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Nossa crença ponto a ponto


Copyright © 2012 – Igreja Adventista da Promessa.
Todos os direitos reservados.

Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer modo ou meio,
seja eletrônico, mecânico ou outros, sem autorização prévia da Igreja Adventista da Promessa.

O DOUTRINAL
Nossa crença ponto a ponto

1ª Edição Dezembro de 1962


2ª Edição Março de 1969
3ª Edição Maio de 1978
4ª Edição Junho de 1982
5ª Edição Junho de 1986
6ª Edição Maio de 1993
7ª Edição Fevereiro de 1999
8ª Edição Agosto de 1999 (edição simplificada)
9ª Edição Abril de 2000 (edição simplificada)
10ª Edição Setembro de 2012

Coordenação Geral Departamento de Educação Cristã da Igreja


Adventista da Promessa (DEC)
Redação e preparação de originais Alan Pereira Rocha
Eleilton William de Souza Freitas
Genilson S. de Silva
Jailton Sousa Silva
Valdeci Nunes de Oliveira
Revisão teológica Comissão teológica da Igreja Adventista
da Promessa
Apreciação e aprovação do texto Câmara teológica da Igreja Adventista da
Promessa (reunião realizada no dia 31 de
maio de 2012)
Revisão de textos Eudoxiana Canto Melo
Projeto gráfico e editoração Farol Editorial e Design
Capa
Roberta S. Bassanetto
Impressão Gráfica e Editora A Voz do Cenáculo

Igreja Adventista da Promessa


Rua Boa Vista nº 314 – 6º andar conj. A – Centro – São Paulo – SP
CEP 01014-000 – Fone: (11) 3104-6457 – www.iapro.com.br
Sumário

Prefácio à décima edição................................................................................... 7


Apresentação................................................................................................. 11

Estudo 1 � A Bíblia Sagrada..................................................................... 15


Estudo 2 � A triunidade divina................................................................. 25
Estudo 3 � A criação do mundo................................................................ 37
Estudo 4 � Origem, queda e restauração do ser humano.......................... 47
Estudo 5 � Jesus Cristo: salvador e mediador da humanidade.................. 57
Estudo 6 � Regeneração e conversão......................................................... 67
Estudo 7 � Justificação e adoção............................................................... 77
Estudo 8 � Santificação e perseverança..................................................... 87
Estudo 9 � O batismo no Espírito Santo.................................................. 97
Estudo 10 � Os dons espirituais.............................................................. 107
Estudo 11 � Evangelização e discipulado................................................ 125
Estudo 12 � Ordenanças instituídas por Cristo...................................... 135

O Doutrinal | 5
Estudo 13 � A sã doutrina...................................................................... 145
Estudo 14 � Abstinência e temperança................................................... 155
Estudo 15 � A oração e sua eficácia........................................................ 165
Estudo 16 � A cura divina ...................................................................... 175
Estudo 17 � A lei dos dez mandamentos e sua vigência.......................... 187
Estudo 18 � O verdadeiro dia de descanso.............................................. 197
Estudo 19 � A distinção das leis............................................................. 207
Estudo 20 � A manutenção da obra: dízimos e ofertas........................... 221
Estudo 21 � Submissão às autoridades e liberdade de consciência.......... 231
Estudo 22 � O casamento, o lar e a família............................................. 241
Estudo 23 � A igreja de Cristo................................................................ 251
Estudo 24 � A mortalidade da alma........................................................ 261
Estudo 25 � O dia da crucificação e da ressurreição de Jesus.................. 271
Estudo 26 � A segunda vinda de Cristo.................................................. 285
Estudo 27 � As ressurreições dos mortos ............................................... 295
Estudo 28 � O milênio............................................................................ 305
Estudo 29 � O juízo final........................................................................ 315
Estudo 30 � A origem e a extinção da maldade...................................... 325
Estudo 31 � A nova terra, o lar dos remidos........................................... 335

Bibliografia.................................................................................................. 345
Prefácio à
décima edição

Conheça a nova estrutura de “O Doutrinal”


Você tem em mãos a 10ª edição de “O Doutrinal”. Ela sai exatamente no
ano em que a Igreja Adventista da Promessa (leia-se IAP) completa oitenta
anos de existência. Desde a sua fundação, a IAP teve a Bíblia como sua única
regra de crença e prática e como sua julgadora naquilo que professou crer.
Isso a levou a apresentar seu corpo doutrinário definido, desde os primeiros
passos de sua trajetória. No início, seus pontos de fé estavam em um peque-
no livreto com o número de 24. Este livreto tratava das doutrinas fundamen-
tais da crença da IAP, e era usado para ministração de estudos aos novos
convertidos. Ele serviu de base doutrinária durante quase duas décadas.
Com o passar do tempo, antes do surgimento de “O Doutrinal”, outros
assuntos vieram a enriquecer o conjunto doutrinário da IAP, e foi elabora-
do um livreto intitulado: Trinta Pontos Básicos de Nossa Fé. Até que, por deci-
são de uma Assembleia Geral, nos fins da década de 50, foi decidido que
os Trinta Pontos Básicos de Nossa Fé deveriam ser escritos em forma de lições,
com o nome “O Doutrinal”, que veio a público, em sua primeira edição, no
ano de 1962, há cinquenta anos.
“O Doutrinal” tem sido, desde então, nosso manual de orientação dou-
trinária. Ele trata, de maneira simples, os principais pontos de fé que vêm
norteando a nossa conduta cristã, em todo este período de história. Temos,
em “O Doutrinal”, a nossa crença sistematizada, ponto a ponto. Daí a im-
portância de cada crente que serve a Cristo na IAP conhecer este conteúdo.
O apóstolo Pedro disse o seguinte, em sua primeira carta: ... se alguém per-

O Doutrinal | 7
guntar porque vocês crêem assim, estejam preparados para contar-lhe (3:15, BV).
Em “O Doutrinal”, temos explicados os “porquês” da nossa crença.
Como você perceberá, esta 10ª edição traz várias novidades, a começar
pela extensão dos estudos: houve um aprofundamento maior em cada um
dos pontos. Além disso, a estrutura dos estudos mudou. De maneira resu-
mida, cada um tem a seguinte divisão:

I. Verificando a doutrina
na palavra de Deus:
Nesta parte do estudo,
oferecemos a base bíblica
para o ponto a ser estudado.
É a parte mais extensa.
Para facilitar a leitura e a
compreensão, está
dividida em itens.

II. Praticando a doutrina na


palavra de Deus:
Esta parte, talvez, seja um dos grandes
diferenciais da 10ª edição de “O
Doutrinal”. Além de apresentar a base
bíblica para cada um dos pontos, houve
também a preocupação de pensar na
prática de cada um deles. Como aplicamos
em nosso dia-a-dia a doutrina estudada?
É justamente esta pergunta que será
respondida nesta parte.

8 | Prefácio à décima edição


III. Debatendo a doutrina
da palavra de Deus:
Todos os estudantes de “O
Doutrinal” já estão familiarizados
com o método de perguntas e
respostas, que foi preservado nesta
edição. A diferença é que, agora,
as perguntas são mais indutivas
e nos fazem pensar em questões
práticas. Todas as respostas serão
procuradas e encontradas nos
textos bíblicos apresentados, para
que o estudante cultive o hábito de
conferir sempre o que a Bíblia diz.

O que torna marcante esta 10ª edição, além dessa nova estrutura e da
ampliação no conteúdo de “O Doutrinal”, é o momento especial em que ela
é lançada: quando se completam cinquenta anos do lançamento da primeira
edição e quando a IAP comemora oitenta anos.
Esperamos em Deus que você possa tirar o melhor proveito possível
deste material. Terminamos com um conselho dado pelo apóstolo Paulo a
Timóteo, que havia aprendido, desde criança, as sagradas letras: ... continue
firme nas verdades que aprendeu e em que creu de todo o coração (2 Tm 3:14).

São Paulo, setembro de 2012.


Departamento de Educação Cristã

O Doutrinal | 9
Apresentação

Goteje a minha doutrina como a chuva, destile a minha palavra como o or-
valho, como chuvisco sobre a erva e como gotas de água sobre a relva, determina,
por intermédio de Moisés, o grande e único Deus de Israel (Dt 32:2). Abre
tu os meus olhos, para que veja as maravilhas da tua lei, responde Davi, dese-
joso de obedecer aos ensinamentos desse Deus (Sl 119:18). Os ensinos de
Deus despertam no homem os mais profundos anseios de conhecê-lo e se
relacionar com ele.
O desejo de saber, de conhecer, de desvendar é inerente ao ser humano.
Não nascemos sabendo. Por isso, quando sabemos, nós nos realizamos, pois
nos encontramos com aquilo que nos falta. Em algum momento da vida,
ficamos sabendo que não viemos do acaso: nossa origem é Deus, que tem,
na pessoa de Cristo, a imagem exata de seu ser (Hb 1:3). Seguimos em
entender que pecamos e fomos destituídos da glória de Deus, mas que, em
Cristo, essa glória nos é restituída progressivamente (Rm 3:23, 8:29; Cl
1:15, 3:10; 2 Co 2:4, 3:18).
Esse entendimento espiritual, de que, em Cristo Jesus, todas as coisas
são feitas e refeitas, conduz o homem pecador ao ponto mais elevado da-
quilo que se pode afirmar como sabedoria real, pura e verdadeira, superior
a todas as demais formas de sabedoria humana, porque está alicerçada em
Cristo, que é o poder e a sabedoria de Deus (1 Co 1:24; cf. 1:18-31). Cristo
é a própria palavra de Deus, isto é, a palavra em carne ou a doutrina divina
em forma de pessoa ( Jo 1:1; 1 Jo 1:1).
É nessa perspectiva de ter Cristo Jesus como o centro de todas as coisas
que a Diretoria da Convenção Geral apresenta aos adventistas da promes-
sa o livro O Doutrinal: nossa crença ponto a ponto, contendo as atualizações

O Doutrinal | 11
julgadas necessárias para que haja melhor conhecimento, entendimento e
confiança na sã doutrina de Deus: alguns títulos reformulados, especial-
mente os que tratam do processo de salvação em Cristo Jesus, e um novo
ponto inserido, o de número 11: Evangelização e Discipulado. Portanto, O
Doutrinal agora contém trinta e um pontos doutrinários.
Como se sabe, a Bíblia Sagrada é o livro inspirado por Deus, incom-
parável e autoritativo, quanto às regras de fé e práticas cristãs, e nós, os
adventistas da promessa, cremos nisso. O Doutrinal, que hora apresentamos,
é o livro em que se encontram, de maneira sistematizada, as nossas crenças,
com base na Bíblia. Por isso, todas as alterações realizadas neste texto visa-
ram tão somente, à luz da Escritura, fundamentar (aprofundar e expandir)
ainda mais o que professamos.
Visto ser o presente livro nossa referência doutrinária, em termos insti-
tucionais, todos os textos originais foram produzidos pelos irmãos do De-
partamento de Educação Cristã (DEC), avaliados pela Comissão Teológica
e aprovados pela Câmara Teológica, conforme determinam o Estatuto e o
Regimento da Convenção Geral das Igrejas Adventistas da Promessa.
A melhor forma de os adventistas da promessa agradecerem a Deus
pelo trabalho dos irmãos e das irmãs que produziram os textos, avaliaram e
aprovaram os pontos doutrinários aqui publicados é esforçarem-se e apro-
fundarem-se nos estudos, na compreensão e na prática desses pontos, por-
que a palavra de Deus determina, manda, ordena, admoesta que manejemos
bem a palavra da verdade (2 Tm 2:15). Se assim procederem, Deus receberá
esses atos para o louvor de sua glória e responderá com bênçãos aos que
trabalharam os textos e aos que os receberam de bom grado.
Aos que produziram, avaliaram e aprovaram O Doutrinal, ofereço o
“texto de ouro”, que os inspira na luta pela defesa da sã doutrina:

Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para


ensinar, para redargüir, para corrigir, para instruir em justi-
ça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente
instruído para toda a boa obra. (2 Tm 3.16-17).

Aos acolhedores e esforçados em compreender e praticar a sã doutrina


de Cristo, peço que não se esqueçam deste, que é um dos mais belos e desa-
fiadores mandamentos em termos de discipulado cristão:

12 | Apresentação
... fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus. E o que de mim,
entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que
sejam idôneos para também ensinarem os outros. (2 Tm 2:1-2).

Àquele que é Senhor de tudo e de todos, que trabalha para que Cristo e
sua doutrina sejam, para nós, como a água e o orvalho são para a terra seca,
eu tributo honra e louvor com esta canção bíblica:

Ó, profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da


ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão
inescrutáveis os seus caminhos! Porque quem compreendeu a
mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe
deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque
dele e por ele, e para ele, são todas as coisas; glória, pois, a ele
eternamente. Amém. (Rm 11:33-36).

Pastor José Lima de Farias Filho


Presidente da Convenção Geral da IAP

O Doutrinal | 13
Estudo 1

A Bíblia Sagrada

Seca-se a erva, e caem as flores, mas a palavra do


nosso Deus subsiste eternamente. (Is 40:8)

Introdução
Todos os trinta e um capítulos deste manual, que ora temos em mãos,
foram baseados em um livro: A Bíblia Sagrada. É por isso que vamos iniciar
o nosso estudo tratando sobre ela. A palavra “Bíblia” vem do grego biblos
(livro), nome que era dado à folha de papiro preparada para a escrita.1 Um
papiro de tamanho pequeno era chamado biblion e vários destes eram cha-
mados de bíblia. Por isso, se traduzida literalmente, a palavra “Bíblia” quer
dizer “coleção de livros pequenos”.2
Os materiais usados para escrever a Bíblia eram simples. Os dois mais
importantes foram o “papiro” e o “pergaminho”. O primeiro não era muito
resistente. O papiro era uma planta aquática, que crescia nos rios e lagos de
pouca profundidade. As tiras eram extraídas e coladas umas sobre as outras
até formarem um rolo. O pergaminho era mais resistente. Sua origem es-
tava nas peles de ovelhas e cabras, entre outros animais. Essas peles eram
tosadas e raspadas, para se obter um material mais durável para a escrita.3
Por que é essencial saber isso? Só um livro muito especial e de indescritível
valor sobreviveria até os nossos dias. Por quê? O material era frágil, mas o
mantenedor, não. É sobre esse livro singular que estudaremos.

1. Geisler (1997:5).
2. Silva (1986:18).
3. McDowell (1989:34).

O Doutrinal | 15
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Podemos confiar na Bíblia? Ela tem alguma relevância para a nossa


vida? A resposta para essas duas perguntas é um majestoso Sim!. A Bíblia é
única. Em toda a história do ser humano, um livro jamais produziu sequer
uma fração do seu impacto. Os melhores livros que já foram escritos, na
proporção em que foram celebrados, foram, igualmente, esquecidos. A
Bíblia, entretanto, permanece. Já foi queimada, desacreditada, banida, mas
continua cada vez mais forte.4 A resposta para tanto sucesso: ela não é fruto
da vontade dos homens (2 Pe 1:21), como veremos, a partir de agora.
1. A composição da Bíblia Sagrada: A Bíblia é composta de uma pe-
quena biblioteca de 66 livros, divididos em dois grandes blocos: o Antigo
Testamento, com 39 livros, e o Novo Testamento, com 27 livros. A palavra
“Testamento” significa “aliança”, “acordo” ou “pacto”. Os livros que com-
põem o “Antigo Testamento” foram escritos antes de Cristo vir a esta terra
para consumar o plano de redenção, e os livros que compõem o “Novo
Testamento” foram escritos depois de Cristo. Todavia, as palavras “Antigo”
e “Novo” referem-se aos acordos ou testamentos feitos por Deus com seu
povo, ao longo dos tempos, e não significam que os conteúdos dos livros de
uma ou de outra parte da Bíblia têm menos ou mais validade para nós, hoje.
Todos são importantes e contêm orientações de Deus para a nossa vida.
Tanto os livros do Antigo quanto os do Novo Testamento não foram
escritos, originalmente, em capítulos e versículos, mas divididos posterior-
mente. Langston, professor da Universidade de Paris, dividiu a Bíblia em
capítulos, no ano de 1227. Stephanus, impressor parisiense, acrescentou a
divisão em versículos, nos anos de 1551 e 1555.5 Nesta última data, foi
impressa a primeira Bíblia completa, com divisões em capítulos e versícu-
los. Os 39 livros do Antigo Testamento podem ser classificados em quatro
categorias: Pentateuco, com 5 livros (Gênesis a Deuteronômio); Históricos,
com 12 livros (de Josué a Ester); Poéticos, com 5 livros (de Jó a Cantares);
Proféticos, com 17 livros, que se subdividem em profetas maiores, com 5
livros (de Isaías a Daniel), e profetas menores, com 12 livros (de Oséias a

4. Anders (2000:39).
5. Geisler (1997:9).

16 | Estudo 1 - A Bíblia Sagrada


Malaquias). A subdivisão entre profetas maiores e menores não indica aque-
les que tiveram mais ou menos sucesso; esta classificação surgiu por causa
do tamanho dos livros. Os “maiores” foram os que escreveram mais e os
“menores”, os que escreveram menos.
Quanto aos 27 livros do Novo Testamento, podem ser classificados em
quatro categorias: Evangelhos, com 4 livros (de Mateus a João); História,
com 1 livro, o de Atos dos Apóstolos; Epístolas, com 21 livros, que se sub-
dividem em epístolas paulinas, com 13 livros (de Romanos a Filemom) e
epístolas gerais, com 8 livros (de Hebreus a Judas); Profecia, com 1 livro,
o de Apocalipse. Todos esses livros foram escritos num período de quase
1600 anos, em três idiomas (hebraico, aramaico e grego), em três continen-
tes (Ásia, Europa e África), por mais de 40 autores, de fazendeiros a reis,
em épocas e culturas diferentes. Era de se esperar que o resultado fosse um
texto confuso, mas não é isso que vemos. Todos os autores foram inspirados
por Deus. O mesmo não se pode dizer dos 7 livros a mais que aparecem em
algumas versões bíblicas (1 e 2 Macabeus; Judite, Baruc, Tobias, Eclesiásti-
co, Sabedoria e um acréscimo de dois capítulos em Daniel). Estes livros são
conhecidos por “apócrifos”, palavra que significa “secreto”, pois seus autores
são desconhecidos. Não são livros inspirados,6 pois foram escritos num pe-
ríodo em que Deus não se revelou aos seus profetas (Período Interbíblico);
contudo, retêm valor histórico.
2. A inspiração da Bíblia Sagrada: Existem várias teorias errôneas
a respeito de como ocorreu a inspiração da Bíblia. Uma delas, chamada
inspiração mecânica, diz que o Espírito Santo se apossou da mente e do
corpo dos autores bíblicos, reduzindo-os a meros instrumentos passivos
que anotavam mecanicamente tudo que lhes era ditado. Outra teoria, a da
inspiração conceitual, ensina que Deus inspirou somente o conceito bíblico
e não as palavras bíblicas em si. Uma terceira, a inspiração parcial, ensina
que só o que é essencial para a vida cristã é inspirado. Apesar de muitos
acreditarem nessas teorias, não é isso que a Bíblia ensina.
Em 2 Timóteo, lemos: Toda Escritura é divinamente inspirada (3:16).
Veja que o texto diz “toda”. Isso é chamado de inspiração plenária. Toda

6. Os próprios autores dos livros confessam faltar inspiração aos escritos (1 Macabeus 4:46, 9:27, 14:41; 2 Macabeus
2:38). Diferentemente dos demais livros do AT, estes nunca foram citados no NT. Há contradições nos ensinos:
Tobias 12:9 afirma que a esmola nos livra da morte e nos faz encontrar a vida eterna.

O Doutrinal | 17
a Bíblia é inspirada, em todas as suas partes. Além de ser plenária, essa
inspiração também foi verbal. No texto original, a palavra “inspirar” é
theopneustos, que significa, literalmente, “soprado por Deus”, isto é, “tudo
o que foi escrito pelos autores humanos foi emitido pelo sopro de Deus.
Ele falou por intermédio deles. Eles foram seus porta-vozes”.7 Este texto
não elimina a personalidade do autor, mas mostra que cada letra que foi
registrada na Bíblia está de acordo com a vontade de Deus; está ali porque
ele quis; por isso, a Bíblia tem autoridade que nenhum outro livro pode
pleitear para si.8
Em 2 Pedro, também vemos a questão da inspiração da Bíblia confir-
mada: ... nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entre-
tanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo (2
Pe 1:21). Observe a expressão “movidos pelo Espírito Santo”. Pedro está
dizendo que a Bíblia não foi escrita por homens que usaram suas próprias
ideias, opiniões e palavras, mas, sim, por homens de Deus que foram “mo-
vidos” por Deus. No original, o termo traduzido por “movidos” significa “ser
conduzido, como uma embarcação é levada pelo vento”.9 A ideia é que os
profetas “içaram suas velas”, ao serem obedientes e receptivos, e o Espírito
Santo as soprou e levou “seu barco” na direção que ele desejava.
3. A autoridade da Bíblia Sagrada: A Bíblia é a nossa única regra de
fé e de prática. Ela é suficiente como única fonte confiável e completa de
conhecimento e orientação de toda a verdade divina. O motivo? Ela é a
palavra de Deus; não apenas a contém ou se torna. A Bíblia não depende
do testemunho humano para ter autoridade, porque a sua autoridade vem
diretamente de Deus. Por trás de cada palavra pronunciada por alguém, está
a pessoa que a pronuncia. Desta forma, a palavra de Deus (Bíblia Sagrada)
carrega em si a autoridade de Deus.10 Não crer na Bíblia é não crer em
Deus. Desobedecer aos seus ensinos é desobedecer a Deus.
Ao folhearmos as páginas das Escrituras, direta ou indiretamente, en-
contraremos, aproximadamente, 1500 referências à própria Bíblia como a
palavra de Deus que subsistirá eternamente (Is 40:8). Os profetas considera-

7. Stott (2005:184).
8. Hester (1983:18).
9. Wiersbe (2006c:574).
10. Stott (2005:187).

18 | Estudo 1 - A Bíblia Sagrada


vam suas profecias como palavras de Deus (Dt 18:18-20; 1 Sm 10:8, 13:13;
1 Re 20:35-36; Jr 1:9; 14:14). Expressões como: A palavra do Senhor veio a
mim dizendo ou Assim diz o Senhor ou Ouvi a palavra do Senhor são comuns
no Antigo Testamento. Todas elas assinalam a mesma verdade: as pesso-
as que as pronunciavam sabiam que estavam falando a palavra de Deus.
Quando as registraram, essa consciência persistiu.
Os escritores do Novo Testamento também entendiam que seus
próprios escritos eram palavra de Deus (cf. 1 Co 14:37; 1 Ts 4:15; 2 Pe
3:2; Ap 22:18). Veja o que Paulo disse, em sua primeira carta à igreja
de Corinto: Também falamos dessas coisas, não com palavras ensinadas pela
sabedoria humana, mas com palavras ensinadas pelo Espírito Santo (2:13).
Pedro, em sua segunda carta, ao se referir aos escritos de Paulo, dizendo
que ele escrevia coisas difíceis de entender, afirmou que os ignorantes e
inconsistentes os distorcem, como fazem com as demais Escrituras (3:15-
16). Observe que Pedro, de forma clara, considerava os escritos de Paulo
Escritura, isto é, eles tinham autoridade, como todos os outros livros do
Antigo Testamento.
4. A unidade da Bíblia Sagrada: Outra prova incontestável da inspi-
ração da Bíblia Sagrada é sua unidade. Os seus escritores foram homens
que trabalhavam nas mais diversas áreas do mercado de trabalho da época:
Davi e Salomão foram monarcas, faziam parte da realeza; Daniel, chefe de
Estado; Pedro, Tiago e João, pescadores; Lucas, médico; Amós, boiadeiro,
etc. Uns escreveram no deserto; outros, na prisão; uns, em cidades; outros,
nos campos. Porém, o que mais chama à atenção é que, mesmo com toda
essa diversidade, o resultado do trabalho de escrita desses homens foi har-
mônico. A única explicação plausível é que há uma mente diretriz por trás
de toda a revelação.
Apesar de todas as diferenças culturais e intelectuais e da extensão de
tempo que separam os autores bíblicos, a Bíblia Sagrada apresenta unidade
de tema. O Antigo Testamento é uma história redentora que lança o fun-
damento sobre o qual o Novo Testamento se edifica. O Antigo olha para
frente e o Novo olha para trás, para o evento central de toda a história: A
morte do Messias.11 Jesus é o tema central de toda a Bíblia. Ele mesmo
tinha consciência disso (cf. Mt 5:17; Lc 24:27, 44; Jo 5:39; Hb 10:7).

11. Wilkinson (2000:1).

O Doutrinal | 19
A Bíblia também apresenta unidade em seus ensinos. Jesus disse: Santi-
fica-os na verdade; a tua palavra é a verdade ( Jo 17:17). A Bíblia é a verdade
de Deus. A coerência não é o único meio de examinar a verdade, mas um
dos principais. “Os promotores públicos dizem que uma mentira raramente
se sustenta quando examinada com profundidade”.12 Por ter uma mente
divina, única, de uma coerência absoluta por trás dos seus ensinos, a Bí-
blia não contém contradições e nem erros; ela está certa em todas as suas
afirmações. Nenhuma descoberta arqueológica jamais contradisse qualquer
informação dada pela Bíblia.13 Ela é inerrante, infalível.
5. A clareza da Bíblia Sagrada: Depois de entender a composição,
a inspiração, a autoridade e a unidade da Bíblia Sagrada, cabe uma per-
gunta extremamente importante: Toda pessoa consegue ler e interpretar
as Escrituras? Há dois extremos perigosos com relação à resposta dessa
pergunta. O primeiro é aquele que afirma ser totalmente desconhecido da
pessoa comum o significado das Escrituras. Essa primeira posição restrin-
ge o entendimento das Escrituras a um grupo de especialistas em inter-
pretação bíblica.
O segundo extremo, igualmente perigoso, é o da clareza absoluta das
Escrituras, isto é, não existe nenhuma parte difícil de entender na Bíblia.
Todas as partes são fáceis e simples de serem entendidas. Esse segundo
grupo considera-se tão capaz que a ajuda de mestres, pastores ou profes-
sores – pessoas teoricamente “preparadas” – é totalmente descartada. A
exemplo do primeiro extremo, este também é falho; afinal, a respeito do
que Paulo escreveu, o próprio apóstolo Pedro afirmou que ele escreveu
pontos difíceis de entender (2 Pe 3:16). Os dois extremos são perigosos e
nós devemos evitá-los.
A doutrina da clareza da Bíblia Sagrada ensina que toda pessoa tem o
direito de ler e interpretar a palavra de Deus. Entretanto, esse direito não
excluiu a necessidade de haver estudiosos na igreja (At 8:30-31).14 Por isso,
leia, medite na Bíblia Sagrada, peça sabedoria ao Senhor para entendê-la
(Tg 1:5). É possível aprender os princípios básicos da fé cristã, ao ler a Bí-
blia, sobretudo quanto à salvação em Cristo Jesus (2 Tm 3:15). Se, porven-

12. Lutzer (2001:39).


13. McDowell (1989:83).
14. Cheung (2008:46).

20 | Estudo 1 - A Bíblia Sagrada


tura, você se deparar com um texto de difícil interpretação, solicite a ajuda
de alguém preparado para explicá-lo, a fim de que a palavra de Deus não
seja distorcida (2 Pd 3:16).
6. A praticidade da Bíblia Sagrada: A Bíblia não é meramente um
livro teórico, com regras antiquadas, com normas superadas. Ela é um livro
prático, que traz princípios aplicáveis às pessoas de todos os tempos e lu-
gares: ... por que tudo que dantes foi escrito, para o nosso ensino foi escrito (Rm
15:4). Não se trata de um texto morto, que desperta curiosidade apenas por
fazer parte da história. A palavra de Deus é viva e eficaz! Estimula a mente,
alimenta a alma e satisfaz o coração. Em 2 Timóteo, está escrito que toda
Escritura é inspirada por Deus e útil (3:16).
A Bíblia é útil e proveitosa por dois motivos. Em primeiro lugar, por-
que ensina a doutrina certa. O texto de 2 Timóteo mostra que a Escritura
Sagrada é útil para ensinar a verdade (3:16). A Bíblia é a nossa única fonte
de doutrina. Contudo, é preciso estudá-la, com meditação, e praticá-la, com
seriedade e reverência. O apóstolo João afirma, em Ap 1:3: Bem-aventurado
aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que
nela estão escritas; porque o tempo está próximo.
Em segundo lugar, a Bíblia é também útil para mostrar a conduta certa.
Além de ser a nossa única regra de doutrina, é também a nossa única regra
de conduta. As mudanças têm acontecido com muita rapidez, na ética e na
moral. Todos os dias, somos impactados com novos conceitos e novos cos-
tumes. Por isso, é importante conhecermos as Escrituras. Elas são o nosso
perfeito código ético-moral, que serve para nos orientar e nos corrigir, em
todas as áreas da nossa vida. Ela nos foi dada para nos fazer compreender o
que está errado nas nossas vidas; ela nos endireita e nos ajuda a fazer o que é
correto (2 Tm 3:16 – BV).
Estudamos, até aqui, sobre a composição, a inspiração, a autoridade,
a unidade, a clareza e a praticidade da Bíblia Sagrada. A Bíblia foi o livro
para ontem. Sem dúvida, será para amanhã. Mas, em relação a nós, é o livro
para hoje.15 Que a palavra de Deus, que é viva e eficaz e mais cortante do que
qualquer espada de dois gumes (Hb 4:12), e que pode nos tornar sábios para
salvação mediante a fé em Cristo Jesus (2 Tm 3:15), dirija a nossa vida.

15. Stott (2007a:9).

O Doutrinal | 21
II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Leia a Bíblia Sagrada com devoção.


O Espírito Santo é o mestre do povo de Deus. Em 1 Co 2:11, lemos
que ele conhece a natureza e a vontade de Deus: ... as coisas de Deus, ninguém
as conhece, senão o Espírito de Deus. Só ele sabe realmente o que Deus pensa e
partilha conosco esse pensar de Deus. No versículo 13 do mesmo texto, está
escrito que ele não somente conhece, mas, também, nos explica a palavra de
Deus e nos ensina a pensar. Portanto, estudar as Escrituras Sagradas é uma
atividade espiritual, para a qual precisamos da ajuda do Espírito Santo: ...
porque elas se discernem espiritualmente (1 Co 2:14). Leia a Bíblia em atitude
de oração. Peça ao Senhor: ... desvenda os meus olhos para que contemple as
maravilhas da tua lei (Sl 119:18).

2. Leia a Bíblia Sagrada com submissão.


Devemos estudar a Escritura com coração humilde, porque Deus resis-
te aos soberbos, contudo, aos humildes concede a sua graça (1 Pe 5:5). Aqueles
que estudam as Sagradas Escrituras com regularidade e profundidade vão
descobrir e entender muitas verdades e princípios espirituais que, algumas
vezes, irão confrontar aquilo que creem, pensam e, às vezes, ensinam como
se fosse verdade. O que fazer nessas ocasiões? Submeter-se ao ensino da
Bíblia. Leiamos a palavra de Deus com submissão. Ela é lâmpada para os
pés e luz para o caminho (Sl 119:105). À semelhança do salmista, alegre-se
em poder seguir o caminho do Senhor (Sl 119:14).

3. Leia a Bíblia Sagrada com satisfação.


A leitura e o estudo da Bíblia não são simplesmente exercícios teóricos
do intelecto: oferecem-nos um regozijo que nenhuma literatura humana
pode proporcionar, quando nos aproximamos dela com coração alegre e
feliz. Faça isso! Leia a Bíblia Sagrada com satisfação. Não apenas casu-
almente, um dia ou outro, mas sempre. Sem extensos intervalos, sem ser
interrompido. Leia-a com dedicação. Medite nela de dia e de noite (Sl 1:2).
Não se contente com uma leitura superficial. Faça uma segunda leitura.
Memorize, pense sobre o que leu. Alimente-se da palavra. Demonstre ale-
gria ao estudar a palavra de Deus. Afinal, os preceitos do Senhor são retos, e
alegram o coração (Sl 19:7).

22 | Estudo 1 - A Bíblia Sagrada


Conclusão
Todos os autores bíblicos foram instrumentos divinos, em sentido tal
que suas palavras devem ser recebidas não como palavras de homens, mas
como, na verdade, elas são: palavras de Deus. O que está escrito na Bíblia
não é humano, mas divino. Não provém da interpretação humana do escri-
tor, mas da mente e da vontade de Deus. Sendo assim, a Bíblia que temos
em mãos, hoje, é nada menos do que a vontade de Deus revelada.
Por que é importante que isso fique bem claro? A razão é simples: a
Igreja Adventista da Promessa tem a Bíblia como sua única regra de fé e
de prática. Todos os pontos de fé que serão expostos nos próximos estudos
deste manual foram extraídos, unicamente, da Bíblia Sagrada. É ela quem
dita a nossa crença, conforme ficará evidenciado. No próximo estudo, ve-
remos o que a Bíblia diz sobre a Triunidade divina. Por que dizemos que
acreditamos no Pai, no Filho e no Espírito Santo, mas, ao mesmo tempo,
afirmamos haver um só Deus? São questões como essa que serão tratadas.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia 2 Timóteo 3:16


A. Com base nesse versículo responda: Quem inspirou a Bíblia Sagrada?
B. Quais partes da Bíblia são inspiradas: Todas ou algumas? Comente.

02. Leia 2 Pedro 1:20-21


A. A Bíblia Sagrada é fruto da vontade do ser humano? Se a resposta
for não, então qual a sua origem?
B. Depois de ter comentado sobre a origem da Bíblia, responda:
Nós podemos confiar nela?

03. Leia Isaías 40:7-8


A. O que faz com que a Bíblia seja nossa única regra de fé e de prática?
De onde vem a sua autoridade?
B. Você entende que não crer na Bíblia é não crer em Deus e desobedecer
aos seus ensinos é desobedecer a Deus? Que autoridade ela tem
exercido em sua vida?

O Doutrinal | 23
04. Leia Lucas 24:27, 44-45
A. O que o próprio Jesus disse com relação ao tema central de toda a
Bíblia Sagrada?
B. Se Jesus ocupa o lugar central das Escrituras, a palavra de Deus, que
lugar ele deve ocupar na nossa vida?

05. Leia 2 Timóteo 3:14-17


A. A Bíblia deve ser encarada apenas como um livro teórico, com regras
antiquadas e normas superadas? Comente.
B. Cite pelo menos duas situações que mostrem a praticidade da Bíblia.

06. Leia Atos 8:30-31


A. Toda pessoa tem o direito de ler e interpretar as Escrituras? Esse
direito exclui a necessidade de se ter estudiosos na igreja?
B. Q uando nos depararmos com um texto de difícil interpretação na
Bíblia Sagrada, o que devemos fazer?

07. Leia Salmo 119:105


A. Com o que o salmista compara a palavra do Senhor, nesse verso?
Qual o significado dessa comparação?
B. Ao terminar esse estudo você conseguiu entender a importância de ter
a palavra de Deus na direção da sua vida? Como agir daqui para frente?

Anotações

24 | Estudo 1 - A Bíblia Sagrada


Estudo 2

A triunidade divina

A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a


comunhão do Espírito Santo sejam com
todos vós. (2 Co13:13 - RA)

Introdução
No estudo anterior, aprendemos que a Bíblia é um livro especial, não
por ser o mais vendido de todos os tempos, mas porque é a palavra de Deus,
toda é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção
e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente
preparado para toda boa obra (2 Tm 3:16-17 – NVI). É através da Bíblia
que conhecemos a Deus, pois é por meio dela que ele se revela a nós. Hoje,
estudaremos uma doutrina magnífica que trata da natureza e do ser do
próprio Deus, que ele revelou através de sua palavra, isto é, a doutrina da
triunidade divina.
A palavra triunidade vem do termo em latim tri­nitas, que significa “o
estado de ser três” ou “três-em-unidade”. Embora não apareça na Bíblia,
essa palavra expressa uma verdade encontrada em suas páginas. Mas que
verdade é essa? O ensino de que Deus é um ser Triúno, ou seja, três pessoas,
mas um em essência. Esse é um dos pontos mais importantes da fé cristã.
Essa crença é reafirmada todas as vezes que alguém é batizado nas águas e
cada vez que é proferida a bênção apostólica. Cremos no Pai, no Filho e no
Espírito Santo e precisamos saber o que isso representa para nós.

O Doutrinal | 25
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Você já compreendeu a doutrina da triunidade divina? Consegue ex-


plicá-la a alguém? É possível que sua resposta a essas perguntas seja “não”.
Se esse for o seu caso, fique tranquilo, pois você não é o único! Muitos cris-
tãos têm as mesmas dificuldades. Não poderia ser diferente, já que estamos
tentando entender e explicar a essência do Todo-Poderoso.1 Com certeza,
é um imenso desafio. Contudo, o presente estudo se propõe a ajudá-lo na
compreensão dessa tão sublime crença cristã. Vamos, com a Bíblia aberta,
buscar o verdadeiro significado da triunidade divina, entender sua composição
e reconhecer a constatação bíblica dessa doutrina.
1. O significado da triunidade divina na Bíblia: A Bíblia ensina que Deus
é um e que, além dele, não existe outro (Is 44:6). Diante disso, poderíamos
perguntar: De que jeito o Senhor poderia ter comunhão, comunicar-se ou
relacionar-se, antes da criação? Seria Deus carente de companhia, antes de
ter criado as criaturas finitas? É claro que não. A doutrina da triunidade
divina explica isso. A resposta está no fato de que Deus é um; contudo, é uma
unidade composta. Nessa unidade, há três pessoas distintas: o Pai, o Filho e
o Espírito Santo. Cada uma dessas pessoas é plenamente divina e cada uma
tem consciência das outras duas. Deus foi e sempre será um ser triunitário.
Ele nunca esteve sozinho.
Não estamos dizendo, com isso, que há três Deuses, pois não é isso
que ensina a doutrina da triunidade divina. Isso seria politeísmo, o que é
totalmente contrário ao ensino da palavra de Deus (Dt 6:4). Também não
cremos que o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam manifestações ou faces
de um Deus mono, uma pessoa com três nomes ou desempenhando três
funções diferentes.2 O ensino da Bíblia sobre o ser de Deus é que ele é, por
natureza, um ser Triúno. Essa doutrina cristã pode ser mais bem entendida,
se entendermos três verdades bíblicas3 fundamentais acerca da essência do
Altíssimo, já afirmadas anteriormente. Vejamos:

1. Pearlman (2006:77).
2. Erickson (1997:134).
3. Grudem (1999:169).

26 | Estudo 2 - A triunidade divina


Primeira verdade: Deus é constituído em três pessoas. O ser ou a natureza
de Deus é uma unidade plural. O Soberano, por toda a eternidade, sempre
coexistiu assim.4 É exatamente por isso que, na criação do mundo, Deus
disse: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança (Gn
1:26 – grifo nosso). De acordo com as Escrituras, essa pluralidade de Deus
engloba três pessoas eternas e distintas – o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
É importante sabermos que o Pai não é o Filho, nem o Filho é o Pai, nem
o Pai e nem o Filho são o Espírito Santo, e, ainda, que o Espírito Santo não
é o Pai e nem o Filho.
Tal verdade é visivelmente percebida no batismo de Jesus (Mt 3:16-
17), em que vemos as três pessoas da triunidade divina numa mesma cena,
agindo distintamente. Ali, temos o Pai falando do céu, o Filho saindo das
águas do rio Jordão e o Espírito Santo descendo sobre ele. Além desse texto,
encontramos, nas Escrituras, cada uma das três pessoas divinas falando a
respeito das outras duas, tratando-as como pessoas reais, claramente defini-
das e distintas de si, por exemplo: Zc 4:6; Jo 14:12, 16:14-15, 15:26; 1 Co
2:10-12. Com respeito a essa questão, a Bíblia é bastante clara.
Segunda verdade: Cada pessoa é plenamente Deus. Sabemos que o Pai é ple-
namente Deus. Veja o que Paulo escreveu a respeito dele: ... nosso Deus e Pai, a
quem seja a glória pelos séculos dos séculos (Gl 1:4-5). Contudo, não somente o Pai,
mas também o Filho e o Espírito Santo são igual e plenamente Deus ( Jo1:1;
At 5:3-4). O exame cuidadoso da palavra de Deus não deixa dúvida quanto a
isso também. Esse assunto será mais profundamente estudado no próximo tó-
pico, quando trataremos de cada pessoa individualmente, apresentando as bases
bíblicas que nos levam a confiar firmemente na divindade de cada uma delas.
Terceira verdade: Só existe um único Deus. A Escritura é absolutamente
clara e firme ao declarar esse fato. Foi Paulo quem disse: ... há um só Deus
(1 Tm 2:5). Disse também: Ao Deus único e sábio seja dada glória para sem-
pre, por meio de Jesus Cristo! Amém! (Rm 16:27). Cremos que as três pessoas
da triunidade divina são um em essência. São três pessoas, mas uma única
essência. Não há três Deuses, mas um só Deus. Assim sendo, chegamos à
seguinte definição: Deus subsiste eternamente, sendo três pessoas em unidade:
o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Cada pessoa é, de modo pleno, Deus; todavia,
existe somente um Deus.

4. Stewart (1992:19).

O Doutrinal | 27
2. A composição da triunidade divina na Bíblia: Conforme já vimos,
Deus é uma unidade composta. Agora, pontuaremos cada uma das três pes-
soas divinas. Comecemos por observar a pessoa do Pai. Tanto no Antigo quan-
to no Novo Testamento, encontramos várias referências sobre a pessoa do Pai;
entre elas, destacamos: Dt 32:6; 2 Sm 7:14; Sl 89:26; Is 63:16, 64:8; Jr 3:4,19;
Ml 1:6; Mt 5:16, 6:9, 26:53; At 1:4; Rm 1:7; Gl 1:3; Ef 6:23. Não há dúvida
quanto a sua divindade. Jesus disse: Nós não somos bastardos; temos um Pai, que
é Deus ( Jo 8:41). Ora, se o Pai é divino, e, de fato, ele é, então podemos afirmar
que é eterno, pois existe antes de todas as coisas (Sl 90:2). Não foi gerado,
nem criado; sempre existiu e sempre existirá (2 Co 11:31; 2Ts 2:16).
Sobre a eternidade do Pai, Isaías escreveu: Tu, ó Senhor, és nosso Pai (...)
o teu nome é desde a eternidade (Is 63:16). Sabemos também que Deus, o Pai,
é onisciente (1 Pd 1:2) e onipresente (Mt 6:4,6,18); é criador e o soberano
na criação (1 Co 8:6; Mt 5:45); é santo e perfeito (Mt 5:48; 1 Pd 1:15-16);
é amoroso (1 Jo 3:1), e é digno de adoração (Rm15:6; Fp 2:11). Foi Jesus
Cristo quem nos mostrou mais profundamente o Pai, revelando-nos que
ele é uma pessoa real, com quem podemos nos relacionar. Passemos, então,
a observar a pessoa do Filho. Crer na divindade de Jesus Cristo é imprescin-
dível no que concerne à doutrina da triunidade. Nós cremos que o Filho
é plenamente Deus. Na Bíblia Sagrada, há diversos textos que asseveram
abertamente esse ensino, e um forte exemplo é João 1:1, que diz: No princí-
pio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus (NVI).
Tomé também foi muito claro ao declarar a Jesus: Senhor meu e Deus
meu ( Jo 20:28). Já o apóstolo Paulo foi incisivo, ao chamar Jesus de grande
Deus (Tt 2:13) e bendito Deus (Rm 9:5). Outra prova de que Jesus é Deus
está no fato de lhe serem conferidos, na Bíblia, vários atributos pertencen-
tes somente a divindade. Por exemplo: Deus, o Filho, é eterno (cf. Jo 1:1-2,
8:58, 17:5; Cl 1:17; Hb 13:8). Ele também é criador ( Jo 1:3; Cl 1:16),
onipresente (Mt 18:20; 28:20), onipotente (Ml 28:18; Fp 3:21; Ap 1:8);
onisciente (Mt 9:3-4; Cl 2:2-3; Jo 6:64), autor e senhor da vida ( Jo 1:4;
11:25; At 3:15) e digno de ser adorado (Fp 2:10; Hb 1:6; Ap 5:13). Assim,
negar que Cristo é Deus é recusar o ensino das Escrituras.
Além da natureza divina, Jesus também assumiu a natureza humana:
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade ( Jo 1:14).
Deus se fez humano para identificar-se conosco, com o propósito de nos
salvar. Cremos que Jesus era plena e verdadeiramente Deus e plena e ver-

28 | Estudo 2 - A triunidade divina


dadeiramente homem. Passemos, agora, a tratar sobre a pessoa do Espírito
Santo. Não se trata de uma força ou uma energia ativa que emana de Deus:
o Espírito Santo é Deus! Além disso, ele é uma pessoa. Por ser uma pessoa,
ele pensa, tem sentimentos, fala, age e se relaciona.
Se fizermos um exame da palavra de Deus, perceberemos, com nitidez,
as características próprias de pessoa que o Espírito Santo possui. Ele tem
intelecto (1 Co 2:10-11), vontade (1 Co 12:11) e emoção (Ef 4:30). Além
disso, faz o que só um ser pessoal poderia fazer, por exemplo: ensinar (Lc
12:12); guiar (At 8:29); falar (At 13:2); interceder (Rm 8:26); entristecer-se
(Ef 4:30) e convencer ( Jo 16:8). Quanto a sua divindade, um dos textos bí-
blicos mais claros é Atos 5:3-4. Nesse texto, Pedro usa a seguinte expressão,
ao repreender Ananias: ... mentisses ao Espírito Santo. Em seguida, comple-
ta: ... não mentiste aos homens, mas a Deus.
Outro texto que comprova a divindade do Espírito Santo é João 14:16-
17. Aqui, Jesus faz uma promessa: ... eu pedirei ao Pai, e ele lhes dará outro
consolador para estar com vocês para sempre, o Espírito da verdade. Note que
Deus, o Filho, chama o Espírito Santo de “outro consolador”, e, nesse texto,
“outro” (gr. allos) significa outro de mesmo tipo ou mesma espécie.5 Já o ter-
mo “consolador” (gr. parakletos) significa “convocado para estar ao lado al-
guém e ajudá-lo”.6 Esse texto mostra que, além de o Espírito Santo ser uma
pessoa, ele é da mesma essência de Jesus Cristo, ou seja, também é Deus. Os
seus atributos descritos na Bíblia comprovam isso, pois ele é, igualmente:
eterno (Hb 9:14), criador ( Jó 33:4), onisciente (Is 11:2; 1 Co 2:10), onipo-
tente (Rm 15:19), onipresente (Sl 139:7) e soberano (2 Pd 1:21).
3. A constatação da triunidade divina na Bíblia: Essa doutrina tão vital
à fé cristã não é fruto da imaginação ou da razão humana, mas da revelação
bíblica7. Por isso mesmo, podemos constatá-la nas páginas das Escrituras
Sagradas. É possível encontrar evidências da triunidade no Antigo Testa-
mento? Claro que sim! Observe, novamente, o que Deus disse, lá na criação:
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança (Gn 1:26a). Por
que aparece o verbo “fazer” no plural, quando o criador se refere a si mesmo?
Embora haja outras explicações, o mais correto é aceitarmos que o plural

5. Hendriksen (2004b:663).
6. Bruce (2009:1738).
7. Pearlman (2006:77).

O Doutrinal | 29
desta frase é uma prova de que, desde o início, o eterno Deus era Triúno,
até porque a Bíblia afirma, sem rodeios, que tanto o Filho quanto o Espírito
Santo estavam envolvidos na criação do mundo ( Jo 1:1; Gn 1:2).
Além deste, há ainda outros importantes textos, no Antigo Testamen-
to, que apontam para a existência de Deus em três pessoas distintas, que
dialogam entre si (Gn 3:22, 11:7; Is 6:8; Sl 110:1). E, desses textos, pode-
mos destacar o Salmo 110:1, em que lemos: Disse o Senhor ao meu Senhor:
Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos
teus pés. Aqui, duas pessoas estão conversando. Quem? Alguém pode logo
afirmar: Deus e Davi. Resposta errada! De acordo com o ensino de Jesus e
de Pedro, o diálogo acontece entre duas pessoas divinas: o Pai e o Filho (cf.
Mt 22:41-45; At 2:34).
Há evidências da triunidade até mesmo em Deuteronômio 6:4, em
que lemos: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Aqui, a pa-
lavra hebraica traduzida por “único” é echad, e expressa a ideia de uma
unidade composta.8 Prova disso é que esse termo foi, primeiramente, usa-
do em Gênesis 1:5, para mostrar que duas partes do dia – tarde e manhã
– formam um único dia. Também é o mesmo termo que aparece em Gê-
nesis 2:24, para se referir à união de Adão e Eva. Por isso, encontramos
base, nesse texto de Deuteronômio, para afirmar que, em Deus, há uma
unidade composta.
Por outro lado, no Novo Testamento, vemos revelada a triunidade di-
vina de forma mais explícita. Sem dúvida, como já afirmamos, a revelação
mais clara do Deus Triúno foi dada por ocasião do batismo de Jesus, em
Mt 3:16-17. Este texto mostra as três pessoas da triunidade, o Pai, o Filho
e o Espírito Santo, agindo distintamente. Outro texto formidável é o de
Mateus 28:19, em que o próprio Jesus ordena: Ide, portanto, fazei discípulos
de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.
De igual modo, não podemos ignorar a bênção apostólica, que diz: A graça
do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam
com todos vós (2 Co 13:13 - RA).
Esse último versículo citado é, ainda hoje, pronunciado na conclusão
dos cultos cristãos. É a benção do Deus Triúno aos crentes que entram para
adorar e saem para servir. A oração é para que o Pai, o Filho e o Espírito

8. Ferreira & Myatt (2007:173).

30 | Estudo 2 - A triunidade divina


Santo possam dotar os adoradores das virtudes de amor, graça e comunhão,
a fim de equipá-los para servi-lo. Por causa de sua fórmula triunitariana, é
a mais bela e rica bênção de todo o Novo Testamento.9 Em outros textos,
tais como Jo 14:26; At 2:32-33; 1 Co 12:4-6; Ef 4:4-6, e Jd 20-21, temos
visivelmente constatada na Bíblia a existência da triunidade divina e a dis-
tinção entre as três pessoas que a compõem.
Quanto à distinção entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, cabem ainda
algumas questões. Na constatação bíblica, como entender essa distinção?
Em que aspectos elas são distintas? Antes, é preciso deixar claro que a dife-
rença entre o Pai, o Filho e o Espírito não é de atributos divinos. Não pode-
mos dizer que uma das pessoas da triunidade seja mais onisciente ou mais
onipotente que a outra. Sabe por quê? Porque, como já foi afirmado, cada
pessoa da triunidade é plenamente Deus. Não há pessoa maior, nem menor
no Deus Triúno, pois as três pessoas coeternas são iguais. A distinção não
está na natureza ou na essência, mas, sim, na maneira de elas operarem e se
relacionarem umas com as outras e com a criação.10
Na salvação do homem, por exemplo, o Pai planejou ( Jo 3:16, Gl 4:4),
o Filho executou (Cl 2:13; Ef 2:1-10), e o Espírito Santo operou e opera o
convencimento do pecador ( Jo 16:8). É com base em tudo que estudamos
hoje que adoramos um único Deus, sem confundir as pessoas, nem separar
a substância, pois a pessoa do Pai é uma, a do Filho, outra, e a do Espírito
Santo, ainda outra. Mas, no Pai, no Filho e no Espírito Santo, há uma única
divindade, de glória igual e majestade coeterna. Assim, o Pai é Deus, o Fi-
lho é Deus, o Espírito Santo é Deus. Contudo, não há três Deuses, mas um
só Deus.11 É esse Deus Triúno que a Bíblia nos revela. É nele que cremos e
é a ele que amamos e obedecemos.

9. Kistemaker (2004b: 640).


10. Grudem (1999:188).
11. Pearlman (2006:78-79).

O Doutrinal | 31
II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. A triunidade divina é um exemplo de comunhão.


Se Deus não fosse Triúno, ele seria um ser monopessoal e, evidente-
mente, não poderia comunicar-se ou relacionar-se com alguém, antes de ter
criado as criaturas finitas. Uma vez que Deus é amor (1 Jo 4:8), como ele po-
deria amar, antes da criação? Logo, se não existisse a triunidade, Deus seria
carente de amor e de companhia. Contudo, cremos que o Todo-Poderoso é
composto por três pessoas distintas, que convivem por toda eternidade em
harmonia amorosa, em plena felicidade e em total comunhão. Nosso Deus
é relacional. Nunca foi solitário. Ele sabe o que é amar. Nele, aprendemos o
que é viver em comunhão.12 Assim, o Deus Triúno é padrão de unidade para
a igreja de Cristo ( Jo 17:20-23).

2. A triunidade divina é um exemplo de humildade.


Ainda que as pessoas da triunidade sejam distintas uma da outra, ne-
nhuma delas age de forma independente e individualista. Elas não exercem
os seus papéis com espírito de competição, de supremacia e de rivalidade.
Em momento algum demonstram a necessidade de fazer algo para afirmar
sua identidade ou buscar sua realização. Ao contrário, vemos sempre uma
pessoa divina glorificando às outras ( Jo 12:28; 16:13-14; 17:1). A triuni-
dade nos ensina o que é colaboração humilde. Tudo que Deus faz é feito
num trabalho conjunto e humilde das três pessoas divinas, e não há ciúmes,
disputas ou conflitos. Que belo exemplo!

3. A triunidade divina é um exemplo de cooperação.


As pessoas do Deus Triúno vivem numa sublime e eterna relação de
interdependência e de cooperação. Ao mesmo tempo que se sabe a individu-
alidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, também se sabe que um não é
sem o outro. Naquilo que são distintos, eles se unem, se entrelaçam e se com-
plementam na comunhão de iguais. Assim, os três são um! Não podemos
esquecer que fomos criados à imagem e semelhança desse Triúno Deus (Gn
1:26). Então, assim como na triunidade, cada pessoa tem o seu valor indivi-
dual, mas uma pessoa só se completa na comunhão e na partilha com outra,

12. Sousa (2002:57).

32 | Estudo 2 - A triunidade divina


nós, também, só nos realizamos e nos completamos como pessoas e como
seres humanos na comunhão fraternal e na mútua cooperação (Rm 12:4-5).

Conclusão
A doutrina cristã da triunidade divina não está fundamentada em sen-
timentos, experiências ou especulações humanas, mas única e exclusiva-
mente na palavra de Deus. Podemos, então, dizer o seguinte: Em primeiro
lugar, há somente um Deus. Não há, na triunidade, três Deuses separados
e autônomos. Deus é indivisível em sua natureza e em sua essência. Em
segundo lugar, há três pessoas: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. São três
pessoas reais e distintas e não uma única pessoa que se revela de “modos”
diversos em “épocas” diferentes.
Por fim, em terceiro lugar, há plena igualdade entre as pessoas. A na-
tureza divina do Filho e do Espírito Santo não é apenas semelhante à do
Pai; ambos têm a mesma natureza divina do Pai, ou seja, são iguais a ele, no
seu ser e em todos os seus atributos. Não é correto e nem Bíblico dizer, por
exemplo, que o Filho e o Espírito Santo sejam menos bondosos ou menos
amorosos que o Pai. E mais: o Filho não foi, em dado momento, criado
por Deus Pai, como um ser superior e perfeito, e o Espírito Santo é Deus
e não uma força ou um poder impessoal derivado do Pai. Os dois não são
inferiores ou menores que o Pai. Os três são iguais.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Gn 1:26; Mateus 3:16-17, e Romanos 16:27


A. Q uais são as três verdades bíblicas acerca da triunidade divina, que
são fundamentais para a compreensão dessa doutrina? Comente-as.
B. Com base no item 1, “O significado da triunidade divina na
Bíblia”, comente o que o Deus Triúno não é e defina o que é
triunidade divina.

02. Leia Isaías 63:16 e João 8:41


A. O que você aprendeu com o item 2, “A composição da triunidade
divina na Bíblia”, acerca da pessoa do Pai? Ele é Deus? Quais são os
seus atributos?

O Doutrinal | 33
B. O que aprendemos com Jesus a respeito do Pai?

03. Leia João 1:1-4 e 20:27-28


A. De que forma esses textos afirmam que Jesus é Deus? Quais são os
seus atributos divinos?
B. É correto afirmar que Jesus foi criado pelo Pai? O Filho é menor
que o Pai?

04. Leia Atos 5:3-4 e João 14:16-17


A. O Espírito Santo é uma pessoa ou uma força ativa? Como esses
textos nos mostram que o Espírito Santo é realmente Deus? Cite os
seus atributos divinos.
B. É errado afirmar que o Espírito Santo é menor ou menos importante
do o Pai e o Filho?

05. Leia Gênesis 1:2,26; Deuteronômio 6:4, e João 1:1


A. Há evidência da doutrina da triunidade no Antigo Testamento?
Qual é a evidência encontrada em Deuteronômio 6:4?
B. Por que, em Gênesis 1:26, o verbo “fazer” aparece no plural? Qual foi
a participação do Filho e do Espírito Santo na criação?

06. Leia Mateus 28:19 e 1 Pedro 1:2


A. Comente o trabalho conjunto entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo
na salvação do mundo.
B. Qual é função de cada um nesse trabalho?

07. Leia Mateus 3:16-17 e 2 Coríntios 13:14


A. Como o Novo Testamento comprova a existência da triunidade
de Deus?
B. Em que aspecto as pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo
são diferentes? Seria uma diferença de atributos? As pessoas da
triunidade são diferentes desde quando?

34 | Estudo 2 - A triunidade divina


Breve quadro comparativo da triunidade

Atributos O Pai O Filho O Espírito Santo


É Deus Sl 89:26; Jo 8:41; Jo 1:1, 20:28 Atos 5:3-4; Jo 14:16-
Jo 20:17; Ef 4:6 Rm 9:5 17; Is 6:8-9 comparar
com At 28:25-26
É Eterno Is 63:16; Mq 5:2; Cl 1:17-18; Hb 9:14
Gl 1:5 Hb 13:8
É Criador 1 Co 8:6 Jo 1:3; Cl 1:16; Gn 1:2;
Hb 1:2,10 Jó 33:4
É Mantene- Mt 5:45, 6:26-30 Cl 1:17 Sl 104:30
dor da Vida
É Onisciente Mt 6:8; 1 Pd 1:2; Mt 9:3-4; 1 Co 2:10-11;
At 1:7 Cl 2:2-3 Is 40:13-14
É Onipotente Ef 1:17-20 Mt 28:18; Rm 15:13,19
Ap 1:8
É Onipresente Mt 6:4,6,18; Mt 18:20, 28:20 Sl 139:7-10
Ef 4:6
É Senhor Is 64:8 Fl 2:9-11; Jo 13:13 2 Co 3:17-18

É Santo Mt 5:48; At 3:14; Sl 51:11;


1 Pd 1:13-17 Lc 1:35 Ef 1:13
É Bondoso Lc 6:35-36 2 Co 10:1 Ne 9:20;
Sl 143:10
É a Verdade Dt 32:4-6 Jo 14:6; Jo 16:13;
1 Jo 5:20 1 Jo 5:6

O Doutrinal | 35
Anotações
Estudo 3

A criação do mundo

No princípio, criou Deus os céus e a terra. (Gn 1:1)

Introdução
Quem é Deus e como ele é? Essa era a questão por trás do estudo ante-
rior. Nós, seres finitos, não podemos conhecer Deus, que é infinito, a menos
que ele se revele a nós. E foi o que ele fez. Na Bíblia Sagrada, descobrimos
que o nosso Senhor é Triúno, ou seja, existe eternamente em três pessoas:
Pai, Filho e Espírito Santo. Embora cada pessoa seja plenamente Deus,
não há três Deuses, mas um só Deus.1 Ele é magnífico, ilimitado, perfeito e,
apesar de toda a sua grandeza, se importa conosco, quer se fazer conhecido
e deseja que tenhamos comunhão com ele.
Sendo assim, conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor (Os 6:3a).
Uma maneira eficaz de aprofundarmos tal conhecimento é observarmos
as suas obras, sobretudo, a criação. É o que afirmou o apóstolo Paulo aos
romanos: Pois desde o princípio do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu
eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreen-
didos por meio das coisas criadas (Rm 1:20). Por isso, vamos abrir a Bíblia e
examinar o que diz sobre a criação do mundo. Essa é uma das mais belas e
relevantes doutrinas da fé cristã; portanto, vale a pena estudá-la.

1. Grudem (1999:165)

O Doutrinal | 37
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

A doutrina da criação ocupa um lugar de destaque na Bíblia, pois lhe


confere um grande significado.2 Prova disso é que, na primeira frase das
Escrituras, temos a declaração: No princípio, criou Deus os céus e a terra (Gn
1:1). A criação é, igualmente, afirmada na abertura do evangelho narrado
por João, que diz: Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi
feito se fez ( Jo 1:3). A Bíblia toda afirma que Deus é o criador do universo.
Nossa abordagem, neste tema, envolve seis aspectos, que são: a definição, o
causador, o processo, o propósito, o soberano e o mordomo da criação.
1. A definição da criação: Antes mesmo de iniciarmos a nossa inves-
tigação, é importantíssimo entendermos o significado do termo “criação”.
Sobre isso, a Bíblia é muito clara em nos mostrar que Deus criou o universo
do nada (creatio ex nihilo)3, ou seja, só Deus existia, antes de haver criado
todas as coisas, e, portanto, não havia nenhum material que estivesse dispo-
nível. Ele criou tudo a partir do nada. A matéria não é eterna como sugerem
alguns, pois tudo que há fora de Deus deve sua existência a ele. O Senhor
fez aparecer todo o universo pela sua palavra e pelo seu poder.
O texto de Gênesis 1 mostra-nos o que Deus criou, e o versículo 1 resume
a sua obra: “os céus” e a “terra”, isto é, todas as coisas que existem. Esse relato
da criação não admite matéria pré-existente a partir da qual tudo tenha sido
criado. Também não se preocupa em apresentar uma descrição minuciosa de
como a criação aconteceu, pois, na narrativa da criação, “a mensagem central
é que Deus pré-existe a sua criação e que por meio de declaração-decreto a
trouxe à existência”.4 Deus é eterno; não tem começo nem fim; é totalmente
autossuficiente e não precisa de nada além dele mesmo para existir e agir.
Essa verdade é proclamada no Salmo 33, versos 6 e 9, que dizem: Por
meio da sua palavra, o SENHOR fez os céus; pela sua ordem, ele criou o sol, a
lua e as estrelas (...). Pois ele falou, e o mundo foi criado; ele deu ordem, e tudo
apareceu (NTLH). Também, em Hebreus 11, versículo 3, lemos: Pela fé en-

2. Erickson (1997:158).
3. C reatio ex nihilo é uma expressão em latim usada pela teologia cristã para afirmar que Deus trouxe a
existência tudo que existe a partir do nada.
4. Merril (2009:112).

38 | Estudo 3 - A criação do mundo


tendemos que o universo foi formado pela palavra de Deus, de modo que o que se
vê não foi feito do que é visível (NVI). Assim, entendemos “criação” por obra
do Deus Triúno, que, no princípio, fez existir, sem uso de nenhum material
preexistente, tudo o que existe no universo visível e invisível.5
2. O causador da criação: Ao contrário do que afirma a teoria da evo-
lução, o universo não é fruto do acaso, mas, sim de um projeto divino. As
primeiras palavras da Bíblia, “No princípio criou Deus”, formam uma in-
trodução indispensável a todo o restante da história do mundo.6 Mostram
como tudo começou e revelam aquele que é antes de tudo. Em adoração e
reconhecimento, disse o salmista: Antes de formares os montes e de começares a
criar a terra e o universo, tu és Deus eternamente (Sl 90:2 – NTLH). O eterno
Deus é o criador. Ele é o causador da criação (Ap 4:11).
Não podemos esquecer que o Deus Criador é um ser Triúno. Ele existe
eternamente em três pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. De acordo
com a Bíblia Sagrada, a criação é ato da trindade. Não só o Deus Pai, mas,
também, o Filho e o Espírito Santo estiveram ativos, ao serem criadas todas
coisas. Sobre o Filho, está escrito: No princípio era o Verbo, e o Verbo estava
com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas
foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez ( Jo 1:1-3).
Sem duvida, há um paralelo entre João 1:1 e Gênesis 1:1. Jesus Cristo é o
Verbo criador! Por meio dele, o Pai criou todas as coisas (Cl 1:16).
Com relação ao Espírito Santo, lemos: ... o Espírito de Deus se movia por
cima da água (Gn 1:2 – NTLH). Foi através do Espírito Santo que se trou-
xe “ordem ao caos e beleza e plenitude ao que antes era vazio”.7 Em outro
texto, lemos ainda: O Espírito de Deus me fez, e o sopro do Todo-Poderoso me
dá vida ( Jó 33:4). Cada um foi criador. Há evidências bíblicas de que foi o
Pai quem fez surgir o universo. Mas foram o Espírito Santo e o Filho que o
moldaram e cuidaram dos detalhes do projeto. Embora a criação provenha
do Pai, o trabalho foi feito por intermédio do Filho e pelo Espírito Santo.8
3. O processo da criação: O texto de Êx 20:11 diz: ... em seis dias, fez o
Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há. De que maneira ele fez?

5. Strong (2002:548).
6. Stott (2007c:14).
7. Wiersbe (2006a:16).
8. Erickson (1997:161).

O Doutrinal | 39
Em primeiro lugar, Deus formou: Depois de criar a terra, ele começou a
organizá-la. O versículo 2 de Gênesis 1 diz: A terra era sem forma e vazia.
Havia um padrão nas ações de Deus, durante a semana da criação: primei-
ro, ele formou; depois, encheu.9 Nos três primeiros dias, Deus deu forma
à terra. No primeiro dia, criou a luz e separou a luz das trevas (Gn 1:3-5);
no segundo dia, separou águas e águas, colocou um firmamento entre as
águas superiores e chamou de céus (Gn 1:6-8); no terceiro dia, reuniu as
águas e fez surgir a porção seca, criando, assim, a terra, a vegetação e os
mares (Gn 1:9-13).
Em segundo lugar, Deus preencheu: A terra sem forma do versículo 2, ao
final do terceiro dia da criação, ganhou forma. Depois de criar as estruturas
fundamentais do nosso mundo, Deus começou a preenchê-lo. No quarto
dia da criação, ele colocou luminares no céu (Gn 1:14-19). No quinto dia,
criou os peixes para povoarem os mares e as aves para voarem no céu (Gn
1:20-23). E, no sexto dia, a criação chegou ao seu ápice: após criar toda a
fauna, Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem, conforme nossa seme-
lhança (...). Assim Deus criou o homem (Gn 1:26-27).
No final dos seis dias, viu Deus tudo o que tinha feito, e era muito bom
(Gn 1:31), ou, como está escrito na Bíblia Viva: Deus olhou tudo que tinha
feito. Era excelente em todos os aspectos! . “Tudo no universo, desde a maior das
estrelas até a menor das folinhas, produziu alegria no seu coração. Era uma
linda sinfonia”.10 Assim, no sétimo dia Deus já havia concluído a obra que reali-
zara, e nesse dia descansou. Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele
descansou de toda a obra que realizara na criação (Gn 2:2-3). Ele estabeleceu o
sétimo dia como um marco de sua criação (Êx 20:8-11).
4. O propósito da criação: O ser humano é especial para Deus. É obra
prima do criador. Deus o moldou com as suas próprias mãos (Gn 2:7, 21-
23). Por que Deus o criou assim? Qual o seu propósito, ao trazê-lo à exis-
tência? Seria porque Deus precisa ser amado pelo ser humano? A resposta é
não! Deus é autossuficiente; não precisa que nada exista. Paulo declarou: O
Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor dos céus e da terra (...). Ele
não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo
dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas (At 17:24-25 – NVI).

9. Wiersbe (2006a:16).
10. Pfeiffer & Harrison (1984:5).

40 | Estudo 3 - A criação do mundo


Deus não necessita de nós. Na realidade, somos nós que necessitamos
dele. Sendo assim, por que Deus nos criou? Certamente, o Criador tem um
sublime propósito em nos ter criado com tanto capricho. Não somos obra do
acaso e nem estamos neste mundo por acaso. O Senhor nos criou com sentido
e finalidade.11 Em Isaías, capítulo 43, versículo 7, o próprio Deus nos deixa isso
bem claro. Ele afirma: Eu os criei para minha glória; eu os formei, sim, eu os fiz.
Sobre isso, disse Paulo: ... conforme o plano daquele que faz todas as coisas segundo
o propósito da sua vontade, (...) sejamos para o louvor da sua glória (Ef 1:11-12).
Fomos criados para glorificar e adorar a Deus. Todavia, não apenas o
ser humano, mas toda a criação tem esse objetivo: Os céus proclamam a glória
de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos. Um dia discursa a outro
dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite (Sl 19:1-2). Toda a criação
mostra a grandeza do poder e da sabedoria de Deus ( Jr 10:12). Uma olha-
dela no sol e nas estrelas é suficiente para nos convencer do seu imensurável
poder. Uma simples folha de árvore convence-nos de sua magnífica sabedo-
ria. Quem poderia fazer isso, e fazê-lo do nada? Quando meditamos nisso,
somos impulsionados a adorar o criador.12
5. O soberano da criação: Temos muito a aprender sobre o relacionamen-
to do Deus-criador com a criação. O Deus da Bíblia é distinto da sua criação.
É infinitamente maior que o universo e vive independentemente deste. Por
outro lado, Deus está sempre e sobremaneira envolvido com sua criação, pois
ela, em tudo e em todo tempo, depende dele para existir e manter-se ativa.
Deus sustenta e controla o universo que criou. Se o Senhor parasse por um
pequeno instante de controlar e sustentar o universo, este se desintegraria.13
Segundo as Escrituras, tudo depende de Deus, porque ele é o mante-
nedor da vida e o responsável pela renovação desta (Sl 104). Podemos ver a
atuação dele, no bater de cada coração e no respirar de todos os seres vivos,
no germinar de uma planta, no desabrochar de uma flor e no nascer de
cada dia. Ele age em todo o cosmo e no tempo todo. Sua obra de conservação é
extraordinária! Nela, está a eterna preservação ou providência14 do criador.

11. Grudem (1999:200).


12. Idem, p. 206.
13. Stewart (1992:85).
14. Providência é termo teológico para designar a preservação e o governo que o Deus-Criador exerce sobre
todo o universo.

O Doutrinal | 41
Ele não apenas preserva a existência de todos, mas também cuida para que
tudo cumpra o propósito para o qual foi criado.
Deus criou e está, de contínuo, sustentando, revigorando e governando
todas as coisas, porque é o Soberano da criação. Ele conserva a vida (Ne
9:6); pois é ele mesmo quem dá a todos vida, respiração e tudo mais (...) nele vi-
vemos, nos movemos e existimos (At 17:25,28). Nós, seres humanos, de forma
especial, estamos sob os seus cuidados (cf. Mt 6:25-34) e, por isso, podemos
encarar o futuro com confiança, certos de que ele está no controle de todas
as coisas.15 É muito confortador saber que o Soberano é quem nos sustenta.
Somos alvos de seu carinho e de seu cuidado (1 Pe 5:6-7).
6. O mordomo da criação: Antes de encerrarmos este estudo, preci-
samos pensar um pouco sobre a relação do ser humano com o restante
da criação. Para essa reflexão, é fundamental darmos uma olhada em Gn
1:24-31. Ali, vemos o privilégio e a responsabilidade dos humanos. O nosso
privilégio é sermos o coroamento da criação, feitos à imagem e semelhança
de Deus (v. 26). Já a nossa responsabilidade é sujeitarmos e dominarmos a
terra (vv. 26,28). Essa missão é mais bem explicada em Gn 2:15, que diz ser
dever do homem cultivar e guardar o “jardim de Deus”.
O ser humano é mordomo na criação, e isso se aplica, de modo espe-
cífico, ao planeta terra , que pertence a Deus (Sl 24:1), mas foi entregue
ao homem para que o administrasse com cuidado e sabedoria. Sabemos
que, por causa da queda da raça humana, lá no Éden, essa missão foi ne-
gligenciada e esquecida. Por causa disso, toda a natureza tem sofrido (Is
24:4-6; Os 4:1-3). Romanos, capítulo 8, versículo 22, diz que, por causa
da corrupção, toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias. A na-
tureza está sendo destruída porque o ser humano se tornou egoísta e mau.
Em nossos dias, muito se ouve falar do aquecimento global, da destrui-
ção da camada de ozônio, do desmatamento, da poluição do ar e das águas.
Isso nos faz perguntar: Qual a nossa responsabilidade com respeito às ques-
tões da ecologia?16 Diante do exposto, devemos encarar o cuidado com nosso
planeta como um dever cristão. A exposição da doutrina da criação coloca
o ser humano na posição de “parceiro de Deus” na manutenção do planeta.

15. Erickson (1997:170).


16. Ecologia é a parte das ciências biológicas que tem por objeto de estudo as relações dos seres vivos com
seu meio natural e a sua adaptação ao ambiente físico ou moral.

42 | Estudo 3 - A criação do mundo


Assim, longe de ser uma inimiga da ecologia, essa doutrina só reforça a im-
portância da responsabilidade humana em relação ao meio ambiente.17
Nós, cristãos, devemos ser fiéis mordomos na terra, respeitando os nos-
sos semelhantes, que também são feitos à imagem de Deus, até mesmo
os inimigos (Gn 1:26; Rm 12:19-21), e também desfrutando dos recursos
naturais da criação, sem desperdiçá-los e nem abusar deles. Não podemos
honrar o Deus-Criador, se desonramos o que ele criou.18 Por outro lado,
devemos ter cuidado para que o zelo ecológico não nos faça servir à criatura
em lugar do criador (Rm 1:25). Portanto, adoremos a ele dizendo: Tu és
digno, Senhor e Deus nosso, de receber a glória, a honra e o poder, porque todas as
coisas tu criaste, sim, por causa da tua vontade vieram a existir e foram criadas
(Ap 4:11).

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. O criador nos enche de admiração.


É impossível observarmos a criação e não ficarmos admirados com o
poder e a inteligência do nosso criador! Você já parou para pensar na imen-
sidão que é o universo? Considere, por exemplo, a vastidão da natureza em
nosso planeta: mais de 500 mil espécies de insetos, 30 mil espécies de ara-
nhas, 6 mil espécies de répteis, 5 mil espécies de mamíferos, 3 mil espécies
de rãs; isso sem contar as muitíssimas espécies de aves, peixes e plantas, to-
das criadas por Deus (Gn 1:21-25). O nosso Deus é grandioso e poderoso.
Sua criação é admirável. Entreguemos a nossa adoração a ele.

2. O criador nos enche de significado.


Foi um plano sábio que trouxe à existência tudo o que há na criação.19
Não somos frutos de um acidente cósmico. Não viemos do acaso e nem
vivemos neste mundo por acaso. Há um propósito. Existe um sentido para
a nossa vida. Segundo a Bíblia, viemos a existir por projeto e vontade do
Senhor Deus (Ap 4:11). Foi ele mesmo quem nos criou e nos moldou com

17. McGrath (2008:357).


18. Wiersbe (2006a:19).
19. Erickson (1997:167).

O Doutrinal | 43
suas próprias mãos. Por isso, creia: você foi criado para a glória dele (Is 43:7)
e tem a imagem e a semelhança dele. O Deus de toda glória é o seu Pai. O
“DNA” dele está em você. Que verdade magnífica e libertadora! Você tem
valor! E é o criador do universo que diz.

3. O criador nos enche de segurança.


Deus é soberano no universo. Tudo fez e de tudo é Senhor. Ele sustenta
a sua criação. Diz a Bíblia: Tu os conservas com vida a todos (Ne 9:6). Em
outra parte, lemos: ... nele vivemos, nos movemos e existimos (At 17:28). “É
ele quem faz o sol brilhar e a chuva cair. Ele alimenta os pássaros e protege
as flores. Isto pode ser poético, mas é também verdadeiro”.20 Jesus nos ensi-
nou que temos mais valor do que os pássaros e as flores. Portanto, podemos
confiar no cuidado do Pai por nós (Mt 6:25-34). Não há razão para temer.
Deus está no controle. Você está seguro e protegido nele. Sua vida é alvo do
carinho e do cuidado do soberano criador.

Conclusão
A doutrina da criação é um dos mais belos e relevantes preceitos da
fé cristã. Cremos, conforme ensina a Bíblia, que Deus criou tudo, a partir
do nada. Não somos frutos de um processo evolutivo, mas, sim, de um
projeto divino. Não somos um acidente e nem estamos aqui por acaso.
Deus nos trouxe à existência para o louvor de sua glória. Cremos que ele
é soberano e, por isso, sustenta e controla o universo que criou. Cremos,
ainda, que ele criou o ser humano de modo especial e lhe deu privilégios
e responsabilidades junto à criação. Somos mordomos. Zelar pelo plane-
ta é nosso dever.
Louvado seja o Senhor Deus criador dos céus e da terra. Sua obra é
magnífica. Saber que ele a fez e a sustenta enche-nos de admiração, de
significado e de segurança. O melhor, em tudo isso, é saber que, embo-
ra seja tão grandioso e poderoso, o criador se comunica conosco, criaturas
tão pequenas. Ele nos ama e quer a nossa felicidade. Na verdade, ele nos
criou para vivermos felizes eternamente. Contudo, algo de errado aconteceu
lá início do mundo, no Éden. É disso que trataremos em nosso próximo

20. Stott (2007c:14).

44 | Estudo 3 - A criação do mundo


estudo, que tem por título: “Origem, queda e restauração do ser humano”.
Que o Senhor nos conceda a benção de aprendermos mais essa importante
doutrina bíblica.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Romanos 1:20 e Gênesis 1:1


A. Com base nesses versículos, responda: Por que observar a criação
é uma maneira eficaz de aprofundarmos nosso conhecimento
sobre Deus?
B. Qual é a importância que a Bíblia dá à doutrina da criação?

02. Leia Salmo 33:6-9


A. De que maneira podemos definir biblicamente o termo “criação”?
B. Como e com que material Deus fez o universo? Baseie-se
no comentário.

03. Leia Salmo 90:2 e Apocalipse 4:11


A. Quem é o causador da criação?
B. Sabendo que “a criação é obra do Deus trino”, comente a participação
do Pai, do Filho e do Espírito Santo na criação do mundo.

04. Leia Gênesis 1:1-31


A. Em quantos dias o Senhor Deus fez os céus e a terra?
B. C
 omente o processo da criação, verificando o que foi criado em cada dia.

05. Leia Isaías 43:7 e Salmo 19:1-2


A. Qual foi o propósito de Deus ao criar o ser humano?
B. O que a criação revela sobre Deus?

06. Leia Atos 17:25-28


A. Deus é o soberano da criação. Comente o significado desta afirmação.

O Doutrinal | 45
B. Por que saber que Deus está sustentando, revigorando e governado
todas as coisas nos traz segurança e confiança? Confira também Mt
6:26; 1 Pe 5:6-7.

07. Leia Gênesis 1:24-31, 2:15


A. Com base nesses versículos, responda: Qual é o privilégio e a
responsabilidade dos seres humanos? Quem é o mordomo da
criação?
B. Q ual a nossa responsabilidade com respeito às questões da ecologia?
Como o cristão deve encarar o cuidado com o planeta terra?

Anotações

46 | Estudo 3 - A criação do mundo


Estudo 4
Origem, queda e
restauração do ser humano

Pois, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os
homens para condenação, assim também por um só
ato de justiça veio a graça sobre todos os homens
para justificação de vida. (Rm 5:18)

Introdução
No estudo anterior, tratamos da criação do mundo. Aquele estudo mos-
trou, de acordo com o ensino das Escrituras Sagradas, que Deus é o criador
dos céus, da terra e de tudo o que há neles. Além de criador, ele é também
mantenedor de todas as coisas criadas, como está escrito: Porque nele vive-
mos, e nos movemos e existimos (At 17:28). Só o Deus Todo-Poderoso pode-
ria reclamar para si a honra e a glória de ter criado todas as coisas (Is 42:5)
e tê-las mantido permanentemente sob seus cuidados (At 14:17). Esse é o
Deus em quem cremos e que, pela fé, adoramos.
O presente estudo trata de três aspectos da doutrina do ser humano, en-
volvendo: sua origem, sua queda e sua restauração. De acordo com as Escri-
turas, o ser humano, homem e mulher, é produto da criação de Deus. Ao ser
criado, saiu das mãos de Deus, puro, santo e destinado a viver para sempre.
E assim teria sido, se não tivesse desobedecido à ordem divina. Agora, na
condição de pecador, necessitaria de alguém que o redimisse dos seus peca-
dos. Remir e salvar os que, pelo pecado, se afastaram de Deus foi a missão de
Jesus Cristo na terra (Lc 19:10). E isto foi feito cabalmente ( Jo 17:4).

O Doutrinal | 47
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Como cristãos, aceitamos a Bíblia Sagrada como a palavra de Deus.


Nela, vamos encontrar todas as informações de caráter religioso, em que se
baseia a fé cristã. No que se refere à origem do ser humano, como já disse-
mos, as Escrituras estão cheias de ensinamentos que apontam para Deus
como o criador, não só dos humanos, mas de todos os demais seres viventes.
O presente estudo tem como propósito resumir a história do ser humano,
começando com a sua origem, passando pelo ato de desobediência que o
levou a pecar, até a sua restauração, através do sacrifício de Jesus Cristo.
1. O que a Bíblia diz sobre a origem do ser humano: A Bíblia Sagra-
da ensina, categoricamente, que o ser humano é obra das mãos de Deus
(Gn 5:1-2, 6:7; Êx 4:11; Jó 10:8-12; SI 100:3, 139:13-16; Pv 14:31, 17:5,
20:12, 22:2; ls 17:7, 42:5, 43:7, 45:9; Jr 1:5; MI 2:10; Mt 19:4; At 17:28;
1 Co 11:9; CI 1:16; Ap 4:11, 10:6). Os capítulos 1 e 2 de Gênesis, que
narram a criação, mostram, com clareza e concisão, que Adão e Eva fo-
ram criados por Deus (Gn 1:27; 2:7, 22) e deram origem à humanidade
inteira: ... de um só [Deus] fez toda a raça humana para habitar sobre toda a
face da terra (At 17:26).
A criação do ser humano foi um ato consciente de Deus e não um
processo evolutivo da natureza. Partiu de um prévio planejamento da
triunidade. No sexto dia, Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem
conforme a nossa semelhança (Gn 1:26a). Nesta frase, o verbo e o sujeito,
conforme já aprendemos, estão no plural, o que é uma evidência da atu-
ação da triunidade. O final desse versículo mostra que a triunidade deli-
mitou o projeto dessa criação e declarou quais seriam suas características
e seus propósitos.
O primeiro capítulo de Gênesis revela o propósito da criação do ser
humano (Gn 1:26-28). Nesse texto, Deus declara que o ser humano deve-
ria ser fecundo, multiplicar-se e dominar sobre as demais criaturas. Deus
também lhe deu algumas funções como cultivar a terra, cuidar do jardim e
nomear os animais (Gn 2:15,19-20). Para mostrar o valor que atribui ser
humano, Deus lhe concedeu a capacidade de governar a terra (Sl 8:5-8).
Ele ocupa uma posição privilegiada, e isso implica responsabilidade sobre
as demais obras de Deus.

48 | Estudo 4 - Origem, queda e restauração do ser humano


No segundo capítulo de Gênesis (Gn 2:4-25), a Bíblia esclarece alguns
detalhes da constituição ser humano. Diz o texto: Deus formou o homem do
pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um
ser vivente (Gn 2:7). A criação do homem foi especial e sem precedentes.
O verbo “formou” faz lembrar o oleiro criando uma obra de arte com suas
mãos habilidosas.1 Já o verbo “soprou” indica um sopro caloroso, pessoal,
com a proximidade do contato face a face de um beijo.2 Formar do pó foi
um passo enorme, mas o pó estava longe de ser um homem. Com seu sopro,
Deus comunicou sua própria vida àquela massa sem vida.
O nome do primeiro homem foi Adão, que, no hebraico, faz parte de
um jogo de palavras cujo significado é “tirado da terra”. Como vimos, ele
foi criado a partir do pó da terra. Além de relatar a criação do homem, o
capítulo 2 de Gênesis também relata a criação da mulher. Segundo esse
texto, ela foi criada após o homem, mas tem as mesmas características ine-
rentes a ele; logo, tem o mesmo valor e posição perante Deus (Gl 3:28).
Eva também foi feita a partir de material preexistente (costela do homem)
e formada por Deus. O que tornou Adão e Eva seres viventes foi o fôlego
de vida, entregue através do sopro divino. É somente Deus quem concede a
vida ao ser humano (Ec 12:7).
Outra característica do ser humano é ser imagem e semelhança de Deus.
Estas palavras são as traduções para as palavras hebraicas tselem e demu-
th, que significam imagem moldada e similaridade, respectivamente.3 Com
isso, entendemos que o homem herdou de Deus não a aparência física, mas
as facetas de sua personalidade e cognição, ou seja, pensamentos, emoções
e arbítrio. Além disso, foi dotado de natureza espiritual, para conhecer a
Deus (Os 6:3a) e adorá-lo (Sl 95:6). A criação do homem difere de todo o
restante, pois ele é obra das mãos de Deus e possuí capacidade para ter um
relacionamento com o seu criador.
2. O que a Bíblia diz sobre a queda do ser humano: Acabamos de estu-
dar sobre a criação do ser humano. Agora, trataremos de um capítulo triste
na história destes que foram criados por Deus para viverem eternamente.
Nossa tendência é tratar a queda dos primeiros seres humanos como uma

1. Wiersbe (2006a:18).
2. Kidner (1979:57).
3. Ryrie (2004:218).

O Doutrinal | 49
questão de pouca importância histórica ou teológica. Entretanto, as princi-
pais doutrinas da Bíblia estão diretamente relacionadas ao evento da queda.
Por isso, aproveitemos o presente estudo para conhecer e recordar o que
a Bíblia diz sobre a queda do ser humano, assim como os efeitos que esta
produziu. O capítulo 3 de Gênesis descreve as circunstâncias em que tudo
isso aconteceu. Tudo começou com um disfarce e uma mentira.
O vilão nesse episódio foi o diabo, que, usando uma serpente como ins-
trumento, dirigiu-se à mulher perguntando: É assim que Deus disse: Não co-
mereis de toda a árvore do jardim? (Gn 3:1b). Aqui, cabe uma pergunta: todas
as árvores foram proibidas? Não! Apenas uma (Gn 2:17). Dessa maneira,
o diabo foi o primeiro a distorcer as palavras do Senhor. A mulher reagiu,
corrigindo a distorção: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do
fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem
nele tocareis, para que não morrais (Gn 3:2-3). Eva levou tão a sério a ordem
de Deus, a ponto de aumentar-lhe mais rigor: ... nem tocareis nele.
Distorcer as palavras de Deus é uma das coisas que o diabo tem feito,
desde o princípio do mundo. Consciente ou inconscientemente, muitas li-
deranças religiosas do nosso tempo estão agindo assim: liberando o que a
Bíblia proibiu e proibindo o que a Bíblia não proibiu. Numa atitude irônica
e desrespeitosa, o diabo afirmou: Certamente não morrereis. E acrescentou:
Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como
Deus, sereis conhecedores do bem e do mal (Gn 3:4-5). Mentir é sempre um ato
detestável, pois a mentira é um pecado cuja origem é o diabo, que mente
desde o princípio. Ele é o pai da mentira ( João 8:44). No Éden, Satanás,
não agiu diferente: mentiu. Infelizmente, apesar de falsa e mentirosa, a pa-
lavra dele foi acatada e obedecida.
Em seguida, a mulher, vendo que aquela árvore era boa para se comer, e
agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do fruto, e
comeu e deu também ao marido, que estava com ela, e ele comeu (Gn 3:6). Esta é
a triste história da queda de nossos primeiros pais. Após esse evento, houve,
nos dois, um imediato e primitivo despertar da consciência (Gn 3:7), mas
não como lhes fora garantido pela serpente: eles não se tornaram como
Deus. Ao contrário, descobriram que estavam nus e culpados, o que os le-
vou a cozerem folhas de figueira, a fim de cobrirem sua nudez.
Depois que Adão e Eva pecaram, Deus lhes deu a oportunidade para se
explicarem e se defenderem, mesmo sabendo que ambos haviam se rebela-

50 | Estudo 4 - Origem, queda e restauração do ser humano


do contra ele. Todavia, ao invés de se reconhecerem culpados e se confessa-
rem, eles se justificaram. A mulher lançou a culpa sobre a serpente: E disse o
Senhor à mulher: Por que fizeste isto? E disse a mulher: A serpente me enganou,
e eu comi (Gn 3:13). O homem, por sua vez, lançou a culpa sobre o próprio
Deus. Ao homem, Deus inquiriu: Quem te mostrou que estavas nu? Comeste
tu da árvore de que te ordenei que não comesses? Então disse Adão: A mulher que
me deste por companheira, ela me deu da árvore e comi (Gn 3:11-12).
Ouvidas as desculpas do casal, Deus sentenciou os culpados, começan-
do pela serpente: ... maldita serás mais do que toda a besta, e mais que todos os
animais do campo (v. 14). Depois, sentenciou o diabo: Porei inimizade entre
ti e a mulher, entre a tua descendência e o seu descendente (v.15). E, para a mu-
lher, disse: Multiplicarei sobremodo os sofrimentos da tua gravidez; em meio de
dores darás à luz filhos (v. 16). Ao homem, disse: Maldita é a terra por causa
de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua vida (v. 17). Mas as consequ-
ências do pecado foram mais danosas do que podemos imaginar através de
uma leitura superficial de Gênesis 3. A humanidade, representada por Adão
e Eva, rebelou-se contra o criador, quando escolheu desobedecer-lhe. Por
isso, tornou-se inimiga de Deus, foi expulsa do paraíso e condenada à morte
eterna. Adão e Eva, assim como toda humanidade, deixaram de ser livres e
passaram a ser escravos do pecado. Por causa disso, todos nós já nascemos
com a natureza pecaminosa, escravos do erro e espiritualmente mortos.
3. O que a Bíblia diz sobre a restauração do ser humano: Nas duas
partes iniciais deste estudo, tratamos da origem e da queda do primeiro
casal. Vimos a forma especial como o ser humano foi formado, assim
como os privilégios de que desfrutava, enquanto se conservava obediente,
santo e puro. Era plano de Deus que assim continuasse. Porém, deso-
bedecendo à ordem que o Senhor lhe dera, caiu em desgraça e, nessa
condição, perdeu a comunhão com Deus, depois de ter perdido, também,
entre outras coisas, a inocência, o lar e a vida. Como se isto não bastasse,
foi expulso do Éden.
Em pecado, o primeiro casal ficou sujeito à morte, com todos os seus
descendentes, como está escrito: Pelo que, como por um homem entrou o pecado
no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens,
por isso que todos pecaram (Rm 5:12). Agora, em estado de desobediência,
afastado de Deus e impossibilitado de retomar a ele por seus próprios es-
forços, o ser humano necessitava de um salvador. Felizmente, isso já havia

O Doutrinal | 51
sido providenciado, antes mesmo da existência desse primeiro casal, graças
à presciência de Deus (At 2:23).
O plano de salvação foi elaborado pela triunidade: Pai, Filho e Espírito
Santo, ou, mais precisamente, pelo “conselho de Deus” (At 2:23). Através
dele, a divindade decidiu reconduzir o ser humano ao seu estado original
de pureza e santidade, mediante a filiação adotiva (Gl 4:4-7). Nisso ficou
provado o grande amor de Deus pelos humanos ( Jo 3:16). O texto bíblico
mais emocionante a respeito desse plano é o de Ef 2:3-10. Nele, Jesus é
apontado como o único caminho de retorno a Deus ( Jo 14:6), Só ele pode
libertar as pessoas da terrível prisão do pecado (Rm 3:9, 6:14). Atentemos
para as verdades desse plano em que Jesus Cristo é o personagem central.
Embora só tenha sido revelado na plenitude dos tempos (Gl 4:4-5), o
plano de salvação foi traçado antes da fundação do mundo (Ef 1:4 e 5). Por-
tanto, trata-se de uma providência divina, adotada em benefício de todos os
seres humanos, mediante a qual a salvação nos é oferecida gratuitamente,
sem que coisa alguma seja exigida como retribuição (Ef 2:7-9). A Bíblia diz
que esse plano nos proporciona toda sorte de bênçãos espirituais (Ef 1:3),
entre as quais, a renovação do entendimento, que nos habilita a conhecer e
experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12:2).
Na análise desse plano, precisamos dar atenção especial ao papel exer-
cido pela graça, que é comumente definida como “favor imerecido”. A graça
é a maior manifestação do amor de Deus por nós. Sim, somos salvos pela
graça, pois esta é um presente de Deus a todos os seres humanos que, pelo
que são e pelo que fazem, não o merecem (Rm 3:24). Adão e Eva, ao perce-
berem que estavam nus, procuraram esconder, com folhas de figueira, o erro
que haviam praticado (Gn 3:7-10). Então, no v. 21, encontramos um ato
gracioso de Deus: ... fez roupas de pele e com elas vestiu Adão e a sua mulher.
Sabemos que um animal teve de morrer. Esse ato já era prenúncio do que
Cristo faria pelos pecadores, na Cruz. Ele é a esperança, o cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo (Ap 13:8).
Fora de Cristo, o pecador não tem a mínima chance de ser redimido,
uma vez que a base da salvação é o sacrifício perfeito de Cristo na cruz, que
o pecador aceita pela fé. Na cruz, cinco fatos importantes foram provados e
estão à disposição dos pecadores: 1) O amor de Deus (Rm 5:8); 2) o poder
de Deus (1 Co 1:18, 24); 3) a sabedoria de Deus (1 Co 1:24), com uma
profundidade insondável (Rm 11:33-35); 4) a justiça de Deus, pois, diante

52 | Estudo 4 - Origem, queda e restauração do ser humano


dos céus, do reino das trevas e de todo o mundo, a promessa de Deus de
nos salvar foi cumprida (1 Co 1:30); 5) a reconciliação do mundo com
Deus (2 Co 5:18-19).
Neste estudo, analisamos três doutrinas fundamentais pelas quais di-
recionamos a nossa fé. A primeira delas foi a doutrina da criação do ser
humano. Foi através de um ato criador que o ser humano veio a existir e
não através de alguma forma viva já existente. Ele não surgiu naturalmente,
mas sobrenaturalmente. Depois de estudarmos isso, vimos que o ser huma-
no pecou e caiu. Por isso, uma vez caído, carece da intervenção redentora
de Jesus. Estudamos a terceira doutrina, a da restauração do ser humano.
Apesar de não termos mérito algum perante Deus, ele não hesitou em dar a
sua vida por nossa vida, tornando-se, portanto, o nosso salvador.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Lembremo-nos sempre da verdadeira origem do ser humano.


