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MEDIUNIDADE

Clarividência e
A mediunidade se caracteriza unicamente pela intervenção dos Espíritos,
não se podendo ter como ato mediúnico o que alguém faz por si mesmo

Armando dos Santos - Valinhos/SP

O s vocábulos clarividência e
clariaudiência1 são empre-
gados na literatura espíri-
ta, normalmente, como sinônimos
de vidência e audição mediúnicas.
como já nos referimos, os termos
são confundidos constantemente
pelos escritores espíritas. Temos
em mente, ainda, que Allan Kar-
dec talhou alguns neologismos
pedem a transmissão do som.
Observem, em qualquer dos fe-
nômenos, a ação toda se dá no
plano físico, não ocorrem visão de
Espíritos desencarnados, tampou-
Todavia, essa colocação se encon- com a Codificação, como Espiri- co a audição dos mesmos. Sim-
tra equivocada. São fenômenos tismo, perispírito, agênere, dentre plesmente o sensitivo vê ou ouve
distintos que, mesmo semelhantes outros; entretanto, clarividência e além das capacidades naturais do
em alguns pontos, não o são em clariaudiência, são terminologias ser humano encarnado, portanto,
essência e é dever nosso delimitar pré-existentes à Doutrina Espírita, no plano físico, apenas.
bem o sentido de cada palavra, vi- já existiam com sentido específi-
sando sempre a uma melhor com- co, que diferem da vidência e da Explicação
preensão do tema. O insigne mes- audição mediúnicas. Atribuir-lhes
tre lionês, Allan Kardec, já nos uma nova significação não seria Vamos compreender como es-
alertava: Para as coisas novas lícito, além de ensejar motivos pa- se fenômeno se dá em relação ao
necessitamos de palavras novas, ra incontáveis confusões. corpo físico. Sabemos que os
pois assim o exige a clareza de lin- Assim, podemos conceituar olhos e os ouvidos são meros ins-
guagem, para evitarmos a confu- clarividência e clariaudiência: trumentos do cérebro que, na ver-
são inerente aos múltiplos senti- Clarividência é a visão à dis- dade, é quem “vê" e “ouve". Os
dos dos próprios vocábulos.2 tância, mesmo através de corpos olhos transmitem, por assim dizer,
opacos, permitindo enxergar, no as informações, mas é o cérebro
Conceituação plano material, coisas, cenas, pes- que as decodifica, ocorrendo o
soas que os olhos físicos não po-
Qual o real significado dos ter- dem alcançar.
mos, clarividência e clariaudiên- Clariaudiência é o fenômeno 1 O Estudo abaixo transcrito foi elaborado, princi-
palmente, com fulcro nas informações do livro ci-
cia? E o que os diferencia da vi- em que se ouvem sons que ocor- tado na bibliografia de autoria da professora The-
dência e audição mediúnicas? rem fora do alcance dos ouvidos rezinha Oliveira.
Vale frisar que sabemos não físicos, por se darem à distância 2 Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Ed. LAKE.
ser pacífica a diferenciação, pois, ou através de obstáculos que im- 20ª edição, p. 24.

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Clariaudiência
mesmo com a audição. não percebem que o são, pois ela dizem os clarividentes e clariaudi-
Somos cientes da capacidade se mostra de maneira muito natu- entes. Ora, sabemos da necessida-
de expansão do perispírito, o que ral; de do bom-senso nos recomen-
nos permite compreender o fato dando analisar tudo o que nos
de certas pessoas, por suas pró- b) Normalmente, esse fenôme- chegue às mãos, os próprios Espí-
prias condições físicas consegui- no ocorre quando a pessoa está ritos na Codificação afirmam isso.
rem certa expansão perispiritual, em um estado especial; Com os clarividentes e clariaudi-
caminhando para o próprio des- entes não será diferente. São seres
dobramento, podendo ver as ce- c) Não se confunde com os fe- humanos, portanto, falíveis, po-
nas ou ouvir os sons à distância nômenos telepáticos, muito em- dendo ver um ambiente, mas não
no plano físico, pois o perispírito, bora a telepatia também seja uma tudo o que tem no ambiente, co-
ligado ao corpo, transmite as in- faculdade anímica, essa é o fenô- mo nós quando olhamos um cô-
formações ao cérebro, que é o ins- meno de conseguir captar ima- modo, não conseguimos detalhá-
trumento da visão e audição, à se- gens mentais e pensamentos de lo com precisão. Às vezes, pode-
melhança dos olhos e ouvidos. outras pessoas e aquela é ver à rão ver objetos e cenas que não
Portanto, estamos frente a um distância no plano físico; conseguem interpretar, como um
fenômeno anímico e não mediú- leigo que aprecia aparelhos cirúr-
nico, ou seja, produzido pelos pró- d) Seu alcance vai até aonde a gicos, ele vê, mas não consegue
prios recursos do encarnado. alma estende sua ação, ou seja, a transmitir o que é cada coisa, qual
Assim, o clarividente ou clariau- distância que o sensitivo conse- sua utilidade etc. Daí a importân-
diente, não é um médium ostensi- guirá ver será variável de indiví- cia da análise em tudo. Verificar-
vo por esses fenômenos, é sim, um duo para indivíduo, uns verão a- mos se o que o clarividente vê é
sensitivo, se bem que, poderá, penas a poucos metros, outros a bom, ajuda ou prejudica alguém?
além das faculdades anímicas, milhares de quilômetros, é variá- O que está vendo? Para que está
possuir as mediúnicas, sendo mé- vel de pessoa para pessoa. vendo? São indagações necessá-
dium ostensivo por conseqüência. Vale frisar que as característi- rias na análise dos fenômenos em
cas expostas da clarividência, são comento.
Características perfeitamente adequadas à clari-
audiência, guardadas as devidas Diferenciação
Urge, agora, elencarmos algu- proporções.
mas características do clarividen- Em oposição ao conceito ex-
te: Análise posto de clarividência, podemos
afirmar que a vidência é a facul-
a) Em linhas gerais, os porta- Questão de relevância se dá dade mediúnica que permite ver
dores dessa faculdade anímica, quanto a aceitarmos ou não o que seres, ambientes, formas, luzes,

