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Tempo para todas as coisas

ANSIEDADE, A ANTECIPAÇÃO DO TEMPO


“Nossa ansiedade não esvazia os sofrimentos do amanhã, mas apenas esvazia as forças de hoje. ”
— Charles H. Spurgeon

Ansiedade, esse estado emocional que atinge milhões de pessoas ao redor do mundo, já foi
denominada de “a emoção oficial da nossa época”, o “mal do século”, “o fenômeno mais
penetrante do nosso tempo”, dentre outros. O fato é que qualquer pessoa pode padecer de
ansiedade. Os estudos sobre isso são abundantes. Mas o que pode ser considerado ansiedade?
O conceito mais admitido na atualidade é de autoria do psiquiatra australiano Aubrey Lewis, que,
em 1967, aduziu a ansiedade como “um estado emocional com a qualidade do medo,
desagradável, dirigido para o futuro, desproporcional e com desconforto subjetivo”.

A ansiedade é, sem dúvida, o mais irracional dos sentimentos. Ela torna a pessoa inquieta,
antecipando a dor de uma “esperança demorada”, tornando fraco o coração (Pv 12.25; 13.12;), sem
saber, sequer, se o episódio receado acontecerá. O pastor Claudionor Andrade assim define
ansiedade: “[Do lat. ansietatem, aflição, inquietação, preocupação] Estado de angústia que induz os
seres humanos a projetar — no futuro — perigos irreais, nascidos, via de regra, das interrogações do
dia a dia”.
Esse sentimento de antecipação dos fatos da vida está presente em muitas pessoas, trazendo
sérios efeitos colaterais, por não gerenciarem eficazmente seus pensamentos, permitindo que o
medo conquiste todo o território emocional, somando sensações muito desagradáveis. O
psicanalista Augusto Cury corrobora que “há muitas pessoas que sofrem por antecipação. Imaginam
problemas que não aconteceram e sofrem como se já tivessem acontecido. Não sabem gerenciar sua
ansiedade e pensamentos antecipatórios”.
São inúmeras as consequências da ansiedade, as quais variam em cada indivíduo, de acordo com a
intensidade do drama emocional.
A FILOSOFIA DOS PASSARINHOS
Os pássaros, conforme disse Jesus em Mateus 6.26, ainda que não possuam qualquer garantia de
sobrevivência no futuro, não encaram a vida “se preocupando com provisões, como as pessoas se
preocupam”. Ninguém precisa lhes explicar que “Deus os sustenta”.11 Eles não têm a menor dúvida
quanto a isso!
É maravilhoso observar que os passarinhos utilizam a filosofia do Reino de Deus para viver. Como
bem disse Martin Luther King, “mesmo as noites totalmente sem estrelas podem anunciar a aurora de
uma grande realização”; e os pássaros parecem entender isso. Talvez, por tal razão, eles voem e
cantem livremente, a qualquer tempo, pois nunca estão desmotivados em seguir adiante, visto que
não possuem nenhum obstáculo psicológico que os deixe aprisionados no cárcere das emoções
negativas. Voam e cantam porque não receiam os fatos do amanhã, nem buscam antecipá-los. Vivem
um dia de cada vez. Eles têm paz.
Os pássaros cumprem o propósito para o qual o Criador os fez e sabem que, com isso, terão
provisões diárias. Simples assim.
A FILOSOFÍA DOS LIRIOS DOS CAMPOS

Os lírios do campo, mesmo frágeis, fininhos e sem proteção, não ficam atormentados quanto ao
futuro, pois eles são alimentados por Deus através do maravilhoso processo da fotossíntese.
Ademais, o Senhor provê para eles uma roupa especial, que os mantém com uma dignidade e
elegância tais nos prados como nenhum governante humano jamais conseguiu ostentar. Deus
escolhe as coisas fracas do mundo para confundir as fortes! Ele capricha nos mínimos detalhes na
vida animal e vegetal para ensinar aos homens uma faceta do seu maravilhoso caráter: é um Pai
cuidadoso que sustenta todas suas criaturas. Não importa o tempo de vida do projeto, Deus o fará
crescer, e Ele mesmo cuidará dos detalhes (Mt 6.30), providenciando o que há de melhor.

RECUPERANDO O TEMPO PERDIDO

“Um navio no porto está seguro, mas os navios não foram construídos para isso.” — John Shedd

O Senhor, como o Bem supremo, deseja que todos os homens acertem o alvo, mas quando erram,
isto é, vivem em pecado, perdem o que há de melhor na vida e no tempo. Esse conceito, embora
verdadeiro à luz das Escrituras, é percebido exatamente ao contrário, quando a análise é feita sob o
prisma do materialismo. Perder tempo é, para a cultura e filosofia dominantes no mundo, não
aproveitar todos os prazeres terrenos.
Observe-se esse exemplo paradigmático. Com o objetivo dar sentido à sua vida, de maneira que ela
não fosse uma “perda de tempo”, Ernest Hemingway, um celebrado romancista do século XX que
afirmava que Deus não existia, decidiu viver de maneira libertina. Para isso, ele se comprometeu
consigo mesmo a provar os prazeres a fundo — experimentaria tudo, sentiria tudo e faria tudo. No
fim da vida, desiludido, cometeu suicídio.

