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Cristo Jesus o Sacramento Primordial

March 18, 2009

Dom Henrique Soares

Com este artigo vamos começar uma série de meditações sobre


os sacramentos. O que são? quem os instituiu? qual o sentido de
cada um deles? como são celebrados? como bem participar
deles? São questões que veremos nesta nova série de temas
teológicos.

Antes de mais nada é importante compreender que não


podemos falar corretamente dos sacramentos sem começar
falando de Jesus Cristo: é ele o sacramento primordial, a fonte
de todos os sacramentos. Vejamos vem isso!

Que é um sacramento? É um sinal eficaz da presença de Deus no


nosso meio. Observe bem: é umsinal, ou seja, recorda,
comunica, exprime, evoca, torna-nos presente uma realidade
que de outro modo poderia estar ausente; este sinal é eficaz:
não somente recorda, não somente torna presente na
lembrança, mas realmente faz acontecer, faz agir aquilo que
significa. É por isso que dizemos que o sacramento é um sinal
eficaz. Tomemos como exemplo a bandeira do Brasil: “a
lembrança da Pátria nos traz!” A bandeira é um sinal do Brasil;
mas não é um sinal eficaz: a bandeira é a bandeira e o Brasil é o
Brasil! Ela é um sinal meramente convencional, exterior. Já com
os sacramentos a coisa é diversa: a Eucaristia, por exemplo:
aquele pão representa Cristo, é sinal de Cristo... mas, não é
somente um sinal... é, realmente, Cristo presente no seu Corpo
ressuscitado! Então, o sacramento sinaliza e faz acontecer o que
foi sinalizado! “Re-presenta”, ou seja, torna realmente presente!
É esta a primeira idéia que devemos ter quando falamos em
sacramentos.

Como foi dito acima, o Sacramento primordial é Cristo Jesus: ele


é o Sacramento do Pai: “Ele é a imagem do Deus invisível” (Cl
1,15), ele é a presença real, eficaz, verdadeira do Pai entre
nós: “Quem me vê, vê o Pai; eu estou no Pai e o Pai está em
mim” (cf. Jo 14,9,10). Nas palavras de Jesus é o Pai quem nos
fala, nos seus gestos é o Pai quem nos estende a mão, no seu
carinho para com os pobres, os fracos, os pecadores, é o Pai
quem manifesta a sua ternura... em toda a sua vida entre nós é o
Pai quem nos reconcilia consigo. Muitíssimas vezes a Escritura
afirma isso: “No princípio era o Verbo e o Verbo era Deus... e o
Verbo se fez carne e habitou entre nós e nós vimos a sua glória.
A graça e a verdade nos vieram por Jesus Cristo. Ninguém jamais
viu a Deus: o Filho único, que está voltado para o seio do Pai,
este o deu a conhecer” (Jo 1,1.14.17-18). Jesus é Deus como o
Pai; nele, Filho amado, é a própria vida, a própria presença do Pai
que nos é dada; por isso o Evangelista diz: a graça e a verdade do
Pai nos vieram por Jesus Cristo!

Outro exemplo desta realidade maravilhosa está na exclamação


do próprio povo diante das ações de Jesus: “Um grande profeta
surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo” (Lc 7,16). Quando
Jesus curou o endemoninhado de Gerasa, dá a seguinte ordem
ao homem curado: “Vai para tua casa e para os teus e anuncia-
lhes o que fez por ti o Senhor na sua misericórdia” (Mc 5,19). Em
Jesus é o Senhor (o Pai) quem age! Por isso mesmo o próprio
Jesus, quando foi criticado porque acolhia os pecadores,
justificou sua atitude contando as três parábolas da misericórdia,
mostrando que ele era amigo dos pecadores porque seu Pai
também o era (cf. Lc 15). Tantas frases de Jesus mostram que ele
é esta presença de Deus: “O meu Pai trabalha sempre e eu
também trabalho” (Jo 5,17). “Eu falo o que vi de meu Pai” (Jo
8,38). “Eu estou no Pai e o Pai está em mim. As palavras que vos
digo, não as digo por mim mesmo, mas o Pai, que permanece em
mim realiza suas obras” (Jo 14,10-11).

