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Bíblia
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criaçãdade
Graça
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Lei
o
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida por qualquer modo ou meio,
seja eletrônico, mecânico ou outros, sem autorização prévia da Igreja Adventista da Promessa.
O DOUTRINAL
Nossa crença ponto a ponto
O Doutrinal | 5
Estudo 13 � A sã doutrina...................................................................... 145
Estudo 14 � Abstinência e temperança................................................... 155
Estudo 15 � A oração e sua eficácia........................................................ 165
Estudo 16 � A cura divina ...................................................................... 175
Estudo 17 � A lei dos dez mandamentos e sua vigência.......................... 187
Estudo 18 � O verdadeiro dia de descanso.............................................. 197
Estudo 19 � A distinção das leis............................................................. 207
Estudo 20 � A manutenção da obra: dízimos e ofertas........................... 221
Estudo 21 � Submissão às autoridades e liberdade de consciência.......... 231
Estudo 22 � O casamento, o lar e a família............................................. 241
Estudo 23 � A igreja de Cristo................................................................ 251
Estudo 24 � A mortalidade da alma........................................................ 261
Estudo 25 � O dia da crucificação e da ressurreição de Jesus.................. 271
Estudo 26 � A segunda vinda de Cristo.................................................. 285
Estudo 27 � As ressurreições dos mortos ............................................... 295
Estudo 28 � O milênio............................................................................ 305
Estudo 29 � O juízo final........................................................................ 315
Estudo 30 � A origem e a extinção da maldade...................................... 325
Estudo 31 � A nova terra, o lar dos remidos........................................... 335
Bibliografia.................................................................................................. 345
Prefácio à
décima edição
O Doutrinal | 7
guntar porque vocês crêem assim, estejam preparados para contar-lhe (3:15, BV).
Em “O Doutrinal”, temos explicados os “porquês” da nossa crença.
Como você perceberá, esta 10ª edição traz várias novidades, a começar
pela extensão dos estudos: houve um aprofundamento maior em cada um
dos pontos. Além disso, a estrutura dos estudos mudou. De maneira resu-
mida, cada um tem a seguinte divisão:
I. Verificando a doutrina
na palavra de Deus:
Nesta parte do estudo,
oferecemos a base bíblica
para o ponto a ser estudado.
É a parte mais extensa.
Para facilitar a leitura e a
compreensão, está
dividida em itens.
O que torna marcante esta 10ª edição, além dessa nova estrutura e da
ampliação no conteúdo de “O Doutrinal”, é o momento especial em que ela
é lançada: quando se completam cinquenta anos do lançamento da primeira
edição e quando a IAP comemora oitenta anos.
Esperamos em Deus que você possa tirar o melhor proveito possível
deste material. Terminamos com um conselho dado pelo apóstolo Paulo a
Timóteo, que havia aprendido, desde criança, as sagradas letras: ... continue
firme nas verdades que aprendeu e em que creu de todo o coração (2 Tm 3:14).
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Apresentação
Goteje a minha doutrina como a chuva, destile a minha palavra como o or-
valho, como chuvisco sobre a erva e como gotas de água sobre a relva, determina,
por intermédio de Moisés, o grande e único Deus de Israel (Dt 32:2). Abre
tu os meus olhos, para que veja as maravilhas da tua lei, responde Davi, dese-
joso de obedecer aos ensinamentos desse Deus (Sl 119:18). Os ensinos de
Deus despertam no homem os mais profundos anseios de conhecê-lo e se
relacionar com ele.
O desejo de saber, de conhecer, de desvendar é inerente ao ser humano.
Não nascemos sabendo. Por isso, quando sabemos, nós nos realizamos, pois
nos encontramos com aquilo que nos falta. Em algum momento da vida,
ficamos sabendo que não viemos do acaso: nossa origem é Deus, que tem,
na pessoa de Cristo, a imagem exata de seu ser (Hb 1:3). Seguimos em
entender que pecamos e fomos destituídos da glória de Deus, mas que, em
Cristo, essa glória nos é restituída progressivamente (Rm 3:23, 8:29; Cl
1:15, 3:10; 2 Co 2:4, 3:18).
Esse entendimento espiritual, de que, em Cristo Jesus, todas as coisas
são feitas e refeitas, conduz o homem pecador ao ponto mais elevado da-
quilo que se pode afirmar como sabedoria real, pura e verdadeira, superior
a todas as demais formas de sabedoria humana, porque está alicerçada em
Cristo, que é o poder e a sabedoria de Deus (1 Co 1:24; cf. 1:18-31). Cristo
é a própria palavra de Deus, isto é, a palavra em carne ou a doutrina divina
em forma de pessoa ( Jo 1:1; 1 Jo 1:1).
É nessa perspectiva de ter Cristo Jesus como o centro de todas as coisas
que a Diretoria da Convenção Geral apresenta aos adventistas da promes-
sa o livro O Doutrinal: nossa crença ponto a ponto, contendo as atualizações
O Doutrinal | 11
julgadas necessárias para que haja melhor conhecimento, entendimento e
confiança na sã doutrina de Deus: alguns títulos reformulados, especial-
mente os que tratam do processo de salvação em Cristo Jesus, e um novo
ponto inserido, o de número 11: Evangelização e Discipulado. Portanto, O
Doutrinal agora contém trinta e um pontos doutrinários.
Como se sabe, a Bíblia Sagrada é o livro inspirado por Deus, incom-
parável e autoritativo, quanto às regras de fé e práticas cristãs, e nós, os
adventistas da promessa, cremos nisso. O Doutrinal, que hora apresentamos,
é o livro em que se encontram, de maneira sistematizada, as nossas crenças,
com base na Bíblia. Por isso, todas as alterações realizadas neste texto visa-
ram tão somente, à luz da Escritura, fundamentar (aprofundar e expandir)
ainda mais o que professamos.
Visto ser o presente livro nossa referência doutrinária, em termos insti-
tucionais, todos os textos originais foram produzidos pelos irmãos do De-
partamento de Educação Cristã (DEC), avaliados pela Comissão Teológica
e aprovados pela Câmara Teológica, conforme determinam o Estatuto e o
Regimento da Convenção Geral das Igrejas Adventistas da Promessa.
A melhor forma de os adventistas da promessa agradecerem a Deus
pelo trabalho dos irmãos e das irmãs que produziram os textos, avaliaram e
aprovaram os pontos doutrinários aqui publicados é esforçarem-se e apro-
fundarem-se nos estudos, na compreensão e na prática desses pontos, por-
que a palavra de Deus determina, manda, ordena, admoesta que manejemos
bem a palavra da verdade (2 Tm 2:15). Se assim procederem, Deus receberá
esses atos para o louvor de sua glória e responderá com bênçãos aos que
trabalharam os textos e aos que os receberam de bom grado.
Aos que produziram, avaliaram e aprovaram O Doutrinal, ofereço o
“texto de ouro”, que os inspira na luta pela defesa da sã doutrina:
12 | Apresentação
... fortifica-te na graça que há em Cristo Jesus. E o que de mim,
entre muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que
sejam idôneos para também ensinarem os outros. (2 Tm 2:1-2).
Àquele que é Senhor de tudo e de todos, que trabalha para que Cristo e
sua doutrina sejam, para nós, como a água e o orvalho são para a terra seca,
eu tributo honra e louvor com esta canção bíblica:
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Estudo 1
A Bíblia Sagrada
Introdução
Todos os trinta e um capítulos deste manual, que ora temos em mãos,
foram baseados em um livro: A Bíblia Sagrada. É por isso que vamos iniciar
o nosso estudo tratando sobre ela. A palavra “Bíblia” vem do grego biblos
(livro), nome que era dado à folha de papiro preparada para a escrita.1 Um
papiro de tamanho pequeno era chamado biblion e vários destes eram cha-
mados de bíblia. Por isso, se traduzida literalmente, a palavra “Bíblia” quer
dizer “coleção de livros pequenos”.2
Os materiais usados para escrever a Bíblia eram simples. Os dois mais
importantes foram o “papiro” e o “pergaminho”. O primeiro não era muito
resistente. O papiro era uma planta aquática, que crescia nos rios e lagos de
pouca profundidade. As tiras eram extraídas e coladas umas sobre as outras
até formarem um rolo. O pergaminho era mais resistente. Sua origem es-
tava nas peles de ovelhas e cabras, entre outros animais. Essas peles eram
tosadas e raspadas, para se obter um material mais durável para a escrita.3
Por que é essencial saber isso? Só um livro muito especial e de indescritível
valor sobreviveria até os nossos dias. Por quê? O material era frágil, mas o
mantenedor, não. É sobre esse livro singular que estudaremos.
