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IGREJA PRESBITERIANA FILADÉLFIA DE ESTÂNCIA

ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL - EBD


Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo

A DOUTRINA DO ESPÍRITO SANTO

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Disciplina: Pneumatologia - A Doutrina do Espírito Santo

AULA I
O ESPÍRITO SANTO

“Quando, porém vier o Consolador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da
verdade, que dele procede, esse dará testemunho de mim” (João 15.26). “Pois há três que dão
testemunho no céu: O Pai, a Palavra, e o Espírito Santo; e estes três são um.” (1 João 5.7)

INTRODUÇÃO
Pneumatologia é o ramo da teologia que estuda o Espírito Santo. Cremos que o referencial
básico e indispensável para entendermos o Espírito Santo é Jesus Cristo. Aliás, a revelação inteira é
Cristocêntrica: O Pai, a Palavra, a redenção, a Igreja e a ascensão revelam-se-nos na encarnação,
ministério, sacrifício, ressurreição e reinado do Senhor Jesus.
Não se deve tratar o Espírito Santo como o terceiro Deus, à parte do Pai e do Filho, agindo
independentemente deles, quer em postulações doutrinárias dogmáticas, quer pragmaticamente pela
liturgia dos cultos comunitários. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são "UM".
Sem esta visão trinitária e a aceitação mental e prática da unicidade de Deus em três pessoas
não se compreenderá corretamente o ministério do Espírito Santo. A Trindade, porém, se nos aclara
na vida histórica do Emanuel, Jesus Cristo. Nele vemos o Pai; nele temos o Espírito. O Pai no-lo deu,
Ele nos dá o Espírito; nele estamos no Pai e no Espírito. O Espírito nos leva a Ele. Ele nos liga ao
Pai. Quem tem o Filho, tem o Pai e tem o Espírito. Dizer que Cristo vive em nós é a mesma coisa
que afirmar: "Somos o templo do Espírito Santo", pois o Espírito não ocupa um lugar que não seja o
de Jesus Cristo; sua autonomia divina é trinitária tanto quanto a de Jesus Cristo.

O "PNEUMA DE DEUS"
A palavra "espírito", em hebraico, é "ruach", traduzida para o grego por "pneuma". Significa
"vento", "hálito", "sopro". A ideia é mais de um "vento" direcionado, uma corrente identificável, que
"vento difuso", indeterminado, o ar como tal, a que se chamava de "anemos".
O oriental, mais que nós, conhece correntes de vento causadores de profundas modificações
climáticas como estiagens, calor e chuvas. O Siroco, por exemplo, soprando do Norte da África para
o Mediterrâneo, é insuportavelmente seco, quente e poeirento. Para nós, o pior é o Vento sul, frio e
úmido.
Assim, o vento causador de um efeito qualquer na ordem natural ou no comportamento do
homem era chamado de "pneuma". Ação previsível, mas incontrolável do "pneuma", bem como sua
intangibilidade, constituíam-se insondáveis mistérios para o homem pré-científico.
No Velho Testamento, "Ruach" (ou "Pneuma") designava a invisível e intangível, mas
perceptível e sensível atuação de Deus. A palavra de YAHWEH criava; seu "Pneuma" vitalizava e
dinamizava. A Palavra e o "Pneuma" criador e vitalizante, saíam da boca de Deus. A vida do homem,
por exemplo, procedeu diretamente da boca de IAHWEH pelo poder de seu "Ruach", Espírito: "Então
formou o Senhor Deus (YAHWEH ELOHIM) o homem do pó da terra e lhe soprou nas narinas o
fôlego de vida, e o homem passou a ser alma vivente (Nephesh-Haiach)", isto é, um ser produzido
diretamente pela vontade de Deus (façamos) e vitalizado pelo "Pneuma" de seus lábios.
A Palavra (Glossa) e o Espírito (Pneuma) de Deus agem associados e integradamente nas
Escrituras Sagradas. Assim, o Espírito toma (inspira) o profeta; este, em conseqüência e por causa
da instrumentalização do "Pneuma", fala a Palavra de Deus. Não é infreqüente, pois, que o Espírito e
a Palavra, um ou outro, individualmente, e ambos, às vezes, se tomem por "dynamis" (poder) ou
"sophia" (sabedoria).
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No Novo Testamento, o que era apenas vislumbrado no Velho, pessoaliza-se. O Verbo
(Palavra) se encarna no Filho e o "Pneuma” se revela no Espírito, estabelecendo nitidamente a
triunidade do Deus de Israel e da Igreja. O Verbo e o Espírito, portanto, não se dissociam na nova
dispensação como não o faziam na Velha.
O Verbo concedido pelo Espírito; o Espírito é uma dádiva (carisma) do Verbo. Sem o Espírito
não teríamos o Verbo; sem o Verbo não receberíamos o Espírito; mas o Verbo não produz o Espírito,
nem o Espírito produz o Verbo. No Novo testamento se nos revela uma ordem trinito-unitária: O
Verbo é Ministro do Pai; o Espírito é Ministro do Verbo. A operosidade é tripessoal, mas
absolutamente unívoca; mais que consensual, uniconsensual. A obra de cada um é a obra do "UM",
Deus único.

DEUS - PALAVRA – ESPÍRITO


Esta é, na verdade, a expressão trinitária do Antigo Testamento. Pelos versos paralelos do
Salmo 33.6, isto se coloca insofismavelmente: os céus por sua palavra se fizeram, e pelo sopro
(ruach) de sua boca o exército deles. A palavra (Dabhar)e o espírito (ruach) aparecem como forças
conjuntas do poder criador de Deus.
Pedro nos ensina a doutrina da correlação Deus - Palavra - Espírito, apoiado na experiência
cristã e evidências veterotestamentárias, de modo enfático e concludente: "Homens falaram da parte
de Deus movidos pelo Espírito Santo” (II Pe 1.21). Paulo, lecionando, ministrava a Timóteo a mesma
correlação: "Toda Escritura é inspirada por Deus" (II Tm 3.16). A expressão vernácula: “Inspirada por
Deus, no original grego é: “Theópneustos” que significa: dinamizada e vitalizada pelo “Pneuma de
Deus”.
A Palavra procede de Deus, mas ficaria como poder (dymanis) potencial se não fosse
aplicada pelo seu "Pneuma" (Espírito). O Espírito não tem sua própria palavra. A Palavra é de Deus;
o Espírito Santo é o agilizador, o aclarador, o intérprete e o aplicador da Palavra de Deus.
O instrumento do Espírito Santo é a Escritura Sagrada, a Palavra de Deus. É a mesma
relação trinitária: O Pai envia o Verbo; o Verbo envia o Espírito (Pneuma). O verbo revela o Pai; o
Espírito revela o Filho pela iluminação dos que hão de ouvir as Escrituras. Cristo fala da parte de
Deus; o Espírito Santo fala da parte de Cristo pela boca dos profetas, isto é, dos autênticos
pregadores do Evangelho, instrumento do "intérprete", o "Pneuma" de Deus.
João, embora usando linguagem helenizada, segue o mesmo princípio geral da Bíblia, isto é,
a atuação do Criador e Salvador na triologia: Deus - Verbo - Espírito (Theos - Logos - Pneuma).
Não há lugar, nas Escrituras, para uma obra do Espírito Santo à parte e à margem da do Pai
e do Filho. Repetimos muito para fixar bem a afirmação confessional: O Filho procede do Pai e o
Espírito Santo procede do Pai e do Filho. Os três são "UM", Deus Triuno.

AULA II
O ESPÍRITO SANTO E CRISTO

"Mas eu vos digo a verdade: Convém-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá
para vós outros; se, porém, eu for, vo-lo enviarei" (Jo 16.7).

O ESPÍRITO NA UNIDADE TRINITÁRIA

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Na lição anterior, aprendemos que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são "UM", isto é, UM SÓ
DEUS, mas em três pessoas distintas, com ministério nitidamente definidos, qualificados, porém,
interdependentes, porque a obra de cada um é a de UM Só.
No entanto, pela revelação, primeiro conhecemos o Pai, criando todas as coisas, presidindo o
universo, comandando a história, elegendo Israel como seu povo particular. Depois se nos apresenta
pelo insondável mistério da encarnação, Senhor Jesus Cristo, que propõe, executa e consuma a
redenção da Igreja pelos inexplicáveis caminhos do sacrifício vicário.
Finalmente, e em decorrência do advento, morte e ressurreição de Cristo, se nos revela o
Espírito Santo. Assim, conhecemos o Pai de maneira muito clara na pessoa do Filho, conhecemos o
Filho, embora não o vemos com os olhos físicos, pela iluminação do Espírito, de tal modo que Cristo
continua encarnado objetiva e realmente na vida da Igreja, pois somos o templo do Espírito Santo
porque somos o corpo de Cristo e este é "UM" com o Pai.
Sem Cristo não temos o Pai e não recebemos o Espírito, Alguns, inadvertidamente, invertem
a ordem divina, afirmando: quem não tem o Espírito Santo não tem Cristo. É o contrário! Quem não
tem Cristo, não tem o Espírito Santo.

O ESPÍRITO PLENAMENTE EM CRISTO


O Filho está plenamente no Pai; o Espírito, plenamente no Filho. A plenitude do Espírito
Santo no Messias preanunciou-se, insofismavelmente, no Velho Testamento, tornando-se por tanto,
uma convicta esperança: "Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo.
Repousará sobre ele o Espírito do Senhor, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de
conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do Senhor (Is 11.1,2 Cf Is 42.1,4).
Esta anunciação profética, extraordinária em todos os sentidos, abre espaço à compreensão da
presença e intervenção do Espírito nos eventos decisivos da encarnação, vida e ministério de Jesus
Cristo. Ele foi concebido pelo Espírito Santo, o "Ruach" de Deus, à semelhança do primeiro homem,
que também não teve paternidade humana (Mt 2.18 e Lc. 1.35). Do seio das águas primeiras o
Criador retira a terra; da terra, retira o homem, sobre aquela pairava (como ave que choca os ovos) o
Espírito de Deus; sobre este assoprou seu "Ruach", e ele passou a ser filho de Deus (LC 3.38). Da
carne de Adão (o que veio da terra-adamah) Deus retira Eva; da carne de Eva (Maria) Deus faz
nascer Jesus Cristo, também "retirado" das águas (líquido uterino) pelo poder vitalizador do "Ruach"
do Criador. O Cristo pré-existente na eternidade coloca-se na história concreta do homem pela
instrumentalidade do Espírito Santo (Pneuma Hágos). Tomando-se Homem pelo "Ruach" de Deus da
carne de Maria, Cristo entra em nosso mundo empírico pelo e com o Espírito Santo.
No batismo, a porta pela qual Jesus ingressou no ministério messiânico, vemos o Espírito
descer sobre ele em forma de pomba e o Pai declarar-lhe a paternidade com amor especialíssimo:
"Tu és meu filho amado, em ti me comprazo" (Lc 3.22). O Quarto Evangelho não registra o batismo
de Jesus, mas menciona o testemunho de João Batista que afirmar ter visto o Espírito Santo descer
e pousar (Émeine, do verbo Menô, que significa "permanecer, habitar, localizar-se, continuar") sobre
Jesus Cristo (Jo 1. 32-34).
Um fato que deve ser anotado para ser notado, é que o Espírito não desceu sobre Cristo para
livrá-lo das tentações, mas levá-lo a ser tentado pelo Diabo no desamparo e na solidão do deserto
(Mt 4.1). O crente que recebe Cristo, recebe também o Espírito que habita em Cristo pois ele é dado,
ficando, para sempre, livre das possessões demoníacas, mas alvo das tentações, exatamente como
aconteceu ao seu Senhor.
Havia, no profetismo messiânico do Velho Testamento, a esperança de que, na era do
Messias o Espírito Santo seria derramado sobre toda carne, não somente sobre pessoas especiais,
mas sobre todo o conjunto dos eleitos, judeus e gentios. Pedro entendeu que esta linha profética
atingira seu ponto de consumação no Pentecostes, o nascimento oficial do novo Israel, da nova
humanidade regenerada em Cristo, quando o "Ruach" de Deus (como "Pneuma" impetuoso) foi
derramado sobre a totalidade da Igreja congregada em e por Cristo Jesus; uma livre dádiva de Deus,

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sem qualquer pedido ou esforço místico penitencial de quem quer que seja (At 2.16-21 cf. Joel 2.28-
32).
Alguns teólogos entendem que a profecia: "Sobre toda carne", cumpriu-se na pessoa
representativa de Jesus Cristo. O segundo Adão em quem se originou a nova humanidade e em
quem todos os redimidos se representam. Os que são nascidos em Jesus Cristo, o são da água e do
Espírito; o "Ruach" de Cristo faz cristão um "ser vivente" (Néphesh Haiach) como o do Pai vitalizou o
primeiro ser humano e o dotou de eternidade. Em Cristo, contudo, a eternidade e a salvação se
consubstanciam na vida eterna.

A ORDEM: PAI - CRISTO – ESPÍRITO


Estamos insistindo nesta ordenação ministerial da Trindade: São funções distintas de
pessoas distintas na unidade trinitária. Separamos as funções, distinguimos as pessoas, mas não
fracionamos o conjunto da obra (Criação, governo, preservação e redenção) que é operação
trinitária. Assim, sem o perigo da tricotomia e do triteísmo, afirmamos, com a Bíblia, que há uma
ordem revelacional e operacional: Primeiro o Pai; depois o Filho; depois o Espírito Santo. O Filho,
porém, está no Pai; o Espírito está no Filho, habita nele. O Templo é Cristo, somos o templo do
Espírito Santo se estamos em Cristo; é dele que o recebemos (Jo. 2.21; I Co 6.19,20).
O Espírito Santo é Cristo presente. Ele atualiza a encarnação, a morte, a ressurreição e a
glorificação de Cristo em seu corpo histórico e místico, a Igreja, e a mesma coisa faz para os que
estão inseridos nela como membros que, individualmente, mas em virtude da união fraternal em
Cristo, são templos do Espírito Santo. Cristo enviou o Espírito Santo como ministro de seu reino, no
entanto, continua conosco no mesmo Espírito por causa da
unidade trinitária (Leia: Jo. 7.39; Jo. 16.7, 16.13-15; 15.26).
Assim, concluiremos, com as Escrituras, que Deus, Cristo e o Espírito, no contexto trinitário,
agem distintivamente, mas não separadamente. A presença de Cristo causa a presença do Espírito
Santo. Ter Cristo é a mesma coisa que ter o Espírito (FP. 2.1,19; Rm. 8.9-11;).
Em síntese: QUEM RECEBE CRISTO, RECEBE O ESPÍRITO SANTO, POIS CRISTO É A
PLENITUDE DO PAI E DO ESPÍRITO. PELO ESPÍRITO SANTO CRISTO HABITA EM NÓS NA
CORPORALIDADE, ORGANICIDADE E FRATERNIDADE DA IGREJA: "Onde estiverem dois ou três
reunidos em meu nome, aí estou no meio deles".

AULA III
O ESPÍRITO SANTO E A IGREJA

"Quero apenas saber isto de vós: Recebestes o Espírito Santo pelas obras da lei ou pela
pregação da fé? Sois assim insensatos que, tenho começado no Espírito, estejais agora vos
aperfeiçoando na carne? Terá sido em vão que tantas coisas sofrestes? Se na verdade foram em
vão. Aquele, pois, que vos concede o Espírito e que opera milagres entre vós, por ventura o faz pelas
obras da lei ou pela pregação da fé?" (Gl 3.2-5).

Insistimos na afirmação: O templo do Espírito Santo é a Igreja na qual Deus em Cristo


tabernacula conosco. Ela nasceu do corpo e do sangue do Cordeiro. É dele e nele nada quebra ou
interrompe sua Cristocentricidade. Estamos ligados ao Salvador como pedras no edifício, órgãos no
organismo, ramos na videira (l Pe 2; 1 Co 12; Jo 15). Fora da Igreja, o pecador fica como uma pedra
solta, órgão decepado, ramo cortado, sem utilidade, sem função ministerial, sem vida. Em Cristo
habita a plenitude da divindade e do Espírito Santo. Logo, quem está no Filho está no Pai e no

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Espírito. Não há crente sem Cristo; não há Cristo sem Deus; não há Deus sem Espírito. Somos
salvos por Cristo e mantidos nele pelo penhor do Espírito.
Ser membros do Corpo de Cristo, a Igreja, é estar no Espírito, ser batizado por ele, o Ministro
do "Filho do Homem", mantenedor da unidade eclesial e sustentador do pacto da graça na Koinonya
dos servos e no coração de cada um.

O ESPÍRITO NA IGREJA ROMANA


Na Igreja Católica, o Espírito é um dom de Cristo ao clero. Dado a Pedro e aos apóstolos,
transmite-se por sucessão ininterrupta, pelo sacramento da Ordem, prioritariamente aos bispos dos
quais o papa é o cabeça. O clero detém o Espírito bem como o "múnus" sacerdotal de perdoar ou
reter pecados, de ligar e desligar do reino dos céus; e comunica tudo pelos sacramentos e pelo
magistério sacerdotal. Pelo batismo, lava os pecados e comunica a vida eterna; pela missa,
recrucifica Cristo sem derramamento de sangue na hóstia e o entrega ao fiel comungante
(Santíssimo Sacramento, Cristo mesmo consubstanciado); pela penitência, perdoa os delitos e
concede o perdão; pela ordem, faz passar o Espírito Santo ao ordenado; pela crisma, entrega o
Espírito ao leigo. Somente o bispo pode ordenar e crismar, isto é, dar o Espírito, por ser o legítimo
sucessor dos apóstolos e, por via de consequência, do próprio Cristo. O ordenado por ele, segundo o
"Catecismo Católico", Ed. Herder, 1965, p. 183, torna-se "outro Cristo"; o crismado fica "cheio" do
Espírito Santo.

O SACRAMENTO DA ORDEM
"Na ordenação sacerdotal, o bispo impõe em silêncio as mãos sobre a cabeça de cada
diácono, e invoca sobre ele o Espírito Santo; também os sacerdotes presentes lhes impõem as
mãos. Em seguida, o bispo reza o prefácio da ordenação.
Como sinal da dignidade sacerdotal, o bispo lhes impõe então a estola cruzada sobre o peito
e os reveste de casula. Unge lhes, em seguida, as mãos com o santo óleo, e lhes entrega a patena
com a hóstia, e o cálice com vinho e água, indicando que agora eles podem celebrar a santa Missa.
Em seguida, o bispo celebra a santa Missa juntamente com os recém-ordenados. No fim, impõe mais
uma vez as mãos sobre a cabeça de cada um, dizendo: "Recebei o Espírito Santo; a quem
perdoares os pecados, são-lhe perdoados, e a quem os retiveres, são-lhe retidos" (Cat. citado p. 182,
in fine). Assim, o Espírito Santo passa do bispo para o sacerdote.

