada.
Figura 89: Estudo 18 (c. 14, BROUWER, 1972). Partições [1] e [1 2].
Figura 90: Estudo 18 (BROUWER, 1972). a) partitura original. b) transcrição com APFs em bloco. Uso da
partição [1 3].
e) [1²2]: Uma considerável parte da massa harmônica existente na obra resulta da própria
melodia. Há trechos nos quais determinados ornamentos e segmentos da linha são
executados em cordas diferentes, devendo o instrumentista permitir a superposição entre
parte dos sons sequenciais. Trata-se de um procedimento violonístico idiomático: uma
estrutura de notas consecutivas na qual apenas parte destas dispõem-se sob as condições
dos APFs26, podendo continuar soando sobre as demais. Por exemplo, na primeira
sequência em quintinas encontrada na obra (c. 6.4.2, ver Figura 91a), as duas primeiras
notas executam-se, respectivamente, nas cordas 4 e 3. Já as demais localizam-se na
segunda corda.
Figura 91: Estudo 18 (BROUWER, 1972). a) partitura original. b) transcrição com APFs em bloco. Abaixo,
partições utilizadas. [1²2] resulta de APF “desmembrado”.
A posição das notas permite que as duas primeiras permaneçam soando enquanto
articulam-se as seguintes, ação que, no caso, é indicada na partitura com o uso de
ligaduras, gerando um efeito semelhante à execução pianística com o pedal de
sustentação pressionado. De outro ponto de vista, é possível dizer que se trata de um
APF de três sons cujo elemento superior se movimenta, desmembrando-se do restante
do bloco, resultando, assim, em configuração composta por três elementos: baixo ([1]),
fração íntegra do bloco ([2]) e linha desmembrada ([1]). Deste procedimento obtêm-se
a partição [1²2] (Figura 91b). Pode-se observar procedimentos semelhantes nos estudos
17 e 11 (ver 3.3.3 e 3.3.4).
91
3.5.1 Estudo 2
O Estudo 2 é uma peça de andamento lento na qual Brouwer indica, com a palavra
“coral”, o efeito que se deseja obter (Figura 92). Trata-se de uma estrutura a quatro vozes,
articulada de modo simples e uniforme: As três vozes superiores se movem em bloco, com
relativa independência direcional e intervalar enquanto a quarta voz ataca, nos intervalos de
movimentos do bloco superior, com notas longas.
prescreve o uso do dedo p na articulação de ambas as partes, uma vez que não há ataques
simultâneos das mesmas.
Figura 93: Durações das partições encontradas no Estudo 2 (BROUWER, 1972). São elas [1 3] e [3].
Figura 94: PTV do Estudo 2 (BROUWER, 1972). Letras em itálico indicam a digitação de mão direita utilizada.
3.5.2 Estudo 8
A peça apresenta duas seções, A e B, cada qual com sua própria PTV. A seção A (Figura
95) é cânon à 7ª menor. As durações acumuladas das partições encontradas expressam, de forma
modelar, as propriedades texturais deste tipo de estrutura (ver Figura 96). Primeiramente,
predomina a partição [1²], que indica a presença comum da totalidade das vozes dispostas em
divergência rítmica. Ademais, são encontradas as partições [2] e [1], que indicam,
respectivamente: a ocorrência de eventuais movimentações em bloco e a existência de trechos
nos quais articula-se uma das vozes sobre o silêncio da outra. Trata-se, no caso, da utilização
93
global do complexo particional (ver 2.1.2) da partição [1²] (a partição referencial [1²], a
subsoma [2] e a subpartição [1]) em uma hierarquia de durações típica da polifonia.
Figura 95: Estudo 8 (seção “A”, BROUWER, 1972). Uso das partições [1²], [2], [1] e [3].
Figura 96: Durações das partições encontradas no Estudo 8, seção “A” (c. 1-8, BROUWER, 1972).