1. Geisler (1997:5).
2. Silva (1986:18).
3. McDowell (1989:34).
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I Verificando a doutrina na palavra de Deus
4. Anders (2000:39).
5. Geisler (1997:9).
6. Os próprios autores dos livros confessam faltar inspiração aos escritos (1 Macabeus 4:46, 9:27, 14:41; 2 Macabeus
2:38). Diferentemente dos demais livros do AT, estes nunca foram citados no NT. Há contradições nos ensinos:
Tobias 12:9 afirma que a esmola nos livra da morte e nos faz encontrar a vida eterna.
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a Bíblia é inspirada, em todas as suas partes. Além de ser plenária, essa
inspiração também foi verbal. No texto original, a palavra “inspirar” é
theopneustos, que significa, literalmente, “soprado por Deus”, isto é, “tudo
o que foi escrito pelos autores humanos foi emitido pelo sopro de Deus.
Ele falou por intermédio deles. Eles foram seus porta-vozes”.7 Este texto
não elimina a personalidade do autor, mas mostra que cada letra que foi
registrada na Bíblia está de acordo com a vontade de Deus; está ali porque
ele quis; por isso, a Bíblia tem autoridade que nenhum outro livro pode
pleitear para si.8
Em 2 Pedro, também vemos a questão da inspiração da Bíblia confir-
mada: ... nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entre-
tanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo (2
Pe 1:21). Observe a expressão “movidos pelo Espírito Santo”. Pedro está
dizendo que a Bíblia não foi escrita por homens que usaram suas próprias
ideias, opiniões e palavras, mas, sim, por homens de Deus que foram “mo-
vidos” por Deus. No original, o termo traduzido por “movidos” significa “ser
conduzido, como uma embarcação é levada pelo vento”.9 A ideia é que os
profetas “içaram suas velas”, ao serem obedientes e receptivos, e o Espírito
Santo as soprou e levou “seu barco” na direção que ele desejava.
3. A autoridade da Bíblia Sagrada: A Bíblia é a nossa única regra de
fé e de prática. Ela é suficiente como única fonte confiável e completa de
conhecimento e orientação de toda a verdade divina. O motivo? Ela é a
palavra de Deus; não apenas a contém ou se torna. A Bíblia não depende
do testemunho humano para ter autoridade, porque a sua autoridade vem
diretamente de Deus. Por trás de cada palavra pronunciada por alguém, está
a pessoa que a pronuncia. Desta forma, a palavra de Deus (Bíblia Sagrada)
carrega em si a autoridade de Deus.10 Não crer na Bíblia é não crer em
Deus. Desobedecer aos seus ensinos é desobedecer a Deus.
Ao folhearmos as páginas das Escrituras, direta ou indiretamente, en-
contraremos, aproximadamente, 1500 referências à própria Bíblia como a
palavra de Deus que subsistirá eternamente (Is 40:8). Os profetas considera-
7. Stott (2005:184).
8. Hester (1983:18).
9. Wiersbe (2006c:574).
10. Stott (2005:187).
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A Bíblia também apresenta unidade em seus ensinos. Jesus disse: Santi-
fica-os na verdade; a tua palavra é a verdade ( Jo 17:17). A Bíblia é a verdade
de Deus. A coerência não é o único meio de examinar a verdade, mas um
dos principais. “Os promotores públicos dizem que uma mentira raramente
se sustenta quando examinada com profundidade”.12 Por ter uma mente
divina, única, de uma coerência absoluta por trás dos seus ensinos, a Bí-
blia não contém contradições e nem erros; ela está certa em todas as suas
afirmações. Nenhuma descoberta arqueológica jamais contradisse qualquer
informação dada pela Bíblia.13 Ela é inerrante, infalível.
5. A clareza da Bíblia Sagrada: Depois de entender a composição,
a inspiração, a autoridade e a unidade da Bíblia Sagrada, cabe uma per-
gunta extremamente importante: Toda pessoa consegue ler e interpretar
as Escrituras? Há dois extremos perigosos com relação à resposta dessa
pergunta. O primeiro é aquele que afirma ser totalmente desconhecido da
pessoa comum o significado das Escrituras. Essa primeira posição restrin-
ge o entendimento das Escrituras a um grupo de especialistas em inter-
pretação bíblica.
O segundo extremo, igualmente perigoso, é o da clareza absoluta das
Escrituras, isto é, não existe nenhuma parte difícil de entender na Bíblia.
Todas as partes são fáceis e simples de serem entendidas. Esse segundo
grupo considera-se tão capaz que a ajuda de mestres, pastores ou profes-
sores – pessoas teoricamente “preparadas” – é totalmente descartada. A
exemplo do primeiro extremo, este também é falho; afinal, a respeito do
que Paulo escreveu, o próprio apóstolo Pedro afirmou que ele escreveu
pontos difíceis de entender (2 Pe 3:16). Os dois extremos são perigosos e
nós devemos evitá-los.
A doutrina da clareza da Bíblia Sagrada ensina que toda pessoa tem o
direito de ler e interpretar a palavra de Deus. Entretanto, esse direito não
excluiu a necessidade de haver estudiosos na igreja (At 8:30-31).14 Por isso,
leia, medite na Bíblia Sagrada, peça sabedoria ao Senhor para entendê-la
(Tg 1:5). É possível aprender os princípios básicos da fé cristã, ao ler a Bí-
blia, sobretudo quanto à salvação em Cristo Jesus (2 Tm 3:15). Se, porven-
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II Praticando a doutrina da palavra de Deus
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04. Leia Lucas 24:27, 44-45
A. O que o próprio Jesus disse com relação ao tema central de toda a
Bíblia Sagrada?
B. Se Jesus ocupa o lugar central das Escrituras, a palavra de Deus, que
lugar ele deve ocupar na nossa vida?
Anotações
A triunidade divina
Introdução
No estudo anterior, aprendemos que a Bíblia é um livro especial, não
por ser o mais vendido de todos os tempos, mas porque é a palavra de Deus,
toda é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção
e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente
preparado para toda boa obra (2 Tm 3:16-17 – NVI). É através da Bíblia
que conhecemos a Deus, pois é por meio dela que ele se revela a nós. Hoje,
estudaremos uma doutrina magnífica que trata da natureza e do ser do
próprio Deus, que ele revelou através de sua palavra, isto é, a doutrina da
triunidade divina.
A palavra triunidade vem do termo em latim trinitas, que significa “o
estado de ser três” ou “três-em-unidade”. Embora não apareça na Bíblia,
essa palavra expressa uma verdade encontrada em suas páginas. Mas que
verdade é essa? O ensino de que Deus é um ser Triúno, ou seja, três pessoas,
mas um em essência. Esse é um dos pontos mais importantes da fé cristã.
Essa crença é reafirmada todas as vezes que alguém é batizado nas águas e
cada vez que é proferida a bênção apostólica. Cremos no Pai, no Filho e no
Espírito Santo e precisamos saber o que isso representa para nós.
O Doutrinal | 25
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1. Pearlman (2006:77).
2. Erickson (1997:134).
3. Grudem (1999:169).
4. Stewart (1992:19).
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2. A composição da triunidade divina na Bíblia: Conforme já vimos,
Deus é uma unidade composta. Agora, pontuaremos cada uma das três pes-
soas divinas. Comecemos por observar a pessoa do Pai. Tanto no Antigo quan-
to no Novo Testamento, encontramos várias referências sobre a pessoa do Pai;
entre elas, destacamos: Dt 32:6; 2 Sm 7:14; Sl 89:26; Is 63:16, 64:8; Jr 3:4,19;
Ml 1:6; Mt 5:16, 6:9, 26:53; At 1:4; Rm 1:7; Gl 1:3; Ef 6:23. Não há dúvida
quanto a sua divindade. Jesus disse: Nós não somos bastardos; temos um Pai, que
é Deus ( Jo 8:41). Ora, se o Pai é divino, e, de fato, ele é, então podemos afirmar
que é eterno, pois existe antes de todas as coisas (Sl 90:2). Não foi gerado,
nem criado; sempre existiu e sempre existirá (2 Co 11:31; 2Ts 2:16).
Sobre a eternidade do Pai, Isaías escreveu: Tu, ó Senhor, és nosso Pai (...)
o teu nome é desde a eternidade (Is 63:16). Sabemos também que Deus, o Pai,
é onisciente (1 Pd 1:2) e onipresente (Mt 6:4,6,18); é criador e o soberano
na criação (1 Co 8:6; Mt 5:45); é santo e perfeito (Mt 5:48; 1 Pd 1:15-16);
é amoroso (1 Jo 3:1), e é digno de adoração (Rm15:6; Fp 2:11). Foi Jesus
Cristo quem nos mostrou mais profundamente o Pai, revelando-nos que
ele é uma pessoa real, com quem podemos nos relacionar. Passemos, então,
a observar a pessoa do Filho. Crer na divindade de Jesus Cristo é imprescin-
dível no que concerne à doutrina da triunidade. Nós cremos que o Filho
é plenamente Deus. Na Bíblia Sagrada, há diversos textos que asseveram
abertamente esse ensino, e um forte exemplo é João 1:1, que diz: No princí-
pio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus (NVI).
