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CETAP – CENTRO DE ESTUDOS TEOLÓGICOS ADVENTISTA DA PROMESSA

CURSO LIVRE DE TEOLOGIA

PNEUMATOLOGIA
Estudo sobre a natureza e a atuação do Espírito Santo

São Paulo, 2010

1
PNEUMATOLOGIA

E não vos embriagueis com vinho, que leva à


devassidão, mas enchei-vos do Espírito (Ef 5:18).

Nos dias atuais, existe, na igreja, muita confusão em torno da pessoa e da atuação do Espírito
Santo. Quem é ele? Como ele age? Será uma mera força? São perguntas como essas que serão
respondidas no decorrer do estudo desta matéria, chamada Pneumatologia. Esse termo se deriva da palavra
grega Pneuma., usada para se referir ao Espírito Santo no Novo Testamento. Em Pneumatologia nós iremos
estudar sobre a natureza e sobre a atuação do Espírito Santo, a terceira pessoa da Triunidade.
Talvez, uma das grandes razões de existir tanta confusão em torno desse assunto, se dê,
justamente por causa da atuação discreta do Espírito Santo. Já retrataram o seu ministério como um
ministério de holofote em relação ao Senhor Jesus Cristo.1 O próprio Jesus, na noite da traição, disse: ele me
glorificará (Jo 16:14a). O holofote, para quem não sabe, é um aparelho que projeta intenso facho de luz,
especialmente usado para iluminar objetos a distância. Quando uma iluminação é bem feita os holofotes são
colocados de tal forma que não aparecem. O que se vê é apenas o objeto ou a pessoa para onde estão
voltados os holofotes.2
O Espírito Santo, o Deus que vive e atua na igreja, é o holofote oculto que ilumina Jesus. O seu
ministério, de certa forma, é muito parecido com o ministério de João Batista, que veio a este mundo para
fazer propaganda não de si mesmo, mas daquele que haveria de vir. O Espírito Santo veio para fazer
propaganda daquele que veio pela primeira vez para se oferecer uma vez para sempre tirar os pecados de
muitos (Hb 9:28a) e que aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação (Hb
9:28b). Ele veio glorificar aquele que é antes de todas as coisas, que estava com Deus no princípio, que é o
resplendor da glória de Deus, que é a expressão exata de Deus! Ele veio para glorificar aquele que esvaziou-
se a si mesmo, que assumiu a forma humana, que se fez Deus conosco!
Passemos a considerar, agora, a sua natureza. Depois, na segunda parte do nosso estudo,
trataremos das suas atuações, que, sempre, visam glorificar o Salvador.

1. A NATUREZA DO ESPÍRITO SANTO

1
Stott (2004:123).
2
Ibidem.
2
Quem é o Espírito Santo? Neste primeiro item do estudo da doutrina do Espírito Santo iremos
responder esta indagação, que é extremamente oportuna e relevante. Para começar, tratemos um pouco dos
termos bíblicos usados para se referir ao Espírito Santo. No Antigo Testamento, a palavra hebraica que
significa “espírito” é rûah. Essa é a palavra usada para se referir ao Espírito Santo no Antigo Testamento.
Sobre ela os autores Franklin Ferreira e Alan Myatt dizem o seguinte:

“O sentido fundamental da palavra é ‘soprar’, ‘vento’, ‘ar em movimento’. A ênfase da palavra não está tanto no fato
do ar que se move, mas na energia que se manifesta no movimento. (...) A noção de rûah de Deus é o poder ativo
no mundo, entre os homens e na criação. (...) A imagem é de poder e energia. Ferguson indica que é quase uma
força violenta e esmagadora”.3

O nome “Espírito Santo” ou “Santo Espírito” (rûah qâdosh) aparece apenas três vezes no Antigo
Testamento (cf. Sl 51:11; Is 63:10,11). As ocorrências mais comuns para denotar o Espírito divino no Antigo
Testamento são “Espírito de Deus” e “Espírito do Senhor”.4 A expressão “Espírito de Deus” é encontrada onze
vezes e, a expressão “Espírito do Senhor (hb. YHWH)”, vinte cinco vezes.
Em compensação, no Novo Testamento, o termo grego pneuma, usado para se referir ao
Espírito Santo, aparece cerca de noventa vezes. Pneuma, no Novo Testamento, tem um campo de
significados bem semelhante a rûah, no Antigo Testamento. As duas palavras, rûah e pneuma, significam
literalmente “vento”, “sopro”, “ar”, “fôlego”, “respiração”. Por isso, olhar para os termos rûah e pneuma sem
uma contextualização bíblico teológica, nos permitiria ver o Espírito Santo simplesmente como uma energia
impessoal e física.5 Lamentavelmente, isso é o que muitos fazem.
Entretanto, uma análise bíblica e teológica séria, nos mostrará que ele é infinitamente maior do
que um “vento santo”, ou do que um “Holy Gost” (Fantasma Santo), uma terminologia infeliz de algumas
versões bíblicas inglesas mais antigas.6 O Espírito Santo é “Deus pessoal, dinâmico, ativo, inteligente e
amoroso, criador dos céus e da terra e Senhor Soberano sobre todo o universo”.7
Ao contrário do que muitos pensam e ensinam, ele não é apenas uma energia espiritual que
provém ou que emana de Deus. Não podemos confundi-lo com uma força misteriosa, ou coisa do tipo. Muitos
o estão tratando assim; como se ele fosse apenas um poder, que fica, constantemente, à disposição dos
crentes. Quando estes clamam, esse poder lhes obedece e aparece. Entendido dessa forma, o Espírito Santo
é negado como um ser pessoal e divino. As Escrituras Sagradas não ensinam isso. Ao contrário, a Bíblia
mostra que o Espírito Santo é tanto uma pessoa, quanto é Deus, conforme veremos na sequência.

1.1 A DEIDADE DO ESPÍRITO SANTO

3
Ferreira; Myatt (2007:676-677).
4
Alexander; Rosner (2009:738).
5
Santos (2008:383).
6
Erickson (1997:345).
7
Santos (2008:383).
3
Podemos afirmar que o Espírito Santo é Deus, com toda certeza, por três razões evidentes: 1)
Na Bíblia Sagrada nós temos alguns textos que mostram claramente que o Espírito Santo é Deus; 2) Na
Bíblia Sagrada nós temos vários textos que atribuem qualidades divinas ao Espírito Santo; e, 3) Na Bíblia
Sagrada nós encontramos textos que mostram o Espírito Santo realizando obras divinas. Para que fique mais
claro, vejamos cada uma destas duas razões separadamente.

1.1.1 As evidências bíblicas da deidade do Espírito Santo.

As Escrituras ensinam que o Espírito Santo é Deus. Alguns textos são bem contundentes neste
sentido. A seguir apresentamos alguns exemplos:
Primeiro, o texto de Atos capítulo 5. Esse é um dos textos mais claros no que diz respeito a deidade
do Espírito Santo. No versículo 3, na pergunta de Pedro a Ananias, ele afirma: ...mentisses ao Espírito Santo.
E, no versículo 4, o apóstolo completa: ...não mentiste aos homens, mas a Deus. Portanto, fica claramente
evidenciada, nestes versículos, a deidade do Espírito Santo. Parece que, “na mente de Pedro, ‘mentir para o
Espírito Santo’ e ‘mentir a Deus’ eram expressões intercambiáveis”.8
John Stott, comentando sobre este texto, também nota que Pedro afirma a deidade do Espírito Santo
nesta ocasião.9 Matthew Henry, neste mesmo sentido diz que podemos deduzir por este texto que o Espírito
Santo é Deus, visto que, quem mente a ele mente também a Deus. “O poder e a autoridade do Espírito são o
poder e a autoridade de Deus”.10 Sendo assim, não há como concluirmos outra coisa, analisando este texto,
senão, a plena divindade do Espírito Santo.
Segundo, a comparação dos textos de I Coríntios. Outra exemplo bíblico em que podemos encontrar
o uso equivalente dos termos “Espírito Santo” e “Deus” está em I Coríntios. Ali, ao se referir ao corpo do
cristão, o apóstolo Paulo diz: Não sabeis que sois santuários de Deus e que o Espírito Santo habita em vós (I
Co 3:16). Logo mais à frente ele usa uma linguagem quase idêntica: Ou não sabeis que o vosso corpo é
santuário do Espírito Santo (I Co 6:19). Sobre a palavra “santuário” os gregos tinham dois termos para
designá-la. Um era hieron, que se refere ao complexo do templo em geral e a outro era naos, que denota o
prédio do templo.11 Nestes dois textos a palavra usada no original é naos. Ou seja, o que Paulo está dizendo
é que o corpo do cristão é o templo ou o santuário.
Agora o que chama atenção nestes textos é o fato de Paulo usar num texto a expressão “santuários
de Deus” e noutra “santuários do Espírito Santo”. O corpo do cristão é o “santuário de Deus” ou o “santuário
do Espírito Santo”. É claro que aqui nós não temos nenhum problema teológico, mas apenas uma verdade
bíblica incontestável: O Espírito Santo é Deus! Na mente de Paulo, ser habitado pelo Espírito Santo e ser
habitado por Deus é a mesma coisa. Ser habitado pelo Espírito Santo é ser habitado por Deus. “Ao igualar a
frase “santuário de Deus” e “Santuário do Espírito Santo”, Paulo deixa claro que o Espírito Santo é Deus”.12
Terceiro, a comparação entre Isaías capítulo 6 e Atos capítulo 28. Além destes exemplos já
mencionados, ainda temos outro exemplo bíblico que evidencia a deidade do Espírito Santo. No conhecido
texto de Isaías, capítulo 6, lemos: Depois disto ouvi a voz do Senhor que dizia... Ele então disse: Vai e diz a
este povo: Ouvindo, ouvireis, e nunca entendereis; e, vendo, vereis, e jamais percebereis. (v. 8-9). Neste
texto é reconhecido claramente que é Deus quem fala com Isaías. Agora, veja o que Lucas escreveu no
capítulo 28 de Atos, ao citar este texto: Bem falou o Espírito Santo aos vossos pais pelo profeta Isaías,
dizendo: Vai a este povo e dize: Ouvindo ouvireis, e de maneira nenhuma entendereis; e vendo vereis, e de
maneira nenhuma percebereis (v. 25-26 – grifo nosso).
Será que Lucas errou ao dizer que foi o Espírito Santo quem falou estas palavras? É lógico que não!
Para Lucas era bem claro, como o é para nós também, que as palavras de Deus também são as palavras do
Espírito Santo. Ele é Deus! Matthew Henry também concorda com esta afirmação, no seu comentário no

8
Erickson (1997:346).
9
Stott (2008:121).
10
Henry (2008:48).
11
Kistemaker (2004:286).
12
Erickson (1997:346).
4
Novo Testamento, ao comentar esse texto de Atos dos apóstolos ele escreve: “O que foi dito por JEOVÁ é
atribuído ao Espírito Santo, o que prova que o Espírito Santo é Deus”.13
Quarto, a declaração de Jesus em João capítulo 14. Ao se referir a vinda do Espírito Santo Jesus
disse: E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro consolador, para que fique para sempre convosco (Jo 14:16 –
grifo nosso). Esse é um dos textos chaves para entendermos a natureza do Espírito Santo e comprovar a sua
deidade. Observe a palavra “outro”. Existem duas palavras gregas para “outro”. A primeira delas é heteros,
que significa “diferente”, ou “outro diferente”. Do termo grego heteros, surgiram as conhecidas palavras
“heterogêneo”, “heterossexual”, “heterodoxo” e etc.
A segunda palavra grega para “outros” é allos. Esta palavra significa “outro da mesma espécie, do
mesmo tipo, da mesma natureza”. Neste texto de João, Jesus diz que o Espírito Santo é “outro consolador”.
O termo usado por João, ao escrever este texto, foi allon, ou seja, O Espírito Santo é igual a Jesus. Ele é
outro consolador da mesma espécie, do mesmo tipo e da mesma natureza que Jesus. Ele é outro que é igual.
Portanto, se Jesus é uma pessoa o Espírito Santo também é uma pessoa (veremos isso mais a frente). Pela
mesma razão, conforme afirma Hendriksen, o Espírito também deve ser divino.14 Ryrie também afirma que
“outro” aqui significa outro do mesmo tipo, desta maneira, se Cristo é Deus, então o Espírito, o “outro
Consolador”, do mesmo tipo, também é Deus.15
Quinto, os textos sobre a Triunidade. Em Mateus capítulo 28 Jesus comissiona os seus discípulos
para a obra discipuladora: Ide, fazei discípulos em todos os povos, batizando-os em nome do Pai, do Filho e
do Espírito Santo (v. 19 – grifo nosso). Veja que texto interessante. Os três são colocados em pé de
igualdade. O Espírito Santo é Deus, assim como o Pai o é, e assim como Filho também o é!
Em II Coríntios capítulo 13 também encontramos essa associação de igualdade do Espírito Santo
com o Pai e com o Filho: A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo
sejam com todos vós (v. 13). Está é a única benção no Novo Testamento que abrange os três membros da
Triunidade.16 Não há nenhuma sugestão de que um seja menor que o outro. O Espírito Santo é Deus como
Pai é e como o Filho é. A única coisa que o texto faz é destacar algumas qualidades que são notórias em
cada uma das pessoas da Triunidade: Do Filho é destacado a graça, do Pai o amor e do Espírito Santo a
consolação. E, é bom salientarmos que isso não significa, de maneira alguma que o Espírito não ame, ou que
o Filho não console ou até mesmo que o Pai não seja gracioso.
De igual forma o apóstolo Pedro, em sua primeira carta, coloca os três membros da Triunidade juntos,
“observando seus respectivos papéis no processo da salvação”.17 ...aos eleitos peregrinos da dispersão (...)
eleitos segundo a presciência de Deus Pai, pela santificação do Espírito, para obediência e a aspersão do
sangue de Jesus Cristo, graça e paz vos sejam multiplicadas (I Pe 1:1-2). Neste texto as três pessoas da
Triunidade são mencionadas e colocadas em uma base de aparente igualdade.

Por fim, ao analisarmos todos estes textos não como concluir outra coisa: o Espírito Santo é Deus!
Isso ficará mais evidente ao estudarmos o tópico seguinte, onde veremos vários atributos divinos que são
aplicados a ele.

