Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
AULA I
O ESPÍRITO SANTO
“Quando, porém vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da
verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim” (João 15.26). “Pois há três que dão
testemunho no céu: O Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um.” (1 João 5.7)
INTRODUÇÃO
Pneumatologia é o ramo da teologia que estuda o Espírito Santo. Cremos que o referencial
básico e indispensável para entendermos o Espírito Santo é Jesus Cristo. Aliás, a revelação inteira é
Cristocêntrica: O Pai, a Palavra, a redenção, a Igreja e a ascensão revelam-se-nos na encarnação,
ministério, sacrifício, ressurreição e reinado do Senhor Jesus.
Não se deve tratar o Espírito Santo como o terceiro Deus, à parte do Pai e do Filho, agindo
independentemente deles, quer em postulações doutrinárias dogmáticas, quer pragmaticamente pela
liturgia dos cultos comunitários. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são "UM".
Sem esta visão trinitária e a aceitação mental e prática da unicidade de Deus em três pessoas
não se compreenderá corretamente o ministério do Espírito Santo. A Trindade, porém, se nos aclara
na vida histórica do Emanuel, Jesus Cristo. Nele vemos o Pai; nele temos o Espírito. O Pai no-lo deu,
Ele nos dá o Espírito; nele estamos no Pai e no Espírito. O Espírito nos leva a Ele. Ele nos liga ao
Pai. Quem tem o Filho, tem o Pai e tem o Espírito. Dizer que Cristo vive em nós é a mesma coisa
que afirmar: "Somos o templo do Espírito Santo", pois o Espírito não ocupa um lugar que não seja o
de Jesus Cristo; sua autonomia divina é trinitária tanto quanto a de Jesus Cristo.
O "PNEUMA DE DEUS"
A palavra "espírito", em hebraico, é "ruach", traduzida para o grego por "pneuma". Significa
"vento", "hálito", "sopro". A ideia é mais de um "vento" direcionado, uma corrente identificável, que
"vento difuso", indeterminado, o ar como tal, a que se chamava de "anemos".
O oriental, mais que nós, conhece correntes de vento causadores de profundas modificações
climáticas como estiagens, calor e chuvas. O Siroco, por exemplo, soprando do Norte da África para
o Mediterrâneo, é insuportavelmente seco, quente e poeirento. Para nós, o pior é o Vento sul, frio e
úmido.
Assim, o vento causador de um efeito qualquer na ordem natural ou no comportamento do
homem era chamado de "pneuma". Ação previsível, mas incontrolável do "pneuma", bem como sua
intangibilidade, constituíam-se insondáveis mistérios para o homem pré-científico.
No Velho Testamento, "Ruach" (ou "Pneuma") designava a invisível e intangível, mas
perceptível e sensível atuação de Deus. A palavra de YAHWEH criava; seu "Pneuma" vitalizava e
dinamizava. A Palavra e o "Pneuma" criador e vitalizante, saíam da boca de Deus. A vida do homem,
por exemplo, procedeu diretamente da boca de IAHWEH pelo poder de seu "Ruach", Espírito: "Então
formou o Senhor Deus (YAHWEH ELOHIM) o homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o
fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente (Nephesh-Haiach)", isto é, um ser produzido
diretamente pela vontade de Deus (façamos) e vitalizado pelo "Pneuma" de seus lábios.
A Palavra (Glossa) e o Espírito (Pneuma) de Deus agem associados e integradamente nas
Escrituras Sagradas. Assim, o Espírito toma (inspira) o profeta; este, em conseqüência e por causa
da instrumentalização do "Pneuma", fala a Palavra de Deus. Não é infreqüente, pois, que o Espírito e
a Palavra, um ou outro, individualmente, e ambos, às vezes, se tomem por "dynamis" (poder) ou
"sophia" (sabedoria).
2
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
No Novo Testamento, o que era apenas vislumbrado no Velho, pessoaliza-se. O Verbo
(Palavra) se encarna no Filho e o "Pneuma” se revela no Espírito, estabelecendo nitidamente a
triunidade do Deus de Israel e da Igreja. O Verbo e o Espírito, portanto, não se dissociam na nova
dispensação como não o faziam na Velha.
O Verbo concedido pelo Espírito; o Espírito é uma dádiva (carisma) do Verbo. Sem o Espírito
não teríamos o Verbo; sem o Verbo não receberíamos o Espírito; mas o Verbo não produz o Espírito,
nem o Espírito produz o Verbo. No Novo testamento se nos revela uma ordem trinito-unitária: O
Verbo é Ministro do Pai; o Espírito é Ministro do Verbo. A operosidade é tripessoal, mas
absolutamente unívoca; mais que consensual, uniconsensual. A obra de cada um é a obra do "UM",
Deus único.
AULA II
O ESPÍRITO SANTO E CRISTO
"Mas eu vos digo a verdade: Convém-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá
para vós outros; se, porém, eu for, vo-lo enviarei" (Jo 16.7).
3
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
Na lição anterior, aprendemos que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são "UM", isto é, UM SÓ
DEUS, mas em três pessoas distintas, com ministério nitidamente definidos, qualificados, porém,
interdependentes, porque a obra de cada um é a de UM Só.
No entanto, pela revelação, primeiro conhecemos o Pai, criando todas as coisas, presidindo o
universo, comandando a história, elegendo Israel como seu povo particular. Depois se nos apresenta
pelo insondável mistério da encarnação, Senhor Jesus Cristo, que propõe, executa e consuma a
redenção da Igreja pelos inexplicáveis caminhos do sacrifício vicário.
Finalmente, e em decorrência do advento, morte e ressurreição de Cristo, se nos revela o
Espírito Santo. Assim, conhecemos o Pai de maneira muito clara na pessoa do Filho, conhecemos o
Filho, embora não o vemos com os olhos físicos, pela iluminação do Espírito, de tal modo que Cristo
continua encarnado objetiva e realmente na vida da Igreja, pois somos o templo do Espírito Santo
porque somos o corpo de Cristo e este é "UM" com o Pai.
Sem Cristo não temos o Pai e não recebemos o Espírito, Alguns, inadvertidamente, invertem
a ordem divina, afirmando: quem não tem o Espírito Santo não tem Cristo. É o contrário! Quem não
tem Cristo, não tem o Espírito Santo.
4
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
sem qualquer pedido ou esforço místico penitencial de quem quer que seja (At 2.16-21 cf. Joel 2.28-
32).
Alguns teólogos entendem que a profecia: "Sobre toda carne", cumpriu-se na pessoa
representativa de Jesus Cristo. O segundo Adão em quem se originou a nova humanidade e em
quem todos os redimidos se representam. Os que são nascidos em Jesus Cristo, o são da água e do
Espírito; o "Ruach" de Cristo faz cristão um "ser vivente" (Néphesh Haiach) como o do Pai vitalizou o
primeiro ser humano e o dotou de eternidade. Em Cristo, contudo, a eternidade e a salvação se
consubstanciam na vida eterna.
AULA III
O ESPÍRITO SANTO E A IGREJA
"Quero apenas saber isto de vós: Recebestes o Espírito Santo pelas obras da lei ou pela
pregação da fé? Sois assim insensatos que, tenho começado no Espírito, estejais agora vos
aperfeiçoando na carne? Terá sido em vão que tantas coisas sofrestes? Se na verdade foram em
vão. Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, por ventura o faz pelas
obras da lei ou pela pregação da fé?" (Gl 3.2-5).
5
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
Espírito. Não há crente sem Cristo; não há Cristo sem Deus; não há Deus sem Espírito. Somos
salvos por Cristo e mantidos nele pelo penhor do Espírito.
Ser membros do Corpo de Cristo, a Igreja, é estar no Espírito, ser batizado por ele, o Ministro
do "Filho do Homem", mantenedor da unidade eclesial e sustentador do pacto da graça na Koinonya
dos servos e no coração de cada um.
O SACRAMENTO DA ORDEM
"Na ordenação sacerdotal, o bispo impõe em silêncio as mãos sobre a cabeça de cada
diácono, e invoca sobre ele o Espírito Santo; também os sacerdotes presentes lhes impõem as
mãos. Em seguida, o bispo reza o prefácio da ordenação.
Como sinal da dignidade sacerdotal, o bispo lhes impõe então a estola cruzada sobre o peito
e os reveste de casula. Unge lhes, em seguida, as mãos com o santo óleo, e lhes entrega a patena
com a hóstia, e o cálice com vinho e água, indicando que agora eles podem celebrar a santa Missa.
Em seguida, o bispo celebra a santa Missa juntamente com os recém-ordenados. No fim, impõe mais
uma vez as mãos sobre a cabeça de cada um, dizendo: "Recebei o Espírito Santo; a quem
perdoares os pecados, são-lhe perdoados, e a quem os retiveres, são-lhe retidos" (Cat. citado p. 182,
in fine). Assim, o Espírito Santo passa do bispo para o sacerdote.
O SACRAMENTO DA CRISMA
"O bispo sobe os degraus do altar e volta-se para os crismados. Estes ficam de joelhos; o
bispo estende as mãos sobre todos eles, e invoca sobre eles o Espírito Santo com seus sete dons: O
Espírito da sabedoria e do intelecto, do conselho e da fortaleza, da ciência, da piedade, e do temor
de Deus" (Cat. citado, p. 142, in fine). Desta maneira, o leigo adquire o Espírito Santo procedente do
bispo, "lídimo" representante de Cristo na terra. O Espírito, no entanto, permanecerá no leigo
enquanto durar seu vínculo com a Igreja através dos sacerdotes ordenados e tonsurados.
A pneumatologia romana postula: "O Espírito Santo é a alma da Igreja". Mas o que é a Igreja?
Fundamentalmente, o clero sacramentalista: o peito, o coração, a cabeça, o "S" da instituição
eclesial. Uma igreja clerocêntrica. O clero, sustentam, recebe o Espírito de Cristo; o leigo o recebe do
clero. Na soteriologia católica o sacerdote é mediador. Sem ele Deus não se revela ao povo; este
não chega a Cristo, não se agracia com a salvação.