Tomé também foi muito claro ao declarar a Jesus: Senhor meu e Deus
meu ( Jo 20:28). Já o apóstolo Paulo foi incisivo, ao chamar Jesus de grande
Deus (Tt 2:13) e bendito Deus (Rm 9:5). Outra prova de que Jesus é Deus
está no fato de lhe serem conferidos, na Bíblia, vários atributos pertencen-
tes somente a divindade. Por exemplo: Deus, o Filho, é eterno (cf. Jo 1:1-2,
8:58, 17:5; Cl 1:17; Hb 13:8). Ele também é criador ( Jo 1:3; Cl 1:16),
onipresente (Mt 18:20; 28:20), onipotente (Ml 28:18; Fp 3:21; Ap 1:8);
onisciente (Mt 9:3-4; Cl 2:2-3; Jo 6:64), autor e senhor da vida ( Jo 1:4;
11:25; At 3:15) e digno de ser adorado (Fp 2:10; Hb 1:6; Ap 5:13). Assim,
negar que Cristo é Deus é recusar o ensino das Escrituras.
Além da natureza divina, Jesus também assumiu a natureza humana:
E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade ( Jo 1:14).
Deus se fez humano para identificar-se conosco, com o propósito de nos
salvar. Cremos que Jesus era plena e verdadeiramente Deus e plena e ver-
5. Hendriksen (2004b:663).
6. Bruce (2009:1738).
7. Pearlman (2006:77).
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desta frase é uma prova de que, desde o início, o eterno Deus era Triúno,
até porque a Bíblia afirma, sem rodeios, que tanto o Filho quanto o Espírito
Santo estavam envolvidos na criação do mundo ( Jo 1:1; Gn 1:2).
Além deste, há ainda outros importantes textos, no Antigo Testamen-
to, que apontam para a existência de Deus em três pessoas distintas, que
dialogam entre si (Gn 3:22, 11:7; Is 6:8; Sl 110:1). E, desses textos, pode-
mos destacar o Salmo 110:1, em que lemos: Disse o Senhor ao meu Senhor:
Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos
teus pés. Aqui, duas pessoas estão conversando. Quem? Alguém pode logo
afirmar: Deus e Davi. Resposta errada! De acordo com o ensino de Jesus e
de Pedro, o diálogo acontece entre duas pessoas divinas: o Pai e o Filho (cf.
Mt 22:41-45; At 2:34).
Há evidências da triunidade até mesmo em Deuteronômio 6:4, em
que lemos: Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Aqui, a pa-
lavra hebraica traduzida por “único” é echad, e expressa a ideia de uma
unidade composta.8 Prova disso é que esse termo foi, primeiramente, usa-
do em Gênesis 1:5, para mostrar que duas partes do dia – tarde e manhã
– formam um único dia. Também é o mesmo termo que aparece em Gê-
nesis 2:24, para se referir à união de Adão e Eva. Por isso, encontramos
base, nesse texto de Deuteronômio, para afirmar que, em Deus, há uma
unidade composta.
Por outro lado, no Novo Testamento, vemos revelada a triunidade di-
vina de forma mais explícita. Sem dúvida, como já afirmamos, a revelação
mais clara do Deus Triúno foi dada por ocasião do batismo de Jesus, em
Mt 3:16-17. Este texto mostra as três pessoas da triunidade, o Pai, o Filho
e o Espírito Santo, agindo distintamente. Outro texto formidável é o de
Mateus 28:19, em que o próprio Jesus ordena: Ide, portanto, fazei discípulos
de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.
De igual modo, não podemos ignorar a bênção apostólica, que diz: A graça
do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam
com todos vós (2 Co 13:13 - RA).
Esse último versículo citado é, ainda hoje, pronunciado na conclusão
dos cultos cristãos. É a benção do Deus Triúno aos crentes que entram para
adorar e saem para servir. A oração é para que o Pai, o Filho e o Espírito
O Doutrinal | 31
II Praticando a doutrina da palavra de Deus
Conclusão
A doutrina cristã da triunidade divina não está fundamentada em sen-
timentos, experiências ou especulações humanas, mas única e exclusiva-
mente na palavra de Deus. Podemos, então, dizer o seguinte: Em primeiro
lugar, há somente um Deus. Não há, na triunidade, três Deuses separados
e autônomos. Deus é indivisível em sua natureza e em sua essência. Em
segundo lugar, há três pessoas: o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. São três
pessoas reais e distintas e não uma única pessoa que se revela de “modos”
diversos em “épocas” diferentes.
Por fim, em terceiro lugar, há plena igualdade entre as pessoas. A na-
tureza divina do Filho e do Espírito Santo não é apenas semelhante à do
Pai; ambos têm a mesma natureza divina do Pai, ou seja, são iguais a ele, no
seu ser e em todos os seus atributos. Não é correto e nem Bíblico dizer, por
exemplo, que o Filho e o Espírito Santo sejam menos bondosos ou menos
amorosos que o Pai. E mais: o Filho não foi, em dado momento, criado
por Deus Pai, como um ser superior e perfeito, e o Espírito Santo é Deus
e não uma força ou um poder impessoal derivado do Pai. Os dois não são
inferiores ou menores que o Pai. Os três são iguais.
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B. O que aprendemos com Jesus a respeito do Pai?
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Anotações
Estudo 3
A criação do mundo
Introdução
Quem é Deus e como ele é? Essa era a questão por trás do estudo ante-
rior. Nós, seres finitos, não podemos conhecer Deus, que é infinito, a menos
que ele se revele a nós. E foi o que ele fez. Na Bíblia Sagrada, descobrimos
que o nosso Senhor é Triúno, ou seja, existe eternamente em três pessoas:
Pai, Filho e Espírito Santo. Embora cada pessoa seja plenamente Deus,
não há três Deuses, mas um só Deus.1 Ele é magnífico, ilimitado, perfeito e,
apesar de toda a sua grandeza, se importa conosco, quer se fazer conhecido
e deseja que tenhamos comunhão com ele.
Sendo assim, conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor (Os 6:3a).
Uma maneira eficaz de aprofundarmos tal conhecimento é observarmos
as suas obras, sobretudo, a criação. É o que afirmou o apóstolo Paulo aos
romanos: Pois desde o princípio do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu
eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreen-
didos por meio das coisas criadas (Rm 1:20). Por isso, vamos abrir a Bíblia e
examinar o que diz sobre a criação do mundo. Essa é uma das mais belas e
relevantes doutrinas da fé cristã; portanto, vale a pena estudá-la.
1. Grudem (1999:165)
O Doutrinal | 37
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
2. Erickson (1997:158).
3. C reatio ex nihilo é uma expressão em latim usada pela teologia cristã para afirmar que Deus trouxe a
existência tudo que existe a partir do nada.
4. Merril (2009:112).
5. Strong (2002:548).
6. Stott (2007c:14).
7. Wiersbe (2006a:16).
8. Erickson (1997:161).
O Doutrinal | 39
Em primeiro lugar, Deus formou: Depois de criar a terra, ele começou a
organizá-la. O versículo 2 de Gênesis 1 diz: A terra era sem forma e vazia.
Havia um padrão nas ações de Deus, durante a semana da criação: primei-
ro, ele formou; depois, encheu.9 Nos três primeiros dias, Deus deu forma
à terra. No primeiro dia, criou a luz e separou a luz das trevas (Gn 1:3-5);
no segundo dia, separou águas e águas, colocou um firmamento entre as
águas superiores e chamou de céus (Gn 1:6-8); no terceiro dia, reuniu as
águas e fez surgir a porção seca, criando, assim, a terra, a vegetação e os
mares (Gn 1:9-13).
Em segundo lugar, Deus preencheu: A terra sem forma do versículo 2, ao
final do terceiro dia da criação, ganhou forma. Depois de criar as estruturas
fundamentais do nosso mundo, Deus começou a preenchê-lo. No quarto
dia da criação, ele colocou luminares no céu (Gn 1:14-19). No quinto dia,
criou os peixes para povoarem os mares e as aves para voarem no céu (Gn
1:20-23). E, no sexto dia, a criação chegou ao seu ápice: após criar toda a
fauna, Deus disse: Façamos o homem à nossa imagem, conforme nossa seme-
lhança (...). Assim Deus criou o homem (Gn 1:26-27).
