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Marcelo França de Oliveira Universidade Federal Do Rio Grande
Marcelo França de Oliveira Universidade Federal Do Rio Grande
1Bacharel em História e pós-graduando em História do Rio Grande do Sul pela Universidade Federal do
Rio Grande (FURG). Email: contato@marcelodeoliveira.net
constituição de fato nunca pode ser colocada em prática, pois se vivia em um estado de
exceção. Deste modo, articularam os chefes farroupilhas um Projeto Constitucional, que
seria aplicado tão logo cessasse o conflito. Este projeto trazia diferenças em relação à
Constituição Imperial do Brasil de 1824, tanto em seu conteúdo quanto em aspectos como
na organização político-administrativa do Estado, a divisão dos poderes e a estrutura
eleitoral, por exemplo. Apesar disso, assemelhava-se bastante da Constituição brasileira,
em sua forma e no estilo de redação, utilizando-se em vários trechos de reproduções fiéis ao
texto imperial, como, por exemplo, na oficialização de uma religião como a única do
Estado e o silêncio sobre as questões anti-escravagistas, cujo tema não aparecia em
nenhuma das duas cartas.
O LIBERALISMO
Assim, "direito" e "dever" são duas noções presentes no arcabouço normativo das
sociedades ditas Liberais, e por isso pressupõem a existência de uma norma ou regra de
conduta que atribui a um sujeito a faculdade de fazer ou não fazer alguma coisa ao passo
em que impõe a quem quer que seja a abstenção de toda ação capaz de impedir, seja por
que modo for, o exercício daquela faculdade. Em outras palavras, pode-se definir o
jusnaturalismo como a “doutrina segundo a qual existem leis não postas pela vontade
humana (...) das quais derivam, como em toda e qualquer lei moral ou jurídica, direitos e
deveres que são naturais.” (BOBBIO, 2000, p. 12)
A própria revolução, em última análise, era legitimada pelas ideias Liberais, pois os
sul-rio-grandenses estariam agindo em defesa de instituições como a liberdade, a lei, a
propriedade, ameaçadas que estavam pelo Governo Central.
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Todas as informações do presente artigo referentes à Constituição brasileira foram extraídas da
CONSTITUICÃO POLÍTICA DO IMPÉRIO DO BRAZIL (de 25 de março 1824) no sítio da Presidência da
República, disponível no endereço
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao24.htm> e acessada em 31 de março
de 2010.
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Todas as informações do presente artigo referentes ao Projeto de Constituição da República Rio-grandense
foram extraídos de FLORES, Moacyr. Modelo Político dos Farrapos. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1978,
pp. 187-208.
o governo a contrair empréstimos e até mesmo fixar a demarcação do território do Estado,
antiga reivindicação farroupilha. O Senado tinha mandato de 12 anos, com renovações
quadrienais de um terço de seus membros e com sua primeira nomeação sendo feita por
eleições indiretas, sempre enviando uma lista tríplice para a escolha e nomeação do
presidente. Os municípios rio-grandenses, por sua vez, teriam Câmaras Municipais, porém
com funções meramente administrativas. Na Constituição brasileira, o Legislativo também
era bicameral, com funções e atribuições semelhantes ao estabelecido na Constituição Rio-
grandense, com a ressalva de o Senado ser vitalício e escolhido pelo Imperador, em lista
tríplice enviada pelas províncias oriundas de eleições locais.
O Poder Executivo era exercido, na Carta Rio-grandense, pelo presidente da
república. Este seria eleito em sessão permanente pela Assembleia Geral no dia 1º de julho
do segundo ano de cada legislatura, por votação nominal, com mandato de quatro anos e
não podendo ser reeleito consecutivamente por mais de uma legislatura. Além de
administrar a república, tinha por funções nomear Ministros de Estado, sancionar,
promulgar ou devolver leis enviadas pela Assembleia Geral, nomear Senadores e membros
do Conselho de Estado. O Executivo Rio-grandense tinha o poder de nomear, nas cidades
ou vilas cabeças de município, um agente imediato com o título de Diretor, encarregado do
governo da municipalidade. Nas demais povoações e distritos subalternos, haveria um
intendente subordinado àquele. Tal prerrogativa do Poder Executivo ia de encontro à velha
aspiração farroupilha de descentralização que pregava enquanto parte do império brasileiro,
pois em seu projeto constitucional não abria mão da centralização das decisões e controle
nas mãos do governo central republicano.
No Executivo brasileiro, Ministério, Conselho de Estado e administração eram
similares ao disposto no Projeto Constitucional Rio-grandense, guardadas as diferenças
inerentes entre presidente e imperador e tudo o que diz respeito a estas distintas classes de
governo. Na Constituição de 1824, é estabelecido que o Imperador seria o chefe do
Executivo e exercitaria este poder através dos seus Ministros de Estado.
A estrutura eleitoral disposta na Carta Magna Rio-grandense previa eleições diretas
para a Câmara dos Deputados e indiretas para o Senado, onde os votantes elegeriam nas
assembleias dos distritos os eleitores que por sua vez elegeriam os senadores. O Conselho
de Estado, eleito também de forma indireta, seria escolhido em lista tríplice pelo presidente
do Estado. Para votar, estavam aptos os cidadãos rio-grandenses maiores de 21 anos, à
exceção dos casados e oficiais militares que forem maiores de 18 anos, os bacharéis
formados e os clérigos de ordem sacra; e os estrangeiros naturalizados. Eram excluídos de
votar nas assembleias paroquiais aqueles que não professassem a fé católica; os criados de
servir (exceto guarda-livros e primeiros-caixeiros das casas de comércio e os
administradores das fazendas rurais e fábricas); os filhos de família que viviam na
companhia dos pais (exceto se servissem em ofício público); os religiosos que viviam em
comunidades claustrais; os soldados e cabos de exércitos de linhas; os analfabetos e, por
fim, aqueles que não tiveram renda anual de cem mil réis. Estes não podiam ser membros
nem votar na nomeação de autoridade eletiva, nacional ou local. Outros, que não se
enquadrassem nas determinações anteriores e tivessem renda anual superior a duzentos mil
réis e não fossem libertos, criminosos ou estrangeiros naturalizados, poderiam votar para o
Senado, a Câmara e o Conselho. Finalmente, para votar e ser votado, o cidadão deveria,
além de não se enquadrar nos dispositivos restritivos acima, ter renda superior a trezentos
mil réis anuais e ter mais de 25 anos completos.
O processo eleitoral brasileiro guardava muitas semelhanças com o rio-grandense, já
que este foi inspirado naquele. O voto também era censitário e estabelecia níveis de
votação, sendo indireta a nomeação de deputados, senadores e membros dos Conselhos
Gerais das Províncias, onde as assembleias paroquiais elegeriam, entre a massa dos
cidadãos ativos, aqueles eleitores locais que, por sua vez, elegeriam os representantes
provinciais e da nação. Os valores para as eleições primárias eram igualmente cem mil réis
anuais, os mesmos duzentos mil réis para serem eleitores dos deputados e senadores e
quatrocentos mil réis para serem elegíveis em cargos políticos.
Os Direitos das Gentes, tanto na Constituição Imperial quanto no projeto
constituinte rio-grandense, aparecia nas disposições gerais e transitórias ao fim do
documento. No caso brasileiro, o título oitavo é o último a ser tratado, após todas as
disposições constitucionais, quase como um aparte, um anexo, algo que foi acrescentado de
última hora, ao contrário das constituições modernas, em que na maioria dos casos estas
disposições aparecem logo no início do texto constitucional. Ambos os casos garantiam a
inviolabilidade do lar; o segredo de correspondência; a garantia de propriedade da
descoberta aos seus inventores; a livre expressão de pensamentos por palavras escritas
(liberdade de imprensa); a não-perseguição religiosa; a igualdade da lei para todos e o
direito sagrado e inviolável à propriedade, entre outros, típicos do pensamento liberal, ao
passo que ambos silenciavam sobre o elemento escravo, o que destoava das ideias liberais.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
ALVES, Francisco das Neves. Revolução Farroupilha: estudos históricos. Rio Grande:
Fundação Universidade Federal do Rio Grande, 2004.
BOBBIO, Norberto. Liberalismo e Democracia. São Paulo: Brasiliense, 2000.
FLORES, Moacyr. Modelo Político dos Farrapos. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1978