1.1.2 Atributos divinos aplicados ao Espírito Santo.

Várias qualidades que são próprias de Deus, tais como: eternidade, onipresença, onisciência,
onipotência e veracidade; são aplicadas ao Espírito Santo na Bíblia Sagrada. Vamos examinar, a seguir, cada
uma delas.
Em primeiro lugar, a eternidade: O autor de Hebreus escreveu: ...muito mais o sangue de Cristo, que,
pelo Espírito eterno, a si mesmo se ofereceu sem mácula a Deus (9:14). Aqui, há uma ênfase que não
devemos desprezar: a referência ao Espírito eterno. Dizer que o Espírito Santo é eterno é dizer que o tempo

13
Henry (2008:302).
14
Hendriksen (2004:663).
15
Ryrie (2004:399).
16
Macdonald (2008:581).
17
Erickson (1997:347).
5
não impõe limites a ele. O tempo não altera a sua pessoa, o seu caráter e o seu propósito. De eternidade a
eternidade, o Espírito Santo continua o mesmo, sendo que, a ele, nada é adicionado ou subtraído, pois,
desde sempre, foi o Espírito Santo. “O termo eterno, que com toda a propriedade pode também ser atribuído
a Deus, o Pai, ou a Deus, o Filho, é aqui atribuído ao Espírito Santo. Visto que esse atributo só pode ser
predicado de Deus, o Espírito Santo só pode ser entendido como Deus”.18
Em segundo lugar, a onipresença: Sobre este atributo divino aplicado ao Espírito Santo, o salmista
afirmou: Para onde me ausentarei do teu Espírito? Para onde fugirei da tua face? Se subo aos céus, lá estás;
se faço a minha cama no mais profundo abismo, lá estás também; se tomo as asas da alvorada e me detenho
nos confins dos mares, ainda lá me haverá de guiar a tua mão, e a tua destra me susterá (Sl 139:7-10). Aqui,
o salmista expressa, com beleza, que o Espírito Santo é onipresente, isto é, ilimitado, com respeito ao
espaço. Ele está o tempo todo presente, em todas as partes do vasto universo, com todo o seu ser. Não
existe um lugar sequer em que possamos escapar da sua poderosa presença.
Em terceiro lugar a onisciência: Observe as palavras do apóstolo Paulo: Mas Deus no-lo revelou pelo
Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus (...) Assim,
também as coisas de Deus, ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus (I Co 2:10-11 – grifo nosso).
Perscrutar neste texto é “esquadrinhar”, “investigar”, “examinar”, “procurar”.19 Não se pode negar que este
texto prova a plena divindade do Espírito Santo. A expressão até mesmo as profundezas de Deus mostra a
amplitude e a grandeza do seu conhecimento. Ele perscruta e nada pode ser escondido dele! O Espírito
Santo conhece a si mesmo e todas as outras coisas de maneira perfeita e completa, quer sejam passadas,
quer sejam presentes ou futuras.
Em quarto lugar, onipotência: No recado que o anjo Gabriel trouxe a Maria, ele disse: Respondeu-lhe
o anjo: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso,
também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus (Lc 1:35). Este texto é a resposta do
anjo Gabriel à pergunta de Maria (Lc 1:34). O anjo diz que o Filho especial de Maria viria ao mundo como
resultado do poder criador do Espírito Santo. O poder do Espírito Santo traria à existência um novo ser
humano, sem a perversa e corrupta herança do pecado original de Adão (Rm 5:13-14). Ele é onipotente! Esta
é apenas uma das obras onipotentes do Espírito Santo. Mas, na verdade, todas as obras feitas pelo Espírito
Santo – veremos várias delas -, são obras que exigem que quem as realize seja onipotente e, portanto, Deus.
Em quinto lugar, a veracidade. A Bíblia mostra que a veracidade é uma das qualidades do Pai (Jo
7:28) e também uma das qualidades do Filho (Ap 3:7). Agora, no que diz respeito ao Espírito Santo, ela
também registra: E o Espírito é o que dá testemunho, pois o Espírito é a verdade (I Jo 5:7). O próprio Jesus já
o havia chamado de “O Espírito da verdade” (Jo 14:17; 15:26). Chafer diz acertadamente sobre a veracidade
do Espírito: “ele não somente possui a verdade: Ele é testemunha fiel da verdade. Como tal, Ele é o autor
divino das Escrituras, e neste sentido, concede testemunho da verdade. Uma mentira contra o Espírito Santo
foi instantaneamente punida com a morte (At 5:1-11)”.20

1.1.3 Obras divinas realizadas pelo Espírito Santo.

No item anterior, vimos, de modo breve, algumas atributos divinos que são aplicados ao Espírito
Santo. Agora, vamos discorrer sobre algumas obras divinas realizadas pelo Espírito Santo, tais como a
criação, e a redenção. Estas obras são exclusivas de Deus. Ou seja, se a Bíblia mostra que o Espírito Santo
as realiza, conforme veremos, então, não há como negar: ele é Deus!
Em primeiro lugar, a atuação do Espírito Santo na criação. Há quem ensine que Deus Pai atuou na
criação, que Deus Filho atuou na redenção e que Deus Espírito atuou na salvação. É assim mesmo? Não. Na
verdade, os três atuaram na criação e na redenção. Por exemplo, na criação, Deus Pai proferiu as palavras
criadoras, para gerar o universo. O relato de cada dia criação começa assim: E disse Deus (Gn 1:3,6). O
Deus Filho é o agente da criação: Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que

18
Chafer (2003:371).
19
Rienecker; Rogers (1995:289).

20
Chafer (2003:372).
6
foi feito se fez (Jo 1:3). Em Cl 1:16-17, lemos que nele, foram criadas todas as coisas (...) Nele, tudo subsiste.
Hebreus 1:2 refere-se ao Filho, pelo qual também fez o universo. Também, em Ap 3:14, o próprio Cristo
afirma ser aquele por meio de quem Deus criou todas as coisas.
Mas, e o Espírito Santo também estava atuante na obra da criação? Sim. Em Gênesis 1:2, lemos
que a terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus
pairava por sobre as águas. A palavra hebraica “pairava” (rãhap no original hebraico) aparece somente duas
vezes na Bíblia Sagrada (Gn 1:2; Dt 32:11).21 Ela também tem o sentido de “chocar”. No texto de
Deuteronômio lemos: Como a águia que desperta a sua ninhada, paira sobre seus filhotes... (Dt 32:11 – NVI).
O Espírito Santo como “uma devotada ave à volta do seu ninho, Ele se movia prodigalizando o Seu amor ao
mundo recém-criado”.22 O Espírito Santo estava sobre a Terra e cuidava do planeta, que ainda não era
habitado.23
Além de participar da criação da terra, o Espírito Santo tomou parte na criação do ser humano.
Gênesis 1:26 mostra que Deus não o criou sozinho, pois afirmou: Façamos. Não bastasse isso, em Gn 3:22,
Deus disse: ... o homem se tornou como um de nós (grifo nosso). Isso nos faz entender que, mais uma vez, o
Pai não estava só, a partir do que se pode concluir que o Espírito Santo também estava ali, em comunhão.
O mesmo é dito, no Sl 33:6: Os céus por sua palavra se fizeram, e, pelo sopro de sua boca, o
exército deles. Segundo os estudiosos da língua hebraica, a palavra “sopro” pode ser também traduzida por
“espírito”. Os trechos do Salmo 104:30 – Envias o teu Espírito, e são criados, e assim renovas a face da terra
- e de Jó 33:4 - O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me dá vida – também comprovam a
atuação do Espírito Santo na criação, de maneira ainda mais clara. Portanto, não há como contestar que o
Espírito Santo é Deus criador.
Em segundo lugar, a atuação do Espírito Santo na redenção. De igual modo, o Espírito Santo
participou na obra da redenção. Na verdade, Charles Hodge chega a afirmar que, a obra do Espírito Santo na
redenção é descrita como tão essencial quanto a própria redenção.24 Mas, afinal de contas, o que o Espírito
Santo faz, ou fez, na redenção, que é tão essencial assim? Pois bem, Deus Pai planejou-a e enviou o seu
Filho ao mundo (Jo 3:16; Gl 4:4). Depois de realizar a obra de redenção (Hb 10:5-10), Deus Filho voltou à
glória e rogou ao Deus Pai que enviasse outro Consolador, para aplicar-nos a redenção. Hoje, o papel do
Espírito Santo é concluir a obra redentora, planejada por Deus Pai e inaugurada por Deus Filho. Franklin
Ferreira e Alan Myatt dizem que:

“É o Espírito Santo quem aplica os benefícios da salvação aos cristãos, justificando, regenerando e santificando o
crente, e edificando a igreja. (...) não se comete exageros ao dizer que toda a vida cristã é vivida no Espírito e por
meio dele. É ele quem nos regenera e nos conduz à verdade; é ele quem opera fé no coração dos eleitos e quem,
por meio desta fé, faz com que compartilhemos em Cristo de todos os seus benefícios alcançados na cruz”. 25

O Espírito Santo é obediente, tanto às ordens do Pai quanto às do Filho. Sua missão específica
é testificar do Deus Filho, convencendo homens e mulheres do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:7-11).
Assim, desde o princípio da criação, temos indícios de que a obra do Espírito Santo consiste em completar o
que Deus Pai planejou e o que Deus Filho começou. Em I Pedro, capítulo 1 versículo 2 lemos o seguinte:
Deus o Pai escolheu vocês há muito tempo e sabia que se tornariam seus filhos. E o Espírito Santo tem
operado no coração de vocês, purificando-o com o sangue de Jesus (Bíblia Viva).

Enfim, a fé no Espírito Santo como Deus verdadeiro, um com o Pai e com o Filho, é o resumo da
fé Cristã. Sem ela nem a criação, nem a redenção e nem a santificação podem ser sustentadas. 26 E, depois
de examinarmos, biblicamente, as características e as atuações divinas do Espírito Santo, e verificarmos que
ele organizou o caos, na criação do mundo, participou da criação do homem e do plano redentor, concluímos

21
Harris; Archer Jr.;Waltke (1998:1420).
22
Pfeiffer; Harrison (1984:4).
23
Ryrie (2004:402).
24
Hodge (2001:390).
25
Ferreira; Myatt (2007:688).
26
Idem, p. 689.
7
que a sua deidade é uma doutrina incontestável, pois é clara, nítida e marcante a atuação do Espírito Santo
em toda a Bíblia. Vejamos, a partir de agora, as provas bíblicas de sua pessoalidade.

1.2 A PESSOA DO ESPÍRITO SANTO

No início do quarto século, um presbítero de Alexandria, no Egito, chamado Ário (o mesmo que
estudamos na parte sobre Cristologia), foi quem deu início ao falso ensino de que o Espírito Santo é uma
energia exercida por Deus. Esse ensino alcançou grande aceitação nas igrejas antigas, mas foi condenado,
oficialmente, pelo concílio de bispos na cidade de Nicéia, no ano 325 d.C. Ainda assim, as idéias de Ário
continuaram influenciando e confundindo, até mesmo importantes teólogos do Cristianismo.
Ainda hoje, o arianismo é ensinado e defendido por várias seitas. Semanalmente, uma dessas
seitas bate à nossa porta, nas piores horas possíveis, manejando os capítulos e os versículos das suas
Bíblias, com surpreendente velocidade e facilidade para negar que o Espírito Santo seja um ser divino e
pessoal. Todavia, a personalidade do Espírito Santo está claramente demonstrada em vários textos da
palavra de Deus, que todo estudante honesto e sincero deve averiguar, cuidadosamente. Apesar de alguns

8
opositores, como o já citado Ário, “a pessoalidade do Espírito Santo tem sido a crença da Igreja desde o
princípio”.27
Ao examinarmos a Palavra de Deus, percebemos claramente que o Espírito Santo possui
características pessoais. Além de a Bíblia mostrar que ele é Deus, mostra também que ele é uma pessoa.
Podemos comprovar isso por três razões principais: 1) A Bíblia atribui ao Espírito Santo características
pessoais; e, 2) A Bíblia atribui ao Espírito Santo atividades pessoais; e, 3) A Bíblia atribui ao Espírito Santo
pronomes pessoais. Vejamos cada uma destas duas razões com mais detalhes.

1.2.1 Características pessoais atribuídas ao Espírito Santo.

Muitos têm dificuldade de acreditar nisso, porque o Espírito Santo não tem um corpo. Vale a pena
dizer que características pessoais não têm nada haver com corporeidade (mãos, olhos, etc.).
Tradicionalmente crê-se que os elementos fundamentais que formam uma pessoa são: inteligência,
sensibilidade e vontade;28 características estas, que uma força, com toda certeza, não tem. O Espírito Santo
tem todas elas. Analisemos cada um desses atributos pessoais do Espírito Santo:
Em primeiro lugar, ele possui inteligência: O fato de possuir inteligência significa que o Espírito Santo
é capaz de entender, raciocinar e interpretar. Há, na Bíblia, várias alusões a essa característica do Espírito
Santo. Numa oração de louvor a Deus, os levitas do tempo de Neemias reconheceram que Senhor concedeu
aos filhos de Israel do seu bom Espírito, para os ensinar (Ne 9:20). Veja que, nos tempos do Antigo
Testamento, o Espírito Santo já exercia a sua função de Mestre do povo de Deus.
O profeta Isaías previu que o Espírito Santo estaria sobre o Messias, para equipá-lo na sua missão:
Repousará sobre ele o Espírito do SENHOR, o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de
conselho e de fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR (Is 11:2). Veja que, das sete
qualidades alistadas, cinco estão relacionadas à inteligência do Espírito Santo: sabedoria, conselho,
entendimento, conselho e conhecimento. Além disso, o “Espírito conhece e busca as coisas de Deus (I Co
2:10-11). Tem mente própria (Rm 8:27); e é capaz de ensinar pessoas (I Co 2:13)”.29
Em segundo lugar, ele possui sensibilidade: O Espírito Santo é capaz de experimentar as mais
variadas emoções. Em Isaías 63:10: Mas eles rebelaram e entristeceram o seu Santo Espírito. Por isso, em
Ef 4:30, somos alertados: E não entristeçais o Espírito de Deus, no qual fostes selados para o dia da
redenção. O verbo “entristecer” fora traduzido de um verbo grego – lupeite –, que pode ser traduzido,
também, por irritar, ofender, insultar, afligir, “causar dor, aflição”.30 Ele é o mesmo verbo grego utilizado em Mt
14:19; Mc 10:22; Jo 16:20; Rm 14:15 e II Co 2:2, referindo-se a pessoas, afinal, “somente pessoas podem
sentir pesar”.31
Os crentes da igreja de Tessalônica acolheram a mensagem do evangelho do Senhor, em meio de
muita tribulação, com alegria do Espírito Santo (I Ts 1:6). Do mesmo modo, em Gálatas 5:22, vemos que a
alegria é um dos aspectos do fruto do Espírito Santo. Nota-se que os dois textos mostram que o Espírito
Santo é alegre. A alegria é uma manifestação ou uma característica do Espírito Santo (At 13:52).
Em terceiro lugar, ele possui vontade: O Espírito Santo é capaz de fazer escolhas, de tomar decisões
livremente. I Coríntios 12:11 nos ensina que dons espirituais são dados aos membros do corpo de Cristo,
segundo a sua soberana vontade: ...distribuindo-as individualmente conforme deseja. A palavra em português
“deseja” é a tradução da palavra grega bouletai, que também significa “querer”, “determinar”. O verbo está no
presente na língua grega e enfatiza a ação habitual ou repetida do Espírito Santo. 32 Ou seja, ele sempre faz
como deseja ou como determina. Ele é soberano. Sobre este texto, Champlin explica que “a ênfase que recai
sobre a sua vontade demonstra a sua ‘personalidade’. O Espírito Santo não é apenas uma mera influência”.33

27
Hodge (2001:389).
28
Erickson (1997:349).
29
Ryrie (2004:397).
30
Rienecker; Rogers (1995:396).
31
Stott (2004:124).
32
Idem, p. 317.
33
Champlin (1979:194)
9
A vontade do Espírito Santo também está evidenciada em At 16:7, em que lemos que os apóstolos
percorrendo a região frígio-gálata, tendo sido impedidos pelo Espírito Santo de pregar a palavra na Ásia (At
16:6). Naquele momento, não era da vontade do Espírito Santo que os apóstolos evangelizassem aquela
região. A vontade do Espírito era a de que o evangelho de Cristo fosse pregado na Macedônia (At 16:10).
Portanto, a Bíblia claramente atribui várias características pessoais ao Espírito Santo. Muitos outros
textos poderiam ser mostrados, mas cremos que estes são suficientes para comprovar que o Espírito Santo é
uma pessoa divina, que pode ser tentada (At 5:9), resistida (At 7:51), obedecida (At 13:3), blasfemada (Mc
3:29). Vejamos agora algumas atitudes pessoas que a Bíblia atribui ao Espírito Santo.