No final dos seis dias, viu Deus tudo o que tinha feito, e era muito bom
(Gn 1:31), ou, como está escrito na Bíblia Viva: Deus olhou tudo que tinha
feito. Era excelente em todos os aspectos! . “Tudo no universo, desde a maior das
estrelas até a menor das folinhas, produziu alegria no seu coração. Era uma
linda sinfonia”.10 Assim, no sétimo dia Deus já havia concluído a obra que reali-
zara, e nesse dia descansou. Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele
descansou de toda a obra que realizara na criação (Gn 2:2-3). Ele estabeleceu o
sétimo dia como um marco de sua criação (Êx 20:8-11).
4. O propósito da criação: O ser humano é especial para Deus. É obra
prima do criador. Deus o moldou com as suas próprias mãos (Gn 2:7, 21-
23). Por que Deus o criou assim? Qual o seu propósito, ao trazê-lo à exis-
tência? Seria porque Deus precisa ser amado pelo ser humano? A resposta é
não! Deus é autossuficiente; não precisa que nada exista. Paulo declarou: O
Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor dos céus e da terra (...). Ele
não é servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque ele mesmo
dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas (At 17:24-25 – NVI).
9. Wiersbe (2006a:16).
10. Pfeiffer & Harrison (1984:5).
O Doutrinal | 41
Ele não apenas preserva a existência de todos, mas também cuida para que
tudo cumpra o propósito para o qual foi criado.
Deus criou e está, de contínuo, sustentando, revigorando e governando
todas as coisas, porque é o Soberano da criação. Ele conserva a vida (Ne
9:6); pois é ele mesmo quem dá a todos vida, respiração e tudo mais (...) nele vi-
vemos, nos movemos e existimos (At 17:25,28). Nós, seres humanos, de forma
especial, estamos sob os seus cuidados (cf. Mt 6:25-34) e, por isso, podemos
encarar o futuro com confiança, certos de que ele está no controle de todas
as coisas.15 É muito confortador saber que o Soberano é quem nos sustenta.
Somos alvos de seu carinho e de seu cuidado (1 Pe 5:6-7).
6. O mordomo da criação: Antes de encerrarmos este estudo, preci-
samos pensar um pouco sobre a relação do ser humano com o restante
da criação. Para essa reflexão, é fundamental darmos uma olhada em Gn
1:24-31. Ali, vemos o privilégio e a responsabilidade dos humanos. O nosso
privilégio é sermos o coroamento da criação, feitos à imagem e semelhança
de Deus (v. 26). Já a nossa responsabilidade é sujeitarmos e dominarmos a
terra (vv. 26,28). Essa missão é mais bem explicada em Gn 2:15, que diz ser
dever do homem cultivar e guardar o “jardim de Deus”.
O ser humano é mordomo na criação, e isso se aplica, de modo espe-
cífico, ao planeta terra , que pertence a Deus (Sl 24:1), mas foi entregue
ao homem para que o administrasse com cuidado e sabedoria. Sabemos
que, por causa da queda da raça humana, lá no Éden, essa missão foi ne-
gligenciada e esquecida. Por causa disso, toda a natureza tem sofrido (Is
24:4-6; Os 4:1-3). Romanos, capítulo 8, versículo 22, diz que, por causa
da corrupção, toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias. A na-
tureza está sendo destruída porque o ser humano se tornou egoísta e mau.
Em nossos dias, muito se ouve falar do aquecimento global, da destrui-
ção da camada de ozônio, do desmatamento, da poluição do ar e das águas.
Isso nos faz perguntar: Qual a nossa responsabilidade com respeito às ques-
tões da ecologia?16 Diante do exposto, devemos encarar o cuidado com nosso
planeta como um dever cristão. A exposição da doutrina da criação coloca
o ser humano na posição de “parceiro de Deus” na manutenção do planeta.
O Doutrinal | 43
suas próprias mãos. Por isso, creia: você foi criado para a glória dele (Is 43:7)
e tem a imagem e a semelhança dele. O Deus de toda glória é o seu Pai. O
“DNA” dele está em você. Que verdade magnífica e libertadora! Você tem
valor! E é o criador do universo que diz.
Conclusão
A doutrina da criação é um dos mais belos e relevantes preceitos da
fé cristã. Cremos, conforme ensina a Bíblia, que Deus criou tudo, a partir
do nada. Não somos frutos de um processo evolutivo, mas, sim, de um
projeto divino. Não somos um acidente e nem estamos aqui por acaso.
Deus nos trouxe à existência para o louvor de sua glória. Cremos que ele
é soberano e, por isso, sustenta e controla o universo que criou. Cremos,
ainda, que ele criou o ser humano de modo especial e lhe deu privilégios
e responsabilidades junto à criação. Somos mordomos. Zelar pelo plane-
ta é nosso dever.
Louvado seja o Senhor Deus criador dos céus e da terra. Sua obra é
magnífica. Saber que ele a fez e a sustenta enche-nos de admiração, de
significado e de segurança. O melhor, em tudo isso, é saber que, embo-
ra seja tão grandioso e poderoso, o criador se comunica conosco, criaturas
tão pequenas. Ele nos ama e quer a nossa felicidade. Na verdade, ele nos
criou para vivermos felizes eternamente. Contudo, algo de errado aconteceu
lá início do mundo, no Éden. É disso que trataremos em nosso próximo
O Doutrinal | 45
B. Por que saber que Deus está sustentando, revigorando e governado
todas as coisas nos traz segurança e confiança? Confira também Mt
6:26; 1 Pe 5:6-7.
Anotações
Pois, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os
homens para condenação, assim também por um só
ato de justiça veio a graça sobre todos os homens
para justificação de vida. (Rm 5:18)
Introdução
No estudo anterior, tratamos da criação do mundo. Aquele estudo mos-
trou, de acordo com o ensino das Escrituras Sagradas, que Deus é o criador
dos céus, da terra e de tudo o que há neles. Além de criador, ele é também
mantenedor de todas as coisas criadas, como está escrito: Porque nele vive-
mos, e nos movemos e existimos (At 17:28). Só o Deus Todo-Poderoso pode-
ria reclamar para si a honra e a glória de ter criado todas as coisas (Is 42:5)
e tê-las mantido permanentemente sob seus cuidados (At 14:17). Esse é o
Deus em quem cremos e que, pela fé, adoramos.
O presente estudo trata de três aspectos da doutrina do ser humano, en-
volvendo: sua origem, sua queda e sua restauração. De acordo com as Escri-
turas, o ser humano, homem e mulher, é produto da criação de Deus. Ao ser
criado, saiu das mãos de Deus, puro, santo e destinado a viver para sempre.
E assim teria sido, se não tivesse desobedecido à ordem divina. Agora, na
condição de pecador, necessitaria de alguém que o redimisse dos seus peca-
dos. Remir e salvar os que, pelo pecado, se afastaram de Deus foi a missão de
Jesus Cristo na terra (Lc 19:10). E isto foi feito cabalmente ( Jo 17:4).
O Doutrinal | 47
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1. Wiersbe (2006a:18).
2. Kidner (1979:57).
3. Ryrie (2004:218).
O Doutrinal | 49
questão de pouca importância histórica ou teológica. Entretanto, as princi-
pais doutrinas da Bíblia estão diretamente relacionadas ao evento da queda.
Por isso, aproveitemos o presente estudo para conhecer e recordar o que
a Bíblia diz sobre a queda do ser humano, assim como os efeitos que esta
produziu. O capítulo 3 de Gênesis descreve as circunstâncias em que tudo
isso aconteceu. Tudo começou com um disfarce e uma mentira.
O vilão nesse episódio foi o diabo, que, usando uma serpente como ins-
trumento, dirigiu-se à mulher perguntando: É assim que Deus disse: Não co-
mereis de toda a árvore do jardim? (Gn 3:1b). Aqui, cabe uma pergunta: todas
as árvores foram proibidas? Não! Apenas uma (Gn 2:17). Dessa maneira,
o diabo foi o primeiro a distorcer as palavras do Senhor. A mulher reagiu,
corrigindo a distorção: Do fruto das árvores do jardim podemos comer, mas do
fruto da árvore que está no meio do jardim, disse Deus: Dele não comereis, nem
nele tocareis, para que não morrais (Gn 3:2-3). Eva levou tão a sério a ordem
de Deus, a ponto de aumentar-lhe mais rigor: ... nem tocareis nele.
Distorcer as palavras de Deus é uma das coisas que o diabo tem feito,
desde o princípio do mundo. Consciente ou inconscientemente, muitas li-
deranças religiosas do nosso tempo estão agindo assim: liberando o que a
Bíblia proibiu e proibindo o que a Bíblia não proibiu. Numa atitude irônica
e desrespeitosa, o diabo afirmou: Certamente não morrereis. E acrescentou:
Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se vos abrirão os olhos e, como
Deus, sereis conhecedores do bem e do mal (Gn 3:4-5). Mentir é sempre um ato
detestável, pois a mentira é um pecado cuja origem é o diabo, que mente
desde o princípio. Ele é o pai da mentira ( João 8:44). No Éden, Satanás,
não agiu diferente: mentiu. Infelizmente, apesar de falsa e mentirosa, a pa-
lavra dele foi acatada e obedecida.