O SACRAMENTO DA CRISMA
"O bispo sobe os degraus do altar e volta-se para os crismados. Estes ficam de joelhos; o
bispo estende as mãos sobre todos eles, e invoca sobre eles o Espírito Santo com seus sete dons: O
Espírito da sabedoria e do intelecto, do conselho e da fortaleza, da ciência, da piedade, e do temor
de Deus" (Cat. citado, p. 142, in fine). Desta maneira, o leigo adquire o Espírito Santo procedente do
bispo, "lídimo" representante de Cristo na terra. O Espírito, no entanto, permanecerá no leigo
enquanto durar seu vínculo com a Igreja através dos sacerdotes ordenados e tonsurados.
A pneumatologia romana postula: "O Espírito Santo é a alma da Igreja". Mas o que é a Igreja?
Fundamentalmente, o clero sacramentalista: o peito, o coração, a cabeça, o "S" da instituição
eclesial. Uma igreja clerocêntrica. O clero, sustentam, recebe o Espírito de Cristo; o leigo o recebe do
clero. Na soteriologia católica o sacerdote é mediador. Sem ele Deus não se revela ao povo; este
não chega a Cristo, não se agracia com a salvação.

OS CARISMÁTICOS E O ESPÍRITO SANTO


Para os carismáticos, de modo geral, Cristo instituiu a Igreja, mas quem a governa é o
Espírito Santo. Alguns chegam ao exagero de menosprezar a força, a autoridade e o poder das
Escrituras, alegando que a "letra mata e o Espírito vivifica". Os dirigentes são "escolhidos" pelo
Espírito. Aos pregadores o Espírito revela, na hora, sem qualquer estudo prévio, a "palavra". As
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comunidades carismáticas, geralmente, dão mais crédito aos seus profetas, profetisas e videntes que
as Escrituras Sagadas, exatamente porque acreditam que eles falam pelo Espírito, o mesmo que
falou pelos mensageiros do Velho Testamento, pelos apóstolos, pelos escritores neotestamentários.
Melhor ainda, pois a eles falasse ao vivo e atualizadamente. O Espírito de ontem é o de hoje,
argumentam.
O raciocínio é imediatista; Se podemos ouvir o Espírito direta e pessoalmente, porque ouvi-lo
pela linguagem escrita da Bíblia? Deste modo, o Espírito age independentemente de Cristo, além
dele, acima dele. O Verbo, neste caso, não é Cristo, mas o Espírito; e palavra de Deus não é a que
se contém nas Escrituras; é a que o Espírito prega pela boca dos atuais profetas. Trata-se de um
misticismo radicalmente pneumológico.
Há alguma semelhança entre catolicismo e pentecostalismo. Para aquele, Cristo é dado no
batismo, originalmente, e o Espírito Santo, na crisma, complementar e definitivamente. Para este, o
crente recebe Cristo no batismo da água mediante a fé; posteriormente apropria-se do "poder" pelo
batismo com o Espírito, um tipo de "crisma", "unção" do Espírito. Então se torna plenamente crente,
o plenamente católico, após a crisma.
Observa-se ainda que, enquanto, para a teologia pentecostal, Cristo é uma dádiva da graça
ao homem, o Espírito tem de ser "buscado" intensamente pelas obras da lei: Purificação,
santificação, jejum, longas meditações, orações fervorosas...até o suplicante "merecer" a bênção.
Então recebe o Espírito, não de Cristo, mas do "alto". Sem esforço e méritos humanos não se é
batizado pelo Espírito para ser crente completo.

O PRESBITERIANISMO E O ESPÍRITO
A Igreja Presbiteriana crê e ensina, com outras coirmãs do evangelismo histórico, que a Igreja
é o corpo de Cristo e templo do Espírito Santo. O crente, por estar inserido na Igreja, ligado a Cristo,
torna-se templo do Espírito por ser "um" a compor o plural unitário "vós" da unidade total dos
membros do corpo de Cristo: "O Espírito de Deus habita em vós" (Ver: Rm 8.9; cf 8.11; 1 co 3.16; 11
co 6.16; Ef 3.17; 11 Tm 1.14). Leia com atenção os textos indicados e verá que a Trindade habita a
Igreja ora na pessoa do Pai, ora na do Filho, ora na do Espírito Santo. O Espírito Santo é o Espírito
do Pai e do Filho, a Trindade operadora da graça, una, consensual, consubstancial, soberana,
onipotente, onisciente. Os atos distintos de cada pessoa da Trindade são atos do Deus único.
Portanto, o Espírito não se dissocia do contexto trinitário, não atua e jamais se julgará à instituição
eclesial, ao clero; nunca se moverá ou se determinará por invocações piedosas, místicas, sacrifícios
devocionais e orações poderosas. A palavra do Espírito é a de Cristo. Seu templo é a Igreja de
Cristo. Seu ministério é realizar a obra do Salvador na unidade e santificação da Igreja, na aplicação
da mensagem do Evangelho do Filho de Deus ao coração, à mente e à vida dos pecadores eleitos.
Como não "buscamos" Cristo; também não "buscamos" o Espírito. Como não "convencemos"
Cristo, igualmente não "convencemos" o Espírito. Ele é quem nos, busca, dirige, coloca-nos em
Cristo e nos convence do pecado, da justiça e do Juízo pelo ensino da palavra de Deus.
Somos chamados, não chamadores; escolhidos, não escolhedores; controlados; não
controladores. Louvado seja Deus porque estamos no Espírito por estarmos em Cristo e sermos
dele.

AULA IV
O ESPÍRITO SANTO E AS ESCRITURAS

"Sabendo, primeiramente, isto, que nenhuma profecia da Escritura provém de particular


elucidação; porque nunca Ja mais qualquer profecia foi dada por vontade humana, entretanto
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homens (santos) falaram da parte de Deus movidos pelo
Espírito Santo (II Pe. 1.20,21)

ESCRITURA, VOZ E INSTRUMENTO DO ESPÍRITO


A Igreja crê e ensina que a Bíblia é a Palavra de Deus. Em sentido lato, quando entendida
como História da Redenção, aquela que o Senhor dos eventos concebeu, desencadeou, estruturou,
encaminhou e consumou. Os fatos de sua urdidura são tomados da triste realidade humana com
suas fraquezas e fortalezas; deslealdades e lealdades; piedade e pecaminosidade; relações com o
Criador e concessões ao maligno. Em sentido estrito, ou tomando um vetor nobilíssimo da
Revelação, "toda Escritura é divinamente inspirada" (II Tm. 3.16).
Há que se distinguir, tanto no Velho como no Novo Testamentos, a "viva vox" voz ao vivo,
da inspiratio vox", voz inspirada. A "viva voz" de Deus, na antiga dispensação, se revelou por audição
(áudio vox), por comunicação de anjos, por teofanias. A "inspiratio vox" efetivou-se pela inspiração
do Espírito Santo, movendo homens santos a falarem da parte de Deus. O Espírito humano do
profeta captou e comunicou o que Espírito de Deus inspirou (IS 11.2; Pv. 1.23; MC 12.36; At 4.25;
28.25; 11 Pe 2.21; Hb 3.7; 9,8; 10, 15), preservadas a racionalidade e as faculdades críticas da
mente. Muitos servos do Senhor não tomaram conhecimento de que eram arautos do altíssimo,
quando pregaram ao seu povo.
No Novo Testamento, a "viva voz" é Jesus Cristo, o Verbo encarnado. Cessado seu
ministério histórico, terreno, foi exaltado à destra de Deus Pai, deixando como continuador de seu
ministério o Paráclito. Este iluminou os apóstolos, induzindo-os à correta empreensão e interpretação
da Palavra de Deus objetivada, consubstanciada, concretizada em Cristo Jesus. Além da iluminação,
sem a qual a compreensão não seria possível, houve, à semelhança do Velho Testamento, a
"inspiratio vox" no novo concerto; discípulos e apóstolos falaram, inspirados pelo Espírito Santo,
como embaixadores e porta-vozes do Senhor Jesus (II Co 5.18-20).

O ESPÍRITO E A AUTORIDADE DAS ESCRITURAS


A Reforma foi um movimento causado por Deus mediante seu Espírito, para redescoberta
da Bíblia, ressuscitá-la dos sarcófagos clericais, fazê-la falar ao povo, não em língua estranha a este,
mas na linguagem das massas. E isto se fez. Enquanto a voz de Deus emergia das páginas
sagradas, transformando vidas e mudando o curso da história, um acirrado debate teológico se
travava sobre a questão da autoridade última.
O romanismo sustentava que a autoridade final em matéria de fé, doutrina e moral era a
Igreja nas pessoas dos bispos e do Papa. Toda sua tese resumia-se na impressiva frase: "A Igreja é
a mãe das Escrituras e mestra dos povos". Ela, segundo ensinavam, recebeu o Espírito por
sucessão apostólica. Eis porque representa Cristo na terra e fala a palavra de Deus. Esta palavra.
Porém, não se limita à Bíblia; contém-na, igualmente, a tradição da Igreja e o magistério episcopal.
Ouvir a Igreja é ouvir Deus. À doutrina da "sola ecclesia", a Reforma respondeu com a da "sola
Scriptura" sem, contudo, dicotomizar. Afirmavam os reformadores, sobretudo Calvino, que a Igreja é
a comunidade dos chamados pela Palavra de Deus e congregados em Cristo pelo ministério do
Espírito Santo, pois a salvação vem pelo ouvir a Palavra de Deus.
A Igreja canonizou documentos exatamente por serem inspirados, falarem à sua mente e ao
seu coração a palavra de Deus. Portanto, foi a "Palavra” que determinou o cânon; a Igreja ouviu,
separou a voz de Deus de outras vozes (a ovelha ouve a voz do Pastor) e a seguiu. Há perfeita
interação: A Escritura faz a Igreja; esta proclama a Escritura para se multiplicar. A Bíblia e somente
ela, é a "única regra de fé e de prática" para os reformados, a instância final de apelação em
questões religiosas e éticas. "O juízo supremo pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser
determinadas e por quem serão examinados os decretos conciliares, todas as opiniões dos antigos
escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares; o juiz supremo em cuja sentença
nós devemos firmar não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura" (Conf. de fé de
Westminster, Cap.l, ítem X).

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TESTEMUNHO INTERNO DO ESPÍRITO SANTO


Calvino formulou a doutrina do "testemunho interno do Espírito Santo" (Testimonium Spiritus
Sanca Internum) para ensinar que ele age na palavra de Deus e por meio dela, nos sacramentos, na
oração, e por intermédio deles. Não é a palavra, não são os sacramentos e a oração em si
comunicadores de graça, bênção e redenção, mas o Espírito que os instrumentaliza.
A palavra da Escritura, embora seja de Deus, inspirada, se não for aplicada pelo Espírito
Santo à consciência do ouvinte ou do leitor, nada produzirá, mesmo que o pregador tenha o dom da
retórica e verbo convincente, e o ledor aplique à leitura o grau maior de sentimentalismo, emoção e
paixão mística. O Espírito, portanto, atua pelos "meios de graça" dos quais a Escritura é o principal e
originário, sem qualquer dependência das virtudes humanas. A Terceira Pessoa da Trindade não se
condiciona ao homem; condiciona-o.
Os pneumáticos ou carismáticos entendem diferente: A santificação é uma conquista do
crente, sua vitória sobre o pecado. Vencida a batalha, "recebe-se" o Espírito Santo", passa-se a
sentir o gozo de experiências místicas, sente-se "convertido". Tudo isso sem qualquer vinculação
com as Escrituras, os sacramentos, a Igreja. Daí “batizados” com o Espírito Santo sem
regeneração, sem mudança moral. Isto explica "batismos do Espírito", inclusive com manifestação
glossolálica, de idólatras aos pés de ícones da Virgem, sem o mínimo conhecimento das Escrituras,
sem nenhuma submissão à Palavra de Deus. O Espírito produz frutos, não manifestações místicas
exteriores, obrigatoriamente.
A palavra de Deus escrita é obra do Espírito Santo; e somente por ele produz os efeitos
redentores a que se destina pela boca dos pregadores e no coração de quem ouve e lê. O
Calvinismo não separou, como antagônicos e excludentes, o "Espírito na Palavra", proclamação
evangélica, do "Espírito na Igreja", dogma católico. Tem, pelo contrário, reiterado que o "Espírito está
na Igreja somente quando esta é uma Igreja da Palavra", visto ser o Espírito o produtor da palavra
escrita pelo mistério da inspiração; o aplicador da palavra, pelo ministério da iluminação o
convocador dos eleitos pelo poder e força da mesma palavra, Sem a palavra escrita e encarnada no
Verbo, anula-se o ministério do Espírito; sem este ministério, liquida-se a Igreja.
A Igreja é o templo do Espírito Santo por ser a "arca" na qual ele conserva a Palavra de Deus.
Espírito e Palavra não se dissociaram. A Igreja é a comunidade da Palavra, a comunhão do Espírito
Santo, o corpo de Cristo. Em suma, a Palavra é a ferramenta do Espírito na formação e santificação
da Igreja; esta é o instrumento do Espírito na evangelização do mundo e conversão dos pecadores.

AULA V
O ESPÍRITO SANTO E O ESPÍRITO HUMANO

"O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus." (Rm 8.16)

HOMEM, UM SER ESPIRITUAL


Deus soprou no homem seu "ruach" (espírito) e ele se tornou um "nephesh haiach", um ser
vivente (Gn 2.7). Notem bem: Passou a ter vida em consequência do sopro (ruach) do Criador. Os
outros seres vivos vieram pela força criadora da Palavra de Deus (Gn 1.21). O homem, porém, criado
à imagem e semelhança de seu Pai celeste, vitalizou-se e ingressou no universo dos pelo "pneuma"
(espírito) emanado da boca de Deus. A vida do homem não é semelhante, embora ao materialista
pareça, à dos animais. O seu corpo físico é animado por um "pneuma" procedente de Deus que, na
verdade, controla, de maneira não plenamente conhecida, todas as funções e reações do conjunto
psicossomático.

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Pelo poder ou debilidade da mente (nous) é capaz de curar-se de doença até
infectocontagiosa ou contrair enfermidades inexplicáveis. O seu cérebro é uma máquina prodigiosa,
capaz de transmitir mensagens a distâncias ilimitadas, e captar sinais emitidos por outros cérebros,
codificá-los e interpretá-los. Os fenômenos psíquicos e parapsíquicos são extraordinários e
extremamente complexos. O mais importante, no entanto, é a espiritualidade do homem. O Espírito
que Deus lhe deu, inserido em sua natureza e parte indissolúvel dela, capacita-o a dialogar com seu
Criador; habilita-o a receber o Espírito de Deus, a ter consciência de sua transcendência, de sua
dimensão eterna.

DE ESPÍRITO PARA ESPÍRITO


A relação entre o Espírito Santo e o espírito humano tem sido pouco ou quase nada debatida
pelos estudiosos da Bíblia. Uma coisa, preliminarmente, se estabelece: O espírito habilita o homem a
relacionar-se com Deus, que é Espírito. O culto a Deus, pela mediação de Cristo, realiza-se em
espírito, isto é, um diálogo em nível não material, não objetivado em qualquer símbolo concreto,
físico. Adorar a Deus por meio de objetivação é idolatria. Deus, em virtude de sua natureza espiritual,
não pode ser cultuado em objetos, figuras ou imagens. A adoração, portanto, se processa no âmbito
da espiritualidade. O espírito humano é que estabelece o elo cúltico relacional, comungante,
participante, entre o adorador e o adorado, que é essencialmente Espírito.
O "Ruach" (Espírito) age no homem pelo "ruach" humano que procede do próprio Criador. A
queda depravou o homem, fê-lo alienar-se, mas não lhe desintegrou o ser, isto é, não lhe retirou o
espírito. Reconciliado com Deus em Jesus Cristo, seu espírito recapacita-se à comunhão com o Pai,
ao misterioso diálogo espírito-Espírito na unidade salvo-Salvador. O homem não é uma casa vazia
como muitos entendem, ora ocupada pelo Diabo, se é perdido, ora pelo Espírito, se é crente.
Também não é uma caixa de ressonância pela qual fala o maligno, em sendo instrumento do mal, ou
o Espírito, se for vaso de bênção. Isto seria a robotização do homem, uma espécie de marionete
movido por engonços do além. Não, ele não é o "habitat" de entidades incorpóreas malignas ou
benignas, é um ser uno, completo, psicossomático, responsável, criado à imagem e semelhança de
Deus, dotado de livre agência, inteligência, razão, sensibilidade e criatividade.
Tratar o homem como robô é eximi-lo de responsabilidade, isentá-lo de culpa, desfigurar-lhe a
imagem de Deus. Quando falamos que o homem é o templo do Espírito Santo, devemos entender da
mesma maneira como ao dizermos que Cristo é o templo de Deus (Jo 2.21). Não se pensa que ele é
morada de Deus, o continente humano de um conteúdo divino, mas que, na distinta individualidade
do Filho se encontra a completa realidade do Pai e a perfeita do Espírito. Cristo, uma pessoa na
triunidade divina, sem qualquer prejuízo de sua pessoalidade; igualmente o homem pode ser "um"
em Cristo como Cristo e o Pai são "UM". Neste sentido, sim, Cristo é o templo de Deus; o homem,
servo, é também templo do Espírito Santo.
Em outras palavras, minha relação interativa, existencial e, de certo modo, consubstancial,
com a Trindade (Pai, Filho, Espírito Santo) se dá exatamente por causa de minha natureza espiritual,
marca distintiva de meu ser, em razão do "ruach" que em mim e me caracteriza como "imagem e
semelhança" de meu Criador. Estar "cheio do Espírito", ou "batizado com o Espírito", ou "dominado
pelo Espírito" significam: Perfeita harmonia entre criatura e Criador; real sintonia entre servo e
Senhor; completa interação entre o espírito (ruach) humano e o Espírito Santo, ou Espírito de Deus,
ou Espírito de Cristo. É, pois, templo do Espírito o crente que está em Cristo, assim como Cristo no
Pai. Nunca se pode imaginar que o Espírito é um tipo de "ar santo" que "enche" o corpo humano do
fiel.
O Parácleto é uma pessoa, a Terceira da Trindade que, por obra de Jesus Cristo, interage
com outra pessoa, a do redimido, tão profundamente a ponto de estabelecer uma unidade correlativa
em que tanto se pode dizer: Cristo está em mim "como, eu estou em Cristo"; o "Espírito habita em
mim ou, eu "habito no Espírito". Sempre em relações interpessoais: Pessoa com pessoa. "O Espírito
testifica com o nosso espírito". O Salvo, pessoa, recebe do Espírito Santo, outra pessoa, o
testemunho, a declaração, a certeza, de que não é um bastardo, mas filho de Deus; sua origem e
herança são divinas, por isso tem carências espirituais e virtudes morais.

