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RESUMO
Analisando o contexto sobre as discussões que envolvem à preservação do patrimônio cultural, nos
últimos anos, este artigo aborda os conceitos de paisagem que originaram o termo, mais
recentemente, aderido pelas Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO), Paisagem Histórica Urbana, provindo como uma tipologia de Paisagem Cultural. O
entendimento de que a criação do termo paisagem cultural deu início à um espaço de discussões
bastante fértil, com abordagens conceituais sobre a aceitação de que as relações entre homem e
natureza vão além da compreensão entre a visão de patrimônio depositada somente na relação entre
o material e o imaterial. A paisagem histórica urbana traz a discussão de paisagem cultural com seus
elementos materiais e imateriais, para os centros urbanos, abrangendo conceitos, tais como,
“vizinhança”, “abrangência”, “centros históricos” e “entorno”. Possibilitando, assim, uma compreensão
da paisagem cultural em usufruto da paisagem histórica urbana. A preocupação com a valorização da
paisagem se faz além das, já discutidas, relações entre homem e natureza. Há uma ansiedade em
relação à sua preservação como documento histórico, a partir do ponto em que se compreende a
possibilidade de se encontrar elementos de distintas temporalidades, capazes de permitir uma leitura
histórica, a tornando uma materialização da memória e, portanto, com necessidades de legislações e
olhares específicos para atender à esta tipologia de patrimônio. O objetivo deste artigo é apresentar
estudos sobre o termo Paisagem Cultural e, posteriormente, Paisagem Histórica Urbana, buscando
uma melhor compreensão sobre a criação de um novo termo, visto como uma ramificação do primeiro
e que, segundo estudiosos, não apresenta grandes ampliações das definições anteriores. Assim, o
texto estrutura-se da seguinte forma. Inicia-se apresentando uma análise histórico-conceitual sobre os
conceitos de paisagem, abrangendo as principais discussões até o surgimento do termo Paisagem
Cultural depois segue com as discussões que culminaram na criação do termo Paisagem Histórica
Urbana, desde a década de 1960, até as Recomendações da Unesco de 2011, que estabelece tal
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tipologia. Após tais discussões, há uma abordagem de algumas das implicações sobre a criação de
uma tipologia específica para as paisagens urbanas históricas, com discussões sobre a importância
de tal criação na preservação do patrimônio urbano e algumas críticas sobre o tema. E, por fim,
aponta como o emprego de um novo conceito pode refletir velhas concepções, embora aponte
perspectivas de avanço nas políticas de preservação. Assim, com este trabalho, espera-se contribuir
para compreensão sobre os conceitos de Paisagem Cultural e Paisagem Histórica Urbana com suas
intrínsecas relações e, ampliação nos usos, buscando uma efetiva preservação das paisagens
históricas e culturais e do patrimônio presente nelas.
A noção coletiva de paisagem, na Europa, foi criada no século XIX, sob a influência do
crescimento e agilidade na circulação de pessoas, com ampliação da imprensa e da
fotografia, principalmente, culminando no primeiro termo que designou paisagem, a palavra
alemã landschaft, o qual indicava, desde a Idade Média, “uma região de dimensões médias,
em cujo território desenvolviam-se pequenas unidades de ocupação humana” (MAXIMIANO,
2004, p. 85), dando, a partir deste momento, um significado às gravuras presentes em
quadros, de obras de arte e, também, de às imagens da natureza.
Ribero (2010) aponta que o conceito de paisagem é controverso desde sempre. A discussão
sobre a origem do termo como conceito científico é bem definida através de Humboldt,
sendo consolidada com a institucionalização da geografia alemã, a qual adotou o conceito
como central da disciplina, entre os principais geógrafos no período entre os séculos XIX e
XX. Neste momento houve a apropriação, redefinição, abandono e releitura por diversos
campos de estudos, entre a geografia, arquitetura, paisagismo, biologia e outras,
conformando num emaranhado de entendimentos, definições e metodologias para o tema.
Para Poletti (1999), a paisagem pode ser definida como um sistema do território conformado
por diversos elementos influenciados por processos naturais e de atividades humanas, em
constante transformação e que se desenvolvem historicamente, se integrando em diferentes
linhas de pesquisa para compreensão de relações sociais, econômicas, culturais e
ecológicas, formando assim, tipologias de paisagem. Forman e Godron (1986 apud Poletti,
1999) classificam a paisagem em cinco tipologias diferentes, dentre elas a paisagem natural,
a qual não possui nenhum significativo impacto antrópico; a paisagem cultivada, onde há
presença de vilas e manchas de ecossistemas naturais e manejados; a paisagem
suburbana, a qual se faz a partir de áreas urbanas e rurais com manchas heterogêneas
formadas por parcelas residenciais, comerciais, vegetação e áreas naturais e, as paisagens
Santos (2009) discorre que uma paisagem é tudo o que a visão alcança e o homem é
inserido como observador, podendo assim, modificar uma paisagem de acordo com a sua
localização e percepção. Assim, Salgado (2017) afirma que a apreensão e a leitura da
paisagem, são reforçadas pelo caráter subjetivo, por ser o olhar de quem a observa. Simmel
(1996) também trabalha com a ideia de recorte quando se trata da paisagem, diferenciando,
assim, os conceitos de natureza e paisagem, onde a primeira é a totalidade, onde é possível
encontrar objetos à serem observados e, a segunda, se faz a partir da demarcação de um
recorte de observação para que se tenha uma paisagem, com participação obrigatória do
homem, sendo então, a paisagem, uma parcela de natureza com interferências antrópicas.
Estas definições de paisagem entrelaçadas ao ponto de vista antrópico, permite conclusões
de que elas não são elementos estáticos, acabados, onde o homem define seu significado
e, consequentemente, seu espaço existencial. A paisagem é um elemento dinâmico, com
constantes significações e interpretações que se modificam ao longo do tempo.
A paisagem, assim como a cidade, vai além de uma questão visual, relaciona-se com os
demais sentidos e experiências do usuário, remetendo assim, ao elemento mais
representativo de coletividade, que é o ambiente construído usado pela sociedade (ROSSI,
2001). Sua compreensão é essencial e se faz através da relação entre homem e natureza,
de forma material, com os espaços ou imaterial, com a cultura, conformando assim,
paisagens urbanas impregnadas de cultura e história que vão se perpetuando e se
adaptando com o passar do tempo.
Desde o século XIX discute-se sobre a ideia de paisagem cultural, inicialmente na geografia
e, posteriormente, na ecologia e arquitetura, criando-se diversas abordagens e
possibilidades de análise para o tema que, segundo Ribeiro (2007), inicia-se a partir da
escolha da metodologia e o tipo de abordagem sobre a concepção da paisagem que guiará
para os resultados relacionados à identificação e preservação da mesma como patrimônio
cultural.
Assim, como afirmam Ribeiro e Figueroa (2012), antes da década de 1970, a paisagem, já
aparecia em diversos documentos patrimoniais e até 1995 sofreu uma ampliação no quadro
de valores atribuídos, assumindo diversas vezes, expressões como “entorno”, “ambiência”,
“circunvizinhança”, “vizinhança” ou “arredores”, contudo sua função primordial era de objeto
secundário em obras de arte ou base para algum monumento a ser reconhecido, por isso as
expressões de adjacências presentes nos documentos que tratavam do patrimônio cultural.
Assim, pode-se dizer que, toda paisagem é cultural, já que, ao se relacionar com o meio
ambiente, o ser humano realiza algo associado à sua forma de viver e, assim, à sua cultura.
Entretanto, o termo “cultural” foi acrescentado para expressar a relação de comunidade com
o meio, atribuindo valores materiais e imateriais.
Ribeiro (2010) aponta que, ao considerar o significado atribuído à paisagem cultural, desde
o final do século XIX, pela geografia, a forma mais representativa para definir a paisagem
transformada pela cultura seria a paisagem urbana, entretanto, a forma como foi definida
pela Convenção de 1972, sendo claramente separadas as categorias culturais e naturais de
uma paisagem, tornando-se antagônicas, tornava difícil a aplicação do termo para grandes
centros urbanos, já que nestes locais, as paisagens naturais se misturam às influências do
homem em todos os momentos, sendo difícil a identificação, em um centro urbano, de
alguma paisagem intocada pelo homem.
Desta maneira a definição e implantação de uma paisagem histórica urbana deve caminhar
junto com as discussões e implementações de planejamento urbano e instrumentos de
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gestão urbana, servindo de base política e de estratégias para a salvaguarda de paisagens
e o desenvolvimento urbano integrado (JOKILEHTO, 2009).
Conclusões
Por fim, o reconhecimento de uma paisagem histórica urbana é uma questão cultural que se
anexa aos valores sociais, econômicos e políticos, em busca de um ponto em comum entre
o desenvolvimento das cidades e a preservação da pré-existência, dos valores culturais,
sociais e históricos, procurando a construção de uma abordagem menos conflituosa, capaz
de equilibrar o desenvolvimento das cidades com os recursos patrimoniais.
Referências Bibliográficas
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JOKILEHTO, Jukka. Notes on the defi nition and safeguarding of HUL. In: City & Time, v4, n.
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MAXIMIANO, Liz Abad. Considerações sobre o conceito de paisagem. R. RA´E GA, Editora
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POLETTE, Marcus. Paisagem: Uma reflexão sobre um amplo conceito. Turismo - Visão e
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RIBEIRO, Rafael Winter. Um conceito, várias visões: paisagem cultural e a UNESCO. 2010.
In: CATRIOTA, Leonardo Barci; MONGELI, Mônica Medeiros. (Org.). Paisagem Cultural,
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<https://www.unescoportugal.mne.pt/images/cultura/recomendacao_sobre_a_paisagem_hist
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