Em seguida, a mulher, vendo que aquela árvore era boa para se comer, e
agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento, tomou do fruto, e
comeu e deu também ao marido, que estava com ela, e ele comeu (Gn 3:6). Esta é
a triste história da queda de nossos primeiros pais. Após esse evento, houve,
nos dois, um imediato e primitivo despertar da consciência (Gn 3:7), mas
não como lhes fora garantido pela serpente: eles não se tornaram como
Deus. Ao contrário, descobriram que estavam nus e culpados, o que os le-
vou a cozerem folhas de figueira, a fim de cobrirem sua nudez.
Depois que Adão e Eva pecaram, Deus lhes deu a oportunidade para se
explicarem e se defenderem, mesmo sabendo que ambos haviam se rebela-
O Doutrinal | 51
sido providenciado, antes mesmo da existência desse primeiro casal, graças
à presciência de Deus (At 2:23).
O plano de salvação foi elaborado pela triunidade: Pai, Filho e Espírito
Santo, ou, mais precisamente, pelo “conselho de Deus” (At 2:23). Através
dele, a divindade decidiu reconduzir o ser humano ao seu estado original
de pureza e santidade, mediante a filiação adotiva (Gl 4:4-7). Nisso ficou
provado o grande amor de Deus pelos humanos ( Jo 3:16). O texto bíblico
mais emocionante a respeito desse plano é o de Ef 2:3-10. Nele, Jesus é
apontado como o único caminho de retorno a Deus ( Jo 14:6), Só ele pode
libertar as pessoas da terrível prisão do pecado (Rm 3:9, 6:14). Atentemos
para as verdades desse plano em que Jesus Cristo é o personagem central.
Embora só tenha sido revelado na plenitude dos tempos (Gl 4:4-5), o
plano de salvação foi traçado antes da fundação do mundo (Ef 1:4 e 5). Por-
tanto, trata-se de uma providência divina, adotada em benefício de todos os
seres humanos, mediante a qual a salvação nos é oferecida gratuitamente,
sem que coisa alguma seja exigida como retribuição (Ef 2:7-9). A Bíblia diz
que esse plano nos proporciona toda sorte de bênçãos espirituais (Ef 1:3),
entre as quais, a renovação do entendimento, que nos habilita a conhecer e
experimentar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12:2).
Na análise desse plano, precisamos dar atenção especial ao papel exer-
cido pela graça, que é comumente definida como “favor imerecido”. A graça
é a maior manifestação do amor de Deus por nós. Sim, somos salvos pela
graça, pois esta é um presente de Deus a todos os seres humanos que, pelo
que são e pelo que fazem, não o merecem (Rm 3:24). Adão e Eva, ao perce-
berem que estavam nus, procuraram esconder, com folhas de figueira, o erro
que haviam praticado (Gn 3:7-10). Então, no v. 21, encontramos um ato
gracioso de Deus: ... fez roupas de pele e com elas vestiu Adão e a sua mulher.
Sabemos que um animal teve de morrer. Esse ato já era prenúncio do que
Cristo faria pelos pecadores, na Cruz. Ele é a esperança, o cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo (Ap 13:8).
Fora de Cristo, o pecador não tem a mínima chance de ser redimido,
uma vez que a base da salvação é o sacrifício perfeito de Cristo na cruz, que
o pecador aceita pela fé. Na cruz, cinco fatos importantes foram provados e
estão à disposição dos pecadores: 1) O amor de Deus (Rm 5:8); 2) o poder
de Deus (1 Co 1:18, 24); 3) a sabedoria de Deus (1 Co 1:24), com uma
profundidade insondável (Rm 11:33-35); 4) a justiça de Deus, pois, diante
4. Morris (1979:30).
O Doutrinal | 53
Cristo veio ao mundo, a situação espiritual prevalecente entre os humanos
foi descrita assim: Não há nenhum justo, nem um sequer. Não há ninguém que
entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamen-
te se fizeram inúteis (Rm 3:10-12). Nunca se esqueça disso!
Conclusão
No presente estudo, procuramos mostrar, pelas Escrituras, que o ser
humano é produto da criação de Deus. Tratamos da ruína que lhe sobreveio,
depois que caiu em pecado, e da maneira como o pecado contagiou todo o
restante da humanidade. Tratamos, também, do amor de Deus, que enviou
o seu Filho Jesus Cristo ao mundo para salvar os que nele crerem, como está
escrito: Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigê-
nito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna ( Jo 3:16).
No texto seguinte, estudaremos a respeito de Jesus Cristo: salvador e
mediador da humanidade. Nesse estudo, aprenderemos como e por meio de
quem Deus proveu a salvação para os seres humanos. Adiantamos que a sal-
vação humana constitui a maior prova do amor de Deus pelas pessoas. Sem
esta providência, toda a humanidade estaria irremediavelmente perdida, já
que, por seus próprios esforços, jamais poderia ser salva. Isto nos lembra a
importância desse assunto, razão pela qual recomendamos ao leitor que o
estude com carinho, para que possa tirar dele o melhor proveito possível.
O Doutrinal | 55
06. Leia Gl 4:4-7
A. Diante do estado caótico do ser humano, que atitude teve a Trindade,
no sentido de reconduzir-nos ao estado inicial de pureza?
B. Por que Jesus é o personagem central do plano de redenção? Fora
dele, há outro caminho de retorno a Deus?
Anotações
Introdução
No estudo anterior, aprendemos o que a Bíblia ensina sobre a origem
e a queda do ser humano. Vimos que Adão e Eva foram criados por Deus
como seres livres, com o direito de usufruir de todas as coisas criadas. Hou-
ve somente uma restrição divina (Gn 2:17). Esta, porém, foi ignorada pelo
casal. Por conta disso, homem e mulher foram expulsos do paraíso. A co-
munhão da criatura com o Criador foi, então, interrompida. Passou a haver,
entre as duas partes, uma relação de intenso conflito. Apesar de tudo, Deus,
que é riquíssimo em misericórdia, tinha a intenção de fazer as pazes com
esses que foram criados à sua imagem e semelhança.
Mas quem seria o mediador entre Deus e os seres humanos? Quem
poderia tratar com os dois lados e procurar o bem para as duas partes? Esse
mediador não poderia ser qualquer um. Teria que ser alguém neutro, que
tivesse acesso aos dois lados. Uma pessoa que buscasse o melhor para as
duas partes envolvidas no conflito, sem favorecer uma em detrimento da
outra. O próprio Deus apresentou esse mediador, quando declarou que um
descendente da mulher esmagaria a cabeça da serpente (Gn 3:15). Essa é
primeira referência bíblica a Jesus, o único salvador e mediador da humani-
dade. Verifiquemos o que a Bíblia tem a nos dizer sobre ele.
O Doutrinal | 57
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
Quem é Jesus? Essa pergunta, que não é nova, foi feita pelo próprio
Jesus aos seus discípulos: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? (Mt
16:13). Ele ouviu respostas variadas: Uns dizem: João Batista; outros: Elias;
e outros: Jeremias, ou um dos profetas (Mt 16:14). Depois disso, Jesus tornou
a pergunta mais pessoal, dirigindo-a a seus discípulos: E vós, quem dizeis
que eu sou? (Mt 16:15). As mais confiáveis respostas para essa pergunta são
encontradas na Bíblia Sagrada. Vejamos, então, o que ela diz sobre a sua
pessoa e a sua obra.
1. A eternidade de Jesus: A Bíblia afirma que Jesus é eterno. O que
isso quer dizer? Não se deve confundir “eternidade” com “preexistência”.
Esta expressa a ideia de que Jesus já existia antes do seu nascimento, isto é,
antes de se tornar um ser humano e morar entre nós. Mas isso, por si só, não
indica, exatamente, que ele é eterno. O conceito de eternidade é outro: traz
consigo não somente a ideia de que Cristo já existia antes de nascer, mas de
que “ele sempre existiu”.1
Dizer que Jesus é eterno, então, significa dizer que ele não tem começo,
nem término, nem sucessão de momentos em seu próprio ser. O tempo ja-
mais teve ou terá efeito sobre sua natureza, suas perfeições, seus propósitos:
Jesus Cristo, ontem e hoje, é o mesmo e o será para sempre (Hb 13:8). Mas quais
são os textos bíblicos que afirmam que Jesus é eterno? Dois deles estão no
Antigo Testamento. Isaías, numa profecia que dizia respeito a Cristo, atri-
bui-lhe o título de Pai da Eternidade, com o sentido de alguém que possui
eternidade (Is 9:6). Também Miquéias, profetizando acerca de Jesus, disse
que as suas origens são desde os dias da eternidade (Mq 5:2b).