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Agora podemos entender o que Jesus disse: "Deus é Espírito, e importa que seus adoradores
o adorem em espírito e em verdade". O espírito que procede de Deus impulsiona o cristão
regenerado para Deus. Ele sente uma atração irresistível, para o Senhor; seu desejo de viver com
Cristo, orar, cantar, adorar, estar na Casa de Deus, na companhia dos irmãos (SI 84). Sempre que a
oração for o resultado de relação com Deus, e não simples prece maquinal, é feita no Espírito,
espiritual, seja individual ou comunitária, pública e audível ou silenciosa e pessoal. Ela é o sinal
maior da comunhão com Deus, do espírito do homem com o Espírito do Criador.
Resumindo: A Bíblia vê o homem como um todo; um ser completo e responsável diante do
Criador, não simplesmente um corpo dirigido de fora para dentro por um "pneuma"; uma unidade
integrada e harmônica de corpo espírito (soma-pneuma). Esta unidade possibilita duplo
relacionamento: Com o mundo sensível e fenomênico, por um lado, e com o metafísico,
transcendente e espiritual, por outro. O material expressa o espiritual; o espiritual se concretiza e se
encarna no material. No ser equilibrado, o Senhor dos senhores é adorado em espírito e em verdade.
E o corpo única expressão do espírito humano na empírica e histórica, segundo os propósitos de
Deus, eternizar-se-á pelo milagre da ressurreição, quando se revestirá de imortalidade e de
incorruptibilidade.

AULA VI
MINISTÉRIOS DO ESPÍRITO SANTO

"Não sabeis que sois santuários de Deus, e que o Espírito de Deus habita em vós? Se
alguém destruir o santuário de Deus, Deus o destruirá; porque o santuário de Deus, que sois vós, é
sagrado" (I co 3.16, 17).

O texto acima diz com indiscutível clareza que a Igreja é o Templo do Espírito Santo. Mas o
que é Igreja? - É a comunhão fraternal dos eleitos reunidos em Cristo Jesus pelo Espírito Santo.
Quem, consciente ou inconscientemente, causa desarmonias, dissensão e cismas no corpo de
Cristo, o Senhor da Igreja destrui-lo-á espiritualmente, isto é, eliminá-lo-á, da herança dos salvos, da
proteção do Espírito. Cristo tabernacula conosco pelo Espírito Santo que, habitando na Igreja, exerce
ministérios específicos e próprios, alguns dos quais enumeraremos a seguir. Antes, porém,
necessário se faz distinguir os ministérios privativos do Espírito, aqueles que são intransferíveis,
dons do Espírito que são ministérios concedidos por ele, segundo seu querer, aos crentes.

MINISTÉRIOS PRIVATIVOS DO ESPÍRITO


Testemunha de Cristo (Jo 15.26). O crente, na Igreja, ouve a voz do Pastor das ovelhas,
entende-a, segue-a, submete-se ao comando do Rei, confessa os pecados e se humilha até à
condição de servo por obra do Espírito Santo, o testemunho de Cristo. Eu sei que Cristo existe e vive
em mim porque vivo nele na fraternidade dos irmãos mediante o poder do Espírito. De mim mesmo
nada compreenderia, nada seria, nada faria. O Espírito vive em mim porque vivo em Cristo, assim
com a vida da videira passa para seus ramos.

DEUS CONOSCO
(Jo 14.16-18) Cristo nos garantiu que não ficaríamos órfãos; estaria conosco pelo Parácleto,
palavra que significa: advogado, defensor, amparador, ajudador, consolador, escudeiro. Ele está
conosco na reunião (Mt 18.20), no ministério da dispersão (Mt 28.10). Por isso, as orações geradas
pela Igreja e endereçadas a Deus são obras do Espírito Santo, o que fala, pela boca da Igreja, pelos
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lábios de cada membro do altar da terra ao Santo dos Santos celestes (ver Rm 8.26,27; Gl 4.6; Rm
8.15; I Co 3.24; 4.13).

REGENERADOR
Assim como Cristo foi concebido pessoa humana pelo Espírito, o arrependido nasce de novo
para a vida eterna por meio dele (Jo 3.5,6). Não percamos de vista, no entanto que a regeneração é
conquista de Cristo na cruz e que o Espírito Santo é Cristo conosco: "...não por obras de justiça
praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e
renovador do Espírito Santo, que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo nosso
Salvador" (Tt 3.5,6), Cristo é a causa; o Espírito é o agente que operaciona a regeneração.

O MESTRE
Cristo é o autor da redenção e o sujeito, o alvo, de nossa fé. O Espírito é o Mestre que
comunica aos escolhidos reconciliados tudo que o Messias fez, ministrou, proclamou, ensinou. Ele é
o revelador de Cristo, de seus ofícios redentores, da sua palavra: "Mas o Consolador, o Espírito
Santo, que 0 Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de
tudo quanto vos tenho dito" (Jo 14.26; Ne 9.20; Lc 12.12; 1 co 2.13; 1 Jo 2.17).

REVELADOR DO PECADO E DE SUAS CONSEOÜÊNCIAS


A ciência e a consciência de culpa, de falha moral, de fracasso, de derrota, de fuga, de
frustração por alvos ansiosamente almejados, mas não atingidos, são de natureza psicológica; o
pecado, porém, é de origem espiritual: Rompimento de relações com Deus, rebeldia contra o Criador,
incredulidade, egocentrismo. Exclusivamente o Espírito Santo pode revelar, e revela, o estado de
perdição irremediável do pecador, a justiça de Deus que o colocou nessa condição, e o juízo final
que o aguarda, isto é, o iminente agravamento da crise: Quando ele vier, convencerá o mundo do
pecado, da justiça e do juízo" (Jo 16.8). O Senhor explica: O pecado da descrença, da rejeição de
Cristo (Jo 16.9). A justiça da alienação: "Não me vereis mais" (Jo 16. 11). O juízo do julgamento do
príncipe deste mundo com seus seguidores. Notem bem, Jesus disse que os que fazem a vontade
do Diabo são seus filhos (Jo 8.44).

O SELO DOS SALVOS


O selo era, para os antigos hebreus, a marca de propriedade. Os que são de Deus adquiridos
por Cristo Jesus, recebem o Espírito, quer dizer, são assinalados para o Criador. Condições: Ouvir a
palavra de Cristo e crer nele: em que também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da
promessa (Ef 1.13). O crente, pois, passa a ser propriedade de Deus a partir do momento da
recepção do Espírito pela sua inserção na Videira, o corpo de Cristo. Sem a habitação do Espírito,
não há Igreja e nem salvo.

O PENHOR DA SALVAÇÃO
Penhor é a garantia que se oferece, por antecipação, de que as partes contratantes cumprirão
os termos do contrato ou do pacto. Deus, o Senhor da aliança, é por si mesmo, garantia de
fidelidade. Não falhará. O homem, por outro lado, não pode prometer, pois suas condições são
precaríssimas em decorrência de sua falibilidade, mortalidade, pecaminosidade e depravação. Deus
então firmou com ele uma nova aliança no seu Filho Unigênito e lhe deu o penhor do Espírito Santo
que o mantém inabalável, pela fé, em seu Redentor: "Ora, foi o próprio Deus quem nos preparou
para isto, outorgando-nos o penhor do Espírito" (2 Co 5.5 cf 2 Co 1.22; Ef 1.13, 14). É este penhor
que nos dá a convicção inabalável de nossa filiação a Deus e nos comunica a certeza absoluta da
salvação, exatamente porque não vem de nós, procede de Deus pelos canais da graça mediante
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Jesus Cristo (Rm 8.16; Gl 4.6; I Jo 3.24; 1 Jo 4.13; 1 Jo 5.6; Rm 8.14; Gl 5.18; Rm 8.9).
Cristo continua na Igreja, e nela, conosco na pessoa do Espírito Santo. Este, segundo as Escrituras,
garante ao povo de Deus a fé, a esperança e o amor e, acima de tudo, "sela-o" para o Rei dos reis e
lhe dá o "penhor", aqui e agora, na dura estrada do êxodo de escravos do Senhor, peregrinos e
forasteiros em terras estranhas e em meio a inimigos ferozes, de que a "promessa' se manterá e o
pacto não se quebrará. Nada pode separar-nos do amor de Cristo (Rm 8.31-39).

AULA VII
DONS DO ESPÍRITO SANTO

DONS GERAIS, DO ESPÍRITO SANTO


"Agora permanecem a fé, a esperança e o amor, estas três; porém, o maior destes é o
amor"(Ico13.13).

O DO CORPO E O DE CADA MEMBRO


Em todos os sistemas e em cada conjunto há o que é próprio e indispensável ao geral e o que
é específico e inerente às partes. Num edifício notar-se-ão aspectos evidentes: Estrutura, arquitetura,
funcionalidade. Tudo, porém, constitui-se em unidade pela integração associativa de matérias primas
heterogêneas, quando isoladas. Um prédio, pois, constrói-se de partes que não se misturam: Massa
e ferro, pedra e vidro, cal e madeira, areia e tapete, metal e louça. Nas mãos do construtor, do
arquiteto, no entanto, harmonizam-se e se unificam num bloco sólido para objetivos comuns. Assim
Deus faz com a Igreja: Preserva as individualidades, mas as coloca a serviço da corporalidade. O
"eu” mais útil e autêntico incorporado ao "nós”. E suas qualidades intrínsecas preservam-se. O ferro
continua ferro; o barro mantém-se barro, mas sem qualquer proeminência, pois o conjunto depende
das características e do papel integrado de cada um. Imagem semelhante é a do organismo humano,
segundo Paulo, em que olho, pé e mão, embora com funções próprias, somente funcionam pelo
comando orgânico do corpo, soma de todos os membros. Cada um depende de todos; todos
dependem de cada um. O que é específico do particular contribui para estabelecer o que é final do
complexo unitário.
A Igreja, edifício, corpo e videira, dota-se de dons gerais que atingem todos os membros
individualmente de maneira igualitária, consubstancializada. Exemplo: A fé, a esperança e o amor. A
originalidade, contudo, se opera pela correta, sadia e perfeita função de cada membro ou parte: A
pedra no edifício, o órgão no organismo, o galho no tronco. Eis porque o Espírito concede dons a
cada servo do Senhor, visando à edificação do corpo (I co 12.47,25).

OS DONS GERAIS
Podemos dizer que nenhuma semelhança aparente ou qualquer identificação operacional
entre os olhos e as mãos. No entanto, há elementos indispensáveis na constituição de ambos e dos
demais órgãos: Músculo, sangue, água. No organismo eclesial há três virtudes comuns do todo e das
partes: A fé, a esperança e o amor. São dons vitais e essenciais do Espírito Santo, necessários à
permanência e propósitos do corpo de Cristo. Os dois primeiros pertencem à Igreja peregrina e a
sustentam. O último, transcendente e imanente, é a força causal do povo de Deus no presente e no
porvir. O amor jamais acaba, pois Deus é amor.

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O DOM DA FÉ
Fé é um termo geral, teológico, com várias denotações e conotações: a) Fé intelectual,
simples assentimento mental, resultado de conclusão lógica ou processos comparativos sem
implicações e consequências comportamentais, morais e espirituais (Ler Atos 8.13; Tg 2.19). A
mente declara crença em Deus, mas a vida fica longe de tal confissão. Apesar da fé, apenas
informal, agem como ateus, como filhos do Diabo (Jo 8.44).
Fé mística, de cunho psicológico, mas de expressão religiosa. Consiste em irracional
confiança em forças ocultas, maléficas ou benéficas, contidas, panteisticamente, em seres concretos,
fictícios ou mitológicos. Este tipo de fé, vulgarizadíssimo, causa "prodígios" e "milagres" e permite o
surgimento de magos, adivinhos, bruxos e feiticeiros. A fé mística não gera o servo, mas o
"mendigo", o idólatra.
Fé carismática, um dom do Espírito (I Co 12.9). Sobre esta falaremos, quando tratarmos dos
dons do Espírito.
Fé confessional, aceitação de um sistema doutrinário autoritativo, bíblico ou não. No Novo
Testamento, detectamos semelhante fé: 1 Tm 5.8; Ap 2.13; Gl 2.23; Rm 10.8. Neste sentido,
podemos dizer: Fé judaica, fé cristã, fé presbiteriana, fé reformada.
Fé salvadora, dom de Deus, obra do Espírito Santo na alma e na vida dos redimidos. Jesus
Cristo é o seu autor e consumador (Rm 12.13; Ef2.8; 6.23; FP 1.29; At 11.21; 1 co 2.5; Hb 12.2). O
Espírito Santo outorga a fé; por ela o salvo agrada a Deus e é justificado (Hb 11.6; Rm 4.16). Pela fé
a Igreja emergiu do "vale de ossos secos", permanece firme e fiel, vence o mundo, resiste o Diabo
(Gl 2.20; Rm 1 1.20; 4.12; 11 Co 1.24; 1 Jo 5.4,5; 1 Pe 5.9; Ef 6.16)
A fé nos conduz a Cristo, cria a esperança, possibilita o amor. Sem fé não se ama Jesus
Cristo. É o dom fundamental da Igreja militante, sofredora, expectante.

DOM DA ESPERANÇA
A esperança, dom do Espírito, difere em substância, natureza e essência da "esperança
psicológica." Aquela se fundamenta na promessa, na graça; está se infere de evidências sociais,
políticas, econômicas e culturais, e depende do poder e das potencialidades humanas. A esperança
cristã não é um simples consolo, uma vaga expectativa de melhora, de bênção; é convicção sólida,
inabalável, da glorificação eterna em Cristo Jesus. Isto porque o salvo possui, aqui e agora", o
"penhor” (arrabón) do Espírito Santo (II Co 1.22; 5.5; Ef 1.14). "Arrabón" significava, nos tempos
neotestamentários, a "primeira prestação” o "sinal inicial", "um compromisso de compra", um
"empenho de palavra". O "arrabón" dava ao promitente comprador o direito antecipado de posse ou
garantia de posse, concluído o pagamento. O regenerado recebeu, no ato de conversão, o "penhor"
(arrabón) da vida eterna. Sua esperança, portanto, não é vã; baseia-se num dom divino, numa
dádiva de Deus por Cristo Jesus, o infalível e onipotente Salvador. Aquinhoados com o "arrabón", o
escolhido foi "selado" como propriedade exclusiva do Rei dos reis (Ef 1.13; II Tm 2.19; Ef 4.30; Ap
10.4; 1 Co 2.9). Sem esperança, a peregrina militância cristã seria insuportável. Ela é a
consequência do consolo do Espírito na existência de cada filho do reino. A estrada espinhosa
conduz a um alvo florido. A glória, a bênção, a paz nos aguardam do outro lado.

O DOM DO AMOR
O dom do amor é de duração eterna. Pela misericórdia de Deus, todos os princípios externos
e estereótipos do legalismo mosaico foram substituídos pelo inefável dom do amor (Mt 22.37-40). O
Espírito Santo capacita a Igreja e cada um de seus santos para o cumprimento da lei de Deus
sintetizada na lei do amor escrita no coração dos fiéis. Nossa comunhão com o Pai celeste e nossa
relação com o se estabelecem pelos vínculos do amor (agape). A essência da fé cristã, não há
dúvida, é o amor, o dom dos dons espirituais, exercidos nos céus e operante na terra, carisma
supremo da comunidade dos eleitos (Ef 6.4; I Pe 1.8; Jo 21.15,16; 13.34; 15.12,17; 1 Pe 1.22; 1 Jo
3.11,23; 4.7).
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O amor é o componente fundamental da natureza de Deus (I Jo 4.7,8; II Co 13.11), a força
normativa, unificadora, fraternizadora e santificadora da Igreja (I Co 16.14; Cl 1.4; 1 Ts 1.3; 3.6; 11 Ts
1.3; Ef 5,2; 4.16; Ap 2.19). O companheirismo cristão só é possível pelo dom do amor (Fp 2.2; Cl
2.2). A santificação dos redimidos é o resultado da prática do amor (Rm 13.10; Cl 3.14; I Tm 1.5;
6.11; 1 Jo 4.12).
Uma Igreja onde haja, ciúmes, orgulho, vaidade, discriminações, intolerância, incompreensão,
amargura, desamor, ódio, vindita, não é, e não pode ser, o corpo de Cristo, não está no Senhor
Jesus, não é templo do Espírito. Sem amor o perdão de Deus não chegaria a mim; o meu perdão
não chegará ao meu irmão. Ele é o dom que nos liga ao Pai e nos confraterniza com o próximo; e
isto pelo ministério do Espírito, o Parácleto, que habita e está nós.

DONS ESPECÍFICOS DO ESPÍRITO - 1 Co 12.12-31


Antes de refletirmos sobre os dons espirituais específicos, aqueles dados a cada crente para
ministério especial, reiteremos o que reputamos de fundamental importância: Todos os escolhidos e
salvos por Jesus Cristo são incluídos no seu povo, a Igreja, e recebem os dons espirituais próprios e
essenciais do organismo eclesial: A fé, a esperança e o amor. Logo, duas conclusões, seguindo a
trilha paulina, afloram evidentes e contundentes: Todos os membros verdadeiros do corpo de Cristo
são batizados com o Espírito Santo. Todos são dotados de dons espirituais na comunhão com o
Salvador, inseridos na fraternidade dos eleitos (Leia com atenção I Co 12.13). Sabe-se, portanto, que
um membro recebeu o batismo com o Espírito Santo se expressa na Igreja e no mundo os dons
capitais: Fé, esperança e amor. O maior, por ser eterno e impressivo destes, é o amor. A fé e a
esperança são dons do homem. O amor é de Deus, principalmente, e também do homem, servo de
Cristo.