A seção B (c. 9-20, ver Figura 97) estrutura-se a partir da fórmula de arpejo43 “p i m”
(Figura 97a), executada repetidamente, recebendo eventuais variações para “a i m” (Figura
97b). Os dedos “i” e “m” articulam um pedal duplo44 em APF, composto pelas notas Lá♯2 e
Si2, localizados, respectivamente, na terceira corda pressionada na terceira casa e na segunda
corda solta. Os ataques do dedo “p” são utilizados para a execução de linha melódica principal,
em registro inferior, enquanto “a” realiza um contracanto, que ocorre, em registro superior, nos
intervalos de movimento da melodia principal.
43 A expressão refere-se a sequências de dedos da mão direita, destinadas a tocar cordas distintas. Estas sequências
são utilizadas, geralmente, na articulação de acordes em APFs.
44 Uma interpretação baseada em harmonia sugere que o lá ♯ é uma apojatura do si, portanto, a superposição
ocorrida entre as notas, no caso, seria um efeito secundário. No presente trabalho, não são consideradas as questões
de harmonia; atém-se exclusivamente à textura. De fato, as notas em questão se sobrepõem continuamente, o que
configura, deste ponto de vista, um bloco de dois sons em APF.
94
Figura 97: Estudo 8, seção “B” (c. 9-20, BROUWER, 1972). Fórmulas de arpejo utilizadas: a) p i m; b) a i m.
Figura 98: PTV do Estudo 8, seção “B” (c. 9-20, BROUWER, 1972). Partição principal: [1²2]. I) partição [3],
em contorno pontilhado, com linha vertical sinuosa à sua direita, indica comportamento de mão direita
característico de APF de três sons; II) padrão de mão direita predominante: “p i m”; III) parte [1], referente à
melodia principal, em registro inferior, articulada com o dedo p utilizado no padrão de mão direita predominante
(item II); IV) parte [2], referente ao bloco de dois sons, arpejado (APF) pelos dedos i e m, utilizados nos padrões
II e V. Os símbolos 0 e x, à esquerda da parte, indicam, respectivamente, que uma das notas do bloco localiza-se
em corda solta enquanto a outra encontra-se em corda presa; V) padrão de mão direita eventual (eventualidade
marcada por parênteses): “i m a”; VI) parte [1], referente ao contracanto articulado com o dedo a, empregado no
padrão de mão direita eventual (item V).
95
3.5.3 Estudo 12
Isto gera ocorrências constantes da partição [1], que se torna, dentre as configurações
encontradas, aquela de maior duração acumulada: 19 tempos (ver Figura 100). Contudo, em
apenas um fragmento linear isolado (c. 15), que se estende por três tempos, a partição [1] resulta
de procedimento que se difere do uso de tal padrão figurativo, aplicado ostensivamente na obra.
Portanto, a representação da textura da obra deve remeter-se à partição ou ao conjunto de
partições que descrevam, de modo integral, a estrutura da figuração utilizada, ou seja, a partição
[1], nesse caso específico, não deve ser considerada como partição principal.
Figura 100: Durações acumuladas das partições encontradas no Estudo 12 (BROUWER, 1972).
96
A partição [122] 45, que apresenta a segunda maior duração acumulada (17 tempos, ver
Figura 100) descreve a utilização dos acordes de quatro sons, que são “quebrados” de modo a
gerar os seguintes elementos, lidos do grave para o agudo (ver Figura 101):
a) baixo pedal: Lá1, articulado em mínimas pontuadas e executado em corda solta
com o dedo p (ver Figura 101a);
b) linha interna46: articulada em semínimas, também atacada por p (ver Figura
101b).
c) blocos arpejados em registro superior (ver Figura 101c): pares formados pelas
notas superiores dos acordes, executados como APFs pelos dedos i e m (ver ver
Figura 101c).
Os trechos construídos a partir de acordes de três sons (partição [1 2], ver Figura 101,
c. 6-8) são, de fato, construções que empregam, exclusivamente, a linha interna (elemento b)
assumindo a função de linha de baixo, e os blocos arpejados (elemento c), apresentados com
discretas variações. As três partições de maior duração acumulada, [1], [122] e [1 2], expõem
uma estruturação baseada no complexo particional (ver 2.1.2) da segunda, sendo as demais
subpartições deste.
Figura 101: Estudo 12 (BROUWER, 1972). Partições encontradas: [1], [1²2] e [1 2]. a) baixo pedal; b) linha
interna; c) blocos arpejados (APFs) em registro superior, transcritos como blocos 47.
Assim, a proposta textural (ver 2.1.3) do Estudo 12 é múltipla, tendo como partições
componentes do conjunto principal [122] e [1 2]. Esta última, apesar de ser uma subpartição,
apresenta alta duração acumulada; além disso, sua ocorrência não é resultante da utilização da
45 Abreviação de [1 1 2]
46 Assume a função de linha de baixo nos trechos nos quais o baixo pedal é ausente.
47 Em geral os APFs são transcritos sob a forma de um único bloco, com duração que se estende da primeira até a
última nota da sequência arpejada. Entretanto, neste caso específico, esta opção geraria blocos de semínimas (ver
Figura 101), uma vez que os APFs são pares de colcheias. Em consequência, seria produzida uma convergência
rítmica entre os blocos e a linha interna, gerando a partição [1 3]. Deste modo, estaria se operando uma “colagem”
dos acordes quebrados, omitindo-se um dos pontos de quebra. A repetição dos intervalos em colcheias garante a
visualização da divergência rítmica entre os elementos linha interna e bloco superior arpejado.
97
figuração que gera a primeira, como se dá com a partição [1], mas de uma variação desta, na
qual se utiliza alguns dos elementos apresentados. Por exemplo, considerando-se uma peça de
maior extensão (o Estudo 12 tem 19 compassos), na qual utiliza-se [122] em uma eventual parte
“A” e [1 2] em “B”, seria inadequado denominar [1 2] como partição secundária dado que, com
esta, produz-se um elemento formal independente.
Figura 102: PTV do Estudo 12 (BROUWER, 1972). Numeral zero indica uso exclusivo de corda solta. Linha
vertical sinuosa à direita da parte indica articulação em APF. Letras em itálico indicam uso dos dedos da mão
direita.
3.5.4 Estudo 19
Dedicado ao estudo dos acordes de quatro sons, o Estudo 19 é estruturado por séries de
ataques em bloco (partição [4], Figura 104a, c. 1-2) que são desenvolvidas, gerando uma
diversidade de variantes a serem tratadas na análise a seguir. A peça apresenta uma proposta
textural múltipla, tendo as partições [1 3] e [4] como componentes do conjunto principal (ver
Figura 103).
A partição [1 3] ocorre em três diferentes configurações:
a) estrutura baixo-centro: baixo separa-se do restante do bloco (Figura 1044a, c. 3-4).
Baixo atacado com dedo “p” enquanto o centro realiza-se com o grupo “i m a” (ver
Figura 104c).
98
Figura 103: Durações acumuladas das partições encontradas no Estudo 19 (BROUWER, 1972). Partições
componentes do conjunto principal em destaque.
Figura 104: Estudo 19 (BROUWER 1972, c. 1-4). a) partição [4] registra acordes em bloco. [1 3] descreve
estrutura do tipo baixo-centro; b) PTV do trecho em partição [4] (c. 1-2); c) partição do trecho em partição [1 3]
(c. 3-4).
b) linha superior contra blocos: nota superior do acorde é ornamentada, gerando linha em
movimento de trêmolo ou trinado (Figura 105a, II).
99
Figura 105: a) Estudo 19 (c. 12-16). Usos da partição [1 3]: estrutura baixo-centro (I), voz superior contra bloco
(II) e voz interna contra bloco (III); b) PTV do trecho II (c. 13-14); c) PTV do trecho III (c.15-16). O par “x y”
conectado por linha em arco, indica o padrão de articulação baseado em ligados ascendentes simples.
c) linha interna contra blocos: procedimento semelhante àquele descrito no item anterior,
porém, realizado sobre nota interna do acorde (Figura 105a, III). Esta estruturação é
representada graficamente utilizando-se uma seta que dirige a parte [1] para o interior
da parte [3] (ver Figura 105c).
Quanto aos casos descritos nos itens b e c, observa-se que o procedimento de mão direita
consiste em série de ataques simultâneos sobre quatro cordas distintas, como em uma execução
em blocos, uma vez que a linha contrastante é gerada por ligados na mão esquerda. Deste modo,
é possível dizer que a mão direita realiza a partição [4] (Figura 105b e Figura 105c, grafia com
contorno pontilhado48), desmembrada para [1 3] devido à utilização de procedimentos de mão
esquerda: ligados ascendentes simples.
A seção “A” do Estudo 20 é uma repetição da seção “A” do Estudo 19 (c. 1-16).
48Na representação gráfica utilizada no presente trabalho, utiliza-se o contorno pontilhado para descrever partes
ou partições que compõem determinado procedimento técnico-textural como elementos virtuais, ou seja, apesar
de não se expressarem necessariamente no resultado textural final, fazem parte integrante da construção deste
mesmo resultado.
100
4.1 PLANEJAMENTO
49 A expressão testemunho analítico é utilizada no presente trabalho para designar um relato do processo de criação
que se dá acompanhado de análise estrutural.
50 A partição [1 2] é a segunda partição mais utilizada nos Estudios Sencillos (ver 3 e Figura 36). Além disso,
dentre as 20 peças, 7 são estruturadas por PTVs configuradas a partir desta (ver 3.2).
101
negligenciando detalhes a este respeito. A grafia tradicional dos APFs (ver 2.1.1.1 e Figura 12),
por exemplo, consiste no registro de uma melodia sobre baixo pedal. Este modo de escrita,
apesar de ser facilmente compreendida por um violonista em situações mais evidentes – como
uma figuração arpejada ou um acompanhamento –, gera dúvidas, até mesmo em um
instrumentista experiente, quando se trata de estruturas mais híbridas. Para este caso, existe uma
alternativa, que, apesar de não ter uso corrente na escrita para o instrumento, elimina, por
completo, a ambiguidade da grafia tradicional. Trata-se do uso do L.V. (laissez vibrer51): um
trecho em APF é precisamente expresso pela mera grafia de suas notas em seqûencia,
empregando-se código L.V., seguido de colchete horizontal, determinando os limites até os
quais tais notas devem se superpor (ver Figura 106).
Figura 106: Estudo 6 (c. 1, BROUWER, 1972). Grafia alternativa, com a utilização do código LV..
4.2 EXECUÇÃO
A Seção A (c. 1-18, ver apêndice) é elaborada a partir da PTV do Estudo 1 de Brouwer
(ver 3.2.1 e Figura 52a): uma linha de baixo, articulada pelo dedo p, contra uma camada de
ataques sobre um bloco fixo (Sol2-Si2), composto por par de notas localizado em cordas soltas.
Em Intensidades I, além de utilizar três pares distintos de cordas soltas para os blocos (Ré2-
51 Deixar vibrar.
102
Sol2, Sol2-Si2 e Si2-Mi152), realizei algumas variações da proposta original, descritas a seguir
(ver Figura 107a e Figura 107b):
a) a linha de baixo é executada com o dedo p em alternância com ataques de mão
esquerda (ligados), além de contar com a utilização eventual do dedo i;
b) são utilizados dois blocos: Ré2-Sol2 (c. 1-4 e c. 11-19) e Sol2-Si2 (c. 5-10);
c) os ataques consecutivos sobre os blocos, que acontecem, no máximo, em pares,
são substituídos por articulações sequenciais de suas notas (APFs, ver 2.1.1.1),
sempre do grave para o agudo.
Figura 107: a) Estudo 1 (BROUWER, 1972) e Intensidades I; b) PTVs das duas peças: Estudo 1 à direita e
Intensidades I à esquerda. Na segunda, a linha sinuosa entre parênteses indica que a parte [2] é eventualmente
articulada em APFs. A letra i, entre parênteses, indica que o dedo indicador substitui, eventualmente, o dedo
polegar (p, fora dos parênteses), empregado predominantemente. O símbolo “x y”, registra o uso corrente de
ligados simples na articulação da parte [1].
Dentre tais modificações, aquelas descritas nos itens a e c são procedimentos que
atribuem maior fluidez à execução no andamento extremamente movido escolhido para a seção.
Em ambos os casos, evita-se ataques consecutivos com o mesmo dedo (ou par de dedos, no
caso dos blocos). Apesar destas mudanças, a seção mantém uma considerável similaridade com
a obra de referência (Estudo 1). Nos dois casos são produzidos padrões figurativos que
preenchem a totalidade das subdivisões do tempo; ataca-se, alternadamente, os dois elementos
em jogo, estipulando-se, assim, um padrão contrarrítmico. O uso dos ataques da parte [2]
(blocos) em APFs, descrito no item c, acontece no Estudo 15 (ver 3.2.5), gerando uma PTV que
integra o banco de configurações estabelecido para uso na obra (ver Figura 52e).
Quanto ao conteúdo harmônico, utilizei duas séries: (ver STRAUSS, 2000):
a) <827/493/106/BH553> (ver Figura 108, c. 3-4): construída a partir de tricordes
discretos da classe (016). A série estrutura a figuração a1 (c. 1-4 e c. 15-18);
b) <87H/B96/215/043>: construída a partir de tricordes discretos da classe (014). A
série estrutura as figurações a2 (Figura 108, c. 5-6), com o uso do primeiro
hexacorde, e a3 (Figura 108, c. 7-10), com o uso do segundo.
a) b1 (c. 24-40): O trecho resulta do emprego variado da PTV do Estudo 3 (ver 3.2.6 e
Figura 52h). Neste, há um baixo estático, um pedal de Mi1. O elemento em bloco é
móvel e articulado sequencialmente55 (ver 3.2.6). Dado o uso ostensivo de pedais em
registro inferior nos Estudios Sencillos, optei por realizar um comportamento diferente,
empregando um pedal situado, predominantemente, “entre” as notas do bloco. Para tal
função, escolhi a nota Sol2, localizada em corda solta.
55No caso do Estudo 3 optou-se por não considerar a execução sequencial como APF. Trata-se de um ataque na
primeira nota, seguido de um ataque duplo na segunda. Notas rebatidas não são procedimentos típicos de arpejos.
105
b) b2 (41-48) e b2’: Para estes trechos, decidi tomar como referência uma PTV encontrada
no Estudo 15 (variação 3, c. 40-54, ver Figura 52f) na qual, considerando o padrão
encontrado nas utilizações da partição [1 2], ocorre uma inversão de registro entre as
partes, ou seja, os blocos (parte [2]) posicionam-se em registro inferior à linha ([1]).
Elaborei uma linha melódica que reproduz o contorno e as relações de duração
encontradas na figuração a1 (c. 1-4), porém com caráter intervalar alterado: são
articulados, predominantemente, tricordes da classe de conjuntos (014) (Figura 111,
b2). Em seguida, inseri os blocos de dois sons de modo a gerar, com notas da melodia
às quais se subpõem, tricordes da mesma classe. Em b2 (c. 41-44), a PTV adotada como
referência é reproduzida de modo literal.
Na sequência, optei por realizar a repetição da linha uma oitava abaixo. 56 Para
o seu acompanhamento, parti da manutenção do procedimento textural anterior,
utilizando blocos de dois sons. Entretanto, no campo da harmonia, me permiti uma
“migração” para procedimentos próximos a um tonalismo expandido, que se
manifestavam de modo bastante espontâneo. O padrão textural começa a apresentar
desvios: na primeira nota da repetição da linha (Sol2, c. 45-1) acontece uma subsoma
(ver 2.1.2): linha (Sol2, no ponto em questão) e bloco (Mi1-Dó2) convergem
ritmicamente, gerando a partição [3] (ver Figura 111, c. 45.1). A sonoridade triádica do
bloco me causou incômodo, que foi resolvido com o acréscimo da nota Ré2, localizada
em corda solta.
Com o intuito de retomar o controle da textura, o qual estava se perdendo, devido
a um impulso criativo no âmbito da harmonia, manipulei os acordes de quatro sons,
formados entre a melodia e o novo acompanhamento (ver Figura 111, c. 45.3-48), para
reproduzir, de modo variado, uma das PTVs encontradas no Estudo 13 (variação, c. 21-
29, ver Figura 52g)57, a qual apresenta três elementos:
56 Em a1 (fonte do material utilizado), a linha também é apresentada duas vezes consecutivas, porém, apenas com
diferenças de dinâmica.
57 Apesar da partição componente desta PTV ser [1 22], esta é tratada como uma variação da configuração
dominante na obra, [1 2], pois trata-se de um mesmo procedimento técnico-textural acrescido de um novo elemento
(linha em registro superior) gerando um pico de densidade (ver 3.2.3).
107
58Ampliação por aumentação designa processo no qual as durações do objeto de referência são aumentadas,
mantendo-se as proporções.
108
b) c2 (c. 74), c2’ (c. 79-80) e c3 (81-86): São estruturados a partir da PTV do Estudo 13
(Figura 52c) variada devido ao uso de ligados ascendentes e descendentes (Figura 118).
A última reexposição do tema principal (A’’, c. 84-108), é ampliada pela inserção de duas novas
figurações – a4 e a5 – que retomam de forma variada, a referência na PTV do Estudo 1 de
Brouwer, baseada na partição [1 2]. A figuração a4 apresenta a configuração textural [122]59. A
parte [1] adicional resulta do prolongamento das notas Si♭1 e C2 sobre as demais notas da linha
de baixo, gerando um novo elemento independente (ver Figura 120, c. 98-99 e Figura 121a). Já
a figuração a5 (ver Figura 120, c. 100-101 e Figura 121b), retorna à partição [1 2], entretanto,
expõe uma linha de baixo com um padrão melódico extremamente “saltado”, baseado no uso
de ligados descendentes com origem em corda presa e chegada em corda solta.
59 Abreviação de [1 1 2].
111
Figura 121: a) PTV da figuração a4 (c. 98-99). Parte [2] estruturada, exclusivamente por cordas soltas (0),
articulada alternadamente com ataques em blocos e arpejos (linha sinuosa entre colchetes). Parte [1] central
atacada com o dedo p e com ligados simples. Parte [1] inferior executada com o dedo p; b) PTV da figuração a5
(c. 100-103). Parte um executada com dedos p e i, com uso corrente de ligados simples descendentes de nota em
corda presa (x) para nota em corda solta (0).
CONCLUSÕES
60 O termo é utilizado para se referir às propostas composicionais nas quais manipula-se registro, articulação e
timbre, de modo a possibilitar uma escuta polifônica a partir de um objeto musical monofônico.
113
61 Em Análise de Textura Violonística, tanto a representação gráfica das partições relativas a procedimentos
isolados das mãos quanto de paisagens texturais virtuais seguem os padrões de representação das partições em
geral, porém com o uso de contorno pontilhado.
114
REFERÊNCIAS
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BURMESTER, Haroldo Roger Benghi Aspectos do Stylus Phantasticus nas tocatas para
tiorba de Giovanni Girolamo Kaspsberger (c. 1580-1651). Dissertação (Mestrado em
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Janeiro: Centro de Letras e Artes, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, 2007.
SHEARER, Aaron. Classic guitar technique. New York: Franco Colombo, Inc., 1969.
117
VILLA-LOBOS, Heitor. Douze Études. Partitura. Violão solo. Paris: Editions Max Eschig,
1952.
GLOSSÁRIO GRÁFICO
Nessa seção, elementos gráficos básicos utilizados nas análises apresentadas no presente
trabalho, para a representação das PTVs, são listados e descritos isoladamente. A maior parte
destes símbolos foram elaborados a partir de das demandas encontradas em cada análise. Disto
é possível considerar que novas análises poderão demandar a criação de novos símbolos.
Portanto, visa-se, com a presente lista, não apenas disponibilizar um “vocabulário” a ser
utilizado, mas uma referência para a sua própria expansão.
62 São ligados compostos os conjuntos de ataques de mão esquerda encadeados. Tais procedimentos são
constituídos, geralmente, por uma nota de origem, atacada pela mão direita, e por, no mínimo, duas outras notas,
atacadas exclusivamente pela mão esquerda. Produz-se todo o tipo de desenhos melódicos com ligados compostos:
desde ornamentos, como bordaduras, grupetos e trinados, até movimentos escalares ou até mesmo, saltados.
121
OUTROS ELEMENTOS