No Novo Testamento, também encontramos várias referências à eterni-
dade de Jesus ( Jo 1:1, 8:58, 17:5). Dentre essas, uma das mais claras está no
evangelho de João, que, na Bíblia Viva, pode ser lida dessa forma: Antes de exis-
tir qualquer coisa, Cristo já existia (...). Ele sempre esteve vivo ( Jo 1:1 – BV). Ele
não “se fez” Verbo, no princípio, mas “era” o Verbo, no princípio.2 Não começou
a existir a partir da encarnação e nem sequer foi criado. Cristo existiu sempre.
1. Ryrie (2004:274).
2. Pfeiffer & Harrison (1980:177).
3. Hendriksen (2004b:118).
4. Thiessen (1987:224).
5. Pearlman (2006:174).
O Doutrinal | 59
precioso sangue (1 Pe 1:19), comprou para Deus os que procedem de toda tribo,
língua, povo e nação (Ap 5:9). Apesar de não ter cometido pecado, ele sofreu
a morte, que é o salário do pecado (Rm 6:23a). A cruz de Cristo foi uma ideia
de Deus, que amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para
que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna ( Jo 3:16).
Para nos salvar, Deus enviou o seu próprio Filho para morrer em nosso
lugar. Esse era o plano de salvação, que foi arquitetado antes da fundação do
mundo (Ap 13:8). O nosso mediador suportou a ira de Deus contra o peca-
do dos seres humanos. Não sofreu uma simples morte, mas uma morte ter-
rível. Um tipo de “execução reservado pelo império Romano aos criminosos
mais execráveis”,6 uma sentença tão infame que não podia ser aplicada aos
cidadãos romanos. Era reservada somente à escória da sociedade. Sofrendo
esse tipo de morte, Jesus se fez maldição por nós (Dt 21:23; Gl 3:13). Jesus
tomou o nosso lugar. Ali, ele perdoou nossos pecados, reconciliou-nos com
Deus e nos concedeu a vida eterna. Desde então, já nenhuma condenação há
para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8:1).
Na continuação de sua humilhação, depois de morto, Jesus foi sepul-
tado. O último e mais baixo estágio da humilhação de Cristo foi o seu
sepultamento. A sentença divina: ... és pó, e ao pó tornarás (Gn 3:19) tam-
bém é uma punição por causa do pecado. Segundo o Salmo 16:10 e Atos
2:27,31, o sepultamento está também relacionado ao rebaixamento, porque
ser “sepultado é ir para baixo, e, portanto uma humilhação. O sepultamen-
to dos cadáveres foi ordenado por Deus para simbolizar a humilhação do
pecador”.7 Coube a José de Arimatéia e a Nicodemos executar essa terrível
tarefa de sepultar Jesus. O evangelho de João diz que eles tomaram o corpo de
Jesus, e o envolveram em lençóis de linho com as especiarias ( Jo 19:40). Depois,
depositaram o seu corpo em um sepulcro novo, que havia sido aberto na
rocha (Mt 27:60). Uma pedra de quase duas toneladas foi, então, colocada
na porta do sepulcro. Quando todos se foram, o corpo do Filho do homem
ficou ali, estendido naquela superfície fria. Ele fez tudo isso por nós.
4. A ressurreição de Jesus: A voz daquele que disse ser a ressurreição e
a vida fora silenciada. Logo, já não se podia ouvi-lo pregando e ensinando
com autoridade às multidões que o seguiam. Também não se podia mais
6. Erickson (1997:313).
7. Idem, pp. 312-313.
8. McDowell (1994:91).
O Doutrinal | 61
principado, e potestade, e poder, e domínio, e de todo nome que se possa referir não
só no presente século, mas também no vindouro (Ef 1:21).
O último estágio da exaltação de Cristo é a sua vinda, em poder e glória,
que é a nossa bendita esperança. As Escrituras Sagradas indicam que, um
dia, em algum momento que nós não sabemos, Cristo voltará para buscar a
sua igreja. Ele mesmo garantiu isso: ... virei outra vez e vos levarei para mim
( Jo 14:3; cf. Mt 25:31; Lc 21:27; At 1:11; 1 Co 4:5; 2 Tm 4:1; Hb 10:37;
Tg 5:8; Jd 14-15; Ap 3:11, 22:20). Ele virá, não como da primeira vez, isto
é, em inferioridade e humilhação, mas em completa exaltação. Retornará
como o Senhor glorioso e vitorioso.
6. A mediação de Jesus: Mediante tudo o que Cristo fez por nós, ele
se tornou o nosso único mediador, porque é o único caminho para o céu, a
ponte que nos liga a Deus (1 Tm 2:5-6). “Um mediador é um intermediário,
a pessoa que se acha no meio, que efetua a reconciliação entre duas partes
em rivalidade”.9 A inimizade, portanto, foi extinta por meio de Cristo. Ele
nos livrou de padecermos pela ira de Deus (Rm 5:8-10).
Ao menos no Antigo Testamento, não havia um árbitro com condições
de intervir na mediação entre Deus e nós ( Jó 9:33). No entanto, no Novo
Testamento, Jesus se mostra o perfeito mediador pelo fato de ser tanto Deus
quanto homem ( Jo 1:1,14). Logo, tem autoridade para intervir entre as
partes em questão. Antes do sacrifício salvífico de Cristo, o sumo sacerdote
fazia a função de mediador entre Deus e os homens, por meio de sacrifícios.
Porém, tanto o sumo sacerdote quanto os sacrifícios para remissão de peca-
dos eram imperfeitos (Hb 9:13-14).
O texto de 1 Tm 2:5 declara que o Jesus homem é o mediador. Por esta
razão, ele se tornou o perfeito sumo sacerdote da humanidade, pois era ne-
cessário que ele fosse semelhante a nós. “Em Hebreus 2.17, Jesus é descrito
como um sumo sacerdote que representa o homem diante de Deus, desvia
a ira de Deus, (...) ministra às necessidades do seu povo”.10 É só através dele
que temos comunhão com Deus e que nossas orações podem ser respondidas.
Finalizando a primeira parte deste estudo sobre a vida e a obra de Jesus,
reafirmamos que, por ter feito tudo isso por nós, ele se tornou nosso “único”
salvador e mediador. Tornou-se o nosso único salvador porque nos salvou
9. Stott (2004a:67).
10. Kistemaker (2003:113)
O Doutrinal | 63
no dia da sua vinda. Nós não precisamos, portanto, nos agarrar, com todas as
forças, a esta vida presente. Podemos investi-la no serviço a outros. Ela é só
o primeiro capítulo de muitos que virão pela frente. Vivamos com esperança.
Conclusão
Ao concluirmos este estudo, lembramos que, agora, assentado à destra de
Deus (Hb 10:12), Jesus tem todas as coisas sujeitas debaixo dos seus pés (Ef
1:22). Os coros angelicais lhe cantam louvores no céu, dizendo: Digno é o
cordeiro que foi morto, de receber poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra
e glória, e louvor (Ap 5:12). Ainda hoje, mesmo que não nos demos conta
disso, ele se preocupa conosco, intercede por nós (Rm 8:34) e está ao nosso
lado (Mt 28:20). Por isso, tranquilamente entreguem-se aos cuidados de Cristo,
seu Senhor (1 Pd 3:15 –BV).
Graças a Deus por ter enviado Jesus à terra ( Jo 3:16). Graças a Deus
porque, através de tudo que Jesus fez, temos a possibilidade de alcançar a
salvação. Aliás, é disso que passaremos a tratar. No próximo estudo, vamos
pensar sobre a aplicação da obra de Cristo, as primeiras etapas do pro-
cesso de salvação. Veremos o ensino bíblico sobre “Regeneração e conver-
são”. Você já ouviu falar sobre isso? O que significa dizer que “nascemos
de novo”? O que significa dizer que uma pessoa é “convertida”? São essas e
outras perguntas que serão respondidas logo mais adiante. Então, não perca
o próximo estudo.
O Doutrinal | 65
Anotações
Regeneração e conversão
Introdução
Aprendemos, no estudo anterior, que tem por título: Jesus Cristo: sal-
vador e mediador da humanidade, o que a Bíblia diz sobre a pessoa e a obra
de Jesus. A palavra de Deus é clara em afirmar a eternidade, a divindade, a
encarnação, a crucificação, o sepultamento, a ressurreição e a glorificação de
Cristo. Tais características da sua pessoa demonstram que ele é único e que,
fora dele, não há salvação, debaixo do céu (At 4:12). Ele se tornou único
mediador entre Deus e o ser humano (1 Tm 2:5), ou seja, a ponte que liga a
ambos. O sacrifício de Cristo, na cruz, foi suficiente para restaurar a nossa
amizade com o Pai.