1.2.2 Atividades pessoais atribuídas ao Espírito Santo.

As Escrituras Sagradas mostram o Espírito Santo realizando e executando as mais diversas


atividades pessoais. Veremos algumas dessas atividades agora. As palavras que as evidenciam aparecem
grifadas nos textos.
Em primeiro lugar, o Espírito Santo fala: Para alertar a igreja de Cristo sobre o falso ensino, o Espírito
Santo fala profeticamente: Mas o Espírito expressamente diz que, nos últimos tempos, apostatarão alguns da
fé, dando ouvidos a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios (I Tm 4:1). Em Atos 13:2 lemos: E,
servindo eles ao Senhor, e jejuando, disse o Espírito Santo...
Em segundo lugar, o Espírito Santo ensina: O próprio Jesus afirmou que o Espírito Santo nos
esclarece e nos recorda o ensino da palavra de Deus: Isto vos tenho dito, estando ainda convosco; mas
Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos
fará lembrar de tudo o que vos tenho dito (Jo 14:25-26).
Em terceiro lugar, o Espírito Santo constitui: O apóstolo Paulo exortou os líderes da igreja de Éfeso a
terem responsabilidades com o rebanho de Deus, dizendo: Olhai, pois, por vós e por todo o rebanho sobre
que o Espírito Santo vos constituiu bispos, para apascentardes a igreja de Deus, que ele resgatou com seu
próprio sangue (At 20:28).
Em quarto lugar, o Espírito Santo intercede: O apóstolo Paulo explicou, com exatidão, a tarefa do
Espírito Santo em nossa oração: E da mesma maneira também o Espírito ajuda as nossas fraquezas; porque
não sabemos o que havemos de pedir como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós com gemidos
inexprimíveis (Rm 8:26).
Em quinto lugar, o Espírito Santo convence: Mas eu vos digo a verdade: convém-vos que eu vá,
porque, se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele
vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16:7-8).
Em sexto lugar, o Espírito Santo conforta: As Escrituras Sagradas mostram o Espírito consolando e
encorajando os crentes da igreja de Cristo: A igreja, na verdade, tinha paz por toda a Judéia, Galiléia e
Samaria, edificando-se e caminhando no temor do Senhor, e, no conforto do Espírito Santo, crescia em
número (At 9:31).
Em sétimo lugar, o Espírito Santo inspira: Referindo-se à origem divina das Sagradas Escrituras, o
apóstolo Pedro afirma: ... porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os
homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo (II Pe 1:21).
Em oitavo lugar, o Espírito Santo testifica. A sua missão é testificar de Jesus e, por isso, ele nunca
colocará a si mesmo no centro das atenções: Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei
de enviar, aquele Espírito da verdade, que procede do Pai, testificará de mim (Jo 15:26).
Em nono lugar, o Espírito Santo ordena: As Escrituras Sagradas mostram o Espírito Santo ordenando
à igreja de Antioquia que separasse Barnabé e Saulo para a obra de evangelização: E, servindo eles ao
Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo para a obra a que os tenho
chamado (At 13:2).
Depois de mostrarmos, na Bíblia, tantas atividades pessoais do Espírito Santo, fica evidente que ele é
um ser pessoal. Coisas não constituem, não intercedem, não confortam, não inspiram, não ordenam, não é
mesmo? Somente uma pessoa pode executar essas atividades, como é o caso do Espírito Santo.

10
1.2.3 Pronomes pessoais atribuídos ao Espírito Santo.

Conforme já pontuamos, a palavra grega usada para se referir ao Espírito é pneuma. Esta
palavra não é nem masculina e nem feminina em sua língua original. Pneuma é um substantivo “neutro”. Já
que os “pronomes devem concordar com seu antecedente em pessoa, número e gênero, seria de se esperar
que o pronome neutro fosse empregado para representar o Espírito Santo”. 34 Entretanto, isso não acontece.
Os “autores do Novo Testamento usam um pronome pessoal masculino para se referir ao Espírito Santo”.35
Por exemplo, no grego utilizado no Evangelho de João Jesus aparece cinco vezes referindo-se
ao Espírito Santo com o enfático pronome ekeinos, “ele”.36 Vejamos alguns exemplos: ...ele vos ensinará
(14:26); ele dará testemunho a respeito de mim (15:26); quando ele vier... (16:8); ...ele vos conduzirá (16:13);
Ele me glorificará (16:14). Em todos estes textos Jesus está se referindo ao Espírito Santo. O uso do
pronome masculino ele (Gr. Ekeinos), em lugar de um pronome “neutro”, que seria natural, visto que pneuma
é um substantivo neutro, mostra que o Espírito Santo é uma pessoa e não uma coisa. “Aqui não há
possibilidade de considerar o uso do pronome pessoal ele [ekeinos] em nenhuma outra base que não a da
pessoalidade do Espírito Santo”.37
Ryrie diz que, nestes textos em que o pronome masculino é empregado acompanhando um
substantivo neutro, as regras normais da gramática são contrariadas, mas a pessoalidade do Espírito Santo é
confirmada.38 Esta também é a opinião de Stott que afirma que a “teologia triufa sobre a gramática! O Espírito
Santo não é uma influência vaga e indefinível, ou um ‘aquilo’ qualquer, mas uma pessoa real”. 39 Enfim, não
há como concluir outra coisa, ao se referir ao Espírito Santo, Jesus tinha uma pessoa em mente e não uma
coisa: ...ele vos ensinará (14:26); ele dará testemunho a respeito de mim (15:26); quando ele vier... (16:8);
...ele vos conduzirá (16:13); Ele me glorificará (16:14).

Concluímos esta parte salientando que o que a Bíblia nos ensinou sobre o Espírito Santo não
deixa dúvidas sobre a sua pessoa. Ela atribui a ele características pessoais, atividades pessoais e pronomes
pessoais. Estas atribuições provam que ele é um ser pessoal, como Deus Pai e Deus Filho.

34
Erickson (1997:348).
35
Ryrie (2004:398).
36
Stott (2004:123).
37
Hodge (2001:391).
38
Ryrie (2004:398).
39
Stott (2004:123).
11
1.3 SÍMBOLOS DO ESPÍRITO SANTO

Todos nós estamos bastante acostumados à linguagem simbólica. Nós a utilizamos para
enriquecermos a nossa comunicação escrita e falada. Alguém já chegou a dizer que “as palavras são
veículos inadequados para transmitir a verdade. Quando muito, apenas revelam a metade das profundidades
do pensamento”.40 Talvez seja por esta razão – a “pobreza” das palavras humanas -, que a linguagem
simbólica seja tão apreciada! Através dos símbolos, se fala muito com pouquíssimas palavras. A Bíblia
também adota este excelente recurso didático de diversas maneiras. Por exemplo, ao falar de "reino de Deus"
(Mt 21:31; At 19:8; Rm 14:17; I Co 4:20; Gl 5:21; II Ts 1:5), ela está buscando na monarquia, sistema de
governo familiar aos seus leitores originais.
De igual modo, as Sagradas Escrituras aplicam inúmeros símbolos conhecidos, para se referirem a
Deus e a Jesus. Deus é chamado de abrigo (Sl 61:4), de rocha (Sl 94:2), de guarda (Sl 121:4), de pastor (Sl
23:1). O mesmo se dá com Jesus, que é chamado de porta (Jo 10:9), de pedra (I Pe 2:7), de leão (Ap 5:5), de
ovelha (Is 53:7). Isto acontece quando se refere à pessoa do Espírito Santo, que é, também, simbolicamente
representado. Os símbolos aplicados ao Espírito Santo nos ajudam, em muito aspectos, a entender melhor a
sua natureza. Vejamos então quais são estes símbolos.

1.3.1 A apresentação dos símbolos que representam o Espírito Santo.

Conforme já afirmamos, uma das vantagens da linguagem simbólica é que ela transmite muito
conteúdo com poucas palavras. Por exemplo, quando Jesus chamou a si mesmo de “pão da vida” (Jo 6:35),
buscou um elemento presente no dia-a-dia de seus ouvintes, para mostrar-lhes que viera suprir toda a fome

40
Pearlman (2006:288).

12
espiritual que eles sentiam. Assim, todos entenderam claramente a mensagem do Mestre. Neste sentido, vale
a pena conhecer os vários símbolos atribuídos ao Espírito Santo, que ilustram a sua identidade e a sua
atividade entre o povo de Deus.
Em primeiro lugar, a água: Ao fazer referência à descida do Espírito Santo, a Bíblia menciona um
“derramamento” (Jl 3:1; Is 32:15, 44:3; Ez 36:25, 39:29; At 10:45; Tt 3:5-6), e também descreve Deus como
manancial de águas vivas (Jr 2:13, 17:13), expressão que aparece em Jo 7:38 referindo-se ao Espírito Santo,
que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito até aquele momento não fora dado, porque
Jesus não havia sido ainda glorificado (Jo 7:39).
Em segundo lugar, o fogo: A vinda do Espírito Santo está associada ao fogo, em Mt 3:11; Lc 3:16 e II
Tm 1:6. No dia de Pentecostes, a festa das semanas (Lv 23:15; Dt 16:9), que caía cinqüenta dia após a festa
da páscoa, o Espírito Santo pousou, na forma de línguas de fogo, sobre os 120 discípulos reunidos no
cenáculo e os encheu de poder divino: E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e
pousou uma sobre cada um deles (At 2:3).
Em terceiro lugar, o vento: Ao falar sobre o novo nascimento a Nicodemos, um dos principais dos
judeus, Jesus lhe disse: ... se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus (Jo 3:3). Para
ilustrar a soberana operação do Espírito Santo, na obra de regeneração do pecador, Jesus se referiu à ação
do vento: O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é
todo o que é nascido do Espírito (Jo 3:8).
Em quarto lugar, a pomba: Jesus, embora não precisasse arrepender-se e não tivesse pecado para
confessar, ocupou o lugar do pecador e se pôs à beira do Jordão, para receber o batismo de João. Assim que
foi batizado, Jesus saiu da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como
pomba e vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me
comprazo (Mt 3:16-17).
Em quinto lugar, o selo: Em ação de graças por todas as bênçãos sobre a igreja, o apóstolo Paulo
afirma, em sua carta aos santos que estão em Éfeso, e fiéis em Cristo (Ef 1:1), que fomos escolhidos pelo Pai
(1:3-6), redimidos pelo Filho (1:7-12) em quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o
evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa (Ef
1:13).
Em sexto lugar, o penhor: Muito antes de criar o mundo, Deus nos escolheu para sermos seus filhos,
por meio da nossa união com Cristo, no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados,
segundo a riqueza da sua graça (Ef 1:7). Assim, os que creram no evangelho da salvação receberam, em
seus corações, a presença do Espírito Santo, o qual é o penhor da nossa herança ao resgate da sua
propriedade, em louvor da sua glória (Ef 1:14).
Em sétimo lugar, o óleo: Pregando aos da casa de Cornélio, na cidade de Cesaréia, Pedro lhes disse:
Vós conheceis a palavra que se divulgou por toda a Judéia, tendo começado desde a Galiléia, depois do
batismo que João pregou, como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com poder, o qual
andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque Deus era com ele (At
10:37-38).

1.3.2 O significado dos símbolos que representam o Espírito Santo.

Se todos os símbolos aplicados ao Espírito Santo forem entendidos literalmente, haverá conclusões
estranhas e confusas. O mesmo haverá em relação a Jesus, no que diz respeito à sua afirmação: ... eu sou o
pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do
mundo é a minha carne. Muitos, já naquele tempo, o interpretaram literalmente, e o resultado foi o escândalo
(Jo 6:52). Por causa disso é que, a seguir, explicaremos, de maneira resumida, o sentido de cada símbolo do
Espírito Santo.
Em primeiro lugar, a água: À semelhança do fogo, a água já foi usada por Deus como instrumento de
julgamento (Gn 7:15; Êx 14:28). Contudo, este símbolo está mais profundamente associado ao ato divino de
refrigerar (Sl 23:2; Is 32:2, 35:6-7, 41:18; Zc 14:8; Jr 2:13, 17:13) ou purificar (Êx 29:4; Nm 8:7; Lv 11:40, 15:5,
22:6; Dt 23:11; Ef 5:26; Hb 10:22) o seu povo. É neste sentido que devemos entendê-lo, quando é aplicado

13
ao Espírito Santo, que Deus derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador (Tt
3:6). Escrevendo sobre a água como um símbolo do Espírito Santo, Myer Pearlman afirmou o seguinte:

“A água purifica, refresca, sacia a sede e torna frutífero o estéril. Ela purifica o que está sujo e restaura a limpeza. É
símbolo adequado da graça divina, que não apenas purifica a alma, mas também lhe acrescenta a beleza divina. A
água é um elemento indispensável na vida física, e o Espírito Santo é um elemento indispensável na vida
espiritual”.41

Em segundo lugar, o fogo: O símbolo do fogo é usado, na Bíblia, para mostrar a graça (Êx 13:21), o
poder (I Rs 18:38; Ap 4:5), a glória (Êx 24:17; Ap 1:4), a prova (Sl 79:5; I Pe 4:12) e o juízo de Deus (Ml 3:2;
Ap 8:7). Em outras palavras, o fogo é usado para indicar a ação de Deus na purificação dos bons (Is 6:6; Zc
13:9; I Pe 1:7) e na destruição dos maus (Gn 19:24; Lv 10:2; II Ts 1:18). Quando a Bíblia atribui este símbolo
ao Espírito de Deus, é para mostrar o quanto ele é exuberante e poderoso, nas suas atuações e nas suas
operações, no meio do povo de Deus. Pearlman também afirma que: “O fogo ilustra a limpeza, a purificação,
a intrepidez ardente e zelo produzido pela unção do Espírito. O Espírito é comparado ao fogo porque o fogo
aquece, ilumina, espalha-se e purifica (cf. Jr 20:9)”.42
Em terceiro lugar, o vento: Para os judeus, o vento era uma força misteriosa e poderosa, que só podia
ser controlada por quem o criou (Sl 78:26, 135:7; Mt 8:26-27). De acordo com o que já pontuamos, ele é
empregado para simbolizar o Espírito Santo. Qual é, então, o grande ensino contido na simbologia do Espírito
Santo sendo comparado ao vento? Jesus disse: O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes
de onde vem, nem para onde vai. Assim é todo aquele que é nascido do Espírito (Jo 3:8). O vento é
misterioso, ninguém sabe de onde vem, ninguém sabe para onde vai.
Foi por essa razão que o Senhor o usou para ilustrar a obra regeneradora do Espírito Santo. Como
diz Grudem, “o que ocorre na regeneração é um mistério para nós. Sabemos que de algum modo nós, que
estivemos espiritualmente mortos (Ef 2:1), fomos vivificados por Deus (...) (Jo 3:3,7; Ef 2:5; Cl 2:13). Mas não
entendemos como isso ocorre (...)”. 43 Por isso, em linhas gerais, o principal ensino contido nesta simbologia,
está relacionado, diretamente, ao fato de o Espírito Santo ser misterioso. “O Espírito Santo não deixa
pegadas na areia”.44 Por mais que tentemos estudar ou montar resoluções sobre ele, não conseguiremos
dizer tudo o que o Espírito é, e faz.
As resoluções estarão sempre incompletas! Todavia, não obstante ser misterioso ele é real! O vento
é real. Nós não o vemos, mas podemos senti-lo. Podemos contemplar os efeitos do vento. Arvores balançam,
rios e mares se agitam, bandeiras drapejam e etc. Apesar de não conseguirmos ver o vento, temos a certeza,
ele está presente! Assim é o Espírito de Deus. Ele está presente! É real! E, assim como não se pode deter o
vento, ninguém pode deter o Espírito Santo. O texto de Atos 2:2 mostra isso.
O texto diz: um vento impetuoso... (At 2:2). O Espírito Santo é como um vento impetuoso! Ele não
pode ser domado. É livre e soberano. Não se prende a agenda dos homens. Não pode ser domesticado. Não
cede diante de pressões. Faz tudo como lhe apraz. Tudo de acordo com a sua vontade. Sopra onde quer!
Sopra em quem desejar! “Muitas vezes, ele sopra onde jamais sopraríamos e deixa de soprar onde estamos
soprando com toda a força”.45
Em quarto lugar, a pomba: Esta ave foi usada como símbolo do Espírito Santo por sua natureza
branda, gentil, dócil, pura, terna e mansa (Ct 2:14, 5:2, 6:9; Os 7:11). O próprio Jesus a usou como exemplo
de simplicidade a ser imitado pelo seu discípulo: Sejam sem maldade como as pombas (Mt 10:16 – NTLH). A
pomba simboliza bem o tipo de relacionamento que o Espírito Santo mantém conosco. A vida cristã cheia do
Espírito Santo é assinalada por essas qualidades espirituais.
Em quinto lugar, o selo: Além de ser um sinal de autenticidade, o selo marcava uma propriedade.
Assim, os adeptos de certos grupos religiosos tinham as suas peles marcadas ou tatuadas, para indicar que
pertenciam a tais grupos. Nesse mesmo sentido, Deus nos marca como filhos que lhe pertencem, enviando o

41
Pearlman (2006:289).
42
Ibidem.
43
Grudem (1999:585).
44
Frase de Abraham Kuyper.
45
Lopes (1999:72).
14
Espírito Santo para habitar em nossas vidas, de acordo com a promessa que ele mesmo nos deixou. De
acordo com Pearlman, na época de Paulo, o seguinte costume era comum em Éfeso: um negociante ia ao
porto selecionar certa madeira e depois marcava com seu selo – um sinal de reconhecimento da posse. Mais
tarde, mandava seu servo com o selo, e este trazia a madeira que tivesse a marca correspondente (cf. II Tm
2:19).46 A sua presença em nosso coração é um tipo de selo ou um sinal de que pertencemos exclusivamente
ao Senhor (II Co 1:21-22).
Em sexto lugar, o penhor: A palavra grega para penhor é arrabon, que também significa: “primeiro
pagamento, sinal, depósito, penhor”.47 Nos tempos bíblicos, uma pessoa dava um objeto pessoal precioso,
como garantia de pagamento do empréstimo (Êx 22:26; Dt 24:11; Jó 24:9; Pv 20:16; Ez 18:16). Este termo foi
usado pelo apóstolo Paulo, em II Co 1:22, 5:5 e Ef 1:14, e, na NTLH, foi traduzido por “garantia”. Assim, o
Espírito Santo é a garantia dada por Deus ao crente de que este receberá, no futuro, a herança eterna.
Em sétimo lugar, o óleo: Dos símbolos aplicados ao Espírito Santo, talvez o óleo seja o mais
conhecido pelos crentes. No Antigo Testamento, pessoas (Lv 8:30; I Sm 10:1; II Sm 2:4, 16:13; I Rs 1:39,
19:16; II Rs 9:3, 11:12, 23:30) e objetos (Gn 28:18; Êx 29:36, 30:26, 40:10; Lv 8:11; Nm 7:1; II Sm 1:21) eram
ungidos com óleo, ao serem separados para o serviço de Deus. Assim, ser ungido pelo Espírito é ser
capacitado e consagrado para o serviço do reino de Deus (I Sm 10:9, 16:13; Is 61:1; Lc 4:18; I Jo 2:20,27).
Geralmente o óleo era usado para “alimento, para iluminação, lubrificação, cura e alívio de pele. Da mesma
maneira, na ordem espiritual, o Espírito fortalece, ilumina, liberta, cura, alivia a alma”. 48

*****************************************************

De acordo com tudo o que estudamos neste tópico sobre a natureza do Espírito Santo, podemos
afirmar, com toda certeza: O Espírito Santo é Deus, é uma pessoa divina; realiza obras extraordinárias e se
manifesta através de símbolos maravilhosos, que confirmam a sua personalidade. Passemos agora a
considerar assuntos relativos a sua atuação.

