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Introdução

O aparecimento das literaturas de língua portuguesa na África resultou, por um lado, de um


longo processo histórico de quase quinhentos anos de assimilação de parte a parte e, por outro,
de um processo de conscientização que se iniciou nos anos 40 e 50 do século XIX, relacionado
com o grau de desenvolvimento cultural nas ex-colônias e com o surgimento de um jornalismo
por vezes ativo e polêmico que, destoando do cenário geral, se pautava numa crítica severa à
máquina colonial.

O trabalho, construir-se-á como uma visão panorâmica das literaturas africanas de língua
portuguesa e procurará ressaltar alguns momentos importantes da literatura. Mostraremos como a
negritude, cuja influenciou e levou à defesa da africanidade no campo literário, assim como o
papel da imprensa na divulgação das obras literárias. Abordaremos os métodos hermeneuticos e
analíticos.
A literatura constitui um espaço de expressão cultural e expressão de sentimentos: Os
textos literários como espelho do universo no seu todo

A Literatura é um instrumento de comunicação e de interação social, ela cumpre o papel de


transmitir os conhecimentos e a cultura de uma comunidade. Está vinculada à sociedade em que
se origina, assim como todo tipo de arte, pois o artista não consegue ser indiferente à realidade.

A literatura também pode assumir formas de crítica à realidade circundante e de denúncia social,
transformando-se em uma literatura engajada, servindo a uma causa político-ideológica. é
resultado das relações dinâmicas entre escritor, público e sociedade, porque através de suas obras
o artista transmite seus sentimentos e idéias do mundo, levando seu leitor à reflexão e até mesmo
à mudança de posição perante a realidade, assim a literatura auxilia no processo de
transformação social.

A literatura transformou-se, em várias partes do mundo, em disciplina escolar dada a sua


importância para a língua e a cultura de um país, assim como para a formação de jovens leitores
em toda parte do universo.

Num olhar pensativo, podemos notar que identidade do indivíduo se constrói numa relação
permanente com a identidade do outro. Assim, o indivíduo deve ser preparado no sentido de ser
capaz de estabelecer pontes de diálogo com o outro, que tem uma cultura diferente da sua, a fim
de construir uma sociedade que fomente o diálogo entre as diferentes culturas.

Emprestando as palvras da Teresa Borges (2001), a leitura de um texto provocar sempre emoção,
atribui ao acto de ler a capacidade de invadir a intimidade do indivíduo, podendo interferir na
construção da sua identidade. A identidade é composta, não por uma, mas por várias pertenças,
isto é, por vários elementos que nos fazem pertencer a uma religião, a uma ou mais
nacionalidades, a um grupo étnico ou linguístico, a um grupo de amigos.

Notemos que a literatura e um campo aberto para novos conhecimentos, visto que, o texto
literário é, por definição, um texto que congrega em si próprio uma multiplicidade de sentidos, é
um texto que permite o contacto com o uso estético da língua e com diferentes formas de
representação do mundo, factor enriquecedor da aprendizagem, nomeadamente de uma língua
estrangeira, na medida em que veicula uma outra cultura, apresenta diferentes modos de pensar,
diferentes histórias, diferentes personagens, diferentes mensagens. o texto literário pode ser um
veículo de diálogo intercultural, e para isso é necessário agirmos sobre a realidade do mundo que
aquele texto transmite.

O texto literário introduz um universo que, por mais distanciado do cotidiano, leva o leitor a
refletir sobre sua rotina e a incorporar novas experiências (...) o texto artístico talvez não ensine
nada, nem se pretenda a isso; mas seu consumo induz a algumas práticas socializantes que,
estimuladas, mostram-se democráticas, porque igualitárias.

As literaturas são completamente diferentes entre si, mas outro acredito elas tem percursos
semelhantes, saberes compartilhados, patrimônios em comum e referências culturais que se
aproximam. Por exemplo, o factor colonialismo na época apresentara-se como uma importante
contingência compartilhada entre todas as nações. São os desdobramentos da experiência da
dominação colonial que permitira o surgimento de uma tradição histórico cultural que se
aproximam e cria uma rede de solidariedade, assim como nos dias actuais, em relação a Covid-
19.

