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O uso de passar a Eucaristia sobre os olhos parece ter tido origem entre os
sírios. Foi provavelmente inspirado pelo texto de Ex 12,7, em que Moisés,
propondo o ritual da Páscoa judaica, mandava ungir com o Sangue do
Cordeiro pascal as ombreiras e barras das portas das casas dos israelitas.
Estes dizeres, interpretados alegoricamente, terão sugerido a praxe de
consagrar os sentidos dos comungantes mediante o Pão eucarístico. Em
certos lugares, ainda, os fiéis beijavam a partícula sagrada recebida em suas
mãos.
2. Os Desvios
A partir do século IV, aconteceu que a devoção popular se foi tornando cada
vez mais exuberante no uso da Santíssima Eucaristia depositada nas mãos
dos comungantes.
Certa vez, um membro dessa facção viu-se de tal modo impressionado pelos
sermões de São João Crisóstomo que, ao voltar à casa, intimou sua esposa a
se fazer católica com ele. A mulher, porém, não lhe deu ouvidos, pois o
círculo de suas amigas a detinha no grupo herético. Declarou então o
marido: "Se não receberes, juntamente comigo, os divinos Mistérios, já não
poderás continuar a ser minha consorte". Receber a Eucaristia era, segundo
a mentalidade da época, o sinal mais expressivo de adesão à santa Igreja.
Consta que a mulher, intimidada pela ameaça do marido, prometeu
satisfazer-lhe.
Tal episódio é expressão das circunstâncias da vida cristã nos séculos IV/V.
Outros casos análogos poderiam ser colhidos na literatura cristã da
Antiguidade e do início da Idade Média. O que nos interessa aí é realçar o
desvirtuamento da santa Eucaristia entregue às mãos da pessoa comungante.
Conscientes dos abusos, as autoridades eclesiásticas foram recomendando
que nas assembleias eucarísticas se desse a sagrada Comunhão na boca dos
fiéis, à semelhança do que se fazia na administração do Sacramento aos
enfermos. Em consequência, no século IX já devia ser quase geral o costume
de se depositar a santa Eucaristia não sobre a mão, mas sobre a língua dos
fiéis. O Concílio de Ruão (França, +878), por exemplo, baixava a seguinte
norma geral:
3. A Legislação vigente
Por muitos séculos, portanto, foi ilícito aos leigos tocarem o Santíssimo
Sacramento com as mãos, até que a pretendida renovação litúrgica do
Concílio do Vaticano II levou a restaurar o uso da Comunhão na mão;
– porém dentro de circunstâncias adequadas para se evitarem os
inconvenientes registrados no decorrer da história. – No dia 5 de
março de 1975 a Santa Sé concedeu aos Bispos do Brasil a faculdade de
permitirem a Comunhão na mão em suas respectivas dioceses, desde que
sejam observadas as seguintes normas:
3. Convém que o novo rito seja introduzido aos poucos, começando por
pequenos grupos, e precedido por uma adequada catequese. Esta
visará a que não diminua a fé na Presença eucarística, e que se evite
qualquer perigo de profanação.
5. A Hóstia deverá ser colocada sobre a palma da mão do fiel, que a levará à
boca antes de se movimentar para voltar ao lugar ou então, embora por
várias razões isto nos pareça menos aconselhável, o fiel apanhará a Hóstia na
patena ou no cibório, que lhe é apresentado pelo ministro que distribui a
Comunhão, e que assinala seu ministério dizendo a cada um a fórmula: "O
Corpo de Cristo". É, pois, reprovado o costume de deixar a patena ou
o cibório sobre o Altar para que os fiéis retirem do mesmo a
hóstia, sem apresentação por parte do ministro. É também
inconveniente que os fiéis tomem a Hóstia com os dedos em pinça
e, andando, a coloquem na boca.
É lícito comungar duas vezes no mesmo dia se, em ambos os casos, o fiel
participar da santa Missa (Cânon 917).
O Pão eucarístico levado para casa tinha, em grego, o nome de Hygieia, "Pão
da Saúde"; "Broa da Saúde". Notemos que em muitos lugares, tanto no
Oriente como no Ocidente, se consagrava pão fermentado, igual ao pão de
mesa, e não pão ázimo. Um e outro tipo de pão são matéria válida para o
sacramento.
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1. Notitiae n.392.393/1999
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Fonte:
BETTENCOURT, Estevão. Pergunte e Responderemos n.457. Rio de Janeiro:
Mosteiro de São Bento, jun/2000.