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cores, cenas do plano espiritual. mínios da Mediunidade de André si, toda a função. Viu o sacerdote
Observem, no plano espiritual e Luiz, casos de clarividência e cla- celebrante, as irmãs, os frades, os
não no físico. A audiência é a fa- riaudiência como fenômenos me- fiéis que rezavam, o presépio pre-
culdade mediúnica que permite diúnicos e Martins Peralva em seu parado na igreja... Clara olhava e
ouvir sons no plano espiritual. livro Estudando a Mediunidade escutava toda a missa, relatando
Kardec compartilha dessas também analisa essas passagens, posteriormente às suas irmãs, com
idéias quando afirma que para de- procurando fazer uma tradução as seguintes palavras: “Irmãs,
signar as pessoas de dupla vista popular da obra, mas, são casos agradecei ao Senhor, que não me
tem-se empregado a palavra vi- em que ocorreram a interferência abandonou, ouvi os vossos can-
dente, que, embora não exprima de Espíritos desencarnados, daí o tos, participei da missa, vi o presé-
com exatidão a idéia, adotaremos fenômeno deixar de ser anímico e pio com a Virgem e São José, as-
até nova ordem, em falta de outra passar a ser mediúnico, ou me- sisti ao nascimento de Jesus!".
melhor.3 lhor, o fenômeno era inicialmente Por esse fenômeno se tornou a
E, adiante, o Codificador es- anímico, mas com a interferência Padroeira da Televisão. Tele (dis-
clarece: Podem, pois, os médiuns dos benfeitores passou a ser medi- tância)-visão. Visão à distância.
videntes serem identificados às único, casos comuns em pessoas Ela possuía faculdades que a per-
pessoas que gozam da vista espi- portadoras das faculdades aními- mitiam, em certas situações, “ver"
ritual; mas, seria porventura de- cas e mediúnicas. e “ouvir" à distância, no ambiente
masiado considerar essas pessoas físico.
como médiuns, porquanto a medi-
Exemplificação
unidade se caracteriza unicamente
pela intervenção dos Espíritos, Finalizando, gostaríamos de
não se podendo ter como ato medi- trazer a lume um exemplo clássico
único o que alguém faz por si mes- de clarividência e clariaudiência.
mo. Aquele que possui a vista O fato se deu com uma das mais
espiritual vê pelo seu próprio Es- extraordinárias médiuns da Igreja 3Obras Póstumas, 1ª Parte, "A Segunda Vista".
pírito, não sendo de necessidade, Romana, Santa Clara. Era noite de
para o surto de sua faculdade, o Natal e essa data significava mui-
concurso de um Espírito estranho to para Clara.
(grifos nossos). Entretanto, naquela noite, Cla-
Mas haverá um momento em ra se encontrava gravemente do- Para saber mais, consulte:
que o fenômeno se torna mediú- ente, não podendo ir à missa, mas 1) Lamartine Palhano Júnior - Dicionário de
nico: suas irmãs foram, deixando-a em Filosofia Espírita. 1ª edição. Ed. Celd;
2) Therezinha Oliveira - Mediunidade. 10ª
seu quarto escuro e frio. edição. Cap. 17, pp. 107/114. Ed. CEAK;
A) Se Espíritos provocarem es- Clara estava estendida sobre o 3) Allan Kardec - O Livro dos Espíritos. 2ª
se desdobramento; ou pobre leito e desejava ardente- Parte, cap. VIII, questões 425 à 433 e 447 à
453. Ed. LAKE;
mente participar das sacras fun- 4) Allan Kardec - O Livro dos Médiuns. 2ª
B) Quando o sensitivo vê Espí- ções e dizia, consigo mesma: “Tu Parte, cap. XIV, item 167. Ed. LAKE;
5) Allan Kardec - Obras Póstumas. 1ª Parte,
ritos desencarnados ou participa nascestes, ó meu Senhor, e eu es- “A Segunda Vista". Ed. LAKE;
de eventos em que há envolvi- tou só, longe de ti", quando subi- 6) Léon Dénis - No Invisível. 2ª Parte, caps.
mento de tais Espíritos, então, o tamente, com alegre espanto, per- XIII e XIV. Ed. FEB;
7) André Luiz/Francisco C. Xavier - Nos Do-
fenômeno é mediúnico, ainda que cebeu que ouvia o canto e o sal- mínios da Mediunidade. 27ª edição. Cap.
também precedido pelo desdobra- modiar (o cantar uniforme) dos hi- XII. Ed. FEB;
mento. nos; depois, como que em uma te- 8) Hermínio C. Miranda - Diversidade dos
Carismas. Vol. I, cap. VIII. Ed. Lachâtre.
Encontramos no livro Nos Do- levisão, viu diretamente, diante de

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