O PRESBITERIANISMO E O ESPÍRITO
A Igreja Presbiteriana crê e ensina, com outras coirmãs do evangelismo histórico, que a Igreja
é o corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. O crente, por estar inserido na Igreja, ligado a Cristo,
torna-se templo do Espírito por ser "um" a compor o plural unitário "vós" da unidade total dos
membros do corpo de Cristo: "O Espírito de Deus habita em vós" (Ver: Rm 8.9; cf 8.11; 1 co 3.16; 11
co 6.16; Ef 3.17; 11 Tm 1.14). Leia com atenção os textos indicados e verá que a Trindade habita a
Igreja ora na pessoa do Pai, ora na do Filho, ora na do Espírito Santo. O Espírito Santo é o Espírito
do Pai e do Filho, a Trindade operadora da graça, una, consensual, consubstancial, soberana,
onipotente, onisciente. Os atos distintos de cada pessoa da Trindade são atos do Deus único.
Portanto, o Espírito não se dissocia do contexto trinitário, não atua e jamais se julgará à instituição
eclesial, ao clero; nunca se moverá ou se determinará por invocações piedosas, místicas, sacrifícios
devocionais e orações poderosas. A palavra do Espírito é a de Cristo. Seu templo é a Igreja de
Cristo. Seu ministério é realizar a obra do Salvador na unidade e santificação da Igreja, na aplicação
da mensagem do Evangelho do Filho de Deus ao coração, à mente e à vida dos pecadores eleitos.
Como não "buscamos" Cristo; também não "buscamos" o Espírito. Como não "convencemos"
Cristo, igualmente não "convencemos" o Espírito. Ele é quem nos, busca, dirige, coloca-nos em
Cristo e nos convence do pecado, da justiça e do Juízo pelo ensino da palavra de Deus.
Somos chamados, não chamadores; escolhidos, não escolhedores; controlados; não
controladores. Louvado seja Deus porque estamos no Espírito por estarmos em Cristo e sermos
dele.
AULA IV
O ESPÍRITO SANTO E AS ESCRITURAS
8
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
AULA V
O ESPÍRITO SANTO E O ESPÍRITO HUMANO
"O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus." (Rm 8.16)
9
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
Pelo poder ou debilidade da mente (nous) é capaz de curar-se de doença até
infectocontagiosa ou contrair enfermidades inexplicáveis. O seu cérebro é uma máquina prodigiosa,
capaz de transmitir mensagens a distâncias ilimitadas, e captar sinais emitidos por outros cérebros,
codificá-los e interpretá-los. Os fenômenos psíquicos e parapsíquicos são extraordinários e
extremamente complexos. O mais importante, no entanto, é a espiritualidade do homem. O Espírito
que Deus lhe deu, inserido em sua natureza e parte indissolúvel dela, capacita-o a dialogar com seu
Criador; habilita-o a receber o Espírito de Deus, a ter consciência de sua transcendência, de sua
dimensão eterna.
10
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
Agora podemos entender o que Jesus disse: "Deus é Espírito, e importa que seus adoradores
o adorem em espírito e em verdade". O espírito que procede de Deus impulsiona o cristão
regenerado para Deus. Ele sente uma atração irresistível, para o Senhor; seu desejo de viver com
Cristo, orar, cantar, adorar, estar na Casa de Deus, na companhia dos irmãos (SI 84). Sempre que a
oração for o resultado de relação com Deus, e não simples prece maquinal, é feita no Espírito,
espiritual, seja individual ou comunitária, pública e audível ou silenciosa e pessoal. Ela é o sinal
maior da comunhão com Deus, do espírito do homem com o Espírito do Criador.
Resumindo: A Bíblia vê o homem como um todo; um ser completo e responsável diante do
Criador, não simplesmente um corpo dirigido de fora para dentro por um "pneuma"; uma unidade
integrada e harmônica de corpo espírito (soma-pneuma). Esta unidade possibilita duplo
relacionamento: Com o mundo sensível e fenomênico, por um lado, e com o metafísico,
transcendente e espiritual, por outro. O material expressa o espiritual; o espiritual se concretiza e se
encarna no material. No ser equilibrado, o Senhor dos senhores é adorado em espírito e em verdade.
E o corpo única expressão do espírito humano na empírica e histórica, segundo os propósitos de
Deus, eternizar-se-á pelo milagre da ressurreição, quando se revestirá de imortalidade e de
incorruptibilidade.
AULA VI
MINISTÉRIOS DO ESPÍRITO SANTO
"Não sabeis que sois santuários de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se
alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é
sagrado" (I co 3.16, 17).
O texto acima diz com indiscutível clareza que a Igreja é o Templo do Espírito Santo. Mas o
que é Igreja? - É a comunhão fraternal dos eleitos reunidos em Cristo Jesus pelo Espírito Santo.
Quem, consciente ou inconscientemente, causa desarmonias, dissensão e cismas no corpo de
Cristo, o Senhor da Igreja destrui-lo-á espiritualmente, isto é, eliminá-lo-á, da herança dos salvos, da
proteção do Espírito. Cristo tabernacula conosco pelo Espírito Santo que, habitando na Igreja, exerce
ministérios específicos e próprios, alguns dos quais enumeraremos a seguir. Antes, porém,
necessário se faz distinguir os ministérios privativos do Espírito, aqueles que são intransferíveis,
dons do Espírito que são ministérios concedidos por ele, segundo seu querer, aos crentes.
DEUS CONOSCO
(Jo 14.16-18) Cristo nos garantiu que não ficaríamos órfãos; estaria conosco pelo Parácleto,
palavra que significa: advogado, defensor, amparador, ajudador, consolador, escudeiro. Ele está
conosco na reunião (Mt 18.20), no ministério da dispersão (Mt 28.10). Por isso, as orações geradas
pela Igreja e endereçadas a Deus são obras do Espírito Santo, o que fala, pela boca da Igreja, pelos
11
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
lábios de cada membro do altar da terra ao Santo dos Santos celestes (ver Rm 8.26,27; Gl 4.6; Rm
8.15; I Co 3.24; 4.13).
REGENERADOR
Assim como Cristo foi concebido pessoa humana pelo Espírito, o arrependido nasce de novo
para a vida eterna por meio dele (Jo 3.5,6). Não percamos de vista, no entanto que a regeneração é
conquista de Cristo na cruz e que o Espírito Santo é Cristo conosco: "...não por obras de justiça
praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo nosso
Salvador" (Tt 3.5,6), Cristo é a causa; o Espírito é o agente que operaciona a regeneração.
O MESTRE
Cristo é o autor da redenção e o sujeito, o alvo, de nossa fé. O Espírito é o Mestre que
comunica aos escolhidos reconciliados tudo que o Messias fez, ministrou, proclamou, ensinou. Ele é
o revelador de Cristo, de seus ofícios redentores, da sua palavra: "Mas o Consolador, o Espírito
Santo, que 0 Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de
tudo quanto vos tenho dito" (Jo 14.26; Ne 9.20; Lc 12.12; 1 co 2.13; 1 Jo 2.17).
O PENHOR DA SALVAÇÃO
Penhor é a garantia que se oferece, por antecipação, de que as partes contratantes cumprirão
os termos do contrato ou do pacto. Deus, o Senhor da aliança, é por si mesmo, garantia de
fidelidade. Não falhará. O homem, por outro lado, não pode prometer, pois suas condições são
precaríssimas em decorrência de sua falibilidade, mortalidade, pecaminosidade e depravação. Deus
então firmou com ele uma nova aliança no seu Filho Unigênito e lhe deu o penhor do Espírito Santo
que o mantém inabalável, pela fé, em seu Redentor: "Ora, foi o próprio Deus quem nos preparou
para isto, outorgando-nos o penhor do Espírito" (2 Co 5.5 cf 2 Co 1.22; Ef 1.13, 14). É este penhor
que nos dá a convicção inabalável de nossa filiação a Deus e nos comunica a certeza absoluta da
salvação, exatamente porque não vem de nós, procede de Deus pelos canais da graça mediante
12
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
Jesus Cristo (Rm 8.16; Gl 4.6; I Jo 3.24; 1 Jo 4.13; 1 Jo 5.6; Rm 8.14; Gl 5.18; Rm 8.9).
Cristo continua na Igreja, e nela, conosco na pessoa do Espírito Santo. Este, segundo as Escrituras,
garante ao povo de Deus a fé, a esperança e o amor e, acima de tudo, "sela-o" para o Rei dos reis e
lhe dá o "penhor", aqui e agora, na dura estrada do êxodo de escravos do Senhor, peregrinos e
forasteiros em terras estranhas e em meio a inimigos ferozes, de que a "promessa' se manterá e o
pacto não se quebrará. Nada pode separar-nos do amor de Cristo (Rm 8.31-39).
AULA VII
DONS DO ESPÍRITO SANTO
OS DONS GERAIS
Podemos dizer que nenhuma semelhança aparente ou qualquer identificação operacional
entre os olhos e as mãos. No entanto, há elementos indispensáveis na constituição de ambos e dos
demais órgãos: Músculo, sangue, água. No organismo eclesial há três virtudes comuns do todo e das
partes: A fé, a esperança e o amor. São dons vitais e essenciais do Espírito Santo, necessários à
permanência e propósitos do corpo de Cristo. Os dois primeiros pertencem à Igreja peregrina e a
sustentam. O último, transcendente e imanente, é a força causal do povo de Deus no presente e no
porvir. O amor jamais acaba, pois Deus é amor.
13
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
O DOM DA FÉ
Fé é um termo geral, teológico, com várias denotações e conotações: a) Fé intelectual,
simples assentimento mental, resultado de conclusão lógica ou processos comparativos sem
implicações e consequências comportamentais, morais e espirituais (Ler Atos 8.13; Tg 2.19). A
mente declara crença em Deus, mas a vida fica longe de tal confissão. Apesar da fé, apenas
informal, agem como ateus, como filhos do Diabo (Jo 8.44).
Fé mística, de cunho psicológico, mas de expressão religiosa. Consiste em irracional
confiança em forças ocultas, maléficas ou benéficas, contidas, panteisticamente, em seres concretos,
fictícios ou mitológicos. Este tipo de fé, vulgarizadíssimo, causa "prodígios" e "milagres" e permite o
surgimento de magos, adivinhos, bruxos e feiticeiros. A fé mística não gera o servo, mas o
"mendigo", o idólatra.
Fé carismática, um dom do Espírito (I Co 12.9). Sobre esta falaremos, quando tratarmos dos
dons do Espírito.
Fé confessional, aceitação de um sistema doutrinário autoritativo, bíblico ou não. No Novo
Testamento, detectamos semelhante fé: 1 Tm 5.8; Ap 2.13; Gl 2.23; Rm 10.8. Neste sentido,
podemos dizer: Fé judaica, fé cristã, fé presbiteriana, fé reformada.
Fé salvadora, dom de Deus, obra do Espírito Santo na alma e na vida dos redimidos. Jesus
Cristo é o seu autor e consumador (Rm 12.13; Ef2.8; 6.23; FP 1.29; At 11.21; 1 co 2.5; Hb 12.2). O
Espírito Santo outorga a fé; por ela o salvo agrada a Deus e é justificado (Hb 11.6; Rm 4.16). Pela fé
a Igreja emergiu do "vale de ossos secos", permanece firme e fiel, vence o mundo, resiste o Diabo
(Gl 2.20; Rm 1 1.20; 4.12; 11 Co 1.24; 1 Jo 5.4,5; 1 Pe 5.9; Ef 6.16)
A fé nos conduz a Cristo, cria a esperança, possibilita o amor. Sem fé não se ama Jesus
Cristo. É o dom fundamental da Igreja militante, sofredora, expectante.
DOM DA ESPERANÇA
A esperança, dom do Espírito, difere em substância, natureza e essência da "esperança
psicológica." Aquela se fundamenta na promessa, na graça; está se infere de evidências sociais,
políticas, econômicas e culturais, e depende do poder e das potencialidades humanas. A esperança
cristã não é um simples consolo, uma vaga expectativa de melhora, de bênção; é convicção sólida,
inabalável, da glorificação eterna em Cristo Jesus. Isto porque o salvo possui, aqui e agora", o
"penhor” (arrabón) do Espírito Santo (II Co 1.22; 5.5; Ef 1.14). "Arrabón" significava, nos tempos
neotestamentários, a "primeira prestação” o "sinal inicial", "um compromisso de compra", um
"empenho de palavra". O "arrabón" dava ao promitente comprador o direito antecipado de posse ou
garantia de posse, concluído o pagamento. O regenerado recebeu, no ato de conversão, o "penhor"
(arrabón) da vida eterna. Sua esperança, portanto, não é vã; baseia-se num dom divino, numa
dádiva de Deus por Cristo Jesus, o infalível e onipotente Salvador. Aquinhoados com o "arrabón", o
escolhido foi "selado" como propriedade exclusiva do Rei dos reis (Ef 1.13; II Tm 2.19; Ef 4.30; Ap
10.4; 1 Co 2.9). Sem esperança, a peregrina militância cristã seria insuportável. Ela é a
consequência do consolo do Espírito na existência de cada filho do reino. A estrada espinhosa
conduz a um alvo florido. A glória, a bênção, a paz nos aguardam do outro lado.
O DOM DO AMOR
O dom do amor é de duração eterna. Pela misericórdia de Deus, todos os princípios externos
e estereótipos do legalismo mosaico foram substituídos pelo inefável dom do amor (Mt 22.37-40). O
Espírito Santo capacita a Igreja e cada um de seus santos para o cumprimento da lei de Deus
sintetizada na lei do amor escrita no coração dos fiéis. Nossa comunhão com o Pai celeste e nossa
relação com o se estabelecem pelos vínculos do amor (agape). A essência da fé cristã, não há
dúvida, é o amor, o dom dos dons espirituais, exercidos nos céus e operante na terra, carisma
supremo da comunidade dos eleitos (Ef 6.4; I Pe 1.8; Jo 21.15,16; 13.34; 15.12,17; 1 Pe 1.22; 1 Jo
3.11,23; 4.7).
14
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
O amor é o componente fundamental da natureza de Deus (I Jo 4.7,8; II Co 13.11), a força
normativa, unificadora, fraternizadora e santificadora da Igreja (I Co 16.14; Cl 1.4; 1 Ts 1.3; 3.6; 11 Ts
1.3; Ef 5,2; 4.16; Ap 2.19). O companheirismo cristão só é possível pelo dom do amor (Fp 2.2; Cl
2.2). A santificação dos redimidos é o resultado da prática do amor (Rm 13.10; Cl 3.14; I Tm 1.5;
6.11; 1 Jo 4.12).
Uma Igreja onde haja, ciúmes, orgulho, vaidade, discriminações, intolerância, incompreensão,
amargura, desamor, ódio, vindita, não é, e não pode ser, o corpo de Cristo, não está no Senhor
Jesus, não é templo do Espírito. Sem amor o perdão de Deus não chegaria a mim; o meu perdão
não chegará ao meu irmão. Ele é o dom que nos liga ao Pai e nos confraterniza com o próximo; e
isto pelo ministério do Espírito, o Parácleto, que habita e está nós.
RELAÇÕES DE DONS
Na literatura paulina encontramos os dons relacionados, ligados a três comunidades
primitivas, todas gentílicas, de povos e culturas diferentes: Corinto (grega); Éfeso (asiática); Roma
(romana). Na primeira Carta do Apóstolo aos Coríntios há duas relações, uma inteiramente
carismática (I Co 12.7-11), e outra mista, contendo dons carismáticos e dons funcionais ou de ofício
(I Co 12.28-30). Em Efésios 4.11-12 e Romanos 12.6-8 os dons são exclusivamente de funções.
Comparem-nos:
I Co 12.28-30: Apóstolos, profetas, mestres. Estes são os principais por ordem de colocação.
Depois: Milagres, cura, socorro, governo, línguas (variedades).
Efésios 4.11: Apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, mestres.
Romanos 12.6-8: Profecia, inistério, ensino, presidência, beneficência. Todos dons de
ministérios funcionais ou de ofício.
I Co 12.8-10: Sabedoria, conhecimento, fé, cura, milagres, profecia, discernimento de
espíritos, variedades de línguas, capacidades para interpretar línguas.
Observem que, além dos dons essenciais presentes no contexto geral do Novo Testamento e
explícitos em I Co 13.13, somente dois dons são comuns nas três listas mencionadas: Profecia e
ensino I Co 12.28 (mestres); Ef 4.11 (mestres): Rm 12.6, 7 (ensino). Estes dons são indispensáveis à
Igreja, fazem-se presentes em todas as comunidades, embora não sejam dados a todos os
indivíduos. Recebem-nos os vocacionados ao ministério da pregação (Kerygma) e ao do ensino
(didachê). Denominemo-los dons funcionais da expansão e consolidação da Igreja universal, os
maiores carismas individualizados do reino de Cristo, além de universais, presentes nos três povos
dominantes: Romanos, asiáticos e gregos, além dos dons gerais já mencionados. O profeta
(mensageiro, pregador) dilata a tenda do Israel cristão; o mestre firma-lhe as estacas apostólicas
sobre o fundamento, Cristo Jesus. O profeta é o pedagogo da catequese; o mestre é o rabi das
novas sinagogas, as unidades celulares da Igreja universal. São servos carismáticos, não extáticos,
chamados, ungidos e ordenados para o ministério da palavra na proclamação e no ensino (Mt
15
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
28.19,20). O profeta e o mestre nascem do batismo do Espírito Santo pelo qual se habilitam e se
tornam poderosos ministros (At 1.4,5 cf 1.8; 24.49).
O DOM DA FÉ
"A outro, no mesmo Espírito, fé* (I co 12.9a).
16
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
A fé, dom carismático, um dos equipamentos da Igreja na pessoa de alguns membros, não
pode ser confundida com a fé salvadora, uma dádiva da graça a todos os eleitos no corpo de Cristo
pela qual são salvos e justificados. Esta não tem gradação, é igual e única para a totalidade dos
escolhidos. Não há salvação por medida.
A fé carismática, porém, segundo os propósitos do Espírito, pode ser pequena ou grande,
fraca ou forte, passível de crescimento ou decréscimo, A missão dos irmãos fortes, sem qualquer
privilégio é ajudar os fracos.
A fé carismática se expressa, mais em uns que em outros da comunidade, em linhas gerais,
pelas seguintes virtudes: Confiança Inabalável na Providência Divina (Mt 6.25-34). Há salvos com
pequena fé (6.30) que se angustiam diante das crises econômicas, ansiosamente preocupados com
as reservas para o futuro (Mt 6.31). Esses precisam ser ajudados e confortados, na irmandade, pelos
mais confiantes. Filhos existem, com iguais origens e direitos, que confiam mais no pai que outros.
FIRMEZA, PERSEVERANÇA
O dom da fé permite ao crente humilde indouto, permanecer inarredável na sã doutrina,
perseverar em Cristo Jesus, assimilar a mensagem sacrossanta do Evangelho redentor do Filho de
Deus, captar a voz do sumo Pastor de sua alma no meio da vozearia de inumeráveis e persistentes
falsos profetas, místicos heréticos e anticristos persuasivos. E a fé que possibilita a recepção não
racional das verdades reveladas, que abre os canais, mediante a graça, para que o Espírito Santo
testifique com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8.16), e nos leva a tomar atitudes, nem
sempre lógicas, movidos pela vontade de Deus como aconteceu com os patriarcas do Velho
Testamento, Abraão, Isaque e Jacó (Hb 11.8-22).