Por tudo isso, Jesus Cristo é o sacramento do Pai: nele está a vida
que vem do Pai (cf. Jo 1,4). Entrar em contato com o Cristo
morto e ressuscitado é entrar em contato com a vida do próprio
Deus, a vida que o Pai derrama sobre seu Filho na potência do
Espírito Santo. Já vimos isso muitas vezes nos artigos passados: o
Filho Jesus morto e ressuscitado como homem, recebeu do Pai o
Espírito Santo, Espírito de vida, força e poder, e derramou sobre
nós: “Exaltado pela direita de Deus, ele (Jesus) recebeu do Pai o
Espírito Santo prometido e o derramou” (At 2,33). Então, o
caminho pelo qual a humanidade pode caminhar para realmente
encontrar Deus é Jesus, sacramento (sinal eficaz, verdadeiro,
potente, ativo) da presença divina entre nós. É por tudo isso que
dissemos que Jesus é o Sacramente primordial de Deus! Não
adianta pedir como Filipe: “Mostra-nos o Pai e isto nos
basta!” (Jo 14,8). A resposta será sempre a mesma: “Quem me
vê, vê o Pai. Eu estou no Pai e o Pai está em mim. Eu e o Pai
somos um!” (Jo 14,9-11).

No próximo artigo continuaremos, desenvolvendo este tema!


Somente assim você poderá compreender bem o significado e a
importância dos sete sacramentos! Até lá!

A Igreja o Sacramento de Cristo


March 13, 2017

Dom Henrique Soares

Vimos no artigo passado o que significa um sacramento: um sinal


eficaz; sinal que torna presente a graça, a glória, a vida de Deus.
Vimos, então, que o Cristo Jesus é o Sacramento de Deus: nele
Deus fez-se presença pessoal no nosso meio. Assim, Cristo é o
Sacramento primordial de Deus; ele que é verdadeiro Deus e
verdadeiro homem.

Demos agora um passo adiante. O Filho de Deus feito homem,


Jesus, presença viva e pessoal de Deus entre nós para nos salvar,
viveu num tempo e num espaço: viveu há dois mil anos na Terra
Santa. Ele entrou uma só vez na nossa história, no nosso mundo,
no nosso tempo. Mas ele veio para todos, em todos os tempos;
ele deseja tornar-se presente a todo instante e estar bem perto
de todos os corações: seu desejo é entrar em contato conosco e
que nós entremos em contato com ele, com sua palavra santa e
com sua vida divina. Por isso ele fundou a Igreja! Ela é
sacramento (sinal eficaz, real) de presença de Cristo no mundo;
ela é Cristo continuado, corpo de Cristo crucificado e vivificado
pelo Espírito na Ressurreição! No Concílio Vaticano II os Bispos
do mundo inteiro, sucessores legítimos dos Apóstolos,
ensinaram: “A Igreja é, unida a Cristo, como que um sacramento,
isto é, um sinal e instrumento da íntima união com Deus e de
todo o gênero humano” (Lumen Gentium 1).
Isso quer dizer que a Igreja vive de Cristo. Na sua Ressurreição,
ele derramou sobre sua Igreja o seu Espírito Santo – o mesmo
Espírito com o qual o Pai o ressuscitou dos mortos. Assim, a
Igreja vive do Espírito de Cristo e no Espírito de Cristo... como o
corpo, que vive da vida da cabeça, como os ramos que vivem da
seiva do tronco: “Ele é a Cabeça da Igreja, que é seu corpo” (Cl
1,18). “(O Pai) o pôs acima de tudo, como cabeça da Igreja, que é
seu corpo” (Ef 1,22). “Eu sou a verdadeira videira e meu Pai é o
agricultor. Eu sou a videira e vós sois os ramos. Aquele que
permanece em mim e eu nele produz muito fruto porque sem
mim nada podeis fazer” (Jo 15,1.5). Estes textos são importantes
porque nos mostram que há uma união real, concreta,
verdadeira, entre Cristo e a comunidade de seus discípulos, que
é a Igreja. Ele realmente está presente na sua Igreja, vivificando-
a, sustentando-a, agindo nela! A Igreja está ligada ao seu Senhor
Jesus como o corpo está ligado à cabeça, como os ramos estão
enxertados à videira. E o Espírito de Cristo ressuscitado, o
Espírito Santo é a seiva, é a vida que vivifica, dirige e faz crescer
este corpo, estes ramos! É assim que Cristo permanece vivo na
Igreja, atuando nela na potência do Espírito: fala, age, santifica,
ensina, exorta, salva pela Igreja! A Igreja é, portanto, um
verdadeiro sacramento de Cristo, uma sinal real da sua presença!
Ela, Igreja, não existe para si mesma, mas para anunciar Jesus,
para provocar o encontro entre Jesus Salvador e a humanidade
necessitada da salvação! Ela, a Igreja, não tem nenhuma salvação
para dar à humanidade a não ser Jesus Cristo: é ele quem a
santifica e a torna instrumento de salvação. Santo Ambrósio,
grande bispo de Milão e Doutor da Igreja, dizia, no século IV: “A
Igreja é a verdadeira lua. Da luz imorredoura do sol, ela recebe o
brilho da imortalidade e da graça. De fato, a Igreja não reluz com
luz dela mesma, mas com a luz de Cristo. Ela busca seu esplendor
no sol da justiça, que é Cristo, para depois dizer: Eu vivo, mas
não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim!” A Igreja é,
portanto, o “ambiente”, o “clima”, o “espaço”, a “atmosfera” do
nosso encontro com o Deus vivo, presente em Jesus Cristo. Ela é
o sinal privilegiado através do qual Deus demonstra suas
atenções para conosco e sua fidelidade a toda humanidade.