Grandes filósofos, imbuídos do mesmo sentimento de Hemingway, no afã de encontrar razões para
viver, construíram elaboradas teses exaltando o prazer e rejeitando todo tipo de dor, a fim de que a
existência não fosse um fardo, um desperdício de tempo. Mas nada disso resolveu o problema do
vazio interior do homem, pois, paradoxalmente, o caminho da autossatisfação sensorial só trouxe
desespero e perdição. Jesus, porém, explicou que, aos olhos do Senhor, ganhar a vida não
significava desfrutar de modo desenfreado os prazeres do “aqui e agora”, mas poder viver feliz,
com Deus, por toda a eternidade; e isso passava inexoravelmente por renunciar a si mesmo. Por tal
motivo, pode-se afirmar que a suprema perda de tempo acontece em todas as ocasiões em que se
vive fora dos propósitos divinos.

Não se pode baixar a guarda quanto a um aspecto tão importante da existência: viver no centro da
vontade de Deus. Em várias ocasiões, servos de Deus que são atingidos pelo sono da indolência,
mas faz-se necessário reconhecer que é tempo de despertar, para recomeçar de onde aconteceu o
erro.
DESISTIR JAMAIS

A resistência é uma das características do amor, que tudo suporta e nunca falha (1 Co 13.7,8).
A ideia de prosseguir, enquanto se espera o tempo da restauração, da restituição, somente pode
ser encontrada naqueles que amam o Senhor, pois apenas o filho fica para sempre na casa do Pai
(Jo 8.35). Quem não tem vínculo de amor com Deus logo se dispersa e segue seu próprio caminho.
Esse sentimento filial, de nunca desistir, pode ser caracterizado pelas palavras de um homem
excepcional, Jó, quando declarou: “Ainda que ele me mate, nele esperarei” (Jó 13.15). Ele estava
encarnando a compleição espiritual da Igreja de Cristo, a qual não desiste jamais, aguardando “o
tempo da restauração de tudo” (At 3.21).

Precisamos nos arrepender. Com Deus não há tempo perdido! Deus pode, com um movimento, de
forma surpreendente, restaurar o amor, a fé, a paz e a esperança esquecidos, reconstruir as
amizades arruinadas, restituir o que foi perdido ao longo do caminho, fazendo novas todas as
coisas. Ele é Senhor do tempo, espaço e da matéria. Nada é difícil para Ele.

O milagre da restituição acontece, sempre, na ambiência do Reino de Deus. Somente quando Deus
está presente na vida de alguém, as coisas e o tempo podem ser restaurados completamente. Sem
Deus, tudo não passará de ilusão. Assim, de nada adianta tentar reencontrar a alegria perdida, a
paz perdida, o amor perdido, se Deus não for o timoneiro dessa embarcação, que navega pelo rio
da vida.
O reconhecimento do erro é um passo fundamental para a recuperação do tempo perdido. Só há
um modo de encontrar o bem, e isso acontece quando ocorre o distanciamento de todo o mal.
SEGUINDO EM FRENTE

Para a pessoa ter restituído o tempo perdido é preciso ter coragem. Nada acontece por acaso. O
jovem que gastou a herança do pai teve que voltar para a sua terra maltrapilho, sabendo que
enfrentaria a ira do irmão e, quem sabe, a indiferença do pai. Mesmo assim ele decidiu fazer o que
era certo. Os grandes homens de Deus tinham uma característica interessante: “da fraqueza
tiraram forças” (Hb 11.34). Como Jesus, eles venceram. Este é o desfecho da vida do homem de
Deus: ser mais que vencedor porque Ele já venceu o mundo.
TEMPO A SÓS COM DEUS
“Uma das maiores utilidades do Twitter e do Facebook será provar no Ultimo Dia que a falta de oração
não era por falta de tempo. ”— John Piper
Estar a sós com Deus constitui-se em um privilégio inenarrável. Aliás, ter comunhão com o Todo-
Poderoso, mais que um privilégio, é, sem dúvida, uma necessidade.
“Não se aparte da tua boca o livro desta Lei; antes, medita nele dia e noite [...]” (Js 1.8), “Buscai no
livro do Senhor e lede; nenhuma dessas coisas falhará [...]” (Is 34.16), com apelos desse tipo, Deus, ao
longo da história, conclama seu povo a buscar orientação e intimidade com Ele por meio das
Escrituras. Realmente, a meditação constante na palavra de Deus gera um grau de espiritualidade
autêntico, não apenas na aparência, mas, sobretudo, no conteúdo: a pessoa passa a conhecer o
caráter do Senhor e recebe fé para viver com Deus, o que é indispensável, afinal, o justo viverá da
fé .
Esse caminho de profunda comunhão com Deus, por meio da leitura da Bíblia, foi trilhado por
inúmeros expoentes da fé cristã. Orlando Boyer, no célebre livro Heróis da Fé, informa que
Jerônimo Savonarola “alimentava continuamente a alma com a Palavra de Deus. As margens das
páginas da sua Bíblia estão cheias de notas escritas enquanto meditava nas Escrituras”; acerca de
Martinho Lutero, o grande reformador, está escrito que aconselhava que ninguém se afastasse da
Bíblia sequer por um momento, caso contrário, “tudo estará perdido”; sobre John Wesley, Boyer
escreveu: “Explica-se o poder de Wesley pelo fato de ele ser homo unius libri, isto é, um homem de um
livro, e esse Livro é a Bíblia”. Os biógrafos de George Müller, por seu turno, informam que ele leu a
Bíblia mais de duzentas vezes, sendo cem delas de joelhos e, por isso, alcançou uma obra de fé tão
extraordinária nos seus dias.
Os casos são abundantes de pessoas que, por estarem a sós com Deus na meditação das
Escrituras, impactaram sobremaneira o mundo em que viviam.

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