RELAÇÕES DE DONS
Na literatura paulina encontramos os dons relacionados, ligados a três comunidades
primitivas, todas gentílicas, de povos e culturas diferentes: Corinto (grega); Éfeso (asiática); Roma
(romana). Na primeira Carta do Apóstolo aos Coríntios há duas relações, uma inteiramente
carismática (I Co 12.7-11), e outra mista, contendo dons carismáticos e dons funcionais ou de ofício
(I Co 12.28-30). Em Efésios 4.11-12 e Romanos 12.6-8 os dons são exclusivamente de funções.
Comparem-nos:
I Co 12.28-30: Apóstolos, profetas, mestres. Estes são os principais por ordem de colocação.
Depois: Milagres, cura, socorro, governo, línguas (variedades).
Efésios 4.11: Apóstolos, profetas, evangelistas, pastores, mestres.
Romanos 12.6-8: Profecia, inistério, ensino, presidência, beneficência. Todos dons de
ministérios funcionais ou de ofício.
I Co 12.8-10: Sabedoria, conhecimento, fé, cura, milagres, profecia, discernimento de
espíritos, variedades de línguas, capacidades para interpretar línguas.
Observem que, além dos dons essenciais presentes no contexto geral do Novo Testamento e
explícitos em I Co 13.13, somente dois dons são comuns nas três listas mencionadas: Profecia e
ensino I Co 12.28 (mestres); Ef 4.11 (mestres): Rm 12.6, 7 (ensino). Estes dons são indispensáveis à
Igreja, fazem-se presentes em todas as comunidades, embora não sejam dados a todos os
indivíduos. Recebem-nos os vocacionados ao ministério da pregação (Kerygma) e ao do ensino
(didachê). Denominemo-los dons funcionais da expansão e consolidação da Igreja universal, os
maiores carismas individualizados do reino de Cristo, além de universais, presentes nos três povos
dominantes: Romanos, asiáticos e gregos, além dos dons gerais já mencionados. O profeta
(mensageiro, pregador) dilata a tenda do Israel cristão; o mestre firma-lhe as estacas apostólicas
sobre o fundamento, Cristo Jesus. O profeta é o pedagogo da catequese; o mestre é o rabi das
novas sinagogas, as unidades celulares da Igreja universal. São servos carismáticos, não extáticos,
chamados, ungidos e ordenados para o ministério da palavra na proclamação e no ensino (Mt
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28.19,20). O profeta e o mestre nascem do batismo do Espírito Santo pelo qual se habilitam e se
tornam poderosos ministros (At 1.4,5 cf 1.8; 24.49).

DONS DA SABEDORIA E DO CONHECIMENTO


"Porque a um é dada, mediante o Espírito, a palavra da sabedoria; a outro, segundo o mesmo
Espírito, a palavra do conhecimento (1 Co 12.8).
A expressão: "a palavra da sabedorias (logos sophias) indica, conforme o universo
significativo dos "charismata" (dons) que alguns crentes recebem capacidade para em situações de
crise, em momentos decisivos, em confrontos desiguais, e estando em jogo a defesa da fé, a
unidade do povo de Deus, a santidade da Igreja, a proclamação e a sustentação do Evangelho de
Cristo falarem, por revelação, o que deseja o Espírito; "E, quando vos entregarem, não cuideis em
como ou o que haveis de falar porque naquela hora vos será concedido o que haveis de dizer; visto
que não sois vós o que falais, mas o Espírito de vosso Pai é quem fala em vós" (Mt 10.19,20). No
primeiro tribunal que os apóstolos enfrentaram, o Sinédrio, o Senhor concedeu a Pedro a "palavra da
sabedoria": "Então Pedro, cheio do Espírito Santo, lhes disse: ..."Ao verem a intrepidez de Pedro e
João, sabendo que eram homens iletrados e incultos, admiraram-se; reconheceram que haviam eles
estado com Jesus" (At 4.8, 13). Aliás, Pedro já havia demonstrado o "dom da sabedoria", a faculdade
de falar por revelação, ao afirmar: "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Jesus lhe declarou que
semelhante confissão não lhe nascera do conhecimento humano empírico ou filosófico, mas por
revelação: "Bem-aventurado és, Simão Bar-Jonas, porque não foi carne e sangue quem to revelou,
mas meu Pai que está nos céus" (Mt 16.16, 17).
O homem se habilita em dois tipos de conhecimento, um de natureza cognitiva, cogitativa,
racional, outro espiritual, transcendente, dado por revelação. Qualquer pessoa que aceita Jesus
Cristo como Emanuel e o adota como seu único, eficiente e suficiente Salvador, recebe-o como
Senhor absoluto de sua vida e de seu destino, somente o faz por meio da sabedoria e do
conhecimento revelados. Pode ser indouto quanto à sabedoria intelectiva, mas sábio será em relação
ao espiritual, ao revelado: "Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas
coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos" (Mt 11.26). Não pode haver
entendimento sem conhecimento. O servo do Senhor Jesus entende o seu Mestre pelo "charisma"
do conhecimento, em maior ou menor medida todos os membros do corpo de Cristo possuem o dom
do conhecimento em grau suficiente para aceitação da proposta redentora, inclusão na Igreja,
permanência na fé, crescimento beatífico. Nenhum remido, sábio segundo o Espírito, pode ser
chamado de "tolo" (moros), simplório, estulto, mentalmente incapaz de ajuizar os eventos. O estar
em Cristo comprova os dons ou "charismata" da sabedoria (sophia) e do conhecimento (gnosis).
Classificá-lo de "moros" (tolo) é afirmar que está despido da graça, do "charisma" do Espírito,
excluído, portanto, da comunhão dos santos. É uma ofensa pesada, imperdoável (Mt 5.22).
Os dons da sabedoria e do conhecimento são instrumentais da fé, da pregação (Kerygma) e
do ensino (didachê). Espírito Santo que temos a mente de Cristo (I Co 2.16), conhecemos e
discernimos os fatos espirituais, as leis de Deus (I Co 2.10 12), falamos a "palavra da sabedoria”
(logos sophias I Co 2.13). Pela sabedoria do mundo não se chega ao conhecimento de Deus (1 Co
1.21; 2.14).
A sabedoria e o conhecimento espirituais são dons do Espírito Santo (charismata) e não
conquistas humanas. Por isso o intelectual e o analfabeto, no concerto dos eleitos, igualam-se. A
razão não condiciona a graça nem lhe é empecilho. A sabedoria de Deus e a do mundo não se
excluem, mas também não se incluem. Uma prepara o homem para ser útil à sociedade científica,
social e materialmente; outra prepara o cidadão do céu para ser uma glória para Deus e uma bênção
para o próximo, São paralelas, mas de objetivos distintos. A espiritual não nos leva ao Nobel de
física; a científica não nos conduz ao céu.

O DOM DA FÉ
"A outro, no mesmo Espírito, fé* (I co 12.9a).
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A fé, dom carismático, um dos equipamentos da Igreja na pessoa de alguns membros, não
pode ser confundida com a fé salvadora, uma dádiva da graça a todos os eleitos no corpo de Cristo
pela qual são salvos e justificados. Esta não tem gradação, é igual e única para a totalidade dos
escolhidos. Não há salvação por medida.
A fé carismática, porém, segundo os propósitos do Espírito, pode ser pequena ou grande,
fraca ou forte, passível de crescimento ou decréscimo, A missão dos irmãos fortes, sem qualquer
privilégio é ajudar os fracos.
A fé carismática se expressa, mais em uns que em outros da comunidade, em linhas gerais,
pelas seguintes virtudes: Confiança Inabalável na Providência Divina (Mt 6.25-34). Há salvos com
pequena fé (6.30) que se angustiam diante das crises econômicas, ansiosamente preocupados com
as reservas para o futuro (Mt 6.31). Esses precisam ser ajudados e confortados, na irmandade, pelos
mais confiantes. Filhos existem, com iguais origens e direitos, que confiam mais no pai que outros.

CRENÇA SEM MULETAS


Membros a Igreja possui que creem em Cristo, são bons moralmente, honestos
espiritualmente, mas frágeis, possuindo "muletas" para caminharem a jornada da fé tais como:
Comida (Rm 14.2; I Co 6.12, 13); Dia (Rm 14.5,5; Gl 2.16); Visões (Cl 2.18). O crente fraco, escorado
na muleta de sua fraqueza, não perdoa, não tolera a fraqueza do outro. Por isso, Paulo recomenda
aos irmãos fortes, firmados exclusivamente em Cristo: "Acolhei ao que é débil da fé" (Rm 14.1a); ora,
nós que somos fortes, devemos suportar as debilidades dos fracos, e não nos agradar a nós
mesmos" (Rm 15.1). Pelo dom da fé, não esperemos compreensão dos fracos; perdoemo-los.

FIRMEZA, PERSEVERANÇA
O dom da fé permite ao crente humilde indouto, permanecer inarredável na sã doutrina,
perseverar em Cristo Jesus, assimilar a mensagem sacrossanta do Evangelho redentor do Filho de
Deus, captar a voz do sumo Pastor de sua alma no meio da vozearia de inumeráveis e persistentes
falsos profetas, místicos heréticos e anticristos persuasivos. E a fé que possibilita a recepção não
racional das verdades reveladas, que abre os canais, mediante a graça, para que o Espírito Santo
testifique com o nosso espírito que somos filhos de Deus (Rm 8.16), e nos leva a tomar atitudes, nem
sempre lógicas, movidos pela vontade de Deus como aconteceu com os patriarcas do Velho
Testamento, Abraão, Isaque e Jacó (Hb 11.8-22).

CERTEZA E ESPERANÇA
A fé carismática, embora pareça convicção intelectual e psicológica, é, na verdade, certeza e
esperança espirituais, posto que se firma em conhecimento revelado de fatos não visíveis, de
verdades não indutivas ou dedutivas (Hb 11.1-3).

PRODUZ AÇÃO
O homem de fé age, não conforme seus desejos, mas segundo as determinações de Deus.
Abraão fez isso (Gn 12.2-4). Noé construiu a Arca sob o escárnio e a zombaria do mundo descrente
(Leia Hb 11.7). A fé salvadora, inefável dom da graça, nos liga indissoluvelmente a Cristo; a fé
carismática nos impulsiona à ação missionária e à edificação dos irmãos como instrumento do poder
de Deus, inclusive para vencer as tentações, influências malignas em nós e na Igreja, e exorcizar
Satanás do meio onde penetramos como sal, fermento e luz. O Diabo pouco ou nada consegue por
meio de possessões de filhos das trevas; danos horríveis, contudo, tem ele causado nos arraias
cristãos por seus meios favoritos e eficazes: Mentira, falsidade, hipocrisia, desamor,
contendas, desconfianças, intolerâncias, concupiscências, avarezas, invejas.
"Sem fé é impossível agradar a Deus" (Hb 11.6), isto é, crer sem vacilar no Criador e se tornar servo
obediente do Salvador. Esta fé da esperança, da certeza e da ação remove montanhas.

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O DOM DA CURA E O DOS MILAGRES


"E a outro, no mesmo Espírito, dons de curar; a outro, operações de milagres" (I Co 12.9b
a10a).
O dom de curar, embora tenha de ser visto à luz daqueles tempos, liga-se à fé, um dom
inerente ao ser humano de todas as s épocas, raças e culturas. A fé, quando não orientada pelo
Espírito Santo, pode levar o homem a fixá-la em ídolos, pensando entrar, por meio de objetos criados
e de criaturas, em contato com o sobrenatural, dele tirar benefícios imediatos. E coisas inoperantes,
e até inexistentes, têm operado "maravilhas". Como os raios dispersos do sol, unidos num só feixe e
focalizados num único ponto podem queimar até o aço; assim a fé, força mística que concentra todas
as energias cerebrais, todas as potencialidades mentais, quando direcionada firme, compacta e
convictamente sobre um alvo definido, os resultados podem ser surpreendentes, extraordinários.
Este dom sob o comando interno do Espírito centraliza o crente em Deus, transformando-o no mais
poderoso dos carismas. E os milagres acontecem, mas sem a jaça da idolatria. A fé remove
montanhas, quando carismática, e ergue montanhas, quando idólatra e sob o controle do maligno.
Na era de Paulo as religiões pagãs circundantes tinham seus magos, seus bruxos, seus
fetiches, seus deuses milagreiros (therapeuontes), num mundo onde a medicina palmilhava a estrada
da insipiência, desconhecendo a patologia microbiana, a neuropatologia, a psicopatologia. Todos os
fenômenos paranormais analisavam-se como intervenções de seres espirituais, bons ou maus. A
carência de somaterapia eficaz e confiável possibilitava o desenvolvimento da psicoterapia
inconsciente, mágica e misticamente espiritualizada. Em muitos casos não se podia oferecer aos
pacientes outra alternativa de tratamento. E as curas reais eram abundantes. Ora, a Igreja, povo de
Deus, norteada pelo Espírito Santo, não podia recorrer aos terapeutas pagãos, nem ficar
desassistida. Deus suscitou pessoas com o "carisma" especial para curar e fazer milagres por meio
da fé carismática, sem qualquer proeminência endeusadora do irmão dotado, mesmo porque a
capacitação para o exercício da cura vinha do Espírito a quem se creditava o poder e a honra.
Naquela época, o dom de curar não era um carisma galardoador, mas uma necessidade
inadiável, quer por processos quimioterápicos naturais, quer por meios pneumáticos. Não havia
confronto entre a ciência e a fé, entre a ação do médico e a do pneumático. Todas as curas eram
tidas como miraculosas, consequências da intervenção da divindade. Hoje, pela incontestável
atuação de Deus na história, vivemos num mundo cientificamente evoluído, onde o Criador, por meio
dos recursos da psicologia, da psiquiatria, da alopatia, da macro e micro cirurgias, e até da
homeopatia e da parapsicologia, tem realizado prodígios grandiosos, inumeráveis, embora os olhos
cegos pela moderna não enxerguem. Houve tempo em que somente se cuidava da "psichê", depois
passou-se a tratar exclusivamente do "soma" (corpo). Modernamente se entende o homem como
composto, mas unificado, um conjunto psicossomático. O que atinge o corpo, afeta alma e vice-
versa. O dom de curar situação contemporânea, pode manifestar-se por aprimoradas habilidades
clínicas cirúrgicas tanto quanto por eficientes pressões de fé carismática na indiscutível
"pneumoterapia" ou "psicoterapia". Em todos os casos, a obra é divina, pois a cura é bênção de
Deus.
A fé carismática pessoal é importantíssima na manutenção da harmonia e da saúde do corpo
bem como da cura de muitas doenças. O dom da fé, no entanto, pode curar os que não a podem ter
ou não a receberam. É caso do paralítico que Jesus curou pela fé dos que o levaram a ele (Mc 2.1-
12). A fé atua em favor do que crê em benefício do próximo.
A fé canaliza as ondas cerebrais e as energias vitais na direção de um objetivo determinado.
Quando isso ocorre, o milagre acontece. No crente e na Igreja quem desencadeia a fé e especifica
os fins é Deus pelo Santo Espírito. Por isso, somos objetivos e instrumentos de curas e milagres a
cada instante, ainda que não percebamos.
Os milagres pela crença pagã e idólatra, são realizados por "fé psicológica", um tipo de
"concentração", por parte do operante, e “submissão" absoluta e crédula da parte do "paciente". Isto
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pode acontecer na Igreja, se a vontade do homem prevalecer sobre a de Deus. Neste caso, os
milagres são de "encomenda", segundo os propósitos do milagreiro, perdendo o aspecto de
imprevisibilidade. Deus faz milagres quando, onde e como quer, pela prece de um crente, pelo bisturi
de um cirurgião, por ambos ou sem eles. O soberano Senhor não se move por controladores,
convencedores e impulsionadores da criatura, mesmo sendo esta sua imagem e semelhança.
Do conteúdo da fé carismática não se elimina o componente psicológico. O psíquico e
pneumático são inexcludentes. O homem é um ser religioso por natureza. O teotropismo é sua
característica universal. A fé lhe é inerente, mas pode ser, e tem sido, desviada do Deus verdadeiro
para falsas divindades. Esta fé, virtude teologal exclusiva do ser humano, não se confunde com a fé
salvadora trazida e outorgada por Cristo Jesus, responsável pelo milagre dos milagres, a redenção
do pecador.