Precisamos reler e refletir cada vez mais sobre o que está escrito nas Es-
crituras a respeito da origem divina do ser humano. O ensinamento bíblico
que o descreve como uma criação de Deus não pode ser perdido de vista
por nós, cristãos, inclusive porque este é o ensinamento que nos valoriza e
nos dignifica. A teoria segundo a qual o ser humano é produto da evolução,
há muito, já vem sendo contestada, inclusive nos meios científicos. Muitos
cientistas de alto gabarito acreditam que há um Deus criador, por meio de
quem todas as coisas foram feitas.4 Não somos produtos de nenhum pro-
cesso evolutivo. Somos criação de Deus, assim como todos os demais seres
que povoam os céus, a terra, o ar e os mares.

2. Lembremo-nos sempre dos graves resultados do pecado.


Precisamos manter sempre em nossa lembrança as consequências do
pecado, para que não nos enganemos. O pecado escraviza, gera desconforto,
insegurança, medo, sofrimento e morte. Por isso, devemos tratá-lo com se-
riedade. Não podemos brincar com o pecado. Foi em consequência dele que
perdemos a nossa comunhão com Deus. Isso se deu a tal que, quando Jesus

4. Morris (1979:30).

O Doutrinal | 53
Cristo veio ao mundo, a situação espiritual prevalecente entre os humanos
foi descrita assim: Não há nenhum justo, nem um sequer. Não há ninguém que
entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamen-
te se fizeram inúteis (Rm 3:10-12). Nunca se esqueça disso!

3. Lembremo-nos sempre da graciosa restauração de Deus.


O gesto de amor e misericórdia demonstrado por Deus de enviar seu
Filho ao mundo com a missão de nos salvar foi algo que jamais podere-
mos esquecer. Éramos inimigos de Deus e, por isso, estávamos destinados à
morte eterna. Foi graças ao sacrifício de Jesus Cristo que fomos restaurados
e reconduzidos à nossa condição original de filhos de Deus e herdeiros de
suas promessas. Agora, com o apóstolo Pedro, podemos exclamar: Bendito
seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande miseri-
córdia, nos gerou de novo para uma viva esperança (1 Pd 1:3).

Conclusão
No presente estudo, procuramos mostrar, pelas Escrituras, que o ser
humano é produto da criação de Deus. Tratamos da ruína que lhe sobreveio,
depois que caiu em pecado, e da maneira como o pecado contagiou todo o
restante da humanidade. Tratamos, também, do amor de Deus, que enviou
o seu Filho Jesus Cristo ao mundo para salvar os que nele crerem, como está
escrito: Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigê-
nito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna ( Jo 3:16).
No texto seguinte, estudaremos a respeito de Jesus Cristo: salvador e
mediador da humanidade. Nesse estudo, aprenderemos como e por meio de
quem Deus proveu a salvação para os seres humanos. Adiantamos que a sal-
vação humana constitui a maior prova do amor de Deus pelas pessoas. Sem
esta providência, toda a humanidade estaria irremediavelmente perdida, já
que, por seus próprios esforços, jamais poderia ser salva. Isto nos lembra a
importância desse assunto, razão pela qual recomendamos ao leitor que o
estude com carinho, para que possa tirar dele o melhor proveito possível.

54 | Estudo 4 - Origem, queda e restauração do ser humano


III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Gênesis 5:1-2


A. Com base nesse texto, responda: Como surgiu o ser humano? Comente.
B. A Bíblia dá base para se afirmar que o homem e a mulher são frutos
de um processo evolutivo? O que você diria a quem lhe perguntasse
a respeito?

02. Leia Gênesis 1:28; 2:15, 19-20


A. Após criar Adão e Eva, que ordem lhes deu Deus?
B. Uma vez que o ser humano tem domínio sobre os animais, pode usar
de tal autoridade abusivamente? Qual deve ser a nossa postura nesse
sentido? Cite exemplos práticos.

03. Leia Gn 1:27


A. Com base nesse texto, responda: Que importante característica
distingue o ser humano dos animais?
B. Se somos imagem e semelhança de Deus, dotados de natureza espiritual
para conhecê-lo, de que modo podemos ter um relacionamento
íntimo com o nosso criador? O que você tem feito nesse sentido?

04. Leia Gn 3:1


A. Sobre a queda do ser humano, responda: Como agiu Satanás para
enganar a mulher?
B. Será que o diabo continua a enganar as pessoas hoje em dia? Como
ele faz isso? Comente.

05. Leia Gn 3:6, 14-24


A. Com base nesse texto, responda: Após dar ouvidos à voz da serpente,
como agiram Adão e Eva?
B. Que consequências o pecado trouxe ao ser humano?

O Doutrinal | 55
06. Leia Gl 4:4-7
A. Diante do estado caótico do ser humano, que atitude teve a Trindade,
no sentido de reconduzir-nos ao estado inicial de pureza?
B. Por que Jesus é o personagem central do plano de redenção? Fora
dele, há outro caminho de retorno a Deus?

07. Leia Jo 3:16; 1 Pd 1:3


A. Q ue grande atitude e sentimento demonstrou Deus pelo ser humano,
no ato de redimi-lo?
B. Ao considerar o sacrifício de Jesus na cruz, que sentimento devemos
nutrir uns pelos outros?

Anotações

56 | Estudo 4 - Origem, queda e restauração do ser humano


Estudo 5

Jesus Cristo: salvador e


mediador da humanidade

Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu,


não há nenhum outro nome dado entre os homens
pelo qual devamos ser salvos. (At 4:12 – NVI)

Introdução
No estudo anterior, aprendemos o que a Bíblia ensina sobre a origem
e a queda do ser humano. Vimos que Adão e Eva foram criados por Deus
como seres livres, com o direito de usufruir de todas as coisas criadas. Hou-
ve somente uma restrição divina (Gn 2:17). Esta, porém, foi ignorada pelo
casal. Por conta disso, homem e mulher foram expulsos do paraíso. A co-
munhão da criatura com o Criador foi, então, interrompida. Passou a haver,
entre as duas partes, uma relação de intenso conflito. Apesar de tudo, Deus,
que é riquíssimo em misericórdia, tinha a intenção de fazer as pazes com
esses que foram criados à sua imagem e semelhança.
Mas quem seria o mediador entre Deus e os seres humanos? Quem
poderia tratar com os dois lados e procurar o bem para as duas partes? Esse
mediador não poderia ser qualquer um. Teria que ser alguém neutro, que
tivesse acesso aos dois lados. Uma pessoa que buscasse o melhor para as
duas partes envolvidas no conflito, sem favorecer uma em detrimento da
outra. O próprio Deus apresentou esse mediador, quando declarou que um
descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3:15). Essa é
primeira referência bíblica a Jesus, o único salvador e mediador da humani-
dade. Verifiquemos o que a Bíblia tem a nos dizer sobre ele.

O Doutrinal | 57
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Quem é Jesus? Essa pergunta, que não é nova, foi feita pelo próprio
Jesus aos seus discípulos: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? (Mt
16:13). Ele ouviu respostas variadas: Uns dizem: João Batista; outros: Elias;
e outros: Jeremias, ou um dos profetas (Mt 16:14). Depois disso, Jesus tornou
a pergunta mais pessoal, dirigindo-a a seus discípulos: E vós, quem dizeis
que eu sou? (Mt 16:15). As mais confiáveis respostas para essa pergunta são
encontradas na Bíblia Sagrada. Vejamos, então, o que ela diz sobre a sua
pessoa e a sua obra.
1. A eternidade de Jesus: A Bíblia afirma que Jesus é eterno. O que
isso quer dizer? Não se deve confundir “eternidade” com “preexistência”.
Esta expressa a ideia de que Jesus já existia antes do seu nascimento, isto é,
antes de se tornar um ser humano e morar entre nós. Mas isso, por si só, não
indica, exatamente, que ele é eterno. O conceito de eternidade é outro: traz
consigo não somente a ideia de que Cristo já existia antes de nascer, mas de
que “ele sempre existiu”.1
Dizer que Jesus é eterno, então, significa dizer que ele não tem começo,
nem término, nem sucessão de momentos em seu próprio ser. O tempo ja-
mais teve ou terá efeito sobre sua natureza, suas perfeições, seus propósitos:
Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre (Hb 13:8). Mas quais
são os textos bíblicos que afirmam que Jesus é eterno? Dois deles estão no
Antigo Testamento. Isaías, numa profecia que dizia respeito a Cristo, atri-
bui-lhe o título de Pai da Eternidade, com o sentido de alguém que possui
eternidade (Is 9:6). Também Miquéias, profetizando acerca de Jesus, disse
que as suas origens são desde os dias da eternidade (Mq 5:2b).
No Novo Testamento, também encontramos várias referências à eterni-
dade de Jesus ( Jo 1:1, 8:58, 17:5). Dentre essas, uma das mais claras está no
evangelho de João, que, na Bíblia Viva, pode ser lida dessa forma: Antes de exis-
tir qualquer coisa, Cristo já existia (...). Ele sempre esteve vivo ( Jo 1:1 – BV). Ele
não “se fez” Verbo, no princípio, mas “era” o Verbo, no princípio.2 Não começou
a existir a partir da encarnação e nem sequer foi criado. Cristo existiu sempre.

1. Ryrie (2004:274).
2. Pfeiffer & Harrison (1980:177).

58 | Estudo 5 - Jesus Cristo: salvador e mediador da humanidade


2. A encarnação de Jesus: Aquele que sempre existiu, que no princípio,
não apenas estava com Deus, mas era Deus ( Jo 1:1), se fez carne, e habitou
entre nós ( Jo 1:14a). A expressão se fez carne ( Jo 1:14) mostra que Jesus re-
almente se tornou uma pessoa humana, histórica e real. Ele não só parecia
ser homem: era verdadeiramente homem, no seu aspecto físico e emocional.
Entretanto, ao abrir mão de sua posição gloriosa (Fp 2:5-6), não deixou de
ser o que sempre foi: Deus (20:28).3 Era, ao mesmo tempo, divino e huma-
no. Mas como isso foi possível? Após ter sido concebido sobrenaturalmente
(Mt 1:18), Jesus se desenvolveu naturalmente no útero de Maria.
Passado o período de gestação, Jesus entrou no mundo como um bebê.
Cresceu como uma criança judia normal (Lc 2:40, 52). Ao longo de sua
vida, sentiu o que todo ser humano sente: fome (Mt 4:2), sede ( Jo 19:28),
cansaço ( Jo 4:6), indignação (Mc 3:5), agonia (Lc 22:44), angústia ( Jo
12:27), alegria (Lc 10:21), surpresa (Lc 7:9). Seu nome humano, Jesus, por
exemplo, foi unido ao nome da localidade onde viveu a sua infância, Nazaré,
de forma que as pessoas o chamavam de Jesus de Nazaré (Mt 21:11; Mc 1:9;
Lc 2:4,39; Jo 1:46; At 10:38), as mesmas que o consideravam verdadeira-
mente humano (Mt 13:53-58; Mc 6:3).
Mas havia algo em Jesus que o tornava especial: a absoluta ausência de
pecado. A sua concepção sobrenatural impediu que a sua natureza humana
fosse afetada pelo pecado original. Assim, ele não herdou o que todos herdam,
quando são concebidos: uma natureza pecadora (Sl 51:5). Por essa razão, não
estava sujeito a praticar pecados: ... foi ele tentado em todas as coisas, à nossa
semelhança, mas sem pecado (Hb 4:15b – NTLH). Em suas muitas orações,
Jesus nunca teve de pedir perdão por alguma ofensa sua. Sequer se juntou aos
que o seguiam para dizer ao Pai: Perdoe-nos os nossos pecados (Mt 6:12a - BV).
3. A crucificação de Jesus: A Bíblia nos diz claramente qual foi o objeti-
vo da encarnação de Jesus. Ele não veio só para nos oferecer “um exemplo, ou
nos ensinar uma doutrina, mas para morrer por nós”.4 Veio, principalmente,
para dar a sua vida em resgate de muitos (Mc 10:45), para buscar e salvar o que
se havia perdido (Lc 19:10), para salvar os pecadores (1 Tm 1:15). Através de
sua morte, que é o evento central do Novo Testamento,5 Cristo, pelo seu

3. Hendriksen (2004b:118).
4. Thiessen (1987:224).
5. Pearlman (2006:174).

O Doutrinal | 59
precioso sangue (1 Pe 1:19), comprou para Deus os que procedem de toda tribo,
língua, povo e nação (Ap 5:9). Apesar de não ter cometido pecado, ele sofreu
a morte, que é o salário do pecado (Rm 6:23a). A cruz de Cristo foi uma ideia
de Deus, que amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna ( Jo 3:16).
Para nos salvar, Deus enviou o seu próprio Filho para morrer em nosso
lugar. Esse era o plano de salvação, que foi arquitetado antes da fundação do
mundo (Ap 13:8). O nosso mediador suportou a ira de Deus contra o peca-
do dos seres humanos. Não sofreu uma simples morte, mas uma morte ter-
rível. Um tipo de “execução reservado pelo império Romano aos criminosos
mais execráveis”,6 uma sentença tão infame que não podia ser aplicada aos
cidadãos romanos. Era reservada somente à escória da sociedade. Sofrendo
esse tipo de morte, Jesus se fez maldição por nós (Dt 21:23; Gl 3:13). Jesus
tomou o nosso lugar. Ali, ele perdoou nossos pecados, reconciliou-nos com
Deus e nos concedeu a vida eterna. Desde então, já nenhuma condenação há
para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8:1).
Na continuação de sua humilhação, depois de morto, Jesus foi sepul-
tado. O último e mais baixo estágio da humilhação de Cristo foi o seu
sepultamento. A sentença divina: ... és pó, e ao pó tornarás (Gn 3:19) tam-
bém é uma punição por causa do pecado. Segundo o Salmo 16:10 e Atos
2:27,31, o sepultamento está também relacionado ao rebaixamento, porque
ser “sepultado é ir para baixo, e, portanto uma humilhação. O sepultamen-
to dos cadáveres foi ordenado por Deus para simbolizar a humilhação do
pecador”.7 Coube a José de Arimatéia e a Nicodemos executar essa terrível
tarefa de sepultar Jesus. O evangelho de João diz que eles tomaram o corpo de
Jesus, e o envolveram em lençóis de linho com as especiarias ( Jo 19:40). Depois,
depositaram o seu corpo em um sepulcro novo, que havia sido aberto na
rocha (Mt 27:60). Uma pedra de quase duas toneladas foi, então, colocada
na porta do sepulcro. Quando todos se foram, o corpo do Filho do homem
ficou ali, estendido naquela superfície fria. Ele fez tudo isso por nós.
4. A ressurreição de Jesus: A voz daquele que disse ser a ressurreição e
a vida fora silenciada. Logo, já não se podia ouvi-lo pregando e ensinando
com autoridade às multidões que o seguiam. Também não se podia mais

6. Erickson (1997:313).
7. Idem, pp. 312-313.

60 | Estudo 5 - Jesus Cristo: salvador e mediador da humanidade


vê-lo ir de um lado para o outro para curar as pessoas, ressuscitar os mortos,
acalmar as tempestades. A sua morte parecia ser o fim de tudo. Só parecia,
pois, ao pôr-do-sol de sábado, o túmulo ficou vazio, pois Deus ressuscitou
Jesus, livrando-o do poder da morte, porque não era possível que a morte o do-
minasse (At 2:24 – NTLH). A sua ressurreição foi o primeiro passo no
processo da sua exaltação.
As mulheres da Galiléia (Lc 24:1-12), Pedro e João ( Jo 20:3-10), os
discípulos ( Jo 20:19-23), os caminhantes de Emaús (Lc 24:13-32), Tomé
( Jo 20:26-29), mais de quinhentos irmãos “de uma só vez” (1 Co 15:6) e
Paulo (1 Co 15:8) foram testemunhas de que Deus, pelo seu poder, re-
almente ressuscitou o Senhor (1 Co 6:14). Apesar disso, muitos há que,
no decorrer dos anos, ainda têm tentado negar esse fato. Até hoje, porém,
“nenhum indício de prova foi ainda descoberto em fontes literárias, arque-
ológicas ou de inscrições antigas que pudesse contestar essa afirmação”.8
Em sua crucificação, Jesus confrontou o pecado, a morte e os poderes
das trevas, os inimigos constantes da humanidade. Mas sua vitória sobre
eles foi definitivamente proclamada em sua ressurreição. Além de vencer
o pecado (1 Pe 3:18; Hb 9:28), as potestades e os poderes das trevas (Ef
1:20-21), por meio dela, o Filho de Deus também destruiu a própria morte
(2 Tm 1:10). Ele triunfou, enfim, sobre tudo que desafiava a soberania e o
governo de Deus, de modo que não há mais quem possa intentar alguma
acusação contra os escolhidos de Deus, nem mesmo afastá-los do seu amor.
5. A glorificação de Jesus: Depois de ressuscitado, Jesus permaneceu
ainda por quarenta dias na terra (At 1:3). Em seguida, foi elevado ao céu (Lc
24:51; At 1:9). Essa sua elevação é chamada de ascensão, o segundo passo
no processo da sua exaltação. Ela significa a restauração da glória que Jesus
tinha, antes da encarnação. Por essa ocasião, Jesus foi recebido no céu, em
glória (1 Tm 3:16), pelo Pai, que o fez assentar-se à sua direita, lugar de
poder e distinção (Ef 1:20; At 2:33; Hb 10:12; 1 Pe 3:22; Ap 3:21).
O assentar-se à direita de Deus é uma indicação de que a sua obra ter-
rena de sacrifício de si mesmo pelos pecados dos seres humanos havia sido
concluída de maneira perfeita. Ele cumpriu tudo que era necessário para a
salvação dos pecadores. É também uma demonstração de que Cristo ocupa
uma posição suprema de Rei dos reis e Senhor dos senhores, acima de todo

8. McDowell (1994:91).

O Doutrinal | 61
principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não
só no presente século, mas também no vindouro (Ef 1:21).
O último estágio da exaltação de Cristo é a sua vinda, em poder e glória,
que é a nossa bendita esperança. As Escrituras Sagradas indicam que, um
dia, em algum momento que nós não sabemos, Cristo voltará para buscar a
sua igreja. Ele mesmo garantiu isso: ... virei outra vez e vos levarei para mim
( Jo 14:3; cf. Mt 25:31; Lc 21:27; At 1:11; 1 Co 4:5; 2 Tm 4:1; Hb 10:37;
Tg 5:8; Jd 14-15; Ap 3:11, 22:20). Ele virá, não como da primeira vez, isto
é, em inferioridade e humilhação, mas em completa exaltação. Retornará
como o Senhor glorioso e vitorioso.
6. A mediação de Jesus: Mediante tudo o que Cristo fez por nós, ele
se tornou o nosso único mediador, porque é o único caminho para o céu, a
ponte que nos liga a Deus (1 Tm 2:5-6). “Um mediador é um intermediário,
a pessoa que se acha no meio, que efetua a reconciliação entre duas partes
em rivalidade”.9 A inimizade, portanto, foi extinta por meio de Cristo. Ele
nos livrou de padecermos pela ira de Deus (Rm 5:8-10).
Ao menos no Antigo Testamento, não havia um árbitro com condições
de intervir na mediação entre Deus e nós ( Jó 9:33). No entanto, no Novo
Testamento, Jesus se mostra o perfeito mediador pelo fato de ser tanto Deus
quanto homem ( Jo 1:1,14). Logo, tem autoridade para intervir entre as
partes em questão. Antes do sacrifício salvífico de Cristo, o sumo sacerdote
fazia a função de mediador entre Deus e os homens, por meio de sacrifícios.
Porém, tanto o sumo sacerdote quanto os sacrifícios para remissão de peca-
dos eram imperfeitos (Hb 9:13-14).
O texto de 1 Tm 2:5 declara que o Jesus homem é o mediador. Por esta
razão, ele se tornou o perfeito sumo sacerdote da humanidade, pois era ne-
cessário que ele fosse semelhante a nós. “Em Hebreus 2.17, Jesus é descrito
como um sumo sacerdote que representa o homem diante de Deus, desvia
a ira de Deus, (...) ministra às necessidades do seu povo”.10 É só através dele
que temos comunhão com Deus e que nossas orações podem ser respondidas.
Finalizando a primeira parte deste estudo sobre a vida e a obra de Jesus,
reafirmamos que, por ter feito tudo isso por nós, ele se tornou nosso “único”
salvador e mediador. Tornou-se o nosso único salvador porque nos salvou

9. Stott (2004a:67).
10. Kistemaker (2003:113)

62 | Estudo 5 - Jesus Cristo: salvador e mediador da humanidade


da penalidade do pecado, está nos salvando, dia-a-dia, do domínio do pe-
cado e nos salvará, para sempre, da presença do pecado. Tornou-se o nosso
único mediador porque é o único caminho para o céu, a ponte que nos liga
a Deus. Na sequência deste estudo, veremos três aplicações baseadas no que
acabamos de estudar.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. A eternidade e a encarnação de Cristo ensinam-nos a viver com renúncia.


A Bíblia afirma que Jesus abriu mão de tudo o que era seu e tomou a na-
tureza de servo (Fp 2:7a). O que ele teve de renunciar para viver a vida co-
mum de um ser humano é realmente imenso. Ele não desistiu de nenhum
dos seus atributos ou poderes divinos, mas teve de renunciar, voluntaria-
mente, à capacidade de exercê-los por conta própria. Exercia-os apenas na
dependência do Pai. Sigamos os passos do nosso salvador e mediador. Re-
nunciemos interesses egoístas, orgulho, vaidade, vanglória. Demonstremos
interesse verdadeiro uns pelos outros (Fp 2:3-4). Tenhamos, enfim, o mesmo
sentimento que houve também em Cristo Jesus (Fp 2:5).

2. A crucificação e o sepultamento de Cristo estimulam-nos a viver com gratidão.


Nós só podemos desfrutar das bênçãos da salvação, hoje, porque, um
dia, Jesus, o Cordeiro de Deus, tomou sobre si os nossos pecados (1 Co
15:3; Gl 2:20). Nós não merecíamos, mas ele escolheu morrer em nosso
favor. A sua morte desviou de nós a ira de Deus e estabeleceu a paz. Diante
disso, do mais profundo do nosso ser, não cansemos de agradecer-lhe e
engrandecer-lhe, dia-a-dia, por tudo o que ele fez por nós e em nós: Àquele
que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados, (...) a ele a glória
e o domínio pelos séculos dos séculos (Ap 1:5-6).

3. A ressurreição e a glorificação de Cristo desafiam-nos a viver com esperança.


Ao estudarmos sobre a ressurreição e a glorificação de Jesus, somos lem-
brados de que a fé em Cristo não se aplica apenas a esta vida. Na verdade,
se a nossa esperança em Cristo só vale para esta vida, nós somos as pessoas mais
infelizes deste mundo (1 Co 15:19 – NTLH). A ressurreição de Cristo é a
prova de que a morte foi derrotada e a garantia da nossa ressurreição (1 Co
15:20). Mesmo que venhamos a morrer, seremos igualmente ressuscitados,

O Doutrinal | 63
no dia da sua vinda. Nós não precisamos, portanto, nos agarrar, com todas as
forças, a esta vida presente. Podemos investi-la no serviço a outros. Ela é só
o primeiro capítulo de muitos que virão pela frente. Vivamos com esperança.

Conclusão
Ao concluirmos este estudo, lembramos que, agora, assentado à destra de
Deus (Hb 10:12), Jesus tem todas as coisas sujeitas debaixo dos seus pés (Ef
1:22). Os coros angelicais lhe cantam louvores no céu, dizendo: Digno é o
cordeiro que foi morto, de receber poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra
e glória, e louvor (Ap 5:12). Ainda hoje, mesmo que não nos demos conta
disso, ele se preocupa conosco, intercede por nós (Rm 8:34) e está ao nosso
lado (Mt 28:20). Por isso, tranquilamente entreguem-se aos cuidados de Cristo,
seu Senhor (1 Pd 3:15 –BV).
Graças a Deus por ter enviado Jesus à terra ( Jo 3:16). Graças a Deus
porque, através de tudo que Jesus fez, temos a possibilidade de alcançar a
salvação. Aliás, é disso que passaremos a tratar. No próximo estudo, vamos
pensar sobre a aplicação da obra de Cristo, as primeiras etapas do pro-
cesso de salvação. Veremos o ensino bíblico sobre “Regeneração e conver-
são”. Você já ouviu falar sobre isso? O que significa dizer que “nascemos
de novo”? O que significa dizer que uma pessoa é “convertida”? São essas e
outras perguntas que serão respondidas logo mais adiante. Então, não perca
o próximo estudo.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia João 1:1


A. O que esse texto nos ensina sobre Jesus? Há algum atributo dele
ressaltado?
B. De acordo com o que você estudou, o que significa dizer que “Jesus
é eterno”?

02. Leia João 1:14


A. Que preciosa verdade é afirmada nesse versículo da Bíblia Sagrada?

64 | Estudo 5 - Jesus Cristo: salvador e mediador da humanidade


B. Ao se tornar homem, Jesus deixou de ser Deus? Recorra ao
comentário e diga o que a expressão se fez significa?

03. Leia 1 Pedro 1:17-19


A. Q ual foi o valor pago por Cristo em favor da nossa vida?
B. Será que algum dia nós poderemos pagá-lo por seu sacrifício? Comente.

04. Leia João 19:40-42


A. Q uais foram as pessoas responsáveis por cuidar do sepultamento de
Cristo? Que medidas tomaram para fazê-lo?
B. O sepultamento também fazia parte da humilhação de Jesus? O que
simbolizava? Comente.

05. Leia Mateus 28:5-8


A. A Bíblia é clara, quando trata da ressurreição de Jesus, ou esta é
colocada apenas como uma hipótese? Tome por base o texto bíblico.
B. O que você sente, quando ouve que Jesus está vivo? Esse fato o anima
de alguma maneira?

06. Leia Efésios 1:18-23


A. Onde Jesus está, neste exato momento? Que importância tem
sabermos a posição que ele ocupa hoje?
B. Apesar de ser tão poderoso, Jesus continua se importando conosco?

07. Leia 1 Timóteo 2:3-5


A. O que significa dizer que Jesus é o nosso único salvador? Você acha
que, por si mesmo, teria capacidade de pagar a sua dívida com Deus?
B. O que significa dizer que Jesus é o nosso único mediador? A popular
frase: “todos os caminhos levam a Deus” é verdadeira?

O Doutrinal | 65
Anotações

66 | Estudo 5 - Jesus Cristo: salvador e mediador da humanidade


Estudo 6

Regeneração e conversão

Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos


delitos e pecados. (Ef 2:1)

Introdução
Aprendemos, no estudo anterior, que tem por título: Jesus Cristo: sal-
vador e mediador da humanidade, o que a Bíblia diz sobre a pessoa e a obra
de Jesus. A palavra de Deus é clara em afirmar a eternidade, a divindade, a
encarnação, a crucificação, o sepultamento, a ressurreição e a glorificação de
Cristo. Tais características da sua pessoa demonstram que ele é único e que,
fora dele, não há salvação, debaixo do céu (At 4:12). Ele se tornou único
mediador entre Deus e o ser humano (1 Tm 2:5), ou seja, a ponte que liga a
ambos. O sacrifício de Cristo, na cruz, foi suficiente para restaurar a nossa
amizade com o Pai.
Os seres humanos são alvos da misericórdia divina. Não é o desejo de
Deus que as pessoas se percam ( Jo 6:39), pois ele as ama e trabalha em favor
da salvação delas ( Jo 3:16). Hoje, estudaremos sobre regeneração e conver-
são. Ambos os termos são bíblicos (At 3:19, 11:21; 1 Pd 1:3,23) e dizem
respeito a dois eventos fundamentais na salvação do ser humano. Devemos
entender que regeneração e conversão não se constituem um mesmo evento,
visto que, nesta, o ser humano tem participação ativa, e, naquela, somente
Deus participa ativamente, enquanto que o ser humano sofre a ação. Veja-
mos, mais detalhadamente, o que a Bíblia diz sobre regeneração e conversão.

O Doutrinal | 67
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Todas as pessoas, para serem salvas em Cristo, precisam ser regeneradas


e convertidas. Esse ensino é claro na Bíblia, pois, no dizer de Cristo, aque-
le que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus ( Jo 3:3). Do mesmo
modo, Pedro enfatiza: Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem can-
celados os vossos pecados (At 3:19). Esses textos nos mostram, dentre outras
coisas, a distinção entre “novo nascimento”, ou regeneração, e “conversão”.
Nos dois itens a seguir, focaremos nossa atenção ao que a Bíblia nos ensina
sobre esses dois importantes pontos que norteiam a nossa fé.
1. O ensino bíblico sobre a regeneração: A regeneração expressa a in-
finita misericórdia divina em favor dos seres humanos, pois somente Deus
é capaz de realizar tamanha obra em nós. Por natureza, somos incapazes
de realizar a regeneração, visto que podemos defini-la como um ato único
de Deus, através do qual ele nos concede nova vida espiritual. Regeneração
tem o mesmo sentido de “novo nascimento”. É por meio do “novo nasci-
mento” que somos libertos da morte espiritual e aceitamos a verdade do
evangelho. Cristo foi muito direto em suas palavras a Nicodemos: … neces-
sário vos é nascer de novo ( Jo 3:7).
Quando Cristo diz que é preciso “nascer de novo”, não nos está im-
pondo uma responsabilidade, como se fôssemos os agentes desse ato, mas
está afirmando que, sem a regeneração, jamais faremos parte do reino de
Deus ( Jo 3:5). No ato da regeneração, a nossa partipação é somente passiva,
ou seja, sofremos a ação. Quem nasce, não provoca o próprio nascimento,
como também os mortos não ressuscitam a si mesmos. Portanto, devemos
afirmar que o Espírito Santo é quem produz a regeneração em nós, em
conformidade com as palavras de Jesus: O que é nascido da carne é carne; e o
que é nascido do Espírito é espírito ( Jo 3:6).
Além do Espírito Santo, o Pai também participa ativamente do ato re-
generador (1 Pe 1:3). Foi ele quem nos vivificou, quando estávamos mortos
em nossos delitos e pecados (Ef 2:1). Porém, é importante entendermos que,
embora a salvação tenha sido um plano do Pai, tendo sido consumada pelo
Filho ( Jo 3:16), é o Espírito Santo o principal responsável pela obra do
“novo nascimento” nos seres humanos. Por ele nos haver convencido, pude-
mos nos aproximar de Deus e crer na sua palavra, porque ninguém pode dizer

68 | Estudo 6 - Regeneração e conversão


que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo (1 Co 12:3). Antes de dizermos
“sim” ao chamado do evangelho, tivemos de ser convencidos do pecado, da
justiça e do juízo ( Jo 16:8).
A palavra é o principal meio usado por Deus na regeneração: ... pois
fostes regenerados não de semente corruptível, mas de incorruptível, mediante a
palavra de Deus, a qual vive e é permanente (1 Pe 1:23 - grifo nosso). Deus
convence as pessoas mediante a pregação da palavra, pois a fé vem pelo
ouvir a sua palavra (Rm 10:17). Foi através da palavra que Deus “abriu” o
coração de Lídia (At 16:13-14). Além de ser instrumento de convencimen-
to, a palavra é, também, instrumento de regeneração. Ao ser regenerado, o
ser humano se torna nova criatura, e as coisas velhas já não existem porque
se tornaram novas (2 Co 5:17).
Voltando ao texto de João 3:7, em que Cristo diz: ... necessário vos é
nascer de novo, cabe-nos entender a abrangência da necessidade da rege-
neração. A Bíblia diz que todos nós estávamos espiritualmente mortos em
nossos delitos e pecados (Ef 2:1). Sendo assim, jamais poderíamos experi-
mentar a nova vida em Cristo, se continuássemos sob a mesma condição.
Todos pecamos e fomos destituídos da glória de Deus (Rm 3:23). A nossa
natureza pecaminosa não nos permitia um relacionamento santificado com
o Senhor, pois dela éramos escravos (Rm 6:20). Se não houvesse uma ação
interna do Espírito Santo, não haveria esperança para nós (Ef 2:12).
Assim como o leopardo não pode mudar a cor das suas manchas ( Jr
13:23), não podemos eliminar a natureza pecaminosa existente em nós. Ela
é adversária da santificação e tenta, de todas as maneiras, minar a nossa fé.
Paulo reconhece essa condição humana, ao dizer: Miserável homem que eu
sou! Quem me livrará do corpo desta morte? (Rm 7:24). Diante da nossa in-
capacidade, Deus entrou com providência, a fim de nos conceder uma nova
vida e nos dar o direito de nos tornarmos seus filhos ( Jo 1:13). A regenera-
ção não é um ato causado por merecimento humano, mas por misericórdia
divina. Nada mais merecíamos, senão a morte.
Além de nos tornar filhos de Deus, por cujo meio nos tornamos bene-
ficiários de todos os privilégios da filiação, a regeneração resulta em uma
nova maneira de viver, que se caracteriza pela mudança no caráter (2 Co
5:17), na mente (Rm 12:2) e no coração (Ez 36:26); resulta em libertação
do domínio do pecado (1 Jo 3:9), em um coração amoroso para com o pró-
ximo (1 Jo 4:7), em capacidade espiritual para vencer as tentações; enfim, na

O Doutrinal | 69
obediência aos mandamentos de Deus (1 Jo 5:3-4). A regeneração também
nos concede a bênção da proteção de Cristo contra as investidas espirituais
de Satanás (1 Jo 5:18).
Enquanto a natureza pecaminosa tende a nos tornar amantes do pe-
cado, o novo nascimento produzido pelo Espírito Santo nos torna aptos a
enchergar e aceitar as verdades do evangelho, pelas quais somos levados a
repudiar a vida pecaminosa. A regeneração faz com que almejemos viver
uma nova amizade, uma profunda cumplicidade e lealdade com o criador.
A situação caótica em que vivíamos já não é mais a mesma, pois fomos
chamados por Deus, das trevas para a sua maravilhosa luz, a fim de procla-
marmos as suas virtudes (1 Pe 2:9). É o novo nascimento que nos capacita
a meditar e ter prazer, dia e noite, na lei do Senhor (Sl 1:2).
Como vimos até aqui, a regeneração é o ato de Deus de nos conceder
nova vida espiritual, após sermos convencidos a atender positivamente ao
chamado de Cristo, pela sua palavra. Mas é somente pela conversão que, de
fato, atendemos a expectativa dele. Enquanto, pelo convencimento, o Espíri-
to Santo nos proporciona condições para a mudança de vida, na conversão,
efetuamos essa a mudança. O Espírito Santo nos conduz ao conhecimento
da verdade, mas cabe a nós aceitá-la. Deus nos deu vida; porém, precisamos
tomar a atitude de viver a vida que ele nos ofereceu. Para isso, é necessário
que haja uma renovação da nossa mente (Ef 4:23).
2. O ensino bíblico sobre a conversão: O real significado da palavra
conversão é “volta”. No sentido bíblico espiritual, expressa a atitude da pes-
soa de abandonar o pecado e voltar-se para Cristo. À atitude de abando-
nar o pecado, chamamos arrependimento e à atitude de voltar para Cristo,
chamamos fé. Observe que arrependimento e fé são elementos essenciais
à conversão, ou seja, é impossível uma pessoa experimentar a verdadeira
conversão, sem que seja dotada de tais elementos, pois são inseparáveis. A
conversão jamais será efetuada na ausência de um deles. Não podemos afir-
mar que a fé em Cristo, sem renúncia ao pecado, é suficiente, ou vice-versa.
Ambos acontecem ao mesmo tempo.
Seguindo essa linha de pensamento, podemos definir conversão do se-
guinte modo: é a nossa resposta positiva à pregação do evangelho, pela qual
viramos as costas ao pecado, em arrependimento, e, pela fé, cremos em Cris-
to para receber a salvação. Se, por um lado, a regeneração é invisível aos olhos
humanos, sendo um ato exclusivo de Deus, por outro, a conversão tanto pode

70 | Estudo 6 - Regeneração e conversão


ser vista por nós como realizada mediante nossa vontade. Isso é evidente
porque, na conversão, quem atende ao chamado de Cristo, quem se volta
para ele com fé e quem se arrepende do pecado é o ser humano (At 14:15).
Agora, analisemos a necessidade da conversão. Jesus disse: Se não vos
converterdes (...) de modo algum entrareis no reino dos céus (Mt 18:3 - grifo
nosso). Veja que Jesus encara a conversão como uma condição para se fazer
parte do reino de Deus. A conversão é necessária porque gera despertamen-
to espiritual, por meio da iluminação de Cristo em nossa mente (Ef 5:14).
Pedro a considera um fator determinante para o cancelamento de pecados
(At 3:19). A conversão nos auxilia no processo da santificação pessoal, visto
que lutamos, diariamente, contra a prática do pecado. Ela tende a nos levar
ao abandono da velha vida e ao início de uma vida nova.
Paulo testificava tanto a judeus como a gregos o arrependimento para com
Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo (At 20:21). Aqui, ele deixa explícita a
importância do arrependimento e da fé para a conversão. O verdadeiro arre-
pendimento não deve ser entendido apenas como um remorso proveniente
das consequências do pecado, mas como um pesar por causa da prática
deste (2 Co 7:9-10). É tristeza causada pela ofensa a Deus; reconhecimento
sincero das nossas falhas; renúncia às práticas pecaminosas e compromisso
verdadeiro de obediência a Deus. Quem, de fato, se arrepende, não prosse-
gue em pecado, mas muda de atitude, voltando-se para Deus.
Devemos ainda considerar que o verdadeiro arrependimento é acom-
panhado da confiança no perdão divino. Pedro, ao ter traído Jesus, chorou
amargamente (Mt 26:75), mas não abandonou a comunhão dos outros dis-
cípulos, porque creu que estava perdoado. Quem verdadeiramente se arre-
pende, não justifica o erro para se afastar dos caminhos de Deus, mas confia
na restauração do Senhor e a experimenta ( Jo 21:15-17). O arrependimento
de Judas, por exemplo, não foi autêntico, pois, mesmo triste por haver traído
o Senhor, tendo devolvido as trinta moedas de prata aos sacerdotes e aos
anciãos e admitido o seu erro, não confiou no perdão de Jesus. Por isso, resol-
veu enforcar-se (Mt 27:3-5). Tal arrependimento não o conduziu à salvação.
Fé, por sua vez, tem o sentido de confiança. É a tradução para o verbo
grego pisteuõ e o seu substantivo cognato pistis, que significam acreditar nas
palavras de alguém ou aceitar uma ideia como sendo verdade. Esses termos,
todavia, também significam mais do que mera crença: têm o sentido de
confiança pessoal. A fé envolve confiança no poder salvífico de Jesus. Se,

O Doutrinal | 71
pelo arrependimento, viramos as costas para o pecado, pela fé, confiamos
que Cristo é capaz de nos perdoar e salvar, mesmo depois de termos falhado
para com ele, e acreditamos na operação da sua maravilhosa graça em nosso
favor (Ef 2:8).
A fé também envolve conhecimento. As pessoas só poderão crer em
Jesus, se, antes, o conhecerem. Afinal, como invocarão aquele em quem não
creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? (Rm 10:14). Sabemos
que só o conhecer Jesus não é suficiente para se chegar à conversão. As pessoas
podem conhecer fatos da vida de Jesus, podem ter conhecimento dos mila-
gres por ele realizados, mas podem não aceitar os seus ensinamentos (Rm
1:32). Sendo assim, o pecador não desfrutará da bênção da conversão, se não
aceitar as palavras de Jesus como princípios primordiais à sua vida espiritual.
A verdadeira fé nos leva a concordar com o que a Bíblia ensina acerca
da relação existente entre os seres humanos e o pecado. E o que ela nos
ensina a este respeito? Que todos pecaram e carecem da glória de Deus (Rm
3:23); que, pelo pecado, sobreveio-nos a morte (Rm 5:12); que o pecado
escraviza o ser humano (Rm 6:17); que Cristo nos vivificou (Rm 6:11); que
onde abundou o pecado, superabundou a graça (Rm 5:20); que Cristo morreu
pelos nossos pecados (I Co 15:3); que fomos libertados do pecado e feitos servos
da justiça (Rm 6:18). A fé leva-nos a reconhecer as nossas fraquezas; porém,
faz-nos confiar na bondade de Cristo para salvar.
À fé que compõe a conversão e leva à salvação em Cristo, nós chamamos
de fé salvífica. Porém, é preciso ter cuidado para não a confundir com a fé
natural e com o dom da fé. A fé natural é aquela que todas as pessoas pos-
suem, que se baseia na experiência humana e se apoia nos cinco sentidos de
todo o ser humano. Por exemplo: entramos num avião e temos fé que vamos
chegar ao destino; plantamos uma semente e cremos que ela vai nascer. Isso
é fé natural, e todos a têm. Por outro lado, o dom da fé é uma capacitação
que algumas pessoas recebem do Espírito Santo. É uma confiança incomum
e sobrenatural em Deus e em suas promessas, mesmo em meio aos mo-
mentos mais difíceis (1 Co 12:9). Contudo nem a fé natural e nem o dom
da fé conduzem-nos à salvação. Para isso, precisamos da fé salvífica, que é a
confiança na obra redentora de Jesus Cristo como único Senhor e Salvador
( Jo 3:16; Rm 10:9). É essa a fé que nos conduz à salvação e à vida eterna.
Até aqui, analisamos os ensinos da Bíblia sobre a doutrina da regene-
ração e da conversão, e aprendemos, dentre outras coisas, que jamais alcan-

72 | Estudo 6 - Regeneração e conversão


çaremos salvação em Cristo, sem que, antes, as experimentemos. A rege-
neração é um ato divino que propicia nova vida espiritual no ser humano.
A conversão é uma ação humana produzida pelo novo nascimento, que o
leva, de modo visível, a mudar de atitude. Esta, inclui arrependimento, ato
de virar as costas para o pecado, e fé, que é o ato de confiar que Jesus pode
perdoar e salvar. Aproveitemos, então, o que aprendemos neste estudo para
colocarmos em prática esta doutrina da palavra de Deus.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

01. Regeneração e conversão expressam a misericórdia de Deus para perdoar.


Tanto a regeneração quanto a conversão mostram-nos a singular mise-
ricórdia de Deus em nosso favor. Um dia, pecamos e fizemos o que era mal
aos seus olhos; perdemos a amizade com o Pai e nos conformamos com as
cadeias impostas pelo pecado, que nos dominava. Porém, apesar da nossa
rebeldia, a Bíblia afirma que agora Deus os ressuscitou junto com Cristo. Deus
perdoou todos os nossos pecados (Cl 2:13). Deus nos perdoou, nos regenerou e
nos concedeu a chance de saborearmos as delícias da conversão. Portanto,
regeneração e conversão constituem-se a garantia de que os nossos pecados
não apenas são perdoados, mas também esquecidos por ele (Mq 7:18).

02. Regeneração e conversão expressam a soberania de Deus para restaurar.


A soberania de Deus não se restringe a julgar o pecador, mas se estende
a restaurá-lo. A Bíblia mostra isso, quando afirma: Ele vos deu vida, estando
vós mortos nos vossos delitos e pecados (Ef 2:1). Houve um tempo em que viví-
amos separados de Deus, em consequência dos nossos pecados (Rm 3:23).
Não tínhamos esperança de vida eterna. Simplesmente, estávamos mortos.
Porém, Deus, por sua soberania, restaurou a nossa alma. Ele nos tirou da
escravidão espiritual em que estávamos. A natureza do pecado não mais nos
aflige porque Cristo nos libertou do seu poderio. Agora, pela soberana graça
de Deus, fomos restaurados.

03. Regeneração e conversão expressam a sensibilidade de Deus para salvar.


Como sabemos, regeneração e conversão fazem parte do processo da
salvação. É perfeitamente correto afirmar que, sendo a salvação um ato gra-
cioso de Deus em favor dos seres humanos, não possuímos mérito algum

O Doutrinal | 73
diante dele (Ef 2:8). Logo, se hoje temos esperança de vida, isso se deve ao
fato de que Deus é sensível para salvar. Tal sensibilidade pode ser vista em
seu ato de amor para com a humanidade caída: Porque Deus amou ao mundo
de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna ( Jo 3:16). Qualquer ato ou processo que diz
respeito à salvação humana é fruto do amor de Deus por nós.

Conclusão
Este estudo nos fez conhecer a doutrina da regeneração e da conversão,
de acordo com a Bíblia Sagrada. O ato divino da regeneração foi realizado
pelo Espírito Santo, quando, ao ouvirmos a pregação do evangelho, fomos
convencidos por ele do pecado, da justiça e do juízo ( Jo 16:8). Esse conven-
cimento foi suficiente para que o Espírito Santo iniciasse a sua obra de nos
dar nova vida espiritual, que denominamos regeneração. A conversão nos
proporcionou mudança de mente e, consequentemente, de atitude. Desse
modo, nós nos tornamos novas criaturas, pois não mais vivemos pela vonta-
de da carne, mas pela vontade de Deus (1 Pe 4:2).
A regeneração e a conversão estão incluídas no processo da salvação.
No entanto, esses dois importantes eventos não são os únicos que compõem
esse processo. Veremos, no próximo estudo, mais dois que fazem parte do
mesmo: justificação e adoção. O que significa cada um desses termos? Que
importâncias eles exercem, no processo da salvação? Influenciam a nossa
vida cristã? Estas e outras dúvidas serão esclarecidas nesse estudo. Portan-
to, continue estudando e aprendendo a palavra de Deus. Aproveite para
aprofundar-se e crescer ainda mais no conhecimento dela, pois é luz para os
nossos caminhos (Sl 119:105).

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Efésios 2:1 e João 3:3-7


A. O que é regeneração?
B. Por que temos a necessidade de sermos regenerados por Deus?

74 | Estudo 6 - Regeneração e conversão


02. Leia João 3:8, 16; 1 Pedro 1:3
A. Q uem opera a regeneração em nós? Qual é a participação do Pai, do
Filho e do Espírito Santo nessa obra?
B. Qual é o principal meio usado por Deus para regenerar o pecador?

03. Leia Jeremias 13:23 e Romanos 7:24


A. O ser humano já nasce escravo do pecado. Será que ele é capaz de
mudar por conta própria essa condição? O ser humano pode se
autorregenerar?
B. Comente as palavras do apóstolo Paulo, em Rm 7:24.

04. Leia Ezequiel 36:26; Romanos 12:2; 2 Coríntios 5:17, e 1 João 3:9
A. O que acontece com a pessoa que foi regenerada por Deus?
B. Comente as transformações que ocorrem em seu corpo, sua mente
e seu coração?

05. Leia Atos 3:19 e Mateus 18:3


A. O que é conversão? Qual é a participação humana, nesse momento
do processo da salvação?
B. Qual é a diferença entre a conversão e a regeneração?

06. Leia Mateus 26:75, 27:3-5 e 2 Coríntios 7:9-10


A. Aprendemos que há dois elementos fundamentais que compõem a
conversão: o arrependimento e a fé. O que significa arrependimento?
B. Q ual é a diferença entre arrependimento e remorso? O que é o
verdadeiro arrependimento que conduz à salvação?

07. Leia Romanos 10:8-14,17 e João 1:12, 3:16


A. O que é “fé salvífica”? Como esta conduz o pecador à salvação?
B. De que forma o pecador adquire essa fé?

O Doutrinal | 75
Anotações

76 | Estudo 6 - Regeneração e conversão


Estudo 7

Justificação e adoção

Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por


meio de nosso Senhor Jesus Cristo. (Rm 5:1)

Introdução
A salvação é a bênção mais preciosa que nós podemos receber de Deus,
pois não há dúvida de que o maior milagre que pode ocorrer na vida de um
ser humano é ser alcançado pela graça de Cristo e ser salvo por meio dela.
Todo salvo em Jesus precisa entender essa bênção que é a salvação. Deve
conhecê-la bem, a tal ponto que seja capaz de falar dela às outras pessoas
que ainda não conhecem nosso Senhor, para que também possam ser sal-
vas. Por essas razões, dedicamos três de nossos estudos para abordarmos o
processo da salvação.
No estudo anterior, aprendemos sobre a regeneração e a conversão, e
pudemos entender o que é o novo nascimento. Agora, pela graça de Deus,
vamos estudar sobre a justificação e a adoção. São dois importantes eventos
que também compõem esse processo. Quando nos rendemos Jesus e o re-
cebemos como salvador de nossas vidas, algo magnífico acontece em nós:
somos perdoados. Deus nos declara justos diante dele. Nosso passado de
erros é apagado e somos inocentados. Mas não só isso: Deus, através de
Jesus, nos adota como filhos. É o que veremos no presente estudo.

O Doutrinal | 77
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Em Gálatas capítulo 4, versículo 5, Paulo afirma que Jesus veio a este


mundo para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a ado-
ção de filhos. Nesse texto, vemos, claramente, tanto a doutrina da justificação
quanto a doutrina da adoção. O verbo “resgatar”, nesse contexto, significa
libertar mediante o pagamento de um preço1 (cf. Gl 3:13). De fato, Jesus pa-
gou um alto preço, isto é, sua própria vida, lá na cruz, para nos justificar dian-
te do Pai, perdoando-nos de todo pecado, para nos fazer filhos de Deus e
co-herdeiros dele. Vejamos o que a Bíblia ensina sobre essas duas doutrinas.
1. O ensino bíblico sobre a justificação: De que maneira o ser humano,
pecador e cheio de falhas, pode ser aceito na presença de Deus, que é um
ser infinitamente santo e perfeitamente justo? A única forma de o pecador
indigno e indesculpável ser aceito diante daquele que não admite o erro é
ser purificado e livre dos seus pecados. Mas como isso é possível? Através
do perdão ilimitado da parte Deus, ministrado sobre a vida do pecador que
foi regenerado. A esse perdão, damos o nome de justificação. Esse é o ato de
Deus declarar que, aos seus olhos, os pecadores são justos.2 Ele nos declara
inocentes e cumpridores daquilo que a lei exige. Para facilitar o entendi-
mento, é preciso considerar alguns pontos importantes:
O causador da justificação: Os seres humanos padecem de dois graves
problemas decorrentes do pecado e da queda. O primeiro é a natureza peca-
minosa herdada de Adão, que faz com que já nasçamos escravos do pecado.
Essa questão é resolvida pela regeneração e pela conversão, que possibilitam
ao pecador experimentar o novo nascimento. Contudo, há outro problema
a ser resolvido: a culpa pelo pecado e sua automática condenação (cf. Rm
3:23, 5:12, 6:23). Tal problema é solucionado através da justificação, pela
qual o pecador é perdoado e declarado justo.
Mas quem justifica o pecador? Teria ele condições, por si mesmo, de
se declarar inocente diante do tribunal de Deus? Certamente, não, pois,
conforme diz o profeta Isaías, todos nós somos como o imundo e todas as nos-
sas justiças, como trapo da imundícia (Is 64:6). De acordo com o ensino do

1. Wiersbe (2006c:923).
2. Erickson (1997:408).

78 | Estudo 7 - Justificação e adoção


apóstolo Paulo, é Deus quem justifica (Rm 8:33); ele é justo e o justificador
daquele que tem fé em Jesus (Rm 3:26). A justificação não é um ato humano,
mas algo que provém de Deus. Ele é o arquiteto, o causador e o executor da
justificação. O réu (pecador) está diante dele, o justo juiz, e tem tudo para
ser condenado; porém, ao contrário do que se espera, o réu é absolvido.
O mediador da justificação: Como pode Deus declarar inocente alguém
que é culpado, sem cometer uma injustiça? É aqui que entra em cena a obra
feita por Cristo no Calvário, como o mediador da justificação. Diz a Bíblia
que o salário do pecado é morte (Rm 6:23), e, pelo fato de o Senhor ser justo,
todo ser humano deveria receber a condenação prevista. No entanto, Deus
também é amor. Assim diz sua palavra: Deus amou ao mundo de tal maneira
que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha
a vida eterna. E continua dizendo que ele enviou o seu Filho, não para que
julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele ( Jo 3:16-17).
A Bíblia é clara em afirmar que, se há pecado, deve haver morte. Esse
é o preço, pois, sem derramamento de sangue, não há remissão de pecados (Hb
9:22). Por isso, Jesus Cristo, o justo, morreu no lugar dos injustos. Na cruz,
houve uma troca de papéis: Ele morreu a nossa morte para vivermos a sua
vida. Ele, voluntariamente, cumpriu a condenação ou a pena que era nossa.
Deste modo, a justificação é o ato de o Pai declarar, com base na morte
substitutiva de Jesus, que todo pecador que aceita o Filho por salvador tam-
bém resolve, por meio dele, todas as pendências com a justiça divina.
O favorecido da justificação: Quem precisa de uma intervenção tão ma-
ravilhosa assim é aquele que não tem outra saída e que já está condenado.
Nesse sentido, certa vez falou aquele que nos salvou: Os sãos não precisam de
médico, mas, sim, os doentes (...). Misericórdia quero e não sacrifício; pois eu não
vim chamar justos, mas pecadores ao arrependimento (Mt 9:12-13). Logo, o
alcançado e favorecido pela justificação é aquele que se reconhece indigno e
pecador. É aquele que se vê espiritualmente doente, ou pior, espiritualmente
morto e que necessita da ajuda e do remédio de Cristo.
Precisamos entender que a justificação é um ato da graça, ou seja, é
presente que não merecemos. Somos incapazes de atender as expectativas
de Deus, quanto à obediência de sua lei, pois, como disse Paulo, é evidente
que, pela lei, ninguém é justificado diante de Deus (Gl 3:11). Somos miseráveis
e pecadores. A única saída é esta: Assim como uma só transgressão resultou na
condenação de todos os homens, assim também um só ato de justiça resultou na

O Doutrinal | 79
justificação que traz vida a todos os homens (Rm 5:18). Jesus cumpriu a lei.
Ele foi justo e sua justiça nos foi imputada, ou seja, tudo o que Cristo fez de
bom e correto, aqui na terra, é transferido ao pecador que crê nele. Portanto,
recebemos a justificação, não pelos nossos esforços, mas pela nossa fé.
A natureza da justificação: Diante do que foi exposto, até aqui, podemos
identificar algumas características essenciais dessa doutrina cristã: (1) A jus-
tificação é um ato instantâneo, não um processo. Quando o pecador se rende
a Cristo, automaticamente é justificado diante de Deus. (2) A justificação
é um ato forense, isto é, está relacionada a um processo legal, como ocorre
nos tribunais. Nesse caso, somos os réus e Deus é o juiz. Quando ele nos
justifica, está nos declarando justos e inocentes. Através de Cristo, vamos,
pela fé, diante do Pai para ouvir o veredicto, e ele nos diz: O réu é inocente.
Ainda há duas características básicas a serem consideradas: (3) A justi-
ficação é um ato gracioso, pois é um presente completamente imerecido, não
uma conquista; é uma dádiva, não uma aquisição.3 Somos justificados, não
porque sejamos bons, mas porque Deus é bondoso. Embora a evidência de
que fomos justificados sejam as obras, não somos justificados por elas, mas
pela fé em Cristo (Rm 3:20, 11:6; Tt 3:4-7). (4) A justificação é um ato pode-
roso, pois quem a executou foi o próprio Deus, de acordo com as palavras de
Paulo: Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus
(...). Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os
justifica. Quem os condenará? (Rm 8:1, 33-34).
2. O ensino bíblico sobre a adoção: Aprendemos que a justificação é
uma bênção que revela a bondade e a misericórdia de Deus; a adoção, no
entanto, vai além: é uma dádiva ainda mais graciosa. Ainda que um juiz
humano venha a declarar um indivíduo inocente, não irá adotá-lo como
filho ou conceder-lhe os privilégios que um familiar seu possui. Mas é exa-
tamente isso que Deus faz conosco: além de nos declarar inocentes, ele
nos recebe em sua família, adotando-nos por seus filhos. Vejamos alguns
aspectos importantes dessa benção recebida pelos salvos.
A necessidade da adoção: A adoção faz-se necessária devido ao distan-
ciamento que há entre os seres humanos e Deus.4 Sabemos que, antes da
queda, Adão e Eva mantinham um relacionamento muito próximo com o

3. Erickson (1997:411).
4. Ferreira & Myatt (2007:817).

80 | Estudo 7 - Justificação e adoção


criador: eram amigos. Mas esse relacionamento foi rompido pelo pecado
e aquele casal tornou-se inimigo de Deus. A partir de então, todos os seus
descendentes (inclusive nós) nasceram destituídos da filiação divina. Por
causa do pecado, os seres humanos deixaram de ser filhos e passaram a ser
apenas criaturas de Deus. Com natureza pecaminosa, tornaram-se filhos do
diabo ( Jo 8:44), filhos da desobediência (Ef 2:2) e filhos da ira (Ef 2:3).
Contudo, a Bíblia diz que tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz
com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela
fé a esta graça (Rm 5:1-2). O sacrifício de Cristo restaura o relacionamento
de Deus com os homens, e isso se consolida na adoção. Em pecado, não po-
demos ser recebidos na família do Deus santo, mas, ao sermos justificados,
podemos ser adotados por ele. Assim, o cristão tem o privilégio de olhar
para Deus não apenas como o juiz que o justificou, mas como o Pai amoro-
so com quem se reconciliou e com quem pode se relacionar.
A realização da adoção: Quem realiza a adoção? Essa bênção é uma ati-
tude do Deus Triúno. Mesmo antes de nos converter, por causa do seu amor
por nós, Deus [o Pai] já havia resolvido que nos tornaria seus filhos, por meio
de Jesus Cristo, pois este era o seu deleite e a sua vontade (Ef 1:4-5 – NTLH).
Mas, como indica esse texto, a adoção é realizada com base na obra de Jesus
Cristo, que regenera e justifica o pecador e lhe permite achegar-se ao Pai.
Sobre isso, João escreveu: Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de
serem feitos filhos de Deus ( Jo 1:12).
Contudo, ser justificado por Cristo não é o mesmo que ser adotado pelo
Pai. Significa apenas que o “caminho” foi aberto para que essa vontade do Pai
seja realizada. Embora a justificação e a adoção sejam obras simultâneas, são,
também, distintas entre si. A justificação não faz que, automaticamente, seja-
mos filhos de Deus. A adoção, por sua vez, é uma ação adicional do Espírito
Santo, por meio da qual os que foram justificados adentram num relacio-
namento filial com Deus5 (Rm 8:15). De fato, a adoção é obra conjunta da
triunidade divina. O autor da adoção é o próprio Deus. Ele é quem nos adota.
O significado da adoção: O que significa ser adotado por alguém? Há
duas formas de entendermos esse ato. Em primeiro lugar, adoção é um ato
amoroso. No sentido mais comum, adotar significa que uma pessoa que per-
tence a uma família é desejada por outra e inserida nesta. É o que muitos

5. Idem.

O Doutrinal | 81
casais fazem, adotando crianças órfãs ou abandonadas pelos pais biológicos.
Sendo assim, a adoção é um ato de amor e compaixão. Com relação a nós,
Deus não é diferente, pois a Bíblia nos diz: Vede que grande amor nos tem
concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus (1 Jo 3:1).
Em segundo lugar, adoção é um ato legal. Quando Paulo trata da adoção
de filhos, em Gl 4:5, está se referindo a um procedimento da lei romana
naquela época. De acordo com a lei, numa certa ocasião, o adotado era
formalmente apresentado e reconhecido, diante da sociedade, e passava a
desfrutar de todos os privilégios de filho legítimo; tornava-se herdeiro de
quem o adotara.6 Leia o que disse Paulo: Ora, se somos filhos, somos também
herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo (Rm 8:17). Adoção é um
ato por meio do qual Deus nos faz membros da sua família.7
O resultado da adoção: O entendimento sobre a adoção fica mais claro
quando observamos as implicações e os benefícios produzidos na vida do
crente em Cristo. De fato, as bênçãos advindas da adoção são maravilhosas
e incontáveis; podemos destacar algumas:8 (1) O perdão do Pai: na adoção,
além de sermos reconciliados com Deus, podemos, a qualquer momento,
recorrer a ele e dizer: Pai (...) perdoa-nos os nossos pecados (Lc 11:2,4). Nele,
temos perdão contínuo. (2) A liberdade do Pai: os filhos de Deus não são
escravos que obedecem por obrigação: são pessoas livres que obedecem por
amor e gratidão ao Pai. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para vi-
verdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no
qual clamamos: Aba, Pai (Rm 8:15).
Outros dois resultados da adoção que podemos observar são: (3) O
cuidado do Pai: sendo herdeiro, o cristão tem, à sua disposição, os infindos
recursos do Pai (Fp 4:19). Nas palavras de Jesus, o Pai, que cuida das aves
do céu e dos lírios do campo, cuida muito mais de seus filhos (Mt 6:25-30).
(4) A correção do Pai: com o objetivo de nos tornar santos como ele é, Deus
nos corrige, e isso é prova de seu amor por nós (Hb 12:5-11), pois ele se
preocupa conosco e quer que sejamos pessoas melhores.
Junto aos direitos, também temos os deveres de filhos, e um deles é
o de honrar o Pai (Ml 1:6). Outro dever é apresentado por Paulo: Sejam

6. Richards (2008:406).
7. Grudem (1999:615).
8. Erickson (1997:414).

82 | Estudo 7 - Justificação e adoção


imitadores de Deus, como filhos amados (...). Vivam como filhos da luz! (Ef
5:1, 8). Pedro, por sua vez, mostra também outro dever dos filhos de
Deus: Como filhos obedientes, não se deixem amoldar pelos maus desejos de
outrora, quando viviam na ignorância (1 Pd 1:14). É imenso o amor de
Deus por nós. Ele nos redimiu através da justificação e restaurou nossa
comunhão com ele, fazendo-nos seus filhos, através da adoção. Corres-
pondamos a esse amor!

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. O fato de sermos justificados e adotados por Deus motiva-nos a admirar a


sua bondade.
O criminoso cumpre sua pena e quita o seu débito junto à sociedade;
contudo, nem por isso passa a ser visto com bons olhos. Ao contrário,
sempre haverá suspeitas e desconfianças. Livrar-se do rótulo de ex-pre-
sidiário é algo muito difícil. Mas, com Deus, é totalmente diferente. Sem
que mereçamos, ele cumpre a pena em nosso lugar e nos absolve de nossos
crimes. Tal ato já seria prova suficiente de sua bondade; todavia, ele vai
além: adota-nos como filhos. Temos o privilégio de chamá-lo de Pai, e
ele nos concede bênçãos sem medida. Ele foi admiravelmente amável e
gracioso conosco. Devemos, também, ser prontos a perdoar e a olhar os
outros com compaixão.

2. O fato de sermos justificados e adotados por Deus motiva-nos a cultivar a


sua amizade.
Lá no Éden, o ser humano era amigo de Deus. Havia paz entre ambos.
Todos os dias, de tardezinha, Deus vinha andar e conversar com Adão e Eva
(Gn 3:8). Mas eles se rebelaram contra Deuse se tornaram seus inimigos.
A justificação e a adoção foram os meios para que essa inimizade fosse
desfeita. Diz a Bíblia: Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus,
por nosso Senhor Jesus Cristo (Rm 5:1). O Pai fez de tudo para restabelecer a
comunhão conosco. Por amor, foi capaz de entregar seu próprio Filho para
morrer por nós ( Jo 3:16). Não despreze a amizade de Deus, mas cultive-a,
pela oração e pela leitura de sua palavra. Não permita que o pecado cause
separação entre você e ele.

O Doutrinal | 83
3. O fato de sermos justificados e adotados por Deus motiva-nos a praticar a
sua vontade.
Ao nos justificar e nos adotar, o que o amoroso Pai espera de nós? O seu
desejo é que correspondamos a seu amor, vivendo de maneira santa e cor-
reta. Tudo que Deus fez por nós foi feito sem merecimento algum de nossa
parte. A justificação e a adoção é fruto da graça, é resultado de sua imensa
compaixão e prova do afeto dele por nós. Portanto, sejamos agradecidos,
agindo como filhos da luz (Ef 5:8). Obedeçamos aos seus mandamentos
e vivamos de maneira que nossa vida glorifique e honre sempre o nome
de nosso Pai (Mt 5:13-16). Fazer a vontade dele é a melhor maneira de
demonstrarmos gratidão.

Conclusão
O presente estudo ajudou-nos a entender um pouco mais sobre o
processo da salvação. Conhecemos duas preciosas doutrinas da palavra de
Deus: a justificação e a adoção. O ato de justificação consiste em Deus de-
clarar que somos inocentes e que fomos absolvidos da culpa do pecado, com
base no sacrifício substitutivo e remidor de Jesus Cristo. Já a adoção é a ação
de o Senhor nos aceitar em sua família, adotando-nos como seus filhos. A
adoção acontece por causa da justificação, pois, em pecado, ninguém pode
ser aceito diante daquele que é Santo, muito menos tornar-se seu filho.
Deste modo, quando o pecador é regenerado e convertido, é também
declarado justo, e, assim, torna-se apto a entrar na família de Deus. É quan-
do acontece uma ação adicional do Espírito Santo, que faz o justificado
entrar num relacionamento filial com o Pai. Nós, crentes em Cristo, somos
filhos de Deus e devemos agir e viver de acordo com essa condição. Es-
tudaremos sobre isso mais profundamente, no próximo estudo, que tem
por tema: “Santificação e perseverança”. Veremos que precisamos ser santos
conforme nosso Pai é santo, tendo sempre em mente que Jesus vem sem
demora e que precisamos conservar o que temos para que ninguém tome a
nossa coroa (Ap 3:11).

84 | Estudo 7 - Justificação e adoção


III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Romanos 5:1


A. Segundo esse texto, o que podemos ter com Deus, como resultado
direto da justificação por meio de nosso Senhor Jesus Cristo?
B. O que é justificação?

02. Leia Romanos 8:23 e 3:26


A. Quem justifica o pecador?
B. Quem é o mediador desta justificação e por quê?

03. Leia Romanos 3:23, 6:23 e Mateus 9:12-13


A. Quem precisa de justificação?
B. O que Jesus quis dizer com a declaração: “Eu não vim chamar
os justos”?

04. Leia Romanos 5:18 e Gálatas 2:15-16


A. Existe algum ato de justiça de nossa parte que nos torna aptos a
receber a justificação por nossos próprios esforços?
B. O que esses textos dizem sobre a natureza da justificação? Podemos
afirmar que ela acontece pela graça?

05. Leia Efésios 2:1-3


A. De acordo com esse texto, qual a condição daqueles que não têm o
Senhor Jesus, que ainda não creram no evangelho?
B. O que é adoção? Você considera a adoção necessária?

06. Leia Efésios 1:4-5; João 1:12


A. Com base nesses textos bíblicos, quem planejou a adoção dos seres
humanos e com base em quê?
B. O que devemos fazer para sermos adotados por Deus?

O Doutrinal | 85
07. Leia 1 João 3:1; Romanos 8:17
A. O fato de sermos adotados por Deus é mais uma prova do seu amor
por nós? A adoção é um ato amoroso?
B. Quais são os benefícios decorrentes da adoção?

Anotações

86 | Estudo 7 - Justificação e adoção


Estudo 8

Santificação e perseverança

Procurai viver em paz com todos e em santificação,


sem a qual ninguém verá o Senhor. (Hb 12:14)

Introdução
A Bíblia Sagrada, no livro de Hebreus, alerta: Como escaparemos nós, se
negligenciarmos tão grande salvação? (2:3a). A doutrina da salvação é extre-
mamente importante e deve ser entendida por nós. Não podemos negligen-
ciá-la, mas precisamos nos preocupar com tal assunto (Hb 2:1). Por saber
disso, dedicamos três estudos deste manual para tratar deste nobre tema.
Nos dois últimos, analisamos os primeiros passos do processo de salvação:
a regeneração, a conversão, a justificação e a adoção. No presente estudo,
consideraremos mais dois: A santificação e a perseverança.
Sobre estes dois assuntos, a Bíblia é clara em mostrar como ambos os
passos são importantes no processo de salvação. Sobre o primeiro, a santifi-
cação, a Escritura diz o seguinte: Procurai viver em paz com todos e em san-
tificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12:14 – grifo nosso). Sobre
o segundo, a perseverança, a Bíblia mostra que: ... quem perseverar até o fim
será salvo (Mt 24:13 – grifo nosso). Sem a santificação e a perseverança, o de-
senvolvimento da nossa salvação fica comprometido. Veja quão importantes
são estes dois passos. Estudemos essas doutrinas de forma mais detalhada.

O Doutrinal | 87
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Vamos recapitular o que aprendemos nos estudos anteriores. Vários


atos ocorrem, desde o começo da nossa vida cristã: a regeneração (por in-
termédio da qual Deus nos concede uma nova vida), a conversão (quando
nos arrependemos dos nossos pecados e nos voltamos para Cristo, crendo
nele como Salvador e submetendo-nos a ele como Senhor), a justificação
(por meio da qual somos declarados justos e ganhamos o direito legal de
estarmos diante de Deus) e a adoção (pela qual Deus nos torna membros de
sua família). Vejamos, agora, mais dois atos que também fazem parte deste
processo: a santificação e a perseverança.
1. O ensino bíblico sobre a santificação: Nesta parte do nosso estudo,
trataremos alguns aspectos sobre a doutrina bíblica da santificação: a exi-
gência, a natureza, o começo, a parceria, o processo, a amplitude e a pleni-
tude da santificação. Comecemos com a exigência. Viver em santidade, de
acordo com as Escrituras, não é uma opção pessoal que o crente deve fa-
zer, mas uma exigência divina. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento
mostram essa verdade. Sereis para mim santos, porque eu, o Senhor sou santo, e
vos separei (...) para serdes meus (Lv 20:26), diz o Antigo Testamento. Já no
Novo Testamento, lemos: Como é santo aquele que vos chamou, sede também
santos em toda a vossa maneira de viver (1 Pd 1:15).
O que é santificação? Quanto a sua natureza, podemos defini-la da
seguinte maneira: santificação é a obra que Deus desenvolve em nós, dia-a-
-dia, que faz com que nos afastemos cada vez mais do pecado e nos apro-
ximemos cada vez mais do caráter de Cristo.1 A Bíblia pede que os salvos
em Cristo se afastem de sua própria natureza pecaminosa (cf. Rm 6:11-12;
2 Co 7:1; Ef 4:22, 25-32; Cl 3:5-9; 1 Ts 4:3,7). Quanto mais fazemos isso,
mais o Espírito Santo nos molda à imagem exata de Jesus Cristo, porque
aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à
imagem de seu Filho (Rm 8:29; cf. Fp 3:21; 1 Jo 3:2).
Outro ensino bíblico sobre a santificação pessoal, igualmente impor-
tante, é o que diz respeito ao seu começo. Segundo a palavra de Deus, a san-
tificação começa com a regeneração; evento pelo qual, acontece em nossa

1. Grudem (1999:622).

88 | Estudo 8 - Santificação e perseverança


vida uma mudança moral significativa (Mais informações, cf. Estudo 6). A
carta de Paulo a Tito deixa isso bem claro, quando trata do lavar regenerador
e renovador do Espírito Santo (Tt 3:5 – grifo nosso). De igual modo, em 1
João 3:9, lemos que, uma vez nascidos de novo, não podemos prosseguir pe-
cando continuamente, como um modelo de vida. O poder que a nova vida
exerce em nós não nos deixa viver assim, porque se alguém está em Cristo é
nova criação; as coisas velhas já passaram (2 Co 5:17).
Essa mudança, chamada regeneração, define o começo da santificação.
Depois, o processo de santificação se inicia. A santificação pessoal é um pro-
cesso contínuo, que durará por toda a nossa vida (cf. 2 Co 7:1; Fp 2:12). Não
acontece de uma vez por todas. Na regeneração, começamos a caminhada,
mas ainda não estamos totalmente prontos: há um longo caminho a percor-
rer, até que cheguemos à medida da estatura da plenitude de Cristo (Ef 4:13).
Embora não sejamos mais escravos do pecado (Rm 6:18), este insiste em
permanecer em nós. De fato, a Bíblia é muito direta, quando mostra que,
apesar de convertidos a Cristo, ainda pecamos (1 Jo 1:8).
Todavia, o desejo de nosso Deus é que vençamos o pecado, a cada dia,
que caminhemos para a perfeição e, cada dia, sejamos mais santos. A boa
notícia é que não estamos sozinhos nessa caminhada. A Bíblia ensina que
há uma parceria entre Deus e o crente, no processo de santificação pessoal.
Como isso funciona na prática? Com relação à participação divina, pode-
mos dizer que toda a triunidade está envolvida nesse processo, isto é, o Pai,
o Filho e o Espírito Santo trabalham para que sejamos mais santos em
nosso viver. O papel característico do Pai está relacionado ao fato de ele
nos disciplinar, como um pai amoroso que é, visando ao nosso crescimento:
Deus nos disciplina para o nosso bem, para sermos participantes da sua santidade
(Hb 12:10 cf. vv. 5-11).
O papel característico do Filho é, em primeiro lugar, que ele conquistou
a nossa santificação. Por isso, a Bíblia diz que ele se tornou nossa santificação
(1 Co 1:30). Em segundo lugar, Jesus é o nosso exemplo de como ter uma
vida santa (cf. Hb 12:2; 1 Pd 2:21; 1 Jo 2:6). Quanto ao papel do Espírito
Santo, é ele quem mantém a nossa santificação, atuando diretamente dentro
de nós, dando-nos maior santidade na vida (cf. Rm 8:14; 2 Ts 2:13; Gl 5:16-
18, 22).2 Mas, e quanto a nós, onde é que entramos nesse processo? É errado

2. Idem, pp.628-9

O Doutrinal | 89
pensar que qualquer esforço humano anularia a graça de Deus. Essa não é
a visão bíblica sobre a santificação pessoal.
Realmente, nunca conquistaremos a santidade por iniciativa ou esforço
nosso. Precisamos entender, quanto a isso, que não se trata de mérito hu-
mano, mas de uma resposta voluntária de cada crente com o que recebeu
gratuitamente de Deus. A palavra de Deus nos ensina que a nossa coopera-
ção na santificação pessoal inicia-se com uma atitude de aceitação de nossa
parte (cf. Rm 8:16, 10:8-11; Tg 1:21) e também implica obediência. Em
Efésios 2:10, somos ensinados da seguinte maneira: Porque somos feitura
sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que
andássemos nelas.
Além disso, a Bíblia ensina que devemos encorajar uns aos outros à
santidade, com palavras e atitudes (Rm 12:10-13; 1 Ts 5:14-18; Hb 10:24-
25; 1 Tm 4:11-12; 5:1-2). Isso significa que a santificação é pessoal, mas
não individual, pois precisamos uns dos outros para avançar nesse processo
(1 Co 12:12-27). A essa altura, cabe outra pergunta: Qual a abrangência da
santificação? A resposta é: todos os aspectos da vida do cristão. Observemos
o que diz a Escritura: E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo (1 Ts
5:23a – grifo nosso). A santificação afeta a pessoa como um todo: intelecto,
emoções, vontade, caráter e corpo físico. Como diz a Bíblia, em outra parte:
... em toda a vossa maneira de viver (1 Pe 1:15).
Tudo o que fazemos, falamos, sentimos ou pensamos deve ser alcança-
do pela santificação. O crente em Cristo deve ter santidade em sua maneira
de vestir-se, deve também alimentar-se de maneira santa: Portanto, quer co-
mais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus
(1 Co 10:31). Além disso, o cristão deve se portar em santidade, em todos
os lugares em que estiver. Não deve ser santo apenas no templo, na hora do
culto, mas também no trabalho, na faculdade, no lazer, no lar, no trânsito, na
Internet e assim por diante.
Quando se dará, então, a plenitude da santificação pessoal, ou quando
não precisaremos mais vivenciar esse processo? Devemos entender que
a santificação nunca será plena nesta vida. Tanto o Antigo (Pv 20:9; Ec
7:20) quanto o Novo Testamento (Tg 3:2; 1 Jo 1:8,10) são claros em
afirmar que não somos capazes de sermos moralmente perfeitos, aqui.
A plenitude da santificação acontecerá somente na volta de Cristo. Esse
precioso fim é conhecido também como glorificação. Nesse dia, finalmen-

90 | Estudo 8 - Santificação e perseverança


te, seremos inteiramente semelhantes a Cristo: ... ainda não se manifestou
o que haveremos de ser. Mas, devemos saber que, quando Cristo se manifestar,
seremos semelhantes a ele (1 Jo 3:2).
2. O ensino bíblico sobre a perseverança: A palavra de Deus diz: Por
isso é preciso que prestemos maior atenção ao que temos ouvido, para que jamais
nos desviemos (Hb 2:1 – NVI). A palavra “desviemos”, utilizada pelo autor
de Hebreus, era usada para descrever um rio que corria fora do curso; tam-
bém indicava algo que fugia da memória da pessoa ou um anel que escapava
do dedo. No texto em questão, tem o sentido de “achar-se no estado de
desvio”.3 Mas um cristão pode perder a salvação? Desviar-se? A salvação é
incondicional ou deve ser preservada? É isso que o ensino bíblico sobre a
preservação ou perseverança vai nos mostrar.
Comecemos com dois textos bíblicos que, em primeira instância, pa-
recem negar o fato de que devemos preservar a nossa salvação. O primeiro
deles diz: ... a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos
os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia ( Jo 6:39). Esta
afirmação foi dita por Jesus. Quando lido rapidamente, este texto parece
afirmar que os que foram dados pelo Pai ao Filho jamais se perderão, isto é,
todos os que realmente creram em Cristo permanecerão fiéis até fim. Mas
é isso que texto está dizendo? Observe atentamente a expressão: a vontade
de quem me enviou (grifo nosso).
Jesus está dizendo que a salvação de todos aqueles que lhe foram dados
é a vontade de Deus. Entenda bem que esta é a “vontade” de Deus. Em 1
Timóteo 2:4, lemos que Deus, nosso Salvador, deseja que todos os homens
sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade. Veja que isso é um
desejo de Deus, nosso Salvador, mas não significa, necessariamente, que
acontecerá; ou, porventura, todos os seres humanos que já existiram na face
da terra foram salvos? Todas as pessoas de todos os tempos conheceram a
verdade? Muito bem, mas você ainda pode questionar: Mas esta não é a
vontade de Deus para Jesus: ... que nenhum eu perca de todos os que me deu.
Se alguém se perder, isso não significaria que Jesus não estaria cum-
prindo a vontade do Pai? A resposta é: não! O fato de alguns se perderem,
mesmo sendo enviados por Deus, não quer dizer isso. Na parte que cabe
a Jesus, neste processo, ele fará de tudo para que todos sejam salvos. No

3. Rienecker & Rogers (1995:495).

O Doutrinal | 91
entanto, leiamos o que diz o versículo seguinte: De fato, a vontade de meu
Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna ( Jo 6:40 –
grifo nosso). Preste atenção nas palavras “vir” e “crer”, destacadas no texto.
Na língua original, os termos são theõron (ver) e pisteúon (crer). Estes dois
verbos estão em um tempo grego chamado “particípio presente”, que indica
uma ação continuada ou repetida.
Então, a ideia dos termos no versículo é: ... a vontade de meu Pai é que
todo homem que “continuar olhando” o Filho e “continuar crendo” nele, tenha
a vida eterna. Nós recebemos a salvação pela graça e escolhemos continuar
crendo ou não. Por causa do livre arbítrio – que é um fator determinan-
te nesse assunto –, as pessoas podem escolher se desviar. Deus não quer
que isso aconteça, e o Filho, através do Espírito, se empenha para que não
ocorra. Todavia, essa possibilidade existe. É possível que o desvio aconteça.
Ademais, se o ser humano não puder fazer esta escolha, infere-se que ele
não tem o direito de escolher. Nesse caso, não é, de fato, livre.
Outro texto que parece ensinar que, “uma vez salvo, sempre salvo”, é
João 10:27-28. Ali, lemos: As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conhe-
ço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as
arrebatará da minha mão (grifo nosso). Por causa desta afirmação, podemos
dizer que este texto está ensinando que uma pessoa que se rendeu a Cristo
está eternamente segura, independentemente do que faz? É óbvio que não.
Este versículo faz parte de uma resposta de Jesus aos seus opositores. O que
o texto está apresentando é uma preciosa promessa de que “nada exterior ao
homem pode destruí-lo, enquanto ele estiver depositando sua fé em Deus”,4
ou seja, ninguém pode arrebatar uma pessoa da mão de Deus, a não ser que
ela mesma escolha fazer isso.
Agora, quanto aos textos que ensinam que o salvo precisa preservar a
sua salvação, podemos citar vários deles. De início, pensemos no que Jesus
disse a esse respeito. Ele alertou os seus discípulos, quanto ao perigo de
serem desviados (Mt 24:3-14). Será que ele os alertaria, se não houvesse a
possibilidade de isso acontecer? Além do mais, em algumas ocasiões, Jesus
enfatizou a necessidade de o crente permanecer fiel até o fim (cf. Mt 10:22;
24:13; Jo 8:31-32). “Mas quem perseverar”, dizia Jesus. Por que ele usaria

4. Earle & Mayfield (2006:100).

92 | Estudo 8 - Santificação e perseverança


esta expressão, se não fosse possível que alguém que creu nele não perseve-
re? Isso é uma prova evidente de que isso pode ocorrer.
Jesus disse à igreja de Filadélfia: ... conserva o que tens, para que ninguém
tome a tua coroa (Ap 3:11). Este é um claro alerta quanto à responsabilidade
de um esforço contínuo para alcançar a coroa da vida (Ap 2:10). Paulo tam-
bém mostra que é preciso permanecer na fé: ... agora, porém, vos reconciliou no
corpo da sua carne, mediante a sua morte, para apresentar-vos perante ele santos,
inculpáveis e irrepreensíveis, se é que permaneceis na fé (Cl 1:22-23 – grifo
nosso). Além de Paulo, no livro de Hebreus, existem dois alertas que não
fazem sentido, se o crente não puder realmente se desviar (cf. 2:1; 3:12-14).
Leia o que diz a Bíblia no livro de Hebreus: Desejamos, porém, continue
cada um de vós mostrando, até ao fim, a mesma diligência para a plena certeza
da esperança (Hb 6:11). Esse encorajamento foi feito, porque, nesse mesmo
capítulo, existe outro texto que diz ser possível ao crente apostatar-se e per-
der a salvação: É impossível, pois, que aqueles que uma vez foram iluminados,
e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo (...), e
caíram, sim, é impossível outra vez renová-los para arrependimento (Hb 6:4-6).
A palavra “caíram” não se refere a um simples tropeço de um cristão fraco,
mas à apostasia, a uma “rejeição deliberada de Jesus Cristo”.5 Cristãos rege-
nerados também continuam correndo o risco de se apostatarem de maneira
final e irrevogável6 (Hb 10:26-27).
Precisamos perseverar: ... corramos com perseverança a carreira especial que
Deus pôs diante de nós (Hb 12:1 – BV). Contudo, dizer que precisamos pre-
servar a nossa salvação não é defender salvação por meio das obras. É preciso
um pouco de cuidado nesta parte. Como aprendemos, quando estudamos
sobre justificação, a salvação é recebida gratuitamente, pela fé. Depois disso,
entramos no processo de santificação. Nesse processo, o desejo de nos afas-
tarmos do pecado e de nos parecermos cada vez mais com Cristo, apesar de
ser uma exigência – afinal, sem santificação ninguém verá o Senhor –, não deve
ser encarado como uma imposição penosa, mas como uma resposta de gra-
tidão e amor pela salvação recebida gratuitamente. Por amor, e só por amor,
devemos perseverar até o fim.

5. Taylor et al. (2006:57).


6. Idem, p. 58.

O Doutrinal | 93
II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Insistamos na santificação e na perseverança, pois temos, diante de nós, um


prêmio durável.
Em ambas as corridas – tanto na terrena quanto na espiritual –, o prê-
mio é entregue no término da corrida. Aqui, encerram-se as semelhanças
entre as duas. Na primeira, apenas um pode ser coroado como o grande
campeão (1 Co 9:24). Na segunda, todos os que amam a vinda de Cristo
serão premiados (2 Tm 4:8; Tg 1:12). Na corrida terrena, o prêmio é pere-
cível e corruptível, mas, na celestial, o prêmio é imperecível e incorruptível
(1 Co 9:25; 1 Pd 5:4). Diante disso, vale muito a pena persistir na santifi-
cação pessoal. Aquele que for fiel até o fim, receberá do Senhor, a coroa da
vida (Ap 2:10).