Mas, como disseram os Bispo do Vaticano II, ela é também


sacramento da íntima união de todo o gênero humano. Isso
mesmo: reunidos pelo Pai através da Palavra do Senhor Jesus,
reunidos no Santo Espírito do Ressuscitado nós somos um novo
povo – o Povo de Deus da nova e eterna Aliança, o povo no qual
toda a humanidade é chamada a entrar para ser filha do mesmo
Pai, imagem do único Filho pela ação potente do único Espírito
que nos une num só Corpo de Cristo! Por isso, a Igreja é já
sacramento (sinal verdadeiro, eficaz) da união de toda a
humanidade com Deus e dos homens entre si, como deverá ser
um dia, na Glória do Pai.

Por tudo isso, um monge do século IV saudava assim a santa


Igreja: “Que jamais te eclipses na escuridão da lua nova, ó Lua
sempre irradiante! Ilumina-nos o caminho por entre a
impenetrável escuridão divina das Escrituras! Que jamais deixes,
ó esposa e companheira de viagem do Sol que é Cristo, o qual
como esposo da lua, te envolve em sua luz! Sim, que jamais
deixes de enviar-nos da parte dele, nosso Salvador, os teus raios
luminosos, a fim de que ele, por si mesmo e através de ti, santa
Igreja de Cristo, transmita às estrelas a sua luz, acendendo-as de
ti e por ti!”
Pois bem, depois de termos visto que Cristo é o sacramento do
Pai e que a Igreja é o sacramento de Cristo entre nós,
continuaremos no próximo artigo...

SACRAMENTOS

Sacramentos: quantos e por quê? - I

March 13, 2017

Dom Henrique Soares

Voltamos, com este artigo a falar sobre os sacramentos. Seria


bom que você relesse os outros três que já escrevi. As questões
que vamos responder neste artigo são: foi Cristo quem instituiu
os sacramentos? Como os instituiu? Como entender este
conjunto de sete gestos? Quem celebra os sacramentos? Com
que objetivo?

Quem instituiu os sacramentos e como os instituiu?

É convicção da Igreja que os sacramentos todos foram instituídos


por Cristo. Somente assim eles têm de fato um valor salvífico
verdadeiro. Corrigindo os erros de Lutero e Calvino, pais do
protestantismo, o Concílio de Trento ensinou de modo infalível,
com a autoridade que Cristo deu aos Apóstolos e seus legítimos
sucessores, os Bispos: “Se alguém afirmar que os sacramentos da
nova lei não foram todos instituídos por Jesus Cristo, nosso
Senhor... seja anátema (= seja separado da Igreja)”. Mas, onde,
na Bíblia aparece a instituição dos sete sacramentos, um por
um? Antes de responder esta questão é necessário compreender
o que o Concílio quis afirmar com a palavra “instituir”. Quando
estudamos as atas do Concílio de Trento, vemos explicado lá que
os Bispos participantes do Concílio afirmaram que Cristo
“instituiu” no sentido que é ele, Jesus Cristo, diretamente, quem
confere eficácia, poder, efeito ao rito celebrado. Em outras
palavras: a força do sacramento vem de Cristo e só dele, é
manifestação da sua obra de salvação. Os sacramentos não são,
como dizia erradamente Calvino, instituições da Igreja. Para
compreender isto é necessário reler o que escrevi sobre Jesus
Cristo, o Sacramento primordial e sobre a Igreja, sacramento de
Cristo! Jesus é a presença de salvação, visível e eficaz, de Deus
no nosso meio – por isso ele é o Sacramento do Pai; a Igreja, por
sua vez, é continuadora da presença de Cristo: o Senhor fez dela
sinal visível e eficaz de sua palavra e de sua ação – ela é
sacramento de Cristo! Então, ao instituir a Igreja o Senhor Jesus
tinha a intenção clara que ela fosse sacramento de sua presença
e que seus gestos e palavras fossem sinais eficazes de sua ação e
de sua presença. Neste sentido toda a Igreja é sacramental: Jesus
não quis apenas os sete sacramentos; quis muito mais: desejou a
própria estrutura sacramental da Igreja; quis que sua presença
graciosa e salvífica fosse vista, concreta, palpável nos ritos,
gestos, ação de serviço que a Igreja realiza entre os homens. É
isto que Trento quer ensinar: a estrutura sacramental da Igreja
não vem nem dos Apóstolos, nem da própria Igreja, mas do
próprio Cristo Jesus, Sacramento primordial! E isto é dogma de
fé!

Uma observação importante: o Concílio não quis entrar na


questão de como cada sacramento foi instituído por Jesus
durante sua vida terrena e muito menos se preocupou em catar
versículos da Escritura para provar, tintim por tintim a instituição
de cada sacramento. Esta tarefa a Igreja deixa para o estudo dos
exegetas e teólogos! Interessa à Igreja que, biblicamente, está
mais que dito que Cristo fez de sua Igreja sacramento de sua
presença, prolongamento de seus gestos e palavras salvíficos! No
entanto, isto não significa que não possamos ver no próprio
Novo Testamento o embrião da prática de cada um dos
sacramentos. Vejamos somente alguns exemplos – existem
outros:

- para o batismo: “Em verdade, em verdade te digo: quem não


nascer da água e do Espírito não pode entrar no Reino de
Deus” (Jo 3,5); “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se
tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo...” (Mt 28,19).

- para a eucaristia: “Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e


pronunciou a bênção. Depois, partiu o pão e o deu aos
discípulos, dizendo: ‘Tomai e comei, isto é o meu corpo’. Em
seguida, tomando um cálice, depois de dar graças, deu-lhes,
dizendo: ‘Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue
da Aliança, derramado por muitos, para o perdão dos
pecados’” (Mt 26,26ss; cf. Mc 14,22-24; Lc 22,19s; 1Cor 11,24s).

- para a penitência: “E eu te digo: Tu és Pedro e sobre esta pedra


construirei a minha Igreja e as portas do inferno nunca levarão
vantagem sobre ela. Eu te darei as chaves do reino dos céus, e
tudo que ligares na terra será ligado nos céus, e tudo que
desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16,18s); “Após
essas palavras, soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito
Santo. A quem perdoardes os pecados serão perdoados. A quem
não perdoardes os pecados não serão perdoados’” (Jo 20,22s).

- para a confirmação: “Quando os apóstolos, que estavam em


Jerusalém, ouviram que a Samaria recebera a palavra de Deus,
enviaram para lá Pedro e João. Estes, assim que chegaram,
fizeram uma oração pelos novos fiéis a fim de receberem o
Espírito Santo, visto que ainda não havia descido sobre nenhum
deles. Tinham sido somente batizados em nome do Senhor
Jesus” (At 8,14ss); “Ouvindo isso, foram batizados em nome do
Senhor Jesus. 6 Pela imposição das mãos, Paulo fez descer sobre
eles o Espírito Santo. Falavam em línguas e profetizavam” (At
19,5s).

- para a ordem: “E tomando um pão, deu graças, partiu-o e deu-


lhes dizendo: ‘Isto é o meu corpo, que é dado por vós. Fazei isto
em memória de mim’” (Lc 22,19); “Por este motivo eu te exorto
reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição
das minhas mãos” (2Tm 1,6).

- para o matrimônio: “Não lestes que no princípio o Criador os


fez homem e mulher e disse: Por isso o homem deixará o pai e a
mãe para unir-se à sua mulher, e os dois serão uma só carne?
Assim, já não são dois, mas uma só carne. Não separe, pois, o
homem o que Deus uniu” (Mt 19,4-9); “Sujeitai-vos uns aos
outros no temor de Cristo. Maridos, amai vossas esposas, como
Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la,
purificando-a pela água do batismo com a palavra, para
apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga,
sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e
irrepreensível. Assim os maridos devem amar suas mulheres,
como a seu próprio corpo. Quem ama sua mulher, ama a si
mesmo. Decerto, ninguém odeia sua própria carne mas a nutre e
trata como Cristo faz com sua Igreja, porque somos membros de
seu corpo. Por isso deixará o homem o pai e a mãe e se unirá à
sua mulher, e serão os dois uma só carne .Grande é este
mistério. Quero referir-me a Cristo e sua Igreja” (Ef 5, 21-32).

- para a unção dos enfermos: “Há algum enfermo? Mande,


então, chamar os presbíteros da Igreja, que façam oração sobre
ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé
salvará o enfermo e o Senhor o levantará e, se tiver cometido
pecado, será perdoado” (Tg 5,14s).

Vejam bem: estes textos não são provas do momento em que os


sacramentos foram instituídos! Eles simplesmente mostram
como o embrião de cada ação sacramental da Igreja estava
presente na ação de Cristo e dos Apóstolos por ele enviados!
Assim, todos e cada sacramento remota a Cristo, que fez de sua
Igreja sacramento de salvação!

Por agora, basta. No próximo artigo continuaremos: como a


Igreja chegou a compreender estes sete gestos sagrados como
sacramentos: por quê sete? e para quê?

Testemunhas de uma Presença de amor...

June 16, 2017


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Dom Henrique Soares

A Presença eucarística do Cristo Senhor! O modo de presença


por excelência, a presença pessoal-sacramental de Cristo nas
espécies da Eucaristia!
Naquele Pão que não mais é pão,
naquele Vinho que não mais é vinho,
é o próprio Senhor morto e ressuscitado, o Cordeiro de pé como
que imolado, descrito no Apocalipse, que Se faz presente na Sua
Igreja e para a Sua Igreja, em meio a nós, para a Vida do mundo.
Na Eucaristia, de modo particularíssimo – tão particular, que
dizemos "presença real" – Cristo cumpre continuamente Sua
última promessa: "Eu estarei convosco todos os dias até a
consumação dos séculos!"

Hoje, a Igreja celebra o mistério da Presença indo às ruas do


mundo inteiro em procissão.
Quando surgiu a Solenidade de Corpus Christi, no longínquo
século XIII, era fácil e óbvio, era apoteótico e triunfal ir às ruas
com o Cristo-Eucaristia. O mundo de então era cristão e a
presença do Senhor era palpável, perceptível, num mundo
teocêntrico, impregnado do divino, empapado do sagrado.
Naqueles tempos quase metade dos dias do ano era de feriados
religiosos. E ninguém estranhava, porque era viva a consciência
de que o tempo é de Deus e, por isso mesmo, é também tempo
do homem, tempo não só para o trabalho e a produção, para o
lucro e o enriquecimento, mas também para o louvor, o
descanso, a convivência com os familiares e irmãos de fé, e o
saudável ócio que faz com que não deixemos de ser humanos no
momento do "neg-ócio"...

Mas, os tempos mudaram! E como!


Hoje, mais que em qualquer outro tempo, é necessário que a
Igreja vá às ruas com o Pão eucarístico.
São ruas de um mundo sem Deus, mundo cansado, feio, sem
grandes perspectivas, mundo de ruas sem as marcas do Eterno;
ruas de um mundo no qual Deus é sentido como Ausência,
porque O estamos exilando do nosso coração, de nossas famílias,
de nossos negócios, de nossas relações, de nossas leis, de nossa
Pátria, de nossa sociedade, de nossos esquemas de moralidade...

Sair hoje me procissão, de modo solene e triunfal, com uma


ínfima partícula de pão não fermentado, fininho e delicado, pode
parecer algo sem sentido para o mundo, algo tolo, inútil, indigno
da razão ilustrada e imanentista dos tempos hodiernos.
E, no entanto, é precisamente desse testemunho que o mundo
mais precisa hoje: de que os cristãos digam que Deus não está
ausente, mas Ele mesmo é Presença, e presença encarnada na
matéria desse mundo, na carne da nossa vida.
Ele é Presença sim!
E não no que é grande, vistoso, midiático, mas no que é pequeno
e humilde, banal e ínfimo, como um pedacinho de pão e um
pouquinho de vinho.
Eis: a Eucaristia não somente testemunha a presença do Senhor,
mas também o modo como Ele quer ser reconhecido na Sua
presença: no que é simples, corriqueiro, pequeno... como os
sofrimentos, o pranto, os pequenos momentos de vida, da
família, do trabalho, do amor.
Ele quer ser reconhecido como presença no que sofre, no que
precisa de nós, nos que para o mundo não contam nada e não
valem nada...

Hoje, Corpus Christi, ou como se diz também no Brasil, Corpo de


Deus, lá vai a Igreja, louca de alegria, pasmo e fé, proclamando
essa Presença, que faz o mundo ter sentido, o homem não se
sentir sozinho e a vida encontrar um rumo, o rumo da
eternidade. "E quando amanhecer o Dia eterno, a eterna visão,
ressurgiremos por crer nesta Vida escondida no Pão!"

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