46
Pearlman (2006:290).
47
Gingrich; Danker (1984:34).
48
Pearlman (2006:290).
15
2. A ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO

Depois de entendermos quem é o Espírito Santo, precisamos, agora, saber como ele age. É isso que
iremos tratar neste tópico do nosso estudo. Desde já é bom que fique claro que Espírito Santo não está
limitado à igreja. Ele não atua apenas dentro das quatro paredes da igreja. Ele é Deus. E, por ser Deus, ele é
ilimitado! De fato, ele atua em todo universo e na vida de todo ser vivo. Um exemplo dessa verdade é o salmo
104, verso 30: Envias o teu Espírito, e são criados; e assim renovas a face da terra.
De quem o salmista está se referindo ao dizer “eles”? De todos os seres vivos citados nos versos 5 a
29 desse salmo. Isso significa que além de ser criador (cf. Jó 33:4), o Espírito Santo é ainda mantenedor da
vida e responsável pela renovação dela. Deste modo, podemos ver a ação dele no bater do coração e na
respiração de todo ser vivo, na germinar das plantas, no desabrochar de uma flor e no nascer de cada dia.
Ele age o tempo todo e em todo cosmo. Sua obra é magnífica! Os seus feitos são incontáveis! E, por ser
incontáveis, destacaremos as atuações do Espírito Santo em relação a Israel, ao cristão, à Bíblia, à Cristo e
ao mundo e, por fim, consideraremos a questão do batismo no Espírito Santo, do fruto do Espírito e os dons
do Espírito, assuntos referentes à sua obra.

2.1 A ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO A ISRAEL.

Muitos cristãos entendem que o evento do Pentecostes, narrado em Atos 2, marcou o início das
ações poderosas do Espírito Santo na vida interior dos servos de Deus. Esse entendimento não é verdadeiro.
O Espírito Santo já estava ativo e operante antes do pentecostes. Na criação (Gn 1:1-2); durante o período do
Antigo Testamento (Jz 6:34; I Sm 16:13 e etc.) e em todo o ministério de Cristo (At 10:38), podemos vê-lo
agindo! Agora, depois do evento do pentecostes, duas coisas ficaram diferentes: 1) o Espírito começaria a
habitar nas pessoas e, não somente a vir sobre elas; e 2) sua presença seria permanente e não apenas
temporária.49 Jesus disse aos seus discípulos: E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro consolador, para que
fique para sempre convosco (Jo 14:16 – grifo nosso).
Pois bem, nosso objetivo neste tópico é mostrar a atuação do Espírito Santo antes do evento do
Pentecostes. O Antigo Testamento revela que o Espírito de Deus sempre esteve presente e ativo na história

49
Wiersbe (2006:527).
16
do mundo, e, de forma singular, na história de Israel.50 Todavia, a atuação do Espírito Santo nas pessoas do
Antigo Testamento não era igual ao que passamos a conhecer depois do Pentecostes. 51 No Antigo
Testamento, por exemplo, a atuação do Espírito estava limitada a um povo. “Nós não temos nenhuma
revelação clara do ministério do Espírito fora de Israel”.52 É lógico que, como Deus, todas as coisas lhe estão
sujeitas e o Espírito Santo também supervisionou toda a história humana. Gênesis 6:3 parece mostrar isso.
Neste versículo o Espírito julgou toda a humanidade. Entretanto, parece-nos razoável concluir, pelas
evidências bíblicas, que nenhuma outra nação desfrutava da presença e da atuação do Espírito, da maneira
que Israel desfrutava.
Ryrie falando sobre a natureza atuação do Espírito Santo no período do Antigo Testamento ou em
Israel, pontua o seguinte:53

1. Estava sobre certas pessoas. Faraó reconheceu que o Espírito estava em José (Gn 41:38). O Espírito estava em
Josué e por isso ele o escolheu (Nm 27:18). O Espírito estava em Daniel (Dn 4:8; 5:11-14; 6:3). Nestes casos, a
preposição hebraica usada era Beth “em, dentro de”.
2. Vinha sobre certas pessoas. A preposição usada no hebraico para descrever isto é al. Várias pessoas
experimentaram esse ministério do Espírito (Nm 24:2; Jz 3:10; 6:34; 11:29; 13:25; I Sm 10:10; 16:13; II Cr 15:1).
Dentre elas estava alguns juízes, Saul e os profetas Balaão e Azarias.

A atuação do Espírito Santo em Israel, certamente, é um dos motivos pelos quais esta nação não
desapareceu, nesse percurso de vida tão tumultuado. Destacamos, a seguir, duas áreas especifícas em que
o Espírito operou em Israel.

2.1.1 A proteção do Espírito do Senhor a Israel.

No Antigo Testamento, o povo de Deus sempre viveu em perigo: ora era ameaçado pelos
inimigos em redor, ora era castigado por Deus, em razão dos graves pecados que cometia (Jz 6:1-6). Porém,
não foram poucas as vezes em que Deus usou de misericórdia, ouviu suas orações (Jz 6:7-8) e os livrou da
morte. Mas como Deus protegeu os israelitas, no Antigo Testamento? Capacitando pessoas para lutarem e
libertarem Israel da opressão inimiga, através do Espírito Santo. Podemos ver isso claramente em alguns
textos do Antigo Testamento.
Em primeiro lugar, Moisés. A Bíblia relata que, para libertar o povo do Egito, o Espírito Santo
capacitou Moisés. A esse respeito, o profeta Isaías declara que o povo se lembrou dos dias antigos, de
Moisés, e disse: Onde está aquele que fez subir do mar o pastor do seu rebanho? Onde está o que pôs nele
o seu Espírito Santo? Aquele cujo braço glorioso ele fez andar à mão direita de Moisés? Que fendeu as
águas diante deles, criando para si um nome eterno? (63:11-12)
Em segundo lugar, Josué. Por sua vez, Josué começou a liderar a entrada do povo de Israel em
Canaã, protegendo os filhos de Deus dos povos cananitas, depois que o Espírito Santo entrou nele: Disse o
SENHOR a Moisés: Toma Josué, filho de Num, homem em quem há o Espírito, e impõe-lhe as mãos (Nm
27:18 – conferir Dt 34:9).
Em terceiro lugar, os juízes. No tempo em que não havia rei em Israel, e cada um fazia o que achava
mais reto (Jz 21:25), o Espírito Santo escolheu pessoas e deu-lhes poder para libertarem Israel dos seus
opressores. Foi assim com Otoniel: Veio sobre ele o Espírito do SENHOR, e ele julgou a Israel; saiu à peleja,
e o SENHOR lhe entregou nas mãos a Cusã-Risataim, rei da Mesopotâmia, contra o qual ele prevaleceu (Jz
3:10); com Gideão: Então, o Espírito do SENHOR revestiu a Gideão, o qual tocou a rebate, e os abiezritas se

50
É importante destacar que, em princípio, o nome “Israel” foi conferido às doze tribos como nação. Mais tarde, o
reino se dividiu: O Reino do Norte, composto por dez tribos e meia, teve como sede a cidade de Samaria, e foi
chamado de Israel; o Reino do Sul, composto de uma tribo e meia, teve como sede a cidade de Jerusalém, e foi
chamado de Judá. Em 722 a.C., Israel foi extinto como nação, pelos bárbaros assírios, e Judá, depois do cativeiro
babilônico, assumiu o nome de Israel, até os dias de hoje.
51
Ryrie (2004:402).
52
Idem, p. 404.
53
Adaptação: Ryrie (2004:403).
17
ajuntaram após dele (Jz 6:34 – conferir 7:24-25); com Jefté: Então, o Espírito do SENHOR veio sobre Jefté;
e, atravessando este por Gileade e Manassés, passou até Mispa de Gileade e de Mispa de Gileade passou
contra os filhos de Amom (Jz 11:29); com Sansão: E o Espírito do SENHOR passou a incitá-lo em Maané-Dã,
entre Zorá e Estaol (Jz 13:25 – conferir 14:6,19, 15:14).
Em quarto lugar, na monarquia. Saul foi tomado pelo Espírito Santo e instigado a lutar contra os
inimigos de Israel: E o Espírito de Deus se apossou de Saul, quando ouviu estas palavras, e acendeu-se
sobremodo a sua ira (I Sm 11:6). Davi, o rei que mais venceu batalhas e protegeu Israel, foi possuído pelo
Espírito Santo: Tomou Samuel o chifre do azeite e o ungiu no meio de seus irmãos; e, daquele dia em diante,
o Espírito do SENHOR se apossou de Davi. Então, Samuel se levantou e foi para Ramá. O mesmo Espírito
confundiu os mensageiros de Saul e protegeu Davi da morte (I Sm 19:20-23).
Quando os moabitas e os amonitas levantaram-se contra o povo de Judá (II Cr 20:1), foi o Espírito
Santo quem desceu e declarou ao rei Josafá que ele e o povo não deveriam se assustar, porque a batalha
era do Senhor: Então veio o Espírito do Senhor no meio da congregação, sobre Jaaziel, e disse: Dai ouvidos
todo o Judá, e vós moradores de Jerusalém, e tu, o rei Josafá. Assim vos diz o Senhor: Não temais, nem vos
assusteis por causa desta grande multidão, porque a peleja não é vossa, mas de Deus (II Cr 20:14-15).
Também prometeu protegê-los, com estas palavras: Nesta batalha não tereis que pelejar, postai-vos, ficai
parados e vede o livramento que o Senhor vos concederá, ó Judá e Jerusalém (II Cr 20:17). Os israelitas
seguiram a orientação do Espírito Santo e os inimigos foram desbaratados (II Cr 20:22-23).
Enfim, o Espírito Santo sempre agiu para proteger os filhos de Deus dos inimigos, guardá-los do mal
e do medo. Com a presença do Espírito de Deus no meio deles, os israelitas foram encorajados a se
reerguerem do cativeiro babilônico: Ora, pois, sê forte, Zorobabel, diz o Senhor, e sê forte, Josué, filho de
Jozadaque, o sumo sacerdote, e tu, todo o povo da terra, sê forte, diz o Senhor, e trabalhai, porque eu sou
convosco, diz o Senhor dos Exércitos; segundo a palavra da aliança que fiz convosco, quando saístes do
Egito, o meu Espírito habita no meio de vós; não temais (Ag 2:4-5).

2.1.2 A presença do Espírito do Senhor em Israel.

Não é correto crermos que a vida interior dos crentes era desprovida do Espírito Santo, antes de ele
ser derramado, em Jerusalém, conforme o relato de Atos 2. Realmente, no Pentecostes, o Espírito Santo
desceu de forma plena, completa, total, a fim de habitar dentro dos crentes, em cumprimento da palavra de
Cristo (Jo 7:37-39, 14:16-17; At 1:8). Todavia, sem invalidar essa verdade, a Bíblia Sagrada relata que
crentes do Antigo Testamento contavam com a presença do Espírito Santo, pois nunca houve algum filho de
Deus, em qualquer época, sem esta presença em sua vida.
Em razão disso, encontramos, no Antigo Testamento, o Espírito Santo do Senhor realizando duas
funções importantíssimas: 1) aparelhando pessoas para a liderança; 2) inspirando pessoas para o ministério
profético. A exemplo disso, o profeta Moisés foi cheio do Espírito Santo, e, sob sua liderança, setenta anciãos
de Israel foram cheios do Espírito do Senhor: E disse o Senhor a Moisés: Ajunta-me setenta homens dos
anciãos do povo, e seus oficiais; e os trará perante a tenda da congregação, e ali porão contigo. Então eu
descerei e ali falarei contigo, e tirarei do Espírito que está sobre ti, e o porei sobre eles, e contigo levarão a
carga do povo, para que não a leves tu somente (Nm 11:16-17).
No livro de Números 27:18, está escrito que Josué era homem em quem havia o Espírito de Deus, ou
seja, o mesmo que capacitou Moisés e seus anciãos, preparou Josué para liderar: Josué, filho de Num,
estava cheio do espírito de sabedoria, porquanto Moisés impôs sobre ele as mãos; assim, os filhos de Israel
lhe deram ouvidos e fizeram como o Senhor ordenara a Moisés (Dt 34:9). São muitas as referências bíblicas
afirmando que o Espírito Santo encheu os servos de Deus (Gn 41:38; Êx 31:3, 35:31; I Sm 10:10; II Cr 24:20).
No primeiro livro de Samuel, encontramos uma narrativa clara sobre a ação do Espírito Santo de se
apossar das pessoas que escolhe. Sobre Saul, assim diz a Bíblia: O Espírito do Senhor se apossará de ti, e
profetizarás com eles e tu serás mudado em outro homem (10:16). Também, sobre Davi, diz: Tomou Samuel
o chifre do azeite e o ungiu no meio de seus irmãos; e, daquele dia em diante, o Espírito do Senhor se
apossou de Davi. Então, Samuel se levantou e foi para Ramá (16:13).
O Antigo Testamento segue declarando que o Espírito Santo entrou na vida de pessoas, capacitando-
as para falarem em nome de Deus. Foi assim com Ezequiel: Então, entrou em mim o Espírito, quando falava
18
comigo, e me pôs em pé, e ouvi o que me falava (Ez 2:2); com Miquéias: Eu, porém, estou cheio do poder do
Espírito do SENHOR, cheio de juízo e de força, para declarar a Jacó a sua transgressão e a Israel, o seu
pecado (Mq 3:8), e com todos os santos profetas (Ez 38:17).
Apesar de contar com a presença do Espírito Santo em toda a sua narrativa, no testemunho do
Antigo Testamento a respeito do Espírito, “existe um anúncio de uma época em que o ministério do Espírito
seria mais completo”.54 Joel foi usado para profetizar a plena habitação do Espírito Santo, depois que Cristo
selasse a Nova Aliança, na cruz: E acontecerá, depois, que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne;
vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos velhos sonharão, e vossos jovens terão visões; até sobre os
servos e sobre as servas derramarei o meu Espírito naqueles dias (Jl 2:28-29). No mesmo propósito,
profetizou Ezequiel: Porei dentro de vós o meu Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guardeis os
meus juízos e os observeis. Porei em vós o meu Espírito, e vivereis, e vos estabelecerei na vossa própria
terra. Então, sabereis que eu, o Senhor, disse isto e o fiz, diz o Senhor (Ez 36:27; 37:14 – conferir Is 44:3).
Foi deste modo que, no Antigo Testamento, o Espírito do Senhor encheu as pessoas da sabedoria de
Deus: Eis que chamei por nome a Bezaleel, filho de Uri, filho de Hur, da tribo de Judá; e o enchi do Espírito
de Deus, no tocante à sabedoria, à inteligência, à ciência e a todo ofício (Ex 31:2-3); falou pela boca de reis
obedientes (II Sm 23:2); entrou e saiu da vida de reis desobedientes (I Sm 10:6, 16:4), e inspirou pessoas
para revelar a palavra de Deus: Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os
homens santos da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo (II Pe 1:21).

2.2 A ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO AO CRISTÃO.

Cristo prometeu que mandaria o Espírito Santo para a igreja. Ele disse, antes de sua ascensão: Ficai
na cidade até que do alto sejais revestidos de poder (Lc 24:49). Somente por meio do poder e da morada da
pessoa do Espírito Santo é que os discípulos seriam capazes de testemunhar Cristo ao mundo! É justamente
o cumprimento desta promessa que encontramos registrados em Atos capítulo 2: Ao cumprir-se o dia de
Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um vento
impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados (vv. 1-2). O Espírito Santo veio! Depois deste dia,
ele nunca mais deixou a igreja. Ele vive na igreja. O Espírito de Deus habita em nós, em cada cristão! (cf. I Co
3:16; 6:19). Esta é uma realidade indiscutível. O Espírito Santo vive e atua na vida do cristão de todos os
tempos e em todos os lugares. Vejamos como acontece essa atuação.

2.2.1 O Espírito Santo atua na consolação do cristão.

Próximo de concluir o seu ministério, Jesus se referiu a um tempo de separação; passou a falar
em voltar para o Pai (Jo 13:36, 14:2,4,12,28, 16:5,10,17,28, 17:11,13). Havia um clima de interrupção e de
rompimento no relacionamento. Esta sua partida para junto do Pai estava se tornando um motivo de
perturbação para os discípulos (Jo 14:1). Jesus, então, tomou providência, para que eles não se sentissem
abandonados, ao se verem entregues à missão. O nome da providência: Consolador (Jo 14:16).
A palavra grega que foi traduzida por "Consolador" (Auxiliador, na NTLH), neste trecho, significa
muito mais que consolador. A palavra é parakletos, que é uma palavra composta de para, que significa "ao
lado de", e kletos, que significa “chamado”. Assim, a palavra completa significa: "alguém chamado para estar
ao lado de", ou “chamado juntamente para assistir”.55 Em momentos de tristeza, de decepção, ele está ao
nosso lado, para nos confortar. Em todo deserto da provação, o Espírito Santo é quem conforta o cristão.

2.2.2 O Espírito Santo atua na defesa do cristão.

Nas palavras de Jesus, assim como o seu testemunho despertou a fúria de seus adversários (Lc
6:11, 19:14; Jo 5:18, 7:7, 11:53, 15:18), o testemunho a respeito dele, por aqueles que o seguem, despertaria

54
Erickson (1997:353).

55
Wiersbe (2006:453).
19
o ódio dos opositores: Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros (Jo 15:20; Mt 10:22; Mc
13:13). Ainda fariam isso como se estivessem prestando um serviço a Deus: Eles vos expulsarão das
sinagogas; mas vem a hora em que todo o que vos matar julgará com isso tributar culto a Deus (Jo 16:2). Mas
Jesus enviaria outro Advogado para defendê-los. O termo parakletos, citado anteriormente, também significa
“advogado”.56 O Espírito Santo é o “advogado” do cristão, assim como Cristo também o é (I Jo 2:1).

2.2.3 O Espírito Santo atua na oração do cristão.

A Bíblia ensina sobre o papel do Espírito Santo em nossas orações, quando afirma que o
Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o
mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os
corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos
santos (Rm 8:26-27). A assistência do Espírito Santo é necessária por causa da nossa fraqueza, que é devida
não apenas à carne em si, mas também ao pecado que continua a habitar nela (Rm 7:18). Uma vez que o
pecado obscurece o nosso entendimento, impede que tenhamos um conhecimento perfeito da vontade e do
propósito de Deus. É por essa razão que não sabemos orar como convém.
Como o Espírito santo nos auxilia em nossa oração? O pequeno verbo “assistir” é tradução de um grande
verbo grego. Significa “estender junto a mão, ao mesmo tempo que alguém; ajudar, vir em auxílio de
alguém”.57 Sobre ele Grudem ainda diz: “...a palavra traduzida por ‘assiste’ (gr. sunantilambanomai) é a
mesma usada em Lc 10:40, onde Marta quer que Maria venha ajudá-la. A palavra não indica que o Espírito
Santo ora em nosso lugar, mas que o Espírito Santo se une a nós e torna eficaz a nossa fraca oração”.58

2.2.4 O Espírito Santo atua na capacitação do cristão.

O Espírito Santo também capacita o cristão para o serviço de Deus, oferecendo-lhe todas as
condições de que precisa para exercer, a contento, as tarefas que Deus lhe confiou. A seguir, apresentamos
algumas das formas de atuação do Espírito Santo na vida do cristão, a fim de o capacitar:
Em primeiro lugar, reveste de autoridade. O mesmo Espírito que ungiu a Jesus, revestindo-o de
autoridade (Lc 4:18; At 10:38) para o desempenho de sua missão neste mundo, tem como missão revestir de
poder cada cristão em particular (At 1:18; I Co 2:4; II Tm 1:7; At 1:8), e com o mesmo propósito (Lc 24:49).
Em segundo lugar, dá poder para testemunhar: Não vos pertence saber os tempos e as estações que
o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder. Mas recebereis a virtude do Espírito Santo , que há de vir sobre
vós; e ser-me-eis testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da
terra (At 1:8). Esta promessa cumpriu-se no dia de pentecostes e, a partir de então, os discípulos passaram a
testificar de Jesus com ousadia (At 2:1-4, 4:31). Essa capacidade espiritual está à disposição dos cristãos de
hoje (At 2:39).
Em terceiro lugar, habilita por meio dos dons: Os dons espirituais, distribuídos pelo Espírito Santo,
têm como finalidade habilitar o cristão para o serviço de Deus (I Co 12:1-7), para o aperfeiçoamento dos
santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo (Ef 4:12). Esta é, também, uma das
formas de o Espírito Santo atuar na vida do cristão, capacitando-o para o serviço de Deus.
Em quarto lugar, revela os mistérios de Deus: O Espírito conhece as maravilhas que estão
preparadas para os salvos: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do
homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Mas Deus no-las revelou pelo seu Espírito; porque o
Espírito penetra todas as coisas, ainda as profundezas de Deus (I Co 2:9-10).
Em quinto lugar, santifica: A própria santificação, como condição necessária aos que se afastaram
das práticas mundanas para servirem somente a Deus (I Pe 1:15-16), só acontece graças à influência do
Espírito Santo: Eleitos segundo a presciência de Deus Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e
aspersão do sangue de Jesus Cristo (I Pe 1:2).

56
Rienecker; Rogers (1995:185).
57
Rienecker e Rogers (1995:270)
58
Grudem (1999:310).
20
Em sexto lugar, vivifica: O Espírito de Deus gera, nos salvos, vida espiritual: E, se o Espírito daquele
que dos mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dos mortos ressuscitou a Cristo também
vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita (Rm 8:11).
Além dessas atividades, o Espírito Santo realiza outras capacitações na vida dos salvos, dentre as
quais destacamos: guia em toda a verdade (Jo 16:13), regenera (Jo 3:3-8; I Pe 1:23), derrama o amor de
Deus nos corações (Rm 5:5, 15:30; Cl 1:8), conduz à paz (Rm 14:17; Gl 5:22), dá sabedoria (Dt 34:9; Is
11:2), dá segurança (I Jo 3:24, 4:13), une (Ef 4:3), ilumina (Jo 14:16; Lc 12:12; Mt 10:20; Mc 13:1; I Tm 4:1;
I Co 2:14-15), guia e dirige (I Rs 18:2; II Rs 2:16; Ez 11:1, 37:1, 43:5; Mt 4:1; At 8:29; 10:19-20; 11:12; Rm
8:14; Gl 5:16-18), trabalha para que os cristãos conheçam corretamente a obra Cristo (Jo 15:26; At 5:32;
I Jo 2:3, 4:2) e glorifiquem a ele e ao Pai (Jo 16:14; Fp 2:9-11).

2.2.5 O Espírito Santo atua no ensino do cristão.

A missão de Cristo, quando esteve em carne entre os seres humanos, consistiu, principalmente,
em ensinar (Jo 18:20; Lc 4:30-31, 19:47, 21:37; Mc 1:22, 2:13). Lucas faz referência a essa parte importante
do ministério de Cristo, ao iniciar o escrito do livro dos Atos: Fiz o primeiro tratado, ó Teófilo, acerca de tudo
que Jesus começou, não só a fazer, mas a ensinar (At 1:1). E, como se o tempo dedicado à realização dessa
tarefa prioritária, em seu ministério público, não tivesse sido suficiente, continuou, depois de ressuscitado, por
quarenta dias, ensinando a seus discípulos tudo sobre o reino de Deus (At 1:2-3). Ao subir ao céu, Jesus
determinou a seus discípulos que dessem continuidade ao trabalho que ele começara e fossem a todas as
nações, ensinando, fazendo discípulos e batizando-os (Mt 28:19-20).
“O ministério do ensino do Espírito foi uma das últimas promessas feitas por Cristo antes de sua
crucificação”.59 Encerrada a missão de Cristo na terra, os discípulos assumiram a responsabilidade do ensino,
como podemos constatar no livro de Atos dos apóstolos: E todos os dias, no templo, e nas casas, não
cessavam de ensinar, e de anunciar a Jesus Cristo (At 5:42). Eles faziam isso com tanta dedicação que,
mesmo sob a ameaça de prisão e morte, desafiavam as autoridades e continuavam ensinando a palavra de
Deus ao povo (At 4:18-20, 5:27-32).
Eles tinham em mente as palavras de Cristo, proferidas durante seu ministério e válidas para
situações como a que agora enfrentavam: Acautelai-vos, porém, dos homens; porque eles vos entregarão aos
sinédrios, e vos açoitarão nas suas sinagogas; e sereis até conduzidos à presença dos governadores e dos
reis por causa de mim, para lhes servir de testemunho a eles e aos gentios. Mas, quando vos entregarem,
não vos dê cuidado como, ou o que haveis de falar, porque naquela mesma hora vos será ministrado o que
haveis de dizer. Porque não sois vós quem falará, mas o Espírito de vosso Pai é que fala em vós (Mt 10:17-
20). E vos acontecerá isto para testemunho. Proponde, pois, em vossos corações não premeditar como
haveis de responder; porque eu vos darei boca e sabedoria a que não poderão resistir nem contradizer todos
quantos se vos opuserem (Lc 21:13-15).
Foi, principalmente, para ensinar que o Espírito Santo foi enviado aos cristãos. E como
continuador da obra de Cristo, desempenha muito bem esse papel: ensinando e concedendo poder para os
cristãos testemunharem de Cristo. O livro dos Atos está cheio de bons exemplos dessa atuação do Espírito
Santo entre os fiéis. Aqui está um deles: Agora pois, ó Senhor, olha para a suas ameaças, e concede aos
teus servos que falem com toda a ousadia a tua palavra; enquanto estendes a tua mão para curar, e para que
se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Filho Jesus. E tendo orado, moveu-se o lugar em que
estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a palavra de Deus (At
4:29-31).
Era o cumprimento da promessa feita por Cristo: Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o
Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho
dito (...) Mas quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade,
que procede do Pai, ele testificará de mim. E vós também testificareis, pois estivestes comigo desde o
princípio (Jo 14:26, 15:26-27). A Escritura Sagrada é a mensagem de Deus para as pessoas. Porém, mesmo

59
Ryrie (2004:441).

21
que seja transmitida em linguagem simples, é necessário haver alguém escolhido pelo Espírito Santo para
explicá-la: Então, disse o Espírito a Filipe: Aproxima-te desse carro e acompanha-o. Ele [o eunuco]
respondeu: Como poderei entender, se alguém não me explicar? E convidou Filipe a subir e a sentar-se junto
a ele. Então, Filipe explicou; e, começando por esta passagem da Escritura, anunciou-lhe a Jesus. (At
8:29,31,35)
O cristão genuíno recebe o poder divina para entender tudo sobre o ensino da verdade, que é a
palavra de Deus: Quanto a vós outros, a unção que dele recebestes permanece em vós, e não tendes
necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina a respeito de todas as coisas, e é
verdadeira, e não é falsa, permanecei nele, como também ela vos ensinou. (I Jo 2:27). Essa fonte de
ensinamento é o Espírito Santo de Deus.

2.2.6 O Espírito Santo atua como guia do cristão.

Ensinar e guiar são duas coisas diferentes. Nem sempre quem ensina assume a responsabilidade de
guiar. O Espírito de Deus faz as duas coisas: ensina e guia. O ensino pode ser ministrado, inclusive, nas
situações em que ensinador e ensinado se encontram distantes um do outro. Podemos, por exemplo, ensinar
a uma pessoa o endereço que procura, sem que a acompanhemos no percurso que fará até o local desejado.
O guia, porém, além de ensinar o endereço, vai com ela, para evitar que erre, ou para, em caso de erro,
ajudá-la a retomar o caminho certo. É assim que atua o Espírito Santo na vida do cristão.
Sobre isso, Jesus afirmou: E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique
convosco para sempre (Jo 14:16).
A Bíblia revela que o Espírito Santo guiou Ezequiel à casa do Senhor e a um vale cheio de ossos (Ez
11:1, 43:5; 37:1); guiou Jesus ao deserto (Mt 4:1); guiou João a um deserto e a uma montanha (Ap 17:3,
21:10); guiou Felipe ao deserto e, depois, a Azoto (At 8:26-29,39-40); guiou Pedro a Cesaréia (At 10:19-24,
11:12); guiou os missionários, em Antioquia (At 13:2); guiou os líderes de Jerusalém a uma decisão correta
(At 15:28); guiou Paulo, em suas viagens missionárias (At 16:6-7, 20:22-23); guiou os presbíteros de Éfeso
(At 20:28); guiou os irmãos de Corinto, pelo dom da profecia (I Co 14:29-33).
Enfim, o Espírito Santo guia todos os cristãos, conduzindo-os a viverem uma vida espiritualmente
correta: Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne. Porque a carne milita
contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne (...) Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição,
impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções,
invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas (...) Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz,
longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio (...) Se vivemos no Espírito,
andemos também no Espírito (Gl 5:16-25).
Discorrendo sobre a obra do Espírito Santo, neste particular, Guy P. Duffield faz a seguinte
observação:

“Um dos maiores privilégios dos filhos do Senhor é ser guiado pelo Espírito Santo onisciente, infalível. Estamos indo
por um caminho pelo qual nunca passamos antes. Estamos passando através de território inimigo, com oponentes
em toda a parte. Que bênção ter alguém que conhece tudo que está à frente, como nosso guia. O Espírito Santo é
uma pessoa, e sua orientação torna a vida uma viagem com um guia que nos conduz pessoalmente. Ele não só
guia os filhos de Deus como capacita e dá poder a cada um para andar pelo caminho escolhido por ele”. 60

Em nossa caminhada, é imprescindível a companhia do Espírito Santo; especialmente nos momentos


mais difíceis, quando o caminho for arriscado, acidentado, estreito e escuro. Só com essa ajuda podemos
estar seguros de que não erraremos o caminho. “Para os cristãos, esse é um dos ministérios mais
confortadores. Os filhos de Deus não precisam andar em trevas; sempre estarão livres para pedir e receber a
direção do próprio Espírito”.61

2.3 A ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO Á BÍBLIA.

60
Duffield (1991:20).
61
Ryrie (2004:442).
22
Existe uma profunda ligação entre o Espírito Santo e a Bíblia Sagrada. Ele agiu para que a Bíblia
fosse escrita. Ele também agiu para que a Bíblia fosse guardada e conservada pelos séculos e chegasse até
nós. E hoje ele prossegue agindo ao nos ajuda a entendê-la e a praticá-la. O Espírito Santo realizou e
continua a realizar grandes feitos com relação a Escrituras e podemos destacar dois grupos de pessoas que
são especialmente privilegiados por esses feitos: Os escritores e os leitores da Bíblia. Esses experimentam
duas obras distintas do Espírito de Deus: A inspiração e a iluminação das Escrituras.

2.3.1 O Espírito Santo atua na inspiração das Escrituras.

Em primeiro lugar, vemos nos escritores da Bíblia a obra inspiradora do Espírito Santo! Essa obra é a
influência controladora que ele exerceu sobre os autores humanos, através dos quais o Antigo e o Novo
Testamento foram escritos. Foi a atuação do Espírito Santo naqueles homens que os levou a escreverem.
Isso ocorreu de forma tão sublime que eles escreveram exatamente o que Deus quis comunicar aos seres
humanos. Deus usou homens, de diferentes locais e épocas, que foram auxiliados, assistidos e orientados
pelo Espírito Santo, a fim de permitir que o conteúdo das Escrituras fosse verídico, infalível e coerente.
Em II Pedro, capítulo 1, versículo 21, está escrito, sobre a questão da inspiração: porque nunca
jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens santos falaram da parte de Deus,
movidos pelo Espírito Santo (II Pe 1:21). Nesse versículo, há duas expressões que requerem explicação. A
primeira é “homens santos”. O que isto significa? Significa que Deus escolheu e separou homens para um
propósito específico: registrar as palavras do Senhor. Embora, esses homens não fossem isentos de
fraquezas, o Espírito Santo não permitiu que eles errassem, ao escreverem as Escrituras.
A segunda expressão que merece atenção é “movidos pelo Espírito Santo”. Pedro está dizendo que a
Bíblia não foi escrita por homens que usaram suas próprias idéias, opiniões e palavras, mas sim homens de
Deus que foram “movidos” por Deus. No original, o termo traduzido por “movidos” significa “ser conduzido,
como uma embarcação é levada pelo vento”.62 A idéia é que os profetas “içaram suas velas” ao serem
obedientes e receptivos, e o Espírito Santo as soprou e levou “seu barco” na direção que ele desejava.63 A
Bíblia não foi inventada por homens; foi inspirada pelo Espírito de Deus!
Vale ressaltar que as pessoas que escreveram as Escrituras não eram simplesmente instrumentos
desprovidos de consciência e sentimento. Ao escreverem, não foram anuladas as suas personalidades. De
fato, ao inspirá-los, “o Espírito Santo não removeu, mas investiu, naquela obra, todas as peculiaridades
pessoais dos escritores com todos os seus defeitos de cultura e estilos literários”. 64 A Bíblia é mesmo um livro
especial. E não poderia ser diferente, afinal, toda a Escritura é inspirada por Deus (II Tm 3:16). Tanto essa
passagem de II Timóteo, quanto a de II Pedro, revelam uma única e incontestável verdade: que a origem das
Escrituras é divina, pois o autor principal delas é o Espírito Santo.65

2.3.2 O Espírito Santo atua na iluminação das Escrituras.

Em segundo lugar, vemos nos leitores da Bíblia a obra iluminadora do Espírito Santo! Essa ação
do Espírito Santo refere-se à sua influência ou ao ministério em capacitar o crente em Cristo a entender as
Escrituras Sagradas. Na realidade, sem a luz do Espírito de Santo, estaremos no escuro quanto às verdades
bíblicas! As coisas que Deus preparou para os que o amam (cf. I Co 2:9), só podem ser compreendidas por
nós, por meio dessa iluminação. Por isso, o Espírito Santo vai revelando a mais e mais de Deus, à medida
que desejamos e buscamos conhecer sua vontade, registrada em sua Palavra (I Co 2:12).
Vejamos um exemplo esclarecedor. Em dado momento de seu ministério, Cristo começou a
preparar os corações dos discípulos para aceitar o fato de que ele teria de sofrer. Em Mateus, capítulo 16,
versículo 21, lemos: Desde esse tempo, começou Jesus Cristo a mostrar a seus discípulos que lhe era

62
Wiersbe (2006: 574).
63
Green (1983: 87).
64
Strong (2002:312).
65
Kistemaker (2006:367).
23
necessário seguir para Jerusalém e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos principais sacerdotes e dos
escribas, ser morto e ressuscitado no terceiro dia. Mas Pedro levou Jesus ao lado para censurá-lo, dizendo:
...tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá (Mt 16:22). Esta reação imediata de Pedro
demonstra que ele não compreendia a palavra de Jesus. Não entendia o significado da cruz de Cristo!
Contudo, no dia de Pentecostes a história foi bem diferente. Pedro, Iluminado pelo Espírito Santo
pôde agora entender aquelas palavras ditas anteriormente pelo Mestre. Ele compreendeu o que significava a
morte de Cristo. Mas não só isso, naquele dia, Pedro também pregou sobre o valor dessa morte, com tanto
poder do Espírito em sua vida, que naquele dia, cerca de três mil pessoas se converteram ao evangelho de
Cristo (At 2:22-24,41). O apóstolo recebeu do Espírito Santo iluminação e autoridade na palavra.
Na primeira carta do apóstolo João, capítulo 2, versículo 27, lemos: Mas sobre vocês Cristo tem
derramado o seu Espírito. Enquanto o seu Espírito estiver em vocês, não é preciso que ninguém os ensine.
Pois o Espírito ensina a respeito de tudo, e os seus ensinamentos não são falsos, mas verdadeiros... (NTLH).
Com a expressão “não é preciso que ninguém os ensine”, João estava se referindo aos falsos mestres que
tentavam enganar e desviar os crentes em Cristo (cf. I Jo 2:26). Segundo esse apóstolo, todo cristão
autêntico tem o Espírito Santo em sua vida, que além iluminar sua mente quanto à palavra de Deus, também
lhe capacita a distinguir entre o falso e o verdadeiro evangelho.66
Na oração de Paulo pelos efésios, ele pediu a Deus para que aqueles cristãos recebessem
iluminação para obterem o pleno conhecimento e discernimento das coisas de Cristo (Ef 1:17-18). Tal
conhecimento e tal discernimento produzem maturidade, santidade, progresso espiritual. Eles podem e
devem ser buscados em oração (cf. Cl 1.9-14). Esse é o ministério iluminador que o Espírito Santo realiza nas
pessoas que lêem a Bíblia. Sem essa iluminação, é até possível conhecer muito das Escrituras Sagradas
utilizando os métodos de interpretação. Mas, se o uso desses métodos for feito na dependência do Espírito
de Deus, os resultados serão extraordinários e transformadores. Assim, se você deseja entender as
Escrituras, busque a ajuda do Espírito de Deus.

2.4 A ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO A CRISTO.

Em Lucas, capítulo 4, versículo 18, Jesus lê uma profecia que falava a seu respeito: O Espírito
do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar
libertação aos cativos e restauração da vista aos cegos e para pôr em liberdade os oprimidos. Observe algo:
havia um relacionamento especial entre o Espírito Santo e o Senhor Jesus, quando ele viveu entre nós. Em
todos os momentos de sua vida vemos a atuação do Espírito Santo nele. Aliás, Jesus desenvolveu todo o seu
ministério no poder do Espírito (Lc 4:14). Iremos destacar três momentos importantes:

2.4.1 Na concepção sobrenatural de Jesus.

Em primeiro lugar, vemos a ação do Espírito Santo na concepção de Jesus. Quando o anjo
Gabriel avisou que Maria daria luz ao Filho de Deus, ela assustada perguntou ao anjo: Como acontecerá isso,
se sou virgem? Veja o que o anjo respondeu em Lucas, capítulo 1, versículo 35: Descerá sobre ti o Espírito
Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de
nascer será chamado Filho de Deus. É, exatamente, por isso que o evangelho de Mateus diz que Maria
enquanto ainda era virgem, ficou grávida pelo Espírito Santo (Mt1:18 - BV). A encarnação de Cristo foi um
milagre do Espírito Santo!
Foi através da ação dele que Jesus assumiu a forma de servo, tornando-se em semelhança de
homens; e, reconhecido em figura humana (Fp 2:7). Graças à obra do Espírito Santo, o Verbo se fez carne e
habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai (Jo
1:14). Sem dúvida, a concepção sobrenatural de Jesus é a maior obra realizada pelo Espírito Santo, na
história da salvação. A concepção sobrenatural foi imprescindível para que Jesus não possuísse a semente
do pecado, que todos os seres humanos trazem em si desde o momento que são gerados (Rm 12:5).

66
Wiersbe (2006:643).
24
Se não fosse assim, Jesus seria escravo do pecado, como qualquer outro ser humano. Sem uma
concepção sobrenatural, o “segundo Adão” não conseguiria viver uma vida absolutamente pura e teria caído
sob o domínio de satanás, como o “primeiro Adão”. 67 Assim sendo, Cristo nasceu de mulher herdando
humanidade total, sem, no entanto herdar pecados e corrupção essenciais. Jesus veio a este mundo através
de um ato poderoso do Espírito Santo! Os céticos podem até zombar a respeito da concepção sobrenatural
de Cristo, alegando ser algo impossível de acontecer. Mas quanto a isso o anjo Gabriel desfaz resolve a
questão ao dizer: ...para Deus nada é impossível (Lc 1:37).

2.4.2 No ministério espetacular de Jesus.

Em segundo lugar, vemos a ação do Espírito Santo no ministério de Jesus. É quase impossível
discorrer sobre o ministério terreno de Jesus, sem mencionar a presença do Espírito Santo sobre ele. Na
verdade, o ministério de Cristo começou, continuou e terminou sob a unção e o poder do Espírito Santo. O
texto de Lucas 4:18 nos mostra exatamente isso: O Espírito do Senhor está sobre mim... Jesus citou essas
palavras para mostrar o cumprimento de uma profecia sobre a atuação do Espírito Santo em seu ministério
(cf. Is 61:1,2).
Jesus não apenas nasceu por intermédio do Espírito Santo, mas também, exerceu todo o seu
ministério na dependência dele. Vemos a ação dele no batismo de Jesus (Mt 3:16,17), na tentação de Jesus
(Mt 4:1,2) no ensino de Jesus (Lc 4:31-32). Jesus realizou curas e expulsou demônios pelo Espírito Santo (Mt
12:28).68 Em Atos, capítulo 10, versículo 38, lemos que: Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo
e com poder, o qual andou por toda parte, fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do diabo, porque
Deus era com ele.

2.4.3 No sacrifício redentor de Jesus.

Em terceiro lugar, vemos a ação do Espírito Santo no sacrifício de Jesus. O autor da carta aos
Hebreus, capítulo 9, versículo 14, diz que com a ajuda do eterno Espírito Santo, Cristo de bom grado
entregou-se a Deus para morrer pelos nossos pecados – Ele que era perfeito, sem uma única falta ou pecado
(Bíblia Viva). A ação do Espírito Santo foi determinante para consumação da obra de Jesus no Calvário. Em
seu sacrifício eterno e perfeito, Jesus, no poder do Espírito Santo, foi cheio de ânimo, dedicação e amor pelo
ser humano. Isso fez com que Ele completasse seu sacrifício. Foi ungido pelo Espírito que Jesus ...suportou a
cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus (Hb 12:2).
Além disso, vemos também o poder do Espírito Santo na ressurreição. Na carta aos Romanos,
capítulo 8, versículo 11, está escrito: Se habita em vós o Espírito daquele que ressuscitou a Jesus dentre os
mortos, esse mesmo que ressuscitou a Cristo Jesus dentre os mortos vivificará também o vosso corpo mortal,
por meio do seu Espírito, que em vós habita. Foi mediante a ação Espírito Santo que Jesus se levantou dos
mortos e foi declarado verdadeiro Filho de Deus e Salvador do mundo (Rm 1:4). Depois da ressurreição até a
sua ascensão, Jesus atuou no poder do Espírito Santo. Antes de ir para o céu, ele deu ordens, pelo poder do
Espírito Santo, aos homens que ele havia escolhido como apóstolos (At 1:2 - NTLH).

Concluo esta parte, reafirmando que do mesmo modo que o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito
Santo também é Deus. São as três pessoas divinas que formam a Triunidade. Elas atuam em harmonia e
comunhão absolutas. E, por isso, enquanto esteve entre nós, sendo homem, o Mestre Jesus jamais agiu de
maneira autônoma (cf. Jo 5:30). Não apenas foi concebido por obra do Espírito Santo, mas, em toda a sua
vida terrena, desde o nascimento até a crucificação, ressurreição e ascensão, ele se deixou conduzir pelo
Espírito Santo. Ele foi amplamente sustentado pelo Espírito Santo ao longo de sua vida e ministério!

2.5 A ATUAÇÃO DO ESPÍRITO SANTO EM RELAÇÃO AO MUNDO.

67
Grudem (1999: 436).
68
Horton 1993:104).

25
Para nós, o Espírito Santo é uma pessoa divina que atua na vida dos salvos, que age em ambientes
sagrados e que se faz presente em reuniões espirituais. No entanto, essa é apenas uma parte da verdade,
pois segundo a palavra de Deus, o Espírito Santo também age no mundo, sobremodo na vida dos não-salvos
para conduzi-los a Cristo. Deste modo, sua ação não se limita a “jurisdição” da igreja. Ele não trabalha
apenas na vida dos salvos. Não age apenas entre os santos; ele também opera no mundo, entre não-santos,
entre pecadores perdidos. Ao agir no mundo, o Santo Espírito tem dois objetivos principais, a saber:

2.5.1 O Espírito Santo atua no mundo a fim de convencer os não-crentes.

Em primeiro lugar, o Espírito Santo age no mundo a fim de convencer as pessoas não-crentes. Por
estarem sob o domínio do pecado (cf. Rm 6:14; Ef 2:2-3), o não-salvo não reconhece que está errado, ao
contrário, procura justificar o pecado. Pois, o deus deste século lhe cegou o entendimento (II Co 4:4). Por
isso, sem a ação do Espírito Santo é impossível o pecador chegar-se a Cristo.69 Para entender isso melhor,
veja o que João diz no capítulo 16, versículos 8 a 11: Quando ele vier convencerá o mundo do pecado, da
justiça e do juízo: do pecado porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis
mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado.
A palavra-chave dessa passagem é “convencerá”. O sentido dela é de “persuadir”, ou seja, “levar a
crer” ou “aceitar”. Mas essa palavra também carrega a idéia de “sentenciar”, “expor” e “reprovar”.70 Assim, o
Espírito Santo atua para convencer os não-salvos, que sua terrível incredulidade diante de Cristo, resultará,
certamente, em punição eterna. O texto começa dizendo que o Espírito Santo convence o não-crente do
pecado. Que pecado? O de não crerem em Cristo (v.9), isto é, o pecado da incredulidade. Tanto Lei de Deus,
quanto a nossa consciência podem nos convencer de diversos pecados. Mas o pecado de “não crê em
Cristo”, somente o Espírito Santo pode nos convencer. Esse é o pior pecado do mundo! Diz a Bíblia: quem
não crê já está julgado (Jo 3:18) e, condenado (Mc 16:16).
Em seguida o texto declara que o Espírito Santo convence o não-crente da justiça. Que justiça? A
resposta está versículo 10, que diz: Porque vou para meu Pai... Jesus disse isso, algumas horas antes de ser
preso e crucificado. Ele foi tratado como um malfeitor, mas era inocente! Assim, "a justiça da qual o Espírito
convence não é a justiça humana, mas a de Cristo”. 71 Justiça essa, que foi autenticada quando ele
ressuscitou e quando foi recebido pelo Pai nos céus.72 Essas são as maiores evidências de que Jesus Cristo
é o Cordeiro perfeito, que pagou o preço total pelos pecados. Lá no Calvário Jesus assumiu nossa
condenação e tomou nosso lugar. Ali, pela graça, ele nos declarou justo diante Deus: Àquele que não
conheceu pecado, o fez pecado por nós; para que, nele, fôssemos feitos justiça de Deus (II Co 5:21). Essa é
justiça de Cristo!
Por fim, João 16:8 afirma que o Espírito Santo convence o não-crente do juízo. Que juízo? Jesus
explica da seguinte forma no versículo 11: Porque o príncipe deste mundo já está julgado. Na cruz, Satanás
foi derrotado. “Ele já foi julgado, e o veredicto declarado”. 73 Para ele só resta à execução da sentença quando
Cristo voltar, em que será lançado no lago de fogo e enxofre (Jo 20:10). Esse será também o destino de
todos que se recusarem crerem em Cristo. É desse juízo do qual o mundo deve ser convencido. Deste modo,
sabemos que o Espírito de Deus também trabalha, e muito, fora da igreja, longe dos salvos, procurando
convencer e chamar os perdidos. Sem essa obra, o ser humano jamais chegaria a salvação.

2.5.2 O Espírito Santo atua no mundo a fim de regenerar os não-crentes.

69
Graham (2009:58).
70
Wiersbe (2006:466).
71
Duffield & Cleave (1991: 5).
72
Hendriksen (2004:725).
73
Wiersbe (2006: 467).

26
Em segundo lugar, o Espírito Santo age no mundo a fim de regenerar as pessoas não-crentes. No
trabalho de convencer os não-salvos do pecado, da justiça e do juízo, o do Espírito Santo gera
arrependimento e fé dentro deles. Qual é o alvo nesse processo? O Espírito Santo deseja transformar os
seus corações! Essa obra é conhecida por regeneração. Mas o que é regeneração? É o renascimento ou
novo nascimento em Cristo. Pois, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram;
eis que tudo se fez novo (II Co 5:17). Veja o que está escrito em Tito 3:5: Não por obras de justiça praticadas
por nós, mas segundo sua misericórdia, nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito
Santo.
O pecador não pode salvar a si mesmo, já que está morto em seus próprios delitos e pecados (cf. Ef
2:1). É o Deus misericordioso que o salva! Diz o texto: ele nos salvou. De que maneira? Ele nos salvou
mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo (Tt 3:5). Em outra tradução lemos assim: Ele nos
salvou por meio do Espírito Santo, que nos lavou, fazendo com que nascêssemos de novo e dando-nos uma
nova vida (NTLH). Aqui não fica dúvida: a regeneração é obra do Espírito Santo. É o milagre do novo
nascimento. É um dos maiores milagres que pode acontecer na vida de um ser humano.
Quando ele acontece, à justificação acontece simultaneamente. Pela justificação o pecador é
declarado justo; pela regeneração, ele é transformado em justo. A justificação acontece fora de nós, no
tribunal de Deus; a regeneração acontece dentro de nós, em nosso coração. Ao regenerar o não-crente, o
Espírito Santo transforma-o por completo e o torna um filho de Deus. Além de ser perdoado de todos seus
pecados, o Espírito Santo passa a habitar dentro dele. É algo inexplicável! É uma ação misteriosa e gloriosa
do Espírito de Deus. O próprio Jesus afirmou: O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes
donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito (Jo 3:8).
Embora seja um mistério, há duas verdades nisso que podemos saber. A primeira verdade é que todo
ser humano precisa nascer de novo. Em João 3, versículos 3 e 5, lemos: Em verdade, em verdade te digo
que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus (...), pois, quem não nascer da água e do
Espírito não pode entrar no reino de Deus. A segunda verdade é que o Espírito é quem regenera o ser
humano! Ele vai onde o não-salvo está, lá no lamaçal e na escuridão. Ali, o convence do pecado, da justiça e
do juízo e o chama para Cristo. Se o pecador atender a esse chamado, ele o transforma numa nova criatura.

Vale à pena conhecer melhor o Espírito Santo! Isso faz-nos ter uma visão mais correta e clara sobre
nossa missão nesse mundo. Ele não age apenas entre os salvos e santos; ele age também no mundo e, vive
atuando entre os não-salvos. Está profundamente envolvido na salvação desses. Note, se o próprio Espírito
de Deus, que é Santo, age assim. Então, não vemos razão para agirmos diferentes. Não fomos salvos para
nos isolar dos não-salvos. Ao contrário, devemos estar no meio deles, sendo sal e luz. Somo convidados a
uma parceria espiritual no mundo. Nós evangelizamos, mas quem convence e regenera é o Espírito Santo!

2.6 O BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

Podemos afirmar, com base na Bíblia Sagrada, que o Espírito Santo habita dentro de cada
crente. No Antigo Testamento, Ezequiel profetizou sobre essa majestosa verdade: Também porei o meu
Espírito dentro de vós e farei com que andeis nos meus estatutos (Ez 36:27). No Novo Testamento, Paulo
deu testemunho sobre essa magnífica realidade: Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito
27
Santo, que habita em vós, o qual tendes da parte de Deus (I Co 6:19). Sendo assim, o Batismo no Espírito
Santo, é uma obra adicional, do já presente Espírito Santo.74 Esta sublime experiência ocorreu pela primeira
vez no dia de Pentecostes (At 2). Jerusalém estava repleta de pessoas, de todas as partes do mundo. Muitas
destes milhares de pessoas foram testemunhas deste evento, que desde então, continua acontecendo em
todos os cantos do mundo.
O Batismo no Espírito Santo é um dos assuntos mais belos da Bíblia Sagrada, e por causa
disso, um dos que tem despertado grande interesse na atualidade. Esta maravilhosa e extraordinária
experiência espiritual é uma das muitas e variadas promessas contidas nas Escrituras. Infelizmente, ela tem
sido entendida de forma distorcida, por muitos. Por esta razão, neste estudo, vamos conhecer ou relembrar o
ponto de vista da Bíblia, nossa única regra de doutrina e de prática, sobre a promessa, a natureza, o
executor, a concessão, a evidência e o propósito do batismo no Espírito Santo.

2.6.1 A promessa do batismo no Espírito Santo.

Em toda a Bíblia encontramos um número considerável de referências à promessa do Batismo


no Espírito Santo. Analise e veja: 1) Ela foi anunciada no Antigo Testamento. Os profetas falaram sobre ela:
Isaías (cf. Is 32:15; 44:3); Ezequiel (cf. Ez 39:29); Joel (Jl 2:28-29). 2) Ela foi confirmada no Novo Testamento.
João Batista (cf. Mt 3:11; Mc 1:8; Lc 3:16; Jo 1:33) e Jesus a confirmaram (Lc 24:49; At 1:4-8). A promessa é
real! Na Bíblia, há duas considerações importantes e fundamentais sobre ela: sua origem e sua extensão.
Em primeiro lugar, a origem da promessa. Na conversa de Jesus com seus discípulos, antes de
sua ascensão, ele ordenou que permanecessem em Jerusalém, até que recebessem a promessa do Pai (At
1:4). Essa expressão “promessa do Pai” pode significar tanto a promessa que tem origem no Pai quanto a
promessa dada pelo Pai.75 O derramamento do Espírito Santo é uma promessa que procede do Pai. Depois
que ela se cumpre, Pedro também menciona sua origem: exaltado pela destra de Deus e tendo recebido do
Pai a promessa do Espírito Santo... (At 2:33 – grifo nosso). Portanto, a origem da promessa do batismo no
Espírito Santo não é humana; é divina.
Em segundo lugar a extensão da promessa. Para quem é a promessa? Muitos dizem que o
batismo no Espírito Santo “foi para os tempos apostólicos, foi um acontecimento único, que não se repetirá,
por isso não devemos esperar recebê-lo”.76 Todavia, na profecia de Joel lemos: E há de ser que, depois,
derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos
terão sonhos, os vossos jovens terão visões. E também sobre os servos e sobre as servas, naqueles dias,
derramarei o meu Espírito (Jl 2:28-29).
No Antigo Testamento, só algumas pessoas experimentavam o Espírito; por isso, o tema
principal desta profecia é inovador: Deus derramaria o seu Espírito sobre todos! “Isso é chamado às vezes de
democratização do Espírito, em distinção ao Antigo Testamento, no qual o Espírito era para um grupo
seleto”.77 Pedro, fundamentando sua mensagem na profecia de Joel, disse: Porque a promessa vos diz
respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar
(At 2:39). A promessa não pertence a um grupo seleto, ela está disponível a todos nos nossos dias.

2.6.2 A natureza do batismo no Espírito Santo.

Entre os cristãos, ainda existe uma grande confusão doutrinária no que diz respeito à natureza
do batismo no Espírito Santo. O que é o batismo no Espírito? Há alguns que afirmam que é o novo
nascimento ou a regeneração. Entretanto, os discípulos já eram convertidos, quando o receberam. Outros
dizem que o batismo no Espírito Santo é a santificação. O que também é um grande mal-entendido. A

74
Palma (2006:96).

75
Palma (2006:56).
76
Conte (1986:65).
77
Palma (2006:95).
28
santificação está ligada à separação do crente para Deus. É um processo diário. Há, ainda, um terceiro grupo
que pensa que batismo no Espírito Santo é uma recompensa pelos anos de serviço prestados à igreja. Estes
se acham superiores ao demais por tê-lo recebido. É incorreto e antibíblico pensar assim.
Mas, afinal, o que é o Batismo no Espírito Santo? O verbo “batizar” significa, literalmente,
“mergulhar” ou “submergir”. Por isso, quem é “batizado no Espírito” passa por uma experiência espiritual
intensa; sua vida é submersa no poder do Espírito Santo. Como uma roupa que é imersa na água, assim, a
pessoa se acha cercada, coberta, cheia do poder e da presença do Espírito Santo! Em Lucas 24:49, Jesus
diz: ... mas ficai na cidade até que do alto sejais revestidos de poder (Lc 24:49). A palavra “revestidos”
significa, literalmente, “entrar numa (roupa), vestir, vestir-se”. Desse modo, assim como as pessoas são
vestidas com roupas, os crentes que são batizados no Espírito Santo são vestidos de poder sobrenatural!
No evangelho de Lucas, a promessa do batismo no Espírito Santo nunca é entendida como uma
realização humana, mas, sim, como um presente divino, um dom do céu, uma dádiva divina; desce de modo
significante do alto, ou seja, fora do alcance dos homens. O derramamento do Espírito Santo é um fenômeno
celestial. Na profecia de Joel 2:28, o sentido original da palavra “derramarei” tem referência à comunicação de
alguma coisa vinda do céu, em grande quantidade. Desta forma, podemos dizer que, o batismo no Espírito
Santo é uma experiência inesperada e sobrenatural. O Espírito desce sobre o crente, e lhe dá poder com
propósitos específicos.

2.6.3 O executor do batismo no Espírito Santo.

Na execução de um batismo, além do candidato que é batizado, há, também, aquele que o
realiza, o seu executor. Com relação ao batismo no Espírito Santo, não é diferente. Os textos bíblicos que
ensinam sobre essa promessa fornecem informações seguras e confiáveis sobre o seu executor. Na profecia
de João Batista, registrada nos quatro evangelhos, quem é identificado como aquele que executa o batismo
no Espírito Santo? Confira alguns textos bíblicos: Eu, em verdade, tenho-vos batizado com água; ele, porém,
vos batizará com o Espírito Santo (Mc 1:8).
Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é mais poderoso do que eu
(...) este vos batizará com o Espírito Santo e com fogo (Lc 3:16; cf. Mt 3:11; Jo 1:33). João Batista sabia que
Jesus era aquele que viria para executar a promessa do Pai. João batizou nas águas; seu superior batizaria
no Espírito Santo. Jesus também afirmou ser o executor da promessa, em Lucas 24:49. É muito provável que
este texto seja paralelo a Atos 1:4-5. Lucas terminou o evangelho fazendo menção à conversa de Jesus com
os discípulos, à mesa, e iniciou o livro de Atos com essa mesma conversa. Observe, novamente, o texto: Eu
lhes envio a promessa de meu Pai; mas fiquem na cidade até serem revestidos de poder do alto (Lc 24:49 –
NVI).
Cristo assegurou aos seus discípulos: Eu lhes envio. Deus é o doador da promessa, e Jesus, o
batizador. Durante o seu discurso, no dia de pentecostes, o apóstolo Pedro também demonstrou entender
que Jesus era o executor da promessa do batismo no Espírito Santo. Falando sobre Cristo ele disse: De sorte
que, exaltado pela destra de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que
vós agora vedes e ouvis (At 2:33). É o Cristo exaltado que envia essa benção à terra! Tudo que foi visto e
ouvido, no dia de Pentecostes, veio do Cristo ascendido!

2.6.4 A evidência do batismo no Espírito Santo.

Como uma pessoa pode ter certeza de que foi batizada no Espírito Santo? O livro de Atos dos
Apóstolos registra alguns casos de pessoas que receberam o batismo no Espírito Santo e descreve a
evidência exterior e imediata que se seguiu. Vejamos quatro exemplos: 1) Em Atos 2, no dia de Pentecostes,
estavam reunidas no cenáculo 120 pessoas, e, segundo a Bíblia, a verdadeira prova de estas terem sido
batizados no Espírito Santo, foi a manifestação inédita e imediata do falar línguas desconhecidas: ...todos
ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar noutras línguas (cf. At 2:3-4).
2) Em Atos 8, encontramos outro texto que comprova que a evidência do batismo no Espírito
Santo é imediata (cf. At 8:17-18). Apesar de o texto não fazer menção às línguas estranhas, nenhum
estudante sério da Bíblia Sagrada questionará que algo visível aconteceu. Algo tão incomum que
29
impressionou até Simão, um ex-mágico. Não é errado presumir que ele os ouviu falar em línguas e quis
comprar a evidência com o seu dinheiro. 3) Na casa de Cornélio, onde o Espírito foi derramado sobre os
gentios pela primeira vez, é mencionado o falar em línguas estranhas (cf. At 10:44-46). Mais a frente, Pedro
vai dizer que o que aconteceu ali foi o batismo no Espírito Santo, conforme anunciado por Jesus (cf. At 11:15-
16). Logo, concluímos que línguas estranhas, são a evidência bíblica do batismo no Espírito Santo.
4) Em Atos 19:1-7, o apóstolo Paulo encontra um pequeno grupo de discípulos que havia sido
batizado segundo o batismo de João. Todavia, pela imposição das mãos do apóstolo, diz a Bíblia que eles
receberam o Espírito Santo e começaram a falar em línguas. É notável aqui, que esse fato ocorreu cerca de
vinte anos depois de Atos 2. Jesus ainda continuava batizando pessoas no Espírito Santo, da mesma forma
que o faz ainda hoje! Pois bem, com base nesses quatro exemplos, podemos afirmar que falar em línguas
estranhas é a evidência do batismo no Espírito Santo, e que esta evidência é imediata. E é bom que se diga:
estas línguas não são humanas, mas celestiais. Não são aprendidas na escola ou faculdade, mas concedidas
pelo Espírito, conforme sua vontade (At 2:4).

2.6.5 O propósito do batismo no Espírito Santo.

Qual é o propósito do batismo no Espírito Santo? Deus não faz nada sem propósito. Conforme o
comentário feito no tópico sobre a natureza do batismo no Espírito Santo, este é uma experiência inesperada
e sobrenatural. Quando o Espírito desce sobre o crente dá-lhe poder com propósitos específicos. Em Atos 1:8
Jesus diz aos seus discípulos: ... mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis
minhas testemunhas. Aqui, há dois aspectos importantes que nos ajudam a entender corretamente o
propósito do batismo no Espírito Santo.
Em primeiro lugar, o batismo no Espírito Santo visa à capacitação do discípulo de Cristo. A
primeira parte do versículo diz: ... recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo (At 1:8a – grifo
nosso). Este é o aspecto pessoal e interno do propósito: capacitação individual prometida por Jesus aos
discípulos. A palavra em português “poder”, que aparece em Atos 1:8, é uma tradução da palavra grega
dunamis, que provém de um verbo grego que significa “ser capaz” ou “ter força”. O batismo no Espírito Santo
capacita o discípulo de Cristo! Dá-lhe novas forças espirituais.
Em segundo lugar, o batismo no Espírito Santo visa à proclamação do evangelho de Cristo. Na
segunda parte de At 1:8 lemos: ... e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e
Samaria e até aos confins da terra. Esse é o aspecto externo e abrangente do propósito. Aqui está a razão
porque o discípulo de Cristo é capacitado. Ele recebe poder para tirar os olhos da especulação e direcioná-los
para a missão (At 1:6-8); para morrer por Cristo e ir além das fronteiras; para proclamar o evangelho; para ser
testemunha. Ao ser batizado, o cristão é aparelhado para cumprir uma missão; equipado para torna-se
testemunha. Cheio do poder de Deus, ele é impulsionado a declarar sua fé em Jesus, e dizer: Cristo está
vivo!

2.7 OS DONS DO ESPÍRITO SANTO

O exercício dos dons espirituais tem causado polêmica, desde o início da igreja cristã, quando o
apóstolo Paulo, orientado pelo Espírito Santo, declarou aos cristãos de Corinto: A respeito dos dons
espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes (I Co 12:1). O problema reside justamente na ignorância
sobre o assunto. Para esclarecê-lo, o apóstolo de Cristo escreveu cartas às igrejas, explicando quais os dons
do Espírito Santo, quais as suas finalidades e como deveriam ser exercitados.
Os dons são dádivas de Deus – distribuídas a seus filhos, pelo Espírito Santo –, que visam edificar a
igreja. “Dons são dádivas do céu, o que o conhecimento natural e o esforço próprio não pode conseguir: são
manifestação divinas nas quais o Espírito Santo é o distribuidor”.78 O Espírito capacita a igreja de acordo com

78
Conte (1985:100).
30
a sua vontade, e ele sabe exatamente o que cada cristão, cada congregação e cada geração necessita.79
Vejamos, na sequência, a classificação e a finalidade dos dons espirituais.

2.8.1 A classificação dos dons espirituais.

A Bíblia Sagrada ensina que Toda boa dádiva e todo dom perfeito é lá do alto, descendo do Pai
das luzes, em quem não pode existir variação, ou sombra de mudança (Tg 1:17). Isto significa que tanto as
aptidões naturais quanto os dons do Espírito Santo são dádivas de Deus. Por isso, em I Co 12:4-6, é dito que
a Trindade Divina (Pai, Filho e Espírito Santo) está envolvida na concessão dos dons, dos serviços e das
realizações espirituais: Ora, os dons são diversos, mas o Espírito é o mesmo. E também há diversidade nos
serviços, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade nas realizações, mas o mesmo Deus é quem opera
tudo em todos. Contudo, a Escritura Sagrada esclarece que é o Espírito Santo quem concede os dons
espirituais aos cristãos (I Co 12:7-11).
A Bíblia Sagrada classifica os dons espirituais da seguinte forma: Em Romanos 12:6-8: profecia,
serviço, ensino, encorajamento, contribuição, liderança, misericórdia; em I Coríntios 12:8-10: palavra da
sabedoria, palavra do conhecimento, fé, dons de curar, milagres, profecia, discernimento de espíritos, línguas,
interpretação de línguas; em I Coríntios 12:28: apóstolo, profeta, mestre, milagres, variedades de curas,
socorros, administração, línguas: em Efésios 4:11: apóstolo, profeta, evangelista, pastor-mestre; em I
Coríntios 7:7-8: celibato; em I Pe 4:9-11: hospedar, pregar, servir.
Em todas essas listas, “dom espiritual” é derivado da palavra grega charisma, cuja raiz é charis, que
significa “graça”. Isso quer dizer que um charisma é uma capacitação, um presente, uma bênção espontânea
de Deus, que habilita seus servos a praticarem toda boa obra (II Co 9:8; II Tm 3:16-17). Até mesmo para
realizar atividades que, equivocadamente, não são consideradas espirituais, como: elaborar desenhos e
trabalhos em ouro, prata, bronze, lapidar pedras, entalhar madeiras, servir às mesas, etc., desde que feitos
para o Senhor, seus servos recebem charisma, ou seja, são cheios do Espírito (Êx 31:1-5, 35:31-35; At 6:1-3).
Essa realidade espiritual é explicada pelo fato de os dons espirituais serem propriedade exclusiva do Espírito
Santo, que os concede aos crentes conforme lhe apraz, isto é, de acordo com sua soberania (I Co 12:11).

2.8.2 A finalidade dos dons espirituais.

Para que o Espírito Santo distribui os dons? A Bíblia responde: a finalidade dos dons espirituais é a
edificação da igreja, o amadurecimento do corpo de Cristo (cf. I Co 14:5,12,26; Ef 4:16). Sobre isso, o texto
de Efésios 4:11-12 é bem claro: E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para
evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o
desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo (grifo nosso).
Isso quer dizer que, quando uma pessoa usa os dons que recebeu do Espírito Santo para outros fins,
não para edificar espiritualmente os membros do corpo de Cristo, o serviço espiritual dela é inútil; quando
exerce um dom espiritual sem amor aos irmãos da igreja, mas apenas para exibição pessoal, o trabalho dela
torna-se inválido, segundo as Escrituras:

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o
címbalo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que
eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos
os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor,
nada disso me aproveitará (I Co 13:1-3).

O Dom de profecia, por exemplo, tem três finalidades: edificar, exortar e consolar (I Co 14:3). Edificar
é o ato de levantar uma estrutura, ou seja, de construir espiritualmente o templo (as pessoas) que formam o
corpo de Cristo. Exortar é o ato de estimular e motivar os crentes a fazerem toda a vontade de Deus (Hb
10:24), e consolar é o ato de confortar, isto é, quando o corpo de Cristo sofre perseguições do inimigo, o
Espírito Santo capacita pessoas desse corpo para consolarem as outras.
79
Ryrie (2004:427).
31
Nesse sentido bíblico, os dons espirituais são a ferramenta de trabalho mais poderosa que Deus
concede a seus filhos, para que seja utilizada na execução dos serviços, dos ministérios, dos cargos, das
funções, das ocupações espirituais, na igreja ou fora dela, para o progresso do reino de Cristo Jesus. Seja de
ofício, de responsabilidade, de obrigação, de atribuições ou de incumbências, todos os que foram chamados
por Deus têm algo a realizar, que deve ser praticado com prontidão, segundo a iluminação divina e
capacidade dada a cada um.
Um dos símbolos que a Bíblia utiliza para explicar a finalidade dos dons espirituais é o corpo humano,
com seus diferentes membros, grandes e pequenos, e com suas múltiplas funções: Porque também o corpo
não é um só membro, mas muitos (...) O certo é que há muitos membros e um só corpo (...) e os que parecem
menos dignos no corpo, a estes damos muito maior honra (...) para que não haja divisão no corpo. Pelo
contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor uns dos outros (I Co 12:12-31). O apóstolo
Paulo sintetizou essa funcionalidade dos dons nas seguintes palavras: Com o fim de preparar os santos para
obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do
conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo (Ef
4:12-13).
Cada órgão do corpo humano representa uma unidade vital para os demais, de forma que a ausência
ou a inoperância de um causa profundos prejuízos à saúde da pessoa e pode até destruir o corpo. O mesmo
fato pode ocorrer com a igreja, se os dons não forem exercidos segundo a finalidade proposta por Deus. Essa
é a razão de a Bíblia nos alertar a não usarmos os dons de forma errada, como fizeram alguns irmãos da
igreja de Corinto, que eram ricos em dons (I Co 1:7), mas que os utilizavam de forma imatura, e tinham como
resultado o oposto da unidade, ou seja, a desobediência, as dissensões, as contendas, o mundanismo, a
carnalidade e as impurezas (I Co 1:10-11, 3:1-17, 5:1-7, 6:10-11,19-20).
Esse triste exemplo demonstra que o mau uso dos dons, além de destruir a unidade do corpo de
Cristo, traz o juízo divino aos infratores (I Co 3:11-17). Para que isso não aconteça, a palavra de Deus nos
ensina a agir da seguinte forma: ... tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada: se
profecia, seja segundo a proporção da fé; se ministério, dediquemo-nos ao ministério; ou o que ensina
esmere-se no fazê-lo; ou o que exorta faça-o com dedicação; o que contribui, com liberalidade; o que preside,
com diligência; quem exerce misericórdia, com alegria (...) esforçando-vos diligentemente por perseverar a
unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4:3; Rm 12:6-8).

2.8 O FRUTO DO ESPÍRITO SANTO

Acabamos de ver que, os dons do Espírito Santo, são capacidades extraordinárias distribuídas,
soberanamente, pelo Espírito Santo, aos membros do corpo de Cristo, para um fim proveitoso. Agora, vamos
estudar sobre o fruto do Espírito. De certo modo, ambos os temas estão relacionados, pois, sem o fruto do
Espírito, os dons espirituais não são exercidos de forma eficaz. Mas, o que, pois, vem a ser o fruto do
Espírito? É isto que vamos ver a seguir: a conceituação e a classificação do fruto do Espírito.

2.7.1 Conceituando o fruto do Espírito Santo.

A expressão “fruto do Espírito” refere-se às virtudes espirituais, produzidas pelo Espírito Santo, nos
filhos Deus. O fruto do Espírito é o caráter de Cristo, produzido pelo Espírito Santo, no cristão. “O fruto do
Espírito é o resultado da maravilhosa operação de Deus no coração daquele que recebe a Cristo como seu
único e suficiente Salvador, propiciando, não só a purificação dos pecados, mas as condições necessárias

32
para que possa estar vivendo a excelência”.80 Essas virtudes estão alistadas em Gl 5:22-23: Mas o fruto do
Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio.
Observe que as nove virtudes fazem parte de um único fruto. Elas são apenas partes integrantes de um único
desenvolvimento espiritual.
O fruto do Espírito não pode ser gerado unicamente pelo esforço humano. O ser humano, sozinho,
produzirá, com bastante facilidade, apenas as obras da carne, que lhe são naturais: Ora, as obras da carne
são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras,
discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas (Gl 5:19-21).
Assim, a menos que o crente ande no Espírito, qualquer um desses pecados pode manifestar-se em sua
conduta.
Mas vale a pena observar que a produção do fruto do Espírito também depende da nossa vontade (Gl
5:16-17), pois precisamos responder, de maneira positiva, à direção do Espírito Santo em nossa vida: Digo,
porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne (Gl 5:16). Se andamos no Espírito,
não cedemos aos impulsos da natureza pecaminosa, porque, quando permitimos que o Espírito Santo nos
controle, ele vai produzindo, em nosso caráter, todas essas graças cristãs, gradualmente.
É bom que não confundamos o fruto do Espírito com os dons do Espírito, e que não pensemos ser
resultado direto do batismo no Espírito Santo. Uma maneira fácil de os distinguirmos é lembrarmos que o fruto
do Espírito ajuda a definir o que o crente é (caráter cristão) e os dons do Espírito ajudam a definir o que o
crente faz (serviço cristão). Quando lemos I Co 13:8, vemos outras diferenças entre os dois: Os dons do
Espírito são temporários, sendo que, algum dia, eles deixarão de existir (I Co 13:8), mas o fruto do Espírito é
permanente.
Muitos tendem a olhar com reverência para alguém que possui muitos dons Espirituais, como se isso
fosse indicativo de maturidade e crescimento espiritual. Aos irmãos da igreja de Corinto, não faltava nenhum
dom espiritual (I Co 1:7). Todavia, Paulo não lhes pôde falar como a espirituais, e sim como a carnais, como a
crianças em Cristo (I Co 3:1), pois havia entre eles, muita ciumeira e muita contenda (I Co 3:3).

2.7.2 Classificando o fruto do Espírito Santo.

De acordo com o que acabamos de ver, são nove as características do fruto do Espírito.
Vejamos cada um deles:

Em primeiro lugar, Amor: O amor, como parte integrante do fruto do Espírito, é o reflexo do amor
de Deus, porque Deus é amor (II Co 13:11); é a evidência de que a pessoa procede de Deus (I Jo 4:7-8). É
por esse amor que somos conhecidos como discípulos de Cristo (Jo 13:34-35). Ele é comprovado ao
amarmos e ajudarmos nosso próximo (I Jo 2:10, 3:14,18, 4:12,20,).
Em segundo lugar, alegria: Ao estudar o Novo Testamento não há como não se impressionar com o
número de vezes que ele fala de alegria. O verbo chairein, que significa alegrar-se, ocorre setenta e duas
vezes, e a palavra chara, que significa alegria, aparece sessenta vezes.81 A alegria não é uma emoção
passageira, que dependa das situações externas. Ela continua existindo, apesar das provações. Muitas
vezes, alegria e aflições andam lado a lado (At 13:51; II Co 6:10; Cl 1:24; I Ts 1:6; I Pe 4:8).
Em terceiro lugar, paz: A paz não significa apenas ausência de conflitos; ela descreve a perfeição dos
nossos relacionamentos com o próximo e com Deus (Rm 5:1, 12:8). Quem tem a paz do Espírito, procura
conviver harmoniosamente com todos (II Tm 2:29; Tg 3:18).
Em quarto lugar, longanimidade: No grego, longanimidade é makrothumia, sendo que makros
significa "longo" e thumos, “ânimo”. Esta palavra tem o seu sentido estreitamente relacionado ao de
perseverança. O crente que possui longanimidade consegue resistir ou tolerar pessoas e situações
desagradáveis, sem perder o ânimo.

80
Filho (2007:11).

81
Barclay (2000:75).
33
Em quinto lugar, benignidade: O crente que possui a benignidade é gracioso e gentil para com
os outros. A palavra grega usada para descrevê-la é chrestotes, que é uma bela palavra para a expressão de
uma bela graça.82 Plumer diz que esta palavra (chrestotes) é “a gentileza simpática ou doçura de gênio que
deixa os outros à vontade e recua diante da idéia de provocar dor”.83 Busquemos a benignidade de Deus!
Como aconselha as Escrituras: ... sede uns para com os outros benignos (Ef 4:32).
Em sexto lugar, bondade: A palavra bondade é usada apenas em Rm 15:14; Ef 5:9; II Ts 1:11. Ela
tem a idéia de generosidade. O crente que vive pelo Espírito Santo está sempre disposto a agir de maneira
generosa e solidária para com aqueles que estão em necessidade.
Em sétimo lugar, fidelidade: A fidelidade tem a ver com ser fiel no pouco e no muito (Mt 25.21);
significa, também, ser leal às verdades do evangelho do Senhor Jesus Cristo. A fidelidade é uma virtude do
próprio Deus (Dt 32:4; I Co 1:9; II Ts 3:3), e é ela que mantém a palavra do crente.
Em oitavo lugar, mansidão: O cristão que possui mansidão não age de forma violenta, ruidosa,
agressiva, impetuosa (Ef 4:2; Cl 3:12). Em seu sermão do monte, Jesus – que é manso (Mt 11:29) – prometeu
bênção a quem tem essa virtude (Mt 5:5).
Em nono lugar, domínio próprio: Em algumas versões bíblicas, o domínio próprio, aparece traduzido
por temperança, e significa completo autocontrole sobre os desejos e apetites carnais que procuram desviar-
nos da vontade de Deus. A Bíblia diz que melhor é o que domina o seu espírito do que o que toma uma
cidade (Pv 16:32). Ela é essencial para que nos libertemos da tirania da carne, que é contra o que o Espírito
quer: O cristão que em tudo (mente, corpo e emoções) se domina (I Co 9:25) receberá a coroa da vida, a qual
o Senhor prometeu aos que o amam (Tg 1:12).

Enfim, concluindo esta parte sobre o fruto do Espírito lembramos que, o Espírito Santo não age no
crente apenas com o fim de lhe dar poder para pregar o evangelho, por meio dos dons espirituais. A sua
atuação não está voltada somente para os “carismas”, mas, também, para o caráter. Com isso, tornamo-nos
participantes da natureza divina (II Pe 1:4). Busquemos o poder do Espírito, mas não ignoremos o fruto do
Espírito.

CONCLUSÃO

Chegamos ao final do nosso estudo sobre a natureza e a atuação do Espírito Santo. Ao longo de
todas as páginas anteriores fomos levados a pensar sobre como é o Espírito Santo. Dentre muitas coisas que
vimos, salientamos a verdade fundamental professada por todos os crentes em Jesus: o Espírito Santo é
Deus e, é também um ser pessoal. Vários símbolos são aplicados a ele e nos ajudam compreender ainda
mais algumas facetas da sua natureza.
Estudamos que ele atuou no passado e continua atuando no presente. Esteve presente na história do
povo de Israel, na inspiração da Bíblia Sagrada, no ministério de Jesus. Trabalha no mundo convencendo as
pessoas não-crentes a fim de regenerá-las. Atua na vida do cristão, consolando-o, defendendo-o, ajudando-o
em oração e guiando-o em toda a verdade! Por isso,

...não atrapalhem a ação do Espírito Santo. Façam tudo para conservar, por meio da paz que une vocês, a união
que o Espírito dá. Há um só corpo, e um só Espírito, e uma só esperança, para a qual Deus chamou vocês. Os que
vivem segundo a carne, pensam nas coisas da carne; mas os que vivem segundo o Espírito, nas coisas do Espírito.
Vós, porém, não estais sob o domínio da carne, mas do Espírito. Seguir o Espírito Santo conduz à vida e à paz, mas
seguir a velha natureza conduz à morte. Portanto, não vos embriagueis com vinho, que leva à devassidão, mas
enchei-vos do Espírito. (Seleção de leituras: I Ts 5:19; Ef 4:3-4; Rm 8:5,9, 6; Ef 5:18).

82
Idem, p. 93.
83
Apud Barclay (2000:93).

34
Que o Espírito Santo, a cada dia, nos faça glorificar a Cristo com as nossas atitudes e palavras!

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