2. Insistamos na santificação e na perseverança, pois temos, diante de nós,


uma pátria celestial.
Nós não somos deste mundo. Nele, somos apenas peregrinos e estran-
geiros (Hb 11:13; 1 Pd 2:11). Como disse Paulo: A nossa pátria está nos céus
(Fp 3:20). Nessa pátria, temos os nossos direitos assegurados, nossos tesou-
ros protegidos, nossa moradia preparada. Insista, pois, em sua santificação.
Persevere até o final dos seus dias aqui nesta terra. Lembre: Temos da parte
de Deus um edifício, uma casa eterna nos céus, [que] não [é] construída por mãos
humanas (2 Co 5:1). Há uma pátria muito melhor do que esta, nos céus! De
lá, também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo (Fp 3:20b), para nos
libertar de nossos inimigos.

3. Insistamos na santificação e na preservação, pois temos, diante de nós, um


corpo glorioso.
Por estar exposto e sujeito à maldição do pecado, nosso corpo é mar-
cado por fragilidade, deformidade, enfermidade e mortalidade. Mas, na sua
vinda, o Senhor transformará o nosso corpo de humilhação, para ser igual ao
corpo da sua glória, segundo a eficácia do poder que ele tem de até subordinar a si
todas as coisas (Fp 3:21). Essa transformação não será gradativa, nem pro-
gressiva ou evolutiva. Será repentina e definitiva. Então, seremos conforme
a imagem do seu Filho (Rm 8:29). Portanto, todo o que tem nele essa esperança
purifica a si mesmo, assim como ele é puro (1 Jo 3:3).

94 | Estudo 8 - Santificação e perseverança


Conclusão
Estamos chegando ao fim de uma sequência de três estudos sobre as
etapas que envolvem o processo de salvação. Esperamos, ao término destes
estudos, você tenha compreendido melhor o plano de salvação e cada um
dos passos que o envolvem. No início do presente estudo, recapitulamos
os dois anteriores, mostrando que vários atos ocorrem, desde o começo da
nossa vida cristã: a regeneração, a conversão, a justificação e a adoção. Con-
forme o que estudamos, a santificação e a perseverança são outras duas
etapas que sucedem estas quatro primeiras. Mas elas não são as últimas.
Depois de todos estes atos, ocorrerá o último e final: a glorificação. Esta
se dará por ocasião do retorno glorioso do Senhor Jesus Cristo!.7 Neste dia,
os que morreram e Cristo ressuscitarão, e nós, os que estivermos vivos, seremos
transformados (cf. 1 Ts 4:15-17). Até lá, sejamos santos e preservemos a nos-
sa salvação, com temor e tremor! No próximo estudo, começaremos a tratar
sobre a atuação do Espírito Santo na vida do cristão. Veremos o que a Bí-
blia ensina sobre o batismo no Espírito Santo. Ele está disponível a todos?
Devemos procurá-lo? Estude o próximo capítulo e descubra essas respostas.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Romanos 8:29 ; Hebreus 12:14; Levítico 20:26 e 1 Pedro 1:15-16
A. O que é santificação?
B. De acordo com os textos lidos, viver em santidade é opcional ou é
ordem de Deus, que todo cristão deve cumprir?

02. Leia 1 João 3:9; 2 Coríntios 5:17, 7:1, e Filipenses 2:12


A. Quando ocorre o início da santificação na vida do cristão?
B. O que significa dizer que a santificação é um “processo”? Como esse
processo se desenvolve e quando terminará?

7. Trataremos sobre esse assunto com mais detalhes no estudo 25.

O Doutrinal | 95
03. Leia 1 Pedro 1:14-15 e 1 Tessalonicenses 5:23
A. Com base nos textos citados, comente a parceria que há entre Deus e
o cristão, no processo da santificação pessoal. De que maneira Deus
age em nossa santificação? Qual é a nossa parte?
B. Q uais os aspectos de nossa vida que a santificação abrange? Cite
exemplos práticos sobre a santidade pessoal na vida do cristão?

04. Leia 1 João 1:8,10; 3:2 e 1 Coríntios 15:51-54


A. É possível ser totalmente santo, nesta terra corrompida? Existe
alguém que não cometa nenhum pecado?
B. Quando ocorrerá plenitude da santificação pessoal?

05. Leia Mateus 24:13 e Hebreus 2:1


A. O que é perseverança?
B. Um cristão pode perder a salvação?

06. Leia João 6:39-40, 10:27-28


A. Esses textos estão ensinando que o cristão não pode perder a
salvação?
B. Com base nesses textos, quais as condições que levam uma pessoa a
não perseverar na fé e perder a salvação?

07. Leia Apocalipse 2:10, 3:11 e Hebreus 6:4-6


A. De que maneira esses textos provam que é possível o cristão cair na
fé e abandonar a carreira cristã?
B. Q ual é o alerta que Jesus traz a sua igreja sobre a perseverança?

Falta a página de
anotações

96 | Estudo 8 - Santificação e perseverança


Estudo 9

O batismo no
Espírito Santo

Eu vos batizo com água, ele, porém, vos


batizará com o Espírito Santo. (Mc 1:8)

Introdução
No estudo anterior, aprendemos que, sem a santificação, ninguém verá o
Senhor (Hb 12:14). Devemos ser santos, em todo o nosso procedimento (1 Pd
1:15). Vimos, também, ao estudar sobre a perseverança, que somente aquele
que perseverar até o fim será salvo (Mt 24:13). No presente estudo, vamos
tratar do tema: “O Batismo no Espírito Santo”. Iniciamos afirmando que,
com base na Bíblia Sagrada, o Espírito Santo habita dentro de cada crente.
No Antigo Testamento, Ezequiel profetizou sobre essa majestosa verdade:
Também porei o meu Espírito dentro de vós e farei com que andeis nos meus
estatutos (Ez 36:27).
No Novo Testamento, Paulo deu testemunho sobre essa magnífica rea-
lidade: Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita
em vós, o qual tendes da parte de Deus (1 Co 6:19). No entanto, o Batismo
no Espírito Santo, conforme acreditamos, é uma obra adicional do já pre-
sente Espírito Santo. Essa sublime experiência ocorreu, pela primeira vez,
no dia de Pentecostes (At 2). Jerusalém estava repleta de pessoas de todas
as partes do mundo. Muitas dessas milhares de pessoas foram testemunhas
desse evento, que, desde então, continua acontecendo em todos os cantos do
mundo. Vejamos o que a Bíblia tem a nos dizer sobre este assunto.

O Doutrinal | 97
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

O Batismo no Espírito Santo é um dos assuntos mais belos da Bíblia


Sagrada. Por conta disso, tem despertado grande interesse na atualidade.
Essa maravilhosa e extraordinária experiência espiritual é uma das muitas e
variadas promessas contidas nas Escrituras. Infelizmente, tem sido enten-
dida de forma distorcida, por muitos. Por essa razão, neste estudo, vamos
conhecer ou relembrar o que diz a Bíblia, nossa única regra de doutrina e
de prática, sobre a promessa, a natureza, o executor, a concessão, a evidência
e o propósito do batismo no Espírito Santo.
1. A promessa do batismo no Espírito Santo: Em toda a Bíblia, encon-
tramos um número considerável de referências à promessa do Batismo no
Espírito Santo. Analise e veja: 1) Ela foi anunciada no Antigo Testamento. Os
profetas falaram sobre ela: Isaías (cf. Is 32:15; 44:3); Ezequiel (cf. Ez 39:29);
Joel ( Jl 2:28-29). 2) Ela foi confirmada no Novo Testamento. João Batista (cf.
Mt 3:11; Mc 1:8; Lc 3:16; Jo 1:33) e Jesus a confirmaram (Lc 24:49; At
1:4-8). A promessa é real. Na Bíblia, há duas considerações importantes e
fundamentais sobre ela: sua origem e sua extensão.
Consideremos, em primeiro lugar, a origem da promessa. Na conversa de
Jesus com seus discípulos, antes de sua ascensão, ele ordenou que permane-
cessem em Jerusalém, até que recebessem a promessa do Pai (At 1:4). Essa
expressão “promessa do Pai” pode significar tanto a promessa que tem ori-
gem no Pai quanto a promessa dada pelo Pai. O derramamento do Espírito
Santo é uma promessa que procede do Pai. Depois que ela se cumpre, Pedro
também menciona sua origem: ... exaltado pela destra de Deus e tendo rece-
bido do Pai a promessa do Espírito Santo (At 2:33 – grifo nosso). Portanto, a
origem da promessa do batismo no Espírito Santo não é humana; é divina.
Consideremos, em segundo lugar, a extensão da promessa. Para quem é a
promessa? Na profecia de Joel, lemos: ... derramarei o meu Espírito sobre toda
a carne ( Jl 2:28-29). No Antigo Testamento, só algumas pessoas recebiam
o Espírito Santo (profetas, sacerdotes, reis e alguns artesãos); por isso, o
tema principal dessa profecia é inovador: Deus derramaria o seu Espírito
sobre todos. Pedro, fundamentando sua mensagem na profecia de Joel, dis-
se: Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão
longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar (At 2:39). A promessa não

98 | Estudo 9 - Batismo no Espírito Santo


pertence a um grupo seleto; está disponível a todos.
2. A natureza do batismo no Espírito Santo: Entre os cristãos, ainda
existe uma grande confusão doutrinária no que diz respeito à natureza do
batismo no Espírito Santo. O que é o batismo no Espírito? Há alguns que
afirmam que é o novo nascimento ou a regeneração. Entretanto, os discípulos
já eram convertidos, quando o receberam. Outros dizem que o batismo no
Espírito Santo é a santificação. O que também é um grande mal-entendido.
A santificação está ligada à separação do crente para Deus. É um processo di-
ário. Há, ainda, um terceiro grupo que pensa ser o batismo no Espírito Santo
uma recompensa pelos anos de serviço prestados à igreja. Estes se acham su-
periores ao demais, por tê-lo recebido. É incorreto e antibíblico pensar assim.
Mas, afinal, o que é o Batismo no Espírito Santo? O verbo “batizar”
significa, literalmente, “mergulhar” ou “submergir”. Por isso, quem é “bati-
zado no Espírito” passa por uma experiência espiritual intensa; sua vida é
submersa no poder do Espírito Santo. Como uma roupa que é imersa na
água, assim, a pessoa se acha cercada, coberta, cheia do poder e da presença
do Espírito Santo. Em Lucas 24:49, Jesus diz: ... mas ficai na cidade até que
do alto sejais revestidos de poder (Lc 24:49). A palavra “revestidos” significa,
literalmente, “entrar numa (roupa), vestir-se”. Desse modo, assim como as
pessoas são vestidas com roupas, os crentes que são batizados no Espírito
Santo são vestidos de poder sobrenatural.
No evangelho de Lucas, a promessa do batismo no Espírito Santo nun-
ca é entendida como uma realização humana, mas, sim, como um presente
divino, um dom do céu, uma dádiva divina; desce do alto, ou seja, de um lu-
gar ao qual os homens não têm acesso. O derramamento do Espírito Santo
é um fenômeno celestial. Na profecia de Joel 2:28, o sentido original da
palavra “derramarei” tem referência à comunicação de alguma coisa vinda
do céu, em grande quantidade. Desta forma, podemos dizer que o batismo
no Espírito Santo é uma experiência inesperada e sobrenatural. O Espírito
desce sobre o crente e lhe dá poder com propósitos específicos.
3. O executor do batismo no Espírito Santo: Na execução de um ba-
tismo, além do candidato que é batizado, há, também, aquele que o realiza,
o seu executor. Com relação ao batismo no Espírito Santo, não é diferente.
Os textos bíblicos que ensinam sobre essa promessa fornecem informações
seguras e confiáveis sobre o seu executor. Na profecia de João Batista, regis-
trada nos quatro evangelhos, quem é identificado como aquele que executa

O Doutrinal | 99
o batismo no Espírito Santo? Confira alguns textos bíblicos: Eu, em verda-
de, tenho-vos batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo
(Mc 1:8); Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é
mais poderoso do que eu (...) este vos batizará com o Espírito Santo e com fogo
(Lc 3:16; cf. Mt 3:11; Jo 1:33).
João Batista sabia que Jesus era aquele que viria para executar a pro-
messa do Pai. João batizou nas águas; seu superior batizaria no Espírito
Santo. Jesus também afirmou ser o executor da promessa, em Lucas 24:49.
É muito provável que este texto seja paralelo a Atos 1:4-5. Lucas terminou
o evangelho fazendo menção à conversa de Jesus com os discípulos, à mesa,
e iniciou o livro de Atos com essa mesma conversa. Observe, novamente,
o texto: Eu lhes envio a promessa de meu Pai; mas fiquem na cidade até serem
revestidos de poder do alto (Lc 24:49 – NVI).
Cristo assegurou aos seus discípulos: Eu lhes envio. O Pai é o doador da
promessa e Jesus, o batizador. Durante o seu discurso, no dia de pentecostes,
o apóstolo Pedro também demonstrou entender que Jesus era o executor
da promessa do batismo no Espírito Santo. Falando sobre Cristo, ele disse:
De sorte que, exaltado pela destra de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do
Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis (At 2:33). É o Cristo
exaltado que envia essa benção à terra. Tudo que foi visto e ouvido, no dia
de Pentecostes, veio do Cristo ascendido.
4. A concessão do batismo no Espírito Santo: Acabamos de estudar
sobre quem executa o batismo no Espírito Santo. Agora veremos de que
maneira ele acontece. Em Atos 2:1-4, encontramos registrado o cumpri-
mento da promessa do batismo no Espírito Santo. Neste relato, encontra-
mos claramente quatro preciosos e instrutivos ensinos sobre sua concessão.
Em primeiro lugar, a concessão é inesperada. O texto diz assim: Cumprindo-
-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e, de repente
veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda
a casa em que estavam assentados (grifo nosso). A expressão “de repente”
ensina que a concessão do batismo no Espírito Santo é repentina. Não há
como prever, nem marcar o dia, o mês ou o ano para que este aconteça.
Em segundo lugar, a concessão é abrangente. Na parte final do versículo 2,
lemos: ... e encheu toda a casa em que estavam assentados (grifo nosso). A ação
batizadora do Espírito Santo não é preconceituosa nem discriminatória.
O batismo no Espírito Santo não foi concedido somente aos doze, mas a

100 | Estudo 9 - Batismo no Espírito Santo


todos que estavam reunidos naquele Cenáculo. Em terceiro lugar, a conces-
são é espontânea. Na parte final do versículo 4, está escrito: ... e começaram a
falar em outras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem
(grifo nosso). A palavra “conforme”, neste texto, significa, literalmente: “jus-
tamente como” ou “exatamente como”.
Aqueles que foram batizados começaram a falar em línguas, justamente
como ou exatamente como o Espírito Santo lhes concedia que falassem. O
Espírito Santo veio e agiu justamente como quis, isto é, espontaneamente.
Em quarto e último lugar, a concessão é Cristocêntrica. Depois da concessão
do batismo no Espírito Santo, houve algumas reações como: discriminação
(v. 7); ceticismo (v. 12) e zombaria (v. 13). Pedro, então, levantou-se com os
outros apóstolos e tomou a palavra para corrigir o mal-entendido. Depois
de citar a profecia de Joel, passou a falar ousadamente sobre a crucificação, a
ressurreição e a glorificação de Jesus (At 2:22-24, 32-33). Veja que interes-
sante: quando o Espírito Santo age, Jesus aparece.
5. A evidência do batismo no Espírito Santo: Como uma pessoa pode
ter certeza de que foi batizada no Espírito Santo? O livro de Atos dos
Apóstolos registra alguns casos de pessoas que receberam o batismo no
Espírito Santo e descreve a evidência exterior e imediata que se seguiu.
Vejamos quatro exemplos: 1) Em Atos 2, no dia de Pentecostes, estavam
reunidas no cenáculo 120 pessoas, e, segundo a Bíblia, a verdadeira prova
de estas terem sido batizadas no Espírito Santo foi a manifestação inédita
e imediata do falar línguas desconhecidas: ... todos ficaram cheios do Espírito
Santo e começaram a falar noutras línguas (cf. At 2:3-4). 2) Em Atos 8, encon-
tramos outro texto que comprova que a evidência do batismo no Espírito
Santo é imediata (cf. At 8:17-18). Apesar de o texto não fazer menção às
línguas estranhas, nenhum estudante sério da Bíblia Sagrada questionará
que algo visível aconteceu, algo tão incomum que impressionou até Simão,
um ex-mágico. Não é errado presumir que ele os ouviu falar em línguas e
quis comprar a evidência com o seu dinheiro.
Seguindo com os exemplos bíblicos, temos ainda: 3) Na casa de Cor-
nélio, onde o Espírito foi derramado sobre os gentios, pela primeira vez, é
mencionado o falar em línguas estranhas (cf. At 10:44-46). Mais à frente,
Pedro vai dizer que o que aconteceu ali foi o batismo no Espírito Santo,
conforme anunciado por Jesus (cf. At 11:15-16). Logo, concluímos que lín-
guas estranhas são a evidência bíblica do batismo no Espírito Santo. 4) Em

O Doutrinal | 101
Atos 19:1-7, o apóstolo Paulo encontra um pequeno grupo de discípulos
que havia sido batizado segundo o batismo de João. Todavia, a Bíblia diz
que, pela imposição das mãos do apóstolo, esse grupo recebeu o Espírito
Santo e começou a falar em línguas estranhas (v. 6). É notável, aqui, que esse
fato ocorreu cerca de vinte anos depois do evento narrado em Atos 2. Jesus
ainda continuava batizando pessoas no Espírito Santo, da mesma forma
que o faz ainda hoje. Com base nesses quatro exemplos, podemos afirmar
que falar em línguas estranhas é a evidência do batismo no Espírito Santo
e que esta evidência é imediata.
E é bom que se entenda: estas línguas não são humanas, mas celes-
tiais. Não são aprendidas na escola ou na faculdade, mas concedidas pelo
Espírito Santo, conforme sua vontade (At 2:4; 1 Co 14:2, 13). São línguas
ininteligíveis. Em Atos 2:4, lemos assim: Todos ficaram cheios do Espírito
Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que
falassem. Devemos prestar atenção à palavra outras, pois Lucas usou o termo
grego heteros, indicando línguas diferentes ou totalmente desconhecidas de
quem as falava. Outra coisa que se deve lembrar é que essas línguas são
concessões do Espírito Santo, ou seja, ele é a fonte. Eles falaram em línguas
não porque queriam, mas porque o Espírito Santo lhes concedia que falassem.
Falar em línguas não é meramente fruto da vontade humana; é o Espírito
Santo quem inicia essa manifestação. As línguas são, portanto, de natureza
espiritual. Ter a convicção de que a evidência do batismo no Espírito Santo
é espiritual aumenta a nossa confiança na grandiosidade dessa promessa.
A experiência é fantástica. Saber disso é animador e aumenta a vontade de
buscá-lo. O Pai celeste pode nos dar essa dádiva.
6. O propósito do batismo no Espírito Santo: Qual é o propósito do
batismo no Espírito Santo? Deus não faz nada sem propósito. Conforme o
comentário feito no tópico sobre a natureza do batismo no Espírito Santo,
este é uma experiência inesperada e sobrenatural. Quando o Espírito desce
sobre o crente, dá-lhe poder com propósitos específicos. Em Atos 1:8, Jesus
diz aos seus discípulos: ... mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito
Santo, e sereis minhas testemunhas. Aqui, há dois aspectos importantes que nos
ajudam a entender corretamente o propósito do batismo no Espírito Santo.
Em primeiro lugar, o batismo no Espírito Santo visa à capacitação do dis-
cípulo de Cristo. A primeira parte do versículo diz: ... recebereis poder, ao
descer sobre vós o Espírito Santo (At 1:8a – grifo nosso). Este é o aspecto

102 | Estudo 9 - Batismo no Espírito Santo


pessoal e interno do propósito: capacitação individual prometida por Jesus
aos discípulos. A palavra em português “poder”, que aparece em Atos 1:8, é
uma tradução da palavra grega dunamis, que provém de um verbo grego que
significa “ser capaz” ou “ter força”. O batismo no Espírito Santo capacita o
discípulo de Cristo; dá-lhe novas forças espirituais
Em segundo lugar, o batismo no Espírito Santo visa à proclamação do
evangelho de Cristo. Na segunda parte de At 1:8, lemos: ... e sereis minhas
testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos con-
fins da terra. Esse é o aspecto externo e abrangente do propósito. Aqui está
a razão por que o discípulo de Cristo é capacitado. Ele recebe poder para
tirar os olhos da especulação e direcioná-los para a missão (At 1:6-8); para
morrer por Cristo e ir além das fronteiras; para proclamar o evangelho e
ser testemunha. Ao ser batizado, o cristão é aparelhado para cumprir uma
missão, equipado para torna-se testemunha. Cheio do poder de Deus, ele é
impulsionado a declarar sua fé em Jesus e dizer: Cristo está vivo!
De acordo com o que aprendemos até aqui, a promessa do batismo no
Espírito Santo é uma das mais importantes da Bíblia Sagrada, e a experiên-
cia de se ser batizado no Espírito, uma das mais maravilhosas e importantes
que um cristão pode vivenciar. Essa experiência está disponível a todos. O
que devemos fazer, então, para receber o batismo no Espírito Santo? Deve-
mos procurá-lo? A Bíblia Sagrada não nos dá uma fórmula, mas apresenta
alguns princípios que nos serão de grande ajuda. É sobre eles que iremos
tratar, na próxima parte do nosso estudo. Vejamos quais são estes princípios.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. O batismo no Espírito Santo deve ser desejado com sabedoria.


Apesar de o batismo no Espírito Santo estar disponível a todos, nem
todos o recebem. O batismo no Espírito é um dom, uma dádiva de Deus
(cf. At 8:20, 10:45-46). Um dom não é concedido por méritos. Nós não nos
tornamos merecedores de recebê-lo, pois qualquer dádiva que recebemos de
Deus é baseada em sua graça, não em nossas obras. E mais: uma vez que o
batismo no Espírito Santo é um dom, o momento de sua concessão está nas
mãos daquele que o concede. E, por razões que ele não explica, algumas ve-
zes, o tempo dele é diferente do nosso e a vontade dele é diferente da nossa.

O Doutrinal | 103
Em razão disso, se o batismo no Espírito Santo não ocorrer no tempo espe-
rado por você ou se até mesmo não acontecer, não fique sob autocondenção.
Deus é Soberano e sabe o que faz.

2. O batismo no Espírito Santo deve ser desejado com sinceridade.


Jesus ordenou aos discípulos que não se ausentassem de Jerusalém (At
1:4), até que do alto fosse revestidos de poder (Lc 24:49). A ordem de Jesus
era capacitação do alto, antes de ação na terra. Os discípulos lhe obedece-
ram. Eles desejavam sinceramente ter uma vida de poder; confiavam que
a promessa de Jesus se cumpriria. Lucas diz que os discípulos tornaram
com grande júbilo para Jerusalém (Lc 24:52). Deus não batiza ninguém
contra o seu desejo. Perceba, nas leituras já mencionadas neste estudo, que
as pessoas desejaram e esperaram o batismo no Espírito Santo. O desejo
sincero facilita o recebimento dessa extraordinária experiência espiritual.
Você tem esse desejo?

3. O batismo no Espírito Santo deve ser desejado com perseverança.


Os discípulos tinham expectativa de receber a promessa do Pai, o ba-
tismo no Espírito Santo, e, por isso, obedeceram ao Senhor: voltaram para
Jerusalém e perseveravam unanimemente em oração e súplicas (At 1:14a). Eles
perseveravam na oração. Os 120 discípulos estavam louvando a Deus, du-
rante o período que precedeu o dia de Pentecostes. Quem deseja o batismo
no Espírito deve também ter uma vida de constante oração. Deve orar per-
severantemente nesse sentido. Por isso, clame a Jesus. Nós já aprendemos
que é ele quem batiza no Espírito Santo. Concentre seus pensamentos e sua
fé nele; quem sabe ele o batize por estes dias! Confie!

Conclusão
Como aprendemos neste estudo, a promessa do batismo no Espírito
Santo tem origem divina: Deus, o Pai, prometeu. É extremamente anima-
dor saber disso, pois a palavra do Senhor é confiável: ... porventura, diria
ele e não o faria? Ou falaria e não o confirmaria? (Nm 23:19). Deus é fiel e
totalmente capaz de cumprir o que promete. Aprendemos, também, que
o batismo no Espírito Santo é um dom do céu, uma dádiva de Deus para
o ser humano. É Jesus quem o executa, de forma inesperada, abrangente,
espontânea e cristocêntrica. A evidência imediata são as línguas estranhas.

104 | Estudo 9 - Batismo no Espírito Santo


O propósito? A capacitação do discípulo de Cristo para a proclamação do
evangelho de Cristo.
Procuremos essa dádiva com sabedoria; desejemo-la com sinceridade,
e busquemo-la com perseverança. Creia que todo que pede recebe; o que busca
encontra; e a quem bate abrir-se-lhe-a (Lc 11:10). Continue pedindo, bus-
cando, batendo. Clame a Deus, pois, se ainda não chegou, pode estar muito
próximo o dia de Jesus o batizar. Graças a Deus, o batismo no Espírito San-
to é uma experiência que todo cristão pode desfrutar. No próximo estudo,
continuaremos ainda a tratar da atuação do Espírito Santo. Você já ouviu
falar dos dons espirituais? Qual seu significado, sua finalidade? É disso que
trataremos. Não deixe de estudar.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Ezequiel 36:27 e 1 Coríntios 6:19


A. Sobre o que esses textos tratam? Podemos afirmar que o Espírito
Santo habita dentro de cada crente?
B. Se o Espírito habita dentro de cada crente, então, o que é o Batismo
no Espírito Santo? Podemos afirmar que é uma obra adicional do já
presente Espírito Santo?

02. Leia Joel 2:28-29; Mateus 3:11 e Atos 1:4


A. O batismo no Espírito foi profetizado no Antigo Testamento? O
que a profecia dizia?
B. Q ual a origem e a extensão dessa fantástica promessa?

03. Leia Marcos 1:8; Lc 24:49


A. O batismo no Espírito Santo é novo nascimento, santificação ou
prêmio por serviços prestados à igreja? Justifique suas respostas.
B. Explique o significado do verbo “batizar” e da palavra “revestidos”,
comente também sobre a natureza do batismo no Espírito Santo

04. Leia Lucas 3:16, 24:49 e Atos 2:1-4


A. Quem é o executor do batismo no Espírito Santo?

O Doutrinal | 105
B. Fale sobre a concessão do batismo no Espírito Santo? Como acontece?

05. Leia Atos 2:3-4, 8:17-18, 10:44-46, 11:15-16 e 19:1-7


A. Q ue evidência todos esses textos mostram como prova de que
alguém foi batizado no Espírito Santo? O que podemos dizer sobre
Atos 8:17-18?
B. Podemos dizer que essa evidência é imediata? Justifique a resposta.

06. Leia Atos 2:4; 1 Co 14:2, 13


A. As pessoas falavam em línguas porque queriam ou porque o Espírito
lhes concedia? Então, quem inicia sempre a manifestação das línguas?
B. Essas línguas são ininteligíveis ou são línguas de nações, que podem
ser aprendidas em escolas de idiomas?

07. Leia Atos 1:8


A. A principal razão para alguém ser batizado no Espírito Santo é a
alegria da pessoa?
B. Q uais são os propósitos do batismo no Espírito Santo? Comente.

Anotações

106 | Estudo 9 - Batismo no Espírito Santo


Estudo 10

Os dons espirituais
Irmãos, quanto aos dons espirituais, não quero que
vocês sejam ignorantes. (1 Co 12:1 – NVI)

INTRODUÇÃO
No último estudo, aprendemos o que a Bíblia ensina sobre a promessa, a
natureza, o executor, a extensão, a concessão e a evidência do batismo no Espí-
rito Santo. Conforme estudamos, ele está disponível a todos. Devemos procu-
rar o batismo no Espírito com sabedoria, desejá-lo com sinceridade e buscá-lo
com perseverança. Neste estudo, continuaremos a tratar sobre a atuação do
Espírito Santo, com o tema: Os dons espirituais. A palavra “dons”, no português,
é a tradução da palavra grega charisma, ou charismata, no plural, cuja raiz é o
substantivo charis, que significa “graça”. Uma vez que “graça” é algo recebido
de forma imerecida, a definição de charisma caminha nesse sentido. Este é um
presente, uma dádiva recebida de forma gratuita e espontânea.
Sobre os charismas do Espírito Santo ou “dons espirituais”, podemos
dizer que estes são capacitações, distribuídas gratuitamente pelo próprio
Espírito Santo aos crentes em Jesus, com um objetivo específico (veremos
qual, no decorrer do estudo). A Bíblia diz: ... a manifestação do Espírito é
dada a cada um para benefício comum (1 Co 12:7); um só Espírito realiza todas
essas coisas, distribuindo-as individualmente conforme deseja (1 Co 12:11). É
importante que façamos uma distinção, desde o início do nosso estudo.
Não podemos confundir dons espirituais com talentos naturais. Talentos na-

O Doutrinal | 107
turais também são dádivas dadas por Deus (Tg 1:17), todavia, não é preciso
ser um cristão para recebê-las. Uma pessoa pode, por exemplo, ter grandes
dons naturais de sabedoria e ciência, sem nunca ter recebido o Espírito de
Deus. Então, de novo frisamos, dons “espirituais não são talentos. Os dons
espirituais são dados por Deus para fins espirituais, e apenas para cristãos”.1
Confiramos esta doutrina nas Escrituras.

I Verificando a doutrina na palavra de Deus

O exercício dos dons espirituais tem causado polêmica, desde o início


da igreja cristã, quando o apóstolo Paulo, orientado pelo Espírito Santo,
declarou aos cristãos de Corinto: A respeito dos dons espirituais, não quero,
irmãos, que sejais ignorantes (1 Co 12:1). O problema reside justamente na
ignorância sobre o assunto. Para esclarecê-lo, o apóstolo de Cristo escreveu
cartas às igrejas, explicando quais são os dons, quais as suas finalidades e
como deveriam ser exercidos na igreja. A Bíblia é a única fonte segura no
que diz respeito à finalidade e ao exercício dos dons. Na sequência, veremos
o que ela diz sobre a variedade, a distribuição, a finalidade, a importância, a
procura e a utilização dos dons.
1. A variedade dos dons: A igreja é comparada com o corpo de Cristo nas
páginas das Escrituras (1 Co 11:3; Ef 1:22-23, 5:23; Cl 1:18), e cada pessoa
que a compõe é um membro desse corpo. No que diz respeito aos compo-
nentes do corpo humano, há variedade; os membros têm formas e funções
diferentes. Assim acontece também na igreja. Cada membro é diferente do
outro. Existe uma ampla diversidade de pessoas (1 Co 12:13, 28). Por isso
mesmo, existe, igualmente, uma rica e necessária diversidade de dons. As
Escrituras dizem que há diversidades de dons (1 Co 12:4a); há diversidade de
ministérios (1 Co 12:5a), e há diversidade de realizações (1 Co 12:6a).
“Diversidades”, em todos esses versículos citados, significa, literalmen-
te, “tomar separadamente”2, a ideia é de diferenciação. O texto está mos-
trando que os dons não são iguais, mas variados. Existem diferentes dons,
como existem, também, diferentes maneiras de servir e atuar, que produzem

1. Boice (2011:528).
2. Vine et al (2009:564).

108 | Estudo 10 - Os dons espirituais


diferentes efeitos ou resultados. É assim que deve ser. Diferentes pessoas
servem a Cristo na igreja; cada uma com o dom que o Espírito Santo deu,
produzindo diferentes resultados, mas todos para a glória de Deus. Apesar
de toda essa variedade, o Espírito é o mesmo (1 Co 12:4). O mesmo Espírito
que mantém a unidade da igreja diversifica sua atuação, através dos dons.
Podemos observar o fato da ampla variedade dos dons nas seis listas
encontradas nas cartas do Novo Testamento. Em Romanos 12:6-8, en-
contramos os dons da profecia, do serviço, do ensino, do encorajamento,
da contribuição, da liderança e da misericórdia. Em 1 Coríntios 12:8-10,
encontramos: palavra da sabedoria, palavra do conhecimento, fé, dons de
curar, milagres, profecia, discernimento de espíritos, línguas e interpretação
de línguas. Em 1 Coríntios 12:28: apóstolo, profeta, mestre, milagres, varie-
dades de curas, socorros, administração, línguas. Em Efésios 4:11: apóstolo,
profeta, evangelista, pastor e mestre. Em 1 Coríntios 7:7-8, encontramos
o dom do celibato. Em 1 Pedro 4:10-11: falar, servir.3 Dentre esses dons,
alguns são de caráter ministerial e outros, de caráter sobrenatural. Todavia,
não temos base bíblica para afirmar que este ou aquele é mais “espiritual”.
2. A distribuição dos dons: Quem distribui os dons? Apesar de a Bíblia
dizer, em Efésios, que existem alguns dons que são concedidos por Jesus (Ef
4:11), este o faz através do Espírito Santo, pois a Escritura ensina que, em
última instância, é o Espírito Santo quem atua diretamente, concedendo
os dons aos cristãos (1 Co 12:7-11, 18). Ele sabe do que a igreja precisa e
distribui os dons como lhe apraz, a cada um, individualmente (1 Co 12:11).
Observe a expressão “como lhe apraz”. Ela é altamente esclarecedora. Indi-
ca que o Espírito Santo tem o atributo divino da liberdade e da soberania.
Em toda a criação, não há nenhum poder capaz de impedi-lo de executar
a sua vontade. Ele não está debaixo de nenhuma influência e de nenhuma
limitação exterior.
O Espírito Santo é soberano na distribuição dos dons. Quatro verbos-
-chave ilustram essa soberania do Espírito: no v. 11, o Espírito distribui; no
v. 18, o Espírito de Deus dispõe; no v. 24, o Espírito de Deus coordena, e, no
v. 28, o Espírito de Deus estabelece. Dentre estes quatro verbos-chave, um,
especialmente, chama à atenção. O verbo é “distribui” (1 Co 2:11). No gre-
go, língua original do Novo Testamento, ele é um particípio presente, que

3. Na tabela, no final deste estudo, explicamos resumidamente cada um destes dons citados.

O Doutrinal | 109
indica atividade contínua através do tempo. Poderíamos parafrasear esse
versículo da seguinte forma: “O Espírito Santo está sempre, de contínuo,
distribuindo e dando dons a cada pessoa”.4
Deus pôs cada um no corpo e dá a cada um as capacidades que ele quer
(1 Co 12:29-31). Por isso, o cristão não pode e não deve se orgulhar de ter
determinado dom, nem pode recriminar aqueles que não possuem o mesmo
dom. O dom que cada crente possui é, exatamente, o que o Espírito Santo
quis que ele possuísse. Entender bem essa verdade faz bem. Desfaz o risco
do descontentamento, afinal, a escolha de Deus é perfeita. Ele sabe perfei-
tamente o que é melhor para todos nós. Isso não exclui, é óbvio, o fato de a
pessoa que tem um dom desejar, de forma sadia, algum outro dom. Agora,
se esta receberá, depende daquele que os concede. Trataremos mais sobre
este tema no item 5 deste estudo.
3. A finalidade dos dons: Qual a finalidade dos dons do Espírito Santo?
Não podemos ser ignorantes quanto a esse assunto. A Bíblia diz que a ma-
nifestação do Espírito é dada a cada um para benefício comum (1 Co 12:7). Os
dons não são para o bem pessoal, mas, sim, para o bem comum. A palavra
de Deus não descarta que o dom, em si, pode trazer benefícios à pessoa,
mas Deus confere seus dons sobre seu povo para que todos sejam edifica-
dos e abençoados espiritualmente (1 Co 14:26). Neste sentido, os coríntios
falhavam, ao usar os dons para fomentar a divisão. O exercício dos dons,
em Corinto, precisava focalizar-se no interesse e no benefício do próximo.
A finalidade dos dons espirituais é a edificação da igreja, o amadureci-
mento do corpo de Cristo (cf. 1 Co 14:5,12,26; Ef 4:16), até que ele volte: ... de
modo que não vos falta nenhum dom, enquanto aguardais a revelação de nosso Se-
nhor Jesus Cristo (1 Co 1:7). O Espírito Santo “usa os dons do cristão individual
para a edificação da igreja”.5 Sobre isso, o texto de Efésios 4:11-12 é bem claro:
E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evange-
listas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para
o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo (grifo nosso).
Quando uma pessoa usa os dons que recebeu do Espírito Santo para
outros fins que não a edificação espiritual dos membros do corpo de Cristo,
o serviço espiritual dela é inútil. Nesse sentido bíblico, os dons espirituais

4. Grudem (1999:868).
5. Kistemaker (2004a:582).

110 | Estudo 10 - Os dons espirituais


são a ferramenta de trabalho mais poderosa que Deus concede a seus filhos,
para ser utilizada na execução dos serviços, dos ministérios, dos cargos, das
funções, das ocupações espirituais, na igreja ou fora dela, para o progresso
do reino de Cristo Jesus. Seja de ofício, de responsabilidade, de obrigação,
de atribuições ou de incumbências, todos os que foram chamados por Deus
têm algo a realizar, que deve ser praticado com prontidão, segundo a ilumi-
nação divina e capacidade dada a cada um.
4. A importância dos dons: Conforme já ressaltamos, no primeiro item
deste comentário, a igreja é comparada, nas páginas da Escritura, ao corpo
humano. Em 1 Coríntios, em especial, Paulo aplicou essa imagem em um
contexto de dons do Espírito Santo, porque queria que os irmãos da igreja
aprendessem a conviver com a diversidade dos dons e porque queria mos-
trar a importância destes. O corpo humano é altamente diversificado (1
Co 12:12,14,20), sendo que cada membro tem sua própria função distinta,
ao mesmo tempo em que contribui para a operação e o benefício do corpo
inteiro. Assim é com o corpo de Cristo, a igreja, cujos membros recebem
dons espirituais diferentes (1 Co 12:8-10,28-30).
Nesse corpo, o emprego de cada dom é projetado para servir não a um
só indivíduo, mas, sim, à igreja toda. Assim como o corpo humano, com
seus vários membros, foi criado para funcionar bem, sem rivalidade, sem
competição, os membros da igreja, com seus diversos dons, devem ter um
desempenho harmonioso. No corpo humano, os membros não são indepen-
dentes (1 Co 12:2,15-16). Todos são úteis e importantes. Assim também
deveria ser na igreja coríntia. Por não ter certo dom, o crente não poderia se
autodepreciar ou se autodescartar. Todos os dons são importantes, porque
todas as pessoas são importantes.
Alguém que tivesse recebido, por exemplo, o dom de cura também não
deveria sentir-se autossuficiente e dizer aos outros membros que tinham
outros dons: Não tenho necessidade de vocês (1 Co 12:21). Ninguém é dis-
pensável ou descartável (1 Co 12:22-24). Cada órgão do corpo humano
representa uma unidade vital para os demais, de forma que a ausência ou
a inoperância de um causa profundos prejuízos à saúde da pessoa e pode
até destruir o corpo. Neste sentido, cada membro da igreja precisa do outro
para fazer a obra do Senhor efetivamente. Todos, independentemente do
dom, devem cooperar e contribuir solidariamente (1 Co 12:25-26).

O Doutrinal | 111
5. A procura dos dons: Já aprendemos que os dons nos são distribuídos,
gratuita e soberanamente, pelo Espírito Santo. Não podemos nos tornar
merecedores dessa bênção. Mas a Bíblia mostra um sentimento que todos
nós devemos ter, na procura dos dons espirituais. Está em 1 Coríntios, ca-
pítulo 12, versículo 31. Ali, lemos: Procurai com zelo os melhores dons (RA).
Outra versão diz: Aspirai os dons mais altos (BJ). Uma leitura rápida, neste
texto de Coríntios, pode fazer com que pensemos que as Escrituras se con-
tradizem neste ponto.
No versículo 11, lemos que os dons são dados soberanamente pelo Es-
pírito Santo, mas, no versículo 31, é-nos dito que devemos procurá-los?
Como entendermos estes textos? Na verdade, não existe contradição algu-
ma. Aqui, estão refletidas apenas as verdades da “soberania de Deus” e do
“livre-arbítrio do homem”. Apesar de Deus ser soberano, o homem tem
liberdade para desejar. Esse é o sentido da palavra “procurar”: desejar since-
ramente, avidamente, zelosamente. Então, veja que interessante: o fato de
o Espírito Santo distribuir os dons, de forma soberana, não nos impede de
desejarmos certos dons.
Vale ressaltar que o desejo por este ou aquele dom não é garantia de
que os receberemos. Podemos desejar, mas quem escolhe o dom que de-
vemos receber é o Espírito Santo. Observe também que tipo de dons a
Bíblia nos manda desejar: os melhores dons. As Escrituras não negam o
fato de que alguns dons são mais importantes que outros. Quais são estes?
Levando em conta a finalidade dos dons, que é a edificação da igreja, os
mais importantes são aqueles que oferecem mais benefícios para o corpo.
Neste ponto, precisamos nos acautelar. Já comentamos, algumas vezes, que
os dons não são concedidos por méritos. Por isso, o fato de uma pessoa ter
um dom “mais” ou “menos” importante não significa que ela seja “mais”
ou “menos” importante. Todos os dons são necessários, apesar do fato de
existir melhores dons.
6. A utilização dos dons: A Bíblia ensina, no capítulo 13 de 1 Coríntios,
qual o ambiente ideal para a utilização dos dons do Espírito Santo. Paulo
utiliza dois capítulos desta carta para instruir os crentes daquela cidade so-
bre dons. O capítulo 13, em que encontramos um brilhante ensino sobre o
amor, encontra-se exatamente no meio destes dois capítulos que tratam dos
dons. É claro que essa localização não é acidental. Devemos lembrar que, de
acordo com o que aprendemos no estudo 1 deste manual, quando a Bíblia

112 | Estudo 10 - Os dons espirituais


foi escrita, não havia divisões em capítulos como há em nossas Bíblias, hoje.
Então, os capítulos 12, 13 e 14 constituem um bloco único de ensino. O
propósito de Paulo, ao tratar sobre amor, num bloco de ensino sobre dons, é
mostrar que, todos os dons devem ser regidos e mediados pelo amor e que,
sem o amor, os dons se tornam coisas nulas e perigosas.6
O capítulo 12 de 1 Coríntios termina assim: Procurai com zelo os me-
lhores dons. E agora vos mostrarei um caminho muito superior (v. 31 – grifo
nosso). Esse caminho excelente é o amor. Sem ele, os dons têm pouca ou
nenhuma utilidade. Sem amor, os crentes seriam incapazes de compartilhar
os benefícios dos dons do Espírito Santo. Não é difícil uma pessoa que pos-
sui algum dom espiritual se ensoberbecer. É essa atitude que é combatida
aqui. De nada adianta possuir um dom, sem possuir amor: Mesmo que eu
falasse as línguas dos homens e dos anjos, mas não tivesse amor, seria como metal
que soa (1 Co 13:1). A pessoa que tem dons, sem amor, incha, assim como
alguém que tem conhecimento, sem ter amor.
O ambiente do amor é o ideal para a utilização dos dons porque o
amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não
se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus
interesses, não se exaspera, não se ressente do mal, não se alegra com a
injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera,
tudo suporta (cf. 1 Co 13:4-7). O capítulo termina dizendo que tudo passa-
rá, menos o amor (1 Co 13:8, 13). Os dons passarão. Como vimos, a função
deles, aqui e agora, é contribuir para a edificação da igreja.
Os dons são como andaimes em uma construção: enquanto o prédio
está em contrução, são extremamente necessários, mas, após concluída
a construção, são removidos. Do mesmo modo, após a glorificação da
igreja, os dons não existirão mais. Todos os dons que temos são para esta
vida; entretanto, o amor vai reinar para sempre. Portanto, que o amor seja o
maior alvo (1 Co 14:1 - BV ). Usemos os dons do Espírito Santo, que são
dádivas de Deus para seus filhos, que são variados, que são distribuídos
soberanamente, que são importantes para o avanço da obra do Senhor
aqui na terra.

6. Lima (2006:458).

O Doutrinal | 113
II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. No ambiente do amor, os dons devem ser usados para unificar.


A igreja de Corinto tinha todos os dons: ... de modo que nenhum dom vos
falta (1 Co 1:7b); mas, infelizmente, não era unida. Na verdade, os diversos
dons dividiam os crentes daquela igreja. Parece estranho, mas estavam divi-
didos por aquilo que fora dado com o propósito de unificá-los. A diversida-
de foi planejada pelo Espírito Santo. Ele capacitou os membros do corpo de
Cristo com diferentes dons, para que não haja divisão no corpo (1 Co 12:25).
Que todos nós, membros do corpo de Cristo, vivamos em harmonia, que
só é demonstrada quando utilizamos os dons que o Espírito Santo nos
concede para nos ajudamos mutuamente. No corpo de Cristo, todos são
necessários para cada um e cada um é necessário para todos.

2. No ambiente do amor, os dons devem ser usados para edificar.


Quando Paulo registra, em sua primeira epístola aos Coríntios, que os
dons espirituais, sem exceção, devem ser usados para a edificação do corpo
de Cristo (1 Co 14:5,12,26), está expressando a perfeita vontade de Deus.
Ele é o que mais trata da edificação da igreja de Cristo (1 Co 3:9-10; Gl
2:18; Ef 2:21-22; 1 Tm 3:15). Paulo jamais, em toda a sua vida, usou os
dons espirituais para levar vantagem ou lograr benefício pessoal. Sempre os
usou para edificação da igreja. Infelizmente, muitos, nos dias atuais, ainda
estão usando os dons espirituais para edificar não os outros, mas a si mes-
mos. Ao agirem assim, provam que nunca saíram da carnalidade para a
espiritualidade, nem do leite para o alimento sólido (1 Co 3:2-3); são ainda
crianças (1 Co 3:1, 13:11, 14:20).

3. No ambiente do amor, os dons devem ser buscados com critério.


Já afirmamos, anteriormente, neste estudo, que, apesar de serem distri-
buídos gratuita e soberanamente pelo Espírito Santo, os dons podem ser
desejados e procurados por nós: ... desejai intensamente os dons espirituais
(1 Co 14:1 – AS21). Todavia, quando os buscarmos, levemos em conta os
critérios estabelecidos na palavra de Deus. Somos avessos a todo tipo de
espiritualidade “estranha”, a todo tipo de busca e a todo uso indevido dos
dons, que, ao invés de edificação, promove tristeza, contenda e desunião
entre os membros do corpo de Cristo. Somos a favor do uso, mas somos

114 | Estudo 10 - Os dons espirituais


contra o abuso dos dons do Espírito. Somos contra quem usa os dons para
se promover, para reivindicar status. Todas as pessoas são importantes no
corpo de Cristo, independentemente de possuírem dom “x” ou “y”.

Conclusão
Nós, da Igreja Adventista da Promessa, não somos cessacionistas, ou seja,
não sustentamos que, hoje em dia, não existem mais os dons do Espírito
Santo. Somos uma igreja pentecostal. Não somente acreditamos na atua-
lidade dos dons, mas também encorajamos o seu exercício na igreja. Não é
difícil imaginar quantas e quão radicais e positivas mudanças podem acon-
tecer no corpo de Cristo, se cada membro usar corretamente o seu dom
para o bem dos outros. Teremos, sem dúvida, uma igreja mais madura e
mais estável na fé.
Então, não seremos mais como crianças, sempre mudando nossa ideia a
respeito daquilo que cremos, porque alguém nos disse uma coisa diferente
ou habilmente nos mentiu e fez que a mentira soasse como verdade (Ef
4:14). Sejamos, portanto, bons administradores dos diferentes dons que re-
cebemos do Espírito Santo, de modo que, em todas as coisas, seja Deus glori-
ficado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos
dos séculos. Amém! (1 Pd 4:11). No próximo estudo, trataremos de “Evange-
lização e Discipulado”, duas práticas importantes e imperativas para a igreja
de Cristo. Que Deus continue nos fortalecendo.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia 1 Coríntios 12:1-7


A. O que são os dons espirituais?
B. Comente a variedade de dons que existem. O que essa variedade tem
a ver com a diversidade dos membros do corpo de Cristo?

02. Leia Romanos 12:6-8; 1 Coríntios 7:7-8, 12:8-10; Efésios 4:11, e 1


Pedro 4:10-11
A. N
 esses textos, encontramos seis listas de dons.Todos são dons espirituais?
B. Quantos são os dons espirituais?

O Doutrinal | 115
03. Leia Efésios 4:11 e 1 Coríntios 12:11
A. Quem distribui os dons?
B. O que significa dizer que ele “distribui os dons”? Qual o seu critério
nessa distribuição?

04. Leia 1 Coríntios 12:7 e Efésios 4:12,16


A. Qual é a finalidade dos dons espirituais?
B. É correto usar os dons que Deus nos deu para nos promovermos ou
usá-los visando apenas ao interesse próprio?

05. Leia 1 Coríntios 12:14-30


A. Q ual é importância do uso dos dons no corpo de Cristo? O que os
dons têm a ver com a função de cada membro?
B. No corpo de Cristo, existe algum membro que não tenha importância?
Você já descobriu sua função no corpo de Cristo?

06. Leia 1 Coríntios 12:31


A. O que esse texto ensina sobre a procura dos dons espirituais? Você
tem procurado buscar os dons ou descobrir aqueles que Deus já
lhe concedeu?
B. Que tipo de dons a Bíblia nos manda buscar?

07. Leia 1 Coríntios 13:1-13, 14:1


A. O que o amor tem haver com o uso dos dons pelos cristãos?
B. O acontece quando usamos os dons sem amor?

116 | Estudo 10 - Os dons espirituais


EXPOSIÇÃO RESUMIDA DA LISTA DOS DONS 7

EXPOSIÇÃO RESUMIDA DA LISTA DOS DONS 7

(Apesar de apresentarmos uma breve exposição de cada um dos dons das listas que aparecem no
Novo Testamento, reconhecemos que este número não é absoluto; pode, ainda, haver dons que
não foram mencionados. O próprio fato de não haver uniformidades nas listas comprova isso. Elas
não são exaustivas. O propósito dos autores é motivar o exercício dos dons que Deus distribui, não
fechar a questão dogmatizando um número “x” de dons espirituais).

Dom Descrição
Dons espirituais de caráter ministerial
Serviço É a capacidade especial, dada por Deus, para ser apoiador em sua
(Rm 12:7; obra e ajudar outros a fazer a obra de Deus, dar assistência prática
1 Pd 4:10-11) aos membros do corpo de Cristo. Quem tem este dom é uma pessoa
extremamente prestativa.
Ensino É a capacidade especial dada por Deus a alguns cristãos de ensinar,
(Rm 12:7) explicar e aplicar as verdades divinas de forma clara, com mais
naturalidade e fluência, às pessoas. Quem tem este dom, é, com
facilidade, propenso à pesquisa e ao estudo.
Encorajamento, É a capacidade especial, dada por Deus a alguém, para estar sempre
exortação pronto a consolar, incentivar e a conclamar outros a adotar alguma
(Rm 12:8a) conduta apropriada. Ter o dom do encorajamento ou da exortação
também é ter a habilidade de estar ao lado do outro para fortalecê-
lo e dizer as palavras certas.
Contribuição É a capacitação dada por Deus ao cristão para que este contribua
(Rm 12:8) de forma especial, na medida de suas posses e até acima delas,
com liberalidade e alegria, com a obra do Senhor e no auxílio a
outras pessoas.

7. Arrington & Roger (2003); Boice (2011); Farias Filho et al (1999); Kistemaker (2004); Lopes (2004 e
2010); Mendes (1993); Priori (2001); Ryrie (2004); Stott (2007a).

O Doutrinal | 117
Dom Descrição
Liderança A palavra traz a ideia de “ficar de pé diante de alguém”. É a
(Rm 12:8) capacidade dada por Deus a alguns cristãos de estarem à frente,
presidindo ou guiando. Este dom capacita a pessoa, na obra de
Deus, na escolha da direção que deve ser tomada. Quem recebe
esta capacitação, tem habilidade de organização e direção.
Misericórdia É capacidade dada por Deus de transformar a preocupação com o
(Rm 12:8) próximo em ação concreta, isto é, a capacidade de ajudar efetiva-
mente, e com alegria, aqueles que enfrentam ou passam neces-
sidades. Quem tem esse dom se envolve, de verdade, com os aflitos,
pois tem uma profunda empatia com relação à situação destes.
Dom de apóstolo Apóstolo, no sentido técnico da palavra, como aplicada aos
(1 Co 12:28; doze, não existe nos nossos dias. Não temos mais apóstolos e
Ef 4:11) nem devemos conferir este título a ninguém, na atualidade.
Todavia, não acreditamos que o “dom do apostolado” foi dado
apenas para a fundação da igreja. Este dom, de acordo com
o que acreditamos, é diferente do ministério dos primeiros
apóstolos e do sentido técnico em que a palavra era empregada.
A partir do significado do verbo grego apostello, que significa
“enviar”, acreditamos que a pessoa que recebe este dom possui
uma capacitação especial para implantar igrejas em solos vir-
gens. É alguém comissionado para fundar igrejas. Por isso, é um
ministério de natureza itinerante. Os missionários transculturais
são bons exemplos da aplicação deste dom.
O dom de mestre É a capacitação divina dada a alguns cristãos maduros para in-
(1 Co 12:28; struírem a outros sobre o significado da fé cristã, sobre as verdades
Ef 4:11) das Escrituras; quem o recebe é alguém capacitado a ensinar, que
desenvolve este ministério com maestria. O mestre capacita os
cristãos a caminharem de forma crescente, rumo à maturidade.
Este dom está relacionado ao de ensino sistemático e profundo
da palavra de Deus, tornando-a clara e prática para o povo de
Deus. Às vezes, é dado sozinho; outras vezes, ligado ao dom do
pastorado: pastor-mestre (cf. Ef 4:11).

118 | Estudo 10 - Os dons espirituais


Dom Descrição
Dom de profeta Os profetas não apenas faziam previsões do futuro, mas procla-
(1 Co 12:28; mavam a palavra de Deus. É neste sentido que devemos entender
Ef 4:11) o dom do “profeta”. Não temos mais, em nossos dias, o ministério
profético, conforme apresentado no Antigo Testamento e, em
alguns casos, no Novo Testamento; por isso, ninguém deve receber
este título hoje. Acreditamos que a pessoa que tem o dom de
“profeta” recebeu uma capacitação divina para expor a palavra de
Deus à igreja num grau incomum, mediante a atuação do Espírito
Santo, e sua principal motivação está voltada à vida espiritual e
à pureza da igreja. O cristão que recebeu este dom, em nossos
dias, recebeu uma capacitação divina para entender o mundo
contemporâneo e ler os sinais dos tempos, juntamente com uma
capacidade de denúncia indignada dos pecados sociais atuais e
uma aplicação perceptiva das Escrituras a eles. Então, trata-se de
um dom relacionado com uma proclamação baseada na revelação
divina. É importante lembrarmos que Deus pode usar a pessoa
que tem este dom com o de profecia para predizer o futuro. O que
nós não temos é base bíblica para afirmar que quem tem este
dom, hoje, deve ser consultado, assim como eram os profetas do
Antigo Testamento.
Socorro ou auxílio É a capacidade espiritual dada por Deus para que se preste auxílio,
(1 Co 12:28) através da realização de tarefas práticas que apóiam e suprem as
necessidades de outros. A palavra grega usada neste texto pode se
referir àqueles que são capacitados a estender, de maneira especial,
a mão ajudadora de amor e misericórdia, tanto aos que estão dentro
como aos que estão fora da comunidade cristã.
Administração A palavra grega usada por Paulo, neste versículo, significa “segurar
(1 Co 12:29) o leme, manter a direção”. A ideia que temos, a partir dessa palavra,
é que este dom espiritual é uma capacitação divina para “segurar o
leme da igreja” e guiá-la na direção segura da vontade divina. É a
capacidade de governar a igreja. Quem recebeu este dom contribui
para que a administração da igreja funcione tranquilamente. Este
dom está relacionado com o de liderar.

O Doutrinal | 119
Dom Descrição
Evangelista Apesar de esta ser uma incumbência de todo salvo, quem tem o
(Ef 4:11) dom espiritual de “evangelista”, recebeu uma capacitação especial,
dada por Deus, para pregar o evangelho aos não-salvos. A pessoa
recebe uma habilidade fora do comum para fazer o evangelho
entendido aos descrentes e aos crentes. Seu testemunho é eficiente e
leva as pessoas a aceitarem Cristo e o evangelho.
O dom de pastor É a capacitação dada por Deus para pastorear, ou seja, cuidar, ali-
(Ef 4:11) mentar, guiar, proteger e apascentar o rebanho de Deus. As pessoas
com este dom providenciam direção e orientação para os crentes
em Jesus, lideram e protegem os que estão sob seus cuidados.
Celibato É a capacitação dada por Deus para o cristão permanecer solteiro,
(1 Co 7:7-8) tendo controle sobre seus impulsos sexuais, com vistas à dedica-
ção exclusiva ao reino de Deus.
Falar ou pregar Este dom está relacionado à pregação da palavra de Deus.
(1 Pd 4:10-11) Todos os crentes são exortados a pregar a palavra de Deus, mas
a alguns, Deus deu uma capacidade especial para isso. O dom
de falar ou pregar é uma capacitação especial para proclamar
a palavra de Deus; por isso, a advertência: ... fale segundo as
palavras de Deus (ARC). Nesta linha, a NTLH diz: Que cada um
use o seu próprio dom para o bem dos outros! Quem prega pregue
a palavra de Deus.
Dons espirituais de caráter sobrenatural
Palavra de É uma capacidade sobrenatural dada por Deus para falar com
sabedoria clareza e precisão uma palavra que reflita a sabedoria divina e
(1 Co 12:8) não a humana. O dom é dado quando necessário, em diferentes
situações, para orientação e solução de problemas espirituais,
emocionais e materiais.

120 | Estudo 10 - Os dons espirituais


Dom Descrição
Palavra de É uma capacidade especial, dada por Deus, de pronunciar ou
conhecimento declarar fatos específicos, sob inspiração sobrenatural. Quem
(1 Co 12:8) recebe este dom, possui, em determinada situação, o conheci-
mento de fatos e eventos que não seria obtido de forma alguma,
exceto por um ato revelador do Espírito Santo, e que, de algum
modo, serve à igreja.

Fé É uma confiança incomum e sobrenatural em Deus e em suas


(1 Co 12:9) promessas, que possibilita a pessoa que possui este dom a reali-
zar grandes obras espirituais. Este dom é dado a certos servos de
Deus em ocasiões específicas e concede uma certeza que triunfa
sobre todas as coisas.

Dons de curar É a capacitação divina e sobrenatural, que torna o cristão um


(1 Co 12:9; 28) instrumento, através do qual Deus realiza curas das mais diversas
enfermidades, ou seja, restaura a saúde de quem quer que seja,
como um todo. Ressaltamos que estas curas não são naturais,
mas miraculosas e sobrenaturais. Elas podem se manifestar em
três áreas da existência humana: espiritual, emocional ou física.

Realização É uma capacidade sobrenatural, dada por Deus, para autenticar


de milagres o ministério e a mensagem do evangelho, através da realização
(1 Co 12:10; 28) de obras e intervenções extraordinárias e sobrenaturais. O termo
milagres é abrangente e usado para obras maravilhosas de todos
os tipos. Uma cura, por exemplo, é um milagre. Todavia, um
milagre vai muito além da cura.

O Doutrinal | 121
Dom Descrição
Profecia É o dom de trazer uma mensagem ou revelação de Deus para o
(1 Co 12:10; seu povo, com possíveis implicações imediatas ou futuras. Por
Rm 12:6) este meio, Deus envia mensagens de edificação, exortação e
consolação à igreja (1 Co 14:3). Veja que este dom tem vários
raios de ação: 1) Edificar é construir, promover o crescimento. 2)
Exortar é a tradução da palavra grega paraklesis, que significa
ajudar e sustentar. 3) Consolar é paramythia, que significa sus-
surrar no ouvido, provavelmente, com o sentido de apaziguar o
temor. Deus pode usar o cristão que tem este dom para mostrar
os segredos do coração do incrédulo para o seu bem e edificação
(1 Co 14:24-25). Através do dom de profecia, de igual forma,
Deus pode confirmar algo que já havia falado (At 13:1-3), e
também fazer predições sobre situações futuras (At 11:27-30).
Então, uma profecia que mina ou arrasa a fé dos outros deve ser
questionada. O próprio Paulo diz que o dom de profecia deve ser
provado (1 Co 14:29). Em Romanos, ele diz que a profecia deve
ser “segundo a medida da fé” (12:6). Fé, neste contexto, se refere
ao evangelho, à fé cristã (Rm 14:1). A profecia deve estar em
concordância com o evangelho.

Discernimento É a capacidade sobrenatural, dada por Deus, para saber e


de espíritos conhecer se uma determinada manifestação sobrenatural é de
(1 Co 12:10) origem divina, demoníaca ou humana. Por este dom, o crente
que o possui pode distinguir se uma pessoa que fala em nome
de Deus está, de fato, sendo usada pelo Espírito ou falando por
conta própria, ou motivada por algum espírito mau (demônio).

Variedade No grego, temos hetéros géne glosson: outros gêneros (tipos ou


de línguas variedade) de línguas, para referir-se ao dom dado por Deus, que
(1 Co 12:10; 28) capacita o crente em Jesus a falar em línguas desconhecidas e
nunca antes aprendidas por aquele que está falando.

122 | Estudo 10 - Os dons espirituais


Dom Descrição
Interpretação É a capacidade sobrenatural, dada por Deus, de interpretar as
de línguas línguas faladas por quem tem o dom de variedade de línguas,
(1 Co 12:10) visando à edificação da congregação (obviamente, quando isto
acontece, a própria pessoa que fala em língua também é edi-
ficada; todavia, a edificação deste não depende exclusivamente
da interpretação). É importante ressaltar que a Bíblia orienta o
que fala em língua a orar para que haja intérprete (1 Co 14:4,
13). A razão principal? A edificação da igreja.

O Doutrinal | 123
Anotações

124 | Estudo 10 - Os dons espirituais


Estudo 11

Evangelização
e discipulado

Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a


toda a criatura. (Mc 16:15)

INTRODUÇÃO
De acordo com o que aprendemos no estudo anterior, os dons são dá-
divas de Deus, distribuídas gratuitamente pelo Espírito Santo, visando à
capacitação e à edificação da igreja: O Espírito Santo manifesta o poder de
Deus através de cada um de nós como um meio de ajudar toda a igreja (1 Co
12:7 – BV). O conhecimento natural e o esforço próprio não nos tornam
merecedores dos dons espirituais. É o Espírito Santo quem os distribui in-
dividualmente, conforme deseja (1 Co 12:11). É este mesmo Espírito Santo,
que é Deus, quem nos dá poder para exercitarmos as duas tarefas temas
deste estudo: a evangelização e o discipulado.
Apresentar Cristo aos outros é uma das experiências mais compensa-
doras e comoventes da vida cristã. A Bíblia diz: Como são maravilhosos os
pés dos que anunciam boas novas! (Rm 10:15 – KJV). Este versículo é uma
citação de Isaías 52:7. Refere-se aos mensageiros que anunciaram a boa
notícia da soltura dos judeus que haviam sido levados como escravos para
a Babilônia. Em Romanos, porém, o versículo foi aplicado aos mensageiros
do evangelho. Estes também espalham uma maravilhosa notícia: Jesus nos
libertou do império das trevas. Nosso objetivo, neste estudo, é tratar sobre
os dois meios deixados por Cristo para divulgarmos essas boas novas: a
evangelização e o discipulado.

O Doutrinal | 125
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Jesus, durante o seu ministério terreno, apareceu ensinando e pregando


o evangelho do reino (Mt 4:23). A igreja primitiva também não cessava de
ensinar e de pregar (At 5:42). Na igreja da atualidade, pregação e ensino,
de igual modo, devem andar de mãos dadas. Por esta razão, estudar sobre
evangelização e discipulado é extremamente importante. Estas são práticas
indispensáveis e imperativas a toda igreja genuinamente cristã. O que lhe
vem à mente, quando você ouve as palavras evangelização e discipulado?
Sabe o que significam? Sabe quem deve realizar essas tarefas? Compreende
quais as maneiras ou meios de fazê-las? São estas e outras perguntas que
procuraremos responder, no decorrer deste estudo.
1. O ensino bíblico sobre a evangelização: Nesta primeira parte do
nosso estudo, destacaremos três relevantes e vitais ensinos sobre a evangeli-
zação: seu conceito, seu chamado e sua prática. Comecemos com o conceito.
O verbo evangelizar, do grego euangelizõ e euangelizomai, significa “trazer
ou anunciar as boas novas”, “proclamar”, “pregar”. Desta forma, podemos
afirmar, de maneira bem simples, que evangelizar significa pregar o evan-
gelho ou as boas novas. A boa nova é Jesus. Ele é o coração do evangelho.
Por essa razão, a essência do evangelismo é pregar Cristo, a fim de que os
não-salvos possam tomar uma decisão consciente de aceitação à sua pessoa,
como Senhor e Salvador.
Esta pregação não é manipulação, coerção, nem uma imposição de
crenças. Deve conter o que Jesus fez por nós, ao morrer na cruz, bem como
o que ele requer de nós, hoje: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se ne-
gue, tome a sua cruz e siga-me (Mc 8:34). O anúncio da obra de Cristo e da
necessidade imperiosa de arrependimento é vital na pregação do evangelho.
Os não-salvos precisam ter consciência dos seus pecados, arrepender-se,
reconhecer Cristo como salvador e servi-lo como Senhor, na comunhão da
igreja e no labor do dia-a-dia. Esse é o alvo da evangelização.
Lembramos, no entanto, que a evangelização não pode ser definida
em termos do resultado produzido, mas da mensagem anunciada. Não é
somente a proclamação que surte efeito que deve ser considerada evange-
lização. A resistência ao evangelho não é sinal do nosso fracasso evange-
lístico, assim como a aceitação do evangelho não é sinal da nossa eficiência

126 | Estudo 11 - Evangelização e discipulado


evangelística.1 A Bíblia diz que é Deus quem dá o crescimento (1 Co 3:6).
Se pregarmos a palavra fielmente e não houver conversões, não significa
que não evangelizamos. Lembramos, também, que não podemos confun-
dir ação social com evangelização. A ação social é uma manifestação do
evangelho que está sendo proclamado e uma parceira na evangelização.2
Agora, pensemos um pouco sobre o chamado à evangelização. Quem
deve evangelizar? Jesus, depois de ressuscitado, disse aos seus discípulos:
Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda a criatura (Mc 16:15). A
ordem, aqui, é pregar a toda criatura e em todo mundo. Nesse mesmo
sentido, antes de subir aos céus, Jesus disse: Sereis minhas testemunhas, tanto
em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra (At
1:8). Para quem ele disse essas palavras? Nos dois casos, para os seus onze
primeiros discípulos (Mc 16:14; At 1:2). Todavia, a proclamação do evan-
gelho nunca foi uma responsabilidade que coube somente aos primeiros
discípulos de Cristo.
Essas conclamações aos primeiros discípulos constituem um dever
para todos os seguidores de Cristo. É uma comissão a todo cristão, in-
dividualmente. A evangelização é tão importante que as palavras usadas
para “pregação”, no Novo Testamento, se repetem mais de 115 vezes. A
igreja precisa ser uma proclamadora incansável das boas novas. Paulo es-
tava ciente dessa comissão, quando disse: Se anuncio o evangelho, não tenho
de que me gloriar, pois sobre mim pesa esta obrigação, porque ai de mim se não
pregar o evangelho! (1 Co 9:16).
A evangelização era um dos pontos fortes da igreja primitiva. Por isso,
todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que iam sendo salvos (At
2:47). Observe a expressão “todos os dias”. Algumas bíblias trazem “dia-
riamente” e outras, “dia-a-dia”. Essa expressão mostra que a evangelização,
na igreja primitiva, não era ocasional, mas contínua. Diariamente, com in-
trepidez, anunciavam a palavra de Deus (At 4:31); não cessavam de ensinar e
de pregar Jesus, o Cristo (At 5:42). É importante ressaltar que a Bíblia não
manda a igreja converter o mundo. Embora esse seja o objetivo da evange-
lização, não é tarefa da igreja fazer isso, pois o fruto da proclamação vem de
Deus. É ele quem acrescenta à igreja os que hão de ser salvos.

1. Dever (2007:149).
2. Stott (2010:30-33).

O Doutrinal | 127
Já sabemos o que é evangelização e quem deve evangelizar. Analisemos,
então, alguns conceitos básicos sobre a prática da evangelização. Quais são
os meios que podemos usar para evangelizar? Cremos que existem, pelo
menos, quatro: Em primeiro lugar, podemos evangelizar pela intercessão.
Podemos e devemos orar por aqueles que ainda não receberam a Cristo.
Paulo disse que tinha uma grande tristeza e incessante dor no coração (Rm 9:2)
por seus compatriotas judeus. Essa preocupação o levou à ação: ... o desejo do
meu coração e a minha oração a Deus em favor dos israelitas é que eles sejam sal-
vos (Rm 10:1 – KJV). O apóstolo orava pela salvação dos seus compatriotas.
Nós temos orado pela salvação dos milhares que ainda vivem sem Cristo? A
igreja precisa e pode orar pela salvação dos pecadores.
Em segundo lugar, podemos evangelizar pelo exemplo. O nosso teste-
munho é um dos meios mais eficazes de transmitirmos o evangelho. As
palavras, faladas ou escritas, podem ser rebatidas, mas uma vida santa, não.
Somos o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5:13-16). Como um perfume
que se espalha por todos os lugares, deixemo-nos ser usados por Deus para
que Cristo seja conhecido por todas as pessoas (2 Co 2:14). Em terceiro
lugar, podemos evangelizar pela contribuição. A igreja de Filipos entendia
bem o que isso significava. Os crentes dessa cidade ajudaram o apóstolo
Paulo na pregação do evangelho, através da contribuição financeira (Fp 1:5,
4:15-16). Nós também podemos evangelizar, através da contribuição para
a obra evangelística.
Em quarto e último lugar, podemos evangelizar pelo anúncio. Orar, ser
exemplo e contribuir são atitudes importantes, mas, acima de tudo, devemos
anunciar: A fé vem pela pregação (Rm 10:17). Evangelização é, essencial-
mente, proclamação. Cada cristão que declara a mensagem do evangelho
a qualquer pessoa, amigo ou não, está cumprindo a ordem de Cristo. Em
Atos, no capítulo 8, versículos 26-40, observamos um exemplo de cristão
que evangelizou pelo anúncio: Felipe. Podemos aprender muito com o seu
exemplo. Como evangelista, Felipe mostrou obediência (v. 26); apresentou
disponibilidade (vv. 27-29); teve iniciativa (v. 30); possuía conhecimento bíbli-
co (vv. 31-33) e era cristocêntrico, isto é, Jesus era o centro de sua mensagem
(vv. 35-37). Sigamos o seu exemplo!
2. O ensino bíblico sobre o discipulado: Além de entendermos a respeito
da evangelização, precisamos ter um entendimento correto acerca do discipu-
lado. Destacaremos três relevantes e vitais ensinos sobre o tema: o chamado,

128 | Estudo 11 - Evangelização e discipulado


o conceito e a prática do discipulado. Comecemos com o conceito. É muito
evidente, pela leitura do Novo Testamento, que a palavra mais usada para
designar aqueles que seguem a Cristo é “discípulo”. Na verdade, é impressio-
nante o número de vezes em que este termo aparece: mais de 250. “Cristãos”,
termo tão comum para nós, aparece apenas 3 vezes no Novo Testamento.
Mas o que é um discípulo? Aprendiz talvez seja um bom termo equiva-
lente, visto que discípulo é aquele que recebe ensino de alguém. O discípulo
apega-se a seu mestre, identificando-se com ele. Neste sentido, a Bíblia diz:
Basta ao discípulo ser como seu mestre (Mt 10:25). O discípulo deve aprender
não apenas ouvindo, mas, sobretudo, praticando.3 Ele aprende a viver como
o seu mestre e, depois, comunica a outros a vida que tem.4 Sobre os seus
discípulos, Jesus afirmou: Todo aquele que quer ser meu segui­dor deve amar-me
(...) mais do que a própria vida; caso contrário, não pode ser meu discípulo (Lc
14:26 – BV); e também: Se vós permanecerdes na minha palavra, sois verda-
deiramente meus discípulos ( Jo 8:31).
O meio pelo qual instruímos alguém a se tornar um verdadeiro discípu-
lo de Cristo é o que chamamos de discipulado. Essa prática é extremamente
importante para que a igreja cresça de forma saudável. Discipulado não é só
transmissão de conhecimento: é também exemplo de vida. Ensinamos mais
com a nossa maneira de viver do que com as palavras. Assim como é missão
da igreja evangelizar, é também sua missão discipular. Não basta levarmos o
pecador à fé salvífica inicial: devemos ensinar a cada um com toda a sabedo-
ria, para que apresentemos todo homem perfeito (maduro) em Cristo (Cl 1:28).
Muito mais do que conversos, admiradores ou defensores, Jesus deseja que
aqueles que o seguem sejam seus discípulos.
Quem deve discipular? O chamado ao discipulado é para todos? A Bí-
blia mostra que sim. Em Marcos, a igreja é convocada a ser uma proclama-
dora (Mc 16:15), mas, em Mateus, ela é convocada a ser uma discipuladora:
Portanto, ide e fazei discípulos (Mt 28:19 – grifo nosso). A expressão “fazei
discípulos” é uma tradução do verbo grego matheteusate, no modo impera-
tivo, e pode também ser traduzido como “discipulai”. Esta é a palavra de
ordem deste texto. Quanto ao “Ide”, este, na verdade, não é a expressão de
uma ordem: é a tradução do verbo grego poreuthéntes, no modo particípio,

3. Wiersbe (2006b:140).
4. Ortiz (2007:117).

O Doutrinal | 129
que indica ação em desenvolvimento.
A ideia do texto é “indo, discipulai”. A única e inegociável ordem da
grande comissão, de acordo com Mateus, é fazer discípulos. Essa ordem
de Cristo constitui-se um chamado ao discipulado. Não ficou restrita aos
primeiros discípulos: é para todos os cristãos, de todos os tempos e em
todos os lugares. Não é uma opção, sugestão, mas um mandamento. Jesus
não somente ordenou a prática do discipulado: também o praticou, durante
seu ministério. Ele atribuiu grande importância à parte do seu trabalho que
consistiu no treinamento dos doze. Esse treinamento ou discipulado foi
constante e prático. Às vezes, Jesus ensinava seus discípulos com a multidão
(Mt 5:1-2; 23:1), e, outras vezes, em particular (Mt 13:36, 16:21, 17:1).5
Além de chamá-los a segui-lo e ensinar-lhes, Jesus os treinou para
que também ensinassem outros a segui-lo. Eles cumpriram esta ordem.
Uma das marcas da igreja primitiva era o ensino: Eles se dedicavam ao en-
sino dos apóstolos (At 2:42); não cessavam de ensinar (...) Jesus, o Cristo (At
5:42). A igreja primitiva interessava-se pela edificação tanto quanto pelo
evangelismo6; evangelizava e discipulava. Em certo sentido, podemos cha-
mar a pregação de ministério do recrutamento e o ensino, de ministério
do amadurecimento. Ambos devem fazer parte da prática da igreja cristã.
Então, como vimos, a tarefa de discipular é de todos nós. Mas como
devemos fazer isso? A prática do discipulado é o assunto no qual nos de-
teremos agora. De maneira simples, Jesus ordenou e apresentou o modo
de se fazer discípulos: Ide, portanto, fazei discípulos (...) batizando-os (...)
ensinando-os a obedecer a tudo o que lhes ordenei (Mt 28:20). “Ide”, “batizan-
do” e “ensinando” apontam para as atitudes pelas quais a ordem “fazei dis-
cípulos” deve ser colocada em prática. Esta foi a metodologia ensinada por
Jesus. Vejamos cada um deles. Em primeiro lugar, o Ide. Já mencionamos,
anteriormente, que este não é um imperativo, mas uma ação em desenvol-
vimento, na língua original do Novo Testamento. A ideia do verbo é indo.
Podemos observar, então, que ainda assim, há uma responsabilidade
quanto à ação. Não evangelizaremos e nem faremos discípulos se ficarmos
parados. O Indo faz parte da grande comissão e nos ensina que devemos
ser agentes missionários em todos os lugares, mas, é claro, sem nunca es-

5. Marra (2007:55).
6. Hendriksen (2001b:704).

130 | Estudo 11 - Evangelização e discipulado


quecermos que Jesus disse que “todas as nações” devem ser alcançadas. A
ordem é: ... fazei discípulos de todas as nações. O mundo não será evangelizado
e discipulado, se nós não estivermos indo! O “fazei discípulos” deve ocorrer
tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os confins da terra
(At 1:8). Há muita gente para ser alcançada e ensinada.
Em segundo lugar, batizando também faz parte do processo do disci-
pulado. Diz respeito à integração do discípulo na igreja, visto que o batis-
mo7 simboliza a identificação com o povo de Deus; é um ato externo, uma
declaração pública de fé; representa a união do crente com Cristo em sua
morte e em sua ressurreição para uma nova vida. Todo discípulo deve ser
batizado. Em terceiro e último lugar, o ensinando também faz parte do pro-
cesso do discipulado. Não podemos limitar o “ensinando” à pregação inicial
do evangelho, quando a pessoa recebe a Cristo como Senhor. Ensinar é a
fase em que o novo crente é edificado, equipado e treinado por meio das
doutrinas bíblicas para assemelhar-se a Cristo e dar frutos.
O ensino é um processo que precisa continuar, após a conversão. Seu
conteúdo foi apresentado pelo mestre: ... todas as coisas que vos ordenei (Mt
28:20b). Não é o que nós pensamos; não são as nossas opiniões ou tradições,
mas as ordens de Jesus. Qual delas? Todas. Não as mais agradáveis, mas
tudo que ele ordenou. Jesus também apresentou a finalidade do ensino: ...
ensinando a obedecer... (20a). “Obedecer”, aqui, traz o sentido de “atender
cuidadosamente”. O objetivo do ensino não é somente encher a mente de
conhecimento, mas fazer o conhecimento se transformar em prática. Isso
também é verdade, no tocante a este estudo sobre evangelização e discipula-
do. Na sequência, apresentaremos três princípios básicos sobre o tema, com
o objetivo de sermos desafiados a vivenciá-los.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Evangelização e discipulado exigem compromisso.


Paulo era um homem maduro. Sua mentalidade evidenciava isso: Sou
devedor tanto a gregos quanto a bárbaros, tanto a sábios quanto a ignorantes
(Rm 1:14). Aquele que recebe a Cristo como Senhor, recebe a cura para a

7. Para mais detalhes sobre o batismo, cf. estudo 11: Ordenanças instituídas por Cristo.

O Doutrinal | 131
doença do pecado; é restaurado e transformado. Tudo isso por pura graça.
Como não se sentir devedor? Todo o salvo tem o dever solene de compar-
tilhar aquilo que recebeu. Se o evangelho chegou até nós, não temos o di-
reito de guardá-lo só para nós. “Ninguém pode reivindicar o monopólio do
evangelho”.8 Você também, a exemplo de Paulo, se considera um devedor?
Tem esse compromisso e está ansioso para pagar a sua dívida, repartindo a
boa nova com os outros, através da evangelização e do discipulado? Tornar
o evangelho conhecido às outras pessoas é nosso compromisso.

2. Evangelização e discipulado exigem prontidão.


Diante de sua dívida, comentada na aplicação anterior, observe o que
Paulo diz, no versículo seguinte: De modo que, no que depender de mim, estou
pronto a anunciar o evangelho (Rm 1:15). A ideia da expressão “estou pronto”
é de “prontidão voluntária”. Paulo é devedor, e, voluntariamente, está dis-
posto a pagar a sua dívida. No livro de Atos, podemos ver esse claro senso
de prontidão do apóstolo em prática. Paulo tanto evangelizava quanto dis-
cipulava; estava preocupado tanto com a conversão quanto com a confirma-
ção dos convertidos na fé (At 14:21-22, 15:36, 18:23). Ele sempre teve os
lábios prontos para falar do evangelho. E quanto a nós? Qual foi a última
vez em que tivemos coragem de falar de Cristo a alguém? Há prontidão de
nossa parte, no tocante à prática do evangelismo e do discipulado?

3. Evangelização e discipulado exigem convicção.


Tanto quem evangeliza quanto quem discipula, lida diretamente com
o evangelho. Enquanto um o proclama, o outro o ensina, através do anún-
cio ou do testemunho pessoal. Por essa razão, ambos, evangelista e disci-
pulador, precisam ter convicção a respeito do evangelho. O apóstolo Paulo
o tinha. No versículo 16, de Romanos capítulo 1, ele afirmou: ... não me
envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo
aquele que crê. A Bíblia Viva traduziu assim esse versículo: Não estou enver-
gonhado desta Boa Nova a respeito de Cristo. Ela é o poderoso método divino
de levar ao céu todos quantos crerem nela. Temos nós tal convicção? Então,
evangelizemos e discipulemos, a fim de que vidas sejam transformadas pela
pregação do evangelho.

8. Stott (2000:63).

132 | Estudo 11 - Evangelização e discipulado


Conclusão
Um detalhe que nos chama à atenção, nos principais textos bíblicos
sobre a evangelização e o discipulado, é a visão abrangente presente em
todos eles. Em Mateus, lemos que devemos fazer discípulos de todas as
nações; em Marcos, que devemos ir por todo o mundo e pregar o evangelho a
toda criatura; em Atos, que devemos ser testemunhas, em Jerusalém, Judeia
e Samaria e até os confins da terra. Além desses textos, nas predições de Jesus,
em Mateus capítulo 24, lemos: E será pregado este evangelho do reino em todo
o mundo, para testemunho de todas as nações (v. 14 – grifo nosso). A visão
de Cristo sobre a obra missionária é ampla e mundial. Todos nós, cristãos,
precisamos tê-la.
Deus deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conheci-
mento da verdade (1 Tm 2:4). Por isso, enquanto estivermos indo, preguemos
o evangelho e façamos discípulos de todas as tribos, nações, gentes e povos.
A mensagem do evangelho não conhece limites geográficos. Jesus morreu
para, com o seu sangue, comprar homens de toda a tribo, língua, povo e nação
(Ap 5:9). No próximo estudo, continuando a nossa jornada de meditações
sobre as doutrinas cristãs, iremos tratar de outro assunto, igualmente impor-
tante: as ordenanças instituídas por Cristo a sua igreja. Estude-o também.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Mateus 4:23 e Atos 5:42


A. Esses dois textos tratam sobre duas práticas, de Jesus e da igreja
primitiva: Quais?
B. Sobre a primeira delas, responda: O que é evangelizar?

02. Leia Marcos 8:34 e 1 Coríntios 3:6


A. O que deve conter a pregação do evangelho?
B. Podemos definir evangelização em termos de resultado produzido?
Justifique sua resposta à luz de 1 Co 3:6.

03. Leia Marcos 16:15 e 1 Coríntios 9:16


A. Qual a ordem que temos, nos textos apresentados?

O Doutrinal | 133
B. Quem deve evangelizar?

04. Leia Romanos 9:2, 10:1 e Mateus 5:13-16


A. Paulo orava pela salvação das pessoas? Podemos fazer isso também?
Fale sobre a evangelização pela intercessão.
B. O testemunho conta, na transmissão do evangelho? O
que significa ser “sal da terra e luz do mundo”? Fale sobre a
evangelização pelo exemplo.

05. Leia Romanos 10:17 e Filipenses 4:15-16


A. Contribuir financeiramente pela obra evangelística é uma prática
importante? O que aprendemos com a igreja de Filipos? Fale sobre
a evangelização pela contribuição.
B. Interceder, ser exemplo e contribuir são importantes, mas, acima de
tudo, na prática da evangelização, deve haver anúncio. Por quê?

06. Leia Mateus 10:25; Lucas 14:26 e João 8:31


A. Q ual a palavra mais usada, no Novo Testamento, para designar
aqueles que seguem a Cristo?
B. O que é um discípulo? O que é discipulado? Por que essa prática é
vital para igreja?

07. Leia Mateus 28:19-20


A. De acordo com esse texto, quem deve discipular? Só os
primeiros discípulos?
B. Segundo Jesus, qual a maneira de se fazer discípulos?

134 | Estudo 11 - Evangelização e discipulado


Estudo 12

Ordenanças
instituídas por Cristo

Se, de fato, sabeis estas coisas, sereis bem-


aventurados se as praticardes. (Jo 13:17)

INTRODUÇÃO
No último estudo, tivemos a oportunidade de meditar sobre evange-
lização e discipulado. Pelo estudo da palavra de Deus, ficou evidenciado o
quanto essas duas práticas são importantes e imperativas para a igreja de
Cristo. Através delas, a igreja pode espalhar as boas novas, a maravilhosa
notícia de que Jesus nos libertou do império das trevas e convida pessoas
para serem discípulas suas. Esperamos que você tenha entendido e reconhe-
cido a importância da evangelização e do discipulado. No presente estudo,
iremos tratar de outro assunto, igualmente importante: as ordenanças insti-
tuídas por Cristo a sua igreja.
São três as ordenanças que ele nos deixou: o batismo nas águas, a ceri-
mônia do lava-pés e a ceia do Senhor. Todas são cerimônias simples, admi-
nistradas com elementos simples. Nós as chamamos de “ordenanças” justa-
mente porque todas são cerimônias “ordenadas”. O próprio Jesus as instituiu.
Precisamos entender que estas “ordenanças” não possuem, em si mesmas, um
poder misterioso capaz de mudar aqueles que as praticam. Por si só, elas não
podem transmitir graça a ninguém. Todavia, acreditamos firmemente que
Deus pode usá-las para fortalecer e encorajar a fé de quem as pratica.