Os seres humanos são alvos da misericórdia divina. Não é o desejo de
Deus que as pessoas se percam ( Jo 6:39), pois ele as ama e trabalha em favor
da salvação delas ( Jo 3:16). Hoje, estudaremos sobre regeneração e conver-
são. Ambos os termos são bíblicos (At 3:19, 11:21; 1 Pd 1:3,23) e dizem
respeito a dois eventos fundamentais na salvação do ser humano. Devemos
entender que regeneração e conversão não se constituem um mesmo evento,
visto que, nesta, o ser humano tem participação ativa, e, naquela, somente
Deus participa ativamente, enquanto que o ser humano sofre a ação. Veja-
mos, mais detalhadamente, o que a Bíblia diz sobre regeneração e conversão.
O Doutrinal | 67
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
O Doutrinal | 69
obediência aos mandamentos de Deus (1 Jo 5:3-4). A regeneração também
nos concede a bênção da proteção de Cristo contra as investidas espirituais
de Satanás (1 Jo 5:18).
Enquanto a natureza pecaminosa tende a nos tornar amantes do pe-
cado, o novo nascimento produzido pelo Espírito Santo nos torna aptos a
enchergar e aceitar as verdades do evangelho, pelas quais somos levados a
repudiar a vida pecaminosa. A regeneração faz com que almejemos viver
uma nova amizade, uma profunda cumplicidade e lealdade com o criador.
A situação caótica em que vivíamos já não é mais a mesma, pois fomos
chamados por Deus, das trevas para a sua maravilhosa luz, a fim de procla-
marmos as suas virtudes (1 Pe 2:9). É o novo nascimento que nos capacita
a meditar e ter prazer, dia e noite, na lei do Senhor (Sl 1:2).
Como vimos até aqui, a regeneração é o ato de Deus de nos conceder
nova vida espiritual, após sermos convencidos a atender positivamente ao
chamado de Cristo, pela sua palavra. Mas é somente pela conversão que, de
fato, atendemos a expectativa dele. Enquanto, pelo convencimento, o Espíri-
to Santo nos proporciona condições para a mudança de vida, na conversão,
efetuamos essa a mudança. O Espírito Santo nos conduz ao conhecimento
da verdade, mas cabe a nós aceitá-la. Deus nos deu vida; porém, precisamos
tomar a atitude de viver a vida que ele nos ofereceu. Para isso, é necessário
que haja uma renovação da nossa mente (Ef 4:23).
2. O ensino bíblico sobre a conversão: O real significado da palavra
conversão é “volta”. No sentido bíblico espiritual, expressa a atitude da pes-
soa de abandonar o pecado e voltar-se para Cristo. À atitude de abando-
nar o pecado, chamamos arrependimento e à atitude de voltar para Cristo,
chamamos fé. Observe que arrependimento e fé são elementos essenciais
à conversão, ou seja, é impossível uma pessoa experimentar a verdadeira
conversão, sem que seja dotada de tais elementos, pois são inseparáveis. A
conversão jamais será efetuada na ausência de um deles. Não podemos afir-
mar que a fé em Cristo, sem renúncia ao pecado, é suficiente, ou vice-versa.
Ambos acontecem ao mesmo tempo.
Seguindo essa linha de pensamento, podemos definir conversão do se-
guinte modo: é a nossa resposta positiva à pregação do evangelho, pela qual
viramos as costas ao pecado, em arrependimento, e, pela fé, cremos em Cris-
to para receber a salvação. Se, por um lado, a regeneração é invisível aos olhos
humanos, sendo um ato exclusivo de Deus, por outro, a conversão tanto pode
O Doutrinal | 71
pelo arrependimento, viramos as costas para o pecado, pela fé, confiamos
que Cristo é capaz de nos perdoar e salvar, mesmo depois de termos falhado
para com ele, e acreditamos na operação da sua maravilhosa graça em nosso
favor (Ef 2:8).
A fé também envolve conhecimento. As pessoas só poderão crer em
Jesus, se, antes, o conhecerem. Afinal, como invocarão aquele em quem não
creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? (Rm 10:14). Sabemos
que só o conhecer Jesus não é suficiente para se chegar à conversão. As pessoas
podem conhecer fatos da vida de Jesus, podem ter conhecimento dos mila-
gres por ele realizados, mas podem não aceitar os seus ensinamentos (Rm
1:32). Sendo assim, o pecador não desfrutará da bênção da conversão, se não
aceitar as palavras de Jesus como princípios primordiais à sua vida espiritual.
A verdadeira fé nos leva a concordar com o que a Bíblia ensina acerca
da relação existente entre os seres humanos e o pecado. E o que ela nos
ensina a este respeito? Que todos pecaram e carecem da glória de Deus (Rm
3:23); que, pelo pecado, sobreveio-nos a morte (Rm 5:12); que o pecado
escraviza o ser humano (Rm 6:17); que Cristo nos vivificou (Rm 6:11); que
onde abundou o pecado, superabundou a graça (Rm 5:20); que Cristo morreu
pelos nossos pecados (I Co 15:3); que fomos libertados do pecado e feitos servos
da justiça (Rm 6:18). A fé leva-nos a reconhecer as nossas fraquezas; porém,
faz-nos confiar na bondade de Cristo para salvar.
À fé que compõe a conversão e leva à salvação em Cristo, nós chamamos
de fé salvífica. Porém, é preciso ter cuidado para não a confundir com a fé
natural e com o dom da fé. A fé natural é aquela que todas as pessoas pos-
suem, que se baseia na experiência humana e se apoia nos cinco sentidos de
todo o ser humano. Por exemplo: entramos num avião e temos fé que vamos
chegar ao destino; plantamos uma semente e cremos que ela vai nascer. Isso
é fé natural, e todos a têm. Por outro lado, o dom da fé é uma capacitação
que algumas pessoas recebem do Espírito Santo. É uma confiança incomum
e sobrenatural em Deus e em suas promessas, mesmo em meio aos mo-
mentos mais difíceis (1 Co 12:9). Contudo nem a fé natural e nem o dom
da fé conduzem-nos à salvação. Para isso, precisamos da fé salvífica, que é a
confiança na obra redentora de Jesus Cristo como único Senhor e Salvador
( Jo 3:16; Rm 10:9). É essa a fé que nos conduz à salvação e à vida eterna.
Até aqui, analisamos os ensinos da Bíblia sobre a doutrina da regene-
ração e da conversão, e aprendemos, dentre outras coisas, que jamais alcan-
O Doutrinal | 73
diante dele (Ef 2:8). Logo, se hoje temos esperança de vida, isso se deve ao
fato de que Deus é sensível para salvar. Tal sensibilidade pode ser vista em
seu ato de amor para com a humanidade caída: Porque Deus amou ao mundo
de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna ( Jo 3:16). Qualquer ato ou processo que diz
respeito à salvação humana é fruto do amor de Deus por nós.
Conclusão
Este estudo nos fez conhecer a doutrina da regeneração e da conversão,
de acordo com a Bíblia Sagrada. O ato divino da regeneração foi realizado
pelo Espírito Santo, quando, ao ouvirmos a pregação do evangelho, fomos
convencidos por ele do pecado, da justiça e do juízo ( Jo 16:8). Esse conven-
cimento foi suficiente para que o Espírito Santo iniciasse a sua obra de nos
dar nova vida espiritual, que denominamos regeneração. A conversão nos
proporcionou mudança de mente e, consequentemente, de atitude. Desse
modo, nós nos tornamos novas criaturas, pois não mais vivemos pela vonta-
de da carne, mas pela vontade de Deus (1 Pe 4:2).
A regeneração e a conversão estão incluídas no processo da salvação.
No entanto, esses dois importantes eventos não são os únicos que compõem
esse processo. Veremos, no próximo estudo, mais dois que fazem parte do
mesmo: justificação e adoção. O que significa cada um desses termos? Que
importâncias eles exercem, no processo da salvação? Influenciam a nossa
vida cristã? Estas e outras dúvidas serão esclarecidas nesse estudo. Portan-
to, continue estudando e aprendendo a palavra de Deus. Aproveite para
aprofundar-se e crescer ainda mais no conhecimento dela, pois é luz para os
nossos caminhos (Sl 119:105).
04. Leia Ezequiel 36:26; Romanos 12:2; 2 Coríntios 5:17, e 1 João 3:9
A. O que acontece com a pessoa que foi regenerada por Deus?
B. Comente as transformações que ocorrem em seu corpo, sua mente
e seu coração?
O Doutrinal | 75
Anotações
Justificação e adoção
Introdução
A salvação é a bênção mais preciosa que nós podemos receber de Deus,
pois não há dúvida de que o maior milagre que pode ocorrer na vida de um
ser humano é ser alcançado pela graça de Cristo e ser salvo por meio dela.