O DOM DA PROFECIA
"Segui o amor, procurai com zelo os dons espirituais, mas principalmente que profetizeis" (I
Co 14.1).
O texto parece ensinar que os dons espirituais podem ser conquistados por esforços místicos
e beatíficos. O contexto, porém, desautoriza tal interpretação, pois a ação do Espírito Santo,
Segunda Pessoa da soberana Trindade, nos escritos sagra dos, é sempre absolutamente livre de
intervenções humanas na consecução de objetivos. Além do mais, a idéia no original não é a de
"procurar", mas a de exercitar com dedicação, amor e aplicação o recebido. O verbo traduzido pela
expressão. "procurai com zelo", na Almeida Revista Atualizada, é "zeloute", de "zêo" que significa
"estar quente", "ferver", "ser ardente Assim, a mim me parece, a melhor tradução da segunda oração
do período seria: "Sede espiritualmente fervorosos (zelosos)." O texto fica mais lógico, harmônico
com o antecedente: "Segui o amor", um dom Já recebido e que deve ser praticado, e com o
subsequente: "Mas principalmente que profetizeis outro "carisma", agora da Igreja total, sacerdotal, a
ser posto em execução. Por outro lado, a palavra "dons" não é citada no grego. A frase "dons
espirituais" é tradução de uma única palavra: "Pneumatiká", acusativo plural neutro de
"pneumatikós", espiritual, o que possui a nova natureza segundo a orientação do Espírito,
santificado, regenerado.
A predição de Joel, interpretado por Pedro no sermão pentecostal, revela, sem qualquer
possibilidade de equívoco, que o Espírito Santo foi derramado sobre toda carne, isto é, sobre a
totalidade dos membros da Igreja, o novo Israel gerado e mantido por Cristo Jesus, e a capacidade
profética seria um dom geral da liderança e dos liderados (Atos 2.17, 18). Desta maneira, o dom da
profecia iguala-se aos "charismata" fundamentais do corpo de Cristo: Fé, esperança e amor,
obrigatórios e comuns a todos. Devemos distinguir, como já fizemos com a fé, a profecia, dom de
todos, um carisma do corpo e dos membros, daquele dom concedido a homens especiais, que se
tornam arautos de Deus ou intérpretes de sua vontade para os fiéis e para o mundo. Neste caso, e
no conjunto hierárquico dos dons, ele (o dom da profecia) ocupa o segundo lugar, imediatamente
depois do "carisma apostólico": "A uns estabeleceu Deus na Igreja, primeiramente apóstolos, em
segundo lugar profetas, em terceiro lugar mestres, depois operadores de milagres dons de curar,
socorros, governos, variedades de língua" (I Co 12.28).
De um modo genérico, todos os crentes, membros efetivos do corpo de Cristo, são profetas,
recebem do Espírito Santo o dom de entender, por iluminação, a vontade de Deus expressa nas
Escrituras Sagradas, e todos, por inspiração, são capazes, em menor ou maior grau, de interpretar a
palavra de Deus na medida necessária à edificação e comunicá-la com poder salvador aos
não regenerados. São funções caracteristicamente proféticas. Ao profeta ordenado e consagrado
compete a doutrinação dos eleitos. Aos profetas carismáticos o Senhor entrega o ministério profético
da evangelização dos povos. Assim, o pastor é um profeta para a Igreja, especialmente; o crente é
um profeta para o mundo, necessariamente. O pastor na massa dos crentes; os crentes na massa da
sociedade.
Premonição, virtude parapsíquica, não se confunde com profecia, dom do Espírito. Uma é
adivinhação, outra é pregação da palavra de Deus conforme as Escrituras Sagradas.
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SUPERIORIDADE DA PROFECIA
O profeta não é um adivinho (mantis) mas um anunciador da Palavra de Deus. Como a
revelação, procedendo do Eterno não se cronometra, não se limita às dimensões temporais de
pretérito, presente e futuro, a mensagem profética pode conter, não essencialmente, premonições e
profecias. Deus, por diversos meios, segundo seu querer, coloca sua palavra na mente, na
consciência, no coração e na boca do profeta. Enquanto a vontade do Salvador não se completou na
encarnação do Verbo, o revelador final do Pai, e não se fixou nas Escrituras Sagradas, as revelações
eram diretas, antecipadas pelo Espírito Santo. Hoje se consuma em Cristo interpretado pelo
Parácleto, consubstanciado no Novo Testamento. A revelação, portanto, necessária à da Igreja e à
salvação dos povos, contém-se, Inteira e suficientemente, nos escritos bíblicos. O papel do profeta
cristão é, iluminado e inspirado pelo Espírito Santo, aprender as verdades escrituristicas e comunicá-
las à cominidade eclesial para que seja por esta incorporada, vivenciada e transmitida aos
renerados.
Paulo, em todo capítulo quatorze da Primeira Carta aos Coríntios, procura mostrar a
superioridade da profecia sobre a glossolalia. A Igreja se nutre da profecia. A Bíblia é seu resultado,
seu registro e fonte. Não há nela um único versículo glossolático. As línguas extáticas, portanto, em
nada contribuíram para a formação do cânon bíblico, conjunto revelacional do Velho e Novo
Testamentos, nossa exclusiva regra de fé e norma de conduta. O recurso, pois, que Deus usou para
revelar-se à Israel e à Igreja, e por eles, ao mundo, foi, indubitavelmente, a profecia. A língua
ininteligível, conclui Paulo, embora seja uma forma de comunicação pessoal e particular com Deus,
oculta o mistério, mantém ignota a vontade do Redentor. A profecia, pelo contrário, abre a cortina do
Santo dos Santos para deixar à vista e à disposição dos seres humanos os segredos eternos,
insondáveis, incomensuráveis e indescritíveis dos reveladores propósitos divinos. Profecia é
revelação; língua estranha é ocultamento (I Co 14.2,3,6). Nem todos na Igreja são profetas oficiais,
mas todos profetizam, isto é, comunicam aos pecadores o conteúdo da revelação contido na Bíblia e
encarnado na vida dos autênticos servos de Deus em Cristo Jesus, os santos da nova aliança.
A profecia é transparente e não aberra dos princípios racionais. Pode, portanto, ser julgada (I
Co 14.29). As faculdades da mente do profeta, segundo Paulo, não são bloqueadas e nem anuladas.
Mantém-se o autocontrole enquanto parte de Deus, profetiza: "Os espíritos dos profetas estão
sujeitos aos próprios profetas (I Co 14.32), Deus não automatiza o homem para transformá-lo em
profeta; usa-o como arauto, intérprete, porta-voz e embaixador em plena consciência de sua missão,
comunicação e atos.
O Espírito Santo aguça a inteligência, a percepção e a sensibilidade do profeta para que ele
veja, ouça, perceba e interprete o recado divino. Em suma, a mente de Deus coloca na mente do
profeta, num diálogo transcendental, espiritual profundo, mas racional do Senhor com o servo, o
oráculo revelacional. O profeta, homem de Deus, vê e entende o Criador. Nós ouvimos e
entendemos o profeta, quer o da profecia escrita nos testamentos bíblicos, quer o da interpretação
da palavra de Deus, os mensageiros eleitos, vocacionados, ordenados e consagrados para
edificação da Igreja hodierna. O profeta é um perspicaz cognoscitivo movido por Deus, não
simplesmente um extático fora de si. Na área da revelação, a profecia é dom supremo, o sinal da
ação do Espírito Santo em benefício da Igreja e da humanidade. O crente anda por profecias, não
por glossolalias. A Bíblia é um livro profético, não glossolálico. Sua linguagem é clara; sua
mensagem, inteligível. A língua e a linguagem são dons de Deus, instrumentos de comunicação
horizontal (do homem para o homem) e vertical (de Deus para o homem e do homem para Deus).

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AULA I
O DOM DE LÍNGUAS

"A variedade de línguas; e a outro, capacidade para interpretá-las" (I Co 12.10)

LÍNGUA, INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO


O ideal seria que todos os povos falassem a mesma língua. A realidade, porém, é outra. Cada
cultura qualifica-se e se define por seu idioma particular. A multiplicidade cultural provocou a
variedade de línguas, sendo-a verdadeira. Ora, o Espírito Santo, para ser um "comunicador", um
revelador universal eficiente, teria que falar todas as línguas pela boca dos novos profetas do
Evangelho universal. E falou. Ouvimo-lo em português pelas Escrituras traduzidas e pela mensagem
dos pregadores nacionais, fenômeno que se verifica em quase todos os idiomas e dialetos do nosso
planeta.
Antes, no entanto, se acreditava que a língua dos anjos e de Deus era o hebraico (ou o
aramaico), instrumento pelo qual YAHWEH comunicou-se com seu povo, falou pelos profetas,
estabeleceu um código de princípios doutrinários e éticos, instituiu uma ordem litúrgica predicativa e
preditiva, preparando o velho Israel para o novo, em Cristo Jesus. A mosaica não admitia, nem
sequer tolerava, a ideia de o Deus de Abraão, Isaque e Jacó falar em línguas gentílicas, profanas, na
origem e na essência. Eis porque a Septuaginta jamais foi assimilada pelo judaísmo racional, a
despeito da lenda de sua tradução com pretensões de transformá-la em "obra autorizada", provando
assim que o Deus dos judeus também falava em outras línguas.
Em verdade, o grego, no setor da comunicação, foi a maior força universalizadora do Novo
Testamento e da Igreja nos primórdios da fé cristã. Era o Deus das quatro letras hebraicas (o
tetragrama sagrado - YHWH), revelado em sigilos e símbolos helênicos na linguagem popular (o
Coinê), bem como por línguas de outras culturas. O pentecostes deve ser entendido como a síntese
do que haveria de ser a Igreja, como "evento-fé” representativo da sua ecumenicidade e
universalidade. Agora não se precisa ir a Jerusalém para se ouvir a mensagem profética na língua
original (hebraico ou aramaico) do Senhor dos Exércitos. Ele fala, pelo mesmo Espírito, a todas as
civilizações, utilizando-se de cada grupo linguístico. Ensina-nos com igual autenticidade, veracidade
e autoridade, em inglês, francês, alemão, espanhol, japonês, português etc. As línguas são diversas,
mas o Espírito é o mesmo, pregando a mesma palavra.
À luz do que se disse, não é fora de propósito afirmar que o Pentecoste é o reverso de Babel.
Num, o povo único dividiu-se, partiu-se em facções, e estas se dispersaram por causa das "línguas’’
ininteligíveis entre si. Noutra, os dispersos, habitantes de todas as partes do mundo, remanescentes
da velha unidade, de diferentes idiomas, línguas e dialetos, cada um em sua cultura ambiental,
ouviram Deus falar, pelo Espírito Santo, instrumentalizando os apóstolos, em linguagem clara e
inteligível, aos seus corações e intelectos.
A diversidade não quebra a unidade, quando o Espírito atua no estabelecimento da
comunhão dos santos. Deus não tem uma língua padrão; comunica a graça na língua natural de
cada servo. No corpo universal de Cristo há diversidade de línguas, mas a unidade se constrói pelos
vínculos espirituais, pela identidade da fé, pela consensualidade ética, pela catolicidade profética,
pela intocabilidade das Escrituras, pela similaridade. Tudo porque um só Espírito é o agente da Igreja
universal. Para ele as línguas são meios, veículos, não barreiras impedidoras ou poderes
desintegrados. Deus se mostraria incapaz de se comunicar com os seres humanos, pelo menos
encarnada e realisticamente, se nos falasse em "línguas de anjos" ou "estranhas". Cristo, porém,
veio falando a nossa língua no vocabulário das massas. É assim que Deus se revela,
essencialmente.

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XENOGLOSSIA E GLOSSOLALIA
Xenoglossia é a capacidade psíquica de se falar línguas desconhecidas, estrangeiras.
Glossolalia é a faculdade de se pronunciar em linguagem ininteligível, em sons inarticulados,
desconexos. Tanto a xenoglossia como a glossolalia foram fenômenos conhecidos, praticados por
místicos pagãos, segundo o testemunho de Platão (429 – 347 a.C.) em suas obras, "Phaedrus" e
"Timaeus”, e de Virélio (70-19 a.C.) na "Eneida". As pitonisas de Delfos ficaram famosas como
xenoglossistas e glossolalistas, com destaque para a Sibelina.
Sobre a anterioridade de línguas extáticas citemos dois textos decisivos de B.P. Bittencourt,
em seu livro, Problemas de Uma Igreja Local, 1ª Ed., 1962 - páginas 119 e 120: "Plutarco conta que
o estilo mais velho dos oráculos dos pítios de Delfos eram versos, línguas, sentenças ambíguas e
dons obscuros. Notem essa semelhança entre essa informação de Plutarco e o que Paulo refere em
I Co. 14.9-11). Plutarco foi contemporâneo dos Apóstolos. Nasceu em Beócio, morreu em Delfos, no
ano 120. “Os papiros mágicos, especialmente os exemplares estudados por J. Weis e Deissman,
revelam através de seus registros, a existência antiga do fenômeno de línguas estranhas. Um
deles, o Código 2.316 de Paris, registra um hino de Moisés que começa assim: Belo, thabôr akanthá
namelá lambalá arimissaf bassasmá etc. (grego transliterado). Os acentos do português nas últimas
cinco palavras representam os do grego a fim de darem uma idéia mais precisa de manifestação
extática através da rima. No chamado Papiro de Leiden, em que Hermes é invocado, aparece algo
muito semelhante ao que modernamente se pode ouvir nalgumas congregações. Repare-se, pelo
menos, o final desta frase grega no referido papiro: "Hê docsa aaa êêê ôôô".
Corinto era uma cidade helênica cosmopolita capital da Acaia, situada junto ao porto
internacional de Lechaeum. O Deus nacional era Poseidon, mas o culto mais popular era o de
Afrodite cujo templo se situava no topo do monte Acrocorinto com cerca de mil sacerdotisas,
prostitutas sagradas que, por meio do ato sexual, traziam a vida dos deuses ao mundo, segundo se
acreditava. O sensualismo, o sexualismo e o emocionismo permitiam, nos cultos afrodíticos
femininos, o afloramento de expressões extáticas incontroláveis.
Para evitar o paralelo com os rituais pagãos ou mesmo influências indesejáveis na liturgia
cristã provenientes das práticas do paganismo, Paulo, embora não negue a da xenoglossia e da
glossolalia, afirma que o crente se orienta por um único Espírito Santo: "E se alguém não tem o
Espírito de Cristo, esse tal não é dele. Rom 8.9b. "Sabeis que, outrora, quando gentios, deixáveis
conduzir-vos aos ídolos mudos, segundo éreis guiados” (I Co 12.2). No conjunto geral dos dons
carismáticos Paulo inclui o do discernimento de espíritos" (I Co 12. 10b). Isto porque, em estado de
êxtase, falando inconscientemente, poder-se-ia ser instrumento de outro espírito que não o Espírito
Santo. Este dom evitaria a penetração de agentes malignos sob a atraente indumentária dos
"prodígios" e de línguas extáticas.
O que acontecia nos tempos bíblicos repete-se hoje: Há glossolalia e xenoglossia numa área
considerável do cristianismo evangélico tanto quanto, e até mais e com maior espetacularidade, no
catolicismo carismático e nas várias correntes espíritas. No espiritismo popular a glossolalia ou
"línguas do além" é comuníssima, ficando a xenoglossia mais para o kardecismo e os ramos
teosóficos. Mais que nunca precisamos "discernir os espíritos" para não sermos enganados e nem
permitirmos que a Igreja o seja.
As pessoas cujo consciente sofre algum tipo de bloqueio aguçam o inconsciente e o liberam
para manifestações hiper-sensórias e paranormais. Os grandes hiperestésicos e metagnomos
estudados atestam a presente assertiva. As exceções confirmam a regra. A pitonisa de Delfos ilustra
bem o que se afirma. Oscar G. em seu livro, "A Face da Mente', Ed. Loyola, S.Paulo, 1983, 310
páginas 270/271 registra: "A Pitonisa de Delfos - O oráculo sem dúvida mais famoso foi o de Delfos,
cidade da Grécia. Era dedicado a Apolo, o deus da adivinhação. Na parte posterior do templo
encontrava-se a boca dum abismo da qual subia na primavera uma corrente de ar gelado e
narcotizante; sobre o abismo, na estreita abertura, estava instalada uma trípode de ferro com um
assento. Nele sentava-se a sacerdotisa a quem chamavam Pítia. Do nome pítia proveio o nome
pitonisa que depois se generalizou para designar toda classe de adivinhos. A Pítia era
cuidadosamente escolhida. No princípio só havia uma, mas quando as consultas aumentaram
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acrescentaram-se mais uma e até duas. Procuravam-se entre as famílias pobres e deviam ter vivido
em plena ignorância. Além disso se escolhiam entre as mulheres que sofriam doenças nervosas,
preferentemente histéricas ou neuróticas que, padecessem convulsões e proferissem gritos
incontrolados e incoerentes. A Pítia mascava folhas de loureiro e bebia a água gelada na fonte de
Castália que brotava ao pé do rochedo Nimpea, perto do templo. Coroada de louros era conduzida
ao templo e colocada na trípode sobre a abertura do abismo. Com a sua propensão doentia,
influenciada pelas emanações de gás fria e embriagado começava a agitar-se, revirava os olhos,
lançava olhares como possuída pelo pântano. Um forte tremor percorria-lhe todo o corpo lançava
gritos estridentes, perdia totalmente os sentidos. E, entre convulsões, proferia vozes ou sons
incoerentes, que interpreta dos pelos sacerdotes do templo ("profetas") constituíam os oráculos ou
vaticínios. Após ter pronunciado suficiente número de palavras ou proferido sons ininteligíveis, a Pítia
era retirada da trípode e conduzida a uma cela. Ficava recolhida para desintoxicar dos gases
narcotizantes. ”
Recomendamos a obra citada. O autor é autoridade em parapsicologia.
Para ser uma boa pítia e produzir glossolalia convincente requeriam-se: Pobreza ou condições de
penúria, ignorância, personalidade psiconeurótica ou psicopática. A xenoglossia e a glossolalia
modernas, inter ou extra-eclesiásticas, de modo geral, produzem-se dentro do mesmo quadro
patológico. As pessoas indoutas, carentes e histéricas são extremamente propensas à
hiperestesia e à paranormalidade. Sobre uma pessoa adequada, agindo sob estimulantes ou
excitantes químicos ou religiosos (místicos), os fenômenos se produzem. No caso da Pítia de Delfos,
ambos os excitantes se utilizaram: Folha de loureiro mascada, gás inebriante e ambiência mística. O
torpor e o êxtase frequentemente se confundem pela similaridade dos efeitos.
A glossolalia de todos os tempos, fundamentalmente, possui o mesmo transfundo psíquico.
Estudando o passado, entendemos o presente, pois aquele se repete neste. A predominância dos
glossolalistas modernos é de carismáticos ou sensitivos provenientes das classes de extrema
carência social, cultural, econômica, afetiva, e com problemas de histeria e de neurose velados ou
manifestos.
O homem é extremamente complexo, e com ele o Espírito Santo trabalha no contexto da
Igreja, usando-o como Deus o fez, com dons naturais, espirituais, sensoriais e extra-sensoriais. Fora
do corpo de Cristo, os fenômenos são os mesmos, mas os objetivos são carnais, idolátricos e
anticrísticos. Fanáticos e idólatras de um mundo anímico consultaram divindades pagãs por
glossolalia e xenoglossia e supuseram ouvi-Ias por tais meios, mas o cristão possui um Deus
encarnado, histórico, verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus, que lhe fala na língua pátria
sem quaisquer intermediações estranhas às Escrituras Sagradas. A Bíblia é a nossa única regra de
fé e norma de comportamento. Por ela, e somente por ela, Deus fala ao seu povo, a Igreja de Jesus
Cristo.

O DOM DA INTERPRETAÇÃO
"A uma variedade de línguas; e a outro, Capacidade para interpretá-las" (I Co 12.10). "Pois quem fala
em outra língua não fala a homens, senão a Deus, visto que ninguém o entende, e em espírito fala
em mistérios" (I Co 14.2).
Em Corinto havia xenoglossia e glossolalia, isto é, fala extática em idiomas estrangeiros e
sons inarticulados ininteligíveis. Os textos citados introduzem a questão. A xenoglossia, fenômeno
possível hoje, mas raríssimo, diz Paulo que acontecia em cumprimento ao que se escrevera na lei:
"Falarei a este povo por homens de outras línguas e por lábios de outros povos, e nem assim me
ouvirão, diz o Senhor" (I Co 14.21). Neste caso, conclui o apóstolo, a língua estrangeira é um sinal
para os incrédulos, não para os crentes (I Co 14.22).
Em outras palavras: O novo Israel é universal. A mensagem redentora comunicava-se a todas
as nações, a partir dos originais hebraico e aramaico, mas rejeitada pelos judeus, retoma aos
emitentes por lábios gentios em línguas e dialetos nativos. E isto seria um escândalo, pois os filhos
de Abraão não admitiam que YAHWEH falasse em línguas profanas, e ainda mais lhes pregasse por

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"pecadores" e "injustos", termos com os quais estigmatizavam os estrangeiros. O culto, porém, na
dispensação da graça, não era privilégio dos israelitas, mas expressões ecumênicas da humanidade
ao Salvador universal. Os xenoglossistas foram os protótipos, os exemplares demonstrativos da
Igreja nascente, do que o cristianismo viria a ser: A fé sem fronteiras raciais, culturais e linguísticas,
com Deus falando na língua de cada povo, convertendo pecadores, regenerando vidas, santificando
almas. E tudo graças aos abnegados tradutores e santos intérpretes da parte do Verbo.
Deus, por sua sabedoria insondável e soberana, usando homens de poucos conhecimentos e
socialmente humildes, evangelizou o mundo em tempo recorde. A xenoglossia é uma antevisão e
uma antecipação desta história nos pentencostes de Jerusalém, de Éfeso, de Cesaréia, na Casa de
de Cornélio (Atos 2.4; 19.6; 10.44-46).
O intérprete da xenoglossia pode ser hiperestésico ou um estudioso aplicado dos originais,
habilitado a interpretá-los. O da glossolalia, teria de ser, obrigatoriamente, um telepata hiperestésico
para ler na mente ou no subconsciente do glossolálico a "mensagem" que a língua não articulou
compreensivamente. No entanto, o discípulo de Gamaliel parece insinuar que interpretação de língua
inarticulada é inteiramente desnecessária e impossível pelos seguintes motivos:
a) Não se destina a homens, mas a Deus (I Co 14.2a), e este não precisa de intérprete por
ser onisciente e porque a linguagem do Espírito é sua própria linguagem, pois Deus é triunitário. Os
homens também não precisam de intérprete, pois o oráculo glossolálico não se lhes concerne.
b) Ninguém entende (I Co 14.2b), e nem ao entendimento se dirige, pois se trata de
linguagem espiritual, entre o fiel e Deus na privacidade da oração íntima.
c) Fala mistérios. (I Co 14.2c) palavra "mistérios" (mystérion) significa "secreto", não revelado,
mantido em sigilo. O contexto mostra que se trata de indescritível relação do suplicante ou laudador
com seu Senhor por via espiritual, o diálogo extático.
d) A oração glossolálica se estabelece em nível da comunhão bilateral Deus-servo e visa à
edificação pessoal do crente (I co 14.4a).
e) A própria mente de quem ora glossolalicamente não capta a mensagem racionalmente; na
expressão de Paulo: "Fica infrutífera".
Resumindo, a oração em língua ininteligível por ser destinada exclusivamente a Deus e não
aos homens; ininteligível, portanto intraduzível ("ninguém entende"); fala de mistérios, coisas
inexprimíveis; edificação pessoal do privativo encontro "eu-tu"; incompreensível à própria pessoa que
fala (14.4), pelas razões aludidas, é ininterpretável, e intraduzível. O mesmo não acontece com a
xenoglossia.

O DOM DE LÍNGUA E A SANTIFICAÇÃO


"Para que não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual
cuidado, em favor uns dos outros" (I Co 12.25).
Tem-se incutido no coração de inumeráveis evangélicos, por vias fortemente emotivas e
sentimentais, que o dom de línguas ocupa o último grau na escala beatífica, o estágio maior e mais
perfeito da santificação. No momento, ensinam, que o crente é tomado pelo Espírito Santo para ser
seu templo, galardoa-se com o batismo pneumático e fala em línguas de natureza celeste, a dos
anjos. Esta doutrina, a da posse completa e final do Espírito, também chamada de "plenitude" ou
"batismo", é "a posteriori" à regeneração e consiste na sublimação do salvo. Então, a Igreja de
Corinto deveria ser um modelo de santidade, de unidade, de virtudes cristãs para outras
comunidades primitivas. Não foi. Em lugar de maturidade e perfeição, deixa-nos exemplos negativos
de imaturidade e imperfeição. Eis os principais defeitos, e graves, dos carismáticos glossolálicos de
Corinto:
a) Não eram espirituais (pneumatikois), isto é, não eram pessoas dominadas pelo Espírito Santo,
colocadas como instrumentos da vontade de Deus no mundo, mas carnais (sarkinois), individualistas
nos quais predominam os impulsos da carne, da criatura não regenerada (I Co 3.1 a);

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b) Crianças em Cristo, membros imaturos da Igreja em processo de crescimento: Suas
criancices e infantilidades deviam ser toleradas por serem transitórias, próprias de fases pré-adultas:
"Como a crianças em Cristo. Leite vos dei a beber, não vos dei alimento sólido; porque ainda não
podíeis suportá-lo. Nem agora o podeis, porque ainda sois carnais" (I Co 3.1b-2). Paulo acredita no
crescimento espiritual dos crentes de Corinto quando deixassem as coisas de menino. Quando eu
era menino, falava corno menino, sentia como menino, pensava menino; quando cheguei a ser
homem desisti das coisas próprias de menino"(I Co 13.11). E mais, apela para o crescimento:
"Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens
amadurecidos" (I Co 14.20). O culto carismático, irracional, confuso, com orações pessoais,
individuais e simultâneas, glossolalia concomitante sem decência e ordem (I Co 14.40), realmente
são coisas de crianças em Cristo, lactantes da Igreja. Quem não precisa destas coisas para ser
verdadeiro servo do Senhor Jesus atingiu a maturidade espiritual, deixou a faixa etária do
cristianismo lúdico.
c) Igreja que tolerava imoralidade e até incestuosidade: "Geralmente se ouve que há entre vós
imoralidade, e imoralidade tal, como nem mesmo entre os gentios, isto é, haver quem se atreva a
possuir a mulher de seu próprio pai" (I Co 5.1).
d) Igreja de litigantes: "Aventura-se algum de vós, tendo questão contra outro, a submetê-lo a juízo
perante os injustos e não perante os santos?" (I Co. 6.1). "Para vergonha vo-lo digo: Não há,
porventura, nem ao menos um sábio entre vós, que possa julgar no meio da irmandade? (I Co 6.5).
e) Igreja de acepções injustas e profanações eucarísticas: "Porque, antes de tudo, estou
informado haver divisões entre vós, quando vos reunis na Igreja; e eu em parte o creio". "Porque ao
comerdes, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e há quem tenha fome, ao passo que
há também quem se embriague" (1 Co 12.18,22).
f) Igreja de grupos, não unidade cristocêntrica: Uns se diziam adeptos de Paulo; outros, de Apolo;
outros, de Cefas; outros, de Cristo (I Co 1.12). A igreja se quadripartia pelas teologias: gentílica,
grega (gnóstica-cristã), Judaico-cristã e exclusivismo messiânico. Na verdade, o quarto grupo não
professava a doutrina de: Somos exclusivamente de Cristo, mas: Cristo é exclusivamente nosso.
Paulo condena o culto antropocêntrico (I Co 3.4-9).
g) Igreja de ciúmes e contendas. I Co 3.3. Pergunto: Em que contribuiu a glossolalia para a
unidade, harmonia, fraternidade santificação da Igreja de Corinto?

A INTELIGIBILIDADE DE LÍNGUA
"Há sem dúvida, muitos tipos de vozes no mundo, nenhum deles, contudo, sem sentido” (I Co
14.10).
Falamos anteriormente que, em Corinto, havia xenoglossia e glossolalia; a primeira inteligível
e interpretável, e a segunda ininteligível e intraduzível racionalmente por se tratar de sons
desconexos, antifônicos, ilógcos, não se enquadrando, portanto, em nenhum sistema linguístico
conhecido. Não passa de "gemido inexprimível" da pessoal comunhão do crente com o seu Senhor.
A oração extática com sílabas interjectivas não duvidamos, pode conter uma conexão
comunicativa íntima e profundo do crente com seu Pai celeste; isto porém, na esfera da privacidade,
exatamente como recomenda Jesus Cristo (Mt 6.5-8). Sendo a glossolalia uma fala dirigida a Deus
nunca a homens (I Co. 14.2), não é e não deve na pública, comunitária, em que todos falam a Deus
pela mente, coração, alma e lábios de um só irmão. Paulo reconhece que a comunicação pode
realizar-se por sons harmônicos ou palavras articuladas, jamais por vozes sem sentido: "É assim que
instrumentos inanimados, como a flauta, ou a cítara, quando emitem sons, se não os derem bem
distintos, como se conhecerá o que se toca na flauta ou citara? Pois também se a trombeta der som
incerto, quem se prepara para a batalha? Assim vós, se com a língua não disserdes palavra
compreensível, como se entenderá o que dizeis? Por que estareis como se falásseis ao ar. Há sem
dúvida, muitos tipos de vozes no mundo, nenhum deles, contudo, sem sentido. Se eu, pois, ignorar a
significação da voz, serei estrangeiro para aquele que fala; e ele, estrangeiro para mim" (I Co 14.7-

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11). Paulo não usa a palavra "alogenês", estrangeiro, povo que fala outro idioma, mas "bárbaro",
pessoa de fala defeituosa, incompreensível, inacabada, inarticulada, soando como "bebê”, uma
onomatopeia usada para denotar a linguagem primitiva de grupos não civilizados, os bárbaros. Não
foi à toa que Paulo chamou os irmãos de Corinto de "crianças em Cristo".
A expressão "sem sentido" do versículo 10 (dez) é tradução de "áphonon", mudo, não
expressivo. O glossolálico, no conceito Paulino, é o que retrocedeu, em termos de comunicação ao a
um estágio pré-lógico de linguagem bárbara em que as emoções superavam a razão; e um bárbaro é
como um mudo (áphonon) no meio dos civilizados. Por isso, o Mestre dos gentios deseja-lhes
progresso: "Procurai progredir para a edificação da Igreja" (I Co 14.2b). Aos romanos apela: "Rogo-
vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis os vossos corpos por sacrifício vivo,
santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional" (Rm 12. 1). O culto racional não pode ser
prestado em linguagem bárbara, onomatopeica.

UM DOM RESTRITO
"E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios" (Mt 6.7).
A tese de que a glossolalia é o sinal inquestionável do "batismo com o "Espírito Santo" não se
sustenta pela teologia paulina da Primeira Carta aos Coríntios 12 e 14. O contrário é que se verifica.
O doutrinador de Tarso limita o referido dom a alguns da comunidade e lhe enumera as restrições:
Não é um dom geral como, por exemplo, o da esperança, da fé, e do amor, mas um carisma
particular: “A um variedade de línguas (genê glossôm - línguas estrangeiras); a outro, capacidade
para interpretá-las (I Co 12.10b). Aqui, nitidamente se alude a línguas de outros povos, embora
possam ser faladas extaticamente (xenoglossia). É um dom entre os dons, não o dom principal: "Que
fazer, pois, irmãos? Quando vos reunis, um tem salmo (canto, leitura devocional), outra doutrina,
esta revelação, aquele outro, língua, e ainda outro, intepretação. Seja tudo feito para edificação" (I
Co 14.26).
Nada de priorização. O glossolálico não era mais santo que os outros e nem gozava de
qualquer privilégio ou proeminência entre seus pares no culto comunitário. O dom de alguns não
pode ser sinal do "batismo" de todos no corpo de Cristo, é evidente. Inconcomitância glossolálica,
isto é, muitos falarem ao mesmo tempo, misturando as vozes em difusão confusa: "No caso de
alguém falar em outra língua, que não sejam mais do que dois ou quando muito três, isto
sucessivamente, e haja quem interprete" (I Co 14.27), "porque Deus não é de confusão" (I Co
14.33b); "tudo, porém, seja feito com decência e ordem" (I Co 14.40). O culto desordenado em que
ninguém pode entender ninguém porque todos falam ao mesmo tempo, e até gritam, não pode ser
um culto ao Deus da ordem, da decência e da paz.
O glossolálico é submisso ao intérprete. Não se pode emitir sons ininteligíveis ou inarticulados
para a comunidade. Todas as partes do culto e todos os dons carismáticos visam à edificação da
Igreja e devem ser claramente compreensíveis e facilmente assimiláveis para receberem o "amém"
dos fiéis: "Mas, não havendo intérprete, fique calado na Igreja, falando consigo mesmo e com Deus
(1 Co 14.28). Há possibilidade de faltar intérprete. Faltando, cale-se o falador de línguas. Dom
inferior ao da profecia. Quem fala "em outras línguas" ou "em línguas", fala misticamente a si mesmo
em emoção devocional inexprimível, mas não ao seu consciente e, muito menos, à assembleia dos
salvos. O que profetiza, no entanto, prega à Igreja e ao mundo: "Pois quem profetiza é superior ao
que fala em outras línguas, salvo se as interpretar para que a Igreja receba edificação" (I Co 14.5b).
Ora, se Deus nos fala diretamente pelo profeta, e sempre agiu assim, porque ouvi-lo por meio
de intérpretes, indiretamente, portanto? Além do mais, o profeta fala aos homens, edificando,
exortando e consolando" (I Co 14.3). Há ainda um problema: A mensagem profética pode ser julgada
(I Co 14.29), a glossolálica não, porque o extático se julga instrumento passivo do Espírito, que é o
agente. Temos de acreditar no intérprete? E se ele não tiver o dom de discernir os espíritos (I Co 12.
10b)? É mais seguro ouvir Deus pelos profetas bíblicos que pelos intérpretes de mensagens
glossolálicas. Um dom egoísta. Um carisma que, em si mesmo, não edifica o não instrui os irmãos;

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"Pois quem fala em outras línguas (lalôn-glossê), não fala a homens, senão a Deus, visto que
ninguém o entende, e em espírito fala mistérios” (I Co 14.2).
Paulo almeja que os crentes progridam no carisma, que edifiquem a Igreja, não em glossolalia
individualista: "Assim também vós, visto que desejais dons espirituais, procurai progredir para a
edificação da Igreja" (I Co 14.12). Escândalo para indoutos e incrédulos. Se a glossolalia fosse o
sinal da plenitude do Espírito Santo, como pretendem os carismáticos pneumáticos, somente os
crentes verdadeiros falariam em línguas, todas as suas orações seriam glossolálicas e por elas o
Espírito manifestaria Cristo aos ignorantes e aos incrédulos porque a missão do Parácleto é revelar a
graça redentora aos pequeninos.
E esta bênção Jesus agradeceu ao Pai, por ter dado uma salvação em Cristo acessível a
todos, não privilégo de intelectuais (Mt 11.25). Há, no entanto, crentes piedosos, que seguem o
amor, segundo o mandamento paulino (I co 14.1), e jamais oraram em línguas. Além do mais,
adverte o discípulo de Gamaliel, numa reunião de santos, se todos falarem em línguas, parecerão
aos indoutos e aos incrédulos que estão loucos (I Co 14.23). E os glossolálicos, conforme se nos
apresentam, são os salvos que, por meio de orações intensas e jejuns prolongados, eliminaram o
pecado, purificaram-se, santificaram-se e se puseram no "ponto" ideal de pureza para receberem o
"batismo com o Espírito autoridade apostólica, não se executa por recomendação de Cristo.

LÍNGUAS NOS SINÓTICOS E EM JOÃO


Os Sinóticos e João são obras inspiradas pelo Espírito Santo, não há negar. Registram os
feitos pneumáticos em toda urdidura histórica da encarnação. O Espírito agiu na concepção de
Cristo: "Descerá sobre ti (sobre Maria) o Espírito Santo e o poder do Altíssimo te envolverá com a
sua sombra; por isso, o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus" (Lc 1.36). Esteve
plenamente nas seguintes pessoas: João Batista (Lc 1.15); Isabel (LC 1.41); Zacarias (Lc 1.67);
Simeão (Lc 2.25); Jesus Cristo (Mt 3.16; LC 4.1 ). Em nenhum desses segundo o que os Evangelhos
nos oferecem, houve manifestação glossolálica ou xenoglossia. Se fenômeno é sinal da plenitude do
Espírito, por que não ocorreu no batismo de Jesus? Sobre ele não desceu o Espírito? Não tem,
porventura, Cristo a "plenitude do Espírito"? O que se ouviu, por ocasião do batismo do Filho do
Homem, foi a palavra indelével de Deus: "Tu és meu Filho amado, em ti me comprazo". Cristo
ingressou na Igreja, povo que veio constituir, como sua cabeça, no momento do batismo, isto é, inicia
o ministério da proclamação das "boas novas”, lançando as bases, como segundo Adão, da nova
humanidade. E a glossolalia não se nomeia na mais extraordinária, na mais profunda, na mais
significativa, na mais representativa das trações batismais em que o Espírito Santo é visto descendo
sobre o batizando.
Em João, os discípulos receberam o Espírito Santo, não acompanhado de
"como de vento impetuoso", segundo 2.2, mas pelo hálito procedente da boca do divino Salvador: "E,
dito isto, sobre eles e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo. Se de alguns perdoardes os pecados,
são-lhes perdoados; se lhos retiver-des, são-lhes retidos" (Jo. 20.22,23). Os apóstolos são
"batizados" com o Espírito Santo no ato de comissionamento missionário para o ministério apostólico
na Igreja e no mundo em nome de Jesus Cristo: "Assim como o Pai me enviou, eu também vos
envio" (Jo 20.21b). Neste momento, no conceito joanino, nasce a Igreja histórica, visível, fundada
historicamente sobre a representação humana dos apóstolos, ela que havia nascido no instante em
que o Messias, nas fronteiras batismais, separou-se de João Batista (de Israel) para, conduzido pelo
Espírito, iniciar uma nova era, dar à luz um novo povo, a “ecclesia” de Deus. O batismo de Cristo é o
limite exato entre a velha e a nova dispensação.
O sopro de YAHWEH vitalizou o homem; o de Jesus Cristo recriou a humanidade na pessoa
dos regenerados, a partir dos apóstolos. Eles são, pois, as primícias do reino de Cristo (I Co 12.28).
Recebendo Aliás, o Espírito, não falaram em línguas. Jesus disse que enviaria o Parácleto, mas nem
sequer por inferência declarou que o sinal de sua recepção seria o carisma glossolálico. Para João,
quando os discípulos "falaram em outras línguas", no Pentecoste, já "estavam batizados", já o
haviam recebido, e diretamente de Cristo. Portanto, "falar em línguas' não lhes pode ser "sinal" da
recepção do Parácleto. Não foi para eles, não o será para nós.

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O único texto que coloca o "falar novas línguas" como sinal (semeion), não de "batismo
espiritual", "mas de poder", está no acréscimo do Evangelho de Marcos (Mc 16.17). Aqui, porém, há
de, entendo, ressaltar-se o seguinte: a) É sinal de crença, autoridade apostólica, não de "batismo
com o Espírito", b) Não é o primeiro da relação e nem o principal do conjunto, c) A prova da crença
não é a de manifestação de um mas de todos os sinais (semeia), inclusive pegar serpentes
peçonhentas e ingerir veneno, d) Serão exercidos em nome de Jesus Cristo como forças poderosas
na ação missionária, não carisma extático, e) A expressão de Marcos "falarão novas línguas"
(glossais lalessousin Kainais), significa: Falarão idiomas estrangeiros, línguas de outros povos. A
palavra usada para "novo" é kainós", aquilo que se conhece recentemente, recém-adquirido, e não
"néos", recém-nascido, recém criado. Portanto, o texto fala de poliglossia, não de glossolalia. Esta
não se encontra em João e nos Sinóticos, que são os parâmetros de qualquer fundamentação
doutrinária.

O DOM DE LÍNGUAS EM ATOS


Lucas, em Atos, registra claras incidências do Espírito Santo, todas em eventos iniciais da
Igreja nos distintos seguimentos da humanidade, segundo a ótica judaica: No judaísmo, em
Jerusalém (At 2.1-13); no samaritanismo (At 8.14-17), em Samaria; no gentilismo, na casa do
centurião Cornélio (At 10.44-46); no batismo, sobre os discípulos de Batista (At 19.2-7). Os adeptos
da seita paralela de João, o batizador, são incluídos no cristianismo nascente, ao descer sobre eles o
Espírito Santo, para que a Igreja de Cristo não nascesse dividida e João não se transformasse num
concorrente do Messias.
Não se menosprezam, por serem importantíssimos, os seguintes fatos:
a) Todos os fenômenos pneumáticos, acompanhados ou não de línguas extáticas segundo
os assentos são sinais nítidos de acontecimentos inaugurais do novo Israel nos blocos culturais,
étnicos e linguísticos que compõem a totalidade dos povos. A Igreja é a soma de todas as raças, o
amálgama de todas as civilizações, a voz de todas as línguas. Os diversos pentencostes (Judeu,
samaritano e gentio) mostram a catolicidade do Corpo de Cristo. E isto é um cumprimento ao que
prescreve o divino Salvador: "Recebereis poder, aos descer vós o Espírito Santo, e sereis minhas
testemunhas tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia, e Samaria, e até os confins da terra" (At
1.8).
b) Em nenhum dos casos o Espírito Santo foi "buscado", nem sequer "pedido". Aliás, um
"espírito" conquistado pela força das súplicas ou adquirido por meio de renúncias, privações,
abstinências, sacrifícios, confissões, jejuns e arrependimentos místicos induzidos não pode ser o da
soberana Terceira Pessoa da Trindade excelsa, imutável, absoluta, perfeita e onipotente,
absolutamente ininfluenciável. O Espírito Santo é o agente do novo nascimento, a regeneração, e
isto não depende do homem, é obra da graça misericordiosa do Pai no Filho mediante o Espírito. Ele
nos concebe em Cristo Jesus para o Pai, operação que se denomina "batismo com o Espírito". Jesus
explica isso a Nicodemos: "Em verdade te digo: Quem não nascer da água e do Espírito não pode
entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito, é Espírito"
(Jo 3.5-6). E mais, sobre a incontrolabilidade do Parácleto e sua livre agência sobre os regenerados,
o Mestre dos mestres ensina: "O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde
vem, nem para onde vai; assim é o que é nascido do Espírito" (Jo 3.8). Pode alguém ser nascido do
Espírito e não tê-lo? Pode uma pessoa - no caso absoluta e ubíqua, estar parcialmente no
renascido? O Pai nos deu o Filho; o Filho nos envia o Espírito. Deus está no Filho encarnado,
exercendo o ministério da reconciliação. O Filho está no Espírito, convertendo, promovendo a
"metanoia” (a de arrependimento segundo a vontade de Deus), regenerando e ajudando os salvos
na família de Jesus Cristo, fazendo da Igreja, e nela de cada membro, o seu templo. Não há crente
sem regeneração; não há regenerado sem o batismo do Espírito Santo.
c) Os eventos iniciais não se repetem. São "kairói" irrepetíveis. Assim, o Dilúvio, o Sinai, o
Êxodo. Os pentecostes no bojo dos quais as línguas, símbolos da universalidade da Igreja,
acontecidos nas áreas divergentes, conflitantes e imisturáveis, religiosamente falando, tiveram
propósitos missionários introdutórios transculturais, que foram arquétipos do que a Igreja veio a ser:
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Universal. Pedro e Paulo entenderam assim. O primeiro declarou em Atos 2.17 e o segundo, em I co
14.21,22, que a Igreja romperia, conforme os propósitos de Deus, barreiras do judaísmo e se
universalizaria, atingindo todas as raças, povos e línguas, se faria presente em todas as culturas e se
expressaria em todos os idiomas e dialetos inteligivelmente. E o sinal da reconciliação reside na
firme convicção, certa, de servo sincero, de que somos filhos de Deus. E esta esperança convicta
uma realidade realizada e por realizar nos é colocada pelo Espírito Santo: "O Espírito testifica com o
nosso espírito que somos filhos de Deus" (Rm 8.16). Lucas, ao morrer a penetração do
Evangelho no coração de todos os povos, pretendeu demostrar que a Igreja não se divida, como
Israel, em escolhidos "cheios do Espírito Santo", os chamados "homens de Deus", e leigos, apenas
beneficiários das bênçãos mediadas por aqueles. O médico teólogo procura deixar patente, por meio
de eventos históricos ilustrativos do povo de Israel, que a Igreja é, em sua globalidade, um povo
santo, um sacerdócio real, um corpo de eleitos em Cristo batizado com o Espírito Santo. "Sobre toda
carne" (Atos 2.17-18), na interpretação lucana, significa: "Sobre toda a Igreja", visto ser a totalidade
dos salvos, e não bênçãos de alguns "buscadores" privilegiados, "autopenitentes", "que sobem" a
Deus. Os carismas são os dos crentes submissos, dirigidos pelo Espírito, segundo o beneplácito do
Salvador. Os pentecostes aconteceram para que entendamos que a Igreja se estrutura e se organiza
na unidade orgânica dos membros de todas as raças. As línguas dividem a humanidade em povos e
culturas (Gn. 1 1 9), a Igreja, pensa Lucas, reverterá o presente quadro, pois haverá uma linguagem
universal do Espírito. Todos os ouvidos ouvirão a palavra de Deus; todos os lábios orarão ao
Redentor: "Vede, não são, porventura, galileus todos esses que aí estão falando? E como os
ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?" (At 2.7b,8). Primeiro os judeus de
Jerusalém e da dispersão, depois os samaritanos e os gentios, segundo a ordem estabelecida por
Cristo ressurreto (Lc 24.47-50; At 1.8).
Adotado o que acima se coloca, que Lucas trata da corporalidade da Igreja e do valor que o
organismo eclesial confere a cada membro, fica excluído o individualismo egocêntrico do
carismatismo moderno e da "conquista” do Espírito Santo mediante esforços beatíficos. Mesmo
porque os "batizados” com o Espírito em Corinto, embora "santos" (I Co 1.2), não eram nada "puros"
para "merecerem" tamanho privilégio (I Co 1.11; 3.1-3; 5.1-2; 6.7).
O Espírito Santo desceu sobre toda a Igreja hierosolimita, tomando cada um dos eleitos
(Atos 2.3); sobre todos os crentes samaritanos (Atos 8.14-17), ligados à Igreja mãe, pelas mãos dos
apóstolos Pedro e João; sobre todos os fiéis gentios (Atos 10.44); sobre todos os discípulos de
Batista em Éfeso (Atos 19.5,6), uns doze homens. E todos falaram em outras línguas (heterais
glossais), exceto os samaritanos, certamente por terem vínculos judaicos, estarem de alguma forma
inseridos tronco abraâmico e submissos aos princípios mosaicos. Não precisavam, portanto, do
fenômeno externo da universalidade (outras línguas), pois se postavam no veio da mesma promessa
e se identificavam pela mesma o mesmo código, a mesma língua.
Os pentecostes nos ensinam que Deus, pelo Santo Espírito, atuante no corpo de Cristo, a
Igreja, fala as línguas de todos os povos; cada pecador pode ouvi-lo em seu próprio idioma ou
dialeto. E isto está acontecendo efetivamente. Eis porque o dom de línguas, nos escritos de Lucas,
não se revela como glossolalia ininteligível, mas pregação em linguagem clara, nítida, compreensível
a cada ouvinte em seu idioma próprio. Um espírito que depende de intérprete humano para ser
compreendido, que fala em língua não humana, que prega e ninguém entende, não pode ser o
Espírito Santo revelador do Verbo encarnado. Seu papel é esclarecer, não confundir; igualar os
salvos, não discriminar uns e privilegiar outros; unir os remidos, não dividi-los em "santos e meio-
santos". Efetivamente, a Igreja reverteu Babel. Todos somos um em Cristo, judeus e gentios de todas
as línguas, nações, povos e raças, formando um reino de sacerdotes, batizados pelo Espírito Santo
(Ap 5.9.10; 7.9).
Deter-nos-emos um pouco em Atos 2.1-13, por considerarmos o evento pentecostal
registrado, fundamentador e desencadeador dos fenômenos subsequentes semelhantes, mas não
iguais, embora igualmente inaugurais entre gentios e samaritanos, alinhemos a natureza ímpar e
única do pentecoste hierosolimita:
a) Os cento e vinte (símbolo da totalidade e perfeição dos novos eleitos - 12x10 - 120)
estavam assentados (kathémenoi) ao receber o Espírito Santo, segundo lhes prometera Jesus Cristo
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(Atos 2.2). Esta posição não era postura de oração na tradição judaica, mas de espera ou de
descanso. Portanto, o Espírito Santo não foi dado em resposta à oração dos fiéis; desceu em
cumprimento à promessa do Messias ressurreto: "Permanecei, pois, na cidade, até que do alto sejais
revestidos de poder" (LC 24.49b). A dádiva do Espírito não foi "buscada" e, no momento de sua
recepção, os expectantes encontravam-se "assentados", fato que a providência preparou para
ressaltar a unilateral ação de Deus, eliminando qualquer participação humana. Alguns argumentam,
citando Atos 1.42 e 2.1 e Lc 24.53, que os discípulos velavam em fervorosas orações, suplicando a
bênção do Espírito. Os invocados nada falam sobre tal "busca", apenas dizem que louvavam (Lc
24.53), perseveravam unânimes em oração (At 1.14), o que era normal e compreensível, e estavam
todos reunidos num mesmo lugar (At 2.1), exatamente onde Jesus mandou que
esperassem, aguardassem. Dentro do período de espera, da ressurreição ao Pentecostes, houve a
de Matias como substituto de Judas Iscariotes.
b) Fenômenos irrepetidos e irrepetíveis. Som como de vento impetuoso e língua como de
fogo aconteceram (At 2.2). Ruído como de vento forte, tempestuoso, procedente do céu, bem como
as línguas semelhantes a fogo, foram sinais audíveis e visíveis da descida do Espírito Santo sobre a
Igreja nascente, estabelecendo a origem histórica e divina do novo Israel. O aludido som, vindo do
alto, diz-nos o texto, "encheu toda a casa onde estavam assentados (At 2,2b), isto é, sem qualquer
privilegiamento, o mesmo acontecendo com as línguas como de fogo, que não excluíram nenhum
crente. Estes dois sinais, reconhecemos, jamais se repetiram. E eles são inseparáveis do conjunto
integral do advento pentecostal.
c) As línguas faladas independeram de interpretação (At 2.8). Isto nunca mais se verificou.
Há casos constatados de xenoglossia, antigos e modernos, porém, não se registram ocorrências
idênticas: Alguém falar em línguas estrangeiras, e cada estrangeiro presente ouvir em seu idioma
materno. Carismáticos ou místicos incultos e indoutos podem, em estado extático, pronunciar frases
em línguas por eles desconhecidas, mas serão "ouvintes" como tais e, para serem compreendidos,
carecerão de intérpretes.
Os cultos pentecostais modernos não reproduzem o de Jerusalém. Faltam-lhes: O som
como de vento proceloso, as línguas como de fogo, a fala traduzida individualmente para os
estrangeiros ouvintes, sem audição do original (Atos 2.8). No primeiro pentecoste, o Espírito aclara
tudo, dispensando intérprete, um dom subsidiário dispensável, quando o Espírito atua diretamente.
Também o dom de "discernimento de espíritos" não foi necessário. Estes são dons complementares
da glossolalia continua, mas não verificados no Pentecoste.
O Pentecoste é o "kairós" inaugural único e irrepetível. Por ele a Igreja passou a ser a
comunidade do espírito, comunhão dos regenerados.

AULA IX
O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO

No velho Israel, Deus contatava-se, liturgicamente, com o sacerdote e este com os


adoradores. O Espírito divino, portanto, "batizava" o mediador dos sacrifícios, que passava as
bênçãos aos leigos. No Novo Testamento, a nova raça eleita procede, espiritualmente, de Jesus
Cristo, adquire a natureza de seu ancestral, torna-se a humanidade recriada, regenerada,
santificada, com o fim glorioso de proclamar as virtudes daquele que a chamou das trevas para a sua
maravilhosa luz (I Pe 2.9-10).
O Santo dos Santos, altar do Tabernáculo, não é privilégio de poucos especialmente
escolhidos, mas galardão de todos os salvos da dispensação da graça. O véu do templo, sob o
impacto da morte do Cordeiro, rasgou-se de alto a baixo, e o santíssimo se abriu aos eleitos, isto é,
Cristo é nosso templo; estamos nele e ele Somos, pois, o corpo de Cristo, uma Igreja sacerdotal,
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composta exclusivamente de sacerdotes sem qualquer distinção ou discriminação. O povo de Cristo
é uma comunhão de "primus inter pares” todos agraciados com o perdão e a plenitude ou dom do
Espírito Santo. Os carismas são diversos, mas o Espírito é o mesmo. Cristo, o tronco; nós, os ramos
da videira. A seiva que alimenta um rebento nutre também os outros. A Igreja é o corpo, somos os
membros; diferentes em função, mas harmônicos na submissão e nas respostas ao comando do
Cabeça, Cristo, visando a objetivos finais comuns.
Ora, se a Igreja é a videira ou o corpo cujo cabeça é Cristo, não se pode imaginar um crente,
ramo da videira e membro do corpo de Cristo, sem o Espírito Santo, enquanto outro, em igualíssimas
condições, está "cheio" do mesmo Espírito ou é por ele "batizado". Nas figuras neotestamentárias da
Igreja não se configuram tais desigualdades. Todos são um em Cristo. As diferenças ministeriais são
estabelecidas pelo próprio Espírito. Quem não é remido, fica fora do corpo e, consequentemente,
sem o Espírito, não batizado. Paulo ensina que todos os componentes da união fraternal em Cristo, a
Igreja, são batizados com o Espírito Santo: "Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos
membros, e todos os membros, sendo muitos, constituem um só corpo, assim também com respeito
a Cristo. Pois, em um só Espírito, todos nós fomos batizados em um corpo, quer judeus, quer gregos,
quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado beber de um só Espírito" (I Co 12.12, 13). O
apóstolo dos gentios não poderia mais afirmar com todas as letras que: Todos os membros do corpo
de Cristo são batizados em um só Espírito; a todos foi dado beber de um só Espírito, isto à parte de
qualquer distinção ou especificação carismática e ministerial.
As doutrinas retiradas de fontes isoladas, não hauridas do manancial inteiro, destituídas,
portanto, de contextualidade, de "crentes cheios" e "crentes vazios", ou de "irmãos batizados" e "não
batizados" com o Espírito Santo onde o corpo de Cristo em duas facções, uma de qualificados,
abençoados, privilegiados com a graça; outra de servos de segunda classe, de categoria inferior,
vazios, pecadores semi-remidos, fracos, sem a bênção do revestimento da Segunda pessoa
trinitária. Alguns desses desqualificados lutam, sacrificam-se a vida inteira em "busca" do Espírito, e
não conseguem. A frustração é imensurável. Outros, para confusão dos fiéis, sem muitos
esforços, sem expressão dos frutos do Espírito, de testemunho frequentemente pouco
recomendável, são "batizados" e "falam línguas", o idioma do Espírito Santo, segundo entendem.
Isto acontece numa igreja dividida, não entre trigo e joio, mas entre irmãos batizados e não-batizados
pelo Espírito. Guarde bem: O Espírito é um dom, uma dádiva, uma graça, não uma conquista do
homem.