Para Magnani (2001), a literatura é elemento transformável e transformador, pela dialética entre
a simbologia da obra e a simbologia social, em que o indivíduo atinge o universal, seja pela
liberdade de formas ou pela intertextualidade que permite correlações entre obras de épocas
diferentes, o que possibilita à criação literária instituir-se como fator multicultural.

o texto literário muitas vezes serve de instrumento para retratar a realidade, com intuito de
pensar, persuadir, informar, documentar, alertar, refletir ou simplesmente proporcionar prazer ao
leitor, mas também como condutor de conhecimentos do mundo, cuja práxis social permite a
conscientização de realidade passadas, presentes e de projeções futuras.

A literatura africana de língua português tem as bases de sua emergência na Negitude e na


Imprensa.

Negritude e o pensamento artístico-literário africano

A Negritude tem a sua origem nos movimentos culturais protagonizados por negros, brancos,
mestiços que, desde as décadas de 10, 20, 30 (século XIX), vinham lutando por renascimento
negro (busca e revalorização das raízes culturais africanas, crioulas e populares) principalmente
em três países das Américas, Haiti, Cuba e Estados Unidos da América, mas também um pouco
por todo o lado.

O termo "Negritude" aparece pela primeira vez escrito por Aimé Césaire, em 1938, no seu livro
de poemas, "Cahier d'un retour au pays natal"; está intimamente associado ao trabalho
reivindicativo de um grupo de estudantes africanos em Paris, nos princípios da década de 30, de
que se destacam como principais responsáveis e dinamizadores Léopold Sédar Senghor (1906)
senegalês, Aimé Césaire (1913), martinicano, e Leon Damas (1912), ganês.

Estes autores da Negritude legaram-nos uma obra literária da máxima importância; mas foi
Senghor que, com a Presidência do seu Pais (Senegal) e uma larga aceitação Ocidental (política
literária e académica) contribuiu decisivamente para a divulgação da Negritude.

Por outro lado, a negritude é um movimento de exaltação dos valores culturais dos povos negros.
É a base ideológica que vai impulsionar o movimento independentista na África. Este
movimento transmitirá uma visão um tanto idílica e uma versão glorificada dos valores
africanos.

A literatura africana tem suas raízes no movimento conhecido como negritude, sendo que a
primeira leva dos escritores participou do primeiro congresso de escritores da África no ano de
1956, contendo textos e poesias inspirados nas revoltas que possuíam caráter anticolonialista.

As principais inspirações para os escritores da literatura africana são, certamente, a terra, os


conflitos vividos na região, assim como a beleza dos lugares que existem por lá e dos
sofrimentos que passaram nos setores social e político.

Na concepção de Aimé Césaire, negritude é simplesmente o ato de assumir ser negro e ser
consciente de uma identidade, história e cultura específicas. Césaire definiu a negritude em três
aspectos: identidade, fidelidade e solidariedade.

A identidade consiste em ter orgulho da condição racial, expressando-se, por exemplo, na atitude
de proferir com altivez: sou negro! A fidelidade é a relação de vínculo indelével com a terra-
mãe, com a herança ancestral africana. A solidariedade é o sentimento que une,
involuntariamente, todos os “irmãos de cor” do mundo, é o sentimento de solidariedade e de
preservação de uma identidade comum (Munanga, 1988: 44).
É de capital importância referir-se ainda que a "Negritude" não surgiu apenas com o objectivo da
recuperação da dignidade e da personalidade do homem africano, mas também como um
movimento propulsionador da descolonização em África. As obras literárias escritas foram de
grande importância para a relevância da literatura africana.

Segundo Manuel Ferreira (1989), o entendimento da literatura africana passa pela compreensão
da perspectiva dinâmica que orienta a produção literária, que faz com que esses momentos não
sejam rígidos nem inflexíveis e permite que um escritor, muitas vezes, atravesse dois ou três
deles: no espaço ontológico e de criatividade poética do escritor movem-se valores do
colonizador que são dados adquiridos, funcionam valores culturais de origem e há sempre a
consciência de valores que se perderam e que é necessário ressuscitar.

A literatura africana, refere-se ao relacionamento do escritor africano com a oralidade, o escritor


africano assume a responsabilidade de construtor, arauto e defensor da cultura africana,
rompimento com os moldes europeus e da conscientização definitiva do valor do homem
africano, a conscientização da africanidade, sob a influência da negritude de Aimé Césaire, Léon
Damas e Léopold Senghor.

Aimé Césaire assinalava que o movimento da negritude representou uma revolução na


linguagem e na literatura. o movimento da negritude tinha um caráter cultural.

O papel da Imprensa na literatura africana

As literaturas africanas encontram nos jornais do período colonial espaço profícuo de divulgação
ficcional, poética, da cultura em geral e de resistência aos mandos e desmandos de um sistema
colonialista que ignora o saber, as manifestações culturais, as formas de expressão dos povos
subjugados.

A imprensa desempenhou um papel importante no desenvolvimento da literatura africana, pois é


a imprensa que publicava, os textos literários. Vejamos que em Angola por volta de 1874,
verifica-se o aparecimento da Imprensa Livre angolana, publicação de registros de experiências
literárias e artigos, e cujo mérito era levantar a bandeira da democracia republicana almejada
pelos intelectuais africanos e portugueses engajados na busca de uma imprensa propagadora das
realidades africanas.
Os estilos narrativos mais produtivos foram a crônica e o panfleto, este de caráter doutrinário e
político. Outro gênero literário valorizado nessa fase foi o folhetim, que agradava tanto aos
africanos como aos portugueses. Eram publicados na colônia e algumas vezes reeditados na
Metrópole.

Africanos, portugueses e brasileiros publicavam nos espaços comuns dos almanaques, boletins,
jornais, revistas e folhetos. A escrita já deixara de ser espaço de europeidade absoluta para se
tornar contaminação relativa de línguas.

De facto, poetas portugueses e angolanos intercalavam no texto em português, mais extenso,


frases, diálogos, versos, lexemas em língua banta, quase que exclusivamente o quimbundo. A
integração é perfeita, na coerência do sentido e da sonoridade e na coesão dos segmentos e dos
ritmos (Laranjeira,1992, p. 11-12)

O trabalho literário aproxima os intelectuais que buscavam um caminho para fazer circular seus
textos ficcionais, poéticos e de cunho político-ideológico. Destaca-se neste estágio de despertar
cultural Alfredo Troni, escritor, jornalista e advogado, precursor da prosa moderna angolana com
a criação de Nga Mutúri, bem como Pedro Félix Machado, também jornalista, que cultivou a
prosa de ficção, publicando em folhetim na Gazeta de Portugal a primeira edição do romance
Scenas d´África, reeditado em 1882.

No final do século XIX, floresceram nas colônias africanas de língua portuguesa várias
associações recreativas, grêmios literários, diversos jornais, alguns de curta duração, mas
geradores de motivação criadora bastante significativa.

Surgiram muitos jornais entre o final do século XIX e início do XX, e, apesar da maior parte ter
tido curta duração, até o final do século XIX enumeraram-se "46 deles, os quais contaram com a
participação de europeus e africanos" . Da mesma forma como ocorreu em Angola e Cabo
Verde, a imprensa moçambicana é instalada em 1854, quando nasce o Boletim Oficial (Santilli,
1985, p.10).

Ainda segundo (Santilli 1985) é no século XX que a imprensa se estabelece com maior
autonomia. Em Angola, o primeiro livro, marco histórico-literário da ficção, foi O segredo da
morta, de Assis Junior, uma obra de costumes angolanos publicada nos folhetins do jornal A
vanguarda de Luanda em 1929, com reedição datada de 1935 pela tipografia A Lusitana, em
Luanda.

Em 1950, surge a Antologia dos novos poetas de Angola e, posteriormente, a revista Mensagem
(1951-1952), com a participação de escritores que se tornaram basilares da literatura angolana:
Agostinho Neto, Alda Lara, Antero Abreu, António Cardoso, António Jacinto, Mário António,
Mário de Andrade, Oscar Ribas, Viriato da Cruz e o moçambicano José Craveirinha. Essa
revista, para além da divulgação da produção literária, tinha um perfil pedagógico.

(Santilli, 1985, p.15), afirma que os objetivos da revista se centravam na busca da redefinição e
valorização dos dados básicos de caracterização nacional. Os escritores propunham-se à
alfabetização e melhoria das condições culturais do operário, as diversificadas atividades no
setor da cultura nacional.

A imprensa representa a mola mestra na formação do primeiro reduto capaz de criar uma
atmosfera capaz de romper o silêncio imposto pela máquina colonial. O jornalismo estabelece,
desde o final do século XIX, um papel importante no cenário da divulgação da literatura.

As literaturas africanas encontram nos jornais do período colonial espaço profícuo de divulgação
ficcional, poética, da cultura em geral e de resistência aos mandos e desmandos de um sistema
colonialista que ignora o saber, as manifestações culturais, as formas de expressão dos povos
subjugados.

Inicialmente, essas literaturas nascem como meio valorativo das regiões a que pertencem os
intelectuais, ou que eles conhecem, mas, pouco a pouco, o regional evolui e dá lugar a um
sentimento nacional que vislumbra um projeto coletivo capaz de redimensionar os chamados
valores culturais africanos, tão bem representados na literatura.
Conclusão

A Literatura é a arte da palavra. Podemos afirmar que a literatura, é um instrumento de


comunicação e de interação social, ela cumpre o papel de transmitir os conhecimentos e a cultura
de uma comunidade. literatura é o resultado das relações dinâmicas entre escritor, público e
sociedade, porque através de suas obras o artista transmite seus sentimentos e idéias do mundo,
levando seu leitor à reflexão e até mesmo à mudança de posição perante a realidade, assim a
literatura auxilia no processo de transformação social no mundo inteiro.

A literatura africana, foi influencia de um modo pelo movimento de negritude, que passou a ser
um conceito dinâmico, o qual tem um caráter político, ideológico e cultural. No terreno político,
negritude serve de subsídio para a ação do movimento negro organizado. No campo ideológico,
negritude pode ser entendida como processo de aquisição de uma consciência racial. Já na esfera
cultural, negritude é a tendência de valorização de toda manifestação cultural de matriz africana.
A negritude inspirou vários escritores, artistas a escreverem suas ideias, com um objectivo em
comum, lutar pelas suas liberdades.

Dado a esfera em que a literatura africana surgiu, uma fase conturbada de opressão, colonização,
humilhação, a literatura africana precisava de um meio para se espalhar pelo mundo, dai o papel
das imprensas, que não foi fácil difundir as obras, ou mesmo os textos literários africanos. A
literatura africana, veio atona com ajuda da imprensa, que divulgava os textos literários
africanos: poemas, romances, narrativas, entre outros.
Bibliografia

FERREIRA, Manuel. 50 escritores africanos. Lisboa: Plátano, 1989a.

LARANJEIRA, Pires. Literaturas africanas de expressão portuguesa. Lisboa: Universidade


Aberta, 1995.

MAGNANI, Maria do Rosátio M. Leituras, Literatura e Escola.São Paulo: Martins Fontes, 2001.

MUNANGA, Kabengele. Negritude. Usos e sentidos. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1988 (Série
Princípios).

SANTILLI, Maria Aparecida. Africanidades. SP: Ática, 1985.

SILVA, Marina Cabral da. "Para Que Serve a Literatura?";Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/literatura/para-que-serve-a-literatura.htm. Acesso em 22 de maio
de 2021.

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