O Doutrinal | 135
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Todas as ordenanças instituídas por Cristo são importantes. Desde que


foram estabelecidas, até hoje, jamais podem ser esquecidas ou deixadas de
lado. Conforme já afirmamos na introdução, esses ritos são extremamente
simples; mas, apesar de toda simplicidade, expressam profundas verdades
teológicas e espirituais. Se quisermos entender o significado completo des-
sas ordenanças, precisamos examinar com atenção o que Jesus fez e falou,
ao instituir, o batismo, e ao celebrar o lava-pés e a ceia com seus discípulos.
Para que batizar? Por que lavar os pés? Qual o significado e a finalidade
da ceia do Senhor? Quem pode participar dessas cerimônias? É isso que
vamos buscar entender, na sequência deste estudo.
1. A ordenança do batismo: O batismo é uma ordenança de Cristo a sua
igreja. A Bíblia registra o mandamento do batismo, de forma clara e direta.
Antes de ser elevado aos céus, Jesus ordenou: Ide, portanto, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo
(Mt 28:19-20 – grifo nosso). A ordem dada, nesse texto, diz respeito ao
discipulado. É um chamado ao discipulado. Além de ordenar, Jesus mostrou
como seus discípulos deveriam ser formados: Indo, batizando, ensinando (vs.
19-20). Veja que, dentre os requisitos para a formação dos novos discípulos,
está o batismo. É evidente que essa ordem não era somente para o tempo dos
apóstolos. Ainda hoje, os discípulos de Cristo precisam ser batizados.
Além de registrar o mandamento, a Bíblia revela a importância do ba-
tismo. O próprio Jesus foi batizado (Mt 3:16), mesmo sem precisar. João
ministrava o batismo de arrependimento para perdão de pecados (Mc 1:4).
Sendo assim, não teria sentido para Jesus, o Cordeiro de Deus, que tira o
pecado do mundo ( Jo 1:29), ser batizado. Jesus não precisava, pois não tinha
pecado. O fato de ele ter sido batizado ressalta a importância desse rito. Ele
é o nosso exemplo, até no batismo. Além disso, podemos ver a importância
do batismo revelada na epístola aos Hebreus. Ali, o autor coloca-o na lista
das verdades fundamentais e básicas da fé cristã (cf. Hb 6:1-2).1
A Bíblia também evidencia a forma do batismo. A palavra “batismo”,
que aparece em nossas Bíblias, é a tradução do verbo grego baptizo, que

1. Ryrie (2004:490).

136 | Estudo 12 - Ordenanças instituídas por Cristo


significa “mergulhar”, “imergir”. Esse vocábulo era usado antigamente para
descrever a imersão de tecidos nos corantes e o ato de imergir utensílios
na água, a fim de limpá-los. A “despeito de asseverações ao contrário, pa-
rece que baptizo, tanto em contextos judaicos como em cristãos, significava
‘imergir’, e que, mesmo quando veio a ser um termo técnico para o batismo,
o pensamento de imersão permanece”.2 Sendo assim, podemos concluir, de
acordo com o significado da própria palavra, que a forma correta de realizar
esse ato é a imersão, isto é, o candidato deve ser envolvido completamente
na água e, depois, retirado (cf. Mt 3:16; At 8:39).
E quanto à fórmula do batismo? A Bíblia também a descreve. Jesus, ao
instituir essa ordenança, disse: Portanto, ide, fazei discípulos de todas as nações,
batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo (Mt 28:19 – grifo
nosso). Esta é a fórmula batismal: trinitária, ou seja, o pastor ou presbítero que
realiza o batismo, deve fazê-lo “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
Alguns podem objetar que isso está em desacordo com o livro de Atos, quando
lemos: ... cada um de vós seja batizado em nome de Jesus (At 2:38). Entretanto,
não existe contradição alguma. As narrativas do livro de Atos não representam
a fórmula batismal, mas apenas uma simples afirmação de que as pessoas que
recebiam o batismo reconheciam a Jesus como seu Senhor e Salvador.
Até agora, já mencionamos o mandamento, a importância, a forma e a
fórmula do batismo. Outra questão importante a ser tratada, neste estudo,
diz respeito aos sujeitos ao batismo. Quem deve ser batizado? Nas Escri-
turas, não encontramos mencionada a idade correta das pessoas que devem
ser batizadas. Todavia, a Bíblia apresenta as condições, de forma bem clara,
quando afirma que, para alguém ser batizado, é necessário: 1) o arrepen-
dimento dos pecados (cf. Mt 3:2-6; At 2:37-38) e 2) a fé em Jesus (cf. Mc
16:16; At 8:36-38, 16:31-33). No Novo Testamento, todos os que eram
batizados “já tinham aceitado a Cristo pessoalmente e experimentado a
salvação”.3 Sendo assim, como regra geral, podemos afirmar que toda pessoa
que seja madura suficiente para confessar seus pecados, arrepender-se e crer
em Cristo como Senhor, pode e deve ser batizada.
O batismo tem por base o arrependimento de pecados. Por isso, às mar-
gens do Jordão, João exigia, da parte dos que lhe pediam o batismo, confissão

2. Brow (1981:260).
3. Grudem (1999:817).

O Doutrinal | 137
de pecados e mudança de conduta (Mc 1:4-5). O batismo é o símbolo externo
do arrependimento, um gesto público, uma cerimônia externa de uma obra que
aconteceu interiormente (a regeneração), na vida de quem o recebe. O batismo
não tem poder de salvar ninguém. Não somos batizados para ser salvos, mas
porque somos salvos. Ele simboliza a morte, o sepultamento e a ressurreição de
Cristo (Rm 6:3-6): morremos para vida passada e a sepultamos (ato tipificado
com a imersão); depois, ressuscitamos para uma nova vida (ato tipificado na
emersão). O batismo é um testemunho público da nova vida que nos foi dada.
2. A ordenança do lava-pés: Semelhante ao batismo, o lava-pés tam-
bém é uma ordenança de Cristo à sua igreja. Quando o instituiu, Jesus vivia
a semana mais importante do seu ministério, a noite mais intensa de sua
vida aqui na terra, véspera da crucificação. Ele estava com os doze no Ce-
náculo. Naquele lugar, eles comiam a refeição da páscoa, festa judaica que
comemorava a libertação do Egito.4 Ali, o Mestre surpreendeu a todos. Para
entendermos o que aconteceu, precisamos recorrer a algumas informações
sobre os costumes da época: era costume que os pés das pessoas fossem
lavados, antes da refeição; contudo, lavar os pés de alguém era ato muito
humilhante. Somente o mais baixo dos escravos podia fazê-lo.5
Na reunião de Jesus com os discípulos, não havia escravos disponíveis para
fazer esse trabalho. Sendo assim, os discípulos poderiam lavar os pés uns dos
outros. Mas seus corações orgulhosos os impediam. À mesa, eles disputavam
entre si quem era o maior (Lc 22:24). Foram cear com corações e pés sujos.
Precisavam, encarecidamente, de uma lição de humildade. Jesus lhes ensinou.
De repente, ele se levantou da mesa, tirou a capa, cingiu-se com uma toalha e
foi fazer o trabalho de um escravo.6 Passou a lavar e enxugar os pés dos discí-
pulos ( Jo 13:4-5). Nenhum deles estava entendendo o que aquilo significava.
Ao tomar a iniciativa de lavar os pés dos discípulos, Jesus se colocou na
posição de servo, mesmo sendo Senhor. Que lição de humildade ele ministrou!
Contudo, apesar de se rebaixar à condição de escravo, Jesus conhecia perfei-
tamente sua posição ( Jo 13:13), pois sabia que viera do Pai e para ele voltaria
( Jo 13:3). Com essa postura, mostrou aos seus amigos que servir aos outros
não diminui o valor de ninguém. Foi na execução daquela tarefa humilhante

4. Boyer (1989:472).
5. McArthur (2003:41).
6. Bruce (2009:1736).

138 | Estudo 12 - Ordenanças instituídas por Cristo


que sua autoridade de Senhor se tornou mais evidente. Ele conhecia, de fato,
o que é servir. Por isso, pôde dizer, logo após: ...eu vos dei o exemplo ( Jo 13:15).
Depois de lavar os pés dos seus discípulos, Jesus passou a explicar-lhes
o que acabara de fazer e o que queria lhes ensinar. Então, deu-lhes este
mandamento: Ora, se eu, sendo o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também
vós deveis lavar os pés uns dos outros ( Jo 13:14). O lava-pés é uma ordenança
de Cristo a sua igreja e deve ser praticado por nós, hoje. Jesus apresenta,
neste texto, dois motivos por que seus discípulos deveriam praticar esse
ensino: Primeiro, porque ele é Senhor e Mestre, e, como tal, é digno de ser
imitado. Segundo, porque ele lhes deu o exemplo, ou seja, sabia o que estava
ensinando e ordenando. Isso lhe conferia autoridade.
Mas, por que praticar essa cerimônia? O que ela significa? Com esse
simples gesto, de acordo com o que já comentamos, Jesus ensinou uma
grande lição de humildade. Além disso, também nos deu exemplo de igual-
dade, amor fraternal e serviço cristão (v. 14-17). Ele é nosso maior exemplo
de conduta cristã (Fp 2:1-11).7 É importante entendermos também, que
para Jesus, lavar os pés de outra pessoa significa mais que simplesmen-
te limpar a sujeira: é sujeitar-se, estar à disposição, é considerar-se menor,
mesmo sendo maior; é respeitar o valor do outro e não permitir que posi-
ções sociais ou herança familiar determinem quem vale mais.
Isso confirma o que foi registrado no evangelho de Marcos, capítulo 9,
versículos 33 a 37, quando Jesus ensinou quem é maior ou menor no reino de
Deus. Ali Jesus disse: Se alguém quiser ser o primeiro, será o último e o servo de
todos (v. 35). Era essa mesma lição que o Mestre queria que eles assimilassem e
praticassem, a partir do exemplo do lava-pés. Todas as vezes que praticarmos
o lava-pés, devemos nos lembrar destas verdades. Salientamos, ainda, que, em-
bora o lava-pés seja um ato distinto da ceia, está fortemente ligado a ela. Am-
bos foram instituídos por Jesus na mesma noite. Um é preparação para o outro.
3. A ordenança da ceia: Além do batismo e do lava-pés, Jesus também
instituiu a ceia. Trata-se uma cerimônia essencialmente humilde. De acordo
com a palavra de Deus, foi ministrada com dois elementos simples: o pão e o
vinho (fruto da vide). Qual o significado ou simbolismo deles? Jesus deixou
isso claro: Ele tomou o pão e, depois de ter dado graças e o ter partido, deu-o
aos seus discípulos, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em me-

7. Grün (2006:114).

O Doutrinal | 139
mória de mim (Lc 22:19). Em seguida, fez o mesmo com o cálice, e disse: Este
é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós (Lc 22:20).
Os componentes da ceia apontam para a cruz de Cristo e os seus
significados estão centrados na morte expiatória e no sacrifício de Jesus.8
O pão simboliza seu corpo, que foi ferido por nós. O cálice simboliza
seu sangue derramado no Calvário. A ceia é um memorial. Disse Jesus:
... façam em memória de mim (Lc 22:19). Cada vez que a celebrarmos,
devemos pensar em Cristo, em tudo que ele fez por nós e, pela fé, apro-
priarmo-nos dessas bênçãos. A ceia não é simplesmente uma refeição
compartilhada pelos homens; é a comunhão com o próprio Cristo, em
sua presença, à sua mesa.9
A ceia do Senhor é uma cerimônia com finalidades claras. Na primeira
carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo traz valiosos ensinos sobre esse as-
sunto. Ali, aprendemos que um dos objetivos para a realização dessa ceri-
mônia é a comunhão (1 Co 10:16-17). A ceia é mais que um ajuntamento
de crentes; é uma comunhão, no sentido vertical, com Deus, e, no sentido
horizontal, com os irmãos. É a festa da família de Deus, com ele presente.
Além da comunhão, outro objetivo para a realização desta cerimônia é a
recordação. Esse é o motivo principal. Na ceia, nós nos lembramos do nosso
Senhor. Recordamos o seu sacrifício, tudo o que ele fez por nós.
Por três vezes, a Bíblia registra a expressão “em memória de mim” (Lc
22:19; 1 Co 11:24-25). Ao relembrar a morte de Cristo, também celebramos
a vitória que recebemos por meio dela. Vale dizer que recordar é também re-
novar. Portanto, ao comer e beber, temos a oportunidade, dada por Jesus, de
ver renovada a nossa fé e a nossa esperança nele. É uma ocasião em que é re-
afirmada a nossa aliança com Cristo. Por fim, outro objetivo para a realização
da ceia é a proclamação: Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste
cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha (1 Co 11:26). Na
ceia do Senhor, são proclamadas a morte, a ressurreição e a vinda de Cristo.
E quanto aos que participam da ceia? O que se espera dos que querem
compartilhar da mesa do Senhor? Em 1 Co 11:27-29, Paulo ensina três re-
quisitos básicos: o primeiro é a reverência. O texto diz que não podemos comer
nem beber indignamente (v. 27). O que isso significa? Pense: se fôssemos es-

8. Hendriksen (2004a:562-5).
9. Grudem (1999:805).

140 | Estudo 12 - Ordenanças instituídas por Cristo


perar tornar-nos dignos, jamais iríamos participar da ceia. O texto refere-se à
conduta imprópria dos irmãos de Corinto na ceia do Senhor, pois faziam dela
uma festa carnal (cf. vv. 17-22).10 Comiam e bebiam de forma indigna (v. 27 -
BV). O ensino é: não podemos tomar parte da mesa de Cristo com a atitude
errada. É preciso respeito, zelo e reverência, ao participarmos da ceia do Senhor.
O segundo requisito é a introspecção. Diz o texto: Examine-se, pois, o
homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice (v. 28). Um exa-
me sincero do nosso coração nos mostrará que somos indignos. Devemos,
portanto, dependentes da graça, confessar os nossos pecados ao Senhor e
participar da ceia. A ordem bíblica é: examine-se e coma!11 E, finalmente, o
terceiro requisito para participarmos da ceia é o discernimento. Diz o texto:
... pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si (v.29). É
fundamental saber o significado dessa ordenança. Por isso, não é licito que
crianças participem. Somente quem crê em Cristo e evidenciou isso através
do batismo deve participar da ceia do Senhor.
Aprendemos, até aqui, que o batismo, o lava-pés e a ceia do Senhor são
ordenanças instituídas por Cristo a sua igreja. Embora sejam cerimônias
distintas, estão intimamente ligadas e se completam. Através do batismo,
somos recebidos publicamente no corpo de Cristo. Através da prática do
lava-pés, somos lembrados de que, no corpo de Cristo, todos são chamados
para servir. Ao participarmos do pão e do cálice, pela fé, unimo-nos a Cristo
e aos irmãos e lembramos que, no corpo de Cristo, todos devem viver em
comunhão. Aplicando esse ensino bíblico, vamos, a seguir, considerar três
ensinos oportunos e relevantes que podemos extrair do estudo das ordenan-
ças instituídas por Cristo a igreja.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. As ordenanças instituídas por Cristo a sua igreja nos ensinam a olhar com
gratidão para o passado.
Ao pensamos no simbolismo do batismo, isto é, no que representa,
não há como não olharmos com gratidão para o passado. Nossa velha vida

10. Kistemaker (2004a:556).


11. Lopes (2008a:216).

O Doutrinal | 141
foi sepultada com Cristo no batismo (Cl 2:12). Esse rito é o testemunho
público da morte da nossa velha vida e da nossa ressurreição para uma
nova vida em Cristo. Semelhantemente ao batismo, a ceia do Senhor tam-
bém é um convite a olharmos para trás com gratidão. Na ceia, olhamos
para o monte Calvário e nos prostramos, cheios de gratidão, diante da
cruz de Cristo. Nessa cerimônia, a morte de Jesus é anunciada e recorda-
da. Lembramos que os nossos pecados foram perdoados e fomos recon-
ciliados com Deus. A morte de Cristo é nossa vida. Portanto, recorde-a
com muita gratidão.

2. As ordenanças instituídas por Cristo a sua igreja nos ensinam a olhar com
reflexão para o presente.
Toda vez que praticamos a cerimônia do lava-pés, não há como fugir
do exercício da reflexão. A humildade deve caracterizar o viver diário do
cristão. Não fomos chamados para ser vistos, mas para servir. O lava-pés
no induz a refletir sobre essas questões. Muito mais do que limpar a sujeira
dos pés, precisamos refletir no nosso andar diário. De igual modo, a ceia do
Senhor também é um chamado à reflexão. Nessa solene reunião, “não cami-
nhamos ao redor de um monumento e o admiramos à distância”.12 Ao con-
trário, há uma mensagem rica e atual: temos comunhão com um Salvador
vivo, do qual nos aproximamos pela fé, e com os irmãos (1 Co 10:16-17).
Somos lembrados de que não estamos sozinhos (Mt 28:20). Como está sua
comunhão com o Senhor e com os irmãos? Reflita sobre isso, não só na ceia,
mas em todos os dias de sua vida.

3. As ordenanças instituídas por Cristo a sua igreja, nos ensinam a olhar com
esperança para o futuro.
Talvez um dos mais maravilhosos ensinos da ceia do Senhor seja o que
é relacionado ao futuro. Essa festa espiritual aponta para o que acontecerá,13
pois, nela, anunciamos a morte do Senhor até que ele venha (1 Co 11:26).
Cada vez que a realizamos, somos lembrados de uma esperança maravilho-
sa: Jesus está voltando. Essa é a expectativa da igreja de Cristo e de cada
cristão. Na ceia, você vê que Jesus não apenas morreu em seu favor, mas que
também ressuscitou, subiu ao céu e, num precioso dia, voltará para levá-lo

12. Wiersbe (2006b:792).


13. Idem, p.793.

142 | Estudo 12 - Ordenanças instituídas por Cristo


com ele ( Jo 14:2-3). De fato, na ceia, ao comer e beber, você está desfrutan-
do a “alegria antecipada” da mesa do grande banquete do rei.14 Olhe com
esperança para o futuro: Jesus virá!

Conclusão
O batismo, o lava-pés e a ceia são cerimônias preciosas aos olhos de
Deus e também devem ser aos nossos olhos. Esses três ritos nos fazem
lembrar a obra de Cristo em nosso favor. É essencial entendermos o que
significam. Como ordenanças de Cristo à igreja, essas cerimônias devem ser
praticadas com reverência, profunda gratidão e alegria. Jesus praticou todas
elas. Ele foi batizado, lavou os pés dos discípulos e participou da ceia. Só o
fato de ser Deus já o torna suficientemente autorizado para instituir qual-
quer uma dessas ordenanças, mas, não bastasse isso, ele também as praticou.
Assim, não nos resta dúvida da sua validade para nós, hoje.
Concluímos, então, lembrando que o batismo é “símbolo” da obra divina
(regeneração) que marca o início da nossa nova vida. O lava-pés é símbolo da
essência do chamado desta nova vida: a disposição para servir humildemente
o próximo, o amor fraternal, a igualdade, etc. De igual modo, a ceia do Senhor
é símbolo da comunhão que devemos ter no desenvolvimento da nossa vida
cristã: a comunhão com Deus e com os irmãos. Dessa forma, encerramos por
aqui esse estudo. Para o próximo, comece, desde já, a refletir na expressão: “sã
doutrina”. O que ela significa? É sobre disso que iremos estudar.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Mateus 28:19-20


A. A palavra “batismo” vem do grego “baptizo”. O que significa? Nesse
sentido, é correto realizar algum batismo que não seja por imersão?
B. Qual é formula correta do batismo? Em nome de quem devemos batizar?

02. Leia Mateus 3:2-6; Atos 2:37-38 e Marcos 16:16


A. Quais são os requisitos necessários para que uma pessoa seja batizada?

14. Grudem (1999:837).

O Doutrinal | 143
B. É certo realizar o batismo de crianças? Justifique a resposta.

03. Leia Marcos 1:4-5; Jo 3:3, e Romanos 6:3-6


A. Comente sobre esta frase: “O batismo é o símbolo externo do
arrependimento; é um gesto público, uma cerimônia externa de uma obra
que aconteceu interiormente (a regeneração), na vida de quem o recebe”.
B. Sendo o batismo um símbolo, o que representa na vida do cristão?
Que conexão há entre o ato do batismo e a obra de Cristo (morte,
sepultamento e ressurreição)?

04. Leia Lucas 22:24-27; João 13:1-11; Filipenses 2:5-8


A. A Bíblia nos diz que Jesus lavou os pés de seus discípulos. Fale sobre
esse costume dos tempos bíblicos. Por que Pedro se recusou a ter
seus pés lavados pelo mestre?
B. O que Jesus queria ensinar, quando lavou os pés dos discípulos?

05. Leia João 13:12-16


A. Depois de ter realizado a cerimônia da humildade, o que Jesus disse
aos seus discípulos?
B. A cerimônia do lava-pés deve ainda ser realizada pela igreja em nossos dias?

06. Leia Mateus 26:26-30 e Lc 22:19-20


A. Por quem e quando foi instituída a ceia do Senhor? O que significa
dizer que a ceia do Senhor é memorial?
B. Quais são os elementos que a compõem e o que representam?

07. Leia 1 Coríntios 10:16-7, 11:23-29


A. A ceia do Senhor é festa espiritual que possui três objetivos, que são:
comunhão, recordação e proclamação. Comente esses objetivos.
B. O que se espera daqueles que querem participar da mesa do Senhor?

144 | Estudo 12 - Ordenanças instituídas por Cristo


Estudo 13

A sã doutrina

Tu, porém, fala o que está em harmonia com


a sã doutrina. (Tt 2:1)

Introdução
No estudo anterior, tratamos um assunto muito importante, relacio-
nado às práticas do dia-a-dia da igreja: As ordenanças instituídas por Cristo.
São elas: o batismo nas águas, a cerimônia do lava-pés e a ceia do Senhor.
Todas são cerimônias simples, administradas com elementos simples. Nós
as chamamos de “ordenanças” justamente porque todas são cerimônias “or-
denadas”. O próprio Jesus as instituiu. O assunto do presente estudo tam-
bém é vital para o bom andamento da igreja de Cristo: A sã doutrina. Ele é
salutar porque uma doutrina saudável é a base para uma conduta saudável.
A Bíblia utiliza o termo “sã doutrina”, algumas vezes, e diz que a lei
condena todos que se opõem à sã doutrina (cf. 1 Tm 1:8-10), que, no fim
dos tempos, muitos, por ajuntarem para si mestres segundo seus próprios
desejos, não suportarão a sã doutrina (1 Tm 4:3). Diz, também, que os presbí-
teros da igreja devem ser capazes de encorajar outros pela sã doutrina (Tt 1:9
– NVI). E, por fim, ensina que a melhor maneira de combater o erro é falar
o que está em harmonia com a sã doutrina (Tt 2:1). Mas o que é a sã doutrina?
Como podemos defini-la? Verifiquemos o que a Bíblia diz.

O Doutrinal | 145
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Uma vez salvos pela graça, iniciamos a nossa carreira cristã. Depois de
justificados, entramos no processo de santificação. Nessa caminhada, saber
qual a vontade Deus para nós é extremamente importante, se não quiser-
mos andar por caminhos errados. Por isso, é tão necessário conhecermos
a sã doutrina. Alguém comparou a vida cristã com uma viagem no tempo
para a eternidade. Essa viagem tem rumo e destino certo. Nela, a doutrina
é como o mapa que indica o caminho até o destino final. Deus não nos
deixou sem rumo. Sua vontade foi revelada a nós. Com isso em mente,
consideremos alguns pontos relevantes sobre a sã doutrina.
1. A sã doutrina deve ser entendida: Há muita confusão em torno da
palavra “doutrina”. Para muitos, essa palavra é sinônimo de rigidez, seve-
ridade, fardo e legalismo. Mas não é isso que a Bíblia ensina. “Doutrina” é
a tradução do grego didaquê ou didaskalia, que significa ensino ou instrução.
Deste modo, a doutrina cristã pode ser definida como o conjunto das ver-
dades fundamentais da Bíblia, ensinadas de forma sistemática, ordenada e
organizada.1 Os exageros de alguns que torcem a palavra de Deus para criar
seus próprios pontos de vista não podem ser chamados de doutrina, pelo
menos não de “doutrina cristã”.
Novamente, ressaltamos que a doutrina cristã é bíblica, isto é, é baseada
na Bíblia Sagrada. A doutrina é o que a Bíblia, como um todo, nos ensi-
na a cerca de um determinado assunto. É composta pelos mandamentos e
princípios cristãos ensinados na palavra de Deus. Por exemplo, é doutrina
bíblica o ensino sobre o pecado, sobre a salvação, o sábado, a abstinência, a
temperança, a volta de Cristo, sobre o Espírito Santo e muito mais. Mas por
que o adjetivo “sã”? Essa palavrinha é a tradução do grego, hygiainoúse, que
significa “estar bem”, “estar com saúde”, “ser são”.
Desse modo, por “sã doutrina”, devemos entender “doutrina saudável”.
É claro que o fato de a Escritura Sagrada usar esse termo indica que exis-
tem doutrinas enfermas ou falsas doutrinas. O cristão deve acautelar-se
para não se deixar enganar. Jesus, em certa ocasião, afirmou: Como vocês estão
errados não conhecendo nem as Escrituras e nem o poder de Deus (Mt 22:29).

1. Pearlman (2006:16).

146 | Estudo 13 - A sã doutrina


Precisamos conhecer as Escrituras para não sermos enganados por qualquer
vento de doutrina. Somente a doutrina verdadeira e saudável deve entrar
em nossa mente, achar morada em nosso coração e sair dos nossos lábios.
2. A sã doutrina deve ser apreciada: Como podemos ser fiéis à palavra
de Deus e comprometidos com o genuíno evangelho de Cristo? O primeiro
passo é: amar essa doutrina e desejar conhecê-la. O amor ou apreço pela
doutrina é essencial; é o alicerce, pois o amor vem antes da fé, da gratidão
e da obediência. Aliás, a essência da lei de Deus é o amor: Amarás o Senhor
teu Deus de todo o coração, de toda a alma e de todo entendimento (...). Amarás
o teu próximo como a ti mesmo (Mt 22:37-40). O Senhor não quer que lhe
obedeçamos por obrigação, mas por gratidão e amor (cf. Jo 14:21).
Além disso, os mandamentos e os valores cristãos encontrados na Bí-
blia revelam o cuidado e o amor de Deus por nós. O que conhecemos por
doutrina ou fé cristã é a base da nossa conduta cristã; é o que nos mostra
o caminho a seguir e nos revela a vontade do Pai. Através do seu conhe-
cimento, somos habilitados a distinguir entre o certo e o errado. Sem tal
conhecimento, não há santificação pessoal. A verdade bíblica é, ao mesmo
tempo, relevante e prática para vida cristã. Por isso, devemos apreciá-la e
agir como o salmista, que dizia: Como eu amo a tua lei! Medito nela o dia
inteiro (Sl 119:97).
O Salmo 119 é um poema de beleza ímpar, cuidadosamente escrito.
Esse Salmo, o mais longo da Bíblia Sagrada, é uma “exaltação” à lei do Se-
nhor, uma “exaltação” à palavra de Deus, aos seus estatutos, mandamentos e
ordenanças. Nele, os preceitos do Senhor são tratados com grande apreço:
Felizes são aqueles que fazem da lei do Senhor o seu caminho (v.1). Mais à frente,
o salmista diz: Somente as tuas instruções me dão capacidade de enfrentar as
situações da vida com a tua sabedoria. Por isso, eu odeio o caminho da mentira, os
falsos ensinos (v. 103). Que sejamos capazes de ter tal apreço pela sã doutrina.
3. A sã doutrina deve ser estudada: Com os corações cheios de apreço
e amor pela sã doutrina e conscientes de sua importância, estamos prontos
a mais um passo: conhecer profundamente a doutrina cristã. Ela é “como o
mapa do viajante, o cajado do peregrino, a bússola do piloto (...). Ela é códi-
go de conduta do cristão”.2 Mas como conhecê-la? É preciso estudá-la com
seriedade e afinco. Devemos seguir o exemplo dos bereanos, que receberam

2. Schwarz (2002:17).

O Doutrinal | 147
a palavra de Deus com muito interesse, examinando as Escrituras todos os dias
para ver se as coisas eram, de fato, assim (At 17:11).
Eles não receberam passivamente tudo o que lhes fora dito por
Paulo. Os bereanos questionaram, examinaram, estudaram as Escri-
turas para ver se a doutrina que lhes era ensinada era verdadeira. O
vocábulo grego usado, em Atos 17:11, é anakrino, que significa fazer
passar pelo crivo, fazendo uma pesquisa cuidadosa e exata. O estudo
fez com que os judeus de Bereia avançassem em seus conhecimentos.
Nessa mesma época, Paulo também pregou aos judeus de Tessalônica.
Por essa atitude madura, os bereanos foram chamados de mais nobres
(At 17:11a) que os tessalonicenses.
Não nos esqueçamos: a ignorância quanto aos ensinos bíblicos induz
à falha e leva as pessoas à derrota. Foi o que Deus denunciou, através do
profeta Oséias: O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimen-
to (Os 4:6). Por isso, mais do que ler superficialmente as doutrinas cristãs,
é fundamental estudá-las com profundidade. Elas são o antídoto contra o
erro. São elas que desenvolvem o caráter cristão em nós; afinal, crenças bem
definidas produzem convicções bem definidas. A sã doutrina livra-nos das
vendas enganadoras do pecado. Disse Jesus: ... e conhecereis a verdade, e a
verdade vos libertará ( Jo 8:32). Estude a sã doutrina!
4. A sã doutrina deve ser praticada: Não basta conhecermos a doutrina
de Cristo; devemos, também, colocá-la em prática. Veja o ensino do apóstolo
Tiago: Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganan-
do-vos a vós mesmos (Tg 1:22). Muitos pensam, erroneamente, que só o ouvir
uma boa mensagem bíblica ou participar de um estudo bíblico é o que os faz
crescer espiritualmente. Não é só o ouvir ou estudar, mas também o praticar
que resulta nessa bênção. É preocupante perceber que muitos cristãos “costu-
mam marcar passagens na Bíblia, mas nunca marcam a própria vida!”.3
Os capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho de Mateus fazem parte do conhe-
cido “Sermão do monte”, proferido por Jesus. Esses capítulos narram uma
bela exposição do ensino do mestre sobre felicidade, testemunho, assassi-
nato, adultério, divórcio, amor, justiça, oração, jejum, etc. São mais de cem
versículos altamente instrutivos e esclarecedores. Já no final, Jesus conclui
com a seguinte exortação: ... quem ouve estas minhas palavras e as pratica é

3. Wiersbe (2006c:448).

148 | Estudo 13 - A sã doutrina


como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. Segundo Jesus,
o contrário deste é o que não as pratica: é como um insensato que construiu a
sua casa sobre a areia (Mt 7:24-26 – NVI). A obediência faz toda diferença.
Jesus estava mostrando aos seus ouvintes que não adiantaria ouvi-lo,
se não colocassem em prática o que ele lhes ensinava. Por exemplo: de que
adianta saber tudo sobre oração e não orar? Além de termos uma ortodoxia
(uma doutrina correta) precisamos ter uma ortopraxia (uma prática correta).
Se quisermos agradar a Deus, não devemos apenas apreciar ou conhecer a
sã doutrina; é preciso praticá-la! Aqui, vale o mesmo princípio ensinado por
Jesus aos seus discípulos, em João capítulo 13: Se, de fato, sabeis essas coisas,
sereis bem-aventurados se as praticardes (v.17).
5. A sã doutrina deve ser ensinada: A Bíblia diz: ... todo aquele que prati-
car e ensinar estes mandamentos será chamado grande no reino dos céus (Mt 5:19
– NVI). É preciso ensinar! Prova disso é que o ensino aos novos convertidos
é parte fundamental no cumprimento da grande comissão: ... ensinando-
-os a guardar todas as coisas que vos tenho ordenado (Mt 28:19-20). Observe,
aqui, a dupla ênfase: “ensinar” (doutrina) e “guardar” (prática).4 Para Jesus,
o discipulado sempre foi uma prioridade. O mestre sabia que, assim como
as raízes asseguram o crescimento e a sustentação de uma árvore, assim
também a doutrina garante a firmeza da fé.
Os apóstolos mantiveram o mesmo zelo. O exemplo mais notável de
ensino sistemático das Escrituras se encontra registrado em Atos: Paulo (...)
separou os discípulos, instruindo-os diariamente na escola de Tirano. Isso acon-
teceu durante dois anos (At 19:9b-10a). Tirano era um professor e mestre de
várias disciplinas. Ele era proprietário de um “salão” ou de uma “escola”, na
cidade de Éfeso. Usava as salas da Escola nas horas frescas da manhã e na
parte da noite, e cedia os horários da tarde para Paulo, pois tais salas perma-
neciam vazias durante esse período quente do dia (aproximadamente, das
11 às 16 horas). Em razão de muitas pessoas não trabalharem nesse horário,
podiam ir lá para ouvir Paulo.5
O apóstolo usava a escola desse homem para ensinar Bíblia. Foram cin-
co horas de aula por dia, por um período de dois anos inteiros. Isso dá 2500
horas de ensino evangélico. Não é à toa que o versículo 10 diz que todos os

4. Ryrie (2007:13).
5. Bíblia de Aplicação Pessoal (2004:1529).

O Doutrinal | 149
que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor. Paulo ensinava a sã
doutrina. A ordem da palavra de Deus para nós é a mesma: Tome os ensi-
namentos que você ouviu (...) e entregue-os aos cuidados de homens de confiança,
que sejam capazes de ensinar outros (2 Tm 2:2 – NTLH). Através de cristãos
sérios, a fé cristã resistiu a séculos de ataques e ao levante de muitas heresias.
Passou por várias gerações até chegar a nós. Devemos ensiná-la também
com cuidado (cf. 1 Tm 4:16).
6. A sã doutrina deve ser protegida: Além de entender, apreciar,
estudar, praticar e ensinar a sã doutrina, é imprescindível, também,
“protegê-la”, isto é, defender e zelar pela sua pureza. Contudo, manter
a pureza doutrinária da igreja é um imenso desafio. Na verdade, sempre
foi um desafio, mas, atualmente, parece ainda maior. Vale dizer que o
engano religioso foi o primeiro sinal apontado por Jesus para o fim dos
tempos (Mt 24:3-5). Ele avisou que surgiriam falsos cristos e falsos
mestres com falsas doutrinas.
Em outra passagem, a Bíblia diz: ... haverá tempo em que não suportarão
a sã doutrina (...) como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar
ouvidos à verdade entregando-se às fábulas (2 Tm 4:3-4). Estamos vivendo
esse tempo. Há uma enxurrada de heresias invadindo nosso país e de práti-
cas contrárias ao ensino Escrituras, como a propaganda indevida de sinais
e prodígios e a venda de bênçãos. Entre os acadêmicos, a “teologia liberal”
e suas vertentes, que negam veracidade da Bíblia, ainda têm considerável
influência nas reflexões teológicas e na interpretação da Bíblia. Esta lista
não para por aqui. São muitas as mentiras que tentam manchar a pureza do
evangelho e enfermar a sã doutrina.
Por isso, devemos lutar pela genuína fé cristã. Devemos desmascarar
os falsos mestres e suas falsas doutrinas. É necessário estarmos prepara-
dos, como obreiro que maneja bem a palavra da verdade (2 Tm 2:15), que
se mantém f irme na palavra f iel, conforme a doutrina, para que seja capaz
tanto de exortar na sã doutrina quanto de convencer os opositores (Tt 1:9).
Só quem conhece, aprecia, estuda, ensina e pratica a sã doutrina, conse-
gue protegê-la. É nosso dever fazer isso. Pureza doutrinária é essencial:
Pois, todo aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas vai além dele,
não tem Deus (2 Jo 1:9).
Reiteramos que a doutrina é o conjunto das verdades fundamentais da
Bíblia, ensinadas de forma sistemática, ordenada e organizada ou o que a

150 | Estudo 13 - A sã doutrina


Bíblia, como um todo, ensina acerca de um determinado assunto. Doutrina
não é o que temos de mais importante, mas coloca as coisas nos seus devi-
dos lugares, fazendo aquele que é mais importante ser glorificado. Por isso,
peçamos a Deus que coloque em nós o mesmo anseio do profeta Oséias:
Ah! Precisamos muito conhecer o Senhor! Vamos nos esforçar para isto, e Ele nos
responderá (Os 6:3 – BV). Você quer ter esse mesmo sentimento? Então,
leia com atenção as aplicações a seguir.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Para valorizar a sã doutrina, combata o desinteresse.


Nunca foi tão fácil adquirir uma Bíblia como é em nossos dias. Quase
todo mundo tem uma. Mas, infelizmente, muitos crentes em Jesus estão,
dia-a-dia, diminuindo o seu interesse pela sua leitura e pelo seu estudo. Isso
preocupa. Quanto mais desinteresse houver, no que diz respeito ao estudo
das Escrituras, mais analfabetismo bíblico haverá. A própria Bíblia indicou
que, no fim dos tempos, o amor de muitos esfriará (Mt 24:12). Entretanto, isso
não precisa acontecer em sua vida. Não se conforme! Combata o desinteres-
se e atenda o conselho do escritor de Provérbios: se por entendimento alçares a
tua voz; se o buscares como a prata e o procurares como a tesouros escondidos; então
entenderás o temor do Senhor, e acharás o conhecimento de Deus (Pv 2:1-5).

2. Para obedecer à sã doutrina, cultive o discernimento.


Há uma imensidão de igrejas e seitas dizendo possuir a doutrina verda-
deira. Como saber qual a doutrina pura, em meio a essa confusão? É preciso
ter discernimento. O que é isso? É a capacidade de fazer distinção entre
coisas diferentes e de separar o certo do errado. Dizia Paulo: Que o amor
de vocês aumente cada vez mais em conhecimento e em toda a percepção, para
discernirem o que é melhor (Fp 1:9-10 – NVI). O discernimento é sinal de
maturidade. É adquirido através do conhecimento da palavra de Deus. Sem
ele, você corre o risco de ser levado ao redor por todo vento de doutrina, pela
artimanha dos homens e pela astúcia com que induz ao erro (Ef 4:14). Portanto,
cultive o discernimento (Hb 5:11-14).

3. Para preservar a sã doutrina, corrija a desobediência.


De nada vale conhecer e não obedecer. Infelizmente, existem muitos

O Doutrinal | 151
que conhecem as doutrinas bíblicas, mas não lhes obedecem; isso porque
temos a tendência de nos acomodar e nos conformar com o pecado. Mas o
conselho bíblico é este: Como filhos obedientes, não vos amoldeis aos desejos que
tínheis em tempos passados na vossa ignorância (1 Pd 1:14). Você não pode ser
complacente com o pecado. Se há algo errado em sua vida, não deixe para
amanhã; corrija a agora mesmo. Além disso, não podemos ser coniventes
com o erro dos outros. Fazemos parte da igreja de Cristo. Uma igreja santa,
que tem um ensino bíblico e íntegro, não pode ser conivente com o erro.

Conclusão
Está lançado o desafio: zelar pela doutrina que Jesus Cristo nos deixou
(cf. 1 Tm 4:16). Sem pureza na doutrina, não há pureza na conduta. Como
afirmamos, no início deste estudo, uma conduta correta depende, em mui-
tos sentidos, de uma doutrina correta. É por isso que devemos entender,
apreciar, estudar, praticar, ensinar e proteger a sã doutrina, com bastante
e zelo e muita seriedade. Nenhum caminho para a perdição tem se enchi-
do tanto atualmente como o das falsas doutrinas e das heresias. Por isso,
permaneça naquilo que aprendeu. As Sagradas Letras podem fazê-lo sábio
para a salvação (2 Tm 3:14-15).
Lembramos que a doutrina bíblica não é um fim em si mesmo. Ela
mostra algo maior; aponta para Cristo. O caminho é Jesus. A doutrina fun-
ciona como as placas que apontam para ele. Ela é a luz que nos permite
conhecer esse caminho. Ele mesmo disse que as Escrituras dão testemunho
a seu favor ( Jo 5:39). No próximo estudo, iremos tratar, especificamente, de
abstinência e temperança. Você sabia que o que você come, como você come,
onde você come e o quanto você come pode torná-lo mais santo ou menos
santo? Estude a próxima lição e saiba por quê.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Tito 2:1 e Mateus 22:29


A. O que significa “sã doutrina”? Por que devemos falar o que está em
harmonia com ela?
B. O fato de a Escritura usar o termo sã doutrina indica que existem
doutrinas enfermas? Se sim, qual deve ser a nossa postura?

152 | Estudo 13 - A sã doutrina


02. Leia João 14:21; Salmo 119:97 e 103
A. O Senhor quer que o obedeçamos por obrigação? Qual deve ser a
base da obediência a Deus?
B. As doutrinas bíblicas são práticas? Podem ser aplicadas ao dia-a-dia?

03. Leia Atos 17:11 e Oséias 4:6


A. Q uando os bereanos receberam a palavra de Deus, o que fizeram?
Aceitaram tudo de pronto, passivamente?
B. Comente sobre a importância de estudar e conhecer as doutrinas bíblicas.

04. Leia Tiago 1:22 e Mateus 7:24-26


A. Só ouvir uma boa mensagem ou um estudo bíblico já é suficiente?
B. O que esses dois textos dizem sobre praticar as Escrituras. Você acha
isso importante?

05. Leia Atos 19:9-10 e Mateus 5:19


A. Comente sobre o exemplo de Paulo na cidade de Éfeso. Enquanto
Paulo esteve nesta cidade, comprometeu-se em ensinar as Escrituras?
B. É importante ensinar a sã doutrina a outras pessoas?

06. Leia Mateus 28:19-20


A. O que Jesus quis dizer, quando ordenou que se ensinassem “todas
as coisas”.
B. Será que podemos ser seletivos e, por conveniência, deixar de ensinar
alguma doutrina?

07. Leia Tito 1:9 e 2 João 1:9


A. Nos dias atuais, você consegue identificar alguma doutrina que
contradiz a revelação bíblica?
B. À luz dos textos lidos, será que é importante proteger a sã doutrina?

O Doutrinal | 153
Anotações

154 | Estudo 13 - A sã doutrina


Estudo 14

Abstinência
e temperança

... seja comendo, seja bebendo, seja fazendo


qualquer outra coisa, fazei tudo para
a glória de Deus (1 Co 10:31).

Introdução
No último estudo, aprendemos um pouco mais sobre a sã doutrina. Uma
doutrina saudável é a base para uma conduta saudável. Como vimos, a Bíblia
utiliza o termo “sã doutrina” algumas vezes, ao afirmar que a lei condena todos
aqueles que se opõem a sã doutrina (cf. 1 Tm 1:8-10); que, no fim dos tempos,
muitos não suportarão a sã doutrina (1 Tm 4:3); que os presbíteros da igreja de-
vem ser capazes de encorajar outros pela sã doutrina (Tt 1:9 – NVI), e, ainda, que
a melhor maneira de combater o erro é falar o que está em harmonia com a sã dou-
trina (Tt 2:1). No presente estudo, trataremos, especificamente, sobre um en-
sino bíblico que está em harmonia com a sã doutrina: Abstinência e temperança.
Você sabia que os seus alimentos e a maneira de você se alimentar po-
dem influenciar de forma negativa ou positiva no seu relacionamento com
Deus? A Bíblia diz: ... seja comendo, seja bebendo, seja fazendo qualquer outra
coisa, fazei tudo para a glória de Deus (1 Co 10:31). Observe que esse texto
deixa claro que Deus pode ser ou não glorificado, quando estivermos co-
mendo ou bebendo. Por isso, precisamos entender tanto o que podemos ou
não comer quanto o quanto devemos comer. A Bíblia tem ensinos instruti-
vos nessa área. É isso que este estudo sobre “abstinência e temperança”, vai
nos mostrar. A primeira nos mostra o ensino bíblico sobre o que comer, e a
segunda o ensino bíblico sobre quanto comer.

O Doutrinal | 155
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Comer é fundamental para a nossa vida. É notável o número de pas-


sagens bíblicas que tratam da alimentação. Desde o primeiro capítulo
da Bíblia, já temos orientações nesse sentido: Eu vos dou todos os vegetais
que dão semente, os quais se acham sobre a face da terra, bem como todas as
árvores em que há fruto que dê semente; eles vos servirão de alimento (Gn
1:29). A dieta dos primeiros seres humanos era vegetariana. Ainda hoje,
nenhum tipo de fruta ou vegetal é apontada como inaceitável, o que não
acontece com as carnes. Muitos anos após o pecado, Deus autorizou os
seres humanos a comerem carne (Gn 7:2-3, 9:3), mas apenas certos tipos,
conforme estudaremos.
1. O ensino bíblico sobre a abstinência: O ensino bíblico sobre absti-
nência consiste na crença de que o Deus da Bíblia alistou para o seu povo
“as carnes permitidas” e “as carnes proibidas” para o consumo humano. Os
textos em que encontramos essa lista claramente delineada são: Lv 11 e
Dt 14. Porém, a distinção “limpo e imundo” já era conhecida tempos antes
de ser instituída oficialmente em Levítico 11. De alguma maneira, Deus
a revelou a Noé (Gn 7:2-3), pois, após a saída da arca, foi permitido ao
ser humano incluir carne em sua alimentação (Gn 9:3-4). Na hora de se
alimentar e de oferecer sacrifícios, Noé sabia quais animais poderia usar
para ambos (Gn 8:20). Nesta parte do nosso estudo, veremos a exposição, o
fundamento, a finalidade e a validade dessas ordenanças.
Em primeiro lugar, temos a exposição das leis alimentares. A lista de Le-
vítico 11 e de Deuteronômio 14 são praticamente idênticas. Apresentam
poucas diferenças. Nas duas, as carnes “proibidas” e as “permitidas” para
o consumo humano são dividas em quatro categorias. A primeira é a dos
chamados animais terrestres ou quadrúpedes. Destes, os próprios para o con-
sumo são: aqueles que têm o casco fendido, divido em dois, e que ruminam (Lv
11:3). Todos os animais que não tiverem essas características devem ser
considerados impróprios para a alimentação (cf. Lv 11:2-8; Dt 14:4-8). Ou-
tra categoria mencionada é a dos peixes. Os que servem para a alimentação
são: todos que têm barbatanas e escamas (Lv 11:9); caso não possuam essas
características, devem ser considerados imundos ou impróprios para ali-
mentação (cf. Lv 11:9-12; Dt 14:9-10).

156 | Estudo 14 - Abstinência e temperança


A terceira categoria é a das aves. A narrativa de Levítico lista cerca de
vinte aves impróprias para a alimentação, muitas delas relacionadas com as
aves conhecidas como “de rapina” e outras que se alimentam de cadáveres
(cf. Lv 11:13-19; Dt 14:11-20). As demais aves servem para alimentação
(Dt 14:11). Por fim, a última categoria é a dos insetos. Os que servem para
alimentação são aqueles com asas que andam sobre quatro pés e tem pernas
mais longas para saltar sobre a terra (Lv 11:21 cf. vs. 20-23; Dt 14:19); os
que não têm essas características devem ser considerados imundos. Sobre
os répteis, todos devem ser considerados impuros (Lv 11:29-31). Além da
relação descrita em Lv 11 e Dt 14, devemos, de igual modo, nos abster das
carnes de animais oferecidas nos templos pagãos, de animais sufocados e do
sangue (At 15:20, 29).
Em segundo lugar, temos o fundamento das leis alimentares. Acabamos
de considerar a lista das carnes dos animais próprios e impróprios para o
consumo humano. Qual foi a base de tais distinções? O que fez com que
Deus colocasse a carne de alguns animais na categoria daquelas que devem
ser consideradas “imundas” e outras na categoria de “puras”? Alguns têm
tentado explicar que o alicerce das distinções está nas características físicas
dos animais; outros entendem que está na associação a cultos pagãos da
época, doenças crônicas, leis de saúde, etc. O texto bíblico não faz sugestões
deste tipo. Por isso, precisamos concluir que a única resposta adequada a
essa pergunta seja a soberania de Deus.
O Deus da Bíblia, que possui santidade perfeita (Lv 11:44) e que detém
soberania absoluta (Dt 14:2), alistou para o seu povo, “as carnes proibidas”
e “as carnes permitidas” para o consumo (Lv 11 e Dt 14). Devemos aceitar
essas distinções simplesmente com base na nossa confiança em Deus e no
nosso sincero desejo de agradá-lo em todas as coisas. Como soberano, ele
escolheu declarar alguns animais impróprios e outros próprios para nossa
alimentação, e, como soberano, ele pode fazer isso. Afinal, todas as coisas
são dele, por ele e para ele (Rm 11:36). Mas precisamos entender que Deus
não age por caprichos. Ele fez essa distinção por motivos não explicáveis
porque suas razões, muitas vezes, não podem ser compreendidas pela mente
humana limitada. Mas o fato é que ele sempre está buscando o nosso bem.
Em terceiro lugar, temos a finalidade das leis alimentares. A distinção
foi feita baseada na soberania de Deus. Mas com que objetivo? O próprio
texto bíblico explica, de forma clara e direta, o motivo das leis alimentares:

O Doutrinal | 157
... eu sou o Senhor vosso Deus. Portanto, santificai-vos e sede santos, porque eu
sou santo (...). Sede santos, porque eu sou santo. Esta é a lei sobre os animais (Lv
11:44-46a). A santidade é a razão bíblica para as leis alimentares. Observe
o que Deus disse mais à frente, em Levítico 20: E não imiteis os costumes dos
povos (...). Portanto fareis separação entre animais puros e impuros (...). Sereis
santos para mim, porque eu, o Senhor, sou santo (vs. 23-26).
Viver em santidade envolve todos os aspectos da nossa vida, inclusive o
que comemos. Deus queria que o seu povo vivesse de modo diferente, com
estilo de vida diferente. Pensemos: se os israelitas não se alimentassem da
mesma maneira dos seus vizinhos pagãos, seria mais difícil a confraterni-
zação entre eles, e, assim, haveria menos casamentos mistos e a nação seria
preservada. É interessante como, no Novo Testamento, a preocupação com
a separação dos costumes pagãos é repetida (cf. 2 Co 6:14-18). Em Deute-
ronômio, a ênfase com relação à santidade continua. Antes de reenfatizar as
leis alimentares, lemos: Porque és povo santo para o Senhor teu Deus, e o Senhor
te escolheu para seres o seu povo particular (...) Não comereis nenhum animal
repugnante (Dt 14:2-3).
Em quarto lugar, temos a validade das leis alimentares. As leis alimenta-
res prescritas no Antigo Testamento continuaram valendo para os crentes
do Novo Testamento e para nós hoje? A Bíblia mostra que sim. Nem Jesus
e nem os apóstolos as aboliram. Jesus, ao contar uma das parábolas sobre
o reino do céu, confirmou a validade das leis alimentares. Ele disse que a
rede, uma vez lançada ao mar, recolhe peixe de toda a espécie. E, quando já está
cheia, os pescadores arrastam-na para a praia e, assentados, escolhem os bons para
os cestos e os ruins deitam fora (Mt 13:47-48 – grifo nosso). Muitos dos que
ouviram essa parábola conheciam bem o costume de selecionar peixes. “Os
comestíveis e comerciáveis eram lançados em baldes e barris, e os demais
eram descartados” (grifo nosso).1 Além disso, mesmo depois da ascensão de
Jesus, os discípulos continuaram reconhecendo a validade das leis alimenta-
res, o que mostra que Cristo não as aboliu (At 10:14; 11:8).
A Bíblia também afirma que, nos últimos tempos, certos mestres falsos
iriam exigir abstinência de alimentos permitidos pela palavra Deus aos fiéis
(1 Tm 4:3), o que evidencia, claramente, que existem tais alimentos, como
também o contrário, isto é, que existem alimentos não permitidos aos fiéis.

1. Hendriksen (2001a:108).

158 | Estudo 14 - Abstinência e temperança


A Bíblia mostra, ainda, que, até a época em que Jesus revelou o Apocalipse
a João, a distinção existia (cf. Ap 18:2; comparar com Is 13:21-22). E quanto
a Marcos 7:15 e Mateus 15:11? Nestes textos, Jesus não disse que o que
contamina o homem é aquilo que sai do coração e não o que entra pela
boca? Esses textos não estão discutindo abstinência. Na verdade, Jesus está
combatendo uma tradição dos anciãos, o que é claramente demonstrado no
contexto (Mt 15:2-3; Mc 7:1-3), e não invalidando as leis alimentares, que
ele mesmo estabeleceu e obedeceu.
2. O ensino bíblico sobre a temperança: Nós já sabemos quais são os
alimentos permitidos para o nosso consumo. Mas precisamos observar que
“mesmo saudáveis e biblicamente permitidos, alguns alimentos podem ser
prejudiciais, dependendo da maneira como são usados”.2 É aqui que entra
o ensino bíblico sobre a temperança. A temperança é a virtude daquele
que é sóbrio, comedido e moderado naquilo que fala e faz. Uma pessoa
temperante tem as coisas sob controle, não perde as rédeas da situação, seja
ela qual for. Essa é uma qualidade que deve fazer parte da vida de todo
crente em Jesus.
Em Gálatas, capítulo 5, a Bíblia ordena: ... andai pelo Espírito e nunca
satisfareis os desejos da carne (v. 16). Logo após, nos versículos 22-23, apre-
senta o Fruto do Espírito. Este tem nove características que devem ser
buscadas e desejadas por nós. De acordo com a versão Almeida Revista e
Corrigida, a última dessas características é a temperança. Outras versões a
traduzem como domínio próprio (RA, NVI e NTLH) e autodomínio (BJ).
Na língua original do Novo Testamento, temos o termo egkratéia, que sig-
nifica “autocontrole”. A raiz dessa palavra é krátos, que traduz o sentido
de ser “forte”, “vigoroso”, “robusto”, “possuidor de domínio”, ou que tem
“domínio de si mesmo”.3
Quem tem essa qualidade, “possui o ‘poder de conter-se a si mesma’,
que é o sentido do termo usado no original”.4 Uma pessoa sem autocontrole
prejudica a si própria e a outros. Por isso, todo cristão precisa e deve cultivar
essa virtude em todos os aspectos de sua vida. Precisamos dominar nossas
palavras, nossos pensamentos, nossos desejos, enfim, cada área da nossa vida

2. Oliveira (2005:34).
3. Moulton (2007:120).
4. Hendriksen (2009:270).

O Doutrinal | 159
precisa estar sob controle. O autocontrole é uma virtude cristã tão indispen-
sável que, quando Paulo pregou a diante do tribunal do governador Felix,
falou a respeito do domínio próprio (At 24:25).
De igual modo, na carta a Tito, a Bíblia mostra que a temperança ou
domínio próprio não tem idade: Exorta os velhos a que sejam temperantes
(Tt 2:2 – grifo nosso). Em 2 Pedro, o domínio próprio está entre as vir-
tudes que, se estiverem crescendo em nossa vida, impedirão que nós, no pleno
conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, sejamos inoperantes ou improdutivos
(1:8 cf. vv. 5-8). No tocante à alimentação, que é o foco do nosso estudo,
devemos, de forma semelhante, ser também temperantes. Uma pessoa que
possui domínio de si mesma sabe o que comer e quanto comer: não come
demais nem de menos, mas com equilíbrio.
Uma pessoa temperante domina, governa, controla o seu apetite, quan-
do se alimenta do que é permitido por Deus. O seu deus e o seu senhor não
são o próprio ventre (Rm 16:18; Fp 3:19). O seu estômago não é soberano.
O seu lema não é: os alimentos são para o estômago, e o estômago, para os ali-
mentos (1 Co 6:13). O seu apetite não dita a direção da sua vida. A pessoa
temperante conhece e consome os alimentos permitidos pela palavra de
Deus, mas não se deixa dominar por nenhum deles (1 Co 6:12). Ela não
ingere nem pouco nem muito alimento: ingere somente o suficiente para
viver de maneira saudável. Quando negligenciamos esse ensino bíblico, co-
mendo muito ou comendo pouco, nós mesmos é que somos prejudicados.
Para aqueles que quebram o princípio bíblico da temperança, comendo
com excesso, a Bíblia diz: ... põe uma faca à tua garganta, se és homem glutão
(Pv 23:2). O contexto desse versículo de Provérbios é o de bons modos à
mesa. O sábio escreve destacando o valor da etiqueta apropriada na pre-
sença de pessoas importantes, no caso, dos reis: Quando te assentares para a
comer com um governador (Pv 23:1). A expressão “põe uma faca na tua gar-
ganta” diz respeito ao autodomínio e a temperança que é exigida, quando
se está à mesa para uma refeição. Neste versículo, a recomendação é dada
porque o rei em questão pode estar querendo comprar a sua amizade em troca
de uma comida deliciosa (Pv 23:3 – BV).
A orientação de Provérbios, apesar de estar ligada a sentar-se à mesa
com um governador e acautelar-se quanto às intenções deste, deve ser le-
vada em conta em todas as ocasiões em que nos assentarmos para comer.
Todo aquele que não consegue controlar seu apetite precisa aprender a

160 | Estudo 14 - Abstinência e temperança


“colocar uma faca na garganta”, isto é, precisa aprender a controlar-se. A
Bíblia condena a glutonaria. Mais à frente, no mesmo livro de Provérbios,
encontramos uma regra básica para quem desconhece os limites na hora de
comer: Achaste mel? Come apenas o que te basta, para que não te fartes dele e
venha a vomitá-lo (Pv 25:16 – grifo nosso).
“Comer apenas o que basta” é comer apenas o suficiente; é comer até con-
tentar-se. Esse é o grande desafio. Trata-se de “um convite para o autocontrole
e a moderação”.5 A pessoa temperante consegue cumpri-lo, pois sabe quando
deve parar. Comer além do “basta” não faz bem para ninguém. De igual forma,
comer aquém do “basta” também não faz bem para ninguém. Ser temperante
não é só saber não comer demais, mas também saber não comer de menos.
Quem come de menos, também se prejudica. O corpo fica carente de substân-
cias necessárias ao organismo, tais como vitaminas, proteínas e sais minerais.
Para aqueles que quebram o princípio da temperança, comendo de me-
nos, a Bíblia alerta: Ou não sabeis que o nosso corpo é santuário do Espírito
Santo, que habita em vós, proveniente de Deus? (1 Co 6:18). A palavra tra-
duzida por “santuário”, neste versículo, faz referência ao “santo dos santos”,
lugar mais íntimo do templo, onde se verificavam as manifestações da glória
divina. A presença do Espírito Santo em nosso corpo torna-o propriedade
exclusiva de Deus. Se ele vive dentro de nós, como, de fato, cremos, então
devemos cuidar desse “templo”. Por isso, o cuidado com a nossa alimenta-
ção faz-se necessário. Não somos de nós mesmos. Fomos comprados por
alto preço. Portanto, glorifiquemos a Deus com o nosso próprio corpo (1 Co
6:20 – NVI), por meio da temperança na alimentação.
Ao concluir esta primeira parte do nosso estudo, esclarecemos que, ape-
sar de termos tratado apenas dos cuidados com relação ao consumo dos
alimentos, é importante lembrarmos que a Bíblia mostra, também, que de-
vemos prestar atenção quanto à obtenção dos nossos alimentos. Ela mos-
tra que devemos evitar a ilegalidade (Pv 20:17); a ansiedade (Mt 6:25; Mc
4:28-29); o oportunismo (2 Ts 3:11-12); o materialismo ( Jo 6:26-27); e o
individualismo (Lc 12:16-19; Pv 22:9) na obtenção dos nossos alimentos.
No próximo tópico, abordaremos atitudes práticas relacionadas ao nosso
proceder, no que diz respeito a nossa alimentação.

5. Chapman et al (2009:406).

O Doutrinal | 161
II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Andemos sem preocupação.


No sermão do monte, o nosso Senhor Jesus ensina: ... não se preocupem
com a comida (...) que precisam para viver (Mt 6:25a – NTLH). O que ele
proíbe, aqui, obviamente, não é a previdência e o planejamento, mas a per-
turbadora preocupação com a própria sobrevivência. Ele não nos ensina a
negligenciar o presente ou o futuro, mas pede para não andarmos agitados
em relação ao atendimento e ao suprimento das nossas necessidades, pois
Deus as conhece e as atende. Se nos deu a vida, ele a sustentará. Se nos deu
o seu Filho, como “recusará dar-nos algum bem? Confiemos nele e fique-
mos em paz”.6 Vamos fazer o que a Bíblia orienta: entreguemos todas as
nossas preocupações a Deus, pois ele cuida de nós (1 Pd 5:7).

2. Peçamos sem extravagância.


Como viver livre da atormentadora preocupação com a sobrevivência?
Orando a Deus. É isso que a palavra Deus nos recomenda claramente: Não
se preocupem com nada, mas em todas as orações peçam a Deus o que vocês pre-
cisam (Fp 4:6a – NTLH). É interessante a expressão: o que vocês precisam.
Está de acordo com oração que Jesus ensinou: Dá-nos hoje o alimento de que
precisamos (Mt 6:11 – NTLH). O que passar disso é extravagância. Que a
nossa oração seja a oração de Agur, escritor de alguns provérbios: Eu te peço,
ó Deus, (...). Dá-me somente o alimento que preciso para viver. Porque, se eu
tiver mais do que o necessário, poderei dizer que não preciso de ti (Pv 30:7-9 –
NTLH). Queiramos e peçamos apenas o suficiente.

3. Vivamos sem insatisfação.


Infelizmente, vemos, ao nosso redor, crentes em Jesus que vivem o tem-
po todo descontentes. Não era assim com Paulo. Ele disse: ... aprendi a estar
satisfeito com o que tenho. (...) Aprendi o segredo de me sentir contente em todo
lugar e em qualquer situação, quer esteja alimentado ou com fome, quer tenha
muito ou tenha pouco (Fp 4:11-12b – NTLH). Sabe quem lhe dava força
para viver sempre alegre e feliz? Cristo. Ele mesmo disse: Com a força que
Cristo me dá, posso enfrentar qualquer situação (Fp 4:12). Se ele podia viver

6. Meyer (2002:19)

162 | Estudo 14 - Abstinência e temperança


contente, em toda e qualquer situação, nós também podemos, porque o
Cristo dele é também é nosso. Lembremos sempre deste ensino: Portanto,
se temos comida e roupas, fiquemos contentes com isso (1 Tm 6:9).

Conclusão
A nossa salvação é conseguida única e exclusivamente pela graça de Deus,
através da fé no sacrifício de Jesus Cristo, na cruz. Mas, uma vez salvos por
Cristo, devemos obedecer a todos os seus ensinamentos (Mt 28:20), entre os
quais está o ensinamento sobre abstinência e temperança, tratado no presente
estudo. Vimos que a Bíblia oferece orientações tanto sobre o que podemos
comer (Lv 11; Dt 14; At 15:20, 29) quanto sobre a maneira correta de comer
o que é permitido: com moderação. Coloquemos esses princípios em prática, e
quer comamos, quer bebamos (...), façamos tudo para a glória de Deus (1 Co 10:31).
No próximo estudo, veremos o que a Bíblia nos ensina sobre a oração.
Assim como precisamos de alimentos para nos manter saudáveis fisicamen-
te, precisamos de “alimentos” para nos manter de pé espiritualmente. Jesus
disse: Nem só de pão viverá o homem (Mt 4:4). Dentre as práticas que nos fa-
zem crescer e nos firmam espiritualmente, está a oração. Na leitura da Bíblia,
Deus fala conosco, mas, na oração, nós falamos com Deus e expomos, diante
dele, os nossos anseios, desejos, pecados etc. Não perca o próximo estudo.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Gênesis 1:29, 7:2-3, 9:3-4


A. Desde quando já existem orientações sobre a alimentação na Bíblia?
No começo do mundo, os seres humanos podiam comer de tudo?
B. Q ual é a primeira vez que aparece na Bíblia a distinção entre os
animais “limpos” e “imundos”, os que são próprios ou impróprios
para alimentação dos seres humanos. Baseie-se em Gn 7:2-3.

02. Leia Levítico 11 e Deuteronômio 14:1-21


A. Q ue características os animais terrestres ou quadrúpedes devem ter
para que sejam apropriados à alimentação? Qual é o critério que
devemos usar com relação aos peixes?

O Doutrinal | 163
B. Quais são as aves que não são apropriadas ao consumo humano?
Quanto aos insetos, quais podemos comer? Os répteis são adequados
para alimentação?

03. Leia Gênesis 9:4 e Atos 15:20,28-29


A. Além da relação descrita em Lv 11 e Dt 14, que outros cuidados
devemos ter com a nossa alimentação?
B. Podemos comer carne de animais sufocados ou com sangue?

04. Leia Levítico 11:44-46, 20:23-26 e Deuteronômio 14:2-3


A. Com base em que Deus fez as distinções entre carnes próprias e
impróprias para a alimentação?
B. Q ual é o propósito ou a finalidade que Deus tinha em mente, ao
estabelecer as leis alimentares?

05. Leia Mateus 13:47-48 e Atos 10:14, 11:8


A. As leis alimentares prescritas no Antigo Testamento continuam
valendo para os crentes do Novo Testamento e para nós hoje?
B. Como Pedro reagiu, diante da visão que lhe parecia ordenar que
comesse carnes impróprias?

06. Leia Gálatas 5:16,22-23; Tito 2:2 e 2 Pedro 1:5-8


A. O que é temperança? Como ela se aplica a vida cristã?
B. Como devemos agir, diante dos impulsos da carne? O que significa
domínio próprio?

07. Leia Romanos 16:18; Filipenses 3:19 e Provérbios 23:2


A. De que maneira a doutrina da temperança se relaciona com a
nossa alimentação?
B. É correto comer muito pouco ou comer demais?

Falta a página de
anotações

164 | Estudo 14 - Abstinência e temperança


Estudo 15

A oração e
sua eficácia

Continuem firmes na oração, sempre alertas


ao orarem e dando graças a Deus. (Cl 4:2 – NTLH)

Introdução
Com base na palavra de Deus, pudemos analisar, no estudo anterior, a
importância da abstinência e da temperança para a vida espiritual dos filhos
de Deus. Essa doutrina não é recente, pois vemos que foi ordenada por
Deus e praticada por vários homens e mulheres de Deus do passado (Gn
7:1-3; Lv 11:1-2; Is 65:3-5; At 15:29; 1 Co 10:31). Por se tratar de uma or-
dem divina, continua em vigor. Portanto, devemos nos abster dos alimentos
e bebidas reprovados por Deus para o nosso consumo.
Neste estudo, porém, aprenderemos lições importantíssimas sobre a ora-
ção. Assim como precisamos de alimentos para nos mantermos saudáveis
fisicamente, precisamos de “alimentos” para nos mantermos saudáveis espi-
ritualmente. Sem dúvida, a oração é um excelente alimento. Nas Escrituras,
encontramos, com facilidade, diversos textos que nos incentivam à prática da
oração (1 Ts 5:17; cf. 1 Tm 2:1; Mt 5:44, 6:9, 26:41). De todos os exemplos
que podemos citar, Jesus Cristo é o mais proeminente. Ele não somente
ordenou que nos dedicássemos à oração, mas também foi um autêntico pra-
ticante desta (Mt 6:9; Jo 17:1). Vejamos, então, essa importante doutrina.

O Doutrinal | 165
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Como vimos anteriormente, o principal motivo pelo qual devemos nos


dedicar à oração é o fato de termos um claro conhecimento de que se trata
de uma doutrina bíblica. Foi com essa convicção que os patriarcas, os pro-
fetas, os apóstolos e os vários personagens da Bíblia a praticaram. Ela se
constitui o meio mais eficiente de conversarmos com Deus, pois, mesmo
que não tenhamos a capacidade de vê-lo pessoalmente, ele nos vê, conhece
e sonda o nosso coração (Sl 139:23). Paulo chegou a afirmar que ele é po-
deroso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos,
conforme o seu poder  que opera em nós (Ef 3:20). Analisemos, agora, a prática,
o modelo, o conteúdo e a eficácia da oração, segundo a Escritura:
1. A prática da oração: Na Bíblia, além de a oração ser considerada um
privilégio, é também uma ordem (1 Ts 5:17). O próprio Jesus tinha como
certo que seus discípulos orariam, quando disse: Quando orarem ... (Mt
6:5). Isto significa que já praticavam a oração, e continuariam a praticá-
-la. O que ele fez foi oferecer-lhes orientação sobre como desenvolver a
oração. É dessas questões práticas que trataremos. Vamos iniciar pensando
num conceito de oração. Orar é colocar-nos na presença de Deus, por meio
da fé, valendo-nos do sacrifício de Cristo; é falar com Deus com toda liber-
dade por meio da palavra audível ou silenciosa.1 É o Espírito Santo quem
nos habilita a realizá-la (Ef 6:18). Todo ser humano carece de comunhão
com Deus, ou seja, intimidade e companheirismo. Tal privilégio é possível
a todo cristão. Quando recebemos a Cristo como Senhor, passamos a ter
paz com Deus. O texto de Rm 5:1 refere-se à paz no sentido de relacio-
namento. Trata-se de duas partes inimigas que agora são amigas. Fizemos
as pazes com Deus por meio de Cristo. Por isso mesmo, oração é também
relacionamento pessoal de amizade com Deus.
Jesus mostrou, no sermão da montanha, que o foco da nossa oração
deve ser sempre Deus e nunca os seres humanos (Mt 6:5-6). Quando
ele menciona o quarto, em seu ensino, não está proibindo as orações
comunitárias e públicas, mas as exibicionistas. Na própria Bíblia Sagra-
da, encontramos exemplos de servos de Deus que oravam de maneira

1. César (1993:21).

166 | Estudo 15 - A oração e sua eficácia


pública e comunitária (cf. At 1:14, 2:1-4, 4:24, 12:5,12). Contudo, se
oramos diante de outras pessoas, nunca o fazemos com o objetivo de
sermos notados por elas. Oração é pratica de relacionamento com Deus.
Quando pratica a oração, o indivíduo se dispõe a uma conversa franca e
aberta com o Senhor, que lhe dá liberdade para expressar suas alegrias,
sofrimentos, angústias e dúvidas.
Nossas orações devem ser feitas de maneira sincera. Jesus também mos-
trou, no sermão da montanha, que a repetição irrefletida na oração não
tem valor algum (Mt 6:7-8). Orar só por orar não faz sentido, e a razão
é simples: ... vosso Pai conhece do que necessitais, antes de pedirdes a ele (Mt
6:8). Deus nos conhece perfeitamente antes mesmo de orarmos relatando-
-lhe algo. Quando reservamos tempo para “falar” com Deus, estamos de-
monstrando-lhe, com nossa atitude, que ele é importante para nós e que
dependemos dele. Não oramos para liquidar todos os nossos problemas de
forma mágica, mas para demonstrar a Deus que confiamos nele e depende-
mos de sua ajuda para a nossa vida cotidiana. Às vezes, ele não transforma
as circunstâncias adversas que nos cercam, mas nos transforma, para que
consigamos enxergá-las de outra maneira. Por isso, sempre que praticarmos
esse ato, façamos de maneira sincera.
2. O modelo da oração: Depois de advertir sobre o perigo da oração
hipócrita (Mt 6:5) e mecânica (Mc 6:7), Jesus ensina um modelo de oração
(Mt 6:9-13), que se inicia assim: Pai nosso (Mt 6.9a). No tempo de Jesus,
um dos idiomas falados era o aramaico, e, nessa língua, Pai era Abba. Ori-
ginalmente, abba – papai – fazia parte do vocabulário das crianças. Chamar
Deus assim não é sinal de irreverência: é sinal de intimidade. Mas tratar
Deus dessa forma não significa ignorar a sua superioridade. Devemos lem-
brar que ele está nos céus, isto é, numa posição exaltada e soberana. A inti-
midade com o Pai também não isenta o filho de ser submisso e obediente
à sua vontade (Mt 6:10).
O filho deve pedir ao Pai o suprimento de suas necessidades materiais e
espirituais: O pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas dívidas,
assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e não nos deixes cair em
tentação; mas livra-nos do mal (Mt 6:11-13). Aqui, temos quatro pedidos.
No primeiro, o pão nosso de cada dia dá-nos hoje, o filho suplica o alimento
necessário para a sobrevivência. No segundo, perdoa-nos as nossas dívidas, o
filho suplica que o Pai perdoe suas faltas e ofensas. No terceiro, não nos dei-

O Doutrinal | 167
xes cair em tentação, o filho suplica que o Pai o guarde de cair “em” tentação
e “na” tentação.
No último pedido, livra-nos do mal, o filho pede que o Pai o livre das
artimanhas do maligno (cf. 2 Co 11:13-14; Ef 6:11; 2 Tm 2:26). Todos os
pedidos são feitos na primeira pessoa do plural. Isso mostra a dimensão
solidária e fraterna dessa oração. Não podemos excluir os nossos irmãos,
quando falamos com Deus. Ao final da oração, o filho reconhece que o Pai é
poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo o que pediu ou pensou,
porque dele é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém! (Mt 6:13b). Ele
admite “não só o direito do Pai de atender às petições, visto que ele é o Rei
sobre tudo, mas também o seu poder para fazê-lo”.2
3. O conteúdo da oração: Na oração, há elementos que nos auxiliam
eficazmente no nosso crescimento relacional com Deus. A prática da
oração é tão importante e nobre na vida cristã que não deve, de modo
algum, ser realizada de forma inconsequente, ou seja, menosprezando-se
os exemplos bíblicos. A oração não deve ser realizada de qualquer modo.
Tiago confirmou isso, ao dizer: Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para
o gastardes em vossos deleites (Tg 4:3). Para não incorrermos no erro de
praticar a oração de modo equivocado, precisamos tomar o cuidado de,
nela, incluir elementos que a Bíblia prescreve (cf. 1 Tm 2:1-2). Vejamos
cinco destes elementos.
O primeiro é a adoração. A adoração é primordial na oração, pois nos
faz exaltar o caráter e a soberania de Deus. Assim, declaramos que ele é
santo, domina sobre o universo e, portanto, deve ser adorado, porque a sua
misericórdia dura para sempre (Sl 136:1b). O segundo elemento é a gra-
tidão. Em nossas orações, precisamos incluir, também, a gratidão. Agra-
decer, na oração, leva-nos a reconhecer que Deus é o responsável direto
pelo nosso bem-estar e que nos trata com misericórdia. Não podemos
esquecer, em nossas orações, o exemplo de gratidão do salmista, quando
disse: Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum só
de seus benefícios (Sl 103:2). O terceiro elemento é a súplica. A súplica
nos leva a expor as nossas necessidades materiais, espirituais, familiares
etc., ao nosso Deus, que intervirá, no tempo certo, em nossa situação,
trazendo-nos a sua resposta.

2. Hendriksen (2001a:477)

168 | Estudo 15 - A oração e sua eficácia


O quarto elemento é a intercessão. De igual modo, a intercessão é um
elemento importante na oração. A intercessão na oração nos faz voltar o
nosso clamor, também, para o próximo. É vontade de Deus que lhe apre-
sentemos o sofrimento alheio. Cristo nos deixou esse exemplo, quando orou
pelos seus discípulos: Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal
( Jo 17:15). O quinto e último elemento é a confissão, que nos leva a pedir:
... perdoa-nos as nossas dívidas (Lc 11:4). Deus se agrada, quando reconhe-
cemos e confessamos os nossos delitos, mesmo tendo ele conhecimento
de todos, pois tal atitude é o reconhecimento de que somos inteiramente
dependentes da sua misericórdia. Desse modo, podemos confiar na ação
perdoadora de Jesus para com os seres humanos.
4. A eficácia da oração: Jesus disse: Por isso vos digo que tudo o que pedir-
des, orando, crede que o recebereis, e tê-lo-eis (Mc 11:24). A oração tem efeitos
relevantes em nós. Tiago chega a dizer o seguinte, no trecho final de sua
carta: A súplica de um justo é muito eficaz (Tg 5:16b), pode muito em seus efeitos
(ARC), é poderosa e eficaz (NVI), tem grande poder e resultados maravilhosos
(NBV). No contexto desta carta, “os justos são aqueles cujos pecados foram
confessados e perdoados. Suas orações são eficazes porque Deus as ouve”.3
Deus ouve orações. A resposta dele não é de acordo com as nossas expecta-
tivas em todas elas, mas ele as ouve. Pode acontecer de, numa oração, às ve-
zes, Deus não transformar o lado de fora – isto é, os problemas exteriores –,
mas não existe ninguém que, ao orar com o coração sincero, não tenha sido
acalentado por Deus na oração e não tenha sido mudado interiormente.
De acordo com o trecho final da carta de Tiago (5:16-17), Deus tem poder,
através da oração, de mudar o lado de dentro (perdão) e o lado de fora (cura).
Quando Jesus orou, no Getsêmani, por exemplo, queria que o lado de fora fosse
transformado, o que não aconteceu, pois o cálice continuou; todavia, o lado de
dentro foi transformado: ... apareceu um anjo do céu que o encorajava (Lc 22:43).
Podemos dizer que a oração de Jesus foi ineficaz? É lógico que não. O exterior
não foi mudado, mas o interior, sim. A conversa com Deus tem esse poder tera-
pêutico, não por si mesma, mas por causa do Deus que é buscado e a recebe. É
através dela que “confessamos duas coisas ao mesmo tempo: a estreiteza de nos-
sos recursos e a extrema largueza dos recursos do poder e do amor de Deus”.4

3. Adeyemo (2010:1555).
4. César (1993:22).

O Doutrinal | 169
No passado, muitos usaram esse recurso, pois sabiam que, sem Deus,
chegariam a lugar nenhum. Deus não age na presunção e na arrogância
humana. Ele não exalta os que já estão exaltados (Mt 23:12), mas opera
quando confessamos a nossa dependência no seu agir. Essa prática tão
maravilhosa pode nos proporcionar resultados muito significativos. Além
dos que já mencionamos, a eficácia da oração se estende a resultados
psicológicos, pois nos ajuda a “superar a tensão, a ansiedade, a angústia,
certos tipos de depressão, o sentimento de culpa e outros estados emo-
cionais desagradáveis”.5 A Bíblia afirma que a oração é uma arma contra
a ansiedade (Fp 4:6-7). Além dos resultados psicológicos, a eficácia da
oração também se estende a resultados espirituais. O salmista estreita a
relação da prática da oração com a prática da santificação: Se eu tivesse
guardado lugar para o pecado no meu coração, Deus nunca teria me ouvido
(Sl 66:18 – BV ).
Estudamos, até aqui, sobre a prática, o modelo, o conteúdo, o motivo, a
insistência e a eficácia da oração. Cada item analisado é de suma importân-
cia para a nossa vida espiritual. Precisamos aceitar o fato de que a oração
é ordem de Cristo (Mt 26:41) e, portanto, não deve ser encarada apenas
como conceito teórico, mas prático, pois Cristo afirma: Todo aquele,  pois,
que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem pru-
dente, que edificou a sua casa sobre a rocha (Mt 7:24). Como acabamos de
verificar a doutrina da palavra de Deus, atentemos, agora, para a prática da
doutrina da palavra de Deus.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Oremos de forma confiante!


Quando oramos, devemos acreditar que as nossas súplicas serão aten-
didas, não porque há poder na oração ou na pessoa que ora, mas porque
Deus é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou
pensamos, conforme o seu poder  que opera em nós (Ef 3:20). Tiago afirmou que
a oração que salva o doente é a oração da fé (Tg 5:15). Cremos que a oração

5. Idem, p. 23.

170 | Estudo 15 - A oração e sua eficácia


movida pela fé está fundamentada em Deus. Portanto, pela oração da fé,
ele age de acordo com a sua vontade. Os enfermos podem ser curados; os
nossos relacionamentos interpessoais, restaurados; as pessoas cativas pelo
pecado são libertas e os aflitos são consolados. Tudo é possível ao que crê
em Jesus (Mc 9:23).

2. Oremos de forma submissa!


À semelhança de um pai que nem sempre dá tudo o que seu filhinho
lhe pede, Deus nem sempre atende todas as nossas orações. Uma das razões
é que certas orações não são motivadas por fé, mas por interesses mesqui-
nhos: Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites
(Tg 4:3). Devemos ser submissos à vontade de Deus. Outra razão é que
Deus usa o seu direito conforme a excelência do seu ser, o que significa
que ele sempre sabe e deseja o melhor para nós, e, por amor, algumas vezes,
não nos atende quando e como queremos. Portanto, quando pedirmos ao
Senhor uma bênção, devemos lembrar que ele é soberano. Oremos segundo
a sua vontade, em submissão a ele.

3. Oremos de forma humilde!


Se podes [crer]! Tudo é possível ao que crê. Imediatamente o pai do meni-
no exclamou [com lágrimas]: Eu creio! Ajuda-me na minha falta de fé (Mc
9:23-24). Esse foi parte de um diálogo entre Jesus e um pai de família do
seu tempo, cujo filho estava endemoninhado. Ao ler esse relato, temos a
impressão de que o homem que pedia a cura do filho considerava a sua
fé insuficiente para receber o milagre. Por isso, pediu duas vezes: “ajuda-
-nos, ajuda-me”. Foi como se dissesse: “Ajuda-me, Senhor, mesmo eu
não tendo fé suficiente”. Jesus o atendeu. Se queremos ter nossas orações
atendidas, precisamos reconhecer que carecemos da ajuda de Deus. Só
reconhece que precisa de ajuda quem já venceu a arrogância.

Conclusão
Chegamos ao final deste importante estudo. Pudemos aprender con-
ceitos valiosos sobre a prática, o modelo, o conteúdo e a eficácia da oração.
Vimos que Jesus Cristo é o principal exemplo de oração que temos, pois
não somente nos ordenou que nos dedicássemos à oração, mas também
foi um autêntico praticante desta (Mt 6:9; Jo 17:1). Portanto, nunca deixe

O Doutrinal | 171
orar. Não hesite em expor suas dúvidas e necessidades diante de Deus,
porque ele ouve você. Lembre-se do que Deus disse a seu povo, através do
profeta Jeremias: Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o
vosso coração ( Jr 29:13).
A oração tem muito a ver com o próximo assunto que iremos tratar.
Tendo por base a palavra de Deus, estudaremos sobre a cura divina. Segun-
do Tiago, a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver
cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados (Tg 5:15). Observe que o apóstolo não
desvincula a prática da oração da cura divina. Deus age milagrosamente na
vida das pessoas, quando estas o buscam em oração. Que o próximo estudo
lhe seja útil para o seu crescimento na graça e no conhecimento de nosso
Salvador Jesus Cristo (2 Pd 3:18).

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus


01. Leia 1 Tessalonicenses 5:17
A. Que prática é ordenada nesse texto bíblico? Com que frequência?
B. Como podemos definir oração?

02. Leia Mateus 6:5-12; Atos 1:14-15


A. Q uem deve ser o alvo da nossa oração? Jesus combateu a oração
pública? Temos exemplos bíblicos de cristãos orando juntos?
B. Por que não devemos usar vãs repetições na oração? O que essa
expressão significa?
03. Leia Mateus 6:9-13
A. Como se inicia a oração-modelo ensinada por Jesus? O que isso nos
ensina? A figura usada por Jesus, de alguma maneira, sugere que
devemos ter proximidade com Deus?
B. Como filhos, quais são os quatro pedidos que devemos sempre
apresentar ao Pai, de acordo com a oração-modelo?

04. Leia Salmo 136:1, 103:2; Tiago 4:3


A. Você acha que devemos adorar a Deus, em nossas orações? Justifique
sua resposta.

172 | Estudo 15 - A oração e sua eficácia


B. Em nossas orações, devemos, também, agradecer? Você acha que
existem pessoas que são egoístas e só pensam em si, em suas orações?
Orar pelo outro é válido?

05. Leia Mateus 7:7-8; 1 João 5:14; Lucas 11:4


A. Podemos fazer pedidos a Deus, quando oramos? Deus é obrigado
a atender todos eles ou os que são feitos “segundo a sua vontade”?
B. Você faz confissão na oração? Esta prática deve fazer parte da oração?

06. Leia Tiago 5:16


A. Quem é o justo neste texto?
B. A eficácia da oração feita por um justo está na própria oração ou em
Deus, que ouve a oração?

07. Leia Efésios 3:20 e Marcos 9:23-24


A. O que significa orar de maneira confiante? Precisamos orar assim?
B. Comente sobre a importância da humildade na oração.

O Doutrinal | 173
Anotações

174 | Estudo 15 - A oração e sua eficácia


Estudo 16

A cura divina

Entre vocês há alguém que está doente? Chame os


presbíteros da igreja (...). A oração feita com fé
curará o doente. (Tg 5:14-15)

Introdução
Aprendemos, no estudo anterior, conceitos valiosos sobre a prática da
oração. Observamos, num primeiro momento, o modelo deixado por Jesus
na famosa oração do Pai Nosso, e, comparando-o com outras partes da
Bíblia, vimos como deve ser o conteúdo, quais são as motivações, e em que
está baseada a eficácia da oração. Não deixemos de utilizar este recurso tão
importante que está à nossa disposição! Oremos sem cessar (1 Ts 5:17), no
Espírito, isto é, por meio do Espírito (Ef 6:18), com a confiança de que, se
pedimos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve (1 Jo 5:14).
No presente estudo, analisaremos outra doutrina bíblica igualmente im-
portante, a da cura divina, aceita sem restrições pelos verdadeiros cristãos. E
a razão é óbvia: está embasada nas Escrituras. No Antigo Testamento, o pró-
prio Deus se autodenominou como o Deus que cura: ... eu sou o Senhor que os
cura (Ex 15:26 – NBV). Temos, neste texto, a palavra hebraica rapha’, que diz
respeito a “tornar saudável”. O versículo mostra que Deus é soberano tanto
sobre a doença como sobre a cura. Já no Novo Testamento, vemos o próprio
Jesus realizando curas. Desde o início do seu ministério, ele apareceu curando
todas as doenças e enfermidades entre o povo (Mt 4:23). Jesus mesmo prometeu
para os seus discípulos que um dos sinais que acompanhariam a proclamação

O Doutrinal | 175
do evangelho seria a cura dos enfermos (Mc 16:17-18). Na igreja primitiva,
eles oravam pedindo que Deus estendesse sua mão para curar (At 4:30). Ve-
jamos, então, com mais detalhes, essa doutrina da palavra de Deus.

I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Cura é a restauração de uma pessoa doente. Doença, no sentido bíblico,


pode se referir a “uma má-função ou condição biológica que é anormal com
relação à forma [com] que Deus criou o corpo humano”.1 Existem meios
naturais de tratar as doenças; contudo, nosso objetivo, neste estudo, é tratar
sobre a cura divina para estas. Por cura divina, estamos nos referindo ao
poder miraculoso de Deus de restaurar o corpo físico do ser humano. Não
estamos, com isso, dizendo que os médicos e os medicamentos não são
importantes. Eles são! Aliás, são muito importantes. Devemos procurá-los
e louvar a Deus, quando formos curados com a ajuda destes. Todavia, existe
uma distinção entre a cura realizada pelo poder miraculoso de Deus e a feita
por intermédio de meios naturais (remédios etc.). A cura divina é, portanto,
a “ação de Deus sobre o corpo humano para corrigir uma má-função ou
condição física imediatamente óbvia ou ameaçadora, que pode abranger
desde um resfriado a um câncer”.2 Deus se importa com o corpo humano!
Pois bem, neste estudo, veremos tanto a origem quanto o fim das doenças,
bem como a possibilidade da cura.
1. A origem de todas as doenças: Entender claramente a origem de
uma doença “é absolutamente essencial para entender o tema da cura divi-
na. Ninguém jamais terá fé suficiente para crer que Deus cura até que veja
a doença como Deus a vê”.3 À semelhança da morte, as doenças ocorrem
em razão da entrada do pecado no mundo, através da desobediência. Ali-
ás, o pecado deu origem a toda espécie de males, entre os quais estão as
enfermidades (Gn 2:17, 3:19; Rm 5:12-21). Então, a presença da doença
no mundo está relacionada ao pecado de Adão e Eva. Como “resultado

1. Cheung (2010:6).
2. Idem.
3. Duffield & Cleave (2000:143).

176 | Estudo 16 - A cura divina


da queda (...) a humanidade tornou-se vulnerável à doença”.4 Segundo o
Antigo Testamento, Deus é soberano tanto sobre a doença como sobre a
cura (Cf. Dt 32:39; Ex 15:26).
Algumas pessoas podem adoecer por causa de uma provação divina ( Jó
2:3-7); outras, podem ficar doentes por causa de uma punição divina (2 Cr
26:17-20). Se Deus permitir, Satanás também pode provocar doenças na
vida das pessoas (Lc 13:10-13; At 10:38). Há, ainda, certas doenças que são
consequências de pecados pessoais, como no caso registrado em Jo 5:14,
quando, depois de curar um paralítico, Jesus orienta: ... não peques mais para
que não te suceda coisa pior. Entretanto, não se deve afirmar que, em todos
os casos, a enfermidade é consequência do pecado que se comete ( Jo 9:3).
Há muitas “razões possíveis para uma pessoa estar doente, e pode não ser
porque ela tenha pecado”.5 Se for, de acordo com a palavra de Deus, ela
pode ser perdoada e curada, confessando-se e orando por cura (Tg 5:16).
Algumas pessoas podem ficar enfermas, também, sem estarem enquadradas
em nenhum desses motivos: por exemplo, por descuido com a sua saúde,
falta de zelo pelo corpo que Deus lhes deu (má alimentação, estilo de vida
irresponsável etc.) e com o qual devem glorificá-lo (1 Co 6:18-20), ou até
pelas próprias vulnerabilidades do corpo humano ainda não glorificado que
todos possuem (1 Co 15:43).
2. A possibilidade da cura divina: Temos, no Antigo Testamento, o
caso da cura milagrosa de Miriã, depois que Moisés intercedeu por ela (Nm
12:11-16), e o caso de Ezequias, como resultado de sua própria oração (Is
38:1-5). Estes dois exemplos mostram que a cura divina pode ser obtida por
uma pessoa como resultado da intercessão feita por outra e pode, igualmen-
te, ser obtida como resultado da oração do próprio doente. No Novo Testa-
mento, é muito maior o número de pessoas que foram curadas como fruto
de um milagre (cf. Mt 4:23; Lc 6:18, 7:10, 9:6,11; Jo 6:2; At 10:38). Dessa
forma, assim como a Bíblia traz à tona a existência do pecado, da doença e
da morte, também evidencia a realidade da cura divina. Deus pode, se qui-
ser, curar-nos! Na Bíblia, de Gênesis a Apocalipse, e na história da igreja de

4. Elwell (2009:393).
5. Cheung (2010:4).

O Doutrinal | 177
todos os tempos, “os registros demonstram que a cura física por intervenção
divina têm sido a experiência de muitos membros do povo de Deus”.6
Isso não significa, é óbvio, que algum corpo humano será perfeita-
mente saudável nesta vida. Toda cura física, num certo sentido, é relativa
e incompleta, visto que ficaremos doentes de novo (mesmo que não seja
a mesma doença), e um dia morreremos. Todavia, Jesus, na cruz, garan-
tiu a nossa completa redenção da doença física. Quando Isaías profetizou
que ele tomaria sobre si as nossas enfermidades (53:4-5), estava se referindo
tanto à cura espiritual (1 Pd 2:24) quanto à física (Mt 8:16-17).7 Na cruz,
Jesus conseguiu para nós, também, a plena libertação da fraqueza física.
Conseguiu para nós a garantia de que um dia teremos saúde perfeita. Isso
não significa que a teremos completamente agora. Ela não ocorrerá antes
da segunda vinda, quando receberemos um novo corpo. Mas, no presente,
ele é soberano e livre para nos dar uma pequena prova desta nova vida,
curando-nos, fortalecendo-nos e até mesmo imunizando-nos de algumas
doenças.8 Os crentes do Antigo Testamento foram beneficiados por causa
da morte de Jesus, que viria, e os do Novo Testamento e atuais, por causa
desta mesma morte, que já foi consumada.
3. A procura da cura divina: Já que a possibilidade da cura divina é real,
o que podemos fazer para obtê-la? É bom que se diga que Deus pode curar
alguém, mesmo que esta pessoa não esteja pedindo naquele momento. É
claro que nem sempre isto acontece, e, por isso mesmo, todos nós podemos
orar por cura (Tg 5:16). Podemos orar a Deus pelo doente estando ele pre-
sente ou ausente (Mc 7:29-30); podemos orar pelo doente com imposição
das mãos, estando ele presente (Mc 16:15-18; At 9:17). Neste caso, preci-
samos tomar alguns cuidados, quando formos impor as mãos em pessoas
doentes, para não tocar em suas partes privadas ou sensíveis, especialmente
se é alguém do sexo oposto. Às vezes, seremos tentados a colocar a mão
mais perto do local da enfermidade, por causa de uma falsa sensação de
que, se fizermos isso, o poder de Deus será aplicado mais diretamente sobre
o problema. Contudo, o poder de Deus não está sujeito a distâncias. Ele

6. Elwell (2009:394).
7. Grudem (1999:904).
8. Cheung (2010:6).

178 | Estudo 16 - A cura divina


pode curar alguém, mesmo sem o toque, inclusive.9 Além da imposição das
mãos, pode-se associar à oração a unção com óleo (Tg 5:13-15). Sobre esta
prática, trataremos com mais detalhes no tópico seguinte.
Apesar de todo cristão poder orar por qualquer tipo de doença e ser
respondido por Deus, devemos lembrar também que Deus dota certos in-
divíduos com dons de curas (1 Co 12:30).10 Ainda tratando sobre a procura
da cura, a fé é um elemento que não pode faltar em qualquer pedido que se
faça a Deus, principalmente por parte do necessitado, ou seja, é necessário
que quem pede, creia que Deus pode atender seu pedido (Hb 11:6). Mas,
então, se alguém pede algo e não é atendido, significa que a pessoa não teve
fé? Precisamos entender corretamente isso. Pedir com fé é pedir crendo
no Deus que, de modo soberano, realiza a sua vontade. Quando orarmos,
“nossa fé deve necessariamente incluir esta admissão, implícita ou explícita,
dos soberanos propósitos da soberania divina”.11 Pedir com fé é submeter-se
à vontade de Deus. Se Deus decide não curar alguém, não importa o que
queremos: a pessoa não será curada. Não podemos impedir que ele realize
curas, nem forçá-lo a não as fazer. É bom entendermos, porém, que o fato
de uma pessoa procurar a cura divina por meio da oração não significa que
ela deva se opor ao uso de medicamentos. Devemos usá-los, “caso dispo-
nhamos deles, porque Deus também criou na terra substâncias com que
podemos produzir remédios”.12
4. A unção com óleo: Sobre a unção com óleo, mencionada anterior-
mente, devemos fazer algumas considerações. A primeira é que Tiago
mostra que esta deve ser ministrada somente por presbíteros (Tg 5:14). A
segunda é que Tiago não estava pensando no uso do óleo como medica-
mento. Os judeus e muitos povos antigos usavam o óleo como um produto
medicinal (Is 1:6; Ez 16:9; Lc 10:34). Mas não é este o emprego de Tiago.
Afinal, o óleo não é remédio para todas as doenças, e, neste texto, não temos
especificações de doenças. Ademais, os presbíteros devem ser chamados.
Se fosse apenas uma questão de usar óleo como remédio, por que chamar

9. Idem, p. 36.
10. É a capacitação divina e sobrenatural, que torna o cristão um instrumento através do qual Deus realiza
curas das mais diversas enfermidades, ou seja, restaura a saúde de quem quer que seja, como um todo.
11. Moo (1990:185).
12. Grudem (1999:905).

O Doutrinal | 179
presbíteros? Qualquer um poderia fazê-lo! Além de não estar pensando em
óleo como remédio, Tiago também não lhe atribui poderes sobrenaturais.
Ele bem sabia que o óleo não possui poder algum para conduzir a benção
da cura divina sobre o doente, e, certamente, não usou a expressão ungindo-
-o com óleo apostando nisso. A explicação que mais se alinha com o Antigo
Testamento, a Bíblia que Tiago usava, é a que entende o óleo como um sím-
bolo da ação divina na vida do doente. Por isso, a unção deve ser feita “em
nome do Senhor”. Somente o Senhor tem poder para curar enfermidades.
Ungir alguém com óleo simboliza que os doentes estão sendo separados
para receberem os cuidados especiais de Deus em suas vidas.
Nesta mesma linha de interpretação, temos de entender o que Tiago
afirma no versículo 15: E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levan-
tará. Não é o óleo que cura; não é o presbítero quem cura: é o Senhor quem
o levanta. A terceira consideração é que a unção não deve ser feita de forma
indiscriminada. O texto diz: Chame os presbíteros. Então, estes, sabedores
de que o óleo é apenas um símbolo, devem ministrar a unção só quando
solicitados. Neste texto, ao que parece, eles são chamados com este objetivo.
Também não se pode alegar que a unção deva ser ministrada no local da
enfermidade ou da dor, afinal, já sabemos que o óleo aplicado como unção
não têm poder curador. É ainda importante refletirmos que, à luz da pala-
vra de Deus, não existe sustentação para o argumento favorável à unção de
pessoas endemoninhadas, no intuito de libertá-las do demônio. Se a unção
com óleo para expulsar demônios fosse uma prática sadia, o próprio Jesus
teria usado esse método e ensinado a seus discípulos; mas não o fez. Demô-
nios são expulsos em nome do Senhor Jesus (às vezes, com necessidade de
jejum), o que pode ser realizado por qualquer irmão (Mc 16:17-18).
5. Os propósitos da cura divina: Ao curar uma pessoa, Deus sempre
tem um propósito determinado. Em primeiro lugar, ao curar alguém, Deus
o faz para que seu nome seja glorificado. Temos um exemplo disso no evan-
gelho de João ( Jo 9), quando da cura do cego de nascença. Esse caso, como
está registrado, contribuiu muito para a glória de Deus, pois o homem que
conseguiu ver, depois de ter nascido cego, passou a testificar de Jesus, tor-
nando-o conhecido entre aqueles que ainda não o conheciam. Jesus disse
que aquele cego estava enfermo para que a glória de Deus se manifestasse
( Jo 9:3). Além disso, em segundo lugar, a cura de uma enfermidade também
é fator positivo no encorajamento da fé, pois é uma prova do poder de Deus

180 | Estudo 16 - A cura divina


sobre as doenças (At 3:1-8). Por isso, toda pessoa que for curada por Jesus
tem o dever de testificar dele ( Jo 9:17).
Em terceiro lugar, algumas curas servem como um sinal para autenticar
a mensagem do evangelho. No livro de Atos, os sinais acompanhavam a
pregação do evangelho. Os apóstolos oraram por curas na obra missionária
(At 4:30). Aliás, o próprio Jesus disse: Estes sinais acompanharão [gr. parako-
loythései – “seguir ao lado”] os que crerem (Mc 16:17). Depois, saindo os discí-
pulos, pregaram por toda a parte, cooperando [gr. sunergoyntos – “trabalhar jun-
to com”] com eles o Senhor e confirmando a palavra com os sinais (Mc 16:20).
A palavra grega traduzida por “sinal”, em Marcos e Atos, é sêmeion, que
significa sinal que atrai a atenção, mediante o qual se reconhece uma pessoa
ou coisa, uma marca ou prova confirmatória.13 Milagres na obra missionária
apontam para Cristo e confirmam a pregação. Essa é a razão por que deve-
mos orar pedindo sinais sempre! Em quarto lugar, a cura é um anúncio de
que o Reino já está entre nós e de que Jesus já nos garantiu um tempo em
que não teremos mais as doenças (Mt 11:1-6; Mt 12:28). Em quinto lugar,
a cura divina também é uma maneira de Deus demonstrar sua misericórdia
pelas pessoas sofredoras (Mc 6:34 comparar com Lc 9:11). Isso não sig-
nifica que ele não se importa com os que não são curados. A maior prova
de amor dele é o sacrifício de Cristo na cruz (Rm 5:8). Ninguém deve se
sentir menos amado por não ser curado, pois Cristo já conseguiu para nós a
garantia de um dia não sofrermos.
6. O fim de todas as doenças: As doenças são circunstâncias bem pe-
culiares do mundo em que vivemos. Portanto, enquanto estivermos aqui,
sujeitos ao pecado, teremos de conviver com elas. Alegra-nos, porém, a cer-
teza de que virá o dia em que toda enfermidade será banida. Isso acontecerá
quando o pecado também não mais existir. É o livro de Apocalipse que nos
dá essa boa notícia: E Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá
mais morte, nem pranto; nem clamor, nem dor (Ap 21:4). Firmados nessa cer-
teza, aguardemos com ansiedade a chegada desse dia.
É claro que, ao testemunharmos o sofrimento de algumas pessoas ami-
gas nossas, nos momentos que precederam a morte destas, não foi fácil con-
templar o quadro angustiante em que se encontravam. É comum nós nos
comovermos profundamente. É possível que já tenhamos vivido uma expe-

13. Coenen & Brown (2000:1287).

O Doutrinal | 181
riência neste sentido. Trazendo esses fatos à lembrança, não podemos deixar
de reconhecer a malignidade do pecado, por ter causado tudo isso. Deus,
porém, tem determinado um dia em que essas coisas cessarão. Graças ao sa-
crifício de Jesus Cristo, um dia seremos completamente libertos do poder do
pecado e de todas as suas consequências, inclusive as doenças (Ap 21:1-4).
Estamos chegando ao final desta primeira parte do nosso estudo. Até
aqui, vimos que as doenças são uma consequência do pecado e que jamais
estaremos completamente livres delas, enquanto o pecado não for extinto.
Lembramos, porém, as promessas bíblicas referentes à cura divina (Dt 7:15,
15:26; Sl 103:3), que pode ser alcançada, uma vez respeitada a soberania de
Deus, visto que é ele quem controla o processo da cura, do início ao fim.
Vimos, também, que, quando cura alguém, Deus sempre tem um propósito.
Como acabamos de verificar a doutrina da palavra de Deus, atentemos,
agora, para a prática dessa doutrina.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Confiemos no poder de Deus para realizar a cura!


O salmista diz: É ele que perdoa todas as tuas iniquidades e sara todas as
tuas enfermidades (103:3). É evidente que nem sempre conseguimos a bên-
ção da cura, quando e como queremos. Mas o Senhor pode curar-nos! Nós
acreditamos que, ainda hoje, Deus cura pessoas de acordo com sua sobera-
nia absoluta. Portanto, nunca devemos perder de vista o fato de que a cura
divina é promessa de Deus e este é fiel no cumprimento de suas promessas.
Mesmo sabendo que Deus não cura a todos, temos testemunhado muitas
pessoas que foram curadas por ele! Diante disso, se você está necessitando
de cura ou conhece alguém que precisa, lembre o conselho do salmista:
Confia no Senhor e espera nele (Sl 37:7).

2. Respeitemos a soberania de Deus ao pedirmos a cura!


Ao pedirmos ao Senhor a bênção da cura, assim como qualquer outra
coisa, devemos levar em conta o fato de que ele é soberano. Deus não curou
todos os doentes. Ele curou Ezequias (2 Rs 20:5), mas não curou Eliseu (2
Rs 13:14). Curou o pai de Públio, por meio de Paulo (At 28:8), mas não
curou o próprio Paulo, apesar de este ter orado três vezes pela cura (2 Co
12:7-9). Por que Deus não curou esses dois homens? Ele não os curou por-

182 | Estudo 16 - A cura divina


que não era do seu agrado fazê-lo. Nem toda cura está dentro do propósito
e da vontade divina. Deus é soberano. Devemos respeitar a soberania divina
em nossas orações por cura. Seria prudente orarmos assim: “Senhor, tu és
soberano sobre a doença e sobre a cura. Tem misericórdia da minha vida, e,
se for a tua vontade, cura-me para a tua glória. Que o Senhor seja glorifica-
do nesta situação; quer resolva curar, quer não”. Orar assim não é orar sem
fé, mas é orar com maturidade.

3. Supliquemos a ajuda de Deus para recebermos a cura!


Como já temos dito, não é errado orar por cura. Quando o rei Ezequias
soube que fora acometido de uma doença mortal, a primeira coisa que fez
foi buscar ao Senhor (1 Rs 20:2). Observe: ele levou o problema a Deus,
antes de levar a qualquer outro. O rei não excluiu Deus na sua busca por
cura. Deus não foi o último recurso a ser buscado, mas o primeiro! Nem
todos reagem assim, diante da doença. Asa, por exemplo, outro rei de Judá,
caiu doente dos pés; a sua doença era em extremo grave; contudo, na sua enfer-
midade não recorreu ao Senhor, mas confiou nos médicos (2 Cr 16:12b). A sua
grande falha não foi buscar os médicos, mas foi não buscar a Deus por cura.
Nota-se que muitos crentes estão cada vez mais dependentes da medicina.
Alguns só lembram de pedir ou fazer oração por cura apenas no caso das
doenças mais graves, e outros nem mesmo nesses casos. Devemos confiar
em Deus em todas as aréas de nossas vidas, incluindo a área da saúde. Isto
quer dizer que devemos sempre buscar a Deus por cura, mesmo que usemos
meios medicinais para ajudar em nossa restauração.

Conclusão
No estudo que acabamos de fazer, pudemos manifestar a nossa crença
na cura divina através da oração, respeitando a soberania divina. Essa cura
pode ser alcançada diretamente, isto é, sem qualquer intervenção humana,
representada por médicos ou medicamentos, como já tem acontecido. Isso,
porém, não impede o crente de utilizar estes recursos; na verdade, é até acon-
selhável. Se Deus decidir curar, com ou sem os medicamentos, isso ocorrerá.
Entretanto, de acordo com o que estudamos, precisamos depositar a nossa
confiança em Deus para curar, antes de buscar qualquer outro recurso.
No presente estudo, tratamos da cura divina; no estudo seguinte, fare-
mos uma abordagem sobre outro assunto extremamente relevante para a

O Doutrinal | 183
vida cristã: a lei moral dos dez mandamentos, cujo cumprimento, por parte
do cristão, constitui uma demonstração de amor e obediência a Deus. Neste
próximo estudo, trataremos não somente do conteúdo da lei, mas também
da sua validade para nossos dias. Ao se referir ao final dos tempos, o autor
do livro do Apocalipse diz: Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que
guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus (Ap 14:12). Esperamos que o
leitor tire o melhor proveito possível desse próximo estudo.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Gênesis 3:16-19; João 5:14 e 9:3


A. Como as doenças entraram no mundo?
B. Apesar de, em alguns casos, poder ser verdade, quando alguém está
doente, a razão é algum pecado que a pessoa cometeu?

02. Leia Isaías 53:4-5; 1 Pedro 2:24 e Mateus 8:16-17


A. Q ue verdade esses texto evidenciam? Dentre os benefícios da cruz,
está inclusa a redenção da doença física?
B. O fato de Cristo nos garantir a completa restauração física significa
que, hoje, um cristão não pode mais ficar doente?

03. Leia Tiago 5:16; 1 Coríntios 12:30 e Marcos 16:15-18


A. Q uem pode orar por cura: só os presbíteros? Só as pessoas com dons
de curar? O fato de orarmos por cura significa que não devemos
usar medicamentos?
B. No caso de orarmos com imposição de mãos, que cuidados
devemos tomar?

04. Leia Tiago 5:13-15


A. Q uando alguém está doente, pode pedir para ser ungido? Quem
deve ministrar a unção? O poder da cura está no óleo?
B. Os presbíteros podem ungir de forma indiscriminada? A prática
de ungir alguém para expulsar demônios tem sustentação bíblica?
Tiago diz algo sobre isso?

184 | Estudo 16 - A cura divina


05. Leia João 9:3; Atos 4:30; Mateus 11:1-6
A. Quando Deus cura alguém, ele o faz sem propósito?
B. Comente, à luz dos textos acima, alguns destes propósitos.

06. Leia Apocalipse 21:4 e 1 Coríntios 15:42-44


A. As doenças existirão para sempre?
B. Como é descrita a condição futura dos cristãos, no texto mencionado?
O novo corpo que teremos será afetado pelas doenças?

07. Leia Salmo 103:3; 2 Coríntios 12:7-9 e 2 Crônicas 16:2


A. Deus tem poder para curar os enfermos? Deus curou todos os
doentes que clamaram a ele?
B. Q uando formos orar por cura, o que devemos incluir em nossas
orações? Ao nos darmos conta de que estamos enfermos, qual deve
ser nossa primeira atitude?

O Doutrinal | 185
Anotações

186 | Estudo 16 - A cura divina


Estudo 17
A lei dos
dez mandamentos
e sua vigência

E assim, a lei é santa; e o mandamento,


santo, justo e bom. (Rm 7:12)

Introdução
Aprendemos, no estudo anterior, conceitos valiosos sobre a cura divi-
na. O Deus a quem servimos é poderoso para curar, ainda hoje, todo tipo
de enfermidade. Ele é soberano para fazê-lo em quem e quando desejar.
Segundo Tiago, a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará (Tg
5:15). Nós oramos, e Deus, de acordo com a sua vontade, age. Graças a
Deus, que enviou Jesus a esta terra, e em razão do que ele fez na cruz, temos
a garantia de que um dia viveremos totalmente livres das enfermidades,
com um corpo ressurreto perfeito e totalmente saudável. A cura divina é
uma autêntica doutrina bíblica. E nós cremos nela.
Agora vamos estudar outra grande doutrina da Bíblia: A lei dos dez
mandamentos e sua vigência. Também conhecida por lei moral de Deus, por
revelar o seu caráter santo e sintetizar, em dez mandamentos, sua vontade
para os seres humanos, essa lei tem abrangência universal, porque isto é o de-
ver de todo homem (Ec 12:13), e vigência eterna, pois a cruz do Calvário não
a anulou (Mt 5:17). Cremos que a morte de Cristo, de forma alguma, nos
isenta de guardar à lei de Deus. Por isso, todo cristão deve obedecer aos dez
mandamentos. As razões para isso estão presentes neste estudo.

O Doutrinal | 187
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

A lei moral é um conjunto de princípios e preceitos divinos, encontra-


dos em cada página de Bíblia e em cada palavra de Jesus, que estabelece o
padrão ético de conduta para todo ser humano, em todo lugar. Essa lei é
uma declaração da vontade de Deus para todos os homens com relação ao
caráter e o comportamento deles. Embora a encontremos em toda Escritu-
ra, a lei moral foi condensada por Deus e pode ser compreendida por nós no
“decálogo”, isto é, nos “dez mandamentos”, que foram entregues por Deus
a Moisés, no monte Sinai (Êx 20:1-17; Dt 4:13; 5:6-21). É sobre eles que
estudaremos hoje.
1. O legislador dos dez mandamentos: Na narrativa bíblica de Êxodo
20, o legislador, antes de pronunciar a sua lei, faz questão de se apresentar:
Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão (Êx
20:1-2). Este é o prefácio da lei. Deus inicia lembrando aos israelitas a obra
redentora que realizara em favor deles. Aqui, temos um detalhe importante:
depois de ter livrado Israel da morte (12:21-30) e o ter libertado da escravi-
dão no Egito e da opressão de Faraó (14:26-31), Deus conduziu este povo
de maneira poderosa até o Sinai, para, ali, ensinar-lhe a sua lei. A graça de
Deus pode ser claramente percebida nessa história.
A salvação é e sempre foi pela graça. Note que a lei escrita foi entregue
a Israel quando este já era um povo livre e redimido. Israel não foi salvo
porque obedecia à lei, mas primeiro foi salvo para, então, obedecer-lhe. A
graça vem sempre antes da lei. Não havia mérito algum naquela gente, mas
o que vemos é um Deus misericordioso, que liberta pessoas perdidas e es-
cravizadas e faz delas um povo santo e especial. Para tanto, oferece a essas
pessoas os seus mandamentos. Foi isso que Deus fez com aquele povo e é
o que ele faz conosco, hoje, também. O legislador dos dez mandamentos é
um Deus misericordioso e gracioso.
Não foi Moisés o autor dos dez mandamentos. Eles são de autoria do
Deus Triúno. A expressão “o Senhor teu Deus”, presente no versículo 2 do
capítulo 20 de Êxodo e que se repete por mais 4 vezes nesse capítulo (vv.
5,7,10,12), faz-nos saber que autoridade há por detrás desses mandamen-
tos. O autor do livro do Êxodo não está relatando “dez conselhos” de um
bom amigo, nem apresentando “dez sugestões” para uma vida melhor, mas,

188 | Estudo 17 - A lei dos dez mandamentos e sua vigência


sim, dez mandamentos, ou seja, dez ordens proferidas pela boca daquele
que é Senhor do Universo, o Todo-Poderoso, o Deus libertador (Êx 20:1a).
É importante dizer que o decálogo é um código de preceitos especiais,
que se destaca das demais leis,1 pois, além de ter sido proferido pela boca
Deus (cf. Êx 20:1; Dt 5:4), também foi escrito pelo dedo de Deus (Êx 31:18).
Não existe, na Bíblia, nenhuma outra palavra escrita pela mão do Senhor.
Por exemplo, as leis cerimoniais, embora também fossem leis divinas, foram
escritas por Moisés, a pedido de Deus (Dt 31:9). Além disso, o material usa-
do por Deus para escrever os dez mandamentos é também especial: foram
escritos em duas tábuas de pedra (Dt 5:22). Nenhuma outra lei foi escrita
assim. As demais foram registradas num livro (Êx 24:4-7; Dt 31:24-26).
A lei moral reflete o caráter de legislador. Deus é bom (Mc 10:18) e a
lei é boa (Rm 7:12). Deus é santo (1 Pd 1:15-16; Ap 15:4) e a lei santa (Rm
7:12). Deus é perfeito (Mt 5:48) e a lei é perfeita (Sl 19:7, 119:96). Deus
é espiritual ( Jo 4:24) e a lei é espiritual (Rm 7:14). Deus é justo e reto (Dt
32:4) e a lei é justa e reta (Sl 19:7, 119:128,137-138). Deus é eterno ( Jd 25)
e sua lei também é eterna (Sl 119:152). Veja o que o salmista diz a respeito
dela: A verdade é a essência da tua palavra, e todas as tuas justas ordenanças são
eternas (Sl 119:160 – NVI). A lei do Senhor é eterna.
Estava presente e atuante na antiga aliança (Dt 9:9-10), e continuou
vigorando na nova aliança ( Jr 31:31-33; Hb 8:8-13), ou seja, mesmo depois
do sacrifício de Cristo, a lei moral continua vigente, pois é reflexo do caráter
perfeito de Deus. Assim como o caráter dele é imutável e eterno, a sua lei
também o é. Por isso, a vigência perpétua da lei é declarada por Cristo (Mt
5:17-19) e confirmada pelos apóstolos (Rm 3:31; 1 Jo 2:3-7). A aplicação
dos dez mandamentos é universal: De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme
a Deus e guarda os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem (Ec
12:13). Todo ser humano deve obedecer à lei, mas, principalmente, aqueles
que foram salvos pela graça (Rm 6:1-2). A graça não nos isenta de obedecer
à lei de Deus; ao contrário, dá-nos condições para sermos obedientes.
2. O conteúdo dos dez mandamentos: Jesus Cristo disse: Não pensem
que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas cumprir (Mt 5:17). Se
a lei é de autoria do Deus Triúno, Jesus também é o legislador. Portanto,
não veio acabar com o que ele mesmo criou. Cristo é o maior conhecedor

1. Alexander & Rosner (2009:911).

O Doutrinal | 189
do decálogo porque o concebeu. O que o nosso Senhor fez, aqui na ter-
ra, foi obedecer aos mandamentos e nos ensinar como obedecer-lhes (Mt
5:17). De fato, ele foi quem melhor explicou o significado da lei. Ensinou
que a essência dela é o amor. Esclarecendo essa verdade, disse que todos os
mandamentos podem ser agrupados em apenas dois: Amarás o Senhor, teu
Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento (...)
e amarás o teu próximo como a ti mesmo (Mt 22:37-39 – grifo nosso). Depois,
finalizou dizendo: ... destes dois mandamentos dependem toda a lei (Mt 22:40).
No mesmo sentido, o apóstolo Paulo, após comentar o decálogo, concluiu:
... o cumprimento da lei é o amor (Rm 13:10).
Veja que curioso: a lei de Deus foi escrita em duas tábuas de pedras.
Você já se perguntou por que foi divida assim, em duas partes? O que
Deus deseja nos ensinar com essa divisão? A explicação é simples e reve-
ladora: a primeira tábua trata do amor a Deus. Lá, estão escritos os quatro
primeiros mandamentos que orientam, sobretudo, a maneira de nos re-
lacionarmos com Deus. A segunda tábua, por sua vez, refere-se ao amor
ao próximo. Lá, estão os seis últimos preceitos que guiam o modo de nos
relacionarmos com os nossos semelhantes (cf. Rm 13:8-10).2 Realmente,
a essência da lei é o amor e pode, sim, ser sintetizada em dois grandes
mandamentos, como nos ensinou Jesus. Consequentemente, o amor não
anula a lei, mas a cumpre.
Com isso em mente, passemos agora a observar, de forma resumida,
cada um dos dez mandamentos. O primeiro mandamento é: Não terás ou-
tros deuses diante de mim (Ex 20:3). O Pai celestial exige de seus filhos exclu-
sividade. Quer que o amem acima de todas as coisas. Por isso, não precisam
adorar o sol, a lua e as estrelas para desobedecerem a esse mandamento:
basta darem o primeiro lugar de suas vidas a qualquer outra pessoa ou coisa
e não a Deus.3 O segundo mandamento é: Não farás para ti imagem de es-
cultura (20:4-6). Com esse preceito, o Senhor proíbe todo e qualquer tipo
de objeto que vise representá-lo ou substituí-lo na adoração. É idolatria,
infidelidade e rebelião contra o criador.
O terceiro mandamento é: Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em
vão ... (20:7). O nome de alguém representa o seu caráter e sua reputação.

2. Meyer (2002:51).
3. Stott (2007c:62).

190 | Estudo 17 - A lei dos dez mandamentos e sua vigência


Honrar o nome de Deus é respeitar quem ele é e o que ele faz. Este preceito
nos faz lembrar que devemos ter reverência e temor diante do Senhor do
universo. O quarto mandamento é: Lembra-te do dia de sábado, para o san-
tificar ... (20:8-11). Desde a criação, Deus estabeleceu o dia especial para o
descanso físico, mental e espiritual do ser humano, isto é, o sétimo dia da
semana. Este deve ser um dia de reflexão e devoção, um tempo dedicado
para a comunhão com o criador e com a sua criação.
O quinto mandamento é: Honra teu pai e tua mãe ... (20:12). Essa or-
dem nos ensina mais do que simplesmente obedecer aos pais, pois obedecer
é mais fácil que honrar. Pode-se odiar alguém e, ainda assim, obedecer-lhe;
mas é impossível honrar alguém sem o amar.4 Além disso, esse preceito nos
ensina a respeitar e cuidar amorosamente dos idosos. O sexto mandamento
é: Não matarás (20:13). A vida humana é presente de Deus, o Senhor da
vida. Somente ele tem a autoridade de tirá-la.5 O sétimo mandamento é:
Não adulterarás (20:14). Essa prescrição divina diz respeito à preservação do
casamento e, consequentemente, da família. Na Bíblia, o casamento é algo
santo e inviolável.
O oitavo mandamento: Não furtarás (20:15). Essa proibição ensina que
é preciso respeitar a propriedade alheia; também combate toda prática e
ação de desonestidade. O nono mandamento é: Não dirás falso testemunho
... (20:16). Falar uma mentira sobre alguém, a fim de prejudicá-lo, é coisa
perversa. Daí a proibição. Esse preceito está relacionado aos pecados da lín-
gua: a mentira, a fofoca, a maledicência, a murmuração, e assim por diante.
Mostra também a importância de falarmos a verdade. O décimo manda-
mento é: Não cobi­çarás (20:17). Além de combater o desejo desenfreado de
possuir o que pertence a outro, em essência, esse mandamento diz respeito
aos pecados interiores (coração e mente): sentimentos, pensamentos e de-
sejos pe­caminosos.
3. O propósito dos dez mandamentos: Segundo o apóstolo Paulo, a
lei só é boa e proveitosa quando alguém a usa de maneira adequada (1 Tm
1:8). Infelizmente, há quem empregue a lei de Deus de maneira inadequa-
da. Agir assim é muito perigoso! Por exemplo, não se deve usar a lei dos
mandamentos como meio de salvação ou justificação. Obedecer-lhe não

4. Hamilton (2007:222).
5. Wiersbe (2006a:291).

O Doutrinal | 191
nos torna dignos, nem nos faz merecedores diante de Deus. A salvação é
sempre pela graça de Deus. Paulo disse: Vocês são salvos pela graça, por meio
da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém
se glorie (Ef 2:8-9).
Não somos salvos porque obedecemos à lei, mas lhe obedecemos por-
que Cristo já nos salvou por sua graça. Se “salvação” não é função da lei,
então por que esta existe? Qual é o seu propósito? Vejamos:6 Em primeiro
lugar, a lei especifica o pecado. Para o cristão deixar de pecar, precisa, antes,
saber o que é pecado. Nessa questão, a lei de Deus é imprescindível, pois
aponta e define o pecado. O apóstolo Paulo explica: De fato, eu não saberia o
que é pecado, a não ser por meio da lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é
cobiça, se a lei não dissesse: “Não cobiçarás” (Rm 7:7). O apóstolo João também
diz: ... o pecado é a transgressão da lei (1 Jo 3:4).
Em segundo lugar, a lei condena o pecador. A lei é um instrumento eficaz,
que o Espírito Santo utiliza para convencer o pecador dos seus pecados
e das terríveis consequências destes (cf. Rm 3:19-20; 7:7-11; Gl 3:10; Tg
2:8-13). A lei nos mostra a perfeição da justiça de Deus e reflete o caráter
santo do Criador. Tiago compara a Lei de Deus a um espelho (Tg 1:23-25).
Diante do espelho podem-se ver as manchas do rosto ou sujeira da rou-
pa. Assim também ocorre quando o pecador está perante a perfeita lei do
Senhor. Somente através dela pode conhecer seus defeitos de caráter, suas
fraquezas e suas iniquidades.
Ao contemplar a lei de Deus, o ser humano percebe o quanto está longe
do alvo. Vê-se incapaz de satisfazer as exigências divinas. Descobre que está
perdido e condenado. Em terceiro lugar, a lei aponta o Salvador. Quando o
homem se vê condenado e sujeito à ira de Deus, por causa de sua transgres-
são, fica em total desespero. Nesse momento, a lei direciona-o para a única
esperança: a graça de Deus em Jesus Cristo.7 A lei não salva, mas aponta o
Salvador, diagnostica o problema, e Cristo o resolve. Paulo afirma que a lei
foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé (Gl 3:24 – NVI).
Em quarto lugar, a lei inibe a transgressão. A lei carrega consigo a pe-
nalidade por sua infração. Nisso, desempenha também a função de inibir
e restringir a maldade dos homens. Esse aspecto, que se aplica a todas as

6. Gentry Jr. (2008:28-31).


7. Einwechter (2009:49).

192 | Estudo 17 - A lei dos dez mandamentos e sua vigência


pessoas (crentes ou incrédulas), é fundamental para a construção de uma
sociedade justa e ordenada, pois forma um consciente coletivo e funciona
como uma espécie de freio contra a criminalidade (Dt 4:6). Sobre esse as-
pecto da lei, Paulo disse: ... sabemos que ela não é feita para os justos, mas para
os transgressores e insubordinados, para os ímpios e pecadores, para os profanos e
irreverentes (1 Tm 1:9).
Em quinto lugar, a lei guia à santificação. A lei é a regra de vida para o
cristão, pois revela a vontade de Deus para sua vida e aponta o padrão éti-
co de seu comportamento. Ao sermos salvos pela graça, em Cristo, somos
chamados a viver de maneira santa: Assim como é santo aquele que os cha-
mou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, pois está escrito: “Sejam
santos, porque eu sou santo” (1 Pd 1:15-16). Só há uma maneira de atender
a esse chamado: obedecendo aos mandamentos do Senhor, que nos reve-
lam a santidade de Deus e nos a ensinam viver de maneira que lhe agrade.
O decálogo nos mostra o que é amar. Ao obedecer-lhe com sinceridade,
aprendemos a amar verdadeiramente a Deus e o próximo.
Até aqui, aprendemos que Deus é o legislador dos dez mandamentos,
e vimos que estes refletem o caráter santo daquele. Descobrimos que a lei
moral é eterna e continua válida para o cristão de hoje. Também, analisa-
mos o conteúdo dos dez mandamentos e o propósito que o Senhor tem em
nossas vidas através destes. O apóstolo Paulo, profundo conhecedor da lei
de Deus, entendia todas essas questões tratadas aqui. Por isso, disse: Assim,
a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom (Rm 7:12). Que tenhamos
essa compreensão da lei de Deus e venhamos a amá-la e obedecer-lhe.
Deste estudo, podemos extrair lições práticas para a vida cristã. É o que
veremos a seguir.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Obedeça à lei dos dez mandamentos com amor.


O Senhor Deus quer se relacionar com você e a base para esse relacio-
namento é o amor. Ele amou você primeiro e provou isso lá na cruz. Agora
você deve corresponder a esse grandioso amor. Mas como podemos amar
a Deus e ignorar a sua lei? É impossível, pois nisto consiste o amor a Deus:
em obedecer aos seus mandamentos. E os seus mandamentos não são pesados (1

O Doutrinal | 193
Jo 5:3). Enquanto, o incrédulo obedece por medo da punição, nós obede-
cemos por amor e gratidão ao nosso Salvador e Senhor. Esta é a motivação
correta! Você ama mesmo o seu Senhor? É grato a ele por tudo que ele lhe
fez? Então, obedeça aos seus mandamentos (cf. Jo 14:15). Quem ama ao
Senhor, ama também a sua lei e obedece com alegria, dizendo: Amo os teus
mandamentos (...) e a tua lei é o meu prazer (Sl 119:127,174).

2. Conheça a lei dos dez mandamentos com profundidade.


A lei do Senhor é perfeita (Sl 19:7). É como um mapa que aponta o
caminho, como uma bússola que mostra a direção. É o código de conduta
do cristão. Conhecer a lei de Deus é também conhecer o próprio Deus,
pois ela revela o caráter santo e perfeito do legislador. Mas como conhecê-
-la? Você deve estudá-la com seriedade e afinco. Saiba que a ignorância e
o desprezo à lei é o caminho do erro e da morte (cf. Os 4:6). Mais do que
ler superficialmente os dez mandamentos é fundamental estudá-los com
profundidade. Neles, você descobre os tesouros e mistérios de Deus; através
deles, você entende a vontade do Criador para a sua vida. É por isso que são
mais desejáveis do que o ouro puríssimo, são mais doces do que o mel (Sl 19:10).

3. Cumpra a lei dos dez mandamentos com dedicação.


Infelizmente, muitos, em nossos dias, não levam tão a sério a obediên-
cia aos preceitos do Senhor e usam a graça de Deus como desculpa. Dizem:
“Fomos salvos pela fé em Cristo; então, não precisamos mais obedecer à
lei”. Sobre isso, Paulo escreveu: Por acaso anulamos a lei pela fé? De modo
nenhum! Pelo contrário, confirmamos a lei (Rm 3:31). Na paráfrase da Nova
Bíblia Viva, lemos assim: Bem, então, se somos salvos pela fé, isso significa que
não precisamos mais obedecer às leis divinas? Ao contrário! De fato, é assim que
confirmamos a lei. A graça não nos desobriga de obedecer à lei, nem faz da lei
algo opcional. Toda pessoa salva pela graça de Cristo deve cumprir os dez
mandamentos e fazer isso com zelo e dedicação. Pois é o que Deus espera
de seus filhos.

Conclusão
No presente estudo, aprendemos sobre um ponto essencial da fé cristã:
A lei dos dez mandamentos e sua vigência. Vimos que o decálogo é o resumo
de toda a lei moral, que está presente em toda a Bíblia. Os preceitos deste

194 | Estudo 17 - A lei dos dez mandamentos e sua vigência


código revelam o caráter de Deus e mostram a vontade dele para os seres
humanos. Portanto, a abrangência da lei do Senhor é universal e sua valida-
de é eterna. Vimos também que não há motivos para conflitarmos a lei e a
graça. Uma não anula a outra. Ambas sempre trabalharam juntas. A salva-
ção sempre foi pela graça. Por isso, assim como foi com Israel, não obedece-
mos aos dez mandamentos para sermos salvos, mas porque já somos salvos.
Que bela oração fez Davi: Dá-me entendimento, para que eu guarde a tua
lei e a ela obedeça de todo o coração! (Sl 119:34 – NVI). Que esta seja tam-
bém a nossa oração. O próximo estudo também será especial: vamos apren-
der sobre “o verdadeiro dia do descanso”. Veremos, de forma destacada, o
quarto mandamento da lei de Deus. Os cristãos devem ainda descansar no
sétimo dia da semana? Aprenderemos que sim. Descobriremos também o
legislador, a obrigação, o exemplo, a importância, a finalidade e a validade
do verdadeiro dia de descanso. Então, que venha o próximo estudo!

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Êxodo 20:1-2 e Deuteronômio 4:13


A. O que é a lei moral? Qual é a relação entre a lei moral e os dez
mandamentos (decálogo)?
B. Q uem é o legislador dos dez mandamentos? Por que a graça de Deus
pode ser claramente percebida no contexto da entrega desta lei?

02. Leia Êxodo 31:18 e Deuteronômio 5:4,22


A. Por que a lei dos dez mandamentos é um código de preceitos
especiais, que se destaca das demais leis?
B. Q ual foi material usado por Deus escrever os dez mandamentos e
que maneira Deus usou para escrevê-los?

03. Leia Salmos 19:7, 119:152 e Romanos 7:12


A. A lei moral, encontrada nos dez mandamentos, reflete o caráter de
seu Legislador (Deus) e mostra a sua vontade para os seres humanos.
Você concorda com essa afirmação? Justifique sua resposta.

O Doutrinal | 195
B. Será que essa lei se aplica a todos os homens ou somente aos judeus?
Depois que Jesus veio, essa lei continua vigente? Baseie-se também
em Ec 12:13; Mt 5:17, e Rm 3:31.

04. Leia Mateus 22:37-40 e Romanos 13:8-10


A. Sabemos que Jesus não veio abolir a lei, mas cumpri-la e ensinar-
nos a guardá-la corretamente. O que o Mestre nos ensinou sobre a
essência da lei?
B. Por que os dez mandamentos foram escritos em duas tábuas de
pedra? O que essa divisão nos ensina?

05. Leia Êxodo 20:3-17


A. Diga, em poucas palavras, o que significa cada um dos dez mandamentos.
B. Na sua opinião, quais desses mandamentos é o mais desrespeitado
pelos cristãos em nossos dias?

06. Leia 1 Timóteo 1:8; Efésios 2:8-9; Romanos 7:7-12, e 1 João 3:4
A. Por que é errado usar a obediência à lei como meio de salvação ou
de justificação diante de Deus? Para responder, leia também Gl 5:16
e Lc 17:10.
B. Cite e comente os cincos propósitos da lei de Deus. Recorra ao
comentário deste estudo.

07. Leia Romanos 7:12 e 1 Pedro 13:16


A. Um dos principais propósitos da lei é nos guiar no caminho da
santificação pessoal. Como isso acontece?
B. Q ual deve ser a nossa atitude, diante da lei Deus? Recorra às três
aplicações encontradas no final deste estudo e leia também 1 Jo 5:3;
Jo 14:15, e Sl 19:7-10.

Falta a página
de anotações

196 | Estudo 17 - A lei dos dez mandamentos e sua vigência


Estudo 18

O verdadeiro dia
de descanso

O sábado foi feito por causa do homem, e não


o homem por causa do sábado. (Mc 2:27)

Introdução
No último estudo, analisamos o ensino bíblico sobre A lei dos Dez Man-
damentos e sua vigência. Conforme aprendemos, a Bíblia diz que a Lei é santa,
e o mandamento, santo, justo e bom (Rm 7:12). Por isso, o fato de termos sido
salvos pela graça, através da fé em Jesus, não é motivo para anularmos a lei
pela fé; pelo contrário, confirmamos a lei (Rm 3:31), pois, pela lei vem o pleno co-
nhecimento do pecado (Rm 3:20). Como prova do nosso amor a Deus, a exem-
plo de Jesus, obedecemos aos mandamentos ( Jo 14:10), e, dentre eles, está
o que diz respeito ao verdadeiro dia de descanso, tema do presente estudo.
Na agitação deste nosso mundo moderno, precisamos redescobrir as
bênçãos da observância do quarto mandamento. Dentre os dez manda-
mentos da lei de Deus, este é o que tem o conteúdo mais extenso. Ele é
apresentado da seguinte forma: Lembra-te do dia de sábado, para o santificar.
Seis dias trabalharás e farás o teu trabalho; mas o sétimo dia é o sábado do Senhor
teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum (Êx 20:8-10a – AS21). Note que
a Bíblia é clara em dizer que o sábado é o verdadeiro dia de descanso. Deus
institui este mandamento, porque, além de reconhecer o valor do trabalho,
também reconhece o valor do descanso, conforme veremos neste estudo.

O Doutrinal | 197
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

A nossa palavra portuguesa “sábado” é a tradução para o substantivo


hebraico shabbât (sábado, o sétimo dia da semana), que, por sua vez, prova-
velmente, originou-se do verbo shâbat, que significa “cessar”, “parar”, “parar
de trabalhar”, “descansar”, “fazer pausa”. Nenhum mandamento da lei de
Deus foi tão fortemente enfatizado como o que faz referência ao sábado,
como verdadeiro dia de descanso. Um estudo cuidadoso mostrará que este
mandamento, assim como todos os outros, continua em vigor e deve ser
guardado por todos os crentes em Jesus: Cada um (...) deve guardar o sába-
do (Lv 19:3). Nosso objetivo, no presente estudo, é mostrar o legislador, a
obrigação, o exemplo, a importância, a finalidade e a validade do sábado, o
verdadeiro dia de descanso.
1. O legislador do verdadeiro dia de descanso: A Bíblia é enfática ao
dizer que foi Deus quem instituiu a obrigação do descanso ao sábado. Ele é
o legislador. A Bíblia, quando narra a doação do maná, evento que ocorreu
não muito tempo depois (Êx 16:1) de os filhos de Israel terem saído da terra
do Egito, mostra Deus orientando a respeito do descanso ao sábado: Vede
que o Senhor vos deu o sábado (...). Então o povo descansou no sétimo dia (Êx
16:29-30). Pela forma como as coisas aconteceram, ficou bem claro para o
povo que Deus queria mesmo o descanso nesse dia.
Durante seis dias na semana, o Senhor fazia chover o maná (Êx 16:4-
5). Cada um deveria recolher, diariamente, o quanto conseguia comer (Êx
16:16), pois, se sobrasse algo para o dia seguinte, criaria bichos e cheiraria
mal (Êx 16:20). Entretanto, no sexto dia, a ordem de Deus era para que se re-
colhesse o dobro e, na manhã seguinte, não cheiraria mal e nem criaria bicho
algum (Êx 16:24). Deus fez isso, porque não queria que o povo trabalhasse
no dia de sábado. Era o dia de descanso, sábado santo ao Senhor (Êx 16:23).
Mesmo assim, houve alguns que saíram ao campo para colher o maná nesse
dia (Êx 16:27). Então, o Senhor, o criador do sábado, disse: Até quando recu-
sareis guardar os meus mandamentos e as minhas leis? (Êx 16:28 – grifo nosso).
Depois dessa repreensão, o povo descansou nesse dia (Êx 16:30).
Mais tarde, quando tratam a respeito do povo de Israel ao redor do
monte Sinai, as Escrituras revelam que o descanso ao sábado foi ordenado
pela boca de Deus (Êx 20:1) e registrado pelo dedo de Deus (Êx 31:18).

198 | Estudo 18 - O verdadeiro dia de descanso


Portanto, o criador do descanso é o Senhor: Então, falou Deus (Êx 20:1a).
Ele fala conosco e nos revela a sua vontade! Em Deuteronômio, quando o
mandamento é repetido, podemos, novamente, verificar que o legislador do
verdadeiro dia de descanso é o Senhor: Guarda o dia de sábado para o santi-
ficar, como te ordenou o Senhor teu Deus (Dt 5:12 – grifo nosso). A expressão
“como te ordenou o Senhor” é uma reivindicação clara da origem e da auto-
ridade divina da instituição do sábado como dia de descanso.
2. A observância do verdadeiro dia de descanso: O descanso ao sábado
não é opcional. Quando o estabeleceu, o Senhor o deu como um manda-
mento a ser obedecido e não discutido. Em Deuteronômio, quando Moisés
relembra o povo da aliança que este fez com Deus, ao apresentar novamente
o mandamento sobre o sábado, ele diz: Lembra-te que foste escravo na terra do
Egito e que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão forte e braço estendido. Por
isso, o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o dia de sábado (5:15 – grifo
nosso). Observe que, nessa ordem de Deus, não há espaço para especulações
ou coisa do tipo.
O descanso ao sábado é obrigatório: Não faça nenhum trabalho nesse
dia (Êx 20:10b). Esse mandamento, em Êxodo, começa com um “Lembra-
-te” (20:8), cujo significado, no hebraico, também é “dar atenção”, “trazer à
mente”. Em Deuteronômio, a palavra inicial é “Guarda” (Dt 5:12), que, no
hebraico, exprime a atenção cuidadosa que se deve ter com as obrigações de
uma aliança.1 As leis de Deus não devem ser obedecidas de forma teórica
ou superficial, e nem opcional. E é bom que se diga, aqui, que essa obriga-
ção, tão fortemente enfatizada, existe desde a criação. Lá, Deus abençoou e
santificou o sétimo dia, porque nele descansou (cf. Gn 2:1-3). Na lista dos dez
mandamentos, o sábado é uma obrigação igual às outras. A sua não obser-
vância equivale à não observância de qualquer outra obrigação.
Cabe ressaltar, aqui, também, que a obrigação do descanso ao sábado
deveria ser amplamente partilhada: ... não farás nenhuma obra, nem tu, nem
o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal,
nem o estrangeiro (Êx 20:10). Ao ordenar essa partilha com suas criaturas,
pessoas e animais, o Deus Criador realça o caráter universal e ecológico
desse descanso. Universal porque dele participam pessoas de qualquer sexo,
idade, classe e etnia. Ecológico porque também se estendia aos animais.

1. Harris et al (1998:2414).

O Doutrinal | 199
A terra, de um modo geral, com todos os seus recursos naturais, minerais,
animais, vegetais usufrui desse descanso. O descanso ao sábado, portanto, é
socialmente justo e ecologicamente correto. Enfim, contribui com a susten-
tabilidade ambiental.
3. O exemplo do verdadeiro dia de descanso: Deus é o nosso exemplo
ou padrão de descanso. Antes de nos mandar trabalhar seis dias e descansar
no sétimo, ele próprio, no princípio, trabalhou seis dias e descansou no sé-
timo: Porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que
neles há e, ao sétimo dia, descansou (Êx 20:11). Basta lermos Gênesis 1:3–2:4.
Deus poderia ter feito tudo num instante, mas escolheu demorar seis dias.
A razão de tudo isso é óbvia. Deus fez tudo dessa maneira para se tornar o
nosso exemplo. Ele é o nosso padrão de descanso ao sábado.
Todavia, o que faz de Deus um padrão de descanso não é somente a
maneira como ele descansou, mas também a maneira como ele trabalhou
durante a semana. Não é possível tratar de descanso sem tratar de trabalho.
Há quem pense que o trabalho é uma maldição de Deus. Porém, esse não
é o ensino da Bíblia. O trabalho é uma benção, um presente de Deus (Ec
3:13 cf. 2:24). Adão já trabalhava antes da queda (Gn 2:15). O que a Bíblia
ensina, em Gênesis, é que Deus amaldiçoou a “terra” e não o trabalho (Gn
3:17). Nesse sentido, o trabalho pré-queda era totalmente prazeroso, por-
que a terra não estava sob maldição. Agora, por causa da maldição da terra,
o trabalho pós-queda tornou-se algo, por vezes, desgastante e desanimador.
Deus é o nosso exemplo, também, pela maneira como trabalhou. Pri-
meiro: Deus planejou o seu trabalho. Havia ordem. Adão e Eva foram cria-
dos quando o jardim onde seriam postos para viver já existia. Segundo: Deus
distribuiu o seu trabalho. Ele poderia ter criado todas as coisas de uma única
vez, mas optou por criá-las em etapas (Gn 1:3-31). Terceiro: Deus partilhou
o seu trabalho. A obra da criação foi uma obra coletiva (Gn 1:26), isto é,
teve a participação do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Só quem trabalha
durante a semana como Deus trabalhou, isto é, planejando, distribuindo
e partilhando o seu trabalho semanal, descansa como Deus descansou no
sábado. Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados (Ef 5:1).
4. A importância do verdadeiro dia de descanso: O sábado é um pre-
sente de Deus para o seu povo. Observe o seguinte texto bíblico: Vejam que
o Senhor lhes deu o sábado (Êx 16:29 – NVI). O verbo “deu”, que aparece
no versículo 19, corresponde a um verbo hebraico, que, dentre os sentidos

200 | Estudo 18 - O verdadeiro dia de descanso


básicos em que é empregado, está o de “presentear”. Nesse mesmo sentido,
Jesus afirmou: O sábado foi feito para o homem (Mc 2:27a), ou, como diz ou-
tra versão bíblica: O sábado foi feito para servir as pessoas (NTLH). O sábado
foi dado por Deus ao homem para o seu benefício e felicidade. Foi dado
não para ser um fardo, mas uma bênção. Devemos guardá-lo para comemo-
rarmos a obra da criação (Êx 20:8-11), celebrarmos a obra da redenção (Dt
5:12-15) e nos santificarmos (Ez 20:11-20).
Outro fato que revela a importância desse mandamento é a sua posição
na lista dos dez mandamentos. Os três primeiros mandamentos (Êx 20:3-
5) nos mostram como devemos nos relacionar com a divindade. Já os seis
últimos (Êx 20:12-17) nos mostram como devemos nos relacionar com o
semelhante. Entre os três primeiros mandamentos e os seis últimos, está o
que diz respeito à observância do sábado. Essa localização não é aleatória
nem acidental: é proposital. Ao posicioná-lo dessa maneira, Deus pretendeu
revelar a relevância ou a importância do descanso ao sábado para aprofundar
e fortificar os relacionamentos. Este dia nos proporciona um momento espe-
cial para nos encontrarmos com Deus e sermos encontrados por ele, e tam-
bém para nos encontrarmos com o outro, e sermos encontrados pelo outro.
O sábado é importante, também, porque, nesse dia, deixamos de carre-
gar as nossas cargas ( Jr 17:21-25). É o dia que temos para dar uma pausa
nos nossos próprios negócios, que, por vezes, nos consomem e nos fadigam
(Is 58:13a). É o dia em que não procuramos andar pelos nossos próprios
caminhos, nem fazer as nossas próprias vontades, nem dizer as nossas pró-
prias palavras (Is 58:13). O sábado é um dia muito importante e deve ser
encarado como uma bênção de Deus para nós. Não devemos ser como o
povo da época do profeta Amós, que aguardava ansioso pelo término do
sábado, para realizar os seus comércios (Am 8:5). Se isso passar pela nossa
mente, cuidemos! É um sinal de que há alguma coisa errada na maneira de
encararmos o dia de descanso. Pode ser que não estejamos dando a devida
importância a esse dia.
5. A finalidade do verdadeiro dia de descanso: O sábado foi institu-
ído por Deus, principalmente, para ser um dia de descanso e restauração
de forças: ... no sétimo dia não trabalhem, para que o seu boi e o seu jumento
possam descansar e o seu escravo e o estrangeiro renovem as forças (Êx 23:12,
cf. 31:15, 35:2; Lv 16:31, 23:3,32, 26:35; Jr 17:21; Lc 23:56). A expressão
“renovar forças” tem o sentido, também, de “tomar fôlego”, “tomar alento”,

O Doutrinal | 201
“reanimar-se”. Todavia, o sábado não é somente um cessar de atividades,
mas um cessar de “certas” atividades, isto é, as que fazem parte dos outros
seis dias da semana.
O Salmo 92 apresenta uma lista de atividades que podem e devem ser
realizadas ao sábado. Esse salmo é intitulado “Salmo e cântico para o dia de
sábado”. Ele era usado nos cultos, no templo. Segundo esse Salmo, sábado é
dia de: agradecer (v. 1a), louvar (v. 1b-3), relembrar (v. 4-5), testemunhar (v.
6-11), proclamar (vv. 12-15). Durante o sábado, o povo de Deus pode, além
de revigorar o corpo, revigorar a alma.
Na Bíblia, a palavra sábado também está associada a festividades e ale-
gria (2 Rs 4:23; 2 Cr 2:4, 8:13; Is 1:13-14, 66:23; Lm 2:6; Ez 44:24, 45:17,
46:1-12; Os 2:11). Com base nisso, aprendemos que o dia de sábado é tem-
po para a celebração da graça e da glória de Deus (Rm 11:36). É tempo de
feliz e alegre comunhão com o Criador e Senhor do universo: ... considerem
o sábado como um dia de festa, o dia santo do Senhor, que deve ser respeitado (Is
58:13). Sábado também é dia de solidariedade. Jesus disse que é lícito fazer
o bem nesse dia (Mt 12:12). Finalmente, sábado é dia de ensinamento. Je-
sus, em seu ministério, retratado nos evangelhos, gastou a maior parte dos
seus sábados ensinando nas sinagogas (cf. Mc 1:21-34; Lc 4:16-22, 13:10-
17, 14:1-24; Jo 5:1-47).
6. A validade do verdadeiro dia de descanso: A Bíblia mostra, clara-
mente, que o imperativo do descanso ao sábado, prescrito no Antigo Testa-
mento, continuou valendo aos crentes do Novo Testamento e continua para
nós, hoje. Comecemos com o exemplo de Jesus. Ir à sinagoga, aos sábados,
era um hábito seu: ... entrou na sinagoga no dia de sábado, segundo o seu cos-
tume (Lc 4:16). Esse é o único texto em que aparece a expressão “segundo
o seu costume”. Esse fato, porém, pode ser comprovado à luz de outras
passagens bíblicas (cf. Mt 12:9-10, 13:54; Mc 1:21, 3:1-2, 6:2; Lc 4:15-16,
31, 6:6, 13:10; Jo 18:20).
É interessante como, no decorrer de todos os evangelhos, por várias ve-
zes, Jesus foi censurado por causa da maneira como observava o sábado (Mt
12:1-13; Mc 2:23-28; 3:1-5; Lc 6:1-11; Jo 7:10-24). Em nenhuma dessas
ocasiões, ele questiona a validade do mandamento, mas as suas distorções.
Jesus disse que é Senhor do sábado (cf. Mt 12:8, 2:28; Lc 6:5). Por ser Senhor
do sábado, Jesus apresenta o verdadeiro sentido do mandamento: O sábado
foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado (Mc 2:27). Este

202 | Estudo 18 - O verdadeiro dia de descanso


dia foi dado como uma bênção e não como um fardo pesado. O sábado foi
instituído para o bem-estar físico e espiritual do ser humano.
Em outra ocasião, em Mateus 24:20, Jesus, em seu sermão profético, diz
aos discípulos: ... orai para que a vossa fuga não seja no sábado. No contexto
em que esse texto está inserido, Jesus está se referindo a eventos futuros.
É claro que, para ele, até o período da destruição de Jerusalém e também
do fim dos tempos, seus discípulos estariam guardando o sábado. Outro
episódio que também comprova a validade da observância do sábado como
verdadeiro dia de descanso encontra-se registrado em Lucas 23:56. Aqui,
vemos que, antes de irem ao sepulcro para ungirem o corpo de Jesus, as
mulheres que o seguiam, descansaram no sábado, conforme o mandamento.
Então, mesmo depois da morte de Cristo, elas continuaram a observar o
sábado, como dia de descanso.
O livro de Atos nos mostra que os convertidos a Cristo continuaram
observando o sábado como verdadeiro dia de descanso. Nesse dia, faziam
orações e escutavam leituras e exposições das Escrituras (cf. At 13:27, 15:21,
13:42, 44, 16:13, 17:2, 18:4). Paulo, por exemplo, quando estava em Filipos,
no dia de sábado, saiu da cidade para a beira do rio, onde julgava haver um
lugar de oração (At 16:13). Mesmo não havendo sinagoga nessa cidade, Pau-
lo observou o sábado. Diante disso, é possível concluir que os seguidores do
Senhor do sábado, permaneceram observando todos os dez mandamentos,
inclusive o quarto mandamento.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Aproveitemos o sábado para renovar a disposição.


Trabalham para viver e vivem para trabalhar. Essa é a realidade das pessoas
viciadas em trabalho. Trabalhar é ótimo, prazeroso e enriquecedor. Mas não
pode ser tudo na vida. Deus não é contra o trabalho, mas também não é contra
o descanso. O sétimo dia é o dia de descanso (...) todos devem obedecer este manda-
mento (Dt 5:12,14 – BV). No dia de sábado, podemos contemplar a natureza,
estar mais junto da família, adorar ao Senhor no seu templo, dedicar-lhe as
nossas vidas e, finalmente, contemplar e agradecer a obra da salvação. Nesse
dia, as nossas forças são restauradas, para que estejamos preparados e revigora-
dos para enfrentar as lutas e os desafios da vida que a nova semana trará.

O Doutrinal | 203
2. Aproveitemos o sábado para fortalecer a comunhão.
O sábado é propício, também, para fortalecermos a comunhão. A Bíblia
mostra Jesus visitando pessoas e compartilhando de suas refeições, no dia de
sábado (Lc 14:1). Após curar um endemoninhado, na sinagoga de Cafar-
naum (Mc 1:23-26), ele foi, com Tiago e João, diretamente para a casa de Simão
e André (Mc 1:29). Ali, depois de curar a sogra de Pedro, alimentou-se e pas-
sou o dia todo com eles (Mc 1:31-32). Essa atitude de Cristo nos ensina que
sábado é dia de desfrutarmos os benefícios do companheirismo cristão, de
nos alegrarmos na presença dos amigos e aprimorarmos os relacionamentos.

3. Aproveitemos o sábado para exercitar a compaixão.


Sábado é dia de exercitar compaixão. De acordo com Jesus, que andou
por toda a parte, fazendo o bem (At 10:38), é permitido fazer o bem no sábado
(Mt 12:12b). Fazer o bem é fazer algo em benefício dos outros. Essa era
uma prática constante na vida dele, e deve ser na nossa também. Por isso,
utilizemos também o sábado para exercitar a compaixão. Aos sábados, seja
alguém para os que não têm ninguém. Há sempre alguém de quem você
precisa se aproximar, para abraçar, acolher, ajudar, apoiar, ouvir. Portanto,
nesse dia, devemos fazer o bem a todos, especialmente aos que fazem parte da
nossa família na fé (Gl 6:10 – NTLH).

Conclusão
Finalizamos este estudo lembrando que o verdadeiro dia de descanso
não é uma instituição humana, mas divina: Deus é o seu legislador. Além
de ser legislador, ele também é o grande exemplo de descanso ao sábado,
pois descansou nesse dia. Conforme vimos, observar esse mandamento não é
opcional, mas obrigatório. Contudo, apesar de ser obrigatório, não devemos
fazê-lo somente por essa razão. Devemos obedecer por amor e com senti-
mento de gratidão em nosso coração: o sábado é um presente de Deus para
o homem. Nesse dia, temos a oportunidade de renovar as nossas forças, cele-
brar o criador, exercitar a compaixão e fortalecer os nossos relacionamentos.
Além da prescrição, a Bíblia apresenta também uma promessa para
aqueles que observam o verdadeiro dia de descanso: Guardem o sábado, des-
cansando em vez de trabalhar; (...) Se me obedecerem, eu serei uma fonte de alegria
para vocês e farei com que vençam todas as dificuldades (Is 58:13-14a – NTLH).
Confiemos nessa palavra. Paremos ao sábado e entreguemos a nossa vida nas

204 | Estudo 18 - O verdadeiro dia de descanso


mãos do Criador. No próximo estudo, trataremos da Distinção das Leis. Você
sabia que, na Bíblia, existem as leis moral, ritual e civil e que são distintas
quanto à variedade, finalidade e validade? Não deixe de ler o próximo estudo.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Êxodo 16:29-30, 20:1, 31:18; Deuteronômio 5:12


A. O que esses textos dizem sobre o legislador do verdadeiro dia de descanso?
B. O que a expressão “como te ordenou o Senhor” nos ensina?

02. Leia Êxodo 20:10 e Deuteronômio 5:12; Mateus 5:18


A. Esses textos, que são partes da lei de Deus, apresentam a guarda do
sábado como opcional?
B. O que a expressão “Lembra-te” (Êx 20:10) e “Guarda” (Dt 5:12) significa?

03. Leia Gênesis 2:1-3 e Eclesiastes 3:13, 2:24


A. Q uem é o nosso grande exemplo de observância do sábado? O que
ele fez no sétimo dia, mesmo sem precisar?
B. Além de ser o nosso exemplo de descanso, Deus também é nosso
exemplo de trabalho. Sobre isso, responda: O trabalho é uma
maldição de Deus? Justifique a resposta.

04. Leia Marcos 2:27-28; Jeremias 17:21-25 e Isaías 58:13-14


A. O sábado foi feito para ser uma bênção ou um fardo na vida do
ser humano?
B. Por que o sábado é importante?

05. Leia Êxodo 23:12, 31:15, 35:2, e Lucas 23:56


A. O sábado foi criado por Deus principalmente para quê?
B. Você acha que existe algum prejuízo na saúde das pessoas, se estas
trabalharem sem fazer uma pausa semanal? Será que Deus sabia o
que estava fazendo?

O Doutrinal | 205
06. Leia Isaías 58:13; Mateus 12:12 e Lucas 4:16-22
A. Além de ser dia de descanso, o sábado também é dia de celebração
e solidariedade. Comente sobre essas verdades. Como colocá-las em
prática?
B. Como Jesus gastou a maior parte dos seus sábados? Podemos fazer
isso também?

07. Leia Lucas 4:16; Mateus 12:8; Marcos 2:27-28, e Lucas 23:56
A. Jesus guardava o sábado? Quando foi censurado, questionou a
validade do mandamento ou as suas distorções?
B. Jesus disse que o sábado foi “feito” por causa do homem: O que isso
nos ensina? Depois da morte de Cristo, seus discípulos continuaram
observando o sábado?

Anotações

206 | Estudo 18 - O verdadeiro dia de descanso


Estudo 19

A distinção das leis

Porei a minha lei na sua mente e a


escreverei no seu coração. Eu serei o seu
Deus, e eles serão o meu povo. (Jr 31:33)

Introdução
No estudo anterior, que tem por título: O verdadeiro dia de descanso,
aprendemos sobre a importância de se observar o quarto mandamento da
lei de Deus. Vimos que a guarda do dia de sábado é um mandamento para
todos os filhos e filhas de Deus. Este é um dia de celebração, ensinamento,
companheirismo, restauração, solidariedade e proclamação. A Bíblia é cla-
ra em mostrar que a observância deste mandamento ainda está em vigor,
tendo em vista, também, a vigência dessa lei (Mt 5:17-18).1 Logo, cabe-nos
não só aceitar, mas obedecer a este importante mandamento da lei de Deus.
No presente estudo, trataremos sobre a distinção das leis. A palavra
lei, de forma geral, faz referência as normas ou regras de vida, vindas de
uma autoridade soberana. Neste sentido, quando tratamos de leis de Deus,
estamos nos referindo aos preceitos vindos de Deus. A palavra hebraica
mais usada para se referir à lei é torah, empregada mais de 220 vezes na
Bíblia. A lei de Deus é um dos temas mais presentes nas Escrituras e um
dos mais mal compreendidos na atualidade. Há, em nossos dias, por parte
de alguns, até uma atitude de desprezo quanto à lei de Deus, no que diz

1. Para mais detalhes, conferir o Estudo 16 deste doutrinal.

O Doutrinal | 207
respeito a sua aplicação contemporânea. Neste estudo, mostraremos que a
Bíblia apresenta diferentes tipos ou categorias de leis: as civis, as rituais e a
moral. Ambas foram estabelecidas por Deus, a fim de serem devidamente
observadas. Todavia, nem todas permanecem em vigor para a nossa obser-
vância. Vejamos quais.

I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Já foi dito, no primeiro estudo, que a Bíblia é a palavra de Deus, e,


portanto, não se contradiz. Nós acreditamos nisso. Mas, como podemos
conciliar alguns textos bíblicos que dizem que a lei de Deus foi anulada
com outros que dizem que ela continua vigente? Por exemplo: o mesmo
apóstolo Paulo, que disse que Jesus aboliu, na sua carne, a lei dos mandamen-
tos na forma de ordenanças (Ef 2:15), disse que a lei é santa; e o mandamento,
santo, e justo, e bom (Rm 7:12). Partindo do princípio de que a Bíblia não se
contradiz, é claro que esses textos não estão tratando da mesma lei e que
existe mais de uma categoria de leis. É justamente isso que mostraremos
aqui. Serão tratadas as três categorias de leis apresentadas na Escritura: a
civil, a ritual e a moral.
1. O ensino bíblico sobre a lei civil: As leis civis são aquelas que regula-
mentam a vida dos cidadãos entre si, dentro de uma comunidade (nação, Es-
tado). Estas leis dizem quais são os direitos e quais são os deveres dos cidadãos,
em diversas áreas da sua vida cotidiana. O aspecto civil da lei de Deus trata
justamente disso. O povo de Israel, como nação, não podia fazer o que bem
queria, quando queria e da forma que queria. Havia leis que regulamentavam e
legislavam sobre a conduta dos israelitas nas diversas situações do seu dia a dia.
Essas leis foram dadas pelo próprio Deus e eram, de fato, muito necessárias.
As leis civis foram estabelecidas num momento em que Israel começa-
va a se estruturar como nação. Depois de viver muito tempo no Egito, como
escravo, debaixo de um regime opressor, por uma intervenção sobrenatural
de Deus, o povo conseguiu a sua libertação. De lá, saíram 600 mil homens,
fora mulheres e crianças (Êx 12:37). Todo esse povo começou a caminhar
rumo à terra prometida por Deus. Desse momento em diante precisaria
conviver e habitar em comunidade. Para isso, foram necessárias leis próprias
para essa convivência.

208 | Estudo 19 - A distinção das leis


A lei civil foi fundamental nesse contexto. Foi o principal meio usado
por Deus para a organização da sociedade hebraica. Como cidadãos de uma
sociedade teocrática, isto é, uma sociedade governada por Deus, os israelitas
receberam dele a definição de seus direitos e deveres. Aqui, chegamos a um
ponto importante: a lei civil não é lei de Moisés, mas de Deus. Foi dada pelo
altíssimo ao seu povo. A Bíblia diz, por ocasião da criação das leis civis: Estes
são os estatutos que proclamarás a eles (Êx 21:1). Moisés serviu apenas como
proclamador da lei. Em Deuteronômio, quando relembra as diversas leis ao
povo, de novo, Moisés diz serem estas leis do Senhor (Dt 11:26-28).
As leis civis abrangiam questões relativas ao tratamento dos escravos
(Êx 21:1-11); à violência e aos acidentes (21:12-32); ao direito de pro-
priedade (Êx 21:33-22:15); às responsabilidades sociais com o estrangeiro,
com o órfão e com a viúva (Êx 22:13-31); ao falso testemunho e à injusti-
ça (Êx 23:1-9), e ao descanso da terra (Êx 23:10-11). Além dessas, havia
leis relativas às guerras (Dt 20); aos fugitivos, prostitutas, juros e votos (Dt
23:15-25); ao divórcio, ao penhor, ao sequestro e à lepra (Dt 24:1-9); aos
empréstimos (Dt 24:10-13), enfim, a lista é ampla. Existem outras leis civis,
não mencionadas aqui.
Quando estudamos sobre essa categoria de leis, não há como não no-
tarmos o quanto Deus sempre se preocupou com o seu povo, em todos os
sentidos de sua existência. A obediência às leis civis garantiria boa convi-
vência entre as pessoas, levando-as a viver de forma mais justa e com cons-
ciência dos seus direitos e deveres. Cada uma dessas ordenanças reflete a
justiça de Deus. De alguma forma, todas são fundamentadas nos dez man-
damentos, a lei moral de Deus, pois existem princípios morais envolvidos
em cada um destes preceitos civis. Na verdade, parece-nos que a lei civil é
uma aplicação prática da lei moral. Todavia, precisamos levar em conta que
há uma distinção entre a aplicação da lei moral, naquele contexto (leis civis),
e a lei moral em si.
As leis civis apresentadas na Bíblia são aplicações da lei moral à socie-
dade israelita. Então, por isso, podemos afirmar que a “lei moral permanece,
a aplicação dada a ela na sociedade israelita, não”.2 As penalidades aos di-
versos crimes, as leis sobre a propriedade e a escravidão, enfim, as diversas
leis civis pertencem à sociedade civil de Israel, dentro daquele contexto.

2. Meister (2003:45).

O Doutrinal | 209
Apesar de concordarmos que elas são um modelo para o uso civil, para o
bom governo e a paz, que podemos aprender muitos princípios estudando-
-as, entendemos que as leis civis não têm mais caráter normativo para o
povo de Deus. Suas penas e prescrições não devem ser aplicadas literalmen-
te nas sociedades modernas.
2. O ensino bíblico sobre a lei ritual: Se, por um lado, as leis civis regiam
a forma com que os israelitas deveriam comportar-se diante da sociedade,
por outro, as leis rituais (ou cerimoniais) mostravam como eles deveriam
se apresentar diante do Senhor. Elas regulamentavam a adoração de Isra-
el e favoreciam meios para que o pecado pudesse ser perdoado por Deus,
através do sacerdócio e do sacrifício de animais. As leis rituais descreviam
a maneira pela qual as cerimônias e os sacrifícios deveriam ser preparados
e oferecidos ao Senhor. Cuidavam mais da exterioridade da vida religiosa,
apresentando as formas exteriores pelas quais os servos de Deus, daquele
tempo, poderiam expressar a sua fé.
Podemos encontrar as leis rituais nos livros de Êxodo, Deuteronômio
e, principalmente, no livro de Levítico, que é um manual de cerimônias,
regras e deveres sacerdotais, que visava instruir a comunidade israelita a
respeito da adoração e da vida santa perante Deus. As leis rituais tratam
de questões relacionadas a cerimônias, sacrifícios e festividades. Podemos
citar como exemplos a lei do altar (Êx 20:22-26); as festas anuais (Êx
23:14-19); as cerimônias para consagração dos sacerdotes (Êx 29:1-30);
os sacrifícios pelos pecados (Lv 4:1-6:7); a circuncisão (Lv 12:2); o dia da
expiação (Lv 16:1-10).
Apesar de serem chamadas de “leis de Moisés”, em algumas passagens
bíblicas ( Js 8:31; Ed 3:2), as leis rituais foram dadas pelo próprio Deus. A
exemplo do que ocorreu na lei civil, Moisés serviu apenas como um procla-
mador da lei cerimonial. Ele não inventou as ordenanças; estas se origina-
ram em Deus (Êx 20:22; 25:1). “O Senhor disse a Moisés” é uma expressão
que se repete mais de 25 vezes, em Levítico, livro em que a maioria das
leis cerimoniais é apresentada. Deus apresentou esses preceitos à nação
israelita, com o fim de guiá-la em sua fé no Messias. Essas leis apontavam
para a vinda do Messias.
Os rituais eram didáticos e serviam como ilustração e alicerce para a
compreensão daquilo que Jesus viria a realizar. Os sacerdotes eram os res-
ponsáveis por desempenhá-los e estavam aptos para explicar o que cada

210 | Estudo 19 - A distinção das leis


um dos sacrifícios significava. Princípios como o da santidade de Deus, da
pecaminosidade do ser humano, da morte expiatória, devido à transgressão
humana, e da necessidade de arrependimento estavam contidos nestes ri-
tuais.3 Todavia, por serem tipológicos por natureza, cercados de símbolos e
sinais que focavam a obra do Messias, esses rituais tiveram fim com a vinda
de Cristo. Com o sacrifício de Jesus, as leis rituais perderam a sua validade,
deixaram de ser obrigatórias para o povo da nova aliança.
Parece-nos que muitos autores do Antigo Testamento sabiam que
as leis rituais ou cerimoniais apontavam para uma realidade maior (cf. Sl
51:16-19; Os 6:6-7; Is 1:11; Jr 7:22-23; Mq 6:6-8). No Novo Testamento,
elas são chamadas de “sombras” (Cl 2:17; Hb 8:5; 10:1). Uma sombra é uma
imagem projetada por um objeto e representa a forma daquele objeto. A lei
ritual era uma sombra da realidade espiritual, revelada e cumprida em Cris-
to, na sua vinda (Hb 9:9-12). Por essa razão, o ensino do Novo Testamento
sobre elas é claro: não são mais obrigatórias para a igreja. Essa verdade pode
ser vista em Efésios, em que lemos que, em seu corpo, Jesus desfez a inimi-
zade, isto é, a lei dos mandamentos contidos em ordenanças (Ef 2:14-15 – grifo
nosso). A lei mencionada aqui é a dos rituais. A fraseologia “mandamentos
contidos em ordenanças” aponta nesse sentido.
De acordo com esse texto, Jesus “desfez” essas regulamentações. A pa-
lavra “desfez” é a tradução do verbo grego katargésas, que significa “revo-
gar”, “tornar sem efeito”, “anular”, “abolir”.4 Essas ordenanças cerimoniais
criaram um muro divisório entre judeus e gentios; por isso, Jesus as anulou.
Ademais, elas já tinham cumprido o seu propósito. De igual modo, Colos-
senses 2:14 diz que Cristo cancelou a escrita de dívida que consistia em orde-
nanças. “Ordenanças”, nesse versículo, faz referência, novamente, às regu-
lamentações de natureza cerimonial (rituais de culto). Novamente, somos
informados de que Cristo as cancelou, apagou, extinguiu (Gr. exaleiphas). É
importante ressaltarmos que, apesar de as leis cerimoniais terem sido abo-
lidas, isso não significa que não têm nenhum valor para os crentes. Seu uso
foi abolido, mas, como tais leis apontavam para Cristo, retêm importância
como uma ferramenta de ensino para melhor entender a sua obra.

3. Hill & Walton (2007:122).


4. Haubeck & Siebenthal (2009:1103).

O Doutrinal | 211
3. O ensino bíblico sobre a lei moral: Segundo os dicionários moral é,
basicamente, o conjunto de regras de conduta consideradas como válidas,
de modo absoluto, para qualquer tempo ou lugar. Por essa razão, dizemos
que a lei moral de Deus é aquela que estabelece o padrão de conduta para
todos os homens e em todos os lugares; revela, de forma muito evidente, a
vontade de Deus, em termos de caráter e procedimento. A lei moral é um
reflexo da natureza e do caráter do próprio Deus. Sendo assim, é universal,
indispensável e válida para todos os homens, de todas as épocas e lugares; é
imutável. Onde podemos encontrá-la? Nos dez mandamentos. Estes são a
expressão da lei moral de Deus.
Os dez mandamentos apontam quais são os deveres e as obrigações
daqueles que se encontram no caminho da santificação. Assim como a lei
civil e a ritual, a lei moral foi dada pelo próprio Deus. Em Êxodo 20, depois
de haver libertado o povo de Israel da escravidão, por meio de uma voz au-
dível e terrível, Deus transmitiu a lei moral, os dez mandamentos, no monte
Sinai: Então falou Deus todas estas palavras (Êx 20:1). Além de transmiti-los
oralmente, Deus também os escreveu em tábuas de pedra, com o seu pró-
prio dedo (Êx 24:12; 31:18), e pediu que estas fossem guardadas dentro da
arca da aliança (Dt 10:1-5; 4:10-15). Sempre que as pessoas olhassem para
a arca, iriam lembrar-se da lei do Senhor.
Dessa maneira, podemos afirmar que a lei moral foi destacada diante
das demais, visto que estas não foram escritas em tábuas de pedra, nem
mesmo guardadas dentro da arca (Dt 31:24-26). Isso era mesmo necessário.
As leis morais ou os dez mandamentos são extremamente importantes, pois
prescrevem como deve ser o nosso relacionamento com Deus (Não terás
outros deuses diante de mim (v. 3); Não farás para ti imagem de escultura (v. 4a);
Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão (v. 7a); Lembra-te do sábado,
para o santificar (v. 8)) e com o próximo (Honra teu pai e tua mãe (v. 12a); Não
matarás (v. 13); Não adulterarás (v. 14); Não furtarás (v. 15); Não dirás falso
testemunho (v. 16), e Não cobiçarás (v. 17a)).
Conforme já foi mencionado, a lei moral foi dada para um povo já
liberto (Êx 20:2). É importante lembrarmos que o povo de Israel foi esco-
lhido por Deus unicamente pela graça: O Senhor não se afeiçoou de vós e vos
escolheu por serdes mais numerosos (...). Mas porque vos amava (Dt 7:7-8). No
entanto, Israel não foi escolhido sem propósito. Foi alcançado para ser um
povo santo (Dt 7:6, 14:2, 21), e os mandamentos serviriam para orientá-lo

212 | Estudo 19 - A distinção das leis


nessa missão. A lei é a regra de vida dos redimidos. Nunca teve por objetivo
trazer salvação, mas contribuir no processo de santificação. Foi dada para
que os filhos de Deus soubessem qual era a sua vontade e pudessem andar
de acordo com esta.
Em Romanos, lemos que pela lei vem o conhecimento do pecado (3:20).
Aqui, Paulo está tratando da lei moral. Por isso, de alguma maneira, esta
também serve para conduzir o homem a Cristo, pois “foi dada por escrito
para que o homem se tornasse consciente de sua pecaminosidade e por este
ensinamento fosse conduzido a ver a sua necessidade de Cristo”.5 No caso
da lei moral, a vinda de Cristo não a anula, nem a remove. A validade dos
dez mandamentos é contínua e a sua aplicação é universal. Jesus, ao se refe-
rir à lei moral, disse: Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim
para destruí-los, mas para cumpri-los (Mt 5:17 – grifo nosso). A palavra grega
traduzida por “destruir” significa, dentre outras coisas, “dissolver”, “revogar”,
“derrubar”. Jesus não veio fazer nada disso, mas veio “para cumpri-los”, disse
ele. A conjunção “mas” é a adversativa forte (Gr. alla). Esta palavra forne-
ce um contraste rigoroso.6 Então, Jesus está contrastando o “destruir” e o
“cumprir”. Cumprir, neste texto, tem o sentido de “confirmar”, “estabelecer”.
O mesmo Jesus afirmou que, até que o céu e a terra passem, nem um jota
ou um til se omitirá da lei (v. 18). Disse também: Se me amais, guardareis os
meus mandamentos ( Jo 14:15). Observe que Jesus fala de amor. A razão é
que a obediência a Deus, sem o amor, abre a porta para o legalismo. A lei
moral de Deus não foi abolida e deve ser obedecida por nós, como prova do
nosso amor por ele. Quem também falou sobre a validade contínua da lei
moral de Deus foi o apóstolo Paulo: Anulamos então a Lei pela fé? De ma-
neira nenhuma! Ao contrário, confirmamos a lei (Rm 3:31). Do mesmo modo,
afirmou: ... a lei é santa, e o mandamento é santo, justo e bom (Rm 7:12); ... a
Lei é boa, se alguém a usa de maneira adequada (1 Tm 1:8). O apóstolo Tiago,
igualmente, endossa a validade da lei para os crentes em Jesus, quando diz:
Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita, lei da liberdade, e nela
persevera, não sendo ouvinte negligente, mas operoso praticante, esse será bem-
-aventurado no que realizar (1:25); Pois qualquer que guarda toda a lei, mas
tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos (2:10).

5. Meister (2003:56).
6. Gentry, Jr. (2008:35).

O Doutrinal | 213
A remoção da lei moral do viver dos crentes contradiz o fato de os
mandamentos terem sido escritos no coração (cf. Jr 31:33, 32:40; Rm 2:15,
7:22; 2 Co 3:3; Hb 8:10, 10:16); afinal, por que Deus escreveria uma lei em
nossos corações, se esta não tivesse mais validade? Não há como negarmos
que a lei moral é permanente e aplicável a todos os cristãos. O mesmo não
se pode dizer das leis civis e rituais. Como vimos, estas também provêm de
Deus, mas se distinguem da lei moral no tocante à vigência e ao público
a que se destinam. A única lei que permanece vigente para a nossa e para
todas as épocas é a lei moral de Deus: Bem-aventurados os que (...) andam na
lei do Senhor! (Sl 119:1).

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Valorizemos a santificação pessoal!


Estudar sobre a lei moral dá-nos uma noção clara de como Deus
valoriza a santificação pessoal. A lei é a regra de vida dos redimidos.
Uma vez salvos por Deus, pela graça, não fomos deixados por ele à
mercê das nossas próprias vontades. Temos uma norma de vida dada por
Deus, de modo que possamos viver para agradá-lo. Deus é santo e quer
que os seus filhos também o sejam (1 Pd 1:16). A lei moral prima por
ensinar-nos princípios pelos quais obtemos crescimento na santificação
pessoal. Tiago diz: Mas aquele que considera, atentamente, na lei perfeita,
lei da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte negligente, mas opero-
so praticante, esse será bem-aventurado no que realizar (1:25). Em cada
mandamento escrito por Deus, observamos o seu intento de nos tornar
pessoas melhores, com valores sadios, para que sejamos seus represen-
tantes no mundo. Sejamos, portanto, seus imitadores e observemos sua
lei. Sigamos os passos do Pai celestial!

2. Ofereçamos a adoração zelosa!


Estudar sobre a lei ritual dá-nos uma noção clara de como Deus merece
a adoração zelosa. A lei ritual tinha, também, o propósito de conduzir o
povo à adoração a Deus, através dos sacrifícios rituais e festas cerimoniais.
Esta lei, portanto, mostra um Deus Santo, que merece a adoração de todos
os seres humanos. Essa adoração não pode ser de qualquer jeito. Quando
analisamos a lei ritual, vemos o quanto trata de detalhes de como tudo

214 | Estudo 19 - A distinção das leis


deveria ser feito, a fim de que o Senhor fosse adorado. Foi o próprio Deus
quem prescreveu todos os detalhes. Todos nos ensinam que não podemos
nos aproximar do Senhor de forma desrespeitosa, irreverente, relaxada, des-
cuidada. Deus merece o nosso melhor. Mesmo não mais estando sob as or-
denanças da lei ritual, não nos foi tirado o dever de adorar o nosso Senhor.
Sobre o ato da adoração, Cristo alertou: Deus é espírito; e importa que os seus
adoradores o adorem em espírito e em verdade ( Jo 4:24).

3. Abominemos a injustiça social!


Estudar sobre a lei civil dá-nos uma noção clara de como Deus abomina
a injustiça social. A lei civil foi um instrumento de Deus para exercer justiça
em favor tanto dos ricos quanto dos oprimidos, tais como os escravos, as vi-
úvas, os deficientes, os pobres etc. Essa questão é claramente enfatizada no
texto de Lv 19:15, que afirma: Não farás injustiça no juízo, nem favorecendo
o pobre, nem comprazendo ao grande; com justiça julgarás o teu próximo. Deus
é justo e faz justiça; torna bem-aventurados os que a buscam (Mt 5:6). Ser
justo para com a sociedade é ser leal para com o Senhor. Portanto, devemos
repudiar toda forma de corrupção, mesmo que paguemos um alto preço por
isso. Que a nossa justiça exceda, em muito, a dos escribas e fariseus (Mt
5:20). Abominemos todo o tipo de injustiça social!

Conclusão
Este estudo tratou da distinção das leis. Como vimos, três categorias de
leis foram formalmente instituídas por Deus. Ele as criou e as estabeleceu, a
fim de serem devidamente observadas. Conquanto sejam de origem divina,
nem todas permanecem em vigor para a nossa observância, pois, com exce-
ção da lei moral ou “lei dos dez mandamentos”, as demais (a civil e a ritual)
foram instituídas em caráter transitório, isto é, tinham validade por apenas
certo período de tempo, que também fora determinado pelo criador. A lei
moral permanece totalmente válida para os servos de Deus de nossos dias.
Diante disso, felizes os que guardam os mandamentos de Deus e lhe obedecem de
todo o coração (Sl 119:2 – NTLH).
Chegamos, assim, ao final do presente estudo. No próximo, dentre ou-
tras coisas, a fidelidade terá enfoque importante. O seu título é: A manu-
tenção da obra: dízimos e ofertas. Conforme estudaremos, estas duas práticas
bíblicas foram estabelecidas por Deus como meio de manutenção de sua

O Doutrinal | 215
obra aqui na terra. Tanto a Bíblia quanto a história testemunham que a
igreja de Cristo sempre foi amparada financeiramente pelas contribuições
de seus membros. São esses subsídios que lhe têm permitido cumprir sua
missão no mundo. Aproveite o próximo estudo para entender um pouco
mais sobre esses dois importantes temas.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Êxodo 12:37, 21:1


A. O
 que era a lei civil para a sociedade hebraica, na Bíblia?
B. Por que era necessária a lei civil? Esta lei continua valendo para os
tempos atuais?

02. Leia Êxodo 20:22-26, 23:14-19; Levítico 4:1-6:7


A. Q uais eram as leis rituais ou cerimoniais? Recorra ao comentário
deste estudo.
B. O que as leis rituais regiam? Cite alguns exemplos dessas leis.

03. Leia Colossenses 2:17; Hebreus 8:5, 9:9-12 e 10:1


A. Por que as leis rituais eram chamadas de “sombras”?
B. Q ual era a utilidade das leis rituais? Em que sentido apontavam
para Cristo?

04. Leia Colossenses 2:14 e Efésios 2:14-15


A. As leis rituais continuam vigorando para a igreja? Justifique sua resposta.
B. Quem aboliu as leis rituais e quando isso aconteceu?

05. Leia Êxodo 20:1-17 e Deuteronômio 5:1-21


A. Diga, em poucas palavras, o que é a lei moral?
B. Onde podemos encontrar a lei moral de forma sintetizada? Explique
por que essa lei tem vigência eterna e se aplica a todos os homens.

216 | Estudo 19 - A distinção das leis


06. Leia Êxodo 24:4-7, 31:18; Deuteronômio 5:22, 31:9,24-26; 1 Reis 8:9
A. Você concorda que o decálogo (os dez mandamentos) é o código de
leis especiais e se destaca das demais leis (civil e ritual)?
B. Q uais as diferenças entre os dez mandamentos (lei moral) e as
demais leis (civil e ritual), quanto aos materiais em que foram
escritas, às formas em que foram escritas e aos locais onde eram
guardadas por Moisés?

07. Leia Romanos 3:31, 7:12; Mateus 5:17-18; Romanos 3:31 e compare com
Efésios 2:15; Colossenses 2:14 e Hebreus 10:1
A. Há contradição entre esses textos? Justifique a sua resposta. O que
esses textos nos ensinam sobre as distinções entre as leis.
B. Comente sobre as diferenças existentes entre a lei moral e as demais
leis. Fale sobre a vigência delas.

O Doutrinal | 217
RESUMO DO ESTUDO SOBRE A DISTINÇÃO DAS LEIS
Lei civil Lei ritual Lei moral
Definição As leis civis são As leis rituais regula- A lei moral de Deus é
aquelas que regula- mentavam a adoração aquela que esta-
mentam a vida dos de Israel e favoreciam belece o padrão de
cidadãos entre si. meios para que o conduta para todos
Dizem quais são os pecado pudesse ser os homens, em todos
direitos e quais são os perdoado por Deus, os lugares; revela, de
deveres dos cidadãos, através do sacerdócio forma muito evidente,
em diversas áreas da e do sacrifício de a vontade de Deus,
sua vida cotidiana. animais. Descreviam em termos de caráter
a maneira pela qual e procedimento. A lei
as cerimônias e os moral é um reflexo da
sacrifícios deveriam natureza e do caráter
ser preparados e do próprio Deus.
oferecidos ao Senhor.
Origem As leis civis foram Apesar de serem A lei moral foi dada
estabelecidas num chamadas de “leis de pelo próprio Deus. Em
momento em que Moisés”, em algumas Êxodo 20, depois de
Israel começava a passagens bíblicas (Js haver libertado o povo
se estruturar como 8:31; Ed 3:2), as leis de Israel da escravidão,
nação. Não são leis de rituais foram dadas por meio de uma voz
Moisés, mas de Deus: pelo próprio Deus. audível e terrível, Deus
Estes são os estatutos Moisés serviu apenas transmitiu a lei moral,
que proclamarás a eles como um proclamador os dez mandamentos,
(Êx 21:1-23-13). das leis cerimoniais. no monte Sinai: Então
Ele não as inventou; falou Deus todas estas
elas se originaram em palavras (Êx 20:1).
Deus (Êx 20:22, 25:1).

218 | Estudo 19 - A distinção das leis


RESUMO DO ESTUDO SOBRE A DISTINÇÃO DAS LEIS
Lei civil Lei ritual Lei moral
Propósito As leis civis foram o Deus apresentou es- A lei moral prescreve
principal meio usado ses preceitos à nação como deve ser o nosso
por Deus para a orga- israelita, com o fim relacionamento com
nização da sociedade de guiá-la em sua fé Deus e com o próximo.
hebraica. Como no Messias. Essas leis A lei é a regra de vida
cidadãos de uma apontavam para a dos redimidos. Nunca
sociedade teocrática, vinda do Messias. Os teve por objetivo
isto é, uma sociedade rituais eram didáticos trazer salvação, mas
governada por Deus, e serviam como contribuir no processo
o povo recebeu a ilustração e alicerce de santificação. Foi
definição de seus para a compreensão dada para que
direitos e deveres. daquilo que Jesus os filhos de Deus
viria realizar. soubessem qual era a
vontade dele e pudes-
sem andar de acordo
com esta.
Validade As leis civis apresen- Por serem tipológi- A vinda de Cristo não
tadas na Bíblia são cas por natureza e anula, nem remove a
aplicações da lei moral apontarem para a obra lei moral. A validade
à sociedade israelita. do Messias, as leis dos dez mandamentos
Podemos aprender cerimoniais tiveram é contínua e a sua
muitos princípios fim, com a vinda aplicação é universal.
estudando-as; toda- deste; perderam a sua Jesus, ao se referir
via, elas não têm mais validade e deixaram de à lei moral, disse:
caráter normativo para ser obrigatórias para o Não penseis que vim
o povo de Deus. povo da Nova Aliança. destruir a lei ou os
Retêm importância profetas; não vim para
como uma ferramenta destruí-los, mas para
de ensino para melhor cumpri-los. (Mt 5:17 –
entender a obra de cf. Jo 14:15; Rm 3:31,
Cristo (cf. Ef 2:14-15; 7:12).
Cl 2:14).

O Doutrinal | 219
Anotações

220 | Estudo 19 - A distinção das leis


Estudo 20
A manutenção da obra:
dízimos e ofertas

Honra ao Senhor com a tua fazenda, e com as


primícias de toda a tua renda; e se encherão os teus
celeiros abundantemente, e transbordarão de
mosto os teus lagares. (Pv 3:9-10)

Introdução
No estudo anterior aprendemos sobre a distinção existente entre as leis
mencionadas na Bíblia. Através daquele estudo, ficou esclarecido que todas
as leis pelas quais foi regido o antigo povo de Israel foram, direta ou indire-
tamente, criadas por Deus, com a diferença de que algumas delas tiveram
caráter provisório. As leis cerimoniais, por exemplo, notadamente aquelas que
consistiam no oferecimento de sacrifícios pelos pecados do povo, tornaram-se
desnecessárias, depois do sacrifício de Cristo (Cl 2:14). Atualmente, estas só
retêm importância como uma ferramenta de ensino para melhor entender-
mos a obra de Cristo. A lei moral dos dez mandamentos, no entanto, tem
caráter permanente, pois continua em pleno vigor, conforme foi estudado.
No presente estudo, trataremos sobre o dever que o crente tem de contri-
buir financeiramente para a manutenção da igreja. Essa contribuição é repre-
sentada pelos dízimos e pelas ofertas, e está embasada no ensino das Escritu-
ras, conforme veremos neste estudo. A igreja se sustenta e subsiste através dos
seus próprios recursos materiais. Portanto, é normal que conte com a contri-
buição financeira de seus membros, para a manutenção da obra que Deus lhe
confiou na terra (Mc 16:15). Sem essa contribuição, ela dificilmente poderá
cumprir essa sua missão. Entretanto, precisamos lembrar que os dízimos e as
ofertas são compromissos que temos, acima de tudo, com o Senhor da igreja.

O Doutrinal | 221
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

A doutrina bíblica referente aos dízimos e às ofertas está largamente


difundida nas Escrituras Sagradas, tanto no Antigo quanto no Novo Testa-
mento. Da Bíblia, vem a recomendação: Honra ao Senhor com a tua fazenda,
e com as primícias de toda a tua renda; e se encherão os teus celeiros abundante-
mente, e transbordarão de mosto os teus lagares (Pv 3:9-10). Uma das formas
de o crente honrar ao Senhor é devolvendo-lhe os dízimos e trazendo-lhe
as ofertas. Tanto a Bíblia quanto a história testemunham que a igreja de
Cristo sempre foi amparada financeiramente pelas as contribuições de seus
membros. Portanto, é fundamental conhecermos os ensinos e princípios
bíblicos que regem as contribuições do cristão. Por isso, vamos examinar,
agora, essas duas práticas.
1. O ensino bíblico sobre os dízimos: O significado de “dízimo” está
implícito na própria palavra e equivale a 10% (dez por cento) de um todo.
Esse todo representa 100% (cem por cento). Dividindo-se esses 100% (cem
por cento) por 10, temos o quociente 10. O resultado dessa divisão repre-
senta o dízimo. Portanto, o dízimo de 100 ovelhas são 10 ovelhas; o dízimo
de R$: 100,00 (cem reais) são R$: 10,00 (dez reais). O ensino das Escrituras
é tão claro a respeito da doutrina dos dízimos que nenhuma pessoa poderia
deixar de obedecer-lhe, alegando falta de entendimento. Os dízimos de to-
dos os nossos ganhos não são nossos: pertencem ao Senhor.
A origem do dízimo remonta aos dias de Abraão, de acordo com Gn
14:18-20. Neste texto, está escrito que Abraão entregou ao rei e sacerdote
Melquisedeque os dízimos “de tudo”. Com certeza Isaque, filho de Abraão,
foi ensinado a respeito dessa doutrina, pois Jacó, filho de Isaque e neto de
Abraão, a conhecia muito bem. Esse fato está evidenciado no voto que Jacó
fez quando fugia de seu irmão, Esaú: e, de tudo quanto me concederes, certa-
mente eu te darei o dízimo (Gn 28:22b). Deduz-se disso que Abraão ensinou
essa doutrina a Isaque e este, por seu turno, a ensinou a Jacó.
Como instituição, porém, o dízimo reaparece com a lei e tem como
principal justificativa o seguinte fato histórico: Quando a terra de Canaã
foi dividida entre as tribos de Israel, a tribo de Levi não teve participação
nessa divisão, porque Deus já a tinha escolhido para servir exclusivamente
no tabernáculo. Cada uma das outras onze tribos recebeu a sua porção de

222 | Estudo 20 - A manutenção da obra: dízimos e ofer tas


terra, na qual pôde desenvolver a agricultura, a criação de ovelhas, de gado
etc. Para a tribo de Levi, Deus reservou os dízimos das outras tribos (Nm
18:21). A partir de então, o dízimo, como instituição, passou a ser um
mandamento do Senhor.
Sem parte na terra conquistada, os levitas precisavam ter garantido o
seu sustento, de alguma forma. Foi então que surgiu a necessidade dos dí-
zimos. Por isso, Deus decidiu: Então haverá um lugar que escolherá o Senhor,
vosso Deus, para ali fazer habitar o seu nome; a esse lugar fareis chegar tudo o que
vos ordeno: os vossos holocaustos, e os vossos sacrifícios, e os vossos dízimos... (Dt
12:11); Aos filhos de Levi dei todos os dízimos em Israel por herança, pelo serviço
que prestam, serviço da tenda da congregação (Nm 18:21). De acordo com as
Escrituras, somente os sacerdotes e os levitas tinham o direito de receber
esses dízimos, conforme se lê em 2 Cr 31:4. Essa foi a fórmula encontrada
por Deus para garantir o sustento dos sacerdotes e de todos os levitas, tam-
bém para manter em regular funcionamento os serviços do tabernáculo e
do templo (cf. Nm 18:19-21).
Se, no Antigo Testamento, os dízimos tiveram como finalidade a ma-
nutenção dos sacerdotes e levitas, no Novo Testamento, com o surgimento
da igreja, o mesmo dízimo destina-se ao sustento daqueles que pregam o
evangelho (Lc 10:7; Rm 4:4; 1 Tm 5:18): obreiros, missionários e pasto-
res, pois assim ordenou também o Senhor aos que pregam o evangelho que vi-
vam do evangelho (1 Co 9:14). Portanto, todos que trabalham no ministério
eclesiástico devem ter o seu sustento garantido, e são as contribuições dos
membros da igreja que garantem esse sustento (2 Co 11:8). Foi assim no
passado e é assim no presente. Jesus validou a doutrina do dízimo como
meio de manutenção dos que anunciam o evangelho, ao dizer: ... digno é o
trabalhador do seu salário (Lc 10:7).
Ao censurar os escribas e os fariseus, por dizimarem a hortelã, o en-
dro e o cuminho, enquanto desprezavam o mais importante da lei, que é
o juízo, a misericórdia e a fé, Jesus lhes disse: ... devíeis, porém, fazer estas
coisas, sem omitir aquelas! (Mt 23:23). Paulo também disse: Quem jamais
milita à sua própria custa? Quem planta a vinha e não come do seu fruto? Ou
quem apascenta o gado e não come do leite do gado? (...) Não sabeis vós que os
que administram o que é sagrado comem do que é do templo? (1 Co 9:7,13a). A
respeito disso, Paulo faz ainda a seguinte afirmação: Devem ser considerados
merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com espe-

O Doutrinal | 223
cialidade os que se afadigam na palavra e no ensino (1 Tm 5:17 – grifo nosso
– cf. 1 Coríntios 9:1-14).
É importante entendermos, também, que os dízimos não são do crente;
pertencem ao Senhor (Lv 27:30). Portanto, o crente não tem o direito de
retê-lo, diminuí-lo, substituí-lo, dividi-lo ou administrá-lo. Há crentes que,
por qualquer contrariedade, retêm o dízimo; outros entregam apenas uma
parte; há quem o substitua pelas ofertas; outros ainda se sentem no direito
de administrá-lo do seu próprio modo. Essas atitudes não estão corretas
diante de Deus, porque é da igreja o direito de administrar os dízimos. Aos
crentes, cabe o dever de entregá-los, o que devem fazer com alegria, de boa
vontade e com fidelidade.
Lembramos que Deus é o dono de tudo. Como está escrito: Do Se-
nhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam, diz o
salmista (Sl 24:1). Nossa vida e tudo o que temos pertencem ao Senhor.
Nós somos apenas e tão somente seus mordomos. Portanto, quando con-
tribuímos com os dízimos, não estamos “pagando” ao Senhor; só estamos
lhe devolvendo parte daquilo que já lhe pertence. Essa é uma atitude de
fé e uma prova de gratidão. Embora o dízimo não deva ser entregue com
vista na garantia de uma retribuição, esta, com certeza, virá para aqueles
que contribuem com fé.
2. O ensino bíblico sobre as ofertas: Outra maneira de honrarmos
a Deus com a nossa fazenda é através das ofertas. Diferentemente dos
dízimos, estas são presentes: nós as entregamos a Deus e escolhemos o
valor. Enquanto dizimar é um dever determinado pelo criador, ofertar
é um ato natural de agradecimento. As ofertas são sempre voluntárias.
A diferença principal existente entre os dízimos e as ofertas consiste no
seguinte: os dízimos têm valor prefixado em 10% das rendas obtidas; as
ofertas são voluntárias, isto é, não têm valor preestabelecido. Todavia,
tanto os dízimos quanto as ofertas são absolutamente necessários para a
manutenção da igreja.
Nos dias do profeta Malaquias, a negligência dos filhos de Israel, no
tocante ao dever de contribuir, havia atingido um alto grau. Daí a razão
de o profeta usar uma linguagem considerada pesada, no tratamento com
aquele povo, a respeito desse assunto: Roubará o homem a Deus? Todavia vós
me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas (Ml
3:8). Notemos bem: “nos dízimos e nas ofertas”. Estas são as duas formas

224 | Estudo 20 - A manutenção da obra: dízimos e ofer tas


comuns de contribuição criadas por Deus para o sustento de sua causa. De-
las dependem os que trabalham no ministério e o sustento da obra, de for-
ma geral. Esses recursos têm permitido que a igreja do Senhor siga a diante.
Deixando de contribuir, o crente estará impedindo que os obreiros
continuem exercendo suas atividades ministeriais. Não foi isso que acon-
teceu nos dias de Neemias? Observe o texto bíblico: Também fiquei sa-
bendo que os levitas não tinham recebido a parte que lhes era devida, e que
todos os levitas e cantores responsáveis pelo culto haviam voltado para suas
próprias terras (Ne 13:10 – NVI). Isso levou Neemias a contender com
os magistrados e a inquirir deles: Por que se desamparou a casa de Deus? (v.
11). Restaurada a ordem, os dízimos e as ofertas passaram a ser entregues,
como dantes, e os sacerdotes e os levitas retornaram às suas atividades
ministeriais (vv. 11b-13).
Aos que são fiéis em suas contribuições, Deus promete bênçãos. Con-
tudo, não concordamos com aqueles que procuram motivar a prática das
contribuições com a promessa de que serão revertidas em prosperidade
material, como se a relação do crente com Deus fosse à base de troca: “É
dando que se recebe”. Enfatizam tanto a questão do retorno financeiro que
se esquecem de que este não é o benefício de que o crente mais precisa.
O crente deve contribuir com fé, como fez a viúva pobre, descrita em Lc
21:1-4, que, ao contrário dos que ofertavam do que lhes sobejava, colocou,
na salva, tudo que possuía. Ela tinha a certeza de que Deus não lhe deixaria
faltar o necessário para o seu sustento.
Anteriormente, dissemos que as ofertas não têm valor determinado:
são voluntárias e entregues de acordo com a decisão do coração, como
ensinado em Dt 16:17: Cada um oferecerá na proporção em que possa dar,
segundo a bênção que o Senhor, seu Deus, lhe houver concedido. No Novo Tes-
tamento, o ato de contribuir é considerado um privilégio que Deus nos
concede. Em outras palavras, é a graça de participar da assistência aos santos
(2 Co 8:4). Se levarmos em conta que tudo que temos veio de Deus, o
ato de lhe devolvermos uma pequena parte, através da oferta, não deveria
causar-nos nenhum desconforto.
Ao ofertarmos ao Senhor, devemos ser movidos não por tristeza, mas
pela gratidão, por encontrarmos uma forma de agradecer-lhe pelo que nos
tem dado. É evidente que Deus certamente retribuirá o nosso gesto de re-
conhecimento e gratidão, embora não devamos ofertar pensando numa re-

O Doutrinal | 225
tribuição imediata. Essa retribuição é, acima de tudo, espiritual. Devemos
ofertar também com generosidade, ou seja, ofertas cujo valor seja signifi-
cativo, com gratidão. A Escritura afirma que aquilo que o homem semear
isso também ceifará.
Precisamos ser suficientemente sensíveis para ofertarmos ao Senhor
com alegria, generosidade, gratidão, espontaneidade e planejamento.
Ofertar com espontaneidade significa ofertar com o coração aberto, com
boa vontade, ou seja, de maneira voluntariosa, sem constrangimento, sem
pressão. Ofertar com planejamento significa decidir, com antecipação, o
que pode ser dado e separar a oferta previamente. Lembremos sempre a
recomendação feita em Êx 22:29. Neste texto, aprendemos duas coisas
importantes: 1) dar o melhor que podemos e 2) dar do primeiro que che-
gar às nossas mãos.
Quando Moisés construiu o tabernáculo, foi tão grande a disposição do
povo em contribuir que, bem antes que a obra terminasse, os responsáveis
por ela fizeram chegar até Moisés a seguinte informação:

O povo traz muito mais do que é necessário para o serviço da


obra que o Senhor ordenou se fizesse. Então, ordenou Moisés – e
a ordem foi proclamada no arraial, dizendo: Nenhum homem
ou mulher faça mais obra alguma para a oferta do santuário.
Assim o povo foi proibido de trazer mais. (Êx 36:5 e 6)

Essa mesma disposição moveu Israel para a construção do templo


em Jerusalém:

Então, os chefes das famílias, os príncipes das tribos de Is-


rael, os capitães de mil e os de cem e até os intendentes sobre
as empresas do rei voluntariamente contribuíram e deram
para o serviço da Casa de Deus cinco mil talentos de ouro, dez
mil daricos, dez mil talentos de prata, dezoito mil talentos de
bronze e cem mil talentos de ferro. Os que possuíam pedras
preciosas as trouxeram para o tesouro da Casa do SENHOR,
a cargo de Jeiel, o gersonita. (1 Cr 29:6-8)

A contribuição deve ser segundo as posses de cada um (2 Co 8:11), pois


é um privilégio, não um peso. Em sua carta à igreja de Corinto, quando trata

226 | Estudo 20 - A manutenção da obra: dízimos e ofer tas


da contribuição, Paulo diz duas vezes: Para que haja igualdade (vv. 13-14).
Essa igualdade é de bênçãos e responsabilidades. A proporção é a prova da
sinceridade. Não dá com alegria quem não dá proporcionalmente. Lembre-
mos do ensino de Paulo: E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a
graça, a fim de que tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em toda a
boa obra (2 Co 9:8).
Depois de refletirmos sobre isso perguntamos: Como têm sido nossas
ofertas? Será que temos ofertado com alegria, com generosidade, com gra-
tidão, com espontaneidade e com planejamento? Ou, ao contrário disso,
temos contribuído com tristeza, sob constrangimento, com mesquinhez,
desmotivação, apenas por que somos solicitados a contribuir e sem qualquer
planejamento? Lembremo-nos sempre de que os dízimos e as ofertas fazem
parte de nosso culto de adoração a Deus. Ele conta com a nossa disposição
e boa vontade neste sentido.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Entreguemos os dízimos e as ofertas com alegria.


Contribuir com os dízimos e as ofertas é colaborar com Deus na ma-
nutenção de sua organização na terra. Nada pode ser mais gratificante. Por
isso, devemos contribuir com alegria, com prazer, como ensinou Paulo:
Cada um contribua segundo tiver proposto no coração, não com tristeza ou por
necessidade; porque Deus ama ao que dá com alegria (2 Co 9:7). Se nossa con-
tribuição é feita com pesar, se pensamos, talvez, que a importância oferecida
vai nos fazer falta, Deus não se agrada do que entregamos. Os macedônios
pediram, com insistência, a oportunidade de participarem da campanha
de levantamento das ofertas, que foi feita nos dias de Paulo, em favor dos
crentes pobres de Jerusalém (2 Co 8:4). Que exemplo digno de ser imitado!
Com toda certeza, ali havia alegria no contribuir!

2. Entreguemos os dízimos e as ofertas com generosidade.


Muitos cristãos têm deixado de contribuir ou têm contribuído apenas
com valores simbólicos, por se apegarem ao dinheiro com mais amor do que
deveriam. Nossas ofertas para a causa de Deus não devem ser mesquinhas,
quando podemos dar um pouco mais. Elas devem refletir o tamanho da
gratidão do nosso coração, diante daquilo que o Senhor nos deu. Por isso,

O Doutrinal | 227
são proporcionais às nossas posses. Com certeza, o Senhor jamais pediria de
nós aquilo que não estivesse ao nosso alcance. De qualquer maneira, seria
importante perguntarmos a nós mesmos se temos contribuído na mesma
medida em que temos sido abençoados por Deus.

3. Entreguemos os dízimos e as ofertas com fidelidade.


A maneira como gastamos o nosso dinheiro pode servir como termô-
metro para medir o grau de comprometimento e fidelidade que temos para
com a causa de Deus. Não podemos esquecer que contribuir para a ma-
nutenção da obra de Deus, para o crente em Jesus, é um mandamento do
Senhor. E como conhecedores da lei é dever nosso obedecer também a este
mandamento. A ordem de Deus é esta: Trazei todos os dízimos à casa do te-
souro (Ml 3:10). Também é: Ninguém apareça vazio perante mim (Êx 23:15).
Não subtraia, não retenha, nem administre aquilo que pertence ao Senhor.
Seja fiel em suas contribuições.

Conclusão
No presente estudo, aprendemos que os dízimos e as ofertas foram
estabelecidos por Deus como meios de manutenção de sua igreja e da-
queles que nela trabalham. Como resultado deste estudo, entendemos que
contribuir é um dever de todo crente em Jesus e deve fazer parte do nosso
culto de adoração a Deus. Por isso mesmo, devemos contribuir com ale-
gria, gratidão, generosidade, espontaneidade e fidelidade. De acordo com
as Escrituras, a entrega dos dízimos e das ofertas não deve ser feita do que
sobeja, mas das primícias de nossas rendas. Deus promete recompensar
aqueles que lhe são fiéis.
No próximo estudo, trataremos da Submissão às Autoridades e a Liber-
dade de Consciência. As Escrituras recomendam a submissão às autoridades
constituídas, acrescentando, inclusive, que essas autoridades foram estabe-
lecidas por Deus, para garantir o direito dos justos e punir os malfeitores
(Rm 13:1-6; 1 Pd 2:13-14). Reconhecemos, porém, não ser fácil viver em
harmonia com algumas leis e costumes do mundo, principalmente quando
a obediência a essas leis implica desobediência às leis de Deus. O estudo
seguinte nos dará orientações necessárias sobre o que fazer nesses casos.

228 | Estudo 20 - A manutenção da obra: dízimos e ofer tas


III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Gênesis 14:18-20 e 28:20-22


A. Q uem foi o primeiro personagem bíblico a dar o dízimo? Ele passou
isto à frente para os seus filhos? Comente.
B. O que significa a palavra “dízimo”?

02. Leia Números 18:19-21; Deuteronômio 12:11


A. Qual foi o fato histórico que contribuiu para o surgimento do dízimo?
B. Qual era o objetivo do dízimo, por ocasião de sua instituição?

03. Leia Mateus 23:23 e Lucas 10:7


A. O que Jesus falou sobre o dízimo?
B. Q uando instruiu os 70 discípulos a pregarem o evangelho, o que
Jesus lhes disse sobre o salário daqueles que anunciam o evangelho?

04. Leia 1 Coríntios 9: 7,13-14; 2 Coríntios 11:8, e 1 Timóteo 5:17-18


A. Do que devem viver aqueles que se dedicam integralmente
ao evangelho?
B. O que garante o sustento daqueles que trabalham no ministério
eclesiástico?

05. Leia Malaquias 3:8


A. Além do dízimo, qual é a outra forma de contribuição estabelecida
por Deus?
B. Como os servos de Deus da época de Malaquias estavam
se comportando?

06. Leia Lucas 21:1-4


A. Comente sobre a oferta desta viúva, descrita no texto acima: Ela deu
do que sobrava?
B. O que a atitude daquela mulher revela sobre sua confiança em Deus?

O Doutrinal | 229
07. Leia Deuteronômio 16:17; 2 Coríntios 8:1-4,12, 9:7-8
A. As ofertas têm um percentual estabelecido ou são voluntárias?
B. Com que sentimento devemos ofertar?

Anotações

230 | Estudo 20 - A manutenção da obra: dízimos e ofer tas


Estudo 21
Submissão às
autoridades e liberdade
de consciência

Todos devem sujeitar-se às autoridades


governamentais, pois não há autoridade
que não venha de Deus. (Rm 13:1a-NVI)

Introdução
O ensino bíblico sobre dízimos e ofertas foi o foco de nossas atenções
no estudo anterior. Como vimos, a entrega do dízimo não é uma invenção
humana, mas um princípio estipulado pelo próprio Deus, que é o dono
de todas as coisas, inclusive da prata e do ouro (Sl 24:1; Ag 2:8). O ato de
dizimar é um procedimento explícito, tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento (Ne 12:44; Ml 3:10; Mt 23:23). O ato de ofertar também está
exposto nas Escrituras (Dt 16:17; 2 Co 8:4, 11). É uma ação voluntária, isto
é, cabe a nós estipular o seu valor, pois cada um deve ofertar de acordo com
as bênçãos que o SENHOR, nosso Deus, lhe tiver dado (Dt 16:17). A partir de
agora, estudaremos sobre outro assunto também relevante.
Fazendo um exame sério das Escrituras, entendemos que Deus é sobe-
rano e domina sobre as nações da terra. Portanto, tem poder para conceder
o domínio a quem quer que seja, conforme declara Dn 4:25: … o Altíssimo
tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer. Deus também gover-
na a igreja e domina sobre ela (1 Pd 2:9). A igreja encontra-se solidificada e
edificada na pedra principal, que é Cristo (Ef 2:20). Deus escolhe e capacita
pessoas para liderá-la (Ef 4:11). Neste estudo, nós nos ateremos ao que a
Bíblia diz sobre a submissão às autoridades governamentais e eclesiásticas,
bem como sobre a liberdade de consciência.

O Doutrinal | 231
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Uma nação não subsiste sem um governo responsável e capacitado para


promover a ordem social e econômica. As autoridades civis criam, propõem,
decretam e executam as leis que regem a conduta da sociedade, que tem
por dever segui-las, de modo obediente e consciente (Rm 13:5). A igreja,
o corpo de Cristo, também tem seus representantes, que, sob a orientação
divina, conduzem os fiéis à observância dos princípios vigentes nas Escri-
turas. Entretanto, é correto dizer que devemos ser submissos às autoridades
governamentais e eclesiásticas? Até que ponto temos de manter essa atitude
obediente? Vejamos, portanto, a abordagem bíblica sobre o assunto.
1. O que a Bíblia diz sobre a submissão às autoridades: Na Bíblia, a
prática da submissão é uma ordem inegável e inegociável. Aparece, por
diversas vezes, e está incluída nos relacionamentos humanos (Cl 3:18; 1
Pd 2:18, 5:5; Hb 12:9). Desse modo, deduzimos que a vontade de Deus
é que sejamos cristãos submissos, visto que a insubordinação não convém
a santos, pois é uma prática daqueles que se opõem ferrenhamente a ele
e às suas palavras (1 Tm 1:9-10). Devemos agir de modo submisso em
relação às autoridades, tanto governamentais quanto eclesiásticas. Em
relação àquelas, a Bíblia ordena: Todo homem esteja sujeito às autoridades
superiores (Rm 13:1a) e nos fornece algumas razões para praticarmos o
princípio da submissão.
Em primeiro lugar, o poder das autoridades governamentais tem uma pro-
cedência divina. Após enfatizar a ordem acerca da submissão às autoridades
superiores, o texto de Rm 13:1 esclarece: ... porque não há autoridade que não
proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. “Quan-
do Paulo menciona ‘autoridades superiores’, em Rm 13.1, está se referindo
ao Estado, com seus representantes oficiais”.1 O que está explícito, no texto
citado, é que o Estado tem autonomia divina para governar, visto que aquele
que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus (Rm 13:2a). Este pode con-
ceder poder autoritativo a quem ele quiser e, por sua soberania, dispensou-o
aos governantes. Cristo enfatizou essa verdade a Pilatos, quando lhe afir-
mou: Nenhum poder terias contra mim, se de cima te não fosse dado ( Jo 19:11).

1. Lopes (2010:422).

232 | Estudo 21 - Submissão às autoridades e liberdade de consciência


Em Segundo lugar, o poder das autoridades governamentais tem uma fi-
nalidade divina. Deus concedeu poder ao Estado, a fim de que este o repre-
sentasse, através da prática do bem para com os governados, de acordo com
Rm 13:4a, que diz: Visto que a autoridade é ministro de Deus para teu bem. A
palavra traduzida como ministros (leitourgoi) era usada para designar cargos
públicos.2 Portanto, os governantes são funcionários públicos do Senhor. Se,
por um lado, os “súditos” devem se submeter aos governantes, por outro, es-
tes devem cumprir com as suas obrigações, em submissão a Deus. A prática
do bem está relacionada, também, com a prática da justiça. O Estado tem
o direito e o dever de punir a quem age com violência, corrupção, fraude
etc. Sobre os seus “ombros” pesa o dever de incentivar a prática do bem e
reprimir a prática do mal (Pv 17:15; Rm 13:3).
Após tratar as razões da submissão para com as autoridades, a Bíblia ex-
plica as maneiras de se exercitá-la. No texto de Rm 13:7a, na versão NTLH,
Paulo sugere: … paguem ao governo o que é devido. Esse texto chama-nos à
atenção para a responsabilidade tributária diante do Estado. Sonegação de
imposto é crime e não condiz com uma vida santa e digna de quem serve a
Cristo. As palavras de Jesus, descritas em Mc 12:17a, têm o mesmo sentido:
Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. César era o imperador
romano e, portanto, uma autoridade. Cristo não nos insentou da obrigação
tributária para com o Estado. Os impostos são recursos pelos quais os go-
vernantes devem prover benefícios à população.
A palavra de Deus também nos orienta a respeitar e honrar as autori-
dades (Rm 13:7). Essa atitude expressa a vontade de Deus (1 Pd 2:13-15).
Logo, a difamação e o falso julgamento não devem constar em nosso vocá-
bulário (Sl 101:5; Jo 7:24). Cristianismo não é sinônimo de vandalismo ou
boicotagem, mas de amor. Somos conscientizados a tratar os governantes
de modo honroso (1 Pd 2:17) para que calemos a boca dos insensatos, atra-
vés da conduta exemplar (1 Pd 2:15). A Bíblia ainda adverte: Orem por todos
os reis e por todos os outros que têm autoridade (1 Tm 2:2 – NTLH). Quando
a igreja é perseguida pelo Estado, a adoração a Deus e a disseminação do
evangelho no mundo são dificultadas. Portanto, há uma razão lógica para
orarmos por nossas autoridades: … para que possamos viver uma vida calma e
pacífica, com dedicação a Deus e respeito aos outros (1 Tm 2:2 – NTLH).

2. Greathouse et al (2006 :170).

O Doutrinal | 233
O princípio da submissão deve ser posto em prática também em relação
às autoridades eclesiásticas, isto é, os que cuidam do rebanho do Senhor e
o lideram. Com base em que fundamentamos o princípio da submissão a
essas autoridades? Na Bíblia! Veja o que escreve o autor de Hebreus: Obede-
çam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles (13:17a – NVI). Tal prin-
cípio é uma ordem bíblica direcionada à igreja de Cristo e, portanto, é um
dever a ser cumprido por todos os crentes. Os líderes da igreja devem ser
honrados, e sua importância, reconhecida. A nossa submissão a eles deve-se
a dois motivos fundamentais explícitos nas Escrituras.
O primeiro motivo refere-se à procedência da autoridade eclesiástica. Não
só a autoridade governamental tem procedência divina: a autoridade eclesi-
ástica também procede de Deus. Veja o que ensina o texto de Atos 20:28a:
Portanto, cuidem bem de vós e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo
vos pôs como supervisores. O termo “supervisores” é uma tradução da palavra
grega episkopous, que designa aqueles que exercem função pastoral. Os lí-
deres e os consagrados da igreja de Cristo, principalmente os pastores, têm
autoridade divina para liderar (Ef 4:11; 1 Pd 5:1-3). Essa é uma razão mais
que suficiente para prestarmos-lhes submissão. Não é à toa que a ordem
bíblica é um tanto incisiva nesse sentido (Hb 13:17).
Há um detalhe importante que merece ser ressaltado. Todos os que
exercem a função pastoral estão munidos de autoridade divina. Logo, cons-
titui-se pecado grave o ato de insurgir-se contra eles. É imprudente ima-
ginar que Deus deixará impunes aqueles que ousarem desrespeitar as auto-
ridades eclesiásticas por ele constituídas. Miriam e Arão, bem como Corá
e seus cúmplices, tiveram de encarar a punição divina, por se rebelarem
contra Moisés, líder de Israel (Nm 12:9-15, 16:31-35). Deus está atento às
palavras difamatórias dirigidas aos líderes do seu povo (Nm 12:2). O Se-
nhor se ira contra os que não honram os guias do seu rebanho (Nm 12:9).
Todavia, quem honra a autoridade, teme a Deus (1 Pd 2:17) e é prudente.
O segundo motivo da nossa submissão refere-se à atividade da autori-
dade eclesiástica. Tratando dos líderes da igreja, o texto de 1 Ts 5:13a, nos
ensina: Tenham-nos na mais alta estima, com amor, por causa do trabalho deles.
O ato de pastorear o rebanho de Deus é um trabalho nobre e santo. Não
se trata de uma atividade fácil, pois envolve cuidado constante. Os pastores
velam pelas ovelhas (Hb 13:17) e as advertem do mal caminho (Ez 3:17-
18). Eles se desgastam no aprendizado e no ensino da palavra (1 Tm 5:17),

234 | Estudo 21 - Submissão às autoridades e liberdade de consciência


a fim de nutrir espiritualmente os que estão sob seus cuidados; também se
arriscam bravamente pela defesa da fé que uma vez por todas foi entregue aos
santos ( Jd 3). Logo, são dignos de nossa admiração e submissão.
2. O que a Bíblia diz sobre a liberdade de consciência: Jesus é o nosso
principal modelo de submissão. Ele não somente a ensinou, mas também a
praticou (Mt 6:8-10, 26:42). A submissão é uma virtude. Contudo, não se
trata de um procedimento “cego” ou “mudo”. Trata-se, antes, de uma atitude
baseada na liberdade de consciência, que é a desobediência a qualquer regra
contrária à vontade de Deus descrita na sua palavra. Ela se fundamenta
no seguinte princípio: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens (At
5:29b). Todavia, podemos questionar: Esse princípio deve ser aplicado em
relação às autoridades governamentais e eclesiásticas? Obviamente, sim!
Analisemos dois aspectos da liberdade de consciência na Bíblia.
Em primeiro lugar, consideremos a liberdade de consciência para com as auto-
ridades governamentais. Todo aquele que se dispõe a governar, não pode fazê-lo
de modo irresponsável ou inescrupuloso. Não deve governar para si, mas para
a população; também não deve ter por meta o bem próprio, mas o público. É
importante ressaltar que a autoridade dos governantes não é autônoma, mas
delegada. Por isso, não podem abusar do poder que possuem. Todavia, se isso
acontecer e eles se omitirem a fazer o bem e coibir o mal, oprimindo os fracos,
privilegiando uns em detrimento de outros, envolvendo-se com a corrupção
e criando leis injustas e imorais, então, deverão ser não só desobedecidos, mas
também resistidos, em razão de estarem usurpando a autoridade recebida.
Como salvos em Cristo, precisamos atentar para a necessidade de man-
ter a nossa consciência limpa diante de Deus. Portanto, é imprescindível
que recusemos qualquer vínculo com as más obras (Ef 5:8). A nossa sub-
missão ao Estado não deve ultrapassar os limites estabelecidos pela Bíblia.
A igreja de Cristo não pode ser cúmplice do Estado, quando este se envolve
com trapassas ou coisas semelhantes. Ela não deve tomar partido, mediante
suborno ou ameaça (Êx 23:8; 1 Pd 3:14), usando como pretexto Rm 13:2a:
... aquele que se opõe à autoridade resiste à ordenação de Deus. Ficamos insentos
dessa ordem, quando o Estado se recusa a cumprir o propósito para o qual
foi chamado (Rm 13:4).
A liberdade de consciência é demonstrada em alguns episódios rela-
tados nas Escrituras. As parteiras hebreias recusaram-se a matar os bebês
hebreus do sexo masculino, como fora ordenado pelo sanguinário Faraó.

O Doutrinal | 235
Por conta disso, foram recompensadas por Deus (Êx 1:15-20). Sadraque,
Mesaque e Abede-Nego não se prostraram diante da estátua do rei Nabu-
codonozor, porque acreditavam que a adoração deve ser exclusiva ao Senhor
(Dn 3:17-18). Este os honrou, livrando-os não da fornalha, mas na fornalha
(vv. 24-27). João Batista, por sua vez, repreendeu Herodes, em razão de este
haver se casado ilicitamente com Herodias (Mc 6:17-18). Observe que os
personagens, aqui citados, ousaram resistir às autoridades, em defesa dos
princípios divinos.
Quando as autoridades se levantam contra Deus ou contra a população,
por meio da tirania, da exploração e do abuso de poder, devem ser energi-
camente repreendidas. Foi assim que Neemias agiu, quando os nobres e
os magistrados estavam explorando o povo, submetendo-o à escravidão e
à fome (Ne 5:1-4). Neemias reuniu uma grande assembleia, com o fim de
confrontá-los publicamente e exigir deles uma mudança urgente de postura
(Ne 5:7-11). Esse episódio mostra como devemos agir em situações seme-
lhantes. A inércia ante a má administração é perigosa. Em vista disso, vale
a pena atentarmos para as palavras de Tiago: Portanto, comete pecado a pessoa
que sabe fazer o bem e não faz (Tg 4:17 – NTLH).
Em segundo lugar, consideremos a liberdade de consciência para com as
autoridades eclesiásticas. É imprescindível que toda autoridade zele digna-
mente pelo ministério de que foi incumbida. A Bíblia descreve, em 1 Tm
3:1-8, 12 e Tt 1:7, as reais características que uma autoridade eclesiástica
deve possuir. O versículo 2 de 1 Tm 3 afirma que é necessário, portanto, que
o bispo seja irrepreensível (...). O termo “irrepreensível” é uma tradução da
palavra grega anepileptos, que significa não censurável. A boa reputação de
um lider eclesiástico baseia-se não somente na pureza de suas atitudes, mas,
também, na veracidade dos seus ensinos. Paulo considerava fundamental o
ensino em seu ministério (At 20:27, 31-32).
Diante disso, como proceder, em relação às autoridades eclesiásticas
cujos ensinos nos sugerem contrariar ou macular a sã doutrina? Será que,
nessas situações, temos a obrigação de nos submeter a elas? Os líderes ecle-
siásticos, por mais que tenham autoridade divina para liderar e mereçam a
nossa submissão, não são imunes a erros. A ordem é para que sejam irrepre-
ensíveis (1 Tm 3:2). Contudo, nem todos são. É triste, mas é correto afirmar
que muitos pastores e consagrados preferem agir contra os princípios divi-
nos. Nesse caso, não merecem submissão, nem obediência. O fato de toda

236 | Estudo 21 - Submissão às autoridades e liberdade de consciência


autoridade ser proveniente de Deus não significa que este seja responsável
pelas ações destas.
A palavra de Deus e o Deus da palavra estão acima de qualquer
autoridade. Diante do Sinédrio, os apóstolos não se deixaram dominar
pela ordem insana, proveniente da incredulidade do sumo sacertote e das
demais autoridades, a qual consistia em impedir a pregação acerca de
Cristo. A ordem foi enfática: Expressamente vos ordenamos que não ensi-
násseis nesse nome (At 5:28a). Todavia, a consciência dos apóstolos resistia
em seguir tal norma. No versículo 29, eles rebatem: Antes, importa obe-
decer a Deus do que aos homens. Aqueles apóstolos jamais acatariam uma
ordem vinda de uma autoridade humana, se a esta chegasse a desacatar
a autoridade divina. Por isso, não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o
Cristo (At 5:42).
As autoridades eclesiásticas, como vimos, são dignas de honra e res-
peito, desde que se portem irrepreensivelmente, em seus ensinos e atitudes.
Caso contrário, devem ser confrontadas pela palavra. Esse foi o caso do
tenso epsódio ocorrido em Antioquia e relatado em Gl 2:11-14, quando
Paulo confrontou, repreendeu e contradisse Pedro, em razão de este haver
se afastado dos cristãos gentios, a ponto de não mais comer com estes. Pe-
dro era uma autoridade da igreja primitiva (v. 9); contudo, Paulo expressou
a razão de tê-lo confrontado: … porque se tornara repreensível (v. 11), isto é,
Pedro estava errado em se opôr à doutrina da justificação pela fé, através de
sua atitude (v. 16).
Quem governa a igreja é Cristo. Ele a amou e se entregou por ela (Ef
5:25). É por esse amor, não pela tirania ou pela força, que o seu governo
é atuante. É certo que muitos seres humanos foram vocacionados e ca-
pacitados por Deus para conduzirem a igreja. Todavia, estes não podem
liderá-la de acordo com as suas vontades, mas de acordo com as ordens
daquele que a comprou, pois somos raça eleita, sacerdócio real, nação santa,
povo de propriedade exclusiva de Deus (1 Pd 2:9a-grifo nosso). No go-
verno da igreja, os líderes devem prezar pela proclamação das virtudes
daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pd 2:9b).
Mediante o que aprendemos, é importante analisarmos três lições para a
nossa vida cristã.

O Doutrinal | 237
II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Submissão e liberdade de consciência caracterizam uma conduta digna.


A igreja jamais representará dignamente a seu dono, Cristo, se não o imi-
tar. Isso implica pensamentos e atitudes exemplares. O alerta bíblico é claro:
Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo (Fp 1:27a). Quem
vive dignamente não cobiça, nem retém o que não lhe pertence, mas paga
os seus impostos e cumpre com as demais obrigações impostas pelo Estado,
consciente de que está obedecendo a Deus (Rm 13:7). Além disso, essa condu-
ta exemplar constitui-se uma ótima oportunidade para não darmos chances de
nos difamarem (1 Pd 2:15). Portanto, que jamais sejamos egoístas a ponto de
recusarmos devolver a César e a Deus o que lhes é devido (Mt 22:21).

2. Submissão e liberdade de consciência demonstram uma atitude humilde.


A Bíblia não hesita em declarar que somos raça eleita, sacerdócio real,
nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus (1 Pd 2:9). No entanto,
o fato de sermos munidos de tais características não significa que estamos
acima da autoridade de governantes civis e líderes eclesiásticos. O povo de
propriedade exclusiva de Deus não é arrogante, mas humilde de coração
(Mt 5:5), pois não se ensoberbece, nem se rebela contra as autoridades, em
razão de reconhecer que o poder destas é proveniente de Deus. Os soberbos
agem pela arrogância da carne, mas os humildes se guiam pela sobriedade da
palavra, honrando e obedecendo aos seus líderes.

3. Submissão e liberdade de consciência expressam uma convicção firme.


O ensino bíblico é claro, quando nos orienta a agir com submissão às
autoridades governamentais e eclesiásticas (Rm 13:1; Hb 13:17). Contudo,
as Escrituras também nos orientam a proceder mediante a firme convicção
de que mais importa obedecer a Deus do que aos homens (At 5:29). A submissão
que a Bíblia ordena não invalida, nem distorce os princípios por esta ensi-
nados. Essa afirmação é oportuna, tendo em vista que nenhuma autoridade
governamental ou eclesiástica possui poder para modificar a palavra de Deus
pela adição ou subtração (Ap 22:18-20; Gl 1:8, 12).3 Portanto, obedeçamos,
sim, às autoridades, mas, acima de tudo, submetamo-nos ao nosso Deus.

3. Clowney (2007:188)

238 | Estudo 21 - Submissão às autoridades e liberdade de consciência


Conclusão
Utilizando a Bíblia, estudamos sobre a submissão às autoridades e liber-
dade de consciência. Os governantes do Estado e os líderes da igreja de Cristo
devem ser obedecidos, honrados e respeitados, pois essa é a vontade de Deus.
Contudo, a nossa submissão deve ser puramente bíblica. Não temos o direito,
muito menos o dever de obedecer a qualquer ordem que possa contrariar a
palavra de Deus. Portanto, conservando o mistério da fé com a consciência limpa
(1 Tm 3:9), portemo-nos diante de Deus e da sociedade com uma conduta
digna, sendo responsáveis e honestos em tudo, exercitando atitudes humildes
de submissão e mantendo a convicção firme no que a Bíblia ensina.
Outro assunto muito importante será enfatizado no próximo estudo,
cujo título é: O casamento, o lar e a família. O homem e a mulher são seres
sociais e, consequentemente, precisam viver em família. Pensando nisso,
Deus enfatizou, de maneira muito clara a seguinte verdade: Não é bom que
o homem esteja só (Gn 2:18a). O Senhor, que nos sonda e nos conhece (Sl
139:1), detectou a urgente necessidade que o homem tinha de uma compa-
nhia. Então, prometeu: ... far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea (Gn
2:18b). Erramos, muitas vezes, em questões relacionadas ao matrimônio e
ao ambiente familiar. Contudo, Deus tem muito a nos orientar, por meio da
sua palavra. Portanto, participe do próximo estudo!

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Efésios 5:21-22, 6:1; Colossenses 3:18; 1 Pedro 2:18, 5:5; Hebreus 12:9
A. O que é submissão?
B. Q ual a importância da “submissão” para o bom andamento da
família, da igreja e da sociedade?

02. Leia Romanos 13:1-3


A. O que a Bíblia ensina sobre a submissão às autoridades constituídas
em nosso país? O cristão deve obedecer às leis do Estado?
B. De acordo com o comentário deste estudo, a primeira razão para
nos submetermos às autoridades governamentais é porque foram
constituídas por Deus. Você concorda? Explique a sua resposta.

O Doutrinal | 239
03. Leia Romanos 13:4-7
A. O poder das autoridades governamentais tem uma finalidade diante
de Deus. Qual é?
B. Q uais os deveres do cristão perante a sociedade? É correto o cristão
se rebelar contra o Estado, deixando de pagar os impostos e de
cumprir as suas leis? Verifique Rm 13:7.

04. Leia 1 Timóteo 2:1-2; Mateus 22:21, e 1 Pedro 2:17


A. De acordo com os textos acima, qual deve ser nossa atitude diante
das autoridades da nação? O que devemos fazer para que nossa vida
seja mais tranquila na sociedade?
B. Todo cristão tem dupla cidadania: é cidadão do céu e cidadão da
terra. O que significa ser um “cidadão”? Como o cristão pode ser um
bom cidadão na sociedade em que vive?

05. Leia Hebreus 13:17 e 1 Tessalonicenses 5:12-13


A. Quem são as autoridades eclesiásticas?
B. Por que devemos nos submeter a elas?

06. Leia Atos 5:29; Daniel 3:13-18, 6:10


A. O que é a nossa liberdade de consciência? É certo termos uma
submissão cega e irrestrita, diante das autoridades do país?
B. Até onde deve ir nossa submissão aos governantes? A autoridade
deles é absoluta?

07. Leia 1 Timóteo 3:2; Mateus 24:4-5,11 e Filipenses 3:2


A. É correto termos uma submissão cega, perante os líderes religiosos?
Até aonde deve ir nossa submissão aos pastores e líderes da igreja?
B. Como devemos agir para não sermos enganados por falsos profetas
que se dizem pastores? Baseie-se em Atos 17:11.

240 | Estudo 21 - Submissão às autoridades e liberdade de consciência


Estudo 22

O casamento,
o lar e a família

...eu e a minha família serviremos


a Deus, o SENHOR. (Js 24:15 – NTLH)

Introdução
Todo o crente em Jesus, independentemente da posição que ocupa, na
igreja ou fora desta, deve respeitar as autoridades da nação e as autoridades
eclesiásticas e sujeitar-se a elas. Foi justamente isso que aprendemos no
estudo anterior, intitulado: Submissão às autoridade e liberdade de consciência.
A palavra de Deus diz: Todos devem sujeitar-se às autoridades do governo,
pois não há autoridade que não venha de Deus (Rm 13:1 – grifo nosso); mais
à frente, completa: Dai a cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a
quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra (v. 7).
No presente estudo, vamos meditar nas instruções bíblicas sobre o ca-
samento e a família, as mais antigas de todas as instituições da história da
humanidade. Ambas foram ideias de Deus. Nos dias atuais, estamos assis-
tindo a uma avalanche de ataques contra essas instituições. A família unida,
reunida, estruturada, tornou-se algo raro, na sociedade moderna. A ideia de
que casamentos não duram para sempre é cada vez mais aceita com natura-
lidade. A autoridade dos pais nunca foi tão fraca sobre os filhos como agora.
Diante disso, o que fazer? De que forma devemos nos comportar? Segundo
a Bíblia, como devem ser o casamento e as relações familiares?

O Doutrinal | 241

I Verificando a doutrina na palavra de Deus

O casamento e a família são as instituições mais básicas e importantes


da Terra. Não existe sociedade justa, nem nação forte sem casamentos e
famílias estruturadas. Também, não há igreja santa sem casamentos e famí-
lias santas. Quando as famílias e os casamentos vão bem, a nação e a igreja
também vão. Quando o pecado contaminou os seres humanos, no Éden, a
família também foi afetada. Com o pecado, seria muito mais difícil a vida a
dois e a vida em família. Difícil, mas não impossível. Em Cristo, as relações
familiares são restauradas. É isso que a carta de Efésios nos mostra (Ef
5:18-6:4). Com isso em mente, passemos, agora, a analisar as instruções
bíblicas sobre o casamento e a família.
1. Instruções bíblicas sobre o casamento: O lar é o habitat, isto é, o lu-
gar dos membros da família. Segundo a Bíblia, o casamento é a única forma
legítima de se construir um lar. O casamento é o alicerce da família. É a
base para uma família estruturada. O casamento não é a família em si, mas
é origem desta. Se o casamento é a base para a família, então, é essencial
perguntarmos como este deve ser. Se quisermos famílias segundo os propó-
sitos de Deus, precisamos de casamentos segundo os propósitos de Deus.
Vejamos, então, quais são os propósitos e as características do casamento
segundo as Escrituras.
Em primeiro lugar, comecemos com os propósitos do casamento. Casa-
mento é a união de duas pessoas de sexos diferentes, que se comprometem,
diante da lei, a viverem juntas, uma para a outra, na condição de marido e
mulher, enquanto vida tiverem.1 O casamento “nasceu no coração de Deus
quando não havia ainda legisladores, leis, Estado ou igreja”.2 Não é bom que
o homem esteja só (Gn 2:18a) foi a observação que Deus fez. Pouco tempo
depois, ele proveu a Adão uma companheira, instituindo, assim, o primeiro
casamento da história humana.
Deus tinha alguns propósitos em mente, quando realizou o primeiro
casamento. Ele queria resolver o problema da solidão, e o casamento foi a for-
ma que usou para fazer isso. Entretanto, seria um grave erro restringirmos a

1. Oliveira (2005b:74).
2. Lopes (2005:24).

242 | Estudo 22 - O casamento, o lar e a família


frase: Não é bom que o homem esteja só (Gn 2:18a) ao contexto do casamento.
A solidão não é boa. Deus nos fez seres sociais. A amizade também é um
dom de Deus. Com a criação de Eva, Deus deu a Adão alguém com quem
se relacionar, conversar, dividir alegrias, descobertas etc. Além de resolver o
problema da solidão, com o primeiro casamento, Deus queria oferecer com-
panhia adequada para o homem.
Nos versículos 19 e 20 de Gênesis 2, lemos que Deus colocou todos os
animais diante de Adão, para que ele pudesse nomeá-los. Sem dúvida, os
animais passaram diante dele em pares, e, talvez Adão tenha se perguntado:
“Por que eu não tenho uma companheira?”. Ao invés de lhe conceder um
animal, Deus, com uma parte do corpo de Adão, formou uma auxiliadora à
altura dele (Gn 2:18 – BV), capaz de compreendê-lo e ajudá-lo. A mulher
foi o presente de Deus para o homem. Diante dela, Adão declama o pri-
meiro poema de amor da história: Agora sim! Esta é carne da minha carne e
ossos dos meus ossos. Ela será chamada de mulher porque Deus a tirou do homem
(Gn 2:23 – NTLH).
Em segundo lugar, vejamos os princípios para o casamento segundo o pla-
no original de Deus. Com o crescente ataque que o casamento tem sofrido,
é bom relembrarmos sua base bíblica. Com base em Gênesis 2, versículo 24,
veremos seis princípios bíblicos desse relacionamento. O primeiro é: O ca-
samento deve ser uma união heterossexual. Esse texto é bem claro: Deus criou
homem e mulher. O casamento é a união entre um homem e uma mulher
(grifo nosso). A união entre pessoas do mesmo sexo desonra e distorce os
planos de Deus para a humanidade e é claramente condenado e reprovado
nas Escrituras (Lv 18:22-29; Dt 23:17-18; Rm 1:26-28).
O segundo princípio bíblico para o casamento segundo o plano original
de Deus é: O casamento deve ser uma união monogâmica. Em Gênesis 2:24,
as palavras homem e mulher estão no singular. Deus criou um homem e uma
mulher. Tanto a “poligamia” (um homem com várias mulheres) quanto a
“poliandria” (uma mulher com vários homens) destoam do padrão de Deus
para o casamento. O terceiro princípio bíblico para o casamento segundo
o plano original de Deus é: O casamento deve ser uma união exclusiva. O
texto diz: ... deixará o homem seu pai e sua mãe (grifo nosso). O marido tem
de viver para a esposa e a esposa para o marido. Um casal dividido entre o
casamento e os pais terá problemas sérios.

O Doutrinal | 243
É bom ponderarmos que o texto não ensina o casal a ignorar ou des-
cuidar-se dos pais; porém, mostra que, com o casamento, os cônjuges de-
vem priorizar um ao outro. O quarto princípio para o casamento segundo
o plano original de Deus é: O casamento deve ser uma união indissolúvel. O
casamento tem que durar por toda a vida. O texto bíblico diz: unir-se-á
à sua mulher (grifo nosso). O verbo “unir” é a tradução para uma palavra,
no hebraico, que significa cimentar.3 O casamento deve ser para sempre
(Mt 19:6). Apesar de a Bíblia permitir o divórcio (Mt 19:9), em uma
ou duas situações bem definidas, não podemos confundir “permitir” com
“aprovar”. Foi por causa da dureza dos corações, mas no princípio não foi
assim (Mt 19:8).
Apesar de a sociedade atual fazer apologia do divórcio, este continua
sendo uma coisa horrenda aos olhos de Deus: Eu odeio o divórcio, diz o
Senhor (Ml 2:16 – NVI). Não existe divórcio sem dor, sem sofrimento. O
perdão ainda continua sendo a melhor saída, pois “Deus planejou que os
laços matrimoniais deveriam ser terminantemente indissolúveis”.4 O quin-
to princípio para o casamento segundo o plano original de Deus é: O ca-
samento deve ser uma união pública. Ao casarem, ambos, homem e mulher,
precisam deixar os pais. Esse “deixar” que o texto apresenta também indica
uma ocasião social e pública. A família, a sociedade, os amigos, todos devem
saber o que está acontecendo.
O sexto e último princípio para o casamento segundo o padrão de Deus
é: O casamento deve ser uma união física. O versículo encerra-se da seguinte
forma: ... e serão os dois uma só carne (Gn 2:24). A expressão uma só carne se
refere à união sexual e revela a pureza e a santidade da relação sexual dentro
do casamento. O que, para os solteiros, é proibido, para os casados, é orde-
nado: Não vos priveis um ao outro (1 Co 7:5). Muito bem, como vimos, com
base em Gênesis 2:24, há seis princípios que caracterizam o casamento. Se-
gundo os propósitos de Deus, a união matrimonial deve ser heterossexual,
monogâmica, exclusiva, indissolúvel, pública e física. Avançando um pouco
mais, vejamos as instruções bíblicas sobre a família.
2. Instruções bíblicas sobre a família: Em Efésios 5:18-33, 6:1-4, te-
mos o ideal de Deus para o lar cristão. Ali, os papéis de cada membro foram

3. Kemp (2005:76).
4. Pfeiffer & Harrison (1984:8).

244 | Estudo 22 - O casamento, o lar e a família


cuidadosamente delineados. Em primeiro lugar, o texto trata do papel das
esposas. Paulo começa dizendo: Mulheres sejam submissas ao próprio marido
(Ef 5:22). O que é ser submissa? Para começar, não é sinônimo de inferio-
ridade ou indignidade, já que todos os cristãos devem submeter-se uns aos
outros (Ef 5:21). A mulher não é inferior ao homem, pois ambos são iguais
diante de Deus (Gn 1:27; Gl 3:28). O que existe, desde a criação, é uma
diferença de papéis.
A expressão auxiliadora idônea, de Gênesis 2:18, não sugere, em hipóte-
se alguma, sentido de inferioridade. A palavra “auxiliadora”, na língua origi-
nal, é ezer, que encerra a ideia de “suprir algo crucial que está faltando”.5 A
humanidade estava incompleta sem a mulher. Voltando ao papel das espo-
sas, o verbo “submeter” (gr. hupotasso), que aparece em Efésios, era um termo
militar que significava “organizar sob comando de um líder”. Em uso não
militar, era “uma atitude voluntária de ceder e cooperar” ou “sujeição volun-
tária”. Logo, o texto está se referindo à organização estrutural da família e
ao papel da esposa.
Um corpo sem cabeça ou com duas cabeças é uma anomalia. Na famí-
lia, isso é um convite ao caos!6 Por isso, o Senhor colocou o marido como
“cabeça”, isto é, o “líder” da família (Ef 5:23). A esposa cristã e santa deve
sujeitar-se a ele e respeitá-lo em Cristo (v. 33). Não é papel da mulher
competir com o esposo e, muito menos, comandá-lo. Ela deve ser uma
companheira e não uma concorrente. Vale dizer: Essa submissão não é
incondicional. Espera-se do marido uma liderança santa e amorosa, que
reflita Cristo. Logo depois do papel das esposas, Paulo começa a tratar
sobre esse dever dos maridos.
Em segundo lugar, o texto trata do dever dos maridos. Se a palavra que
caracteriza o papel da esposa é submissão, a palavra que caracteriza o dever
do marido é amor. Submeter-se pode ser difícil, mas amar é ainda mais.
De fato, o padrão determinado aos maridos é elevadíssimo: ... amai vossa
mulher, como também Cristo amou a igreja (Ef 5:25a). Nesse texto, “Paulo
exalta o amor conjugal ao nível mais alto possível, pois vê no lar cristão uma
imagem do relacionamento entre Cristo e a igreja”.7 Não é difícil à mulher

5. Swindoll (2007:36).
6. Hendriksen (2005:294).
7. Wiersbe (2006c:65).

O Doutrinal | 245
sujeitar-se a um homem que a ame à semelhança de Cristo, pois seu amor
será persistente, sacrificial, santificador e romântico (cf. Ef 5:25-33).
Além do papel das esposas e do dever dos maridos, o texto, em terceiro
lugar, mostra o preceito aos filhos. A parte que cabe aos filhos, na santidade do
lar, é de extrema importância (Ef 6:1-3): é a obediência motivada pela hon-
ra! O texto inicia desta forma: Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor (v. 1a) e
segue apresentando três excelentes razões para tal tarefa. A primeira razão
apresentada no texto é que a obediência é justa (v.1b). Os pais colocaram os
filhos no mundo e são mais sábios do que estes. Por isso, nada mais correto
do que serem respeitados e honrados. A obediência também é justa porque
a autoridade dos pais foi conferida pelo Senhor. Desse modo, desobedecer
aos pais é afrontar o próprio Deus.
A segunda razão apresentada no texto é que a obediência é ordenada (v. 2).
Trata-se de um preceito bíblico que está entre os dez mandamentos: Honra
teu pai e tua mãe (Êx 20:12). Entretanto, honrar os pais é bem mais do que
obedecer-lhes: é “mostrar respeito e amor por eles, cuidar deles enquanto
precisarem de nós e procurar honrá-los pela maneira como vivemos”.8 A
terceira razão apresentada no texto é que a obediência é abençoadora. Há uma
promessa para o filho ou a filha obediente: Terá uma vida longa e cheia de
bênçãos (Ef 6:3 – BV). Além de tratar do relacionamento dos filhos para com
os pais, Paulo também apresenta um conselho aos pais, no tocante aos filhos.
Em quarto lugar, o texto apresenta o conselho aos pais. Ao tratar com
os pais, o apóstolo começa aconselhando-os da seguinte forma: E vós, pais,
não provoqueis vossos filhos à ira (Ef 6:4a). De fato, há alguns erros cometi-
dos pelos pais que irritam muito os filhos: excesso de proteção, favoritismo,
mentiras, injustiça na disciplina, desestímulo, menosprezo, ironias, uso de
palavras ásperas, crueldades físicas e assim por diante. Então, Paulo conti-
nua o conselho: ... mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor (Ef
6:4b). Há, aqui, três missões dos pais. A primeira é nutrir os filhos. A expres-
são “criai-os” vem do grego ektrepho, que significa “alimentar”, “nutrir” ou
“educar” para se tornar maduro.9
É no lar cristão que as crianças devem aprender sobre o Senhor e sobre
a vida cristã. Ali, aprendem a se santificar. Isso é uma incumbência dos pais.

8. Idem, p.68.
9. Stott (2007b:186).

246 | Estudo 22 - O casamento, o lar e a família


Eles devem assumir esse papel, ao invés de esperar que a escola ou a igreja o
faça. A segunda missão dos pais é disciplinar os filhos. A eficácia da educação
depende da disciplina. Porém, disciplinar os filhos não é descarregar sobre
eles ira e frustração pelo que fizeram de errado, mas é corrigi-los com fim
de treiná-los.10 Por fim, os pais devem instruir e incentivar os filhos, pois esse
é o significado da palavra “admoestação” (v. 4b). Pais cristãos devem criar os
filhos para glória de Deus.
Outra área do relacionamento familiar, igualmente importante, tratada
no texto é o convívio entre irmãos. Os filhos também precisam relacionar-se
bem entre si. Os irmãos precisam conviver em harmonia. Esse é o aspecto
familiar mais comentado por Paulo, pois, para ele, os cristãos eram irmãos
entre si e filhos do mesmo Pai (Ef 1:2, 6:23). Em Efésios, são exigidas duas
coisas, no relacionamento dos irmãos de fé: unidade (Ef 4:1-16) e santidade
(Ef 4:17-5:21). O mesmo se aplica aos irmãos de sangue. Sabe-se que o
convívio entre eles costuma ser conflitante. Brigas, ciúmes e inveja são co-
muns. A Bíblia não nega isso. É só nos lembrarmos de Caim e Abel, Jacó e
Esaú, José e seus irmãos.
Contudo, com os salvos em Cristo, esse convívio pode e deve ser di-
ferente. No convívio entre irmãos, devem-se evitar o egoísmo, o ciúme e a
inveja (Gn 4:1-9, 37:1-28), e cultivar o perdão, a compaixão a aceitação e a
amizade (Gn 45:15; Lc 10:38-42). É possível viver em harmonia na famí-
lia. Você acabou de estudar sobre as instruções bíblicas sobre casamento e
família. Siga-as! Na sequência do estudo, vamos, com base em Ef 4:25-32,
observar três conselhos de Paulo para o relacionamento interpessoal, a fim
de aplicá-los ao ambiente familiar.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus


1. Cultivemos o diálogo no ambiente familiar.
Em Efésios 4:25-32, o primeiro conselho é sobre a “boa comunicação”.
Esta é algo indispensável para boa convivência na família. É preciso haver
diálogo entre o casal, entre pais e filhos, entre irmãos. Esse diálogo deve ser
feito de forma sincera, aberta e afável. O ensino é: ... deixando a mentira, fale

10. Lopes & Lopes (2007:149).

O Doutrinal | 247
cada um a verdade (v. 25). Mas a verdade precisa ser dita em amor. Devemos
falar sem machucar; dizer apenas palavras que edifiquem (v. 29). A falta de
boa comunicação tem causado a destruição de muitos lares. Feliz é a família
em que há diálogo sincero! Ali, um confia no outro e os problemas são re-
solvidos mais facilmente. Cultive isso em casa. Não permita que sua família
seja destruída por falta de diálogo.

2. Cultivemos o respeito no ambiente familiar.


O segundo conselho é que devemos ter respeito e consideração uns pe-
los outros. Veja o que diz o texto: ... somos membros uns dos outros (Ef 4:25). O
autor continua dizendo: Não diga palavras que faça mal aos outros (...). Nada
de gritaria, insultos e maldades! Ao contrário, sejam bons e atenciosos uns para com
os outros (vv. 29, 31, 32 – NTLH). Isso se aplica à família? Claro que sim! O
respeito em família é algo fundamental. Não basta ser pai ou mãe, filho ou
filha, irmão ou irmã, esposo ou esposa, é necessário que um respeite o outro.
A família amadurece quando nela é cultivado o respeito mútuo.

3. Cultivemos o perdão no ambiente familiar.


Este é o último conselho: Abandonem toda amargura, todo ódio e toda rai-
va. (...) E perdoem uns aos outros, assim como Deus, por meio de Cristo perdoou
vocês (Ef 4:31-32 – NTLH). Não se constrói um casamento feliz, nem uma
família estruturada, sem a prática do perdão, que deve ser diária e continua.
Jesus ensinou que devemos perdoar sempre. Paulo ensinou que não po-
demos deixar o sol se pôr sobre nossa ira (Ef 4:26). Perdoar é jogar fora o
lixo do relacionamento, ao invés de acumulá-lo. Portanto, esteja disposto a
perdoar e a reconhecer seus erros. Aprenda a dizer: “Eu errei; perdoe-me”.
Saiba: O perdão restaura a vida em família.

Conclusão
Na carta aos Efésios, conforme estudamos, o apóstolo Paulo mostra o
caminho que devemos trilhar para que nossa família seja santa, harmônica
e feliz (Ef 5:18-6:4). Todavia, antes de começar a tratar sobre isso, ele ini-
cia com um apelo esplêndido: Enchei-vos do Espírito! (Ef 5:18). Somente
depois, passa a tratar da responsabilidade de cada membro da família nos
relacionamentos. A mensagem aqui é clara: Sem o Espírito Santo, não há
vitória familiar. Existe uma ligação profunda entre “vida cheia do Espírito”

248 | Estudo 22 - O casamento, o lar e a família


e “vida familiar”.11 Um ambiente cheio de vida, paz e harmonia é um am-
biente cheio do Espírito Santo.
Que os nossos lares sejam governados pela palavra de Deus. Assim,
serão um pedaço do céu aqui na terra. Somente o Espírito Santo pode
nos capacitar para isso. Então, que esposos e esposas, pais e filhos, irmãos
e irmãos sejam cheios do Espírito de Deus. Que cada um esteja pronto a
fazer a parte que lhe cabe e, decididamente, dizer: Eu e a minha família ser-
viremos a Deus, o Senhor! ( Js 24:15). No próximo estudo, trataremos sobre
outra família, igualmente importante, a família de Deus, chamada: “Igreja”.
Estude-o com disposição!

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Gênesis 2:18


A. O que é casamento?
B. Quem institui o casamento e, quando ele fez isso?

02. Leia Gênesis 2:18-23


A. O que Adão deve ter sentido, quando teve de nomear todos os pares
de animais?
B. Com o casamento, quais eram os dois propósitos de Deus?

03. Leia Gênesis 2:24


A. Q uais são as características do casamento, segundo o plano original
de Deus?
B. A união entre pessoas do mesmo sexo e o divórcio fazem parte do
plano de Deus?

04. Leia Efésios 5:22-24


A. Qual o dever das esposas cristãs, segundo esse texto?
B. Q ual o sentido da palavra submissão? Qual é o modelo de submissão
da mulher?

11. Idem, p.17.

O Doutrinal | 249
05. Leia Efésios 5:25-33
A. Qual o dever dos maridos cristãos, segundo esse texto bíblico?
B. Q ual é o modelo do amor que os maridos devem demonstrar por
suas esposas? Comente sua resposta.

06. Leia Efésios 6:1-3


A. Que atitude é requerida dos filhos cristãos, nesse texto?
B. Que promessa há para os filhos obedientes?

07. Leia Efésios 6:4


A. Como um pai pode provocar a ira de um filho?
B. De que maneira os pais devem criar seus filhos? Comente.

Anotações

250 | Estudo 22 - O casamento, o lar e a família


Estudo 23

A igreja de Cristo

... edificarei a minha igreja e as portas do inferno não


prevalecerão contra ela. (Mt 16:18)

Introdução
No estudo anterior, aprendemos que o casamento e a família foram
estabelecidos por Deus. Ambos foram criados para dar certo. Não existe
sociedade, nação ou igrejas fortes, sem casamentos e famílias fortes. Por
isso, devemos fazer a nossa parte, para que as nossas famílias permaneçam
unidas, harmônicas e sadias. No presente estudo, vamos considerar outro
empreendimento igualmente divino: a igreja (Mt 16:18), que é coluna e fir-
meza da verdade (1 Tm 3:15).
A igreja tem tanto valor que Cristo a amou e a si mesmo se entregou por
ela, a fim de santificá-la, (...) para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa,
sem mancha, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreen-
sível (Ef 5:25-27). Hoje, a igreja está na terra. Ainda não é o que deve ser;
tem muitas imperfeições, mas, um dia, será perfeita e gloriosa. É com essa
finalidade que Cristo tem trabalhado e continua trabalhando na igreja.

O Doutrinal | 251
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

A igreja é o corpo de Jesus Cristo, a comunidade dos santos, a reunião


do povo de Deus e o próprio povo de Deus. Ela congrega pessoas de todas
as raças, lugares, línguas, cores, nacionalidades, culturas, classes sociais e
faixas etárias. Nos parágrafos que se seguem, apresentamos, à luz da palavra
de Deus, algumas informações gerais acerca da igreja de Cristo, tais como: a
sua natureza, a sua missão, os seus consagrados, a sua unidade, a sua pureza
e a sua força.
1. A natureza da igreja de Cristo: A igreja é o conjunto de todos os ver-
dadeiros cristãos de todos os tempos, isto é, os que se arrependeram, foram
perdoados e justificados, mediante a fé em Jesus Cristo. A palavra “igreja”
aparece, pela primeira vez, em Mateus 16:18, em que Jesus diz: ... edificarei
a minha igreja. Aqui, a palavra igreja é uma tradução do termo ekklesia, que
indica, em sua língua de origem, uma assembleia ou ajuntamento de pesso-
as para tratar de algum assunto de interesse comum. Essa palavra se repete
mais de cem vezes, no Novo Testamento.
As Escrituras comparam a igreja a um corpo (1 Co 12:3; Rm 12:4-5; Ef
5:23; Cl 1:18), uma lavoura (1 Co 3:6-9), um edifício (1 Co 3:10-13), uma
noiva (Ap 19:7-8), uma família (Ef 3:14-15), um templo (2 Co 6:16) etc.
Além dessas comparações bíblicas, a igreja também é chamada de “visível e
invisível”, “universal e local”, “organismo e organização”. Por que tantos no-
mes? Vejamos, de forma sucinta, o que cada uma dessas expressões significa.
A “igreja visível” é a igreja como o homem a vê: exteriormente. Já a
“igreja invisível” é a que só Deus vê. Essa só contém salvos. É a verdadeira
igreja, porque somente o Senhor conhece os que são seus (2 Tm 2:19). A “igreja
universal” é aquela constituída dos fiéis de todos os tempos e lugares, inde-
pendentemente de estarem ou não reunidos em algum local. A expressão
“igreja local” designa um grupo de cristãos circunscritos a uma determinada
área geográfica. A “igreja organismo” é a união ou a comunhão dos fiéis,
unidos pelo vínculo do Espírito Santo. A igreja é chamada, também, de
“organização”, por causa do conjunto de formas e atividades permanentes,
típicas de uma sociedade.
2. A missão da igreja de Cristo: Com base na Bíblia Sagrada, podemos
enumerar, ao menos, cinco aspectos da missão da igreja. Em primeiro lugar,

252 | Estudo 23 - A igreja de Cristo


a igreja tem a missão de adorar a Deus. A adoração precede qualquer outra
missão. A Bíblia mostra, de forma muito clara, que essa é a principal razão
da existência da igreja. Tudo o que ela faz deve fazê-lo de forma que em todas
as coisas Deus seja glorificado (1 Pd 4:11 – NVI). É a adoração que move os
crentes a fazerem o que Cristo lhes ordenou. Além de adorar, em segundo
lugar, a igreja tem a missão de anunciar o salvador. Jesus disse: Ide por todo o
mundo, e pregai o evangelho a toda a criatura (Mc 16:15).
A evangelização era um dos pontos fortes dos crentes da igreja do pri-
meiro século. Eles obedeceram à ordem de Jesus de proclamar o evangelho.
Por isso, todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que iam sendo salvos
(At 2:47b). Em terceiro lugar, além de adorar e anunciar, a igreja tem a mis-
são de aparelhar os santos, isto é, preparar o povo de Deus para o exercício
do serviço cristão (Ef 4:12). Em quarto lugar, a igreja tem a missão de am-
parar os necessitados. A exemplo de Jesus, que, além de anunciar o evangelho,
andou fazendo o bem (At 10:38), sua igreja é chamada a desenvolver esse
ministério (1 Jo 3:17-18; Gl 6:10).
Em quinto, a igreja tem a missão de alimentar a esperança. Não teria
sentido tratarmos de missão da igreja, se a sua existência se resumisse ape-
nas a esta vida. Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida,
somos os mais infelizes de todos os homens, diz Paulo, em 1 Co 15:19. Esta
vida não é tudo o que nos resta. Existe algo mais (Fp 3:20; 1 Pd 1:17;
Hb 10:36-37). A igreja de Cristo precisa, constantemente, alimentar essa
esperança. Lembramos, ainda, que a igreja não pode priorizar mais um
aspecto de sua missão do que outro. Todos são importantes e devem ser
desenvolvidos com equilíbrio.
3. Os consagrados da igreja de Cristo: No Novo Testamento, temos
dois tipos de consagrados: diáconos e presbíteros. Ambos eram consagrados
com a imposição das mãos do presbitério (At 6:6, 14:23; 1 Tm 4:14, 5:22;
2 Tm 1:6), e, ainda hoje, continua sendo assim. Vejamos o que a Bíblia diz
sobre cada um deles. Comecemos pelos presbíteros. Estes foram chamados
para apascentar a igreja de Deus (At 20:28). Suas qualificações estão ex-
pressas em 1 Timóteo 3:1-7. Os presbíteros também eram denominados
bispos, anciões ou pastores (At 20:17, 28). Esses termos são sinônimos (cf.
Tt 1:5, 7; 1 Pd 5:1-2).
As evidências bíblicas mostram que, nas igrejas primitivas, existia um
grupo de presbíteros que desempenhavam suas funções na igreja em período

O Doutrinal | 253
integral e recebiam por isso, enquanto outros serviam a Deus e continuavam
com suas ocupações normais (cf. 1 Tm 5:17-18). Em todo caso, como é uma
questão apenas relacionada à terminologia, a Igreja adventista da Promessa
chama os presbíteros responsáveis por uma igreja de “pastor”, termo também
usado nas Escrituras para se referir aos que cuidam da igreja (cf. Ef 4:11).
Os diáconos ou as diaconisas, por sua vez, de acordo com 1 Timóteo
3:10-13, devem ser, primeiramente provados, para servirem depois, se forem
achados irrepreensíveis (v. 10). Nesse mesmo texto, encontramos as qualifi-
cações necessárias para estes. A exemplo dos presbíteros, eles também fa-
ziam parte da liderança da igreja primitiva (cf. Fp 1:1). Em Atos capítulo
6, temos a escolha dos primeiros diáconos. À luz deste texto, aprendemos
que os diáconos foram chamados, essencialmente, para servir. Enquanto
os presbíteros lidavam, primeiramente, com as necessidades espirituais, os
diáconos, ou diaconisas, lidavam com as necessidades materiais das igrejas.
Isso não significa que a obra do diácono tenha valor inferior. Essa era e é
uma tarefa digna e especial.
4. A unidade da igreja de Cristo: A unidade da igreja recebeu grande
ênfase no Novo Testamento. Jesus, em sua oração sacerdotal, fez uma sú-
plica em favor disso (cf. Jo 17:1-16). Entre os autores sagrados, entretanto,
Paulo é quem mais trata do assunto. Em sua carta aos Efésios 4:1-16, o
apóstolo ensina sobre o dever da igreja de andar em unidade. Ele faz um
apelo a todos os membros: [Procurem] cuidadosamente manter a unidade do
Espírito no vinculo da paz (Ef 4:3).
Paulo mostra que o que sustenta a unidade da igreja não são os mé-
todos humanos, mas, sim, os princípios da palavra de Deus. Como uma
casa, ela deve ser construída em cima e em torno de bases sólidas; do
contrário, cairá. Quais são essas bases? Paulo cita sete: um só corpo, um só
Espírito, uma só esperança, um só Senhor, uma só fé, um só batismo e um
só Deus e Pai (Ef 4:4-6). Esses são os elementos básicos que unem todos
os cristãos verdadeiros.
No que diz respeito às pessoas da triunidade, observe que: “O Espíri-
to Santo é o agente da unidade; o Filho é Aquele em quem nós estamos
unidos; o Pai é Aquele cujos propósitos são expressos por meio da unidade
do corpo”.1 A unidade da igreja é algo possível e muito bom, quando alcan-

1. Richards (2008:425).

254 | Estudo 23 - A igreja de Cristo


çado: Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! (Sl 133:1). A
unidade é uma das características distintivas da verdadeira igreja. O próprio
Jesus disse que um reino dividido não pode subsistir (Lc 11:17). A tendência
humana é criar facções e limitar a unidade que Cristo almeja para a sua
igreja.2 Que a igreja de Cristo lute para ser unida no mesmo pensamento e no
mesmo parecer (1 Co 1:10).
5. A santidade na igreja de Cristo: Não existe, em nenhum lugar deste
mundo, uma igreja perfeita. Todavia, todas as igrejas que, de fato, são de
Jesus estão em processo crescente de purificação. A igreja de Cristo precisa
e deve ser santa, deve zelar por sua pureza, precisa viver de maneira cada
vez mais pura, tanto em sua doutrina como em sua conduta, isto é, deve ser
santa em todas as áreas. A Bíblia está repleta de imperativos neste sentido.
Destacamos dois textos: o primeiro deles, e, talvez, o mais enfático dentre
os dois, é o texto de Hebreus 12:14. Nele lemos: Segui a paz com todos e a
santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. Essa passagem é muito clara
quanto à necessidade absoluta de santidade.
Sem a santificação “ninguém verá o Senhor”, diz o texto, afinal, Deus
não nos chamou para a impureza, mas para a santificação (1 Ts 4:7). Lem-
bremos sempre que Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela,
para a santificar (Ef 5:25b-26a). Esta deve, continuamente, lutar para
ser cada dia mais santa. Um segundo texto que merece destaque, nesta
abordagem, é o texto de 1 Pedro 1:15-16, em que lemos: Como é santo
aquele que vos chamou, sede também santos em toda a vossa maneira de viver,
porquanto está escrito: Sede santos, porque eu sou santo. Vimos que a igreja
precisa ser santa, mas quem é que deve lutar pela santidade e pela pu-
reza da igreja? A resposta é: todos! Não é só o pastor. Todos precisam
trabalhar e batalhar, diligentemente, pela pureza da igreja da qual são
membros (1 Co 5:7; Gl 6:1-2,10).
Muitos, porém, ignoram completamente essa responsabilidade espiri-
tual; outros tratam ligeiramente do assunto; outros, ainda, lidam com o
assunto da impureza só depois de criado um escândalo que não pode ser
ignorado (1 Co 5:1). Contudo, não é assim que deve ser. Por causa da neces-
sidade de a igreja ser cada dia mais pura, a Bíblia mostra que, em algumas
situações, quando um membro do corpo de Cristo destoa para longe da

2. Mulholland (2004:40).

O Doutrinal | 255
vontade divina, Deus usa a disciplina como um instrumento para manter a
pureza na igreja: Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma ofensa, vós, que
sois espirituais, corrigi o tal (Gl 6:1). Dentre outras coisas, a disciplina visa
remover o erro e evitar que o pecado “levede” a igreja com a sua influência.3
A correção serve tanto para restaurar o membro disciplinado quanto para
preservar a pureza da igreja (2 Pd 3:14).
6. A força da igreja de Cristo: A igreja do Senhor é forte. Entretanto,
para não se corromper, precisa saber de onde vem o seu poder, qual a origem
da sua força. Em primeiro lugar, veremos qual é a fonte do poder da igreja.
Em Efésios, lemos: No demais irmão meus, fortalecei-vos no Senhor e na força
do seu poder (Ef 6:10 – grifo nosso). Esse texto mostra, de forma bem clara,
a fonte do poder da igreja: o Senhor. O poder é dele. A igreja deve sempre se
lembrar que a fonte do seu poder está no Senhor (cf. Mt 16:18-19).
Em segundo lugar, veremos qual é a natureza do poder da igreja. Como
é o poder da igreja? Como são as armas que devem ser usadas pela igreja? A
Bíblia responde: ... embora vivamos como homens não lutamos segundo os pa-
drões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas ao contrário, são
poderosas em Deus (2 Co 10:3-4 – NVI). As armas da igreja não são físicas,
mas espirituais. A igreja não anuncia o reino de Deus armada com espadas,
mas pelo poder de Deus. O poder da igreja é espiritual. Veja que Paulo ad-
mite, em 2 Coríntios 10:3-4, que ele vive no mundo, entretanto, “não luta
contra o mundo pecaminoso aplicando padrões do mundo; ele luta segundo
os padrões que Deus estabeleceu”.4
Em terceiro e último lugar, veremos qual é a finalidade do poder da igre-
ja. Depois de dizer que o poder da igreja é espiritual, Paulo informa o obje-
tivo desse poder: ... para derrubar as fortalezas do diabo (2 Co 10:4b – BV).
A verdadeira luta da igreja não é contra seres humanos, mas (...) contra as
forças espirituais do mal nas regiões celestiais (Ef 6:12 – NVI). Sendo assim,
o objetivo da força da igreja é “livrar os homens da escravidão espiritual
infundindo-lhes o conhecimento da verdade, cultivando neles graças espiri-
tuais, e elevando-os a uma vida de obediência aos preceitos divinos”.5 Deus
não capacitou a igreja simplesmente por capacitar.

3. Ryrie (2004:504).
4. Kistemaker (2004b:467).
5. Berkhof (2007:548).

256 | Estudo 23 - A igreja de Cristo


Fechamos esta primeira parte do nosso estudo lembrando que, até agora,
vimos questões gerais relacionadas à igreja de Cristo. Ela é o conjunto de todos
os cristãos de todos os tempos, isto é, os que se arrependeram e foram perdo-
ados e justificados, mediante a fé em Jesus Cristo. A igreja tem como missão:
adorar a Deus, anunciar o Salvador, aparelhar os santos, amparar o necessitado
e alimentar a esperança. A unidade e a pureza são suas marcas distintivas. Ela
é forte, não por si mesma, mas porque o Senhor a capacita. Por tudo isso e por
mais algumas razões que mencionaremos na próxima parte do presente estu-
do, podemos, sem sombra de dúvida, dizer que a igreja é sublime e gloriosa.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. A igreja de Cristo é sublime porque tem um dono incomparável.


Não é correto associar o nome da igreja ao de uma pessoa humana qual-
quer, por mais célebre que seja essa pessoa; também não se deve confundi-la
com uma denominação religiosa. A igreja é o corpo de Jesus Cristo, e ele mes-
mo é a cabeça desse corpo: ... ele também é a cabeça do corpo, que é a igreja (Cl
1:18a). Somente Cristo deve ser honrado pelo que fez e continua a fazer pela
igreja. Ele é o dono da igreja, que é sublime porque seu dono é incomparável.
Cristo se sacrificou a Deus por ela: Para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa,
sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível (Ef 5:27).

2. A igreja de Cristo é sublime porque tem um preço incalculável.


Jesus disse: ... edificarei a minha igreja (Mt 16:18). Você sabe qual foi o
preço pago para que isso acontecesse? O apóstolo Pedro diz: ... com o precioso
sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado (1 Pd 1:19). Por
isso, Cristo, que comprou a igreja com o seu próprio sangue, a constituiu como
responsável pela disseminação do conhecimento de Deus no mundo, pois só
ela sabe quanto é preciosa aos olhos daquele que a resgatou (Ef 3:7-12).

3. A igreja de Cristo é sublime porque tem um segredo admirável.


Uma das coisas que tornou a igreja uma instituição confiável foi o fato
de Deus lhe ter feito compreender os mistérios do seu reino, constituindo-a
como despenseira desses mesmos mistérios. A compreensão e a comuni-
cação desse segredo fazem da igreja uma instituição gloriosa. Paulo trata
do papel que lhe coube como parte desse corpo, sobretudo, em relação ao

O Doutrinal | 257
mundo gentio, para que pudesse manifestar qual seja a dispensação do mistério,
desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas (Ef 3:9).

Conclusão
Estamos chegando ao final de mais um estudo. Nosso foco, neste capí-
tulo, foi a igreja de Cristo. De acordo com o que acabamos de estudar, ela é o
conjunto de todos os verdadeiros cristãos de todos os tempos. É comparada
a um corpo, uma noiva, um edifício, uma lavoura, um templo. Existe com o
propósito maior de adorar a Deus. Sabe que precisa, a todo custo, manter a
unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4:3). Esforça-se para, cada dia, ser
mais pura e mais santa, pois esse é o desejo do seu Senhor. Entende que é
forte, não por si mesma, mas por aquele que a comprou e a encheu de força.
Essa é a igreja de Cristo! É sublime; tem um dono incomparável, um
preço incalculável e um segredo admirável; anda, nesta terra, de modo dig-
no da vocação a que foi chamada, mas não tem cidade permanente aqui (Hb
13:14): sua pátria está nos céus, de onde também aguarda o Salvador, o Senhor
Jesus Cristo (Fp 3:20). Seu futuro é glorioso. Aliás, é sobre o futuro que tra-
taremos, no próximo estudo, intitulado: A mortalidade da alma. Você sabe
o que acontece com todo ser humano, após a morte? É isso que iremos
descobrir, no próximo capítulo. Não deixe de estudá-lo.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Mateus 16:18; Romanos 12:4-5; 1 Coríntios 3:6-13; 2 Co 6:16;


Efésios 3:14-5; Apocalipse 19:7-8
A. O que é a igreja? Quem fundou a igreja?
B. Comente as “figuras” ou “comparações” usadas na Bíblia para se
referir à igreja de Cristo?

02. Leia 2 Timóteo 2:19; 1 Coríntios 10:32; 11:16, 12:12,14,25-28


A. Estabeleça a diferença entre igreja invisível e igreja visível? Fale
também sobre a diferença entre igreja local e igreja universal.
B. A igreja é uma instituição, um organismo ou ambas as coisas?
Justifique sua resposta com base no comentário.

258 | Estudo 23 - A igreja de Cristo


03. Leia 1 Pedro 4:11; Marcos 16:15; Efésios 4:12; Atos 10:38 e 1 Coríntios 15:19:
A. A maior missão da igreja é adorar a Deus. Quando e como a igreja
deve adorar ao Senhor?
B. Comente as quatro restantes missões da igreja de Cristo. Recorra ao
comentário deste estudo.

04. Leia Atos 6:1-6, 20:17,28 e 1 Timóteo 3:1-13


A. No Novo Testamento, temos dois tipos de consagrações. Quais são?
B. Q ual é a função dos pastores, dos presbíteros e dos diáconos, dentro
da igreja de Cristo?

05. Leia João 17:21; Salmos 133:1, e Efésios 4:1-6


A. Q ual é a importância de a igreja de Cristo se manter unida?
B. O que todo cristão deve fazer em favor da união do corpo de Cristo?
Examine cuidadosamente Ef 4:2.

06. Leia Hebreus 12:14; Efésios 2:25b-26a; 1 Pedro 1:15-16


A. Q ual é a responsabilidade da igreja com relação à santificação?
Existe, na terra, alguma igreja local que seja perfeita e totalmente
pura ou todas as igrejas locais estão em processo de santificação?
B. Vimos que a igreja precisa ser santa, mas quem deve lutar pela
santidade e pela pureza da igreja? Todos ou só o pastor?

07. Leia Efésios 6:10-12; 2 Coríntios 10:3-4


A. A igreja do Senhor é forte. De onde vem a sua força? Como é o seu
poder? Quais são as armas que devem ser usadas pela igreja?
B. Qual é a finalidade do poder que a igreja tem?

O Doutrinal | 259
Anotações

260 | Estudo 23 - A igreja de Cristo


Estudo 24

A mortalidade da alma

E o pó volte à terra, como era, e o espírito


volte a Deus, que o deu. (Ec 12:7)

Introdução
A igreja é o conjunto de todos os verdadeiros cristãos de todos os tem-
pos, isto é, os que se arrependeram, foram perdoados e justificados, median-
te a fé em Jesus Cristo. Essa é a definição de igreja que aprendemos, no úl-
timo estudo deste manual, intitulado: A igreja de Cristo. Além da definição,
estudamos também sobre a missão, os consagrados, a unidade, a pureza e
a força da igreja de Cristo. Ela é sublime: tem um dono incomparável, um
preço incalculável e um segredo admirável. O Senhor Jesus se entregou por
ela, para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa (Ef 5:27).
No presente estudo, porém, trataremos de outro assunto, igualmente
importante: A mortalidade da alma. A morte é um assunto que, na maioria
das vezes, evitamos. Não gostamos de falar sobre ela. A grande verdade é
que nenhum de nós, em condições normais, deseja morrer. Por isso mesmo,
temos medo da morte. Até certo ponto, isso é normal. Nós fomos criados
para sermos eternos. No plano original de Deus, ninguém deveria morrer.
Foi Deus quem colocou a eternidade no coração do homem (Ec 3:11). Por isso,
naturalmente, desejamos a imortalidade. Todavia, não há como escapar: a
morte é uma realidade. Todos morrem. E o que acontece depois disso? A
alma é imortal? Há consciência, após a morte? Vejamos.

O Doutrinal | 261
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Desde muito cedo, através de filmes na TV e no cinema, de livros e de


jornais seculares e cristãos, somos induzidos e ensinados a pensar que temos
uma alma imortal. Ela nos é apresentada como algo à parte e contraposta ao
corpo e que sobrevive, após a morte. É comum assistirmos a filmes em que,
depois que uma pessoa morre, sua “alma” se desprende e continua a viver de-
sincorporada, com consciência. Será esta a visão bíblica a respeito da alma?
De acordo com a Bíblia, nós temos mesmo uma alma, um corpo ou um es-
pírito? Algum destes elementos é imortal? Descobriremos isto, neste estudo.
1. A natureza da alma: A Bíblia mostra que o Senhor Deus formou o
homem do pó da terra e soprou-lhes nas narinas o fôlego da vida; e o homem
tornou-se alma vivente (Gn 2:7). Esse texto é simples e direto. Com base
nessa descrição, podemos entender, de forma correta, a constituição hu-
mana. Primeiro, o ser humano possui um aspecto físico e material, em sua
constituição. Na primeira parte do versículo, lemos: O Senhor Deus formou o
homem do pó da terra (Gn 2:7a). O pó, do hebraico ‘ãphãr, que também pode
significar “poeira” ou “grãos finos e secos de terra”, foi o material usado por
Deus para formar o corpo físico dos seres humanos. Na constituição do
nosso organismo, encontramos vários elementos originários da terra, o que
está de acordo com o livro de Gênesis.1
A Bíblia mostra que o ser humano possui o fôlego de vida, que re-
presenta a parte imaterial do seu ser, também chamado de espírito ( Jó
33:4). O texto de Gênesis diz que, após formar o homem do pó da terra,
Deus soprou-lhe nas narinas o fôlego da vida (Gn 2:7b). A palavra “fôlego”,
aqui, foi traduzida do hebraico nishmat, que significa tanto “respiração”
como “espírito”. Outra palavra hebraica também usada para se referir ao
“fôlego”, na Bíblia, é rûah. Esta última significa, também, tanto “espírito”
quanto “respiração” (cf. Sl 33:6). Nishmat e rûah são palavras usadas como
sinônimos para “fôlego”. Em Gênesis capítulo 7, temos as duas juntas, num
mesmo texto (v. 22).
Quando o fôlego de vida entrou em contato com o corpo físico do ser
humano, o resultado foi: ... e o homem tornou-se alma vivente (Gn 2:7c). O

1. Souza & McGee (2007:44).

262 | Estudo 24 - A mor talidade da alma


“fôlego de vida” nada mais é, então, do que a infusão doadora de vida (Is
42:5). Depois que o recebe, o ser humano passa a ser “alma vivente”. A alma
(hb. nephesh), neste versículo, refere-se à totalidade do ser. Assim, o pó da
terra “mais o sopro divino é igual a um ser vivo”.2 O ser humano é uma
unidade. A fusão entre o corpo e o fôlego de vida (ou pó da terra e fôlego
de vida) tornou isso possível. O resultado foi um “ser vivente” (NVI), uma
“alma vivente” (AS21). Essa é a visão bíblica de alma.
Baseados nisso, podemos dizer, categoricamente, que a Bíblia não ensi-
na que o ser humano tem uma alma, mas, sim, que ele é uma alma. Os seres
humanos também não são entidades tricotômicas,3 isto é, não possuem três
partes distintas: corpo, alma e espírito. As Escrituras entendem o homem
de forma monística ou integral, ou seja, como uma unidade. Ele é uma
alma, um ser total. São vários os versículos bíblicos que comprovam essa
verdade. A seguir, citamos alguns. O Antigo Testamento diz: Com setenta
almas teus pais desceram ao Egito (Dt 10:22a); ... a alma que pecar, essa morrerá
(Ez 18:4 cf. Ex 12:4, 30:15-16; Lv 17:11-12; Dt 4:9, 15; Jó 33:18; Sl 33:19).
Observe que a alma é usada para se referir à pessoa.
O Novo Testamento também apresenta a “alma” como o ser total. A pa-
lavra grega traduzida para o português por alma é psychê, que abrange a to-
talidade da existência da vida do homem: Pois que aproveita o homem ganhar
o mundo inteiro e perder a sua alma? (Mt 16:26a); ... naquele dia, agregaram-se
quase três mil almas (At 2:41). Em Jo 10:11, é dito que Jesus entregaria sua
psychê pelas suas ovelhas, ou seja, ele entregaria a sua vida. Esta mesma ideia
é apresenta em Jo 13:37; 1 Pd 2:25, 3:20, etc. Em todos esses textos, “alma”
é uma referência ao ser humano total.
Portanto, quando a Bíblia diz, por exemplo: ... todo espírito, alma e cor-
po de vocês (1 Ts 5:23), essas expressões equivalem a “todo ser de vocês”.
Quando nos depararmos com passagens bíblicas em que as palavras “alma”
e “espírito” são usados para se referir às intenções, à vontade, ao coração, ao
intelecto, à vida interior etc., não devemos entender que estão ensinando
que o ser humano possui espírito ou alma independentes. Neles, não está
se tratando da constituição do ser humano, que, como vimos, é: corpo +
espírito = alma (o ser total). Este é o ensino das Escrituras.

2. Merrill (2009:180).
3. O termo significa uma “divisão em três partes” (gr. Tricha: “em três partes”; temnein: “cortar”).

O Doutrinal | 263
2. A finitude da alma: Depois de formar o homem, Deus o colocou
para viver no jardim do Éden e lhe deu esta ordem: De todas as árvores do
jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não
comerás, porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás (Gn 2:16-
17 – grifo nosso). Já sabemos o final dessa história, de acordo com o que
aprendemos, em estudos anteriores (Estudo 4: Origem, queda e restauração
do ser humano). Diante da serpente, o ser humano desobedeceu à ordem de
Deus, comendo do fruto proibido pelo Senhor (Gn 3:6-7).
Adão e Eva não morreram fisicamente, logo após a desobediência à
ordem de Deus. O tipo de morte imediata que o ser humano sofreu foi a
espiritual: a separação de Deus (Is 59:2). A morte física não seria imediata,
mas, a partir daí, inevitável: homem e mulher ficaram sujeitos à mortalida-
de: ... tu és pó e ao pó tornarás (Gn 3:19 cf. Ec 3:20; Jó 10:9, 34:15). Então,
a morte entrou no mundo, como consequência e punição do pecado, e, a
partir desse acontecimento, estendeu-se a todos os seres humanos, como
afirma Paulo: Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo,
e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque
todos pecaram. (...) o salário do pecado é a morte (Rm 5:12, 6:23). Apesar de, no
plano original de Deus, o ser humano ter sido feito para viver eternamente,
o pecado mudou isso.
Paulo, em 1 Coríntios 15, afirma que o aguilhão da morte é o pecado (v.
56). A palavra “aguilhão” significa “ferrão” – como de um escorpião, por
exemplo, que pode até matar com a sua ferroada. Paulo faz essa compa-
ração para ressaltar o poder venenoso e fatal da morte.4 Ele diz que esta
tem tal autoridade por causa do pecado. É por isso que todos os homens,
hoje, caminham com esta certeza: Que homem há, que viva, e não veja
a morte? (Sl 89:48). A certeza da morte é uma garantia da Bíblia: Não
há nenhum homem que tenha (...) poder sobre o dia da morte (Ec 8:8; cf.
Sl 90:3-6, 103:15-16; Is 40:6-7; Tg 1:10). Com exceção dos justos que
estiverem vivos por ocasião do retorno de Cristo (1 Co 15:51-52), todos
irão morrer.
O que é morte? A palavra hebraica mais usada no Antigo Testamento
para se referir à morte é mãweth, e a grega mais usada para se referir a ela,
no Novo Testamento, é thanatos. As duas são usadas para descrever o fim

4. Haubeck; Siebenthal (2009:1040).

264 | Estudo 24 - A mor talidade da alma


natural da vida humana. Morte é cessação da vida e da atividade na terra.
Biblicamente, ocorre por ocasião da ruptura entre o pó da terra e o fôlego
de vida. Na morte, acontece uma cisão entre o corpo e o espírito. Isto está
de acordo com o que está escrito em Eclesiastes: ... o pó volte à terra de onde
veio e o sopro volte a Deus que o concedeu (Ec 12:7 – BJ). Neste texto, há uma
clara alusão ao relato da criação, quando Deus fez o homem do pó da terra
e soprou-lhe nas suas narinas o fôlego de vida (Gn 2:7).
Conforme vimos, o homem não é nem corpo, nem espírito, mas, sim,
alma vivente. A dissolução entre corpo e espírito é a morte. Com esta,
tudo volta às origens. Outros textos bíblicos também podem ser usados
para confirmar essa verdade: Se ele retirasse para si o seu espírito, e recolhesse
para si o seu fôlego,5 toda carne juntamente expiraria, e o homem voltaria ao
pó ( Jó 34:15). Em outra parte da Escrituras, lemos: ... se lhe tiras a respi-
ração, morrem e voltam ao pó (Sl 104:29). No Novo Testamento, também
encontramos a seguinte afirmação: ... o corpo sem o espírito está morto (Tg
2:26; cf. Gn 7:21-22).
Quando corpo e espírito se separam, o ser humano deixa de ser alma
vivente, isto é, deixa de ser um “ser vivo”. A alma morre. Nenhum escritor
bíblico escreveu sobre a imortalidade da alma. De acordo com a Bíblia, um
corpo sem espírito não é uma pessoa: é um defunto. Essa dissolução não é
natural para o ser humano. É por isso que nos entristecemos, diante de um
cadáver, pois este é um corpo sem espírito. É uma alma morta. Não tem
reação, não pode falar, não pode sentir. Isso é antinatural! Não é à toa que
o salmista diz: O Senhor vê com pesar a morte de seus fiéis (Sl 116:15 – NVI).
Não era para ser assim, no plano original de Deus.
3. O destino da alma: O que acontece com o ser humano, depois da
morte, é o que será discutido, nesta parte do nosso estudo. Como vimos,
a morte é o fim da vida e a cessação da atividade humana na terra. Depois
dela, o indivíduo é levado, não para um estado intermediário de consci-
ência, mas para a sepultura, onde permanece inconsciente, por tempo
indeterminado, aguardando o dia da ressurreição (a dos justos ou a dos
ímpios, conforme veremos no estudo 26). Neste sentido, diz a Escritura:
Pois Deus fala de um modo, e se o homem não lhe atende, fala de outro (...)

5. “Espírito” e “fôlego”, neste versículo, são usados como sinônimos. A NTLH traduz este texto da seguinte
maneira: Se Deus quisesse, poderia fazer voltar para si o fôlego, a respiração da gente.

O Doutrinal | 265
para poupar a sua alma da cova ( Jó 33:14,18 – AS21). Observe que é dito,
de forma clara, que a sepultura é o destino imediato a ser seguido por
quem morre. Outros textos ratificam essa verdade (cf. Sl 28:1, 30:9, 88:4;
Is 38:17; Ez 26:20; At 2:29).
Na sepultura, o ser humano permanece num estado de inconsciên-
cia: A sepultura não te pode louvar, nem a morte glorif icar-te; não esperam
em tua f idelidade, os que descem à cova (Is 38:18). É por isso que a morte,
na Bíblia, é repetidamente comparada com um “sono”. No Antigo Tes-
tamento, lemos: Disse o Senhor a Moisés: Eis que estás para dormir com teus
pais (Dt 31:16); Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão (Dn
12:2; cf. Jó 7:21; Sl 13:3). No Novo Testamento, essa mesma figura de
linguagem é aplicada com relação à morte: Depois foi visto por mais de
quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria sobrevive até agora,
porém alguns já dormem (1 Co 15:6); Não queremos, porém, irmãos, que
sejais ignorantes com respeito aos que dormem (1 Ts 4:13; cf. 1 Co 15:51; Jo
11:11-14; At 13:36).
O sono é a cessação da atividade. Quando uma pessoa morre, aca-
bam-se as suas atividades. Não existe vida humana pós-morte. Como já
foi dito, a Bíblia enxerga o ser humano de forma integral. Este morre,
portanto, em sua totalidade. O ser humano não tem uma alma imortal,
que continua existindo fora do seu corpo, depois do seu falecimento.
Atualmente, existe muita confusão com relação a esse assunto. Um dos
vinte e seis significados que o mais famoso dicionário da língua portu-
guesa emprega para “alma” é: “Princípio espiritual do homem concebido
como separável do corpo e imortal”.6 Esta definição apresenta a alma
como imortal.
Uma pessoa desavisada, ao dirigir-se à Bíblia, acha que a palavra alma,
ali, tem esse mesmo significado, o que não é verdade. Só há um ser imortal
(1 Tm 6:16). Nós já aprendemos, neste estudo, o que é alma. Sabemos que
não temos uma alma, mas somos uma alma. Quando morremos, deixamos
de existir completamente: A alma que pecar, essa morrerá (Ez 18:4, 20; cf. Pv
19:16; 33:9). Na visão bíblica do estado dos mortos, não se admite o fato
da existência de alguém com um espírito desincorporado. Não existe vida
humana extracorpórea. Esse é o ensino da Bíblia.

6. Ferreira (1975:71).

266 | Estudo 24 - A mor talidade da alma


Novamente, enfatizamos que as Escrituras informam que os mortos
não têm consciência de nada: Porque os vivos sabem que hão de morrer, mas
os mortos não sabem cousa nenhuma (Ec 9:5; cf. v. 10); Sai-lhes o espírito e
eles tornam ao pó; nesse mesmo dia perecem todos os seus desígnios (Sl 146:4;
cf. Sl 6:5; Is 38:18). A pessoa que morre não faz mais projetos, não pen-
sa, não arquiteta; sua memória permanece no esquecimento. Ao dormir,
torna-se inoperante, inativa. Fica assim, na sepultura, até o dia da ressur-
reição. Jesus disse que é dos sepulcros que os mortos ressurgirão: Não vos
maravilheis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros
ouvirão a sua voz ( Jo 5:28).
Outra metáfora bíblica para a morte, que se encontra em 2 Coríntios,
é a do “despimento” (5:1-4). A Bíblia compara o corpo mortal do ser hu-
mano com uma tenda, e diz que temos um edifício da parte de Deus, uma
casa eterna no céu, que será o nosso novo corpo transformado e imortal.
Enquanto estamos nesta tenda atual, isto é, neste corpo mortal, gememos,
querendo ser revestidos da nossa habitação celestial: o nosso corpo imortal.
A garantia que temos de que isso ocorrerá é o Espírito Santo (v. 5). Toda-
via, antes que a nossa tenda terrena seja revestida da nossa futura habitação
celestial, precisaremos nos despir, isto é, morrer. A morte é o despimento.
Quando morremos, despimo-nos e ficamos aguardando, de forma incons-
ciente, a nossa nova roupa: o nosso novo corpo transformado. Paulo diz que
não quer ser despido (v. 4). Ele deseja alcançar a transformação do corpo,
sem precisar morrer.
Somente os justos que estiverem vivos, na ocasião do retorno de Jesus,
não morrerão. Nesse dia, a imortalidade tão sonhada pelo ser humano será
uma realidade para aqueles que creram em Jesus ( Jo 5:28-29; 2 Tm 2:10).
É por isso que a Bíblia apresenta a morte, também, como uma encruzilhada.
Depois dela, por ocasião da ressurreição, as pessoas irão a outra vida ou a
outra morte: E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para
a vida eterna e outros para vergonha e desprezo eterno (Dn 12:2). Depois da
morte, não haverá uma segunda oportunidade. Por isso, vivamos os nossos
dias, aqui, de maneira sensata, justa e piedosa (...) enquanto aguardamos a ben-
dita esperança: a gloriosa manifestação do nosso grande Deus e Salvador, Jesus
Cristo (Tt 2:12-13 – NVI).

O Doutrinal | 267
II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. A certeza da morte é um alerta sobre a fragilidade do ser humano.


Gastamos pouco tempo refletindo e pensando sobre a nossa própria
fragilidade, que é a causa principal da nossa morte. Porém, Deus sabe que a
nossa estrutura física é pouco vigorosa: Pois ele conhece a nossa estrutura; lem-
bra-se de que somos pó (Sl 103:14; cf. 39:4, 89:47). Todos somos como a erva,
que brota pela manhã, que cresce e se abre em flor e, à tarde, seca e morre (Sl
49:12, 78:39, 90:5-6, 103:15-16; Is 40:6-7, 51:12; 1 Pd 1:24). Hoje, estamos
cheios de saúde, de vigor e força; amanhã, estamos débeis, fracos e doentes,
numa cama. Hoje, somos alegres; amanhã, estamos tomando remédio para
dormir, para comer, para viver. O ser humano é isto: fragilidade. Contudo,
ainda que a nossa mente e o nosso corpo enfraqueçam, Deus é a nossa força:
... é ele quem mantém todas as pessoas com vida ( Jó 12:10; cf. Sl 36:6, 66:9 –
NTLH). Agradeçamos-lhe, porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos
(At 17:28; cf. Sl 73:26).

2. A certeza da morte é um alerta sobre a brevidade do ser humano.


A nossa vida passa como um relâmpago. Os mais jovens quase não se
dão conta disso; mas, com o passar do tempo, vão observar os fatos com
mais realismo e clareza. A vida é tão breve e curta como um sonho (Sl
73:20), um sono (Sl 90:5), um palmo (Sl 39:5), um vapor (Tg 4:14), uma
sombra (Ec 6:12), um vento ( Jó 7:7). A brevidade da vida e a certeza da
morte fazem-nos social e universalmente iguais. Assim, que a brevidade
da sua vida seja usada como uma exortação, para que você se arrependa
dos seus pecados secretos e os confesse, pois devemos viver e morrer para a
glória Deus: ... portanto, durante o resto da vida de vocês, aqui na terra, tenha
respeito a ele (1 Pd 1:17 – NTLH). Lembremo-nos sempre de que somos
estrangeiros de passagem por este mundo (1 Pd 2:11; Hb 11:13).

3. A certeza da morte é um alerta contra a arrogância do ser humano.


O ser humano, devido ao pecado, é inclinado a viver cheio de autossufi-
ciência e de autoconfiança; julga-se capaz de realizar seus desejos e projetos,
ignorando a vontade e o propósito de Deus. O orgulho leva as pessoas a se
julgarem donas de seus destinos, de seus talentos, de suas decisões, de seu
presente, de seu amanhã, de suas riquezas, e faz que questionem se Deus

268 | Estudo 24 - A mor talidade da alma


é necessário para elas. Para evitar isso, atente para o alerta da Bíblia: Não
sabeis o que acontecerá no dia de amanhã. O que é a vossa vida? (Tg 4:14, cf. 13-
16). Atentou? Então, evite todo sonho e todo plano que nasça da soberba
e da vaidade: Não conte vantagem a respeito dos seus planos para o futuro, pois
você não sabe o que vai acontecer amanhã (Pv 27:1 – NTLH). Que o Senhor
o ajude a depender dele constantemente. Suplique-lhe proteção contra a
soberba, pois esta nos engana e nos derruba (Sl 19:13). Afirme sempre: Se o
Senhor quiser, viveremos e faremos isto ou aquilo (Tg 4:15 – NVI).

Conclusão
Concluímos este estudo trazendo novamente à memória que o ser hu-
mano foi formado do pó da terra. Foi somente após receber o fôlego de vida
que ele se tornou uma alma vivente. Dessa maneira, conforme aprendemos,
nossa constituição é: corpo + espírito = alma vivente. A alma é o ser total e
nada mais que isso. Foi a fusão corpo + espírito que transformou o homem
em um ser vivo. Com a entrada do pecado, ele começou a morrer. Na morte,
em sua totalidade, o ser humano deixa de existir. Não vai para um estado
intermediário consciente, mas para a sepultura, num estado de inconsci-
ência. Ali, na sepultura, é uma alma morta. Fica nesse estado até o dia da
ressurreição, para a vida eterna ou para a segunda morte.
Estudar sobre essas certezas constitui-se um alerta vigoroso sobre a fra-
gilidade e a brevidade do ser humano; também é um alerta contra a sua arro-
gância. Cientes disso, devemos orar como o salmista orou: Ensina-nos a contar
os nossos dias para que alcancemos coração sábio (Sl 90:12). No próximo estudo,
meditaremos sobre o dia da crucificação e ressurreição de Jesus. Esses dias, o da
crucificação e o da ressurreição de Cristo, para nós, crentes em Jesus, são
incrivelmente cheios de significado. Neles, a nossa vitória sobre a morte foi
decretada e confirmada, através do que o Senhor Jesus fez. Vale a pena estudar
sobre esses acontecimentos. Faça isso. Não deixe de ler o próximo estudo!

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Gênesis 2:7


A. O ser humano possui aspectos físicos e materiais, bem como uma
parte imaterial, em sua constituição. Que partes são estas?

O Doutrinal | 269
B. Segundo esse texto, qual o resultado da soma das partes materiais e
imateriais do ser humano? O que ele “se torna”?

02. Leia Deuteronômio 10:22; Ezequiel 18:4; Atos 2:41


A. O ser humano “tem” uma alma ou “é” uma alma? Fundamente-se
nos textos acima?
B. Podemos dizer que as Escrituras enxergam o ser humano como
uma unidade?

03. Leia Gênesis 2:16-17, 3:6-7, 19


A. Qual foi a ordem de Deus dada ao ser humano? Ele lhe obedeceu?
B. Qual foi a consequência dessa desobediência?

04. Leia 1 Coríntios 15:56; Salmo 89:48


A. De onde vem o poder venenoso da morte? Qual é o seu aguilhão?
B. Com exceção dos justos que estiverem vivos por ocasião do retorno
de Cristo, com que certeza todo ser humano caminha nesta terra?

05. Leia Eclesiastes 12:7; Tiago 2:26


A. O que é a morte?
B. Q ue dissolução na constituição humana provoca a morte, segundo
as Escrituras?

06. Leia Jó 33:14, 18; Salmo 28:1, 30:9, 88:4; Daniel 12:12
A. Depois da morte, qual é o destino imediato de todo ser humano?
B. O que aguarda o ser humano, depois da morte?

07. Leia 1 Coríntios 15:6; Isaías 38:18 e 1 Tessalonicenses 4:13; Eclesiastes 9:5,10
A. Com o que a Bíblia compara a morte?
B. O que essa comparação nos ensina sobre o estado dos mortos?

Falta a página de
anotações

270 | Estudo 24 - A mor talidade da alma


Estudo 25

Os dias da crucificação
e da ressurreição de Jesus

... o Filho do homem estará três dias e três


noites no coração da terra. (Mt 12:40b)

Introdução
No estudo anterior, que tem por título A mortalidade da alma, tratamos
acerca da natureza, da finitude e do destino da alma. De acordo com o que
pudemos estudar, vimos que o ser humano não tem uma alma, mas é uma
alma. A fusão entre corpo e espírito tornou isso possível (Gn 2:7). Sendo
assim, quando o ser humano morre, a alma morre. Por causa do pecado, não
possuímos a imortalidade (Gn 2:17). A Bíblia diz que, na morte, o nosso cor-
po voltará para o pó da terra, de onde veio, e o nosso espírito voltará para Deus,
que o deu (Ec 12:7 – NTLH). Depois disso, o ser humano, quer tenha sido
justo ou ímpio, deixa de ser alma vivente e vai para a sepultura. Ali, fica até
o dia da sua ressurreição.
No presente estudo, Os dias da crucificação e da ressurreição de Jesus, tra-
taremos dos acontecimentos descritos nos evangelhos acerca dos últimos
momentos de Jesus, antes, durante e depois da sua crucificação, morte e
ressurreição. Esses dois dias, o da crucificação e o da ressurreição, para nós,
crentes em Jesus, são incrivelmente cheios de significado. Neles, a nossa vi-
tória sobre a morte foi decretada e confirmada, através do que o Senhor fez.
Nosso objetivo é mostrar quando essas coisas aconteceram. Verifiquemos
essa doutrina na palavra de Deus.

O Doutrinal | 271
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Talvez o estudante pergunte: “Por que um estudo só para descobrir os


dias em que Jesus morreu e ressuscitou?”. O estudo se faz necessário porque
a maioria dos cristãos, em todo o mundo, diz que Jesus morreu em uma
sexta-feira e ressuscitou num domingo. E mais: utilizam-se desse argu-
mento para validar a observância do domingo em lugar do sábado. Mesmo
que isso tivesse realmente acontecido, não significaria, em hipótese alguma,
que o domingo deve ser guardado como dia de descanso. Se o dia da sua
ressurreição serve de base para confirmar o dia a ser observado, este, então,
continua sendo o sábado, como veremos na sequência.
1. O dia da crucificação de Jesus: Há uma estreita relação entre a antiga
páscoa dos judeus e a morte de Jesus. A afirmação de Paulo: Cristo, nossa
páscoa, foi sacrificado por nós (1 Co 5:7b), fortalece ainda mais essa relação,
pois, como cordeiro pascal, Jesus morreu por ocasião da celebração des-
sa importante festa. A páscoa era a primeira festa do calendário judaico.
Acontecia no mês de abibe ou Nisã (Dt 16:1). Era celebrada todo ano, no dia
catorze do primeiro mês, ao entardecer (Lv 23:5). Foi instituída pelo próprio
Senhor, por ocasião da libertação do seu povo da terra do Egito (Ex 12:1-
14). Segundo as instruções divinas, no dia 10 de abibe, o cordeiro deveria
ser separado para o sacrifício, que acontecia no dia 14 do mesmo mês, ao
entardecer (Êx 12:1-11).
A cada ano, ao comemorarem a páscoa, as famílias de Israel celebravam
ao Senhor pela libertação do cativeiro egípcio. No dia seguinte à Páscoa, dia
15 de abibe, era celebrado o primeiro dia da Festa dos Pães Asmos: E aos
quinze dias deste mês é a festa dos pães asmos do Senhor: sete dias comereis pães
asmos (Lv 23:6). A Festa dos Pães Asmos se estendia até o dia 21 de abibe,
fazendo com que a festa toda (a da páscoa e a dos pães asmos) durasse oito
dias. Essas duas festas eram tão estreitamente ligadas uma a outra que, pela
época do Novo Testamento, o período todo dos oito dias de celebração, às
vezes, era chamado de “Páscoa” e, às vezes, de “Festa dos Pães Asmos”. Um
exemplo disso é o texto de Lucas capítulo 22: Estava próxima a festa dos pães
asmos, chamada páscoa (v. 1). Observe que, aqui, os dois termos são usados
como sinônimos. Precisamos entender muito bem essas questões, pois serão
fundamentais para descobrirmos o dia da morte de Jesus.

272 | Estudo 25 - Os dias da crucificação e da ressurreição de Jesus


É muito claro, pela leitura de todos os evangelhos, que Jesus foi traído
e preso na mesma noite em que ceou com os seus discípulos. Sobre os pre-
parativos para essa noite, Mateus, Marcos e Lucas registram: E no primeiro
dia dos pães asmos, quando se fazia o sacrifício do cordeiro pascal, disseram-
-lhe seus discípulos: Onde queres que vamos fazer os preparativos para comeres
a páscoa (Mc 14:12 – grifo nosso –; cf. Mt 26:17; Lc 22:7). O primeiro dia
dos Pães Asmos não era o dia de se sacrificar o cordeiro pascal. Isso aconte-
cia no dia da Festa da Páscoa, isto é, em 14 de abibe. Todavia, conforme já
explicamos anteriormente, “Festa dos Pães Asmos” e “Festa da Páscoa” são
termos usados como sinônimos, no Novo Testamento. Este é o caso, aqui.
O primeiro dia da Festa dos Pães Asmos, nesse texto, é, na verdade, o dia
da Festa da Páscoa.
Surge, portanto, uma pergunta: Jesus e os discípulos comeram a Páscoa
regular do dia 14 de abibe? O apóstolo João, sobre essa mesma noite, diz:
Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que era chagada a sua hora... ( Jo
13:1). Em outra versão, esse texto está assim: Faltava somente um dia para a
Festa da Páscoa (NTLH). Nessa noite, Jesus foi preso. O evangelho de João
narra que, depois, levaram Jesus da casa de Caifás para o pretório. Era cedo de
manhã. Eles não entraram no pretório para não se contaminarem, mas poderem
comer a páscoa ( Jo 18:28). Então, de acordo com essa narrativa, os líderes
religiosos ainda não haviam comido a páscoa. Isso mostra, de forma muito
clara, que a páscoa que Jesus comeu não foi a mesma que os líderes religio-
sos de Jerusalém comeram.
Lendo, porém, os outros três evangelhos, notamos que o dia em que
Jesus ceou com seus discípulos era o dia em que o cordeiro pascal era
sacrificado, isto é, o dia da Páscoa. Afinal, em qual dia Jesus ceou a Pás-
coa? Precisamos entender algumas questões relativas a essa celebração.
Por ocasião da sua instituição, a páscoa era uma cerimônia essencialmente
doméstica. Eram os próprios anciãos de Israel que sacrificavam o cordei-
ro em suas casas, segundo as suas famílias (Êx 12:21). Com o passar do
tempo, porém, a páscoa deixou de ser uma cerimônia familiar para ser
uma cerimônia pública (Dt 16:1-7). Assim como nos dias de Ezequias
(2 Cr 30:1-27) e Josias (2 Cr 35:1-19), na época do Novo Testamento, o
cordeiro era abatido no templo, pelo sacerdote. Depois do abate do ani-
mal, a refeição podia ser consumida, dentro de qualquer casa, nos limites
da cidade de Jerusalém. Qualquer grupo que quisesse se reunir e celebrar

O Doutrinal | 273
a Páscoa, como se fosse uma família, poderia fazê-lo. Esse foi o caso de
Jesus com os seus discípulos.
Na época do rei Josias, só este ofereceu mais de trinta mil animais para
serem sacrificados na Páscoa (2 Cr 35:7). No período do Novo Testamento,
esse número aumentou expressivamente. Cerca de duzentos e cinquenta
mil cordeiros eram sacrificados. Para que todos eles fossem mortos até o
pôr-do-sol1 do dia 14 de abibe (Êx 12:6), haveria a necessidade de centenas
de sacerdotes realizando tal tarefa. Na prática, seria quase impossível que
eles conseguissem sacrificar tantos cordeiros em tão pouco tempo. Imagi-
nemos também o número assustador de pessoas que circulavam pela área
do templo, nesse período de tempo, a maioria querendo sacrificar o seu
cordeiro para poder comer a refeição da Páscoa.
Havia algo que ajudava a aliviar ou amenizar todo esse tumulto. É bem
provável que os sacrifícios fossem realizados em mais de um dia, isso por
causa da existência de duas maneiras diferentes de se comemorar a Páscoa.
Os judeus da Galileia, em estrita conformidade com Êxodo 12, sacrifica-
vam o cordeiro no início do dia 14 de abibe, segundo a contagem oficial
do calendário, e comiam a refeição pascal na noite desse mesmo dia,2 en-
quanto os judeus que moravam em Jerusalém e nos distritos circunvizinhos
(provavelmente, toda a Judeia) seguiam um plano diferente: sacrificavam
o cordeiro pascal no fim do dia 14 de abibe, comendo, assim, a refeição da
páscoa na noite do dia 15 de abibe. Isso explica por que Jesus e seus discípu-
los – todos galileus, com exceção de Judas – comeram a páscoa numa noite
e, ao amanhecer, os líderes judeus – todos habitantes de Jerusalém – ainda
não haviam celebrado a Páscoa.3
Um texto que merece nossa consideração é João 19:14. Esse texto diz
que o dia em que Jesus foi crucificado era a o dia da preparação da Páscoa.
Fica bem evidente que, quando Jesus foi crucificado, a Páscoa oficial, ou
seja, a de Jerusalém, ainda não havia acontecido. Observe o termo “prepa-
ração da páscoa”. Os discípulos o usaram no dia anterior ao da morte de
Jesus (Mt 26:19; Mc 14:12). O dia chamado de “preparação da Páscoa” era

1. Alguns pensam que seja o período entre o pôr-do-sol e a escuridão da noite, isto é, entre 18h a 19h; outros, entre
a hora em que o sol começa a declinar e o pôr-do-sol, isto é, entre 15h a 17h (Ryrie, 1991:95).
2. Precisamos lembrar que os dias se iniciavam com o pôr-do-sol. As horas da noite eram as primeiras do dia.
3. MacArthur (2003:36).

274 | Estudo 25 - Os dias da crucificação e da ressurreição de Jesus


o dia em que os cordeiros eram mortos.4 Então, fica claro, pela comparação
dos outros evangelhos com o de João, que havia dois dias em que os pre-
parativos eram feitos, os cordeiros eram mortos e a páscoa era comida. Ao
entardecer do dia em que Jesus foi crucificado, os líderes religiosos e os ju-
deus em geral, especialmente os que moravam em Jerusalém, sacrificaram o
cordeiro pascal e celebraram sua páscoa, ao passo que Jesus e seus discípulos
o fizeram na noite anterior.
Devemos lembrar, também, que os evangelhos de Mateus, Marcos e
Lucas revelam o plano das autoridades judaicas para matar Jesus antes das
festividades da Páscoa (Mt 26:3-5; Mc 14:1-2; Lc 22:1-6). Eles consegui-
ram. Portanto, em suma, podemos afirmar que Jesus foi crucificado na tarde
do dia 14 de abibe, e, após o pôr-do-sol, já no dia 15 de abibe, os judeus
de Jerusalém e distritos circunvizinhos comeram a Páscoa. É bem provável
que, pela hora em que Jesus expirou, entregando o seu espírito nas mãos
do Pai, os cordeiros estivessem sendo mortos no templo. Enquanto para
os habitantes de Jerusalém aquele era um dia festivo e de celebração, pela
libertação da escravidão do Egito, para os seguidores de Jesus, aquele era
um dia triste, pela morte do seu Senhor. Todavia, por causa desse aconte-
cimento, hoje, podemos celebrar, triunfantemente, pois Cristo nos libertou
da escravidão do pecado.

4. Daniel-Rops (1986:230).

O Doutrinal | 275
O dia em que Jesus foi crucificado - a questão da Páscoa
Jesus morreu no dia 14 de abibe, o dia em que o cordeiro pascal era sacrificado (Jo 19:14).

Ao anoitecer, Jesus sentou- Depois de preso, Jesus foi levado


se à mesa com os dozes ao sumo sacerdote (Mc 14:53) e, Jesus morreu por volta da hora
Os discípulos prepararam a para celebrar a Páscoa (Mt durante toda a noite, julgado pelo nona, às três da tarde (Mt 27:46-
Páscoa como Jesus ordenara 26:20; Mc14:14-17). sinérdrio: "Julgamento Religioso" 50). Nesta tarde, por volta da hora
(Mt 26:19), isto é, foram até Esta ceia aconteceu "antes (Mt 27:57-75; Mc 14:53-72; Lc em que Jesus expirou, os cordeiros
o templo, no final da tarde da Páscoa" (Jo 13:1), isto 22:54-71; Jo 18:13-27). começavam a ser sacrificados no
do dia 14 de abibe, com o é, antes da Páscoa dos templo para a comemoração da
cordeiro pascal. O cordeiro foi Judeus de Jerusalém. Páscoa dos judeus de Jerusalém.
morto para, à noite, ser assado Quando amanheceu
e comido. Pães asmos, ervas o dia, Jesus foi
Depois da ceia, saíram para
amargas e vinho também faziam levado diante de Jesus foi crucificado (Mt 27:32-
o Monte das Oliveiras (Mt
parte da refeição. Pilatos: "Julgamento 56; Mc 15:21-41; Lc 23:33-49; Os judeus de Jerusalém
26:30; Mc 14:26). Foram
Político"(Mt 27:1-2; jo 19:17-37). Sua crucificação e distritos circunvizinhos
para o Jardim Getsêmani
11-26; Mc 15:1- ocorreu por volta da hora terceira, comiam a Páscoa.
Os discípulos interrogam Jesus (Mt 26:36; Mc 14:32). Nesta
15; Lc 23:1-25; Jo isto é, às nove horas da manhã
sobre os preparativos da festa noite, Jesus é traído e preso
18:28-19:16). (Mc 15:25).
da Páscoa e, neste dia, fazem (Mt 26:47-53; Mc 14:43-52;
estes preparativos. Lc 22:47-56; Jo 18:1-12).
(Mt 26:17; Mc 14:12; Lc 22:7)

O dia dos preparativos da


O dia dos preparativos da Páscoa dos judeus de jerusalém.
Páscoa dos judeus da Galiléia. (Jo 13:23; 19:14)
(Mt 26:19)

276 | Estudo 25 - Os dias da crucificação e da ressurreição de Jesus


† Dia da crucificação de Jesus

13 de abibe 14 de abibe 15 de abibe


2. O dia da ressurreição de Jesus: Já sabemos que Jesus foi crucificado
no dia 14 de abibe. Veremos, agora, em que dia da semana caiu essa data,
para descobrirmos em que dia ele ressuscitou. Jesus foi crucificado por volta
da hora terceira e faleceu por volta da hora nona (Mt 27:46-50). Ao cair da
tarde desse mesmo dia, foi sepultado, como registram os evangelhos (Mt
27:57-60; Mc 15:42-46). Guardemos, portanto, esta informação: Jesus foi
sepultado pouco antes do pôr-do-sol do dia 14 de abibe. Quanto tempo ele
permaneceu no sepulcro? Talvez esse seja um dos pontos mais importantes
deste estudo. Vários textos bíblicos atestam afirmações do próprio Jesus, di-
zendo que, depois de três dias, ele ressuscitaria, indicando ser esse o tempo
em que ele ficaria no sepulcro (cf. Mt 16:21, 17:23; Mc 8:31, 9:31, 10:34;
Lc 9:22, 18:33; Jo 2:19).
Certa ocasião, os escribas e os fariseus solicitaram um sinal de Jesus
que provasse ser ele o Messias. O sinal dado foi este: ... assim como esteve
Jonas três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do Homem
estará três dias e três noites no coração da terra (Mt 12:40 – grifo nosso).
Note que Jesus foi bem específico: “três dias e três noites”. Ele não disse
parte de um dia, ou duas noites. São “Três dias e três noites” completos.
Sendo assim, para Jesus ter ficado três dias e três noites no coração da
terra (sepultado), levando em conta que foi sepultado antes do pôr-do-sol
do dia 14 de abibe, ele deveria ressuscitar antes do pôr-do-sol do dia 17
de abibe, em cumprimento de sua palavra, em Mateus 12:40. Conforme
veremos, assim mesmo aconteceu.
Diz a Bíblia que, no final do sábado, ao despontar o primeiro dia da
semana, quando as mulheres foram ao sepulcro de Jesus, ele já havia res-
suscitado (Mt 28:1, 6). Se ele ressuscitou no fim do sábado, ao entardecer, e
permaneceu três dias e três noites no coração da terra, temos de concordar
que foi colocado no túmulo na quarta-feira, momentos antes do pôr-do-
-sol. O dia 14 de abibe daquele ano, então, caiu numa quarta-feira. Esse é
o verdadeiro dia da morte de Jesus. O testemunho bíblico dos evangelhos
sustenta essa afirmação. Lucas diz o seguinte: Era o dia da preparação e o
sábado estava para começar (Lc 23:54). Marcos também utiliza a expressão
“o dia da preparação”, mas acrescenta: ... isto é, a véspera do sábado (Mc
15:42). A que dia da preparação e a que sábado Lucas e Marcos se referem?
Para entendermos, voltemos a algumas questões relacionadas à instituição
da festa da Páscoa.

O Doutrinal | 277
O dia 14 de abibe era o dia oficial da comemoração, como vimos an-
teriormente. O dia seguinte, 15 de abibe, era o primeiro da Festa dos Pães
Asmos, que durava sete dias (Êx 12:15). Acontece que o primeiro e o úl-
timo dia da Festa dos Pães Asmos, dias 15 e 21 de abibe, eram de santa
convocação: nenhuma obra servil era feita (Lv 23:4-8). O primeiro e o sétimo
dia dessa festa eram de descanso, considerados sábados, quando acontecia
uma cerimônia religiosa. Lembremos que um dos significados do verbo
hebraico shâbat é, tão somente, “descanso”. No calendário judaico, alguns
dias de festa e de repouso eram considerados sábados (Hb. shâbat), sem,
necessariamente, caírem no sábado semanal, o sétimo dia da semana (cf.
Lv 23:24, 32).5 Esse é o mesmo caso do dia 15 de abibe, o primeiro dia da
Festa dos Pães Asmos. Quando os autores dos evangelhos se referem ao
sábado após o dia da morte de Jesus, não têm em mente o sétimo dia da
semana, mas um sábado de festa, o dia 15 de abibe, o primeiro dia da Festa
dos Pães Asmos.
Podemos constatar a veracidade dessa informação pelas seguintes ra-
zões: Em primeiro lugar, por causa do evangelho de João. O evangelista faz
questão de frisar, quando se refere a esse sábado: ... era grande o dia daquele
sábado ( Jo 19:31). A Almeida Século 21 traduz esse texto assim: ... aquele
sábado era especial. A NVI, desta forma: ... seria um sábado especialmente sa-
grado. O sábado a que João se refere não é o de uma semana regular, mas
um sábado especial, por causa das festividades.6 O mesmo João, um pouco
antes, escreveu sobre o dia da preparação que antecedeu esse sábado: ... era o
dia da preparação da Páscoa (19:31). Então, o “dia da preparação” a que os ou-
tros evangelhos se referem não é uma sexta-feira, mas, simplesmente, o dia
da preparação da Páscoa, dia 14 de abibe, que antecedia o grande sábado, 15
de abibe. O dia 14 era considerado como “o dia da preparação” por ser o dia
em que o cordeiro era morto e assado para ser comido na comemoração da
Páscoa. Na época do Novo Testamento, pães Asmos, vinho, ervas amargas e
condimentos também eram providenciados para a ceia, nesse dia.
Em segundo lugar, afirmamos que o sábado do dia posterior ao sepulta-
mento de Jesus não era o sábado semanal por causa da prudência da narrati-
va de Mateus, ao se referir a esse dia. Observe o que ele diz: No dia seguinte,

5. Vaux (2003:512).
6. Dake (2009:1555).

278 | Estudo 25 - Os dias da crucificação e da ressurreição de Jesus


que é o dia depois da preparação (27:62). O texto em questão é o que narra o
momento em que os principais sacerdotes e fariseus reuniram-se diante de
Pilatos para pedir que o túmulo de Jesus fosse guardado até o terceiro dia.
Isso aconteceu no dia seguinte ao seu sepultamento. Note a maneira com
que Mateus se refere a esse dia: o “dia depois da preparação”. Se esse era
um sábado regular, por que o evangelista não disse simplesmente “sábado”?
Outro detalhe interessante, nesse texto, é que Mateus diz que eles fizeram
esse pedido “no outro dia” (Mt 27:62). Se “o outro dia”, aqui, fosse o sábado
semanal e Jesus tivesse ressuscitado no domingo cedo, então, o pedido dos
líderes religiosos para que o túmulo fosse guardado até o terceiro dia não
faria sentido; bastaria dizer “até amanhã”. É óbvio que, na mente daqueles
líderes, ainda faltava mais de um dia para o momento em que Jesus disse
que ressurgiria (no terceiro dia). A quinta-feira é, portanto, o dia que mais
se encaixa neste contexto.
Em terceiro lugar, um fato que também mostra que o sábado posterior
ao sepultamento de Jesus não era o sábado semanal é uma aparente con-
tradição entre os textos de Marcos 16:1 e Lucas 23:56. Marcos diz que
as mulheres compraram as essências aromáticas após o sábado, enquanto
Lucas diz que elas prepararam essas essências antes do sábado, e, no sábado,
descansaram, conforme o mandamento. Fica claro, por esses textos, que
essa semana teve dois sábados: o cerimonial (dia 15 de abibe) e o semanal,
o sétimo dia da semana. O sábado cerimonial caiu numa quinta-feira. As
mulheres compraram as essências depois desse dia, numa sexta-feira, e, no
sábado semanal, descansaram conforme o mandamento.
Em quarto e último lugar, o sábado posterior ao sepultamento de Jesus
não era o sábado semanal porque, como já afirmamos, de acordo com os
evangelhos, foi esse o dia em que Jesus ressuscitou. O evangelho de Mateus
diz: No findar do sábado, ao entrar o primeiro dia da semana, Maria Madalena
e a outra Maria foram ver o sepulcro (28:1; cf. Mc 16:2; Lc 24:1-2; Jo 20:1).
As expressões “no findar do sábado” e “ao entrar o primeiro dia da semana”
devem ser bem entendidas. Revelam o momento em que as mulheres foram
ver o sepulcro e não o momento da ressurreição de Jesus, pois, quando elas
chegaram lá, ele não estava mais ali, ressuscitou como havia dito (Mt 28:6). Je-
sus já havia ressuscitado, o que significa que isso aconteceu antes do “findar
do sábado” e do “entrar do primeiro dia da semana”. É interessante a ex-
pressão “como havia dito”, pois nos remete a Mateus 12:40. Ali, Jesus diz: ...

O Doutrinal | 279
assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra, ou seja,
exatamente, um pouco antes do pôr-do-sol do sábado, conforme cremos.
O texto bíblico que parece contradizer esse argumento é Marcos 16:9,
que diz: Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana,
apareceu primeiro a Maria Madalena (ARA). Essa tradicional versão bíbli-
ca, juntamente com outras, como a ARC, colocam a vírgula deste texto
no lugar errado, dando a entender que Jesus ressuscitou no domingo. Nas
versões bíblicas NVI e Almeida Século 21, isso não acontece. Nelas, os
tradutores respeitaram o sentido do texto grego e colocaram a vírgula
após o verbo “ressuscitar”. O texto está assim: Quando Jesus ressuscitou,
na madrugada do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria
Madalena (NVI). Com essa construção, o versículo ainda pode ser enten-
dido de duas maneiras: “a madrugada do primeiro dia da semana” pode
tanto indicar o dia da ressurreição quanto o dia do aparecimento de Jesus
a Maria Madalena.
Estamos certos de que a última opção é a verdadeira. O que nos dá ain-
da mais certeza é o texto grego. Nele, há uma conjunção adversativa (δε)7,
entre as sentenças “Havendo Jesus ressuscitado” e “na madrugada do pri-
meiro dia da semana, apareceu ...”. Uma conjunção adversativa tem como
função firmar uma divergência de sentido entre duas sentenças. Fica muito
claro pelo texto grego que “a madrugada do primeiro dia da semana” diz
respeito, não ao dia da ressurreição (que aconteceu no final do sábado), mas
ao dia do aparecimento de Jesus a Maria Madalena. A conjunção adversa-
tiva entre as sentenças não deixa dúvidas quanto a isso. Veremos, a seguir,
baseados nesses eventos, a crucificação e a ressurreição de Cristo, importan-
tes certezas para a nossa vida cristã.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Cristo morreu e ressuscitou: estejamos cientes da nossa reconciliação.


A morte e a ressurreição de Jesus são a garantia de que não mais vivemos
em inimizade com o Pai. Por sua morte, Cristo se tornou o mediador entre
Deus e os homens (1 Tm 2:5). Se, antes, estávamos distantes, sem esperança e

7. A conjunção adversativa δε pode ser traduzida por: mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto.

280 | Estudo 25 - Os dias da crucificação e da ressurreição de Jesus


Cronograma dos dias da CRUCIFICAÇÃO e ressurreição de jesus Os discípulos que iam a caminho de
Emaús, voltaram a Jerusalém para
Jesus morreu no dia 14 de abibe, uma quarta-feira , e ressussitou no dia 17 de abibe, no final de um sábado. contar aos discípulos que haviam visto
Jesus, mas estes não creram (Mc 16:12-
Depois do sábado, quando 13; Lc 24:33).
Na tarde daquele dia, o primeiro da
já despontava o primeiro semana, Jesus pôs-se no meio dos dis-
dia da semana, as mulheres cípulos (Jo 20:19).
foram ao sepulcro e a pedra
No outro dia, isto é, o dia seguinte já estava removida (Mt Jesus apareceu aos discípulos que
Ao cair da tarde deste dia, à preparação, os principais sacer- 28:1-2; Mc16:2-4; Jo 20:1). iam a caminho de Emaús (Lc 24:13-
Jesus foi sepultado (Mt dotes e fariseus reuniram-se diante 32). Eles disseram: Já faz três dias
27:57-60; Mc 15:42-46). de Pilatos pedindo que o túmulo que estas coisas aconteceram, isto é,
fosse guardado (Mt 27:62). Passado o sábado (O SÁBADO As mulheres prepararam as TRÊS DIAS COMPLETOS.
Eles pediram para que o sepulcro ESPECIAL), as mulheres com- essências, no sábado, des-
Jesus morreu por fosse guardado até o terceiro dia praram essências para ungir cansaram conforme o man- Tendo ressuscitado, porém,
volta da hora (Mt 27:64). o corpo de Jesus (Mc 16:1). damento (Lc 23:56). Jesus ressuscitou no cedo no primeiro dia da
nona, isto é, às final do sábado, an- semana, Jesus apareceu a
três da tarde (Mt tes do pôr-do-sol. Maria Madalena (Mc 16:9).
27:46-50).

† Dia da morte
de Jesus
1a Noite 1o Dia 2a Noite 2o Dia 3a Noite 3o Dia

Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira Sábado (7a dia da semana) Domingo


14 de abibe 15 de abibe 16 de abibe 17 de abibe 18 de abibe
"o dia do "o sábado especial" "o dia da ressurreição" "o dia da APARIÇÃO"
sepultamento" Jo 19:31 Mt 23:1

O Filho do homem estará três dias e três noites no coração da terra (Mt 12:40).

O Doutrinal | 281
sem chance alguma de vida eterna, por causa do pecado (Is 59:2), hoje, pode-
mos nos alegrar, pois a cruz de Cristo nos aproximou de Deus, de modo que,
com ela, fomos reconciliados, conforme nos afirma o texto: Agora, porém, vos
reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte (Cl 1:22a). Cristo nos re-
conciliou porque nos ama. A sua vontade é que vivamos sempre próximos dele.

2. Cristo morreu e ressuscitou: estejamos certos da nossa libertação.


No princípio, Adão e Eva eram perfeitos. Mas essa história mudou,
quando, em desobediência ao mandamento de Deus, eles se alimentaram
do fruto proibido. Por causa disso, ambos e toda a sua descendência se tor-
naram escravos pelo pecado. Porém, Deus, através da morte e da ressurrei-
ção do seu Filho, tornou-lhes possível a libertação dessa escravidão. Diante
disso, quando cremos em Cristo, o pecado já não tem mais domínio sobre
nós (Rm 6:14a). Nós fomos libertos do pecado e nos tornamos servos de
Deus, para fazer o que é direito.

3. Cristo morreu e ressuscitou: estejamos seguros da nossa glorificação.


Jamais podemos negar que somos pecadores (1 Jo 1:8). É por isso que
não praticamos apenas as obras do Espírito, mas, também, as da carne. O
nosso corpo é imperfeito e mortal e nem sempre a nossa mente está ali-
cerçada nas boas intenções. Porém, se sabemos que Cristo morreu e res-
suscitou, temos segurança de que, um dia, ele transformará o nosso corpo
corruptível em incorruptível. O poder do pecado não mais habitará em nós.
Seremos glorificados e Cristo transformará o nosso corpo abatido, para ser
conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si
todas as coisas (Fp 3:21).

Conclusão
Diante de tudo que vimos, neste estudo, realmente não faz sentido al-
gum dizer que Jesus foi morto na sexta-feira e ressuscitado no domingo. Se
ele tivesse sido sepultado ao entardecer da sexta-feira, a sua ressurreição,
obviamente, teria de ocorrer, não no domingo cedo, mas no pôr-do-sol de
segunda para a terça. Isso teria de ser assim para que a predição de Jesus
se cumprisse plenamente (Mt 12:40). Sendo assim, a única possibilidade
bíblica é esta: Cristo foi crucificado no dia 14 de abibe, em uma quarta-
-feira, dia da preparação da Páscoa. Nesse mesmo dia, antes do pôr-do-sol,

282 | Estudo 25 - Os dias da crucificação e da ressurreição de Jesus


foi sepultado e, depois de três dias e três noites no seio da terra, ressuscitou,
no sábado, pouco antes do pôr-do-sol, provando, com este importante fato,
que ele é verdadeiramente o messias, o salvador da humanidade.
O próximo estudo, que tratará sobre a segunda vinda de Cristo, é, de
igual modo, muito importante para o nosso crescimento espiritual. Pouco
antes de sua morte, Jesus disse: Eu voltarei ( Jo 14:3). Uma vez que é certo
que o Senhor virá mesmo para buscar aqueles que o aguardam para a sal-
vação, vale a pena dedicar atenção ao que as Escrituras Sagradas ensinam
acerca da natureza, da garantia, da maneira, do propósito e da espera dessa
vinda. Portanto, aproveite o próximo estudo para crescer no conhecimento
do Senhor Jesus.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Levítico 23:4-8; Êxodo 12:1-6, 15-18; Deuteronômio 16:1


A. Quando a festa da Páscoa era comemorada? Que preparativos eram feitos?
B. No dia seguinte à Páscoa, que outra festa importante se iniciava? Esta
festa se estendia até que data? Como era considerado o primeiro e o
sétimo dia desta festa?

02. Leia Lucas 22:1; 1 Coríntios 5:7 e Lucas 22:7


A. A Festa dos pães sem fermento e a Páscoa, na época do Novo
Testamento, eram tratadas como?
B. Q ual a relação da morte de Jesus com a Páscoa? Em que dia Jesus
ceou com seus discípulos e foi preso?

03. Leia João 13:1, 18:28, 19:14


A. Como podemos conciliar esses textos com os dos outros evangelhos?
Existia mais de um dia de comemoração da Páscoa?
B. Como os judeus da Galileia e de Jerusalém comemoravam a Páscoa?
Quando Jesus morreu, os judeus de Jerusalém já haviam comido
a Páscoa? Por ocasião da sua morte, o que estava acontecendo, no
templo de Jerusalém?

O Doutrinal | 283
04. Leia Mateus 27:46-50, 57-60
A. Já sabemos que Jesus morreu dia no 14 de abibe. O que esses textos
dizem sobre a hora da sua morte?
B. E sobre o seu sepultamento, a que horas aconteceu?

05. Leia Mateus 12:40


A. Quantos dias e quantas noites Jesus disse que ficaria sepultado?
B. Levando em conta que ele foi sepultado no pôr-do-sol do dia 14, em
que dia teria de ressuscitar, para cumprir o que prometera?

06. Leia Mateus 28:1,6


A. Em que dia e a que hora as mulheres foram ao sepulcro?
B. Q uando elas chegaram, Jesus estava lá? Se ele ressuscitou no final do
sábado, então, quando foi sepultado?

07. Leia Lucas 23:55; Marcos 15:42, 16:9


A. Q ue sábado era esse, que estava para começar, quanto Jesus
foi sepultado?
B. A “madrugada do primeiro dia da semana”, de Marcos 16:9,
diz respeito ao momento da ressurreição ou ao momento do
aparecimento de Jesus a Maria Madalena? Justifique sua resposta.

Anotações

284 | Estudo 25 - Os dias da crucificação e da ressurreição de Jesus


Estudo 26

A segunda vinda
de Cristo

... virei outra vez e vos levarei para mim, para que
onde eu estiver estejais vós também. (Jo 14:3)

Introdução
No último estudo, que tratou sobre o dia da crucificação e da ressur-
reição de Jesus, aprendemos que a Bíblia ensina que Jesus morreu numa
quarta-feira, por volta da hora nona, isto é, às três da tarde (Mt 27:46-50),
e ressuscitou três dias depois, antes do pôr-do-sol do sábado (Mt 28:1). O
próprio Jesus havia dito, claramente, que, assim como Jonas esteve três dias e
três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do homem estará três dias e
três noites no coração da terra (Mt 12:40). De acordo com o que vimos, essas
palavras se cumpriram literalmente.
O assunto deste estudo é a segunda vinda de Cristo, a nossa maior es-
perança. Um dia, as cortinas da nossa presente história se fecharão. Jesus,
então, aparecerá no céu. Como se dará a segunda vinda de Cristo? Que
garantias são dadas pela Bíblia de que ele virá outra vez? É possível saber
quando será o advento do Senhor? De que maneira Jesus voltará? Por quais
razões ele retornará? Como devemos aguardar o seu retorno? São esses e
outros questionamentos que procuraremos responder a partir de agora.

O Doutrinal | 285
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Além de sermos “promessistas”, somos “adventistas”. Somos “promes-


sistas” porque cremos que o batismo no Espírito Santo é também para nós e
para todos quantos o Senhor nosso Deus chamar. Agora, você já se pergun-
tou por que somos “adventistas”? Somos adventistas porque acreditamos,
esperamos e anunciamos o advento. Jesus voltará! Nesse dia, quando, pois,
o Filho do homem vier na sua glória, e todos os anjos com ele, então se sentará no
seu trono glorioso; e todas as nações serão reunidas diante dele (Mt 25:31-32a).
Vejamos o que a Bíblia diz sobre a natureza, a garantia, o momento, a ma-
neira, o propósito e a espera da segunda vinda de Cristo.
1. A natureza da segunda vinda de Cristo: Jesus já veio uma vez à terra,
quando se tornou humano: E o verbo se fez carne e habitou entre nós, pleno de
graça e de verdade... ( Jo 1:14). Como isso foi possível? Tudo começou com
a sua concepção sobrenatural, resultado da atuação do Espírito Santo (Mt
1:18). Deus entrou no mundo como um bebê; cresceu como uma criança
judia normal. Durante sua vida, sentiu o que eu e você sentimos; derramou
lágrimas ( Jo 11:35); sentiu medo (Lc 22:42); teve sede ( Jo 19:28), fome
(Mt 4:2); cansou-se ( Jo 4:6).
Mas por que Jesus veio ao mundo? A Bíblia é clara em dizer que Cristo
Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores (1 Tm 1:15). Enquanto cumpria
essa sua missão salvadora, Jesus frisou, não poucas vezes, em seus ensinos,
que, realmente, viria outra vez (Mt 25:31). O Novo Testamento emprega
três palavras gregas para retratar esse evento. Embora sejam palavras técni-
cas e incomuns, nós as citaremos e as analisaremos, aqui, pois descrevem a
natureza da segunda vinda do Senhor Jesus.
Essas palavras são: parousia, apokalupsis e epiphaneia. A palavra parousia
é usada em Mt 24:3,27,37,39; 1 Ts 3:13; 2 Ts 2:8; 2 Pd 1:16, e significa estar
perto ou ao lado. Indica, também, a presença pessoal e corporal de alguém.
Era “usada no primeiro século para a visita de um imperador ou outra pes-
soa iminente”.1 A palavra apokalupsis, que aparece em Lc 17:30; 1 Co 1:7;
Cl 3:4; 2 Ts 1:7; 1 Pd 1:7, 4:13, significa descobrir, desvendar, manifestar e

1. Milne (2005:262).

286 | Estudo 26 - A segunda vinda de Cristo


revelar. Por sua vez, a palavra epiphaneia tem o sentido de trazer à luz, fazer
brilhar, mostrar (2 Tm 4:1; Tt 2:13).
2. A garantia da segunda vinda de Cristo: Na Bíblia Sagrada, a segunda
vinda de Cristo é prometida e garantida, várias vezes e em vários textos. Na
verdade, esse ensino ocorre mais vezes no Novo Testamento (318 vezes)
do que qualquer outra doutrina. Os quatro evangelhos mostram Jesus en-
sinando aos seus discípulos que a sua volta para buscar o seu povo é certa.
Do Monte das Oliveiras, eles puderam ouvi-lo pregar, de maneira objetiva e
didática, sobre esse glorioso acontecimento (cf. Mt 24:29-31; Mc 13:24-27;
Lc 21:25-28; Jo 14:27, 16:22).
Após falar de perturbações cósmicas, Jesus falou de sua vinda triun-
fante. Aquele, pois, que viveu entre nós, como um servo a serviço do Pai,
aparecerá descendo nas nuvens, com grande poder e glória, para nos buscar para
a eterna comunhão com Deus (Mc 13:26 – NTLH). Ele mesmo ordenará
aos seus anjos que reúnam os escolhidos de Deus dos quatro cantos da ter-
ra, ou seja, de um lado do mundo até o outro (Mc 13:27; cf. Jo 14:3,28). Há
garantias do retorno de Cristo, também, em quase todas as epístolas. Aos
crentes da igreja de Corinto, Paulo disse que, quando ele [Cristo] vier, os que
lhe pertencem serão ressuscitados (1 Co 15:22-23).
Aos crentes da igreja de Filipos, Paulo ressaltou: ... a nossa cidadania
(...) está nos céus, de onde esperamos ansiosamente um Salvador, o Senhor Jesus
Cristo (Fp 3:20-21 – NVI). Mas é nas duas cartas aos tessalonicenses que
encontramos as mais explícitas garantias do advento do nosso redentor (1
Ts 1:10, 2:19, 3:13, 4:13-18, 5:1-11,23; 2 Ts 1:6-10, 2:8). Além de Paulo,
Tiago, Pedro, João e Judas, igualmente, escreveram sobre a segunda vinda
do Senhor (Tg 5:7-8; 1 Pd 1:1-6, 4:7; 2 Pd 3:9; 1 Jo 3:2; Jd 21). A garantia
da volta de Jesus é, portanto, assunto fartamente comprovado nas páginas
do Novo Testamento.
3. O momento da segunda vinda de Cristo: Pouco antes de voltar
para junto do Pai, Jesus disse aos que o seguiam: ... daqui a poucos dias vocês
serão batizados com o Espírito Santo (At 1:5 – NTLH). Eles logo quiseram
saber se seria nessa época que o Senhor iria estabelecer plenamente o
seu reinado, libertando a nação deles da opressão do império romano: ...
Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel? (At 1:6b). A resposta de
Jesus foi curta e simples: Não vos compete conhecer tempos ou épocas que o Pai
reservou pela sua exclusiva autoridade (At 1:7).

O Doutrinal | 287
Os apóstolos revelam curiosidade em relação ao futuro. Mas o fu-
turo pertence a Deus, e não a eles. As coisas reveladas pertenciam a
eles e a seus filhos, para sempre, mas as encobertas pertencem só ao
Pai (Dt 29:29). Assim sendo, não tinham o direito de saber o que não
lhes fora revelado. O que as pessoas mais desejam é levantar a cortina
que separa o futuro do presente. Desde a ascensão de Jesus, sempre tem
havido pessoas tentando calcular e definir o dia, o mês e o ano de sua
volta à terra. Essas especulações desprovidas de fundamentação bíblica
já frustraram inúmeros seguidores do Senhor.
A volta de Cristo jamais deve ser objeto de dúvida, porque fiel é o que
prometeu (Hb 10:23). Porém, ainda que esse evento seja garantido de ma-
neira explícita no Novo Testamento, o tempo em que ele ocorrerá é um
segredo de Deus. Jesus falou dos sinais da sua segunda vinda, mas nada
disse sobre a data (Mt 24:1-12). Ele, na verdade, declarou que apenas o
Pai sabe o tempo exato dessa vinda: Mas a respeito daquele dia e hora nin-
guém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai (Mt 24:36). Disse,
ainda, que ela ocorrerá em momento repentino: À hora em que não cuidais,
o Filho do Homem virá (Mt 24:44).
4. A maneira da segunda vinda de Cristo: Como será a volta de Jesus?
Jesus disse que será visível, como o relâmpago que sai do oriente e se mostra
até no ocidente (Mt 24:27). Ainda afirmou que será percebida universal-
mente: Todos os povos da terra verão o Filho do Homem descendo nas nuvens
(Mt 24:30). Por ocasião da ascensão de Jesus, dois anjos também falaram
a respeito do seu retorno visível à terra: Esse Jesus que estava com vocês e
que foi levado para o céu voltará do mesmo modo que vocês o viram subir (At
1:11 – NTLH). Ele partiu e voltará, de forma visível. Além de visível, o
retorno de Jesus será pessoal.
O apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, declarou que o
Senhor regressará de modo pessoal e ruidoso: Porquanto o Senhor mesmo,
dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta
de Deus, descerá dos céus (1 Ts 4:16). O escritor de Hebreus, por sua vez,
destaca que Cristo aparecerá outra vez aos que o aguardam para a salva-
ção (Hb 9:28). O apóstolo João também explicou esse acontecimento
maravilhoso da seguinte maneira: ... eis que vem com as nuvens, e todo olho
o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão
sobre ele (Ap 1:7).

288 | Estudo 26 - A segunda vinda de Cristo


A Bíblia ainda nos mostra que o retorno de Jesus será glorioso. O pró-
prio Jesus ensina essa verdade: ... o Filho do Homem há de vir na glória de seu
Pai, com os seus anjos (Mt 16:27; Mc 8:38; Lc 9:26). Ele aparecerá sobre as
nuvens do céu, com poder e muita glória (Dn 7:13; Mt 24:30; Mc 13:26; Lc
21:27; 1 Ts 4:17; 2 Ts 1:7-9; Ap 1:7). Nesse seu glorioso retorno, a grandeza
e o senhorio daquele que abriu mão de tudo o que era seu e tomou a natureza de
servo (Fp 2:7 – NTLH) serão sobremaneira reconhecidos por todos: ... todo
joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é Senhor, para glória
de Deus Pai (Fp 2:10-11).
5. O propósito da segunda vinda de Cristo: Um dos textos da pala-
vra de Deus que ensinam sobre o propósito principal da segunda vinda de
Cristo está em Hebreus: Cristo foi oferecido uma só vez em sacrifício, para tirar
os pecados de muitas pessoas. Depois ele aparecerá pela segunda vez, não para
tirar pecados, mas para salvar as pessoas que estão esperando por ele (Hb 9:28 –
NTLH). Aqui, o autor faz alusão clara às duas vindas de Cristo à terra, cada
uma com um propósito específico. Na sua primeira vinda, houve a provisão
da salvação. Assim que o pecador crê no Senhor Jesus, os benefícios dessa
salvação começam a ser imediatamente aplicados em sua vida.
Esse pecador, então, nasce de novo; é salvo do castigo e da culpa do
pecado; fica livre da condenação eterna; é separado para Deus; torna-se
filho de Deus; passa a ser uma nova criatura; vai, enfim, pouco a pouco,
tornando-se cada vez mais santo, isto é, livre do poder do pecado em
seu coração. Diante disso, pode-se dizer que a salvação já é real na sua
vida. É real, mas não completa. A salvação teve um começo e tem um
desenvolvimento, mas não uma consumação. O pecado ainda vive nessa
pessoa convertida. Por essa razão, ela possui fraquezas morais e espiri-
tuais e experimenta intensas lutas interiores. Até tem vontade de fazer
apenas o bem, mas não consegue fazê-lo. Essas coisas serão assim, até
que o Senhor volte à terra de novo.
O conteúdo maior e pleno da experiência da salvação não está no
passado, nem no presente, mas no futuro. O último e mais belo capítulo
da história da salvação, que está condicionado à segunda vinda de Je-
sus, inclui: a ressurreição dos justos, a transformação dos crentes vivos,
a morte dos ímpios vivos, a prisão de Satanás, o milênio, a ressurreição
dos ímpios, a soltura de Satanás, a rebelião contra a cidade santa, o juízo
final, a extinção de todo mal e o estabelecimento do novo céu e da nova

O Doutrinal | 289
terra. Então, os filhos de Deus estarão livres, não apenas dos efeitos e do
poder do pecado, mas também da presença do pecado, de modo completo.
Este não mais interferirá, nem prejudicará a sua relação com Deus, com o
próximo e consigo mesmos.
6. A espera da segunda vinda de Cristo: Como aguardar a segunda
vinda de Cristo? Esta deve ser esperada com vigilância. Sempre que a
Bíblia trata desse assunto, a atitude da vigilância é requerida (Mt 24:42,
25:13; Mc 13:33; Lc 21:36; 1 Ts 5:6; Ap 16:15). Como não sabemos o dia
da volta do Noivo, devemos andar não como néscios, e sim como sábios (Ef
5:15). Os dias são maus, assim, pois, não durmamos como os demais; ao con-
trário, vigiemos e sejamos sóbrios (1 Ts 5:6).
A segunda vinda de Cristo deve ser esperada com paciência. A
ordem bíblica é esta: Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor
(Tg 5:7a). Nessa questão, devemos seguir, com atenção, o exemplo do
lavrador, que aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber
as primeiras e as últimas chuvas (Tg 5:7b). Se deixarmos a impaciência
nos dirigir, não receberemos do Senhor o galardão (Ef 6:8; Mt 5:12;
1 Co 4:5; 1 Pd 5:40), que será dado não a poucos, mas a todos quantos
amam a sua vinda (2 Tm 4:8).
Por fim, a segunda vinda de Cristo deve ser esperada com trabalho.
Ser vigilante e paciente não significa aguardar a volta de Cristo de maneira
passiva ou ociosa. Não se deve jamais imitar a atitude daqueles irmãos que
faziam parte da igreja de Tessalônica, fundada pelo apóstolo Paulo. Esses
irmãos, ao contrário do apóstolo Paulo (2 Ts 3:6-9), esperavam o dia do
Senhor preguiçosamente (2 Ts 3:10-12). Quem espera a volta de Cristo,
tem a obrigação de trabalhar, tanto pela comida que perece quanto pela que
subsiste para a vida eterna ( Jo 6:27).
Uma das verdades mais gloriosas das Sagradas Escrituras é, com ab-
soluta certeza, a que diz respeito à segunda vinda de Cristo. Todos nós,
crentes em Jesus, que fomos comprados não com coisas que perdem o
valor, como a prata ou o ouro, mas pelo seu precioso sangue, aguardamos
ansiosamente esse maravilhoso acontecimento. Apesar de não sabermos
quando ocorrerá, estamos absolutamente certos de que esse dia chega-
rá. Afinal, Jesus pessoalmente garantiu: Certamente venho em breve (Ap
22:20a). Vem, Senhor Jesus!

290 | Estudo 26 - A segunda vinda de Cristo


II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Aguardemos a volta de Cristo com toda convicção.


O apóstolo Pedro, no capítulo 3 de sua segunda carta, deixa-nos claro
que podemos ficar seguros quanto ao retorno de Cristo, pois foi Deus
quem prometeu, e ele cumpre suas promessas. Podemos ter convicção de
que o Senhor voltará e de que seremos perfeitos com ele, porque ainda
não se manifestou o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se ma-
nifestar, seremos semelhantes a ele (1 Jo 3:2 – grifo nosso). Que convicção!
Por isso, devemos viver aguardando, e desejando ardentemente a vinda do
Senhor (2 Pd 3:12), certos de que aquele que começou a boa obra em nós
vai completá-la (Fp 1:6).

2. Aguardemos a volta de Cristo com todo anseio.


O tão esperado encontro da noiva, a igreja, com o noivo, Cristo, acon-
tecerá brevemente. Um dia, que só Deus sabe, o noivo voltará e levará a
sua noiva para junto de si. Ambos, então, viverão, para sempre, na mais
absoluta e perfeita comunhão ( Jo 14:1-3). Enquanto esse dia não chega,
a noiva deve aguardar ansiosamente aquele que a amou e deu a sua vida
por ela. Assim como a corça anseia pelas águas, ela anseia pelo dia em
que ouvirá, em alto e bom som, o anúncio: Eis o noivo! Saí ao seu encontro!
[...]Fiquemos alegres e felizes! Louvemos a sua glória! Porque chegou a hora
da festa de casamento do Cordeiro, e a noiva já se preparou para recebê-lo (Mt
25:6b; Ap 19:7 – NTLH).

3. Aguardemos a volta de Cristo com toda pureza.


Enquanto aguardamos o dia feliz em que aparecerá o nosso grande
Deus e salvador Jesus Cristo, devemos abandonar a descrença a as pai-
xões mundanas e viver, neste mundo, uma vida prudente e dedicada a ele.
Uma vez que, na ocasião de sua volta, Cristo deseja encontrar a sua noiva
em toda a sua beleza, pura e perfeita, sem manchas, ou rugas, ou qualquer
outro defeito (Ef 5:27 – NTLH), devemos nos purificar de toda sorte de
impureza, aperfeiçoando, dia após dia, a nossa santidade pessoal, pois, sem
ela, ninguém o verá (Hb 12:14).

O Doutrinal | 291
Conclusão
Paulo, o velho apóstolo, já no final de sua vida, escreveu a seu filho na
fé, Timóteo: Combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé, desde
agora a coroa da justiça me está reservada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará
naquele dia, e não somente a mim, mas a todos os que amarem a sua vinda (2
Tm 4:7-8). Mesmo frente à terrível e inevitável realidade da morte que se
aproximava (2 Tm 4:6), Paulo sabia em quem tinha crido (2 Tm 1:12). Ele
não se desesperou, porque não esperava em Cristo só nesta vida. A certeza
de que um dia Jesus voltará para dar fim a todo sofrimento, toda angústia e
toda perseguição o fez viver confiando nele, até o fim.
Jesus virá outra vez! Que maravilhosa e confortante esperança! Con-
tinuemos firmes, vigiando, esperando, trabalhando, confiando, desejando
e nos purificando, porque, quando se manifestar o Sumo pastor, recebere-
mos a imarcescível coroa de glória (1 Pd 5:4). Lembremo-nos sempre de
que, quando Cristo, que é a nossa verdadeira vida, aparecer, tomaremos
parte na sua glória (Cl 3:4). No próximo estudo, estudaremos sobre al-
guns eventos que ocorrerão por ocasião da volta de Cristo e também
de eventos que ocorrerão depois dela. O tema do nosso estudo será: As
ressurreições dos mortos. Estude-o!

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia 1 Timóteo 1:15; Mateus 25:31; Marcos 13:26-27


A. Qual foi o objetivo da primeira vinda de Cristo a esta terra?
B. Enquanto cumpria sua missão, que promessa Jesus fez?

02. Leia João 14:1-4; Fp 3:20-21


A. O que Jesus disse aos seus discípulos sobre a casa do Pai?
B. Há motivos para duvidarmos do retorno de Cristo? Onde está
nossa pátria?

03. Leia Atos 1:2-6 e Mateus 24:36


A. O que Jesus ensinou sobre o momento de sua segunda vinda?

292 | Estudo 26 - A segunda vinda de Cristo


B. O que devemos fazer, quando ouvirmos falar de algum cálculo que
diga quando o Senhor Jesus voltará a esta terra?

04. Leia Mateus 24:27 e Atos 1:11


A. O que esses textos revelam sobre a visibilidade do retorno de Jesus?
Nós o veremos?
B. Há base bíblica para uma vinda secreta de Jesus?

05. Leia 1 Tessalonicenses 4:16 e Mateus 27:30


A. O retorno de Cristo ocorrerá com algum som ou será silencioso?
B. Jesus virá de forma pessoal?

06. Leia Hebreus 9:28


A. Qual o propósito da volta de Cristo?
B. Além de serem livres da punição e do poder do pecado, do que mais
serão definitivamente livres os filhos de Deus, nesse glorioso dia?

07. Leia 1 Tessalonicenses 5:6; Tiago 5:7, e 2 Pedro 3:11-14


A. A segunda vinda de Cristo deve ser esperada com vigilância e
paciência? Comente sua resposta.
B. É correto aguardarmos a vinda de Cristo de maneira ociosa? Como
devemos aguardá-la?

O Doutrinal | 293
Anotações

294 | Estudo 26 - A segunda vinda de Cristo


Estudo 27
As ressurreições
dos mortos

Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em


que todos os que se acham nos túmulos
ouvirão a sua voz e sairão. (Jo 5:28)

Introdução
Vimos, no último estudo, que, em um futuro próximo, numa data que
está além da nossa e da compreensão dos anjos (Mt 24:36), cumprir-se-
-á uma das profecias mais enfatizadas das Escrituras: a segunda vinda de
Cristo. Este é, talvez, o evento mais aguardado por todos que se renderam
a Cristo e o aceitaram como Senhor e Salvador de suas vidas. A propósito,
esse dia deve ser aguardado com perseverança, pois se trata de uma garantia
de Jesus (Mc 13:26). A Bíblia afirma que a vinda de Cristo será visível (Mt
24:27) e pessoal (1 Ts 4:16). O seu propósito principal é salvar as pessoas que
estão esperando por ele (Hb 9:28 – NTLH).
Hoje, porém, trataremos de outro assunto muito importe: As ressur-
reições dos mortos. Nós não cremos em uma, mas em duas ressurreições
coletivas: a dos justos e a dos injustos (Dn 12:2; Jo 5:28-29). Essas duas
ressurreições distinguem-se quanto ao tempo e aos propósitos. A primeira
marcará o início da bem-aventurança para os salvos; a segunda, por sua vez,
marcará o início da desventura para os não salvos. Certamente, há muitas
ideias acerca desse assunto; todavia, o nosso propósito é enfatizar o que a
Bíblia tem a nos dizer sobre isso. Apliquemo-nos ao estudo da palavra.

O Doutrinal | 295
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

A ressurreição, para muitos, não passa de um mito, uma fantasia. Para


estes, é impossível uma pessoa voltar à vida, depois de morta. Esse pensa-
mento, todavia, não é uma característica apenas de nosso tempo. O grupo
dos saduceus, que era muito influente na sociedade judaica, na época de Je-
sus, compartilhava essa crença. Na visão desse grupo, os mortos não ressus-
citam (Mt 22:23). Todavia, o que aqui nos interessa é a visão bíblica acerca
dessa doutrina e, de acordo com essa visão, haverá, sim, ressurreição dos
mortos (1 Co 15:21). Por dentro das Escrituras, trataremos desse assunto
sob duas perspectivas.
1. O que a Bíblia diz sobre a ressurreição dos justos: A ressurreição
dos justos é comprovada pela Bíblia. É possivel encontrarmos referências
acerca dela, no Antigo Testamento ( Jó 19:25-27; Sl 16:8-11, 49:14-15;
Is 26:19; Dn 12:2). No Novo Testamento, Jesus ensinou essa doutrina de
modo muito claro. Ele disse que os mortos que tiverem praticado o bem
sairão para a ressurreição da vida ( Jo 5:29a). Ele mencionou essa doutrina
também em outras passagens ( Jo 6:39,40,44,54). Os apóstolos, por sua vez,
não a ocultaram. Pelo contrário, preocuparam-se em ensiná-la. Os textos a
seguir comprovam isso: At 24:15; Fp 3:11; 1 Ts 4:14-16; Ap 20:4-6,12,13.
O apóstolo Paulo foi um forte defensor da doutrina da ressurreição. Ele
afirmou que Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará a nós pelo seu
poder (1 Co 6:14).
A ressurreição de Jesus é o alicerce sobre o qual está fundamentada a
doutrina da ressurreição dos mortos. A veracidade desta depende da au-
tenticidade daquela. É por isso que Paulo, inspirado pelo Espírito Santo,
emprega esforços para provar que a ressurreição de Jesus não é um mito,
mas um fato (1 Co 15:4), pois centenas de pessoas viram pessoalmente o
Senhor ressuscitado. Tentar afirmar o contrário, do ponto de vista dele, é
grave. Por quê? Porque negar a ressurreição de Jesus, que é inegável, é negar
a ressurreição dos mortos. Por isso, Paulo passa a enumerar os aparecimen-
tos pós-ressureição de Jesus (1 Co 15:5-8).
Diante dos argumentos bíblicos que vimos até aqui, não resta dúvida
de que haverá, sim, ressurreição dos justos. É deles que Jesus fala, quando
afirma que os que tiverem feito o bem, [sairão] para a ressurreição da vida ( Jo

296 | Estudo 27 - As ressurreições dos mor tos


5:29a). A identidade destes é refletida no seu caráter íntegro. Esses que
“tiverem feito o bem (literalmente ‘as coisas boas’) são os que vieram à luz”.1
Mais adiante, ao se referir aos justos e à ressurreição deles, Jesus declara que
a vontade o Pai é que todo aquele que olhar para o Filho e nele crer tenha a vida
eterna e eu o ressuscitarei no último dia ( Jo 6:40 – NVI). A palavra “todo é
masculino singular (pas), e quando Jesus diz: Eu ‘o’ ressuscitarei no último dia,
ele está falando de cada crente individual, como no versículo 37b”.2
Em outras palavras, nenhum justo será esquecido pelo Senhor ressur-
reto, na ressurreição do ultimo dia. A propósito, quem são os justos? São
aqueles que se renderam ao poderio de Cristo, aceitando-o como Senhor
e Salvador de suas vidas. São os salvos que lavaram as suas roupas no sangue
do Cordeiro, e elas ficaram brancas (Ap 7:14 – NTLH). Eles foram justi-
ficados pelo sacríficio de Cristo e passaram pela regeneração, isto é, pelo
novo nascimento ( Jo 3:7). E não somente isso: também experimentaram
a verdadeira conversão, que é caracterizada pela fé na pessoa de Cristo e
pelo arrependimento.
A ressurreição dos justos ocorrerá por ocasião da segunda vinda de
Cristo. Assim está escrito: Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido,
e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo
ressuscitarão primeiro (1 Ts 4:16). Será essa a ressurreição do “último dia”
mencionada por Jesus em Jo 6:39-40. Será essa, também, a primeira ressur-
reição. Os justos farão parte dela. Este detalhe é importante: haverá duas
ressurreições: a dos justos e a dos injustos, e estas ocorrerão em tempos
diferentes. A ressurreição dos injustos será tratada no próximo tópico deste
estudo. Na primeira ressurreição, porém, todos os que dormiram em Cristo
se alegrarão com a certeza de que os seus esforços, no sentido de permane-
cerem fiéis a Deus, não foram vãos.
Consideremos três fatos que ocorrerão, por ocasião da ressurreição dos
justos. O primeiro é a palavra de ordem de Jesus. Ele erguerá a sua voz e os
mortos ressuscitarão. A expressão “palavra de ordem” é uma tradução da
palavra grega keleusma e significa comando, sonido. À semelhança de um
oficial que dá ordem à sua tropa, Cristo ordenará veementemente que os
mortos se levantem do túmulo. O segundo fato é a voz de arcanjo. O termo

1. Bruce (1987:227).
2. Idem, p.140.

O Doutrinal | 297
arcanjo era usado para anjos de grau mais elevado, que lideram os anjos
santos e defendem o povo de Deus. A sua voz proclamará a libertação desse
povo.3 O terceiro fato é a trombeta de Deus. O sonido da trombeta anun-
ciava, na antiga dispensação, a “descida” de Deus para encontrar-se com o
seu povo. A trombeta dele servirá de sinal para que os que dormiram em
Cristo ressuscitem e os justos vivos sejam transformados, para, em seguida,
encontrarem-se com ele.4
Quanto ao corpo da ressurreição, Paulo a explica, utilizando, a princí-
pio, fatos relacionados à natureza (1 Co 15:36-44). Os coríntios não en-
tendiam como corpos desintegrados pudessem novamente tornar à vida.
Os corpos da ressurreição seriam idênticos aos corpos do sepultamento? A
explicação paulina mostra o milagre da seara, em que uma semente é enter-
rada, para que, a partir dela, surja um novo e glorioso corpo; assegura que,
mesmo sendo “semeado” um corpo corruptível, em desonra e fraqueza, dali,
a exemplo da semente, surgirá um novo corpo, não mais com as limitações
de outrora, mas incorruptível, revestido de glória e poder, pois, se tão sabia-
mente Deus dotou os seres animados e inanimados de corpos apropriados,
para “viverem” nesta terra (1 Co 15:39-41), certamente saberá nos dotar
dos devidos corpos, para que possamos apropriadamente desfrutar de nossa
existência (1 Co 15:42-44).
Após utilizar a natureza para ilustrar o corpo da ressurreição, Paulo
recorre também ao ensino da Escritura (1 Co 15:45-49; cf. Gn 2:7), para
melhor fundamentar a sua argumentação. No mundo presente, temos es-
tampadas em nós as características do primeiro Adão, de origem terrestre;
mas, no mundo vindouro, teremos estampadas em nós as características do
segundo Adão, de origem celestial (1 Co 15:45). O apóstolo fez questão
de frisar que o nosso corpo será imortal. Ciente disso, ele declarou que é
necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo
mortal se resvista da imortalidade (1 Co 15:53).
A recompensa dos justos ressuscitados foi predita por Jesus. Disse ele:
os que tiverem feito o bem, [sairão] para a ressurreição da vida ( Jo 5:29a – grifo
nosso). Cremos que, a partir desse dia, os seus corpos não mais serão sus-
cetíveis à corrupção. O pecado não terá poder para maculá-los. Da mesma

3. Hendriksen apud Lopes (2008b:111).


4. Idem, pp. 111-2.

298 | Estudo 27 - As ressurreições dos mor tos


sorte, a morte não terá poder sobre eles, pois assim está escrito: O vencedor
de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte (Ap 2:11b), sobre esses a segun-
da morte não tem autoridade (Ap 20:6b). Ao contrário dos injustos, os justos
não morrerão outra vez, após serem ressuscitados.
2. O que a Bíblia diz sobre a ressurreição dos injustos: Conforme es-
tudamos no tópico anterior, todos os mortos justos ressuscitarão. Sabemos
disso porque encontramos vários textos na Bíblia, tanto no Antigo quan-
to no Novo Testamento, que nos asseguram esta certeza ( Jó 19:25-27; Sl
16:8-11; Jo 6:39-40,44,54). Mas a ressurreição não será destinada somente
aos justos. Os injustos também participarão dela, em época e circunstância
diferentes. Daniel é contundente em afirmar que muitos dos que dormem
no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna, e outros para vergonha e
horror eterno (Dn. 12:2). Outra forte evidência da ressurreição dos injustos
é encontrada nas palavras de Jesus, em Jo 5:29b: ... e os que tiverem praticado
o mal, para a ressurreição do juízo.
Não haverá escapatórias, isto é, todos nós estaremos incluídos em um
dos grupos: justos ou injustos. Quem são os injustos? São aqueles que
amaram mais as trevas do que a luz, porque suas obras são más.5 Paulo
argumenta que estes não herdarão o reino de Deus (1 Co 6:9). Isso porque,
ao invés de se renderem a Jesus, rejeitaram o sacrifício salvífico realizado
por ele. Sobre isso, Paulo também diz: Tendo o conhecimento de Deus, não o
glorificaram como Deus, nem lhe deram graças (Rm 1:21). Por diversas vezes,
a Bíblia expõe, sem reservas, as reais características dos injustos (Rm 1:29-
32; 1 Co 6:9-10). As obras deles são condenáveis aos olhos do Deus Santo.
Segundo a Bíblia, os injustos não participarão da primeira ressurrei-
ção. Esta será um privilégio apenas dos justos. No dia da segunda vinda
de Cristo, cumprir-se-á uma das profecias de Malaquias: Então vereis
outra vez a diferença entre o justo e o ímpio; e entre o que serve a Deus, e o
que não o serve (Ml 3:18). Uma das grandes diferenças se manifestará,
quando os não-salvos mortos não ressuscitarem e os que estiverem vivos
morrerem ( Jr 25:33). Desse modo, o mesmo dia que será de alegria e re-
gozijo para uns, será de tristeza, desapontamento e vergonha para outros
(Dn 12:2). Sabendo disso, cabe a cada cristão evitar agir com descaso e
negligência (Mt 25:26).

5. Bruce (1987:227).

O Doutrinal | 299
Os injustos participarão somente da segunda ressurreição. Deus, em
sua soberania e por meio da sua justiça, reservou-a para eles. Nessa ocasião,
eles, literalmente, se levantarão, cada um, dos seus túmulos. Todos os não
salvos, sem excessão, de todos os tempos, culturas, etnias etc., participarão
desse evento. Diante dessa verdade, é importante nos indagarmos: Quando
se dará a ressurreição dos injustos? Esse importante acontecimento tem
um tempo específico determinado por Deus: após o milênio. Isso mesmo,
somente mil anos após a ressurreição dos salvos é que os impíos despertarão
do sono da morte e retornarão à vida.
Na sua visão narrada no capítulo 20, versículo 4 de Apocalipse, João de-
clara que viu, diante do trono, as almas dos decaptados por causa do testemunho
de Jesus (…) tantos quantos não adoraram a besta (...); e viveram e reinaram
com Cristo durante mil anos (grifo nosso). Essa informação é de extrema
importância. Conduz-nos ao conhecimento do que, de fato, acontecerá com
os justos ressuscitados, enquanto os impios estiverem nos seus túmulos. É
o retrato perfeito da derrota destes e da vitória daqueles. Mas precisamos
ainda considerar outra questão.
Ao contrário do que muitos pensam e professam, Apocalipse 20:4
não defende uma “ressurreição espiritual”, isto é, equivalente à regenera-
ção, mas uma ressurreição física. A palavra grega para “viveram” é ezesan.
O ponto crucial de todo o problema exegético consiste no significado
que se dá a essa palavra, que não é usada nem uma só vez para indicar
uma “ressurreição espiritual” dos justos.6 Além disso, o texto é suficien-
temente claro e não tem sentido duplo. Deve ser interpretado de modo
literal. Somente essa forma de interpretação dá mais sentido à passagem,
como também nos induz à conclusão de que o termo ezesan refere-se a
uma ressurreição física.
É dessa forma também que deve ser interpretado o versículo posterior,
em que João afirma: Os restantes dos mortos não reviveram até que se com-
pletassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição (Ap 20:5). A “primeira
ressurreição”, aqui mencionada, refere-se aos justos que reviveram (v.4). A
segunda ressurreição, por sua vez, não é descrita explicitamente na Bíblia,
mas implicitamente. A expressão “os restantes dos mortos” é uma alusão
que lhe é feita. Os versículos 12 e 13 tornam ainda mais clara a realidade

6. Ladd (1980:197).

300 | Estudo 27 - As ressurreições dos mor tos


da segunda ressurreição. Os mortos, ali descritos, nada mais são do que os
injustos que serão obrigados a encarar o juízo divino.
Após participarem da segunda ressurreição, os injustos, então, recebe-
rão a sua recompensa. Obviamente, não será a vida eterna, nem o céu e
nem a nova terra, até porque somente os que ressuscitarem primeiro ou os
que forem transformados obterão essa recompensa, o que não é o caso dos
injustos. No que se sefere a recompensa destes, a Bíblia é enfática: ... e os
que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo ( Jo 5:29b). Os ím-
pios serão julgados e sentenciados à destruição eterna, conforme descreve o
texto: … a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber,
a segunda morte (Ap 21:8).
Não devemos encarar essa realidade como uma decisão arbitrária de
Deus. Pelo contrário, é apenas a consequência de uma decisão tomada indi-
vidualmente pelo ser humano, nesta vida. Em outras palavras, a este compe-
te escolher o seu destino final. Esse é um direito que lhe foi proporcionado
pelo sobernano Deus, que é justo até mesmo em nos conceder livre arbítrio.
Desde a criação, cabe ao homem e à mulher escolherem o seu destino. Am-
bos arcarão com as consequências de suas próprias escolhas. Considerando
essa verdade, é importante atentarmos para as palavras de Eclesiastes 11:9:
...sabe, porém, que de todas estas coisas Deus te pedirá contas.
A ressurreição era uma realidade na mente dos escritores do Antigo e
do Novo Testamento, aguardada com grande expectativa e esperança (At
24:15). A Bíblia não nega o fato de que tanto justos (exceto os justos que
estiverem vivos por ocasião da vinda de Cristo) quanto impios passarão pela
experiência da morte ( Jó 14:12; Sl 9:17, 49:14). Contudo, o medo produzi-
do por esta é superado pela certeza e a esperança na ressurreição. Portanto,
assim como Paulo, devemos nos esforçar, para que, de alguma forma, pos-
samos alcançar (Fp 3:11), não a segunda, mas a primeira ressurreição (Ap
20:6), a dos justos (Lc 14:14). A seguir, veremos três lições essenciais à vida
cristã, com base nesta doutrina.

O Doutrinal | 301
II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Não duvide: a mensagem das ressurreições exige fé.


As ressurreições, tanto dos justos quanto dos injustos, são eventos reais
atestados pelas Escrituras (Dn 12:2). Contudo, essa mensagem bíblica é re-
jeitada por muitos. Os saduceus não criam nela, assim como alguns irmãos
da igreja de Corinto (Mt 22:23; 1 Co 15:12). Esse é um grave erro, que
devemos evitar. A mensagem das ressurreições é fundamental para a fé que
professamos, pois, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não ressuscitou
(1 Co 15:13) e é vã a nossa pregação, e vã, a nossa fé (1 Co 15:14). Portanto,
não duvidemos, em hipótese alguma, dessa mensagem, pois é o pivô da
nossa fé naquele que ressuscitou dos mortos: Cristo.

2. Não vacile: a mensagem das ressurreições sugere cautela.


Como vimos, justos e injustos ressuscitarão, cada qual a seu tempo. A
lógica bíblica é esta: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os
que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo ( Jo 5:29). Os injustos
não escaparão da sentença divina. Eles serão julgados e fulminados. Sa-
bendo disso; não podemos vacilar. Sejamos cautelosos, para não tomarmos
parte na segunda ressurreição. O conselho bíblico para nós é este: Aquele,
pois, que pensa estar em pé veja que não caia (1 Co 10:12). Aquele que não
perseverar até o fim, não será salvo (Mt 24:13). Não nos afastemos dos
caminhos do Senhor, mas sejamos cautelosos e sábios, desviando-nos do
mal (Pv 14:16).

3. Não desanime: a mensagem das ressurreições produz esperança.


A morte é cruel e medonha. Exceto os que estiverem vivos por ocasião
da segunda vinda de Cristo, todos morreremos. Por quê? A Bíblia responde:
... a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram (Rm 5:12). Por isso,
o nosso corpo não é imune ao envelhecimento, nem às enfermidades. En-
tão, podemos afirmar que o nosso destino final será a morte, e não há mais
esperança para nós, certo? Errado! Cristo ressuscitou e nós ressuscitaremos
também. A nossa esperança está alicerçada na certeza de que a morte será
extinta de uma vez por todas. Depois de ressuscitados, teremos um corpo
incorruptível e imortal. Então, poderemos proclamar: Tragada foi a morte
pela vitória (1 Co 15:54). Animemo-nos com essa esperança!

302 | Estudo 27 - As ressurreições dos mor tos


Conclusão
Com base na Bíblia, a palavra de Deus, estudamos sobre as ressurrei-
ções dos mortos. Um dia, todos os que estão nos túmulos: crianças, jovens,
adultos, anciãos, etc., retornarão à vida. Porém, nem todos ressuscitarão
na mesma época. Os justos ressuscitarão primeiro, por ocasião da volta de
Cristo; os injustos, após o milênio. Mediante essa verdade bíblica, precisa-
mos ter em mente que a mensagem das ressurreições é essencial para a vida
espiritual do ser humano. Mesmo apontando para eventos futuros, ela refle-
te o nosso presente, exigindo-nos fé, sugerindo-nos cautela e produzindo-
-nos esperança.
O próximo estudo também tem muito a nos ensinar. Nele, tratremos
sobre o milênio. Aprendemos que os justos ressuscitarão antes do milê-
nio e os injustos, após este. O milênio será, sem dúvida, um divisor de
águas entre ambas as ressurreições (Ap 20:4-5). Portanto, é um assun-
to de extrema importância, que deve ser também examinado por todos
os que aguardam a volta de Cristo. A propósito, é após este importante
evento que o milênio terá o seu início. Sobre esse assunto, é comum sur-
gir perguntas, tais como: Onde será o milênio? Serão mil anos literais
ou figurados? O que acontecerá nesse período? As respostas para essas e
outras indagações estão no próximo estudo. Aplique-se nele e cresça no
conhecimento da palavra.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Jó 19:25-27; Salmos 16:8-11, 49:14-15; Isaías 26:19; Daniel 12:2
A. A crença de que todos os mortos ressuscitarão um dia é um mito ou
é, de fato, uma doutrina ensinada pela Bíblia?
B. O que o Antigo Testamento diz a respeito das ressurreições dos
justos e injustos?

02. Leia João 5:28-29; Atos 24:15; Filipenses 3:11


A. Como o Novo Testamento tratou o tema das ressurreições dos justos
e injustos? O que Jesus e os apóstolos disseram a respeito?

O Doutrinal | 303
B. É possível alguém que morreu ficar livre da ressurreição e do
julgamento final ou todos os seres humanos terão que comparecer
ressuscitados diante do tribunal de Deus?

03. Leia 1 Coríntios 6:14, 15:19-23; Apocalipse 17:14, e João 6:40,54


A. Q uem é o alicerce sobre o qual está fundamentada a doutrina da
ressurreição dos mortos? O que a ressurreição de Jesus ensina a
respeito da ressurreição dos justos?
B. Falando em ressurreição dos justos, quem são esses “justos”, que a
Bíblia se refere? Quem garante a ressurreição deles?

04. Leia 1 Tessalonicenses 4:13-18 e Apocalipse 20:4-6


A. Q uando acontecerá a ressurreição dos justos? Será antes ou após a
vinda de Cristo? Quais os três fatos que ocorrerão por ocasião dessa
ressurreição?
B. Segundo os textos acima, o que acontecerá com os justos, após serem
ressuscitados? Qual será a recompensa deles?

05. Leia 1 Coríntios 15:35-55


A. Como será o corpo dos santos, após a ressurreição?
B. Q uanto aos santos que estiveram vivos por ocasião da vinda de
Cristo, o que ocorrerá com eles? Eles terão alguma vantagem sobre
os justos que estiverem mortos quando Cristo voltar?

06. Leia Apocalipse 20:5


A. Q uando ocorrerá a ressurreição dos injustos? Será antes ou após a
vinda de Cristo?
B. Quanto tempo haverá entre a ressurreição dos justos e a dos injustos?

07. Leia Apocalipse 20:11-15, 21:8


A. Q ue propósito Deus tem na ressurreição dos injustos? Quais serão a
recompensa e o destino final dos injustos?
B. Reflita um pouco sobre a frase: Bem-aventurado e santo é aquele que
tem parte na primeira ressurreição (Ap 20:6). Em poucas palavras,
diga as principais diferenças entre a primeira e segunda ressurreição.

304 | Estudo 27 - As ressurreições dos mor tos


Falta a página de
anotações
Estudo 28

O milênio

... Eles não tinham adorado a besta nem a sua imagem,


e não tinham recebido a sua marca na testa nem
nas mãos. Eles ressuscitaram e reinaram com
Cristo durante mil anos. (Ap 20:4 – NVI)

Introdução
No estudo anterior, aprendemos a respeito das duas ressurreições. O
fim dos tempos e o julgamento final serão marcados, primeiramente, pela
ressurreição dos justos. Estes se unirão aos outros justos vivos, que serão
transformados, e, juntos, se encontrarão com Jesus e receberão a coroa da
vida. Depois virá a ressurreição dos ímpios. Estes se levantarão das sepultu-
ras para receberem o veredito final e a morte eterna. É por isso que o após-
tolo João declarou: Felizes e santos os que participam da primeira ressurreição!
A segunda morte não tem poder sobre eles; serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e
reinarão com ele durante mil anos (Ap 20:6 – NVI).
Agora vamos verificar o que a Bíblia ensina sobre o espaço de tempo
entre essas duas ressurreições. De acordo com o apóstolo João, entre as duas,
haverá um período de mil anos, que também é conhecido por o milênio. O
que ocorrerá durante estes mil anos? O que vai suceder com Satanás? E os
ímpios, como ficarão? Durante o milênio, os justos estarão no céu ou na
terra? Que fatos marcarão o fim do milênio? Felizmente, a palavra de Deus
nos dá respostas precisas para essas perguntas. O milênio é descrito com
clareza em Apocalipse 20. Portanto, abra a sua Bíblia e vamos ao estudo.

O Doutrinal | 305
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

A palavra “milênio” é derivada de dois termos em latim “mille” (mil) e


“annum” (ano).1 Embora não seja encontrada escrita desta forma na Bíblia,
essa palavra é um equivalente para a expressão grega κίλια έτη (khilia etē),
traduzida por “mil anos”, que se repete 6 vezes, em Apocalipse 20, versícu-
los 2 a 7. O capítulo 20 do livro de Apocalipse sucede cronologicamente à
segunda vinda de Jesus Cristo descrita no capítulo 19. É seguindo pelo ca-
pítulo 21, que vemos o novo céu e a nova terra, estabelecidos por Deus, após
o milênio. A leitura deste contexto bíblico é fundamental para a compreen-
são do presente estudo, que vai analisar os fatos que marcarão o começo, o
período e o término do milênio.
1. Fatos que marcarão o começo do milênio: Alguns eventos marca-
rão o começo do milênio. Dada a importância deles, é imprescindível que
os analisemos. O primeiro evento, conforme podemos ver, em Apocalipse
19, será a volta de Cristo. Esse acontecimento esperado por todos os santos
será o ponto de partida para o início do milênio. Como prometeu, Jesus
virá para buscar a sua noiva, a igreja, que ele resgatou com o seu sacrifício.
Ele deixa isso muito claro no evangelho de Marcos, capítulo 13, versículo
26, em que ele diz: Então, verão o Filho do Homem vir nas nuvens, com
grande poder e glória. Quem o verá? Os justos e os ímpios que estiverem
vivos nessa ocasião.
O segundo evento que marcará o início do milênio será a ressurreição
dos santos. Diz o texto: ... Eles não tinham adorado a besta nem a sua imagem,
e não tinham recebido a sua marca na testa nem nas mãos. Eles ressuscitaram e
reinaram com Cristo durante mil anos (Ap 20:4 - NVI). O milênio ocorre-
rá com a presença de todos os santos. Mas para que isso seja possível, os
santos que estiverem mortos serão ressuscitados. Esta é a ressurreição do
último dia mencionada por Cristo em Jo 6:39-40. Ocorrerá por ocasião da
segunda vinda de Jesus. A Bíblia diz que o mesmo Senhor descerá do céu com
alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em
Cristo ressuscitarão primeiro (1 Ts 4:16). Em Apocalipse 20, essa ressurreição
é chamada por João de a primeira ressurreição.

1. Mackenzie (1983:613).

306 | Estudo 28 - O milênio


Além da ressurreição dos justos, há o terceiro evento que marcará o
início do milênio: a morte dos ímpios. Depois que os justos mortos ressusci-
tarem, os justos vivos serão transformados. E quanto aos ímpios vivos? A
Bíblia diz que eles não suportarão o esplendor da vinda do Senhor e mor-
rerão (cf. Ap 6:14-17; Lc 21:25-27; 2 Pd 3:10-12). E os que dentre eles já
tiverem morrido, permanecerão em seus túmulos, pois não ressuscitarão na
vinda do Senhor. Estes são os “outros mortos”, descritos em Ap 20:5, que
só vão ressuscitar depois do milênio.
O arrebatamento da igreja ao céu será o quarto evento a marcar o co-
meço do milênio. Uma vez ressuscitados os justos mortos (1 Ts 4:16) e
transformados os justos vivos (1 Co 15:52), então, juntos, serão arrebatados
(1 Ts 4:17), “a encontrar o Senhor nos ares”. Observe bem: nós seremos
arrebatados juntamente com eles. A pergunta que se faz, aqui, é a seguinte:
Arrebatados para onde? Pela leitura feita, o Senhor virá buscar os salvos,
mas não pisará na terra. Os salvos o encontrarão nos ares. Dali, subirão com
Cristo para o céu. O verbo “arrebatar”, aqui, tem duplo significado: remover
de uma condição para outra ou de um lugar para outro. Neste caso, é de um
lugar para outro, ou seja, da terra para o céu.
O quinto e último evento que marcará o início do milênio será a prisão
de Satanás. Esta é mencionada em Apocalipse 20:1-3. Tem caráter simbóli-
co, pois, considerando que, com a segunda vinda de Cristo, os ímpios mor-
tos não ressuscitarão, os ímpios vivos morrerão e os justos serão arrebatados
para o céu. Logo, Satanás estará circunstancialmente impedido de exercer
suas atividades, porque não contará com ninguém para tentar e enganar.
Tal circunstância, portanto, independentemente de qualquer outra, já será
suficiente para determinar a sua prisão. Nesta prisão, ele ficará por mil anos.
A terra, por essa ocasião, será ocupada pelos corpos dos ímpios mortos.
O planeta ficará desolado, durante o milênio. Não será o lugar adequado
para ser a morada dos salvos. Aliás, o céu é o projeto de Deus para estes,
no decorrer dos mil anos, não a terra. É lá que está o trono de Deus (Sl
103:19; Is 66:1; At 7:48-49, 17:24), não aqui. Logo, pensar na possibili-
dade de um milênio na terra é ir contra a visão bíblica acerca de tão im-
portante acontecimento. Vimos, até aqui, os fatos que vão marcar o início
do milênio: 1) A volta de Cristo; 2) A ressurreição dos santos; 3) A morte dos
ímpios, 4) O arrebatamento da igreja para o céu e 5) A prisão de Satanás. Pros-
sigamos o nosso estudo.

O Doutrinal | 307
2. Fatos que marcarão o período do milênio: Sabemos que os salvos,
tanto os ressuscitados, quanto os transformados, serão levados para o céu
( Jo 14:1-3; 1 Ts 4:16-17). Aprendemos, também, que os ímpios não su-
portarão a glória de Deus, quando Jesus aparecer nas nuvens para buscar a
sua igreja. O apóstolo Pedro afirma que, no dia do Senhor, os céus desapa-
recerão com um grande estrondo, os elementos se desfarão, e a terra, e tudo
o que nela há, será desnudada (2 Pd 3:10 - NVI). O apóstolo João assegura
que viu todos os ímpios sendo mortos por ocasião da vinda de Cristo (Ap
19:21); em seguida, afirma que eles não reviveram até que se completassem os
mil anos (Ap 20:5).
Assim sendo, sabemos que, durante todo o período do milênio, a terra
permanecerá desolada e Satanás continuará preso (Ap 20:3). E os justos,
onde estarão? Segundo João, durante o milênio, os salvos reinarão com
Cristo (Ap 20:6). É bom lembrarmos que esse reinado não será na terra,
mas no céu. A razão para isso é que o apóstolo garante ter visto tronos
(20:4). Todas as 44 vezes em que a palavra “trono” aparece, em Apocalipse,
com referência a Deus e à igreja, este trono é sempre no céu.2 Então, pode-
mos afirmar, sem dúvida, que essa cena, observada por João, nos versículos
4 e 6, acontece no céu e não na terra.
Mas qual será o encargo daqueles que reinarão com Cristo no céu?
Eles assentarão em tronos para julgar (Ap 20:4). De fato, a Bíblia afirma
que a igreja de Cristo julgará as tribos de Israel (Mt 19:28), o mundo (1
Co 6:2) e até os anjos (1 Co 6:2). Foi Jesus quem prometeu que o vence-
dor sentaria com ele no trono (Ap 3:21). No milênio, a noiva do Cordeiro
se tornará rainha e reinará com ele. A morte não terá mais poder sobre
os filhos de Deus (Ap 20:6), que estarão a salvo, guardados e protegidos,
num lugar seguro. Ali, serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele
durante mil anos (Ap 20:6).
Contudo, o milênio no céu não será marcado apenas por “trabalho”.
Será caracterizado, sobretudo, por festa e alegria. No milênio acontecerão
as bodas do Cordeiro, conforme Apocalipse 19:7: Alegremo-nos, exultemos e
demos-lhe a glória, porque são chegadas às bodas do Cordeiro. Esse é o casamen-
to de Cristo e sua Igreja. A figura do casamento é bastante significativa para
este estudo sobre o milênio. Os casamentos, na cultura judaica dos tempos

2. Lopes (2005a:350).

308 | Estudo 28 - O milênio


bíblicos, eram um tanto diferentes dos que vemos hoje. Ocorriam, basica-
mente, em duas fases: o noivado e o casamento.3
O noivado iniciava-se com o compromisso sério, firmado entre os pais
dos noivos. Daquele momento em diante, mesmo sem ainda ter intimidade,
os noivos já eram considerados legalmente casados.4 Só após certo tempo é
que acontecia o casamento propriamente dito. O noivo, em procissão, ia até
a porta da casa da noiva e a levava para a casa dele, ou melhor, para a casa
do pai dele, onde ocorria um grande banquete. É exatamente essa a imagem
que a Bíblia usa, em Apocalipse 19:7-9, ao se referir à vinda do Senhor. Não
seremos nós, a noiva de Cristo, que iremos para céu ao encontro dele. Mas
Jesus, o noivo, virá nos buscar, aqui na terra, em nossa casa, e nos levará para
a casa do Pai, no céu. Lá, haverá uma grandiosa festa. Será o dia mais feliz
de todos os tempos.
Esse ensino concorda com as palavras de Jesus, quando nos garantiu:
Na casa de meu Pai há muitos aposentos; se não fosse assim, eu lhes teria dito.
Vou preparar-lhes lugar. E se eu for e lhes preparar lugar, voltarei e os levarei
para mim, para que vocês estejam onde eu estiver ( Jo 14:2-3 – NVI). Cremos
que não moraremos para sempre no céu. Nossa casa é o planeta terra. Con-
tudo, vamos passar o milênio lá no céu, desfrutando da maior e mais alegre
festa. Por isso, bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do
Cordeiro. (Ap 19:9a).
3. Fatos que marcarão o término do milênio: Após analisarmos os fatos
que marcarão o início e o período milenar, enfocaremos os eventos que
apontarão o término deste. Quais são eles? Primeiro, os ímpios voltarão a
viver. João afirma que os restantes dos mortos não reviveram até que se com-
pletassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição (Ap 20:5). A “primeira
ressurreição” que João menciona é a dos justos que reviverão por ocasião da
vinda de Cristo. Neste texto, uma “segunda ressurreição” fica subtendida.
Isso porque, se há a primeira, obviamente, há uma segunda ressurreição, e
esta é a dos ímpios. É sobre eles que João afirma: Os restantes dos mortos não
reviveram até que se completassem os mil anos.
No final do milênio, Deus permitirá que injustos voltem a viver, para
receberem o veredicto e o castigo final, e isso nos leva ao segundo fato que

3. Stott (2007c:431).
4. Wiersbe (2006c:786).

O Doutrinal | 309
marcará o final do milênio: satanás será solto. A razão é obvia: A sua prisão
será a terra desolada e vazia. Quando os ímpios ressuscitarem, ele voltará a
fazer suas maldades. Contudo, a ressurreição dos ímpios e soltura de satanás
não serão os únicos eventos que marcarão o final do milênio. O terceiro fato
é que a nova Jerusalém descerá do céu. João declara: Vi também a cidade santa,
a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus... (Ap 21:2). Essa santa
cidade está no céu, mas não permanecerá ali para sempre. Após o milênio,
descerá para a terra.
A nova Jerusalém não descerá vazia, pois os salvos descerão com ela
do céu. A propósito, o apóstolo afirma o seguinte sobre essa cidade: Eis
o tabernáculo de Deus com os homens (Ap 21:3). As características dela
são descritas em Apocalipse 21:9 a 22:5. A antiga Jerusalém perdeu a
sua glória. Mas a nova Jerusalém, ao contrário daquela, será o próprio
santuário de Deus e ele habitará ali para sempre (Ap 21:3). Contudo, os
acontecimentos não param por aí. Enquanto a cidade e os salvos estão
descendo, Satanás e seus comparsas estão se preparando para combater
Cristo e seu povo. O que nos leva ao quarto fato que marcará o termi-
no do milênio: A batalha final. Este evento está muito bem descrito em
Apocalipse 20:7-9.
O enganador fará aquilo que é a sua especialidade, ou seja, enganará
as nações. Os ímpios de todas as nações, ao serem seduzidos pelo pai da
mentira, serão reunidos, a fim de atacar a nova Jerusalém e os santos que
nela estarão. Isso reflete a inconformidade dos ímpios à condenação que
obterão do julgamento divino. O versículo 8 enfatiza um número imenso de
perversos: O seu número é como a areia do mar (NVI). Pelo tamanho do seu
exército, os ímpios possivelmente nutrirão a certeza de que conseguirão as
suas pretensões. Mas isso não acontecerá, porque o quinto fato que marcará
o fim do milênio é que Deus enviará fogo do céu. João declara: desceu, porém,
fogo do céu e os consumiu (Ap 20:9b).
Nem as forças ímpias, nem os poderes do deus deste século serão capazes
de impedir a intervenção divina para livrar os seus escolhidos e exterminar,
de uma vez por todas, aqueles que rejeitaram o Filho de Deus. Os injus-
tos, portanto, enfrentarão, nesta ocasião, a dura consequência das escolhas
que fizeram na vida presente. Mas João não pára por aí, e afirma: o diabo,
o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se
encontram não só a besta como também o falso profeta. Esta será, portanto, a

310 | Estudo 28 - O milênio


segunda morte5 (v.14). Assim como a segunda ressurreição está reservada
para os incrédulos, a segunda morte está lhes reservada também. Todos
aqueles cujos nomes não estiverem inscritos no Livro da Vida participarão
da segunda morte.
O versículo 10 conclui dizendo: ... e serão atormentados de dia e de noi-
te, pelos séculos dos séculos. Muitos utilizam esse texto para afirmar que os
ímpios, Satanás e seus comparsas, arderão “eternamente” no fogo. Esta in-
terpretação, no entanto, é equivocada. É óbvio que, aqui, se trata de uma
linguagem figurada. Caso contrário, como pode um lago de fogo material
torturar, para sempre, seres espirituais, como Satanás e os seus anjos?6 O
que, na verdade, o texto quer dizer é que o mal será extinto para sempre da
história humana. Para que isso aconteça, Deus o aniquilará.
Por fim, o sexto fato que marcará o fim do milênio é a inauguração de
um novo tempo. Após o milênio no céu, os salvos habitarão na nova terra.
João narra esta visão de maneira magnífica: Vi novo céu e nova terra, pois o
primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe (Ap 21:1). Este
será o tempo da mais pura comunhão do ser humano com o seu criador
(Ap 21:3). O luto, o pranto e a dor não mais existirão porque as primeiras
coisas passaram (Ap 21:4). A vida e a humanidade, finalmente, serão perfei-
tas. Estarão de acordo com vontade do Deus santo. Esses fatos, portanto,
marcarão o término do milênio. Deste estudo, podemos extrair lições para
o nosso crescimento espiritual. É o que veremos a seguir.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. A doutrina do milênio nos lembra uma chance de acerto.


A chance para nos arrependermos e nos acertarmos com Deus é nesta
vida. Não adianta nos enganarmos esperando outra ocasião. Existem cristãos
que, por não compreender corretamente a doutrina do milênio, pensam que,
depois da vinda de Cristo, teremos mais uma oportunidade de nos arrepen-
dermos e nos voltarmos para Deus, no período do milênio. Mas isso não é
verdade. É uma falácia! Por isso, é preciso viver a vida presente com respon-

5. A expressão “segunda morte” é mencionada quatro vezes no Apocalipse (2:11, 20:6,14, 21:8).
6. Ladd (1980:201).

O Doutrinal | 311
sabilidade, aproveitando o caminho que Cristo nos abriu, através da cruz, e
buscando a Deus, enquanto o podemos achar. Se o Senhor voltar ou se mor-
rermos antes e não estivermos em Cristo, a condenação já estará decretada.
Nada poderá ser feito no milênio para revertê-la. A nossa chance é agora!

2. A doutrina do milênio nos mostra duas opções de destino.


A Bíblia nos propõe que somente nesta vida presente temos a chance de
sermos salvos. Mas também nos propõe duas opções de destino. Durante o
milênio, ou estaremos vivos, reinando com Cristo no céu (Ap 20:4), ou esta-
remos mortos, na terra, onde Satanás estará preso (Ap 20:2,5). Diante disso,
cabe a pergunta: Quais destes destinos almejamos? Ambos são opcionais. É
nossa a responsabilidade de escolher. Contudo, a vontade do nosso Pai é esta:
... escolhe, pois, a vida para que vivas (Dt 30:19). Que nossa escolha seja passar
o milênio com Cristo no céu.

3. A doutrina do milênio nos apresenta dois lados da batalha.


No final do milênio, haverá o combate final. Será a batalha do Armage-
don. De um lado, estará o diabo com o seu exército de demônios e perdidos.
Do outro lado, estará Jesus e sua igreja, descendo do céu para habitar a terra.
De que lado você quer estar? Há um hino antigo que diz assim: Eu quero
estar com Cristo, onde a luta se travar. Não há como ficar neutro nessa bata-
lha. Não há como ficar em cima do muro. Quem não quer decidir de que
lado lutará, é porque já decidiu. O presente estudo já nos antecipa que lado
vencerá a batalha. Então, escolha fazer parte do exército de Cristo e tenha
a garantia da vitória final.

Conclusão
Chegamos ao final de mais um importante estudo. Nele, aprendemos
sobre a doutrina do milênio, que é bíblica e verdadeira. Não há como afir-
mar o contrário, uma vez que a própria Bíblia a defende (Ap 20:2-7). Este
evento acontecerá mais cedo ou mais tarde. Devemos estar preparados para
ele. Hoje, vimos os fatos que marcarão o começo, o período e o término
do milênio. Também vimos que essa doutrina, além de nos propor uma só
chance de acertar, nos mostra também duas opções de destino e nos apre-
senta dois lados da batalha. A vontade de Cristo é que, durante esse tempo,
reinemos com ele no céu (Ap 20:6). Mas a escolha é nossa.

312 | Estudo 28 - O milênio


Tão importante quanto o estudo de hoje será o próximo estudo. Nele,
trataremos o tema: O juízo final. A maioria das pessoas tem dúvidas sobre
esse assunto. Estas geralmente perguntam: “Por que haverá o julgamento?
Quem participará dele? Quando ocorrerá? Qual a sua base? Qual o seu
propósito? Quem será o juiz?”. Para todas essas dúvidas, a Bíblia oferece
respostas, e é com base nela que o próximo estudo será desenvolvido. Não
perca essa oportunidade de aprender mais da palavra de Deus. Continue a
crescer na graça e no conhecimento. Deus espera isso de você.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Apocalipse 20:1-7


A. O que significa a palavra “milênio”? Quantas vezes a expressão “mil
anos” se repete nesse texto?
B. Q uando acontecerá o milênio? O que as duas ressurreições têm a ver
com esse período profético?

02. Leia Marcos 13:26; 1 Tessalonicenses 4:16, e Apocalipse 20:6


A. Qual é o primeiro e magnífico evento que marcará o início do milênio?
B. Q ual será o segundo acontecimento que assinalará o começo do
período milenar?

03. Leia Lucas 21:25-27; Apocalipse 19:21; 2 Pedro 3:10-12; 1 Tessaloni-


censes 4:16-17
A. O terceiro evento que marcará o início do milênio é a morte dos
ímpios. Como e por que isso acontecerá?
B. O utro evento que apontará o começo do período milenar é o
arrebatamento da igreja. Explique como esse quarto evento ocorrerá.

04. Leia Apocalipse 20:1-3; João 14:1-3 e 2 Pedro 3:10


A. A prisão de Satanás é o quinto e último evento que marcará o início
do milênio. Quanto tempo ele ficará preso? O que significa essa
prisão de Satanás?

O Doutrinal | 313
B. Onde estarão os santos, durante o milênio? Como ficará o planeta
terra, no período milenar? Onde e como estarão os injustos, durante
esse período?

05. Leia Apocalipse 3:21; 19:7-9, 20:4


A. Q ual será o encargo daqueles que estarão com Cristo no céu, durante
o milênio?
B. D urante os mil anos que os justos passarão no céu, acontecerão,
também, as bodas do Cordeiro. Diga o que você sabe sobre esse festivo
evento.

06. Leia Apocalipse 20:5,7-9a, 21:2


A. Os dois primeiros fatos que marcarão o término do milênio são
estes: “os ímpios voltarão a viver” e “satanás será solto”. Que relação
há entre esses dois eventos?
B. Enquanto Satanás estiver sendo solto, o que acontecerá com a igreja
e a nova Jerusalém, conforme Ap 21:2-3? Quando o diabo e seu
exército de ímpios virem a igreja descendo do céu, o que farão?

07. Leia Apocalipse 20:9b-15, 21:1,3-4


A. Sabemos que, ao término do milênio, acontecerá a batalha final.
Qual será o resultado dessa batalha? Qual será o destino do diabo e
de seus comparsas?
B. O sexto e último fato que marcará o fim do milênio é a inauguração
de um novo tempo. Explique como será a vida na nova terra, após
o milênio.

Falta a página de
anotações

314 | Estudo 28 - O milênio


Estudo 29
O juízo final

E vi um grande trono branco, (…), e abriram-se os


livros; e abriu-se outro livro, que é o da vida; e os
mortos foram julgados pelas coisas que estavam escritas
nos livros, segundo as suas obras. (Ap 20:11-12)

Introdução
O tema do estudo anterior foi o milênio. Através daquele estudo, apren-
demos que o milênio é o período de descanso e paz que Deus reservou para
os fiéis, quando estes terminarem suas lutas aqui na terra. Esse período
terá início com a segunda vinda de Cristo e, de acordo com as Escrituras,
durante esse tempo, os salvos estarão no céu, para onde serão levados pelo
Senhor, depois de terem sido ressuscitados e transformados (1 Co 15:51-
52; 1 Ts 4:16-17; Ap 20:6). O céu não será a morada definitiva dos salvos,
pois, depois dos mil anos, estes descerão à terra, onde viverão para sempre.
No presente estudo, trataremos sobre o juízo final. Através deste, pro-
curaremos responder algumas perguntas, tais como: Por que ocorrerá o jul-
gamento? Quem participará dele? Quando ocorrerá? Quem será o juiz?
Qual a base desse julgamento? Qual é o seu propósito? O juízo final cons-
titui um dos últimos atos constantes do drama representado pelo pecado,
pois, após a sua execução, será determinado, de maneira total e definitiva, o
destino final de cada pessoa. Pedimos a atenção especial do leitor para este
estudo, enquanto desejamos que tire dele o melhor proveito possível.

O Doutrinal | 315
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

A doutrina do juízo final está alicerçada amplamente na Bíblia Sagrada,


a palavra de Deus. No Antigo Testamento, o dia do juízo é mencionado
como “o dia do Senhor”, “aquele dia”, “o grande e terrível dia do Senhor”
(cf. Is 2:12, 13:6,9; Jl 1:15, 2:1,11; Sf 1:7,14). No Novo Testamento, “há
pelo menos cinquenta referências ao juízo final (...). Isso já é suficiente para
demonstrar que este é um dos temas mais importantes da Bíblia”.1 Não há
como negar: segundo a Escritura, haverá um dia em que Deus se assentará
no tribunal e julgará todas as pessoas e tudo o que foi feito neste mundo.
Disso tratará este estudo.
1. Por que ocorrerá o julgamento? A realização do juízo é uma prova
de que Deus se importa conosco. Em sua palavra, está escrito: Porque Deus
há de trazer a juízo toda obra e até tudo o que está encoberto, quer seja bom,
quer seja mau (Ec 12:14). E mais: Porquanto tem determinado um dia em que
com justiça há de julgar o mundo (At 17:31). O justo espera receber um dia
a recompensa que será dada àqueles que entregaram a sua vida ao senhorio
de Cristo. Do mesmo modo, como ele espera ser recompensado, espera
também que os perversos sejam punidos. E isto somente será possível me-
diante um julgamento.
Disso vem a razão por que o juízo é necessário e por que as Escrituras
garantem que haverá um grande julgamento final, que “é a culminação de
muitos prenúncios em que Deus premiou a justiça ou puniu a injustiça ao
longo da história”.2 Devemos sempre nos lembrar – e o apóstolo Pedro
nos lembra disso – que “os julgamentos de Deus têm sido executados pe-
riodicamente e de modo indiscutível e isso nos lembra que um juízo final
ainda está por vir”.3 Ele diz: Assim também o Senhor pode salvar os piedosos
das aflições que os rodeiam e castigar os ímpios, até que chegue o dia do juízo final
(2 Pd 2:9 – NBV).
O dia do juízo será um dia de contradições. Enquanto, para uns, será
um dia de triunfo e muita alegria, para outros, será um dia de desaponta-

1. Lima (2006:624).
2. Grudem (1999:974).
3. Idem.

316 | Estudo 29 - O juízo final


mento e muita tristeza. Àqueles que entregaram suas vidas a Cristo e vive-
ram para a sua glória, esse dia trará alegria; mas àqueles que andaram nos
caminhos do deus deste século e fizeram o mal, trará tristeza. Naquele dia,
as coisas serão vistas como, de fato, são. De nada valerão as aparências. Com
certeza, acontecerão muitas surpresas, porque nenhuma pessoa será julgada
pelo que parecia ser, mas pelo que, de fato, é. O juiz é onisciente. Ele não vê
como vê o homem, mas vê o que está no interior do coração. Nesse dia, tudo
o que estava encoberto há de ser revelado.
2. Quem participará do julgamento? Embora este julgamento seja
feito, principalmente, para os injustos e maus, com base em 2 Co 5:10 e
Rm 14:10,12, é possível afirmar que os justos também estarão presentes ali,
na ocasião do julgamento final, ainda que apenas como expectadores. Sim,
apenas como expectadores, porque o julgamento destes precederá o julga-
mento dos ímpios. Como resultado disso, por essa ocasião já terão passado
mil anos com Cristo, no céu (Ap 20:6). Embora não saibamos muito a este
respeito, é até possível que os justos estejam auxiliando nesse julgamento
(cf. Mt 19:28; Lc 22:28-30; 1 Co 6:2-3; Ap 3:21; 20:4). O objetivo do
julgamento final para os justos não é o de verificar a sua condição, mas o
de apenas demonstrá-la publicamente.4 Estes devem aguardar esse dia com
muita ansiedade.
O que temos como certo é que, desse juízo, participarão todos os maus,
entre os quais estarão aqueles que, deliberadamente, rejeitaram Jesus e sua
palavra, isto é, todos os ímpios; também estarão Satanás e todos os de-
mônios, a besta e o falso profeta, que é o anticristo. Esses agentes do mal
ver-se-ão face a face com o grande juiz, do qual receberão a sentença final
pelo que fizeram de ruim. A relação dos que serão atingidos por esse julga-
mento está identificada no livro de Apocalipse, por suas características: ... os
covardes, os incrédulos, os depravados, os assassinos, os que cometem imoralidade
sexual, os que praticam feitiçaria, os idólatras e todos os mentirosos (Ap 21:8a
– NVI). A esses, o veredito é dado: O lugar deles será no lago de fogo que arde
com enxofre. Esta é a segunda morte (Ap 21:8b – NVI).
Para aqueles que aceitaram Jesus Cristo como salvador e permitiram
que ele dirigisse suas vidas, há uma consoladora promessa no evangelho: Na
verdade, na verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que

4. Erickson (1997:505).

O Doutrinal | 317
me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte
para a vida ( Jo 5:24). Como essa é uma escolha que deve ser feita enquanto
o indivíduo vive, cada um poderá mudar o final de sua história, optando por
não ser condenado. Para aquele que fizer isso, temos outra promessa: Por-
tanto agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8:1).
3. Quando ocorrerá o julgamento? A Bíblia ensina que há um juízo
logo depois da morte física da pessoa: E, assim como aos homens está ordena-
do morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo (Hb 9:27 – grifo nosso).
Tão logo morre, a pessoa já é, de imediato, julgada inocente ou culpada
pelo justo juiz. Se morreu com Cristo, ela é inocentada. Desde então, a co-
roa da justiça lhe está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, lhe dará naquele
dia (2 Tm 4:8a). Mas se ela morreu sem Cristo? É condenada, porque não
creu no nome do único Filho de Deus ( Jo 3:18). Ninguém escapa desse
juízo divino (Ec 12:14).
Todavia, o resultado concreto desse julgamento permanente e irrevo-
gável será conhecido em momentos diferentes: os justos, tanto os que fo-
ram ressuscitados quanto os que foram transformados, antes do milênio,
saberão do veredito divino por ocasião da segunda vinda de Cristo; os
ímpios, logo depois do final do milênio. Após o fim dos mil anos, todos
os ímpios serão ressuscitados e postos em pé diante do trono (Ap 20:12a). A
Escritura diz, na sequência: Então, se [abrirão] livros. Ainda outro livro, o
Livro da Vida, [será] aberto (Ap 20:12b). Esse julgamento dos ímpios é o
que chamamos de juízo final, justamente porque depois dele não há mais
julgamento algum, ele é o último.
Acreditamos que o juízo final deverá ocorrer depois do milênio pelas
seguintes razões: 1) Será realizado, principalmente, para os maus; 2) por
esse tempo, os ímpios ressuscitarão (Ap 20:5) e conhecerão a sentença que
lhes cabe por terem rejeitado Jesus Cristo quando tiveram a oportunidade
de aceitá-lo. Antes do julgamento, porém, os ímpios, uma vez ressuscita-
dos, serão mobilizados por Satanás para uma batalha contra Deus e contra
os santos de Deus. Frustrados nessa tentativa, terão de enfrentar, logo de-
pois, o juízo de Deus.
4. Quem será o juiz, no julgamento? Nesse julgamento, Jesus Cristo
é o juiz. Hebreus 12:23 diz que Deus é o juiz de todos; outras passagens
bíblicas, porém, mostram que Deus, o Pai, delegou essa autoridade ao Fi-

318 | Estudo 29 - O juízo final


lho.5 Leia o que João diz: Deus a ninguém julga, mas deu ao filho todo o juízo
( Jo 5:22). O apóstolo Pedro também afirmou que Jesus Cristo é quem foi
constituído por Deus Juiz de vivos e de mortos (At 10:42). A expressão “vivos e
mortos” compreende todos os que haviam vivido e morrido, desde a funda-
ção do mundo até a ocasião em que o texto foi escrito, e os que estavam vi-
vos naquele tempo. Também diz respeito a todos os que serão encontrados
vivos, no dia da vinda de Cristo, bem como a todos que já houverem sido
colhidos pela morte. Jesus julgará a todos, absolutamente.
Ao vir a este mundo pela primeira vez, Jesus Cristo veio como salvador
e mediador entre Deus e os homens. As palavras do apóstolo João, citadas
a seguir, tratam do papel que Cristo desempenhou e continua desempe-
nhando em relação aos que creram no evangelho: ... se alguém pecar, temos
um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo. Ele é a propiciação pelos nossos
pecados e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo (1 Jo 2:1-
2). A partir de sua segunda vinda, entretanto, ele não será defensor, mas juiz.
O Cristo misericordioso que, enquanto esteve na terra entre os homens,
soube compreender e perdoar as fraquezas dos pecadores, para que pudes-
sem ser salvos, por ocasião de sua segunda vinda, em razão da função que
ocupará, não mais poderá fazer o mesmo. Naquela ocasião, ele virá como
juiz, e os justos, vivos e mortos, conhecerão o seu julgamento. Para os ím-
pios, todavia, a oportunidade de perdão passou e toda a expectativa agora
gira em torno do juízo final. Mil anos depois do seu regresso o juiz lhes
dará a conhecer a sua sentença. Segundo o escritor da epístola aos Hebreus,
a única coisa que resta àqueles que, mesmo depois de terem recebido o co-
nhecimento da verdade, continuam pecando voluntariamente é esta: ... uma
certa expectação horrível de juízo, e ardor de fogo (Hb 10: 27).
5. Qual será a base do julgamento? Quanto à norma em que se baseará o
juízo, foi dito, em Ap 20:13: ... e foram julgados cada um segundo as suas obras.
Isso nos mostra a importância das boas obras, quando praticadas pela fé,
como um sinal de nossa gratidão a Deus pelo que ele fez por nós: Pois somos
feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão
preparou para que andássemos nelas (Ef 2:10). É evidente que as obras da lei,
por si só, não têm o poder de salvar, mas a ausência delas, na vida do salvo,
poderá levar à condenação. O texto de Tiago 2:8-13 nos aponta essa direção.

5. Idem, p.506.

O Doutrinal | 319
É com boas ações que demonstramos que amamos a Deus e estamos
agradecidos a ele pela salvação que nos deu, através de seu Filho Jesus Cris-
to. O padrão segundo o qual essas obras serão avaliadas é a vontade de Deus
revelada. Para julgar, Cristo usará a sua própria palavra. Aquele que der
ouvidos à sua palavra e crer que ele é o enviado de Deus tem a vida eterna, e
não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida ( Jo 5:24). Aos que
pensavam que poderiam manter um bom relacionamento com Deus, o Pai,
mesmo rejeitando a Cristo, este disse: Quem me rejeitar a mim, e não receber
as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que eu tenho pregado, essa o
há de julgar no último dia ( Jo 12:48).
A palavra de Deus é a norma de conduta para todos os homens (cf.
Ec 12:13-14; Mt 19:16-17; Jo 12:48-50; Rm 2:11-13). Quanto mais clara
for a nossa visão da vontade de Deus para conosco, maior será o grau de
responsabilidade que temos perante ele, no dia do juízo. Todavia, mesmo
aqueles que nunca ouviram explicitamente nada a respeito da lei de Deus
serão julgados: Todos aqueles que pecam sem conhecer a lei de Deus se perderão
sem essa lei, mas todos os que pecam conhecendo a lei serão julgados por ela (Rm
2:12 – NTLH). O que esse texto está mostrando é que existe um grupo de
pessoas que nunca receberam o conhecimento da lei de Deus, isto é, a lei
nunca lhes foi revelada. Mas todo ser humano tem alguma noção de certo e
errado. Sendo assim, os que não têm a lei se perderão, mesmo nunca tendo
conhecido a lei.
6. Qual o propósito do julgamento? O principal propósito do julga-
mento é, entre outros, punir os culpados, premiar os justos e tornar oficial
a separação entre estes e aqueles. Quando isso acontecer, então se cumprirá
o que foi dito pelo profeta Malaquias: ... vereis outra vez a diferença entre o
justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve (Ml 3:18). O pró-
prio Jesus demonstrou isso, em passagens do Novo Testamento, tais como:
Mt 13:24-30, 25:31-32. No primeiro texto, Jesus trata da separação entre o
trigo e o joio; no segundo, da separação entre as ovelhas e os cabritos. Em
ambos os textos, os elementos usados são simbólicos.
Durante suas vidas, é possível que muitos dentre os justos e injustos
tenham estado bem próximos uns dos outros: trabalhando numa mesma
empresa, estudando numa mesma escola, morando debaixo de um mesmo
teto, dormindo num mesmo quarto e sobre uma mesma cama, fazendo suas
refeições a uma mesma mesa, ou, quem sabe, num mesmo prato, apesar de

320 | Estudo 29 - O juízo final


serem diferentes do ponto de vista de Deus. Chegará, porém, o dia em que
não mais poderão continuar juntos. Serão final e definitivamente separados.
Somente Deus, mediante o juízo, poderá separá-los. Esse é o principal pro-
pósito do julgamento.
Outro propósito, também, é o de revelar a justiça de Deus. De fato, uma
das grandes bênçãos “do juízo final será o fato de que os santos e os anjos
verão a justiça de Deus absolutamente pura demonstrada em milhões de
vidas, e isso será fonte de louvor a ele por toda a eternidade”.6 Por exem-
plo, no momento do julgamento da perversa Babilônia, descrito no livro de
Apocalipse, lemos: ... Aleluia! A salvação, a glória e o poder pertencem ao nosso
Deus, pois seus juízos são verdadeiros e justos (Ap 19:1-2a). Depois do grande
julgamento final, a justiça de Deus se manifestará ainda mais esplendorosa
e poderemos glorificá-lo.
Até aqui, tecemos considerações gerais em torno do julgamento final,
envolvendo: o porquê do julgamento, quem participará dele, quando ocor-
rerá, quem será o juiz, em que se baseará e qual o seu propósito. Resta dizer
que, em verdade, não são os julgamentos que determinam o destino final
das pessoas. Tal destino é determinado durante a vida. Todos aqueles que
se tornaram filhos de Deus, por meio da fé em Cristo, e perseveraram até
o fim são salvos para sempre. Mas aqueles que morreram em seus pecados
estão perdidos para sempre. O destino eterno de ambos os grupos “não é
decidido nos julgamentos futuros. Em vez disso, os julgamentos mostrarão
perante toda a criação a glória de Deus”,7 justos e ímpios conhecerão as suas
sentenças pelo justo juiz.

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Creia: O juízo final nos traz, ainda mais, a certeza de que Deus é infalível.
Com a realização do juízo, Deus terá cumprido uma de suas promes-
sas mais frequentes. E as promessas de Deus não falham. Ele não é homem
para que minta (Nm 23:19a). Dele está escrito: Assim será a palavra que sair
da minha boca: ela não voltará para mim vazia; antes fará o que me apraz, e

6. Grudem (1999:980).
7. Couch (2009:700).

O Doutrinal | 321
prosperará naquilo para que a enviei (Is 55:11). O nosso Deus é o Deus da
verdade (Sl 31:5, 119:160). Não precisamos recorrer a muitos textos das Es-
crituras para provarmos que Deus e sua palavra são infalíveis. E é assim que
precisamos crer nele. Deus cumprirá a sua promessa de juízo. Portanto, as
pessoas que se deleitam na prática do adultério, da corrupção, da feitiçaria,
da idolatria, da ira, do homicídio, da maledicência etc. serão julgadas por
Deus. Ele é infalível!

2. Creia: o juízo final nos traz, ainda mais, a certeza de que Deus é justo.
O juízo final é a manifestação suprema da justiça de Deus, ou seja, é
uma das formas de Deus revelar a sua justiça. O dia do juízo, portanto, é
um dia de prestação de contas, no qual cada pessoa deverá receber de Deus
a retribuição correspondente ao que fez por merecer, durante sua vida. Há,
inclusive, por parte de muitos humanos, uma consciente expectativa nesse
sentido. É através do julgamento que se cumprirão as palavras da Escritura,
que dizem: ... Porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará (Gl 6:7).
Se não houvesse juízo, como isso ficaria provado?

3. Creia: o juízo final nos traz, ainda mais, a certeza de que Deus é gracioso.
O juízo final provará não apenas que Deus é infalível e justo, mas tam-
bém que ele é gracioso. O juízo final é feito não somente para punir e
castigar os maus; é feito também para premiar os bons. Toda pessoa justa
tem a esperança de que, em algum momento, receberá do Senhor a coroa da
vida. O justo, quando do juízo, terá a certeza de que valeu a pena levar uma
vida de resignação, em obediência a Deus e à sua palavra. O Deus a quem
servimos é o Deus que vê e valoriza o que cada um faz de bom, e a ninguém
deixa sem a devida recompensa.

Conclusão
Falamos sobre o juízo final e do que acontecerá depois dele. Esperamos
que, como resultado das reflexões feitas em torno desse tema, você tenha se
conscientizado melhor a respeito dele. Tudo o que Deus nos revelou a res-
peito tem como objetivo a nossa preparação para aquele dia. Nenhuma pes-
soa deverá encarar esse acontecimento sem estar devidamente preparada.
Paulo adverte: Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia
agora, a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; porquanto tem

322 | Estudo 29 - O juízo final


determinado um dia em que com justiça há de julgar o mundo (At 17:30-31a).
Façamos o que temos de fazer, enquanto é dia!
O próximo estudo versará sobre a extinção do mal. Trata-se do desfecho
da história do pecado, desde que entrou no mundo. É por demais incômoda
a condição do justo, que, ao longo do tempo, tem convivido com as malda-
des deste mundo, numa situação que se agrava cada vez mais. Seu grande
anelo é ver essa situação chegar ao fim. Como não há grande expectativa
de ver essa situação melhorar, sob nenhum governo humano, não lhe resta
outra coisa a fazer senão esperar o dia em que Deus, depois do julgamento
final, há de dar fim às maldades deste mundo, eliminando-as para sempre
da face da terra.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Isaías 2:12, 13:6, 9; Joel 1:15, 2:1,11; Sofonias 1:7,14
A. O que ensina a doutrina do juízo final?
B. Essa doutrina tem base bíblica? O que os antigos profetas disseram
a respeito do juízo final?

02. Leia Eclesiastes 12:14; Atos 17:31, e 2 Pedro 2:9


A. Por que ocorrerá o julgamento?
B. Discorra um pouco sobre esta parte do comentário: “O dia do juízo
será de contradições. Enquanto, para uns, será um dia de triunfo
e de muita alegria, para outros, será um dia de desapontamento e
muita tristeza”.

03. Leia 2 Coríntios 5:10; Romanos 14:10,12; Apocalipse 3:21, 20:4


A. Quem participará do julgamento?
B. Q ual a diferença entre a participação dos justos e a participação dos
injustos, no juízo final? Compare Jo 5:24; Rm 8:1 com Ap 21:8.

04. Leia Hebreus 9:27; 2 Timóteo 4:8; João 3:18


A. Quando ocorrerá o julgamento?

O Doutrinal | 323
B. Embora saibamos que o julgamento de Deus já acontece no momento
da morte de cada pessoa, quando serão conhecidos os resultados
desse julgamento? Quando os justos e os injustos receberão o
veredito final? Leia Ap 20:4-6,12.

05. Leia Hebreus 12:23; João 5:22-24; Atos 10:42 e 1 João 2:1-2
A. Quem será o juiz, no julgamento?
B. Por que, hoje, Jesus Cristo é advogado, mas, naquele dia, será juiz?

06. Leia Apocalipse 20:13; Efésios 2:10; João 12:48 e Romanos 2:12
A. Qual será a base do julgamento final?
B. As pessoas que conhecerão a lei de Deus e a Bíblia poderão ser
inocentadas, no juízo final?

07. Leia Malaquias 3:18; Mateus 13:24-30, 25:31-32


A. Qual é o propósito do juízo final?
B. Explique por que o juízo final revelará a justiça de Deus.

Anotações

324 | Estudo 29 - O juízo final


Estudo 30

A origem e a
extinção da maldade

Os ímpios, no entanto, perecerão (…);


serão aniquilados e de desfarão em fumaça. (Sl 37:20)

Introdução
No estudo anterior, tratamos sobre o juízo final. Procuramos responder
as seguintes perguntas: Por que ocorrerá o julgamento? Quem participará
deste? Quando ocorrerá? Quem será o juiz? Qual a base desse julgamento?
Qual é o seu propósito? Conforme estudamos, o juízo final constitui-se um
dos últimos atos constantes do drama representado pelo pecado, pois, após
a sua execução, será determinado, de maneira total e definitiva, o destino
final de cada pessoa. Por isso, de alguma maneira, o presente estudo é uma
continuação do anterior, pois tratará, com mais detalhes, do destino de to-
dos aqueles que praticam a maldade.
Mesmo vivendo em meio a sequestros, assassinatos, estupros, roubos,
infortúnios, adversidades, calamidades, pestes e coisas parecidas, quase to-
dos os seres humanos sonham com um mundo melhor, independentemente
de serem cristãos ou não. Será possível, um dia, o fim de toda maldade?
Aliás, por que existe tanta maldade no mundo? Onde esta se originou?
O presente estudo trata justamente dessas questões. Veremos a origem da
maldade e saberemos, também, que a sua destruição final e total já está cla-
ramente sentenciada por Deus. O último capítulo da história da maldade,
nesta presente era, virá, abrasador como fornalha, (...) e todos os que cometem
maldade, serão como palha... (Ml 4:1).

O Doutrinal | 325
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Houve um tempo, na eternidade, em que o universo estava em per-


feita harmonia e paz. Nada de infortúnios, nada de sofrimento, nada que
lembrasse a maldade que hoje reina por todos os lugares. Diante disso, a
pergunta que responderemos é: Como as coisas chegaram ao estado atual?
Onde a maldade se iniciou? Esta ficará impune? É óbvio que não. Se esta
vida fosse a única que tivéssemos, com toda certeza, o problema do mal
seria insolúvel. Mas outros capítulos serão escritos, e a vida que Deus tem
reservada para nós, no futuro, é sobremodo melhor. No porvir, a punição
de toda maldade virá e a vida eterna será dada a todos que receberam Jesus
como Senhor e Salvador de suas vidas. Vejamos.
1. A origem de toda maldade: As Escrituras dão como origem de toda
maldade a rebelião de um anjo ocorrida no céu, numa época anterior ao pe-
cado de Adão. Esse anjo, que, hoje, é conhecido por Satanás – que significa
“adversário” ou “alguém que se opõe a outro em propósito e ação” –, era Lú-
cifer. Este nome significa “estrela da manhã” ou “portador da luz”. Lúcifer e
todos os outros anjos foram criados por Deus (Sl 148:2-5). Originalmente,
ele era um ser cheio de sabedoria, formosura e perfeição (Ez 28:12-19;
Is 14:12-17). Usando linguagem figurada, a Escritura descreve a condição
desse anjo, antes de sua rebelião contra Deus, nos seguintes termos: Tu eras
querubim da guarda ungido, e te estabeleci (...). Perfeito eras nos teus caminhos,
desde o dia em que foste criado... (Ez 28:14-15).
Através do livro de Jó, podemos ter uma ideia do clima de harmonia
e paz que prevalecia entre os seres espirituais, antes que o pecado fosse
conhecido (cf. Jó 38:4-7). Porém, todo esse clima alegre foi quebrado, quan-
do Lúcifer, em sua ambição de poder, acabou por se rebelar contra Deus,
tentando usurpar-lhe o lugar. O texto não diz que Lúcifer revelou sua ini-
quidade, mas que Deus, por sua onisciência, foi quem achou iniquidade no
coração do anjo maior (Ez 28:15). Ao sondar a mente de Lúcifer, Deus
testemunhou uma das declarações mais arrogantes dele: ... subirei acima das
mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo (Is 14:14).
O termo semelhante ao Altíssimo significa aquele “que possui os céus e a
terra” (cf. Gn 14:19,22). Nesse sentido, Satanás tem como propósito “ter au-

326 | Estudo 30 - A origem e a extinção da maldade


toridade sobre os céus e a terra”.1 Imediatamente à descoberta de suas pre-
tensões arrogantes, foi lançado para fora do monte de Deus, foi posto por
terra (Ez 28:16-19). Uma vez rebelando-se contra Deus, esse anjo acabou
por influenciar a terça parte dos anjos (Ap 12:4), com os quais foi expulso
do céu por Deus. É a esses anjos que a Bíblia se refere, quando menciona
uns que não conservaram suas posições de autoridade, mas abandonaram sua
própria morada ( Jd 6 – NVI).
Eles são também chamados de anjos que pecaram (2 Pd 2:4). Então, os
anjos maus, ou demônios, tornaram-se assim por terem se unido a Lúcifer,
quando este, em sua ambição de poder, decidiu rebelar-se contra Deus e
buscou o seu apoio. A palavra comércio – do hebraico Rakullah –, em Eze-
quiel 28:16, é muito atraente e está muito além dos negócios e transações
dos seres humanos. O significado do termo é “andar por aí”, e, talvez, indi-
que o andar de Satanás entre os anjos para assegurar a fidelidade deles ao
seu programa de rebelião contra Deus,2 o que, de fato, ele conseguiu (pelo
menos, de 1/3).
Mas em que período da história essa queda aconteceu? Essa é uma
pergunta de difícil resposta. Contudo, pensemos de novo no início de todas
as coisas. No livro de Gênesis, em que temos o relato das obras criadas por
Deus, é comum a expressão: ... e viu Deus que era bom (Gn 1:10,12,18,21,25).
No versículo 31 deste mesmo capítulo, está escrito: E viu Deus tudo quanto
tinha feito, e eis que era muito bom. Há uma forte teoria que diz que, provavel-
mente, todo o mal veio a existir depois dessa afirmação de Deus, em algum
momento, entre Gênesis 1:31 e Gênesis 3:1.
Antes de irmos adiante, precisamos considerar, novamente, que os seres
angelicais que agora são maus foram criados por Deus como anjos bons (Gn
1:31). Eles eram bons, mas eram também livres, tanto para obedecer quanto
para desobedecer a Deus. Foi a desobediência que os tornou maus. Todos
eram santos e puros no dia em que foram criados; porém, “pecaram e perde-
ram o privilégio de servir a Deus (...) e hoje continuamente praticam o mal
no mundo”.3 Uma vez em rebelião contra Deus e tendo conseguido o apoio
da terça parte dos anjos, Satanás e os demônios (anjos maus) descem à terra.

1. Chaffer (1986:369).
2. Idem, p.363.
3. Grudem (1999:335).

O Doutrinal | 327
Descendo à terra, conseguiu afastar, com astúcia, os primeiros seres hu-
manos da comunhão com Deus. Com isso, conseguiu atingir toda a raça
humana, fazendo com que a maldade se instalasse na terra. Mas como ele
conseguiu isso? Como sabemos, o Senhor havia submetido o primeiro casal
a uma prova de obediência. Essa prova consistia em o casal abster-se de
comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, se quisesse continuar
vivendo. A ordem dada por Deus foi a seguinte: De toda a árvore do jardim
comerás livremente; mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás;
porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás (Gn 2:16-17). Então,
Satanás, usando a serpente, enganou o casal, levando-o à desobediência à
palavra de Deus.
A queda de nossos primeiros pais marcou, aqui na terra, o início do
conflito entre as forças do bem e as do mal. Foi o próprio criador que,
depois de atribuir um tipo de punição a cada um dos envolvidos naquele
episódio, disse, no tocante à serpente e à mulher: E porei inimizade entre ti
e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe
ferirás o calcanhar (Gn 3:15). A partir daí, estava declarada a guerra entre
Deus e Satanás – dois poderes bem diferentes: um maior (Deus) e o outro
assustadora e infinitamente menor (Satanás).
O mal, representado por Satanás e seus seguidores, uma vez estabe-
lecido na terra, passou a operar através dos séculos, tendo como objetivo
dificultar e destruir a obra de Deus. Faz isso especialmente tentando as
pessoas. Seu maior intento é roubar, matar e destruir os seres humanos ( Jo
10:10). Jesus Cristo teve de lutar contra essas forças do mal (Mt 4:1-11), e
seus apóstolos nos advertiram a respeito dessa luta (Ef 6:10-17). São seres
poderosos, ardilosos e influentes, mas a sua atuação é sempre limitada pela
soberania de Deus (Mt 12:29; Ap 20:2). Além do mais, sendo fortalecidos no
Senhor e na força do seu poder (Ef 6:11), podemos resistir-lhes firmemente.
Porém, mesmo a despeito desta luta, nossa grande alegria e esperança é a de
sabermos que um dia toda a maldade deixará de existir.
2. O fim de toda maldade: O sonho de um final feliz para todas as coi-
sas não uma invenção. A “terra celeste por vir”, cantada por muitos, chegará!
A Bíblia afirma que ali não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem
dor (Ap 21:4). O fim da maldade na terra é apenas uma questão de tempo.
A nossa luta contra essas hostes da maldade não é uma luta sem fim. A Bí-
blia nos garante que o príncipe deste mundo já está julgado ( Jo 16:11b) e que o

328 | Estudo 30 - A origem e a extinção da maldade


Deus da paz, em breve, esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás (Rm 16:20a).
Ele já reservou um dia em que há de punir, com severo castigo, não somente
esse adversário, mas também a besta, o falso profeta, a morte, o inferno e
todos que seguem suas orientações.
A Bíblia ensina que isso irá ocorrer depois do milênio, como nos mos-
tra, muito claramente, o capítulo 20, versículos 7 a 10 e 14 a 15. No entanto,
lembramos que todo esse processo se iniciará com a vinda de Cristo. To-
dos os ímpios, que, por livre escolha, não alcançaram a bênção da salvação,
ouvirão dele, nesse dia: Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda:
Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus
anjos (Mt 25:41). Então, os que, dentre eles, forem achados vivos morrerão
e os que já estiverem mortos não ressurgirão, até que os mil anos se completem
(Ap 20:5), para que sejam julgados, definitivamente, e recebam, com Sata-
nás e seus anjos, a recompensa que lhes foi reservada: o lago que arde com fogo
e enxofre (Ap 21:8; cf. Mt 25:41).
É bom lembrarmos que não devemos ver, nesse lago, um lugar de tor-
tura eterna. Deus não os torturará. A Bíblia ensina que, para punir aqueles
que pecam, ele utiliza não a tortura, mas a morte (Lv 10:1-2; At 5:1-10).
Isso é assim, desde que ocorreu o primeiro pecado. A tortura não combina
com a justiça de Deus. Stott acertadamente considera o conceito de tor-
mento eterno “intolerável”, e não entende como as pessoas podem viver
com ele sem ter cauterizados os seus sentimentos. Segundo esse importante
teólogo, a visão tradicional de um “tormento eterno consciente” deve ser
suplantada, pois a Bíblia aponta na direção do aniquilacionismo, a doutrina
que afirma que os pecadores serão aniquilados, ao invés de passarem a eter-
nidade queimando no inferno.4
Sendo assim, de acordo com o que cremos, Deus não atormentará eter-
namente Satanás, seus demônios e os ímpios, mas os aniquilará, isto é, ele
os destruirá totalmente, após o milênio. Naum escreveu sobre uma época
em que os ímpios seriam completamente destruídos (1:15). O Salmo 37:10,
neste sentido, também diz: ... o ímpio não mais existirá; olharás para onde ele
mora, mas ele não estará ali. O Senhor extinguirá a maldade completamente:
... não ficará nem raiz nem ramo (Ml 4:1). A destruição completa de todo mal
é comparada ao desaparecimento da fumaça: Mas os ímpios perecerão (...) de-

4. Stott apud Bacchiocchi (2007:218).

O Doutrinal | 329
saparecerão, sim, como fumaça se desfarão (Sl 37:20). O diabo também será des-
truído, pois Jesus veio a este mundo também com esse objetivo (Hb 2:14).
Mas o que dizer dos textos que trazem a ideia de um sofrimento eter-
no? Por exemplo, Isaías 66:24 não trata de um fogo que “nunca se apaga”?
Não existe um grupo de pessoas para o qual Jesus dirá no último dia: afas-
tai-vos de mim para o fogo eterno, de acordo com Mt 25:41? Neste mesmo
capítulo, no versículo 46, Jesus não disse: E eles irão para o castigo eterno, mas
os justos irão para a vida eterna? E quando Jesus fala de inferno de fogo? (Mt
5:22, 29-30; 18:8-9). Será que essa afirmação não é base para dizermos que
existe um inferno onde pessoas ficam queimando o tempo todo? E quanto a
esse “lago de fogo e enxofre” onde o diabo, a besta, o falso profeta e todos os
ímpios serão lançados, de acordo com Ap 19:20; 20:10; 21:8? A Bíblia não
diz que o tormento ali é eterno? Consideremos rapidamente esses textos.
Comecemos com Isaías 66:24. Neste texto, devemos observar que não
se trata de uma descrição de tormento eterno, mas de completa destruição;
afinal, os justos vão observar “cadáveres”, não pessoas vivas. O “verme” é uma
prova disso. Este só se encontra em corpos mortos; apressa a decomposição
destes; representa o desprezo dos cadáveres, que não serão dignos nem mes-
mo de um sepultamento. O “fogo que não se apaga” é uma descrição que
está presa a um contexto. Na Palestina, para manter um fogo aceso, a fim de
queimar um cadáver, era preciso um esforço considerável. Os cadáveres não
queimavam prontamente. O fogo que não se apaga é um fogo que é constan-
temente alimentado, a fim de que o cadáver seja completamente consumido.
Então, a expressão “o fogo que não se apaga” traz a ideia de algo que queima
ou consome completamente. O texto trata de “‘corpos dos mortos’ que são
consumidos, e não de almas imortais que são eternamente atormentadas”.5
Quanto ao “fogo eterno” e ao “castigo eterno”, citados por Jesus, preci-
samos levar em conta o uso da palavra eterno, que é a tradução da palavra
grega aiônios. Esse termo, muitas vezes, é usado não para se referir à duração
de algo, mas aos seus resultados permanentes. Em Judas 7, temos um exem-
plo comprobatório dessa afirmação: Sodoma e Gomorra (...) foram postas como
exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno. Neste texto, “eterno” não se refere à
duração; afinal, Sodoma e Gomorra não estão queimando até os dias de
hoje. O fogo foi eterno em seus resultados ou efeitos, isto é, as cidades fo-

5. Bacchiocchi (2007:191).

330 | Estudo 30 - A origem e a extinção da maldade


ram totalmente queimadas. Ao mencionar o fogo eterno, Jesus se refere à
destruição eterna dos perdidos, não ao tormento eterno destes.6 O mesmo
vale para a referência que ele faz a “castigo eterno” (Mt 25:46). Jesus está se
referindo a uma punição de efeito permanente.
Quando Jesus menciona o inferno de fogo, a palavra usada por ele é
Geena. Esta é uma transliteração do hebraico “Vale de Hinon”, localizado
no sul de Jerusalém. Este lugar era real, visível e conhecido por todos. Ali,
muitos reis e filhos de Israel sacrificavam seus filhos a Moloque. O lugar
tornou-se amaldiçoado pelas autoridades rabínicas; por isso, era o espaço
onde se jogavam os corpos de condenados mortos, de animais e o lixo da
cidade de Jerusalém. Então, era um lugar onde havia fogo constantemente,
realimentado continuamente. Obviamente, uma vez terminado o combus-
tível (quando não havia corpos, nem de homens, nem de animais, nem lixo),
acabava-se o fogo. Tal lugar “foi usado por Cristo como ilustração da des-
truição final”.7 Por isso, não acreditamos que existe ou existirá um inferno
onde as pessoas serão queimadas constantemente.
Sobre o “lago de fogo e enxofre”, acreditamos tratar-se de uma expres-
são metafórica, que significa o aniquilamento total e final de toda maldade,
não um lugar onde o diabo, o falso profeta, a besta e os ímpios estarão sem-
pre a queimar. A razão? leia o que diz o texto: Esta é a segunda morte, o lago
de fogo (Ap 20:14 – grifo nosso); lago ardente de fogo e enxofre, que é a segunda
morte (Ap 21:8 – grifo nosso). Veja que os dois textos dizem que o lago de
fogo é uma designação da segunda morte. Desta forma, para entendermos
o que é o lago de fogo, precisamos entender o que é a “segunda morte”. Esta
diz respeito a uma extinção completa e irreversível. Na primeira morte, ain-
da há esperança, pois é um sono temporário que trará a ressurreição. Mas,
para aqueles que ressuscitarem para experimentar a segunda morte, não
restará fio de esperança algum. Toda maldade será completamente extir-
pada da face da terra. O lago de fogo é uma metáfora deste aniquilamento.
Por fim, concluímos esta primeira parte lembrando que nossa grande
esperança é que os males que já nos afligiram e continuam nos afligindo
até agora, um dia, serão banidos da terra. Como vimos, esse dia chegará.
O Deus que nos deu uma nova vida nos dará novos céus e nova terra, nos

6. Idem, p. 199.
7. Oliveira (2008:65).

O Doutrinal | 331
quais habita justiça (2 Pd 3:13b), não mais o diabo, o falso profeta, a besta, a
morte, o inferno, o ímpio. Sendo assim, não se atormente por causa daquele
que anda em derredor, como leão que ruge (1 Pd 5:8b). Seja apenas vigilante e
resistente (1 Pd 5:8-9). E, de igual modo, não se indigne por causa dos mal-
feitores, nem tenha inveja dos que praticam a iniquidade (Sl 37:1), pois eles
dentro em breve definharão como a relva e murcharão como a erva verde (v.2).
Apenas confie no Senhor e faça o bem (v.3).

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Toda maldade um dia terá um fim: Esteja firme.


Todas as forças do mal se mobilizaram para levar Jesus a pecar e se
afastar do seu propósito para a salvação da humanidade; porém, não logra-
ram êxito, porque ele estava determinado a fazer qualquer sacrifício para
manter-se fiel ao Pai. Se ele tivesse vacilado, toda a humanidade estaria
perdida. Mas Jesus venceu. Na cruz, decretou a sentença de Satanás (Cl
2:15; Hb 2:14). A luta contra o inimigo está ganha. Pouco tempo lhe resta
(Ap 12:12). Em breve, ele e todos os seus serão banidos. Com confiança e
convicção, aguardemos o fim de toda a maldade. Lembremos o conselho
de Paulo: Portanto, meus queridos irmãos, já que é certa a vitória futura, sejam
fortes e firmes (1 Co 15:58 – BV).

2. Toda maldade um dia terá um fim: Esteja alerta.


À igreja de Tessalônica, Paulo escreveu: ... estais inteirados com preci-
são de que o Dia do Senhor vem como ladrão de noite (1 Ts 5:2). Em Tiago,
está escrito: Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda
do Senhor está próxima (Tg 5:8). Conforme já estudamos, a vinda de Jesus
inaugura o milênio e, depois deste, todo mal será completamente extirpado.
Não nos enganemos: é bem provável que já estejamos vivendo os últimos
momentos da história deste mundo. Brevemente, Satanás, os seus anjos e os
ímpios serão destruídos. Isso significa que a nossa atenção, agora, precisa ser
mais intensa do que em qualquer outra época. Quanto a isso, a palavra de
Deus nos alerta: ... não durmamos, pois, como os demais, mas vigiemos e sejamos
sóbrios (1 Ts 5:6).

332 | Estudo 30 - A origem e a extinção da maldade


3. Toda maldade um dia terá um fim: Esteja feliz.
O juízo é o ato final, nesse drama da história humana, porque deter-
minará o destino futuro de cada um. Nesse dia, as pessoas estarão divididas
em salvas e perdidas. Umas destinadas à vida eterna e outras à vergonha e
ao desprezo eterno (Dn 12:2; Jo 5:28-29). A partir de então, o mal deixará
de existir (Ap 20:7-15). Satanás, os anjos maus e os ímpios foram julgados
e condenados. Surgirá, então, um novo tempo, marcado pela paz e pela
harmonia: Ali nunca mais haverá maldição. Nela estará o trono de Deus e do
cordeiro (Ap 22:3). Aguarde esse tempo com esperança, pois ele chegará!

Conclusão
Mesmo convivendo com desgraças, perdas, misérias, dificuldades, in-
fortúnios, privações, todo ser humano sonha com uma vida melhor no fu-
turo. Afinal, foi o próprio Deus que pôs a eternidade no coração do homem
(Ec 3:11). O ser humano não é capaz de descobrir e entender tudo aquilo
que Deus fez; entretanto, Deus lhe deu a capacidade de perceber além das
ocorrências diárias da vida. Por isso, todos nós, de alguma forma, sabemos
que haverá um final feliz. A história do mal no mundo já acumula vários
capítulos, mas, conforme ensina a Bíblia, o fim da maldade virá.
Satanás, seus anjos e todos os ímpios serão banidos eternamente. Con-
forme estudamos, isso acontecerá após o milênio. O próximo estudo, o últi-
mo deste Doutrinal, tem por título A nova terra: o lar dos remidos. Nele, vere-
mos a continuação da história final deste presente estado de coisas. Uma vez
banido todo mal, será instaurado definitivamente um tempo de felicidade
e eterna paz. Numa terra totalmente restaurada, viveremos para sempre ao
lado do Senhor. Como será esse lugar? Quem são as pessoas que irão morar
ali? Quais serão as atividades nessa nova terra? Confira no próximo estudo.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus


01. Leia Salmo 148:2-5 e Ezequiel 28:14-15
A. Quem é o criador de todos os anjos, inclusive de Satanás?
B. Como era Satanás, o chefe dos demônios, antes de sua queda? Deus
o fez mau?

O Doutrinal | 333
02. Leia Ezequiel 28:15 e Isaías 12:14
A. O que foi achado no coração de Lúcifer? Quais eram suas
pretensões arrogantes?
B. Comente o significado do termo “semelhante ao altíssimo”.

03. Leia Apocalipse 12:4; Judas 4, e 1 Pedro 2:4


A. Uma vez pecando e sendo expulso da presença de Deus, que
percentual dos anjos de Deus Lúcifer conseguiu influenciar?
B. Como alguns desses anjos são chamados, hoje? Eles estão a serviço
de quem?

04. Leia Apocalipse 20:4; João 16:11, e Romanos 16:20


A. A nossa luta contra toda maldade existente no mundo é uma luta
sem fim?
B. Que promessas temos da parte de Deus sobre o fim da maldade?

05. Leia Apocalipse 20:7-10, 14-15, 21:8; Salmo 37:10, e Malaquias 4:1
A. Q uando acontecerá a destruição final de toda maldade? Onde os
maus serão jogados?
B. Podemos ver, no lago, um lugar de tortura eterna? O Senhor
atormentará eternamente Satanás, seus demônios e os ímpios ou os
aniquilará completamente?

06. Leia Mateus 25:41, 46, 5:22, 23:15


A. Q ual o sentido da palavra “eterno”, usada por Jesus, nesses textos?
B. Q uando Jesus menciona o “inferno de fogo”, usa a palavra geena, que
indica um lugar. Por que Jesus o usa para ilustrar a destruição final?

07. Leia Apocalipse 20:14, 21:8 e 2 Pedro 3:13


A. O “lago de fogo e enxofre” é uma metáfora do quê?
B. Qual a nossa grande esperança?

Falta a página de
anotações

334 | Estudo 30 - A origem e a extinção da maldade


Estudo 31

A nova terra,
o lar dos remidos

E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e


a primeira terra passaram, e o mar já não existe. (Ap 21:1)

Introdução
No estudo anterior, ocupamo-nos com a origem e a extinção da mal-
dade. Por meio daquele estudo, aprendemos, nas Escrituras, que o mal
originou-se no céu, de onde foi transferido para a terra. Aqui, Satanás, o
tentador, conseguiu influenciar o primeiro casal e, enganando-o, prejudi-
cou a todos os demais seres humanos (Rm 5:12). Deus enviou seu Filho
ao mundo para salvar os pecadores arrependidos e determinou um dia em
que há de julgar e punir aqueles que rejeitaram a graça que lhes ofereceu
em Jesus. O juízo determinará o destino final do pecado e dos pecadores
impenitentes, assim como de toda maldade.
O presente estudo trata da nova terra, que, depois de restaurada e puri-
ficada por Deus, está destinada a ser a morada dos salvos. A vida eterna para
estes não começa aqui, mas, sim, a partir dos mil anos de descanso no céu.
Mas o céu não é o lugar onde os salvos devem permanecer, uma vez que,
depois dos mil anos, todos serão trazidos à terra, para, aqui, serem estabele-
cidos para sempre. Foi isso o que procuramos mostrar nos últimos estudos
ministrados neste livro. O nosso sincero desejo é que o estudante tire deste
estudo o melhor proveito possível.

O Doutrinal | 335
I Verificando a doutrina na palavra de Deus

Já é muito antiga a promessa feita por Deus quanto à criação de um


novo céu e de uma nova terra. Ele deu essa garantia por meio do profeta
Isaías (Is 65:17; 66:22); por meio do apóstolo Pedro (2 Pd 3:7,13), e no
Apocalipse (Ap 21:1). Esta terra que fora amaldiçoada por Deus, no prin-
cípio, por causa do pecado dos nossos primeiros pais, uma vez renovada e
purificada, será devolvida a todos os seres humanos regenerados, para que,
nela, vivam para sempre. É disso que trataremos neste estudo.
1. A certeza de uma nova terra: Como procuramos mostrar, tanto o An-
tigo quanto o Novo Testamento, tratam dessa mudança que acontecerá nos
céus e na terra. É evidente que os céus e a terra continuarão os mesmos, mas,
com certeza, terão mudadas as suas aparências. O texto de Apocalipse diz: Vi
novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já
não existe (Ap 21:1). A palavra “novo”, utilizada nesse versículo, diz respeito
à palavra grega kainos, que significa, literalmente, “recentemente feito” ou
“recente”. Essa palavra se deriva da raiz qen, que significa “ficar fresco”.1
Kainos traz consigo a ideia daquilo que é novo quanto à qualidade,
em comparação com aquilo que existia anteriormente, isto é, a ideia é de
um novo que é melhor do que o antigo. Deus fará tudo melhor para os
seus filhos. Em sua carta aos Romanos, o apóstolo Paulo trata da expec-
tativa diante dessa mudança, ao dizer que a própria natureza se ressente
daquilo que de mal lhe tem acontecido e aguarda ansiosa a sua libertação
(Rm 8:22-23).
Em face da afirmação de que a terra e o céu serão renovados, não po-
demos evitar a pergunta: Por que o céu também será renovado? Quanto à
terra, podemos entender a necessidade de renovação, porque aqui se desen-
rolou o drama do pecado e aqui as suas consequências foram sofridas com
grande intensidade. Mas e o céu? Na verdade, como já estudamos anterior-
mente, toda maldade iniciou-se no céu com a queda de Lúcifer. O fato de a
Bíblia dizer que haverá “novos céus” nos traz a ideia de que isto nunca mais
poderá ocorrer. Assim como na terra não haverá mais a possibilidade de o
pecado acontecer, no céu também não.

1.Beltran (2010:27).
Pedro, em sua segunda carta, diz que aguardamos novos céus e nova terra,
nos quais habita a justiça (3:13). A palavra-chave deste versículo é “aguarda-
mos”, que significa “aguardar com grande expectativa”. Essa palavra descre-
ve uma atitude de empolgação. Nesse lugar, “habita a justiça”. Tal expressão
aponta para o estabelecimento total da santidade de Deus. A justiça, que
agora é uma forasteira neste mundo cheio de injustiças, “finalmente obterá
residência fixa na nova criação. Será estabelecida para sempre ali. Será a
proprietária e a dona-de-casa, e não uma mera hóspede”.2
Os céus e a terra, uma vez renovados, tornar-se-ão a habitação dos
salvos: no céu, eles viverão por um período de um mil anos; na terra, depois
desse período, viverão por toda a eternidade. Quanto às condições que pre-
valecerão na terra depois da descida da igreja com a nova Jerusalém, tudo
ainda está muito embrionário para que se possa dizer alguma coisa a respei-
to. O que nos foi revelado na Escritura é que, quando tudo isto acontecer,
então se cumprirão as palavras proféticas: Eis aqui o tabernáculo de Deus com
os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo e o mesmo Deus estará
com eles e será o seu Deus (Ap 21:3).
A linguagem humana é demasiadamente pobre para traduzir com pa-
lavras, tudo o que de belo e maravilhoso Deus reservou para aqueles que
tiverem a felicidade de chegar ali: Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu,
nem jamais o coração do homem percebeu, as coisas maravilhosas que Deus pre-
parou para aqueles que o amam (1 Co 2:9). Não há método de apreensão
acessível ao homem “(olhos, ouvido ou entendimento) que lhe possa dar
qualquer ideia das coisas maravilhosas que Deus tem pronto para aqueles
que o amam”.3 Não duvide: haverá novos céus e nova terra!
2. Características da nova terra: Sabemos bem pouco sobre as condi-
ções que prevalecerão na nova terra, depois do milênio. Porém, o que sabe-
mos é suficiente para nos dar uma ideia de como será. Em primeiro lugar,
não haverá maldição contra alguém. Em Ap 22:3-5, temos informações do
que existirá e do que não existirá. Esse texto nos afirma que, ali, ninguém
ousará dizer mal contra outrem. Todos viverão em plena harmonia. Desa-
venças e desentendimentos jamais existirão. Ali, ninguém proferirá mentira
ou sofrerá os danos causados por ela.

2. Champlin (1979e:212).
3. Morris (1981:45).
Sobre a harmonia, há uma promessa de Deus ao antigo Israel que irá
se cumprir na nova terra: E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o
cabrito se deitarão, e o filho de leão e a nédia ovelha viverão juntos e uma criança
pequena os guiará (Is 11:6). E mais: O lobo e o cordeiro se apascentarão juntos,
e o leão comerá palha com o boi (...). Não farão mal nem dano algum em todo o
monte da minha santidade, diz o Senhor (Is 65:25). Mesmo sendo simbólicas,
essas expressões dão-nos uma ideia do clima de paz que reinará entre os
habitantes da nova terra.
Em segundo lugar, lá estará o trono de Deus e do Cordeiro. A presença
do trono de Deus e do Cordeiro, na nova terra, e especialmente na cidade,
é a garantia de um governo de justiça e paz, pois justiça e juízo são a base do
seu trono (Sl 97:2). Todos aqueles que, como servos do Senhor, já sofreram,
neste mundo, com a falta de justiça, ali, jamais sofrerão em decorrência
disso, porque o Deus de justiça tem o seu trono estabelecido no meio deles,
estará sempre com eles e será o seu Deus. Como será maravilhoso viver tão
perto de Deus!
Em terceiro lugar, na nova terra, não haverá clamor, nem dor nem morte.
O fato de sabermos que, na nova terra, não haverá sofrimento encoraja-nos
a enfrentarmos, aqui, qualquer adversidade. Sob o presente sistema, nada
marca mais presença que o sofrimento. Costuma-se até dizer que a própria
morte não seria tão temida, se não fosse o sofrimento causado pelas doen-
ças que quase sempre a precedem. Não só as doenças causam sofrimento.
Há uma grande variedade de sofrimentos, que desgastam, debilitam, depri-
mem, angustiam e podem levar à morte. Ali, não haverá clamor, nem dor,
nem morte, porque não haverá pecado.
Em quarto lugar, na nova terra, não haverá noite. Aqui, temos uma das
características da cidade, não da terra toda, pois está escrito:

... a cidade não necessita de sol nem de lua para que nela res-
plandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cor-
deiro é a sua lâmpada (...). E as suas portas não se fecharão de
dia, porque ali não haverá noite (Ap 21:23,25)

A noite com que estamos tão acostumados, em nosso cotidiano, em


virtude de ser a parte do dia normalmente destinada ao nosso descanso,
simplesmente não haverá, na nova Jerusalém. A presença da divindade será
suficiente para iluminá-la.
Em quinto lugar, os habitantes da nova terra terão o nome de Deus gravado
em suas testas. O nome de Deus estará na testa de cada um dos salvos. O
que essas palavras significam é que todos serão conhecidos, porque todos
estarão marcados com o sinal de Deus. Esta não é a primeira vez em que as
Escrituras mencionam um sinal usado por Deus para a identificação de seu
povo. No passado, Deus disse a Israel:

E estas palavras que hoje te ordeno, estarão no teu coração (...)


Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por testeiras
entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais da tua casa, e
nas tuas portas. (Dt 6:6,8-9)

3. As atividades dos salvos na nova terra: Há, por parte de muitas


pessoas, muita curiosidade em saber o que os salvos farão na nova terra,
ou seja, que atividades os salvos desempenharão na nova terra. Mesmo
não nos sendo revelada nenhuma atividade específica a ser executada
pelos salvos, na nova terra, de uma coisa estamos absolutamente certos:
todos terão o que fazer, pois assim está escrito: Os seus servos o servirão.
Não é possível servir sem fazer algo. O ato de servir implica a execução
de um serviço. Esse serviço, com certeza, será executado com muita ale-
gria e gratidão. A felicidade futura dos salvos é referida na Bíblia como
“descanso”. Contudo, não será um descanso ocioso. Este descanso é se-
melhante ao sábado, o dia santo, em que os filhos de Deus deixam de lado
os seus cuidados, as suas preocupações e se dedicam em horas sagradas de
adoração e serviço ao Senhor.4
Sobre isso, há uma profecia de Isaías que se cumprirá na nova terra,
depois da restauração de todas as coisas. A profecia é essa: ... será que desde
uma lua nova até à outra e desde um sábado até ao outro, virá toda a carne a
adorar perante mim, diz o Senhor (Is 66:23). Eis aí uma forma de servir a
Deus. Aqui, nesta velha terra, adorar a Deus e estudar sua palavra formam
uma parte importante da agradável ocupação dos salvos, no dia do Senhor.
Semelhantemente, a adoração a Deus, com alegres cânticos, louvores e glo-
rificações, será uma parte das atividades dos salvos na nova terra.
O sábado, portanto, que sempre foi um dia deleitoso para aqueles que
observam os mandamentos da lei de Deus, continuará sendo o dia do Se-

4. Dagg (2003:288).
nhor, digno de honra (Is 58:13). Nele, periodicamente, virão os fiéis de toda
a nova terra à nova Jerusalém, para adorarem ao Senhor, assim como, em
escala bem menor, faziam as tribos de Israel, no passado, nas celebrações
especiais, como as da páscoa, do pentecostes etc. Jerusalém será a capital
da nova terra, o centro de adoração para todos os remidos. Todos os salvos
terão acesso a essa cidade. Visitá-la será um grande prazer.
Sobre a nova Jerusalém, é importante que nos refiramos a algumas de
suas características. A cidade não necessita da luz do sol, nem da lua. O
Cordeiro, refletindo a glória de Deus, a alumia. Ali, as ruas são de ouro e os
muros de jaspes luzentes, as mansões são ornadas de pedras preciosas. Os
fundamentos, em número de doze, são ornados com todo o tipo de pedras
preciosas; as portas, também em número de doze, cada uma é constituída
de uma pérola. Lá, não há templo, porque o seu templo é o Senhor Deus Todo-
-Poderoso, e o Cordeiro. A praça da cidade é de ouro puro, como vidro trans-
parente (Ap 21:19-21). Todas essas são descrições simbólicas para mostrar
a grande beleza e esplendor da cidade.
À vista de tudo o que temos dito, qual é a expectativa que temos com
relação ao futuro? Temos colocado o nosso coração nas coisas que dizem
respeito a Deus, ou temo-nos deixado levar pelos interesses do mundo, ao
ponto de perdermos de vista o alvo de nossa vocação? Deixamos aqui o
grande anseio do apóstolo Pedro: Nós, porém, segundo a sua promessa, espera-
mos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça (2 Pd 3:13). Que esta seja,
também, a nossa grande esperança!

II Praticando a doutrina da palavra de Deus

1. Confie: A nova terra, o lar dos remidos, será um lugar de felicidade plena.
Tudo o que tenhamos imaginado, até agora, sobre felicidade, não se
pode comparar com o que Deus tem preparado para aqueles que lhe são
fiéis. Leia o que Paulo diz: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu e
não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para aqueles que o
amam (1 Co 2:9). Ainda esta afirmação do apóstolo: Porque para mim tenho
por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória
que em nós há de ser revelada (Rm 8:18). São essas as mensagens de esperan-
ça que Deus tem para nós. O final de nossa história será feliz.
2. Confie: A nova terra, o lar dos remidos, será um lugar de comunhão plena.
Ali, na nova terra, o nosso relacionamento será perfeito: com Deus (1
Jo 1:3b), com os nossos irmãos (1 Jo 1:7) e com a natureza (Is 11:6-9). Esse
relacionamento, de certa forma, já foi prefigurado pelo modo de viver dos
primeiros cristãos (At 2:42). Mas, na nova terra, será praticado com mais
intensidade. O individualismo, que o apóstolo Paulo tanto combateu (Fp
2:3-5), não existirá ali. O que, de fato, vai prevalecer é o espírito comunitá-
rio. Quem ainda não aprendeu a fazer isso, deve começar desde já.

3. Confie: A nova terra, o lar dos remidos, será um lugar de santidade plena.
Na nova terra, tudo é especial. Portanto, é de se esperar que só pessoas
especiais tenham acesso a esse lugar. Uma das qualidades exigidas daqueles
que querem entrar ali é a santificação. Na parábola da grande ceia (Mt
22:11-13), temos uma ideia de como o Senhor tratará aqueles que querem
ter acesso a esse novo mundo, sem estarem devidamente preparados. Lugar
como esse o Senhor reservou tão somente a um povo seu especial, zeloso e de
boas obras (Tt 2:14). O conselho bíblico para nós é este: Segui a paz com
todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12:14). Sejamos
santos, se quisermos fazer parte da nova terra.

Conclusão
A nova terra, a respeito da qual temos falado neste estudo, é o lar que
Deus tem preparado para aqueles que o amam. É o cumprimento da pro-
messa de Cristo aos seus discípulos, no último dia de convivência pessoal
com eles: Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito.
Pois vou preparar-vos lugar ( Jo 14:1-2). É o desfecho da história de lutas pe-
las quais tem passado o povo de Deus, aqui na terra. É o fim da caminhada,
através dos desertos deste mundo, e a chegada à terra prometida.
É com essa visão que chegamos ao fim desta série de estudos nos
quais foram apresentados, de maneira resumida, todos os artigos de fé
que têm norteado nossa conduta cristã até agora. O espaço delimitado
para a apresentação de cada um deles não nos permitiu uma abordagem
mais abrangente. Esperamos, porém, que a forma como foram discutidos
tenha contribuído para uma melhor compreensão das doutrinas bíblicas,
por parte do estudante, pois foi esse o alvo principal das nossas atenções,
do princípio ao fim desses estudos. Se isso, de fato, acontecer, nós nos
daremos por recompensados.

III Debatendo a doutrina da palavra de Deus

01. Leia Isaías 65:17, 66:22; 2 Pedro 3:7,13; Apocalipse 21:1


A. O que o profeta Isaías disse a respeito da promessa feita por Deus
quanto à criação de um novo céu e uma nova terra?
B. O utro autor bíblico que tratou a respeito na nova terra foi o apóstolo
Pedro. O que ele disse?

02. Leia Apocalipse 21:1


A. Em suas visões, como o apóstolo João viu o novo céu e a nova terra?
B. A palavra “novo” ou “nova” é tradução do termo grego “kainos”. O
que significa? O céu e a terra serão criados novamente ou serão os
mesmos apenas com nova aparência?

03. Leia Romanos 8:22-23; 1 Coríntios 2:9; 2 Pedro 3:13; Apocalipse 21:3
A. Por que a terra e o céu precisam passar por essa reforma feita por Deus?
B. O utro motivo para essa reforma é que a terra será a habitação perene
dos salvos.

04. Leia Salmo 97:1-6; Isaías 11:6-7; Apocalipse 22:3-5


A. Nesse texto, uma das características da nova terra é a ausência de
maldição. O que isso significa? Como será o convívio dos seres
humanos entre si e com a natureza? Fale sobre a harmonia na
nova terra.
B. O utra característica da nova terra é que, no meio dela, estará o trono
de Deus e do Cordeiro. O que esse trono representa? Por que esse
governo divino é garantia de justiça e paz?

05. Leia Apocalipse 21:4-5,23-25, 22:4-5


A. De acordo com esses textos, o que nunca haverá na nova terra?
B. Por que não haverá noite na nova terra?
06. Leia Apocalipse 21:7-8,27, 22:3-4
A. Q uem serão os moradores da nova terra? O que significa dizer que
eles terão o nome de Deus gravado em suas testas?
B. Que tipo de pessoa jamais entrará na nova terra?

07. Leia Apocalipse 22:3b-4 e Isaías 66:23


A. Q uais serão as atividades dos salvos, na nova terra? Lá, teremos
atividades semelhantes às que temos hoje, tais como plantar e colher?
B. O que o profeta Isaías prenunciou a respeito do sábado, na nova terra?
O quarto mandamento da lei de Deus será observado na nova terra?

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