CUMPRIMENTO DA PROPOSTA
Deus, por sua onipresença, dirige o universo, a história, atua na vida de cada criatura humana
e está em cada servo de Cristo. Porém, a Trindade entrou no palco da redenção, por princípios que
ignoramos, em etapas e "kairoi" distintos:
01. A descida do Pai no monte Nebo para a entrega da lei e consequente institucionalização
de Israel como eleito dentre nações rejeitadas. Deus é Espírito, o Santo Espírito.
02. A descida do Filho em Belém da Judéia pela encarnação para, pessoal e
verdadeiramente humanizado, exercer o ministério messiânico, lançar, à semelhança do que Moisés
fez no Velho Testamento, os fundamentos de uma nova nação de escolhidos não controlados pela
lei, mas pelo Espírito Santo, pois a letra mata, mas o Espírito vivifica (II Co 3.6). A Igreja submete-se
a Deus pelo Espírito, não pela lei descida do Espírito no dia de pentecoste, exatamente a festa
comemorativa da outorga da lei no topo do Sinai. O Espírito veio para assumir o ministério da lei. Isto
é, conduzir os eleitos nas veredas do Pai, nas sendas do Evangelho; convencê-los do pecado, da
justiça e do Juízo (Jo 16.8-11 cf Rm 7.7-25). Agora, diz Paulo: "a lei do Espírito da vida em Cristo
Jesus te livrou da lei do pecado e da morte" (Rm 8.2).
Lei do pecado e da morte, para o missionário dos gentios, é a de Moisés, substituída pela do
Espírito, que é vida em Cristo Jesus. Assim, podemos afirmar, com sólida base bíblica, que a lei
encerrou seu ministério em Jesus Cristo, o Filho do amor de Deus ao mundo, a alegria do Pai (Jo
3.16; Mt 3.17) e que Jesus, o mesmo que teve autoridade para reinterpretar a lei (Sermão do Monte),

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transferiu sua função para o Espírito, depois de cumprir a missão vicária em favor dos que crêem:
"Vindo, porém, a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei,
para resgatar os que estavam sob a lei, afim de que recebêssemos a adoção de filhos. E, porque
sois filhos, enviou Deus aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: Aba, Pai"(Gl 4.4 6).
"Mas, antes que viesse a fé, estávamos sob a tutela da lei, e nela encerrados para essa fé que, de
futuro, haveria de revelar-se. De maneira que a lei nos serve de aio para nos conduzir a Cristo, a fim
de que fôssemos justificados pela fé. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao
aio, pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes
batizados em Cristo, de Cristo vos revestistes" (Gl 3.23-27).
O aio do velho pacto foi a lei para conduzir ao Messias os filhos de Abraão, consumando a
encarnação do Verbo. O aio do conserto da graça é o Espírito Santo, definitivamente dado à Igreja
para levar a Cristo os que nele crerem. E mais, induzi-los à fé, ao arrependimento. Não há dúvida: O
Espírito Santo assumiu o papel da lei para ensinar, necessário à redenção (Jo 14.26), promover a
guarda da Palavra de Deus pela compulsão do amor (Jo 14.23) guiar o pecador a Cristo (Jo 16.13,14
- Rm 12-17), convencer do pecado, da justiça e do juízo. Blasfemar contra o Espírito é blasfemar
contra a lei, é rejeitar o aio, que conduz ao Salvador. É apostasia, e o apóstata não tem perdão. A lei
foi dada uma vez; Cristo se encarnou uma vez; o Espírito Santo, igualmente, desceu uma vez para
permanecer conosco na Igreja de Cristo, não nos deixando órfãos (Jo 14.16-18).
Quem entra para a Igreja de Cristo, mediante a fé, recebe o Espírito. Cristo gerou a Igreja; o
Espírito a vivifica. Eis porque o batismo com água é o sinal visível do batismo com o Espírito. O ato
histórico de ingresso na Igreja, para os crentes autênticos, é também o do batismo com o Espírito. O
cristão não anda segundo a lei, mas segundo o Espírito, o aio do corpo e de cada membro. Ninguém
vai a Cristo senão pelo Espírito; ninguém vai ao Pai, a não ser por Cristo.

O ESPÍRITO E A ÁGUA VIVA


"Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para
com os homens, não por obras de justiça praticada por nós, mas segundo a sua misericórdia, ele nos
salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo" (Tt 3.5).
Deus, por sua presciência e soberania, pelo Espírito Santo gerou, no ventre da Virgem a
Jesus Cristo, o Salvador do mundo. Jesus, Emanuel, Deus conosco encarnado, recebendo todo
poder nos céus e na terra, pelo mesmo Espírito, no seio da Igreja, gera cada crente fiel. Deus salva
por Cristo; Cristo regenera pelo Espírito. O caminho único para o Pai é o Filho (Jo 14.6); a exclusiva
ponte para o filho é o Espírito (Jo. 16.13-15). O Espírito é vida; a água em movimento, derramada, é
o seu símbolo. O nosso planeta teve origem por Deus em Cristo Jesus (Jo 1.1-2). A vida nos veio
pelo "Ruach" (Pneuma) de Deus, que pairava sobre as águas, vitalizando-as. O próprio homem
passou a ser "alma-vivente" (Nephesh Haiach) pelo "Pneuma” do Criador (Gn 2.7). Da terra molhada
pela neblina Yahweh formou o homem; a vida, porém, foi doada pelo Espírito (Pneuma de Deus), o
sopro divino (Gn 2.6,7). Igualmente, o novo homem em Cristo nasce da água e do Espírito (Jo 3.5,6).
Quem leva às águas do batismo, a fronteira entre o reino do mundo e o de Cristo, é o
Espírito. Os ligados na terra são ligados no céu, e tornam-se templos do Espírito.
No início da nova criação, o Pai, a Palavra (Jesus Cristo), o Espírito vivificador e a água encontram-
se na ilustração batismal do Filho (Mt 3.16, 17). A água é componente básico em todas as origens: O
mundo emergiu das águas; a humanidade pré-diluviana flutuou, em Noé, sobre as águas; o eleito,
Israel, saiu das águas do Nilo em Moisés; os judeus passaram para o domínio de YAHWEH,
libertando-se da escravidão faraônica, atravessando o Mar Vermelho. O ingresso na Terra da
Promissão aconteceu pela travessia do Jordão; na cruz, o corpo de Cristo partido por nós, em quem
morremos para com ele ressurgirmos, verteu água e sangue. "Há três que dão testemunho: O
Espírito, a água e o sangue, e os três são unânimes num só propósito" (1 Jo 5.7,8).
Eis porque a Igreja primitiva celebrava a Ceia com água misturada ao vinho. A nova vida em
Cristo começa nas águas batismais. A Igreja é a comunhão em Cristo dos batizados. Não há
membro no corpo de Cristo sem o batismo. É verdade que na Igreja visível há joio e bode, mas na

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comunhão dos santos, dos eleitos, não os há. O batismo não é mera cerimônia. É a deposição de
nossa vida, para sempre, aos pés de Jesus Cristo. Assinala o momento em que se apossa,
definitivamente, do pecador arrependido e submetido, o Salvador. O batismo da água, quando
aplicado aos regenerados, visibiliza o que, no mesmo instante, ocorre na alma do batizando: A
recepção do penhor do Espírito. Por meio do batismo, ordenança do Senhor Jesus, o pecador passa
do império do mal, da escravidão do pecado, para o domínio do Espírito no reino do Filho de Deus. O
batismo é a porta pela qual se entra na Igreja de Cristo, submetendo-se à direção do Espírito tanto
na reunião como na dispersão. Em suma, todos os salvos estão na Igreja pelo batismo do Espírito.

O ESPÍRITO E A ESPIRITUALIDADE
Duas coisas foram ditas, que devem ser lembradas aqui:
a) O Espírito Santo é a pessoa trinitária pela qual a vida chegou ao mundo e habita nos
eleitos: "Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os mortos, esse mesmo
que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos, vivificará também os vossos corpos mortais, por
meio de seu Espírito que em vós habita" ( Rm 8.11).
b) O Espírito é o “aio" que nos conduz a Cristo (Jo 14.26; 16.13; Gl 5.18). Ninguém vai ao Pai,
a não ser pelo Filho. Ninguém vai ao Filho, senão pelo Espírito. Os sinais, portanto, do batismo com
o Espírito Santo são a regeneração e a reconciliação. O crente recebe a nova vida e se liga ao
Criador permanentemente. A diferença entre um salvo, ou batizado por Cristo com o Espírito e com
fogo, e um perdido é que aquele é dirigido Pelo Espírito, cresce em fidelidade a Cristo, em comunhão
com Deus, em santificação; este se deixa guiar por sua sensualidade sua carnalidade, seus
pendores malignos, seu “ego”, isolando-se de Deus e do próximo progressivamente; usa a divindade
e o próximo para satisfação de seus desejos e realizações de objetivos imediatos.
O batizado pelo Espírito Santo é espiritual (pneumatikós); a sua alegria e prazer são
espirituais; sublima-se na "doulia" como Escravo de Cristo, e na "koinonia", como servo dos irmãos;
coloca sua vida no altar do Cordeiro em culto ao Redentor, oferece-se como instrumento da vontade
de Deus (Rm 12.1 ,2). O ímpio (sarkikós) o que não tem o Espírito, oferta-se à carne, ao mundo, ao
pecado, ao tentador; sente gozo em tal estado, feliz na prática de atos concupiscentes. O espiritual
santifica-se. O carnal degrada-se. O batismo com o Espírito Santo é o "kairós" de ingresso no reino
de Cristo, a iniciação na vida eterna, o primeiro passo do êxodo dos redimidos no caminho
do "scatón", na estrada para os céus. Isto, porém, não acontece de graça. Traz lutas terríveis de
ordem interna e externa em decorrência do conflito entre o sensual e o espiritual que militam dentro
do regenerado, entre as forças do bem capitaneadas pelo Espírito, e as do mal, orientadas por
Satanás.
Esta batalha incessante é consequência de nossa filiação a Cristo, que provoca a oposição
das potências satânicas. E o crente assume a luta. Paulo mostra-o com meridiana clareza: "Digo,
porém: Andai no Espírito, e jamais satisfareis à concupiscência da carne, porque a carne milita
contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que
porventura seja do vosso querer” (Gl 5.16; Ef.17-24; 6.12; Cl 3.5-11; Hb 12.4-13). O batismo com o
Espírito alista-nos no de Cristo mobilizado em guerra cruenta e acirradíssima contra Satanás e suas
hostes infernais. Cristo, modelo e protótipo de cada cristão, saiu das águas batismais e, levado pelo
Espírito, enfrentou o Diabo no deserto (Mc 1.9-13).
Assim, o batizado, sai do domínio do maligno para Cristo para se tornar opositor do Demônio,
seu antigo senhor. O batismo com o Espírito não elimina as dores e as fadigas humanas (II Co 12:7-
10), mas dá sentido e objetivo aos sofrimentos. A Igreja dos batizados é gloriosa na peregrinação
exatamente por ser sofredora em, por e com Cristo Jesus. O salvo padece em marcha. A esperança
da chegada e a segurança do Comandante dão-lhe forças necessárias, as energias suficientes e os
alentos indispensáveis. O batizado deixa o pecado e toma a cruz de Cristo cada dia. A jornada é
ininterrupta até o "telos", o alvo final.

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O ESPÍRITO E O AMOR CRISTÃO
Deus em Cristo e Cristo em nós pelos vínculos do amor, também o maior dom do
Espírito. Pai e Filho, uma comunhão amor (Jo 17.4,26). Cristo nos ama com amor com que ama o
Pai (Jo 17.6) e espera que o amemos de igual modo (Jo 17,8) remidos e transportados para o do
amor, os filhos da promessa, o glorioso mistério, formam a tríade, servos-Filho-Pai. Todos os
batizados com o Espírito Santo são habilitados pelo carisma do amor e entram na comunhão objetiva
e subjetiva com Deus, estabelecendo relações fraternais profundas com seus irmãos. Assim, nasce a
unidade: Pai no Filho, e Filho nos filhos mediante o Espírito.
Mas, notem bem, os filhos da graça não são do mundo como o Filho não é, embora estejam
no mundo, onde são necessários como arautos peregrinos. O mundo, porém, não lhes é um paraíso,
é antes como campo missionário por mandato do Rei: "Assim como tu me enviaste ao mundo,
também eu os enviei ao mundo”. "Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vieram
a crer em mim, por intermédio da sua palavra; a fim de que todos sejam um, como és tu, ó Pai, em
mim e eu Ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste. Eu lhes tenho
transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos; eu neles e tu em
mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo creia que tu me enviaste, e
os amaste como também amaste a mim" (Jo 17.18, 20,23).
O crente aperfeiçoa-se na unidade: Cristo-servo pois assim como Pai e Filho são um, nós
também somos um na comunhão fraternal. A nossa vinculação a Cristo, cabeça do corpo, e
interação fraternal são obras do Espírito, o vitalizador do conjunto e das partes. Sem o dom do
ágape, sinal maior, universal e eterno do batismo com o Espírito Santo (I Co 13.13) não haveria
Igreja da qual somos membros, Ela é uma fonte alimentada pelas águas que caem do céu e pelas
que jorram da terra.
Sem o absoluto e exclusivo amor de Deus e o incondicional amor ao irmão (Mt 22.37-40) a
família da fé não se efetiva, a religiosidade converte-se em seita, a piedade individualiza-se,
egocentriza-se, os fiéis transmudam-se em beatos carnais (sarkikói), muito ligados a um Deus do
além por vias místicas, e desligados de seus irmãos, tornando-se intratáveis, intolerantes,
intoleráveis, egoístas, cismáticos, formando o quadro descrito por Paulo: "Eu, porém, irmãos, não vos
pude falar como a espirituais; e sim, como a carnais, como a crianças em Cristo." "Porquanto,
havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim que sois carnais e andais segundo o homem?
Quando, pois, alguém diz: Eu sou Paulo; e outro: Eu, de Apolo; não é evidente que andais segundo
os homens?" (I Co 3.1,3,4). "Andar segundo o homem" equivale a "andar segundo a carne". Ora, o
batizado com o Espírito Santo deixa-se dirigir por ele: "Pois todos os que são guiados pelo Espírito
de Deus são filhos de Deus" (Rm 8.14 Ler 8.5-17). Aos membros da Igreja não batizados com o
Espírito o amor a Deus é impossível, e ao amor ao irmão, impraticável, exatamente por causa da
predominância da "carne" sobre o Espírito.
Todas as manifestações carismáticas sem amor (ágape), ainda que muito impressionantes e
espetaculares, nada valem. O amor é tudo. Deus é amor (I Jo. 4.16; 4.19,21); o Espírito é Deus (Atos
5.3,4). Uma Igreja de competições, de exibições, de indivíduos e grupos que agem para ser notados
e exaltados, de irmãos que alimentam em seus corações e mentes ciúmes de outros irmãos não
pode ser o corpo de Cristo, não está no Espírito. Cremos que o amor incondicional a Deus e aos
irmãos é o sinal verdadeiro do "batismo com o Espírito Santo”.

AULA X
BLAFÊMIA CONTRA O ESPÍRITO SANTO

Não definem as Escrituras o pecado imperdoável contra o Espírito Santo. Isto se deve,
cremos, ao fato de não se tratar de ato isolado e específico, mas de estado permanente e contumaz
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de rebeldia contra Deus. Por exemplo, não havia perdão para o israelita que, conscientemente,
quebrasse o pacto de YAHWEH (Dt 29.20), ou não levasse a sério o nome de seu único Senhor (Ex
20.7), atitude que implicaria em rompimento de aliança. Tomando Mateus, capítulo 12, por base,
inferimos, com razoável base exegética, o seguinte:
a) Os blasfemadores eram fariseus, profundos conhecedores da "Torah" e dos profetas.
Interpretavam a lei com rigorismo. Eram legalistas e moralistas incorrigíveis. Atribuíam a si mesmos
elevadíssima consagração e corretíssimo conhecimento dos escritos sacros e de Deus. Portanto,
carregavam a blasfêmia com o peso da convicção, da ação consciente e da responsabilidade.
b) Colocaram Belzebu, maioral dos demônios, no lugar do Espírito Santo, profanando a
santíssima Trindade. No versículo 18 lemos: "Eis aqui o meu Servo, que escolhi, o meu amado em
que a minha alma se compraz. Farei repousar sobre ele o meu Espírito, e ele anunciará juízo sobre
os gentios". Ora, o Pai no Filho e o Filho no Espírito são UM e realizam a mesma obra.
Atribuir o poder de Jesus ao espírito de Belzebu é afirmar que o ministério do Messias é demoníaco.
Os fariseus não negaram a autoridade do "homem Jesus", mas creditaram-na ao maligno,
blasfemando contra o Deus trino. Se o inferno não está dividido, demônio contra demônio, muito
menos o céu. A unidade entre Pai, Filho e Espírito Santo é indissolúvel, indivisa.
c) O reino de Deus chega sobre nós, quando Cristo, pelo Espírito Santo, ministro do Filho,
exorciza Satanás e ocupa o centro da comunidade dos libertos, como Cabeça, e o interior de cada
salvo, como templo: "Se, porém, eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, certamente é
chegado o reino de Deus sobre vós". E os fariseus sabiam muito bem, como conhecedores da
teologia de Israel, que Yahweh se revela pelo Espírito Santo e, pelo mesmo Espírito, reúne, ajuda, os
dispersos na comunhão dos eleitos e os ilumina para compreendê-lo e adorá-lo. Rejeitar o Espírito é
recusar a graça, fechar-se ao perdão, e rebelar contra o Salvador. Não nos esqueçamos de que o
Pai é doador; o filho, realizador; o Espírito Santo, aplicador da bênção redentora. Sem ele o perdão
de Cristo não opera eficazmente em nós.
d) Partindo a blasfêmia, não de gentios ignorantes, mas de fariseus, os mais "zelosos
religiosos" entre seus pares, o que cometeram-se claramente, como de "apostasia", contumácia
deliberada, calculada, premeditada. O apóstata, pecador convicto, mas satisfeito com sua condição
pecaminosa, é o que abandona o Redentor e se alista no exército inimigo em guerra declarada
contra o Messias, tornando-se um anticristo perverso, blasfemador. Os apóstatas são irrecuperáveis,
irrenováveis (Hb 6.4-8; 10.26-31; II Pe 2.20-22; 1 Jo 5.16, 17). Blasfemar contra o Espírito Santo é
pecar deliberada, sistemática e persistentemente (Hb 10.26), apostatar da fé (Jo 17.12 cf. Hb 6.4-8),
é perder a oportunidade, única e final, de ser perdoado, redimido. Ninguém vai ao Pai a não ser por
Cristo; ninguém vai a Cristo, a não ser pelo Espírito Santo. Ninguém é perdoado, se Cristo não
perdoar. Logo, rejeitar a mão condutora do Espírito é não ter acesso a Cristo, é cortar a possibilidade
do perdão, é renegar a bênção da reconciliação com Deus.

Rev. Onézio Figueiredo


Pastor da IPB

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