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Curitiba
Setembro, 2012
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I – Tema
II – Introdução
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Saussure, F., Cours de linguistique générale, Paris: Payot, 1955.
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Cf. Un inédit de Merleau-ponty, In: Revue de métaphysique et morale, LXVII, 1962, p. 402; citado com a
sigla In.
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Le primat de la perception et ses conséquences philosophiques, Lagrasse: Verdier, 1996, p. 68.
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“De agora em diante as tarefas da literatura e da filosofia não podem mais ser separadas [...] A expressão
filosófica assume as mesmas ambiguidades que a expressão literária” (Sens et non sens, Paris: Gallimard, 1997,
p.48).
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Em 1951, Merleau-Ponty afirma que o “problema” de uma fenomenologia da linguagem “mais claramente do
qualquer outro, [...] aparece ao mesmo tempo como um problema especial e como um problema que contém
todos os outros, inclusive este da filosofia. Se a palavra é isto que nós dissemos [...] como, após ela, haveria
lugar para uma elucidação de grau superior?” (Cf. “Sur la phénoménologie du langage”, In: Signes, Paris:
Gallimard, 1960, Folio Essais, 2008; citado com a sigla S).
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La prose du monde, Paris: Gallimard, 1969; citado com a sigla PM.
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Notes de cours sur l’origine de la géométrie de Husserl. Suivi de Recherches sur la phénoménologie de
Merleau-Ponty, Paris: PUF, 1998; citado como OG.
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Segundo Barbaras, a linguagem obtém um privilégio na produção da intersubjetividade em relação à
percepção, pois “é somente no nível da expressão que uma verdade intersubjetiva pode aparecer. Segue-se que,
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na percepção, eu tenho antes o mundo a favor que os outros; eu acedo, pela palavra, ao outro antes que ao
mundo” (1991, p. 336).
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Segundo o filósofo, sua intenção seria a de “levar à palavra um mundo até então mudo” (In,
408), ou seja, com base em uma investigação sobre a linguagem, responder à questão do
conhecimento “primeiro através de uma teoria da verdade, depois por meio de uma teoria da
intersubjetividade” (In, 405). Este momento marca a passagem de uma fenomenologia da
percepção, enquanto investigação do corpo próprio, para uma fenomenologia da linguagem
propriamente dita. A proposta, dirá Merleau-Ponty, é superar a “má-ambiguidade” (In, 409)
da Fenomenologia da Percepção9, a qual visa conciliar o universal e o particular, o solo
comum que é o mundo e a evidência do cogito – nos termos de uma teoria da
intersubjetividade, por exemplo, ao tentar harmonizar a percepção direta do outro e a
posição de uma consciência insular irredutível do eu10.
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Merleau-Ponty, M. Phénoménogie de la perception, Paris: Gallimard, 1945, p. 16 ; citaremos a tradução de
Carlos Alberto Ribeiro de Moura, São Paulo; Martins Fontes, 2006, p. 12, conjunta à paginação do texto
original; citado como PhP, seguido da paginação francesa e da paginação brasileira.
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Esta é a concepção de Barbaras (1991, p.55), quando reconhece que “à altura da Phénoménologie de la
perception, Merleau-Ponty não toma toda a medida do problema e se recusa a pensar essa experiência” do
outro. Após reconhecer o dilema que constitui a presença do outro para mim, no capítulo “Outrem e o mundo
humano”, constata-se que a medida tomada por Merleau-Ponty é de repetir a resolução apresentada ao longo de
toda a obra, ou seja, a de que existe uma articulação entre a transcendência do mundo e a imanência do sujeito,
uma vez que por possuir um corpo, sou atirado ao corpo do outro da mesma forma que aos objetos espaço-
temporais e como que obrigado a reconhecê-los e dar-lhes autonomia. Tal articulação é fruto da ambiguidade
do corpo próprio, pois “sua unidade é sempre implícita e confusa. Ele é sempre outra coisa que aquilo que ele
é” (Php, 240, 269).
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Merleau-Ponty irá retomar, em O visível e o invisível, o conceito kantiano pré-crítico de “grandeza
negativa”, a fim de demarcar uma natureza da negação que alimenta sua contraparte positiva, não como pura
nulidade, mas como invisível do visível. A “oposição real” entre as contrapartes de uma determinada realidade
já é uma maneira de constituí-la negativamente, assim como no sistema de signos saussureano. Essa é a
realidade da expressão e da intersubjetividade, se compreendemos que há um “vazio” que é “negatividade
natural” e que “faz o sentido” (VI, 266). No conceito de grandeza negativa, Merleau-Ponty admite um diálogo
entre as consciências, como vínculo quiasmático, em virtude da simultaneidade entre negativo e positivo. “O
quiasma [...] é a ideia de que toda percepção é dupla de uma contra-percepção (oposição real de Kant), é ato de
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vez que o sentido do signo não está na coisa em si, mas na familiaridade com outros signos,
cumpre ver tal função propriamente negativa da linguagem. Segundo Gadet, “o francês
distingue fleuve e rivière como o rio que desagua no mar e o rio que desagua em outro rio.
Ora, no inglês – river e stream – a diferença está apenas no tamanho. Que as diferentes
línguas não façam o mesmo recorte da realidade, ou que se trate de um recorte sobre a
realidade que ela mesma não impõe em sua essência, é o que aparece nos exemplos, pois a
água que corre não está nem em fleuve/rivière, nem em river/stream" (Gadet, 1987, p.34). Já
que não há uma língua mais verídica ou mais adequada que as outras, a negatividade se
mantém enquanto principio constitutivo delas. Em seus últimos estudos a respeito da
linguagem, Merleau-Ponty irá circunscrever uma potência “positiva” nessa negatividade,
como dimensão visível de sua contraparte invisível. Na fala “essa duas bases são articuladas;
a base do falar como..., uma base, isto é, um invisível pelo qual o visível se mantém” (OG,
28).
Com a fenomenologia da fala já não se antevê uma prerrogativa entre texto e leitor,
como no caso da literatura, pois uma vez que as palavras e a significação são colocadas em
curso pelo leitor, subitamente elas o levam sempre além do que ele julgava compreender –
portanto, pode-se afirmar que ambos compõem a “dupla do cego e do paralítico” (PM, 17),
ou seja, estão num regime latente de cumplicidade em relação à expressão que nasce de sua
interação. Essa expressão não pode ser compreendida de maneira objetiva, pois ela realiza a
inversão entre sujeito e objeto a tal ponto que não se sabe mais se é Matisse que pinta o
quadro ou o quadro que requisita de Matisse as pinceladas apropriadas (PM, 62). A
intencionalidade característica da expressividade é, portanto, oblíqua e contamina a um só
tempo escritor e leitor.
Da mesma forma, no diálogo, não sei mais o que pertence a mim e ao outro, pois a
expressão funda mais que o entendimento, vale dizer, a correlação de significados. Ela
estabelece ambos interlocutores na mesma carnalidade, através do ato linguageiro comum,
“pelo qual o homem falante se dá um ouvinte, e uma cultura que lhes seja comum” (PM,
197) – quando falo a outrem, me dirijo a outro eu mesmo, me escuto através dele e, ao passo
em que compreendo este outro, compreendo a mim mesmo e “já não sei quem fala e quem
ouve” (S, 158). É isto que situa tanto a linguagem como a presença de outrem num só
movimento de abertura ao mundo. Quando Merleau-Ponty aponta para o fato de que “essas
duas faces; não se sabe mais quem fala e quem escuta. Circularidade falar-escutar, ver-ser visto, perceber-ser
percebido” (VI, 312).
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Nas propriedades comuns do sentir, como generalidade da relação dos corpos com o
mundo, pode-se estabelecer um vínculo primordial entre os homens. É como se a
“universalidade do sentir” se transformasse em “universalidade reconhecida”, através da
qual me apego ao mundo tanto quanto o outro, de modo que as significações sejam
transferíveis da mesma forma que esta sensibilidade geral, gerando um inevitável
entrecruzamento entre nós, como “quando falo a outrem e o ouço, o que entendo vem se
inserir nos intervalos do que digo, minha palavra é recortada lateralmente pela de outrem,
me escuto nele e ele fala em mim, é aqui a mesma coisa to speak to e to be spoken to” (PM,
197).
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Conforme R. Bonan, no capítulo sobre o diálogo, de A prosa do mundo, Merleau-Ponty anteviu as
implicações ontológicas de suas pesquisas, o que o levou a interromper sua redação e voltar-se à linguagem
como tematização da intersubjetividade, como expressividade carnal em O visível e o invisível. “[...] a intenção
de abordar uma independente da outra, ou simplesmente de maneira sucessiva [...] é progressivamente
abandonada em prol de uma descrição concreta da dimensão intersubjetiva como quadro de fenomenalização
da verdade” (Bonan, 2002, p. 17).
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VII – Bibliografia
Obras do autor:
MERLEAU-PONTY, M. Éloge de la Philosophie et autres Essais, Paris: Gallimard, 1997
____________________. La Nature: notes de cours du Collège de France, Paris: Seuil, 1995
____________________. La Prose du Monde, Paris: Gallimard, 1969
____________________. La Structure du Comportement, Paris: PUF, 1967
____________________. Le Primat de la perception, Paris: Verdier, 1996
____________________. Le Visible et le Invisible. Paris: Gallimard, 1964
____________________. L’Institution, la passivité. Paris: Belin, 2003
____________________. L’Oeil et L’Esprit, Paris: Gallimard, 1964
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Outras obras:
BARBARAS, Renaud. De l’être du phénomène. Sur l’ontologie de Merleau-Ponty,
Grenoble: Millon, 1991
___________________. Le tournant de l’expérience, Paris: Vrin, 1998
BIMBENET, Étienne. La Structure du comportement, Chap III – l’ordre humain, Paris:
Ellipses, 2000
________________. Nature et humanité: le problème anthropologique dans l’oeuvre de
Merleau-Ponty, Paris: Vrin, 2004
BONAN, Ronald. La prose du monde: la perception d’autrui et le dialogue. Paris: Ellipses, 2002
______________. La dimension commune I: Le problème de l’intersubjectivité dans la
philosophie de Merleau-Ponty, Paris: L’ Harmattan, 2001
CARBONE, Mauro. Il sensible e l’excedente. Mondo estetico, arte, pensiero, Millano:
Ângelo Guerini, 1996.
CHAUÍ. Experiência do pensamento. Ensaios sobre a obra de Merleau-Ponty, São Paulo:
Martins Fontes, 2002
DASTUR, Françoise. Chair et langage. Paris: Encre Marine, 2001
DUPOND, Pascal. “Entre o mortal e o eterno: o cogito carnal”. In: A fenomenologia da
experiência. Goiânia: Ed. Da UFG, 2006
_______________. Le vocabulaire de Merleau-ponty, Paris; Ellipses, 2001
DUPORTAIL, Guy-Félix. Phénoménologie de la communication, Paris: Ellipses, 1999.
GADET, Françoise. Saussure: une Science de la langue. Paris: PUF, 1987
HAAR, Michel. La philosophie française entre phenomenology et métaphysique, Paris:
PUF, 1999
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