Todo salvo em Jesus precisa entender essa bênção que é a salvação. Deve
conhecê-la bem, a tal ponto que seja capaz de falar dela às outras pessoas
que ainda não conhecem nosso Senhor, para que também possam ser sal-
vas. Por essas razões, dedicamos três de nossos estudos para abordarmos o
processo da salvação.
No estudo anterior, aprendemos sobre a regeneração e a conversão, e
pudemos entender o que é o novo nascimento. Agora, pela graça de Deus,
vamos estudar sobre a justificação e a adoção. São dois importantes eventos
que também compõem esse processo. Quando nos rendemos Jesus e o re-
cebemos como salvador de nossas vidas, algo magnífico acontece em nós:
somos perdoados. Deus nos declara justos diante dele. Nosso passado de
erros é apagado e somos inocentados. Mas não só isso: Deus, através de
Jesus, nos adota como filhos. É o que veremos no presente estudo.
O Doutrinal | 77
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1. Wiersbe (2006c:923).
2. Erickson (1997:408).
O Doutrinal | 79
justificação que traz vida a todos os homens (Rm 5:18). Jesus cumpriu a lei.
Ele foi justo e sua justiça nos foi imputada, ou seja, tudo o que Cristo fez de
bom e correto, aqui na terra, é transferido ao pecador que crê nele. Portanto,
recebemos a justificação, não pelos nossos esforços, mas pela nossa fé.
A natureza da justificação: Diante do que foi exposto, até aqui, podemos
identificar algumas características essenciais dessa doutrina cristã: (1) A jus-
tificação é um ato instantâneo, não um processo. Quando o pecador se rende
a Cristo, automaticamente é justificado diante de Deus. (2) A justificação
é um ato forense, isto é, está relacionada a um processo legal, como ocorre
nos tribunais. Nesse caso, somos os réus e Deus é o juiz. Quando ele nos
justifica, está nos declarando justos e inocentes. Através de Cristo, vamos,
pela fé, diante do Pai para ouvir o veredicto, e ele nos diz: O réu é inocente.
Ainda há duas características básicas a serem consideradas: (3) A justi-
ficação é um ato gracioso, pois é um presente completamente imerecido, não
uma conquista; é uma dádiva, não uma aquisição.3 Somos justificados, não
porque sejamos bons, mas porque Deus é bondoso. Embora a evidência de
que fomos justificados sejam as obras, não somos justificados por elas, mas
pela fé em Cristo (Rm 3:20, 11:6; Tt 3:4-7). (4) A justificação é um ato pode-
roso, pois quem a executou foi o próprio Deus, de acordo com as palavras de
Paulo: Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus
(...). Quem fará alguma acusação contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os
justifica. Quem os condenará? (Rm 8:1, 33-34).
2. O ensino bíblico sobre a adoção: Aprendemos que a justificação é
uma bênção que revela a bondade e a misericórdia de Deus; a adoção, no
entanto, vai além: é uma dádiva ainda mais graciosa. Ainda que um juiz
humano venha a declarar um indivíduo inocente, não irá adotá-lo como
filho ou conceder-lhe os privilégios que um familiar seu possui. Mas é exa-
tamente isso que Deus faz conosco: além de nos declarar inocentes, ele
nos recebe em sua família, adotando-nos por seus filhos. Vejamos alguns
aspectos importantes dessa benção recebida pelos salvos.
A necessidade da adoção: A adoção faz-se necessária devido ao distan-
ciamento que há entre os seres humanos e Deus.4 Sabemos que, antes da
queda, Adão e Eva mantinham um relacionamento muito próximo com o
3. Erickson (1997:411).
4. Ferreira & Myatt (2007:817).
5. Idem.
O Doutrinal | 81
casais fazem, adotando crianças órfãs ou abandonadas pelos pais biológicos.
Sendo assim, a adoção é um ato de amor e compaixão. Com relação a nós,
Deus não é diferente, pois a Bíblia nos diz: Vede que grande amor nos tem
concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus (1 Jo 3:1).
Em segundo lugar, adoção é um ato legal. Quando Paulo trata da adoção
de filhos, em Gl 4:5, está se referindo a um procedimento da lei romana
naquela época. De acordo com a lei, numa certa ocasião, o adotado era
formalmente apresentado e reconhecido, diante da sociedade, e passava a
desfrutar de todos os privilégios de filho legítimo; tornava-se herdeiro de
quem o adotara.6 Leia o que disse Paulo: Ora, se somos filhos, somos também
herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo (Rm 8:17). Adoção é um
ato por meio do qual Deus nos faz membros da sua família.7
O resultado da adoção: O entendimento sobre a adoção fica mais claro
quando observamos as implicações e os benefícios produzidos na vida do
crente em Cristo. De fato, as bênçãos advindas da adoção são maravilhosas
e incontáveis; podemos destacar algumas:8 (1) O perdão do Pai: na adoção,
além de sermos reconciliados com Deus, podemos, a qualquer momento,
recorrer a ele e dizer: Pai (...) perdoa-nos os nossos pecados (Lc 11:2,4). Nele,
temos perdão contínuo. (2) A liberdade do Pai: os filhos de Deus não são
escravos que obedecem por obrigação: são pessoas livres que obedecem por
amor e gratidão ao Pai. Porque não recebestes o espírito de escravidão, para vi-
verdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito de adoção, baseados no
qual clamamos: Aba, Pai (Rm 8:15).
Outros dois resultados da adoção que podemos observar são: (3) O
cuidado do Pai: sendo herdeiro, o cristão tem, à sua disposição, os infindos
recursos do Pai (Fp 4:19). Nas palavras de Jesus, o Pai, que cuida das aves
do céu e dos lírios do campo, cuida muito mais de seus filhos (Mt 6:25-30).
(4) A correção do Pai: com o objetivo de nos tornar santos como ele é, Deus
nos corrige, e isso é prova de seu amor por nós (Hb 12:5-11), pois ele se
preocupa conosco e quer que sejamos pessoas melhores.
Junto aos direitos, também temos os deveres de filhos, e um deles é
o de honrar o Pai (Ml 1:6). Outro dever é apresentado por Paulo: Sejam
6. Richards (2008:406).
7. Grudem (1999:615).
8. Erickson (1997:414).
O Doutrinal | 83
3. O fato de sermos justificados e adotados por Deus motiva-nos a praticar a
sua vontade.
Ao nos justificar e nos adotar, o que o amoroso Pai espera de nós? O seu
desejo é que correspondamos a seu amor, vivendo de maneira santa e cor-
reta. Tudo que Deus fez por nós foi feito sem merecimento algum de nossa
parte. A justificação e a adoção é fruto da graça, é resultado de sua imensa
compaixão e prova do afeto dele por nós. Portanto, sejamos agradecidos,
agindo como filhos da luz (Ef 5:8). Obedeçamos aos seus mandamentos
e vivamos de maneira que nossa vida glorifique e honre sempre o nome
de nosso Pai (Mt 5:13-16). Fazer a vontade dele é a melhor maneira de
demonstrarmos gratidão.
Conclusão
O presente estudo ajudou-nos a entender um pouco mais sobre o
processo da salvação. Conhecemos duas preciosas doutrinas da palavra de
Deus: a justificação e a adoção. O ato de justificação consiste em Deus de-
clarar que somos inocentes e que fomos absolvidos da culpa do pecado, com
base no sacrifício substitutivo e remidor de Jesus Cristo. Já a adoção é a ação
de o Senhor nos aceitar em sua família, adotando-nos como seus filhos. A
adoção acontece por causa da justificação, pois, em pecado, ninguém pode
ser aceito diante daquele que é Santo, muito menos tornar-se seu filho.
Deste modo, quando o pecador é regenerado e convertido, é também
declarado justo, e, assim, torna-se apto a entrar na família de Deus. É quan-
do acontece uma ação adicional do Espírito Santo, que faz o justificado
entrar num relacionamento filial com o Pai. Nós, crentes em Cristo, somos
filhos de Deus e devemos agir e viver de acordo com essa condição. Es-
tudaremos sobre isso mais profundamente, no próximo estudo, que tem
por tema: “Santificação e perseverança”. Veremos que precisamos ser santos
conforme nosso Pai é santo, tendo sempre em mente que Jesus vem sem
demora e que precisamos conservar o que temos para que ninguém tome a
nossa coroa (Ap 3:11).
O Doutrinal | 85
07. Leia 1 João 3:1; Romanos 8:17
A. O fato de sermos adotados por Deus é mais uma prova do seu amor
por nós? A adoção é um ato amoroso?
B. Quais são os benefícios decorrentes da adoção?
Anotações
Santificação e perseverança
Introdução
A Bíblia Sagrada, no livro de Hebreus, alerta: Como escaