Você está na página 1de 9

CURSO DE PSICOLOGIA

Disciplina: Psicologia Aplicada


Profa. Maria de Lurdes Domingues

O Desenvolvimento da Autonomia em Crianças Atletas

Anna Carla Assumpção – 20121101596


Patrícia Rodopiano de Oliveira – 20141100690
Silvana Pontes da Cruz – 20062301861
Sylvia Kamel - 20141105670
SUMÁRIO

Introdução p. 3
Fundamentação teórica p. 3
Justificativa p. 6
Solução p. 7
Referências p.9

2
INTRODUÇÃO

Este projeto visa propor estratégias na busca de soluções para o melhor


desenvolvimento e fortalecimento da autonomia em crianças atletas, inseridas em
contextos semiprofissionais e/ou profissionalizantes, onde estão submetidas a
rígidas disciplinas que se distendem para além das agremiações, influindo
diretamente em suas vidas privadas, relações familiares, pessoais e sociais, cultura
e lazer. Neste sentido, nosso olhar conjuga a perspectiva da criança com a atuação
dos cuidadores, técnicos, e toda a equipe em seu entorno.

A compreensão de autonomia pode se tornar confusa, já que as primeiras


decisões do indivíduo são tomadas pelos pais ou responsáveis. No caso dos
atletas, isso pode ser especialmente deflagrado, quando precisam lidar com a
pressão da profissão. Persistir e suportar a pressão, pode custar a perda da
autonomia.

Nossa proposta é conscientizar crianças, pais e técnicos, de seus


respectivos papéis nessa jornada. Nós psicólogos, teremos a função de mediar,
trabalhando não só em grupos, mas também com atendimento individualizado para
identificar as particularidades dos atletas, e poder transformar a atividade esportiva
em uma experiência mais prazerosa e menos conflituosa para a criança, para que
ela se sinta respeitada, possa desenvolver sua autonomia e seja capaz de
identificar e conciliar suas necessidades e vontades, com a pressão advinda da
atividade esportiva exercida.

Marco Teórico

Desenvolvimento da Autonomia X Iniciação Desportiva Precoce

De acordo com Zatti (2007), autonomia, no sentido etimológico significa


‘dar a si a própria lei’. O autor exemplifica inúmeras formas de definir e
compreender o que é autonomia, desde a Grécia, até os dias de hoje. Porém, para
efeito geral, pode-se entender autonomia, como o direito de pensar e fazer para e
por si mesmo, suas próprias escolhas. No entanto, explica o autor, nenhuma
autonomia será absoluta ou isenta de limites.

3
Os limites da autonomia, podem ser, por exemplo, de ordem orgânica,
ética ou social. No sentido orgânico, podemos exemplificar, que não temos
autonomia sobre sentirmos fome; no sentido ético, nossa autonomia fica restringida
ao direito e bem-estar do outro; no sentido social, nossa autonomia fica
comprometida diante das leis vigentes em um país, e regras morais impostas pela
cultura onde vivemos. (Zatti, 2007).

O entendimento do que é autonomia e, principalmente, até onde se


distendem suas bordas, é bastante complexo, e, também é perpassado pela
consciência, percepção, interpretação e subjetividade. Por exemplo, fazer uma
escolha em um momento de raiva, é uma ‘escolha autônoma’? Se nascemos
totalmente dependentes do meio, e tantas informações nos são imputadas, há que
se reconhecer o quão tênue é o contorno de nossa autonomia. Zatti (2007)

Zatti (2007) cita diversos autores, de Platão a Kant, no entanto, para efeito
deste trabalho, vamos nos ater em Piaget. Zatti (2007) descreve autonomia em
Piaget, dividida em dois aspectos: Moral, onde é fundamental que as crianças
aprendam a tomar decisões por si mesmas, de forma refletida, considerando as
consequências possíveis para si, bem como para os outros. Assim, a criança deve
desenvolver empatia e consideração pela opinião alheia, alcançada a partir das
interrelações. A autonomia Intelectual, seria a capacidade de construir e seguir sua
própria opinião.

Para Piaget (1975) a linguagem é uma condição necessária na construção


das operações lógicas, oferecendo condições para se relacionar com as
preocupações vitais da criança. O fator biológico que corresponde à maturação do
sistema nervoso e crescimento orgânico, o exercício e a experiência física, as
interações sociais por meio da linguagem e da educação e por último o fator de
equilibração das ações.

Estágio de desenvolvimento psicológico por Piaget (1975)

➢ Sensório motor: de 0 a 2 anos (falta de função simbólica, sem socialização)


➢ Pré-operacional: 2 a 7 anos (egocentrismo, sem autonomia, ausência de lógica)
➢ Operações concretas: 7 a 12 (início da personalidade, trocas como o diálogo)
➢ Operação formal: após 12 (consolidação da personalidade, aumento da
autonomia e alto nível de escolhas)

4
Cada estágio define um momento do desenvolvimento em que a criança
constrói determinadas estruturas cognitivas. Frutos da socialização: Autonomia,
compreensão e resolução de conflitos, aquisição de competências. (Piaget 1975)

Para Vigotsky (1988) o desenvolvimento depende da aproximação do


indivíduo com a cultura. A linguagem é adquirida culturalmente, desenvolvendo o
raciocino, capacidade de pensar, de reconhecer, de abstrações e generalizações.

Ampliação da capacidade de aprender, levando o indivíduo a


compreensão dos conceitos concretos, criados pela própria sociedade. Muitos
conceitos são construídos a partir da cultura onde se está inserido, e o indivíduo
deve se desenvolver para compreendê-los, através do quotidiano ou processos
formais de aprendizagem, e, por conseguinte, ser capaz de fazer escolhas, tomar
decisões, de maneira autônoma. Vigotsky (1988)

Segundo Muller e Nascimento (2014), o estudo da criança, é abordado sob


as óticas de inúmeros campos do saber, entre os quais a Biologia, Psicologia,
Pedagogia, Educação Física, Antropologia e Sociologia. A despeito das
divergências e convergências, observa-se, certo consenso, de que até
aproximadamente 12 anos, o indivíduo é dependente do meio, contexto onde se dá
a iniciação esportiva de alto rendimento.

A questão basal é saber, como as novas formas de ação humana se


organizam a partir de formas anteriores (reflexos e esquemas sensório-motores) e
como nesse processo participam fatores internos e externos. Uma vez que a
aderência de crianças aos esportes de alto rendimento, é um fenômeno
relativamente recente, precisamos compreender, as novas interações possíveis
entre as estruturas orgânicas, psicológicas e sociais, e de que maneira isso afeta a
aquisição, desenvolvimento e manutenção da autonomia dessas crianças. Muller e
Nascimento (2014).

De acordo com Freitas (2015), a iniciação esportiva de crianças em


esportes de alto rendimento, é um tema bastante controverso, e, as principais
críticas citadas pela autora, são, a influência perniciosa de tal prática sobre o
rendimento acadêmico, a subtração de atividades lúdicas, o alto grau de exigência
por resultados, exacerbando a orientação para competição, e estresse acarretado
por volumosas e persistentes cargas de treino físico.

5
Freitas (2015), explica que, sua revisão de estudos sobre o tema, indicou
que a maioria centra-se no que é recomendado ou não para estas crianças, mas
que pouco se sabe sobre como elas próprias se sentem e vivenciam tal
experiência. A autora, ressalta a necessidade e importância do debate, sobre a
‘conformação’ da criança, explicando que muitos autores da antropologia
“desconstroem a ideia de crianças passivas e submissas” (Freitas, p. 117), e,
sustenta que o contexto onde a criança está inserida, deve ser bem observado,
uma vez que afetará “a forma como as crianças se apropriam e reapropriam o que
lhes é transmitido” (Freitas, p. 117).

Justificativa

Freitas (2015), relata, que em suas pesquisas, foi possível observar que o
esporte de alto rendimento é sustentado por um modelo mercadológico, que visa
lucro. Nesse sentido, a urgência por especialização é cada vez mais precoce, por
parte dos ‘donos do negócio’ e, por outro lado, o vislumbre de uma atividade
profissional milionária e coroada de fama, é extremamente sedutor, especialmente
para os pais e cuidadores.

O cerne de nosso projeto, encontra-se neste ponto nevrálgico: Como a


iniciação esportiva precoce pode ocorrer, de forma menos onerosa para a
autonomia da criança?

Nossa proposta é que o Psicólogo, seja inserido no contexto, atuando


como facilitador ou mediador das relações da tríade, família-técnico-criança, bem
como das relações sociais, buscando mecanismos para que a prática esportiva
infantil, acabe por se tornar um instrumento auxiliar no desenvolvimento do
indivíduo e de sua autonomia.

Para tanto, a interação do psicólogo com as crianças, visa entende-las,


conhecer suas necessidades e anseios, fragilidades e medos, ofertando condições
para que conheçam a si mesmas, e para que possam se expressar, orientando-as
no processo de aquisição, desenvolvimento e sustentação de sua autonomia.
Desta forma, entendemos também, que para propiciar tal ambiente, o processo
deve ser multidisciplinar, envolvendo professores, corpo técnico, e profissionais
que atuem diretamente com a criança, e que, essencialmente, a família, deve ser
6
envolvida no processo, de forma consistente, para que ela, a família, apoiada pelo
psicólogo, possa rever suas expectativas, ou, encontrar meios de conciliar seus
anseios com as necessidades da criança, orientados pela compreensão de que
aquela criança não se reduz ao ‘atleta’, e, portanto, precisa ter seu direito a
autonomia, assegurado.

Acreditamos que com apoio psicológico, o desporto infantil, pode conferir a


essas crianças, consciência e desenvolvimento de sua autonomia.

Solução

A proposta de trabalho com pais, técnicos e crianças, visa promover a


discussão, entendimento e parceria no desenvolvimento da autonomia das
crianças, com foco em atividades que elaborem o poder de escolha e resolução de
problemas.

Os encontros seriam definidos da seguinte maneira: ao longo de 1 mês,


haveria interação entre pais e técnicos, grupo dos pais, grupo dos técnicos,
encontros com os atletas e todos os envolvidos. O atendimento individual será
realizado caso seja identificada alguma demanda. Serão distribuídas mais 5
sessões ao longo do primeiro mês.

O projeto será custeado pelo clube e o local cedido por ele. Um espaço
onde possa acomodar de maneira adequada tanto os grupos de reflexão, quanto
dinâmicas com deslocamento. O valor cobrado incluirá o material utilizado ao longo
do trabalho, custo de deslocamento do psicólogo e a mão de obra do profissional,
sendo assim, o custo total será de R$5000,00.

Com os pais, trabalharemos inicialmente em grupo, com dinâmicas que


envolvam o tema, uma vez por mês e eventualmente. Com os técnicos,
trabalharemos uma vez por semana, também com dinâmicas e discussões sobre o
trabalho feito por eles com as crianças, enfatizando sobre a pressão física e
emocional, a importância da autonomia, bem como a promoção da saúde de cada
faixa etária diante de cada etapa do trabalho esportivo. Com isso, esperamos obter
uma parceria na atenção para com a criança, não só como atleta, mas como
pessoa em desenvolvimento.

7
Com pais e técnicos, o trabalho será realizado em um encontro quinzenal,
pois, é necessário que haja um equilíbrio entre o que ambos passam para os
atletas. Podemos considerar esse o encontro mais importante, porque, as duas
principais referências de autoridade das crianças serão confrontadas, sendo assim,
poderão chegar em um denominador comum para melhor orientá-los.

Com as elas, serão executados trabalhos em grupo, com dinâmicas e


conversas, duas vezes por semana. Os próximos encontros acontecerão com
todos os envolvidos nesta ação, podendo assim identificar reais discrepâncias
entre os envolvidos. Caso haja alguma dificuldade de expressão partindo de algum
dos atletas, será solicitado o atendimento individual, para apurar questões pontuais
e trabalhá-las.

A essência do trabalho, é deixar uma área aberta para que as crianças


possam se expressar, tendo em vista o grande trabalho interno e externo da
escolha de vida como atleta.

Abordar com todos, temas como desenvolvimento, escolha de carreira num


período tão primário, a importância e papel da escolha que eles têm diante da
escolha de vida no esporte, o desenvolvimento dentro dessa escolha, pressões
externas e internas, importância de parcerias para o bom desempenho, conciliação
com estudos, saúde e bem-estar, bem como vida social.

8
REFERÊNCIAS

FREITAS, M. V. A participação das crianças no esporte de alto rendimento:


para além do 'como deve ser'. Porto Alegre, 2015, artigo
http://hdl.handle.net/10183/131479 Acesso em 12/04/2018

MÜLLER, F., NASCIMENTO, M.L.B. Estudos da infância: outra abordagem para


a pesquisa em educação. Linhas Críticas, Brasília, v.20, n.41, p.11-22, jan/abr,
2014 http://www.producao.usp.br/handle/BDPI/48393 Acesso em 12/04/2018

PIAGET, J. A construção do real na criança. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

VIGOTSKY, Lev S. et al. Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São


Paulo: Ícone,1988, 14ª Edição

ZATTI, V. Autonomia e educação em Immanuel Kant e Paulo Freire. Porto


Alegre, 2007, © EDIPUCRS,

Você também pode gostar