CERTEZA E ESPERANÇA
A fé carismática, embora pareça convicção intelectual e psicológica, é, na verdade, certeza e
esperança espirituais, posto que se firma em conhecimento revelado de fatos não visíveis, de
verdades não indutivas ou dedutivas (Hb 11.1-3).
PRODUZ AÇÃO
O homem de fé age, não conforme seus desejos, mas segundo as determinações de Deus.
Abraão fez isso (Gn 12.2-4). Noé construiu a Arca sob o escárnio e a zombaria do mundo descrente
(Leia Hb 11.7). A fé salvadora, inefável dom da graça, nos liga indissoluvelmente a Cristo; a fé
carismática nos impulsiona à ação missionária e à edificação dos irmãos como instrumento do poder
de Deus, inclusive para vencer as tentações, influências malignas em nós e na Igreja, e exorcizar
Satanás do meio onde penetramos como sal, fermento e luz. O Diabo pouco ou nada consegue por
meio de possessões de filhos das trevas; danos horríveis, contudo, tem ele causado nos arraias
cristãos por seus meios favoritos e eficazes: Mentira, falsidade, hipocrisia, desamor,
contendas, desconfianças, intolerâncias, concupiscências, avarezas, invejas.
"Sem fé é impossível agradar a Deus" (Hb 11.6), isto é, crer sem vacilar no Criador e se tornar servo
obediente do Salvador. Esta fé da esperança, da certeza e da ação remove montanhas.
17
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
O DOM DA PROFECIA
"Segui o amor, procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis" (I
Co 14.1).
O texto parece ensinar que os dons espirituais podem ser conquistados por esforços místicos
e beatíficos. O contexto, porém, desautoriza tal interpretação, pois a ação do Espírito Santo,
Segunda Pessoa da soberana Trindade, nos escritos sagra dos, é sempre absolutamente livre de
intervenções humanas na consecução de objetivos. Além do mais, a idéia no original não é a de
"procurar", mas a de exercitar com dedicação, amor e aplicação o recebido. O verbo traduzido pela
expressão. "procurai com zelo", na Almeida Revista Atualizada, é "zeloute", de "zêo" que significa
"estar quente", "ferver", "ser ardente Assim, a mim me parece, a melhor tradução da segunda oração
do período seria: "Sede espiritualmente fervorosos (zelosos)." O texto fica mais lógico, harmônico
com o antecedente: "Segui o amor", um dom Já recebido e que deve ser praticado, e com o
subsequente: "Mas principalmente que profetizeis outro "carisma", agora da Igreja total, sacerdotal, a
ser posto em execução. Por outro lado, a palavra "dons" não é citada no grego. A frase "dons
espirituais" é tradução de uma única palavra: "Pneumatiká", acusativo plural neutro de
"pneumatikós", espiritual, o que possui a nova natureza segundo a orientação do Espírito,
santificado, regenerado.
A predição de Joel, interpretado por Pedro no sermão pentecostal, revela, sem qualquer
possibilidade de equívoco, que o Espírito Santo foi derramado sobre toda carne, isto é, sobre a
totalidade dos membros da Igreja, o novo Israel gerado e mantido por Cristo Jesus, e a capacidade
profética seria um dom geral da liderança e dos liderados (Atos 2.17, 18). Desta maneira, o dom da
profecia iguala-se aos "charismata" fundamentais do corpo de Cristo: Fé, esperança e amor,
obrigatórios e comuns a todos. Devemos distinguir, como já fizemos com a fé, a profecia, dom de
todos, um carisma do corpo e dos membros, daquele dom concedido a homens especiais, que se
tornam arautos de Deus ou intérpretes de sua vontade para os fiéis e para o mundo. Neste caso, e
no conjunto hierárquico dos dons, ele (o dom da profecia) ocupa o segundo lugar, imediatamente
depois do "carisma apostólico": "A uns estabeleceu Deus na Igreja, primeiramente apóstolos, em
segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres dons de curar,
socorros, governos, variedades de língua" (I Co 12.28).
De um modo genérico, todos os crentes, membros efetivos do corpo de Cristo, são profetas,
recebem do Espírito Santo o dom de entender, por iluminação, a vontade de Deus expressa nas
Escrituras Sagradas, e todos, por inspiração, são capazes, em menor ou maior grau, de interpretar a
palavra de Deus na medida necessária à edificação e comunicá-la com poder salvador aos
não regenerados. São funções caracteristicamente proféticas. Ao profeta ordenado e consagrado
compete a doutrinação dos eleitos. Aos profetas carismáticos o Senhor entrega o ministério profético
da evangelização dos povos. Assim, o pastor é um profeta para a Igreja, especialmente; o crente é
um profeta para o mundo, necessariamente. O pastor na massa dos crentes; os crentes na massa da
sociedade.
Premonição, virtude parapsíquica, não se confunde com profecia, dom do Espírito. Uma é
adivinhação, outra é pregação da palavra de Deus conforme as Escrituras Sagradas.
19
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
SUPERIORIDADE DA PROFECIA
O profeta não é um adivinho (mantis) mas um anunciador da Palavra de Deus. Como a
revelação, procedendo do Eterno não se cronometra, não se limita às dimensões temporais de
pretérito, presente e futuro, a mensagem profética pode conter, não essencialmente, premonições e
profecias. Deus, por diversos meios, segundo seu querer, coloca sua palavra na mente, na
consciência, no coração e na boca do profeta. Enquanto a vontade do Salvador não se completou na
encarnação do Verbo, o revelador final do Pai, e não se fixou nas Escrituras Sagradas, as revelações
eram diretas, antecipadas pelo Espírito Santo. Hoje se consuma em Cristo interpretado pelo
Parácleto, consubstanciado no Novo Testamento. A revelação, portanto, necessária à da Igreja e à
salvação dos povos, contém-se, Inteira e suficientemente, nos escritos bíblicos. O papel do profeta
cristão é, iluminado e inspirado pelo Espírito Santo, aprender as verdades escrituristicas e comunicá-
las à cominidade eclesial para que seja por esta incorporada, vivenciada e transmitida aos
renerados.
Paulo, em todo capítulo quatorze da Primeira Carta aos Coríntios, procura mostrar a
superioridade da profecia sobre a glossolalia. A Igreja se nutre da profecia. A Bíblia é seu resultado,
seu registro e fonte. Não há nela um único versículo glossolático. As línguas extáticas, portanto, em
nada contribuíram para a formação do cânon bíblico, conjunto revelacional do Velho e Novo
Testamentos, nossa exclusiva regra de fé e norma de conduta. O recurso, pois, que Deus usou para
revelar-se à Israel e à Igreja, e por eles, ao mundo, foi, indubitavelmente, a profecia. A língua
ininteligível, conclui Paulo, embora seja uma forma de comunicação pessoal e particular com Deus,
oculta o mistério, mantém ignota a vontade do Redentor. A profecia, pelo contrário, abre a cortina do
Santo dos Santos para deixar à vista e à disposição dos seres humanos os segredos eternos,
insondáveis, incomensuráveis e indescritíveis dos reveladores propósitos divinos. Profecia é
revelação; língua estranha é ocultamento (I Co 14.2,3,6). Nem todos na Igreja são profetas oficiais,
mas todos profetizam, isto é, comunicam aos pecadores o conteúdo da revelação contido na Bíblia e
encarnado na vida dos autênticos servos de Deus em Cristo Jesus, os santos da nova aliança.
A profecia é transparente e não aberra dos princípios racionais. Pode, portanto, ser julgada (I
Co 14.29). As faculdades da mente do profeta, segundo Paulo, não são bloqueadas e nem anuladas.
Mantém-se o autocontrole enquanto parte de Deus, profetiza: "Os espíritos dos profetas estão
sujeitos aos próprios profetas (I Co 14.32), Deus não automatiza o homem para transformá-lo em
profeta; usa-o como arauto, intérprete, porta-voz e embaixador em plena consciência de sua missão,
comunicação e atos.
O Espírito Santo aguça a inteligência, a percepção e a sensibilidade do profeta para que ele
veja, ouça, perceba e interprete o recado divino. Em suma, a mente de Deus coloca na mente do
profeta, num diálogo transcendental, espiritual profundo, mas racional do Senhor com o servo, o
oráculo revelacional. O profeta, homem de Deus, vê e entende o Criador. Nós ouvimos e
entendemos o profeta, quer o da profecia escrita nos testamentos bíblicos, quer o da interpretação
da palavra de Deus, os mensageiros eleitos, vocacionados, ordenados e consagrados para
edificação da Igreja hodierna. O profeta é um perspicaz cognoscitivo movido por Deus, não
simplesmente um extático fora de si. Na área da revelação, a profecia é dom supremo, o sinal da
ação do Espírito Santo em benefício da Igreja e da humanidade. O crente anda por profecias, não
por glossolalias. A Bíblia é um livro profético, não glossolálico. Sua linguagem é clara; sua
mensagem, inteligível. A língua e a linguagem são dons de Deus, instrumentos de comunicação
horizontal (do homem para o homem) e vertical (de Deus para o homem e do homem para Deus).
20
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
AULA I
O DOM DE LÍNGUAS
21
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
XENOGLOSSIA E GLOSSOLALIA
Xenoglossia é a capacidade psíquica de se falar línguas desconhecidas, estrangeiras.
Glossolalia é a faculdade de se pronunciar em linguagem ininteligível, em sons inarticulados,
desconexos. Tanto a xenoglossia como a glossolalia foram fenômenos conhecidos, praticados por
místicos pagãos, segundo o testemunho de Platão (429 – 347 a.C.) em suas obras, "Phaedrus" e
"Timaeus”, e de Virélio (70-19 a.C.) na "Eneida". As pitonisas de Delfos ficaram famosas como
xenoglossistas e glossolalistas, com destaque para a Sibelina.
Sobre a anterioridade de línguas extáticas citemos dois textos decisivos de B.P. Bittencourt,
em seu livro, Problemas de Uma Igreja Local, 1ª Ed., 1962 - páginas 119 e 120: "Plutarco conta que
o estilo mais velho dos oráculos dos pítios de Delfos eram versos, línguas, sentenças ambíguas e
dons obscuros. Notem essa semelhança entre essa informação de Plutarco e o que Paulo refere em
I Co. 14.9-11). Plutarco foi contemporâneo dos Apóstolos. Nasceu em Beócio, morreu em Delfos, no
ano 120. “Os papiros mágicos, especialmente os exemplares estudados por J. Weis e Deissman,
revelam através de seus registros, a existência antiga do fenômeno de línguas estranhas. Um
deles, o Código 2.316 de Paris, registra um hino de Moisés que começa assim: Belo, thabôr akanthá
namelá lambalá arimissaf bassasmá etc. (grego transliterado). Os acentos do português nas últimas
cinco palavras representam os do grego a fim de darem uma idéia mais precisa de manifestação
extática através da rima. No chamado Papiro de Leiden, em que Hermes é invocado, aparece algo
muito semelhante ao que modernamente se pode ouvir nalgumas congregações. Repare-se, pelo
menos, o final desta frase grega no referido papiro: "Hê docsa aaa êêê ôôô".
Corinto era uma cidade helênica cosmopolita capital da Acaia, situada junto ao porto
internacional de Lechaeum. O Deus nacional era Poseidon, mas o culto mais popular era o de
Afrodite cujo templo se situava no topo do monte Acrocorinto com cerca de mil sacerdotisas,
prostitutas sagradas que, por meio do ato sexual, traziam a vida dos deuses ao mundo, segundo se
acreditava. O sensualismo, o sexualismo e o emocionismo permitiam, nos cultos afrodíticos
femininos, o afloramento de expressões extáticas incontroláveis.
Para evitar o paralelo com os rituais pagãos ou mesmo influências indesejáveis na liturgia
cristã provenientes das práticas do paganismo, Paulo, embora não negue a da xenoglossia e da
glossolalia, afirma que o crente se orienta por um único Espírito Santo: "E se alguém não tem o
Espírito de Cristo, esse tal não é dele. Rom 8.9b. "Sabeis que, outrora, quando gentios, deixáveis
conduzir-vos aos ídolos mudos, segundo éreis guiados” (I Co 12.2). No conjunto geral dos dons
carismáticos Paulo inclui o do discernimento de espíritos" (I Co 12. 10b). Isto porque, em estado de
êxtase, falando inconscientemente, poder-se-ia ser instrumento de outro espírito que não o Espírito
Santo. Este dom evitaria a penetração de agentes malignos sob a atraente indumentária dos
"prodígios" e de línguas extáticas.
O que acontecia nos tempos bíblicos repete-se hoje: Há glossolalia e xenoglossia numa área
considerável do cristianismo evangélico tanto quanto, e até mais e com maior espetacularidade, no
catolicismo carismático e nas várias correntes espíritas. No espiritismo popular a glossolalia ou
"línguas do além" é comuníssima, ficando a xenoglossia mais para o kardecismo e os ramos
teosóficos. Mais que nunca precisamos "discernir os espíritos" para não sermos enganados e nem
permitirmos que a Igreja o seja.
As pessoas cujo consciente sofre algum tipo de bloqueio aguçam o inconsciente e o liberam
para manifestações hiper-sensórias e paranormais. Os grandes hiperestésicos e metagnomos
estudados atestam a presente assertiva. As exceções confirmam a regra. A pitonisa de Delfos ilustra
bem o que se afirma. Oscar G. em seu livro, "A Face da Mente', Ed. Loyola, S.Paulo, 1983, 310
páginas 270/271 registra: "A Pitonisa de Delfos - O oráculo sem dúvida mais famoso foi o de Delfos,
cidade da Grécia. Era dedicado a Apolo, o deus da adivinhação. Na parte posterior do templo
encontrava-se a boca dum abismo da qual subia na primavera uma corrente de ar gelado e
narcotizante; sobre o abismo, na estreita abertura, estava instalada uma trípode de ferro com um
assento. Nele sentava-se a sacerdotisa a quem chamavam Pítia. Do nome pítia proveio o nome
pitonisa que depois se generalizou para designar toda classe de adivinhos. A Pítia era
cuidadosamente escolhida. No princípio só havia uma, mas quando as consultas aumentaram
22
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
acrescentaram-se mais uma e até duas. Procuravam-se entre as famílias pobres e deviam ter vivido
em plena ignorância. Além disso se escolhiam entre as mulheres que sofriam doenças nervosas,
preferentemente histéricas ou neuróticas que, padecessem convulsões e proferissem gritos
incontrolados e incoerentes. A Pítia mascava folhas de loureiro e bebia a água gelada na fonte de
Castália que brotava ao pé do rochedo Nimpea, perto do templo. Coroada de louros era conduzida
ao templo e colocada na trípode sobre a abertura do abismo. Com a sua propensão doentia,
influenciada pelas emanações de gás fria e embriagado começava a agitar-se, revirava os olhos,
lançava olhares como possuída pelo pântano. Um forte tremor percorria-lhe todo o corpo lançava
gritos estridentes, perdia totalmente os sentidos. E, entre convulsões, proferia vozes ou sons
incoerentes, que interpreta dos pelos sacerdotes do templo ("profetas") constituíam os oráculos ou
vaticínios. Após ter pronunciado suficiente número de palavras ou proferido sons ininteligíveis, a Pítia
era retirada da trípode e conduzida a uma cela. Ficava recolhida para desintoxicar dos gases
narcotizantes. ”
Recomendamos a obra citada. O autor é autoridade em parapsicologia.
Para ser uma boa pítia e produzir glossolalia convincente requeriam-se: Pobreza ou condições de
penúria, ignorância, personalidade psiconeurótica ou psicopática. A xenoglossia e a glossolalia
modernas, inter ou extra-eclesiásticas, de modo geral, produzem-se dentro do mesmo quadro
patológico. As pessoas indoutas, carentes e histéricas são extremamente propensas à
hiperestesia e à paranormalidade. Sobre uma pessoa adequada, agindo sob estimulantes ou
excitantes químicos ou religiosos (místicos), os fenômenos se produzem. No caso da Pítia de Delfos,
ambos os excitantes se utilizaram: Folha de loureiro mascada, gás inebriante e ambiência mística. O
torpor e o êxtase frequentemente se confundem pela similaridade dos efeitos.
A glossolalia de todos os tempos, fundamentalmente, possui o mesmo transfundo psíquico.
Estudando o passado, entendemos o presente, pois aquele se repete neste. A predominância dos
glossolalistas modernos é de carismáticos ou sensitivos provenientes das classes de extrema
carência social, cultural, econômica, afetiva, e com problemas de histeria e de neurose velados ou
manifestos.
O homem é extremamente complexo, e com ele o Espírito Santo trabalha no contexto da
Igreja, usando-o como Deus o fez, com dons naturais, espirituais, sensoriais e extra-sensoriais. Fora
do corpo de Cristo, os fenômenos são os mesmos, mas os objetivos são carnais, idolátricos e
anticrísticos. Fanáticos e idólatras de um mundo anímico consultaram divindades pagãs por
glossolalia e xenoglossia e supuseram ouvi-Ias por tais meios, mas o cristão possui um Deus
encarnado, histórico, verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, que lhe fala na língua pátria
sem quaisquer intermediações estranhas às Escrituras Sagradas. A Bíblia é a nossa única regra de
fé e norma de comportamento. Por ela, e somente por ela, Deus fala ao seu povo, a Igreja de Jesus
Cristo.
O DOM DA INTERPRETAÇÃO
"A uma variedade de línguas; e a outro, Capacidade para interpretá-las" (I Co 12.10). "Pois quem fala
em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala
em mistérios" (I Co 14.2).
Em Corinto havia xenoglossia e glossolalia, isto é, fala extática em idiomas estrangeiros e
sons inarticulados ininteligíveis. Os textos citados introduzem a questão. A xenoglossia, fenômeno
possível hoje, mas raríssimo, diz Paulo que acontecia em cumprimento ao que se escrevera na lei:
"Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me
ouvirão, diz o Senhor" (I Co 14.21). Neste caso, conclui o apóstolo, a língua estrangeira é um sinal
para os incrédulos, não para os crentes (I Co 14.22).
Em outras palavras: O novo Israel é universal. A mensagem redentora comunicava-se a todas
as nações, a partir dos originais hebraico e aramaico, mas rejeitada pelos judeus, retoma aos
emitentes por lábios gentios em línguas e dialetos nativos. E isto seria um escândalo, pois os filhos
de Abraão não admitiam que YAHWEH falasse em línguas profanas, e ainda mais lhes pregasse por
23
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
"pecadores" e "injustos", termos com os quais estigmatizavam os estrangeiros. O culto, porém, na
dispensação da graça, não era privilégio dos israelitas, mas expressões ecumênicas da humanidade
ao Salvador universal. Os xenoglossistas foram os protótipos, os exemplares demonstrativos da
Igreja nascente, do que o cristianismo viria a ser: A fé sem fronteiras raciais, culturais e linguísticas,
com Deus falando na língua de cada povo, convertendo pecadores, regenerando vidas, santificando
almas. E tudo graças aos abnegados tradutores e santos intérpretes da parte do Verbo.
Deus, por sua sabedoria insondável e soberana, usando homens de poucos conhecimentos e
socialmente humildes, evangelizou o mundo em tempo recorde. A xenoglossia é uma antevisão e
uma antecipação desta história nos pentencostes de Jerusalém, de Éfeso, de Cesaréia, na Casa de
de Cornélio (Atos 2.4; 19.6; 10.44-46).
O intérprete da xenoglossia pode ser hiperestésico ou um estudioso aplicado dos originais,
habilitado a interpretá-los. O da glossolalia, teria de ser, obrigatoriamente, um telepata hiperestésico
para ler na mente ou no subconsciente do glossolálico a "mensagem" que a língua não articulou
compreensivamente. No entanto, o discípulo de Gamaliel parece insinuar que interpretação de língua
inarticulada é inteiramente desnecessária e impossível pelos seguintes motivos:
a) Não se destina a homens, mas a Deus (I Co 14.2a), e este não precisa de intérprete por
ser onisciente e porque a linguagem do Espírito é sua própria linguagem, pois Deus é triunitário. Os
homens também não precisam de intérprete, pois o oráculo glossolálico não se lhes concerne.
b) Ninguém entende (I Co 14.2b), e nem ao entendimento se dirige, pois se trata de
linguagem espiritual, entre o fiel e Deus na privacidade da oração íntima.
c) Fala mistérios. (I Co 14.2c) palavra "mistérios" (mystérion) significa "secreto", não revelado,
mantido em sigilo. O contexto mostra que se trata de indescritível relação do suplicante ou laudador
com seu Senhor por via espiritual, o diálogo extático.
d) A oração glossolálica se estabelece em nível da comunhão bilateral Deus-servo e visa à
edificação pessoal do crente (I co 14.4a).
e) A própria mente de quem ora glossolalicamente não capta a mensagem racionalmente; na
expressão de Paulo: "Fica infrutífera".
Resumindo, a oração em língua ininteligível por ser destinada exclusivamente a Deus e não
aos homens; ininteligível, portanto intraduzível ("ninguém entende"); fala de mistérios, coisas
inexprimíveis; edificação pessoal do privativo encontro "eu-tu"; incompreensível à própria pessoa que
fala (14.4), pelas razões aludidas, é ininterpretável, e intraduzível. O mesmo não acontece com a
xenoglossia.
24
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
b) Crianças em Cristo, membros imaturos da Igreja em processo de crescimento: Suas
criancices e infantilidades deviam ser toleradas por serem transitórias, próprias de fases pré-adultas:
"Como a crianças em Cristo. Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não
podíeis suportá-lo. Nem agora o podeis, porque ainda sois carnais" (I Co 3.1b-2). Paulo acredita no
crescimento espiritual dos crentes de Corinto quando deixassem as coisas de menino. Quando eu
era menino, falava corno menino, sentia como menino, pensava menino; quando cheguei a ser
homem desisti das coisas próprias de menino"(I Co 13.11). E mais, apela para o crescimento:
"Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens
amadurecidos" (I Co 14.20). O culto carismático, irracional, confuso, com orações pessoais,
individuais e simultâneas, glossolalia concomitante sem decência e ordem (I Co 14.40), realmente
são coisas de crianças em Cristo, lactantes da Igreja. Quem não precisa destas coisas para ser
verdadeiro servo do Senhor Jesus atingiu a maturidade espiritual, deixou a faixa etária do
cristianismo lúdico.
c) Igreja que tolerava imoralidade e até incestuosidade: "Geralmente se ouve que há entre vós
imoralidade, e imoralidade tal, como nem mesmo entre os gentios, isto é, haver quem se atreva a
possuir a mulher de seu próprio pai" (I Co 5.1).
d) Igreja de litigantes: "Aventura-se algum de vós, tendo questão contra outro, a submetê-lo a juízo
perante os injustos e não perante os santos?" (I Co. 6.1). "Para vergonha vo-lo digo: Não há,
porventura, nem ao menos um sábio entre vós, que possa julgar no meio da irmandade? (I Co 6.5).
e) Igreja de acepções injustas e profanações eucarísticas: "Porque, antes de tudo, estou
informado haver divisões entre vós, quando vos reunis na Igreja; e eu em parte o creio". "Porque ao
comerdes, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que
há também quem se embriague" (1 Co 12.18,22).
f) Igreja de grupos, não unidade cristocêntrica: Uns se diziam adeptos de Paulo; outros, de Apolo;
outros, de Cefas; outros, de Cristo (I Co 1.12). A igreja se quadripartia pelas teologias: gentílica,
grega (gnóstica-cristã), Judaico-cristã e exclusivismo messiânico. Na verdade, o quarto grupo não
professava a doutrina de: Somos exclusivamente de Cristo, mas: Cristo é exclusivamente nosso.
Paulo condena o culto antropocêntrico (I Co 3.4-9).
g) Igreja de ciúmes e contendas. I Co 3.3. Pergunto: Em que contribuiu a glossolalia para a
unidade, harmonia, fraternidade santificação da Igreja de Corinto?
A INTELIGIBILIDADE DE LÍNGUA
"Há sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo, nenhum deles, contudo, sem sentido” (I Co
14.10).
Falamos anteriormente que, em Corinto, havia xenoglossia e glossolalia; a primeira inteligível
e interpretável, e a segunda ininteligível e intraduzível racionalmente por se tratar de sons
desconexos, antifônicos, ilógcos, não se enquadrando, portanto, em nenhum sistema linguístico
conhecido. Não passa de "gemido inexprimível" da pessoal comunhão do crente com o seu Senhor.
A oração extática com sílabas interjectivas não duvidamos, pode conter uma conexão
comunicativa íntima e profundo do crente com seu Pai celeste; isto porém, na esfera da privacidade,
exatamente como recomenda Jesus Cristo (Mt 6.5-8). Sendo a glossolalia uma fala dirigida a Deus
nunca a homens (I Co. 14.2), não é e não deve na pública, comunitária, em que todos falam a Deus
pela mente, coração, alma e lábios de um só irmão. Paulo reconhece que a comunicação pode
realizar-se por sons harmônicos ou palavras articuladas, jamais por vozes sem sentido: "É assim que
instrumentos inanimados, como a flauta, ou a cítara, quando emitem sons, se não os derem bem
distintos, como se conhecerá o que se toca na flauta ou citara? Pois também se a trombeta der som
incerto, quem se prepara para a batalha? Assim vós, se com a língua não disserdes palavra
compreensível, como se entenderá o que dizeis? Por que estareis como se falásseis ao ar. Há sem
dúvida, muitos tipos de vozes no mundo, nenhum deles, contudo, sem sentido. Se eu, pois, ignorar a
significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiro para mim" (I Co 14.7-
25
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
11). Paulo não usa a palavra "alogenês", estrangeiro, povo que fala outro idioma, mas "bárbaro",
pessoa de fala defeituosa, incompreensível, inacabada, inarticulada, soando como "bebê”, uma
onomatopeia usada para denotar a linguagem primitiva de grupos não civilizados, os bárbaros. Não
foi à toa que Paulo chamou os irmãos de Corinto de "crianças em Cristo".
A expressão "sem sentido" do versículo 10 (dez) é tradução de "áphonon", mudo, não
expressivo. O glossolálico, no conceito Paulino, é o que retrocedeu, em termos de comunicação ao a
um estágio pré-lógico de linguagem bárbara em que as emoções superavam a razão; e um bárbaro é
como um mudo (áphonon) no meio dos civilizados. Por isso, o Mestre dos gentios deseja-lhes
progresso: "Procurai progredir para a edificação da Igreja" (I Co 14.2b). Aos romanos apela: "Rogo-
vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo,
santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Rm 12. 1). O culto racional não pode ser
prestado em linguagem bárbara, onomatopeica.
UM DOM RESTRITO
"E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios" (Mt 6.7).
A tese de que a glossolalia é o sinal inquestionável do "batismo com o "Espírito Santo" não se
sustenta pela teologia paulina da Primeira Carta aos Coríntios 12 e 14. O contrário é que se verifica.
O doutrinador de Tarso limita o referido dom a alguns da comunidade e lhe enumera as restrições:
Não é um dom geral como, por exemplo, o da esperança, da fé, e do amor, mas um carisma
particular: “A um variedade de línguas (genê glossôm - línguas estrangeiras); a outro, capacidade
para interpretá-las (I Co 12.10b). Aqui, nitidamente se alude a línguas de outros povos, embora
possam ser faladas extaticamente (xenoglossia). É um dom entre os dons, não o dom principal: "Que
fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo (canto, leitura devocional), outra doutrina,
esta revelação, aquele outro, língua, e ainda outro, intepretação. Seja tudo feito para edificação" (I
Co 14.26).
Nada de priorização. O glossolálico não era mais santo que os outros e nem gozava de
qualquer privilégio ou proeminência entre seus pares no culto comunitário. O dom de alguns não
pode ser sinal do "batismo" de todos no corpo de Cristo, é evidente. Inconcomitância glossolálica,
isto é, muitos falarem ao mesmo tempo, misturando as vozes em difusão confusa: "No caso de
alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, isto
sucessivamente, e haja quem interprete" (I Co 14.27), "porque Deus não é de confusão" (I Co
14.33b); "tudo, porém, seja feito com decência e ordem" (I Co 14.40). O culto desordenado em que
ninguém pode entender ninguém porque todos falam ao mesmo tempo, e até gritam, não pode ser
um culto ao Deus da ordem, da decência e da paz.
O glossolálico é submisso ao intérprete. Não se pode emitir sons ininteligíveis ou inarticulados
para a comunidade. Todas as partes do culto e todos os dons carismáticos visam à edificação da
Igreja e devem ser claramente compreensíveis e facilmente assimiláveis para receberem o "amém"
dos fiéis: "Mas, não havendo intérprete, fique calado na Igreja, falando consigo mesmo e com Deus
(1 Co 14.28). Há possibilidade de faltar intérprete. Faltando, cale-se o falador de línguas. Dom
inferior ao da profecia. Quem fala "em outras línguas" ou "em línguas", fala misticamente a si mesmo
em emoção devocional inexprimível, mas não ao seu consciente e, muito menos, à assembleia dos
salvos. O que profetiza, no entanto, prega à Igreja e ao mundo: "Pois quem profetiza é superior ao
que fala em outras línguas, salvo se as interpretar para que a Igreja receba edificação" (I Co 14.5b).
Ora, se Deus nos fala diretamente pelo profeta, e sempre agiu assim, porque ouvi-lo por meio
de intérpretes, indiretamente, portanto? Além do mais, o profeta fala aos homens, edificando,
exortando e consolando" (I Co 14.3). Há ainda um problema: A mensagem profética pode ser julgada
(I Co 14.29), a glossolálica não, porque o extático se julga instrumento passivo do Espírito, que é o
agente. Temos de acreditar no intérprete? E se ele não tiver o dom de discernir os espíritos (I Co 12.
10b)? É mais seguro ouvir Deus pelos profetas bíblicos que pelos intérpretes de mensagens
glossolálicas. Um dom egoísta. Um carisma que, em si mesmo, não edifica o não instrui os irmãos;
26
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
"Pois quem fala em outras línguas (lalôn-glossê), não fala a homens, senão a Deus, visto que
ninguém o entende, e em espírito fala mistérios” (I Co 14.2).
Paulo almeja que os crentes progridam no carisma, que edifiquem a Igreja, não em glossolalia
individualista: "Assim também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir para a
edificação da Igreja" (I Co 14.12). Escândalo para indoutos e incrédulos. Se a glossolalia fosse o
sinal da plenitude do Espírito Santo, como pretendem os carismáticos pneumáticos, somente os
crentes verdadeiros falariam em línguas, todas as suas orações seriam glossolálicas e por elas o
Espírito manifestaria Cristo aos ignorantes e aos incrédulos porque a missão do Parácleto é revelar a
graça redentora aos pequeninos.
E esta bênção Jesus agradeceu ao Pai, por ter dado uma salvação em Cristo acessível a
todos, não privilégo de intelectuais (Mt 11.25). Há, no entanto, crentes piedosos, que seguem o
amor, segundo o mandamento paulino (I co 14.1), e jamais oraram em línguas. Além do mais,
adverte o discípulo de Gamaliel, numa reunião de santos, se todos falarem em línguas, parecerão
aos indoutos e aos incrédulos que estão loucos (I Co 14.23). E os glossolálicos, conforme se nos
apresentam, são os salvos que, por meio de orações intensas e jejuns prolongados, eliminaram o
pecado, purificaram-se, santificaram-se e se puseram no "ponto" ideal de pureza para receberem o
"batismo com o Espírito autoridade apostólica, não se executa por recomendação de Cristo.
27
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
O único texto que coloca o "falar novas línguas" como sinal (semeion), não de "batismo
espiritual", "mas de poder", está no acréscimo do Evangelho de Marcos (Mc 16.17). Aqui, porém, há
de, entendo, ressaltar-se o seguinte: a) É sinal de crença, autoridade apostólica, não de "batismo
com o Espírito", b) Não é o primeiro da relação e nem o principal do conjunto, c) A prova da crença
não é a de manifestação de um mas de todos os sinais (semeia), inclusive pegar serpentes
peçonhentas e ingerir veneno, d) Serão exercidos em nome de Jesus Cristo como forças poderosas
na ação missionária, não carisma extático, e) A expressão de Marcos "falarão novas línguas"
(glossais lalessousin Kainais), significa: Falarão idiomas estrangeiros, línguas de outros povos. A
palavra usada para "novo" é kainós", aquilo que se conhece recentemente, recém-adquirido, e não
"néos", recém-nascido, recém criado. Portanto, o texto fala de poliglossia, não de glossolalia. Esta
não se encontra em João e nos Sinóticos, que são os parâmetros de qualquer fundamentação
doutrinária.
AULA IX
O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO
CUMPRIMENTO DA PROPOSTA
Deus, por sua onipresença, dirige o universo, a história, atua na vida de cada criatura humana
e está em cada servo de Cristo. Porém, a Trindade entrou no palco da redenção, por princípios que
ignoramos, em etapas e "kairoi" distintos:
01. A descida do Pai no monte Nebo para a entrega da lei e consequente institucionalização
de Israel como eleito dentre nações rejeitadas. Deus é Espírito, o Santo Espírito.
02. A descida do Filho em Belém da Judéia pela encarnação para, pessoal e
verdadeiramente humanizado, exercer o ministério messiânico, lançar, à semelhança do que Moisés
fez no Velho Testamento, os fundamentos de uma nova nação de escolhidos não controlados pela
lei, mas pelo Espírito Santo, pois a letra mata, mas o Espírito vivifica (II Co 3.6). A Igreja submete-se
a Deus pelo Espírito, não pela lei descida do Espírito no dia de pentecoste, exatamente a festa
comemorativa da outorga da lei no topo do Sinai. O Espírito veio para assumir o ministério da lei. Isto
é, conduzir os eleitos nas veredas do Pai, nas sendas do Evangelho; convencê-los do pecado, da
justiça e do Juízo (Jo 16.8-11 cf Rm 7.7-25). Agora, diz Paulo: "a lei do Espírito da vida em Cristo
Jesus te livrou da lei do pecado e da morte" (Rm 8.2).
Lei do pecado e da morte, para o missionário dos gentios, é a de Moisés, substituída pela do
Espírito, que é vida em Cristo Jesus. Assim, podemos afirmar, com sólida base bíblica, que a lei
encerrou seu ministério em Jesus Cristo, o Filho do amor de Deus ao mundo, a alegria do Pai (Jo
3.16; Mt 3.17) e que Jesus, o mesmo que teve autoridade para reinterpretar a lei (Sermão do Monte),
31
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
transferiu sua função para o Espírito, depois de cumprir a missão vicária em favor dos que crêem:
"Vindo, porém, a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,
para resgatar os que estavam sob a lei, afim de que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque
sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai"(Gl 4.4 6).
"Mas, antes que viesse a fé, estávamos sob a tutela da lei, e nela encerrados para essa fé que, de
futuro, haveria de revelar-se. De maneira que a lei nos serve de aio para nos conduzir a Cristo, a fim
de que fôssemos justificados pela fé. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao
aio, pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes
batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes" (Gl 3.23-27).
O aio do velho pacto foi a lei para conduzir ao Messias os filhos de Abraão, consumando a
encarnação do Verbo. O aio do conserto da graça é o Espírito Santo, definitivamente dado à Igreja
para levar a Cristo os que nele crerem. E mais, induzi-los à fé, ao arrependimento. Não há dúvida: O
Espírito Santo assumiu o papel da lei para ensinar, necessário à redenção (Jo 14.26), promover a
guarda da Palavra de Deus pela compulsão do amor (Jo 14.23) guiar o pecador a Cristo (Jo 16.13,14
- Rm 12-17), convencer do pecado, da justiça e do juízo. Blasfemar contra o Espírito é blasfemar
contra a lei, é rejeitar o aio, que conduz ao Salvador. É apostasia, e o apóstata não tem perdão. A lei
foi dada uma vez; Cristo se encarnou uma vez; o Espírito Santo, igualmente, desceu uma vez para
permanecer conosco na Igreja de Cristo, não nos deixando órfãos (Jo 14.16-18).
Quem entra para a Igreja de Cristo, mediante a fé, recebe o Espírito. Cristo gerou a Igreja; o
Espírito a vivifica. Eis porque o batismo com água é o sinal visível do batismo com o Espírito. O ato
histórico de ingresso na Igreja, para os crentes autênticos, é também o do batismo com o Espírito. O
cristão não anda segundo a lei, mas segundo o Espírito, o aio do corpo e de cada membro. Ninguém
vai a Cristo senão pelo Espírito; ninguém vai ao Pai, a não ser por Cristo.
32
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
comunhão dos santos, dos eleitos, não os há. O batismo não é mera cerimônia. É a deposição de
nossa vida, para sempre, aos pés de Jesus Cristo. Assinala o momento em que se apossa,
definitivamente, do pecador arrependido e submetido, o Salvador. O batismo da água, quando
aplicado aos regenerados, visibiliza o que, no mesmo instante, ocorre na alma do batizando: A
recepção do penhor do Espírito. Por meio do batismo, ordenança do Senhor Jesus, o pecador passa
do império do mal, da escravidão do pecado, para o domínio do Espírito no reino do Filho de Deus. O
batismo é a porta pela qual se entra na Igreja de Cristo, submetendo-se à direção do Espírito tanto
na reunião como na dispersão. Em suma, todos os salvos estão na Igreja pelo batismo do Espírito.
O ESPÍRITO E A ESPIRITUALIDADE
Duas coisas foram ditas, que devem ser lembradas aqui:
a) O Espírito Santo é a pessoa trinitária pela qual a vida chegou ao mundo e habita nos
eleitos: "Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo
que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos, vivificará também os vossos corpos mortais, por
meio de seu Espírito que em vós habita" ( Rm 8.11).
b) O Espírito é o “aio" que nos conduz a Cristo (Jo 14.26; 16.13; Gl 5.18). Ninguém vai ao Pai,
a não ser pelo Filho. Ninguém vai ao Filho, senão pelo Espírito. Os sinais, portanto, do batismo com
o Espírito Santo são a regeneração e a reconciliação. O crente recebe a nova vida e se liga ao
Criador permanentemente. A diferença entre um salvo, ou batizado por Cristo com o Espírito e com
fogo, e um perdido é que aquele é dirigido Pelo Espírito, cresce em fidelidade a Cristo, em comunhão
com Deus, em santificação; este se deixa guiar por sua sensualidade sua carnalidade, seus
pendores malignos, seu “ego”, isolando-se de Deus e do próximo progressivamente; usa a divindade
e o próximo para satisfação de seus desejos e realizações de objetivos imediatos.
O batizado pelo Espírito Santo é espiritual (pneumatikós); a sua alegria e prazer são
espirituais; sublima-se na "doulia" como Escravo de Cristo, e na "koinonia", como servo dos irmãos;
coloca sua vida no altar do Cordeiro em culto ao Redentor, oferece-se como instrumento da vontade
de Deus (Rm 12.1 ,2). O ímpio (sarkikós) o que não tem o Espírito, oferta-se à carne, ao mundo, ao
pecado, ao tentador; sente gozo em tal estado, feliz na prática de atos concupiscentes. O espiritual
santifica-se. O carnal degrada-se. O batismo com o Espírito Santo é o "kairós" de ingresso no reino
de Cristo, a iniciação na vida eterna, o primeiro passo do êxodo dos redimidos no caminho
do "scatón", na estrada para os céus. Isto, porém, não acontece de graça. Traz lutas terríveis de
ordem interna e externa em decorrência do conflito entre o sensual e o espiritual que militam dentro
do regenerado, entre as forças do bem capitaneadas pelo Espírito, e as do mal, orientadas por
Satanás.
Esta batalha incessante é consequência de nossa filiação a Cristo, que provoca a oposição
das potências satânicas. E o crente assume a luta. Paulo mostra-o com meridiana clareza: "Digo,
porém: Andai no Espírito, e jamais satisfareis à concupiscência da carne, porque a carne milita
contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que
porventura seja do vosso querer” (Gl 5.16; Ef.17-24; 6.12; Cl 3.5-11; Hb 12.4-13). O batismo com o
Espírito alista-nos no de Cristo mobilizado em guerra cruenta e acirradíssima contra Satanás e suas
hostes infernais. Cristo, modelo e protótipo de cada cristão, saiu das águas batismais e, levado pelo
Espírito, enfrentou o Diabo no deserto (Mc 1.9-13).
Assim, o batizado, sai do domínio do maligno para Cristo para se tornar opositor do Demônio,
seu antigo senhor. O batismo com o Espírito não elimina as dores e as fadigas humanas (II Co 12:7-
10), mas dá sentido e objetivo aos sofrimentos. A Igreja dos batizados é gloriosa na peregrinação
exatamente por ser sofredora em, por e com Cristo Jesus. O salvo padece em marcha. A esperança
da chegada e a segurança do Comandante dão-lhe forças necessárias, as energias suficientes e os
alentos indispensáveis. O batizado deixa o pecado e toma a cruz de Cristo cada dia. A jornada é
ininterrupta até o "telos", o alvo final.
33
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
O ESPÍRITO E O AMOR CRISTÃO
Deus em Cristo e Cristo em nós pelos vínculos do amor, também o maior dom do
Espírito. Pai e Filho, uma comunhão amor (Jo 17.4,26). Cristo nos ama com amor com que ama o
Pai (Jo 17.6) e espera que o amemos de igual modo (Jo 17,8) remidos e transportados para o do
amor, os filhos da promessa, o glorioso mistério, formam a tríade, servos-Filho-Pai. Todos os
batizados com o Espírito Santo são habilitados pelo carisma do amor e entram na comunhão objetiva
e subjetiva com Deus, estabelecendo relações fraternais profundas com seus irmãos. Assim, nasce a
unidade: Pai no Filho, e Filho nos filhos mediante o Espírito.
Mas, notem bem, os filhos da graça não são do mundo como o Filho não é, embora estejam
no mundo, onde são necessários como arautos peregrinos. O mundo, porém, não lhes é um paraíso,
é antes como campo missionário por mandato do Rei: "Assim como tu me enviaste ao mundo,
também eu os enviei ao mundo”. "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vieram
a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um, como és tu, ó Pai, em
mim e eu Ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho
transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles e tu em
mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo creia que tu me enviaste, e
os amaste como também amaste a mim" (Jo 17.18, 20,23).
O crente aperfeiçoa-se na unidade: Cristo-servo pois assim como Pai e Filho são um, nós
também somos um na comunhão fraternal. A nossa vinculação a Cristo, cabeça do corpo, e
interação fraternal são obras do Espírito, o vitalizador do conjunto e das partes. Sem o dom do
ágape, sinal maior, universal e eterno do batismo com o Espírito Santo (I Co 13.13) não haveria
Igreja da qual somos membros, Ela é uma fonte alimentada pelas águas que caem do céu e pelas
que jorram da terra.
Sem o absoluto e exclusivo amor de Deus e o incondicional amor ao irmão (Mt 22.37-40) a
família da fé não se efetiva, a religiosidade converte-se em seita, a piedade individualiza-se,
egocentriza-se, os fiéis transmudam-se em beatos carnais (sarkikói), muito ligados a um Deus do
além por vias místicas, e desligados de seus irmãos, tornando-se intratáveis, intolerantes,
intoleráveis, egoístas, cismáticos, formando o quadro descrito por Paulo: "Eu, porém, irmãos, não vos
pude falar como a espirituais; e sim, como a carnais, como a crianças em Cristo." "Porquanto,
havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?
Quando, pois, alguém diz: Eu sou Paulo; e outro: Eu, de Apolo; não é evidente que andais segundo
os homens?" (I Co 3.1,3,4). "Andar segundo o homem" equivale a "andar segundo a carne". Ora, o
batizado com o Espírito Santo deixa-se dirigir por ele: "Pois todos os que são guiados pelo Espírito
de Deus são filhos de Deus" (Rm 8.14 Ler 8.5-17). Aos membros da Igreja não batizados com o
Espírito o amor a Deus é impossível, e ao amor ao irmão, impraticável, exatamente por causa da
predominância da "carne" sobre o Espírito.
Todas as manifestações carismáticas sem amor (ágape), ainda que muito impressionantes e
espetaculares, nada valem. O amor é tudo. Deus é amor (I Jo. 4.16; 4.19,21); o Espírito é Deus (Atos
5.3,4). Uma Igreja de competições, de exibições, de indivíduos e grupos que agem para ser notados
e exaltados, de irmãos que alimentam em seus corações e mentes ciúmes de outros irmãos não
pode ser o corpo de Cristo, não está no Espírito. Cremos que o amor incondicional a Deus e aos
irmãos é o sinal verdadeiro do "batismo com o Espírito Santo”.
AULA X
BLAFÊMIA CONTRA O ESPÍRITO SANTO
Não definem as Escrituras o pecado imperdoável contra o Espírito Santo. Isto se deve,
cremos, ao fato de não se tratar de ato isolado e específico, mas de estado permanente e contumaz
34
IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA
ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD
Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo
de rebeldia contra Deus. Por exemplo, não havia perdão para o israelita que, conscientemente,
quebrasse o pacto de YAHWEH (Dt 29.20), ou não levasse a sério o nome de seu único Senhor (Ex
20.7), atitude que implicaria em rompimento de aliança. Tomando Mateus, capítulo 12, por base,
inferimos, com razoável base exegética, o seguinte:
a) Os blasfemadores eram fariseus, profundos conhecedores da "Torah" e dos profetas.
Interpretavam a lei com rigorismo. Eram legalistas e moralistas incorrigíveis. Atribuíam a si mesmos
elevadíssima consagração e corretíssimo conhecimento dos escritos sacros e de Deus. Portanto,
carregavam a blasfêmia com o peso da convicção, da ação consciente e da responsabilidade.
b) Colocaram Belzebu, maioral dos demônios, no lugar do Espírito Santo, profanando a
santíssima Trindade. No versículo 18 lemos: "Eis aqui o meu Servo, que escolhi, o meu amado em
que a minha alma se compraz. Farei repousar sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará juízo sobre
os gentios". Ora, o Pai no Filho e o Filho no Espírito são UM e realizam a mesma obra.
Atribuir o poder de Jesus ao espírito de Belzebu é afirmar que o ministério do Messias é demoníaco.
Os fariseus não negaram a autoridade do "homem Jesus", mas creditaram-na ao maligno,
blasfemando contra o Deus trino. Se o inferno não está dividido, demônio contra demônio, muito
menos o céu. A unidade entre Pai, Filho e Espírito Santo é indissolúvel, indivisa.
c) O reino de Deus chega sobre nós, quando Cristo, pelo Espírito Santo, ministro do Filho,
exorciza Satanás e ocupa o centro da comunidade dos libertos, como Cabeça, e o interior de cada
salvo, como templo: "Se, porém, eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, certamente é
chegado o reino de Deus sobre vós". E os fariseus sabiam muito bem, como conhecedores da
teologia de Israel, que Yahweh se revela pelo Espírito Santo e, pelo mesmo Espírito, reúne, ajuda, os
dispersos na comunhão dos eleitos e os ilumina para compreendê-lo e adorá-lo. Rejeitar o Espírito é
recusar a graça, fechar-se ao perdão, e rebelar contra o Salvador. Não nos esqueçamos de que o
Pai é doador; o filho, realizador; o Espírito Santo, aplicador da bênção redentora. Sem ele o perdão
de Cristo não opera eficazmente em nós.
d) Partindo a blasfêmia, não de gentios ignorantes, mas de fariseus, os mais "zelosos
religiosos" entre seus pares, o que cometeram-se claramente, como de "apostasia", contumácia
deliberada, calculada, premeditada. O apóstata, pecador convicto, mas satisfeito com sua condição
pecaminosa, é o que abandona o Redentor e se alista no exército inimigo em guerra declarada
contra o Messias, tornando-se um anticristo perverso, blasfemador. Os apóstatas são irrecuperáveis,
irrenováveis (Hb 6.4-8; 10.26-31; II Pe 2.20-22; 1 Jo 5.16, 17). Blasfemar contra o Espírito Santo é
pecar deliberada, sistemática e persistentemente (Hb 10.26), apostatar da fé (Jo 17.12 cf. Hb 6.4-8),
é perder a oportunidade, única e final, de ser perdoado, redimido. Ninguém vai ao Pai a não ser por
Cristo; ninguém vai a Cristo, a não ser pelo Espírito Santo. Ninguém é perdoado, se Cristo não
perdoar. Logo, rejeitar a mão condutora do Espírito é não ter acesso a Cristo, é cortar a possibilidade
do perdão, é renegar a bênção da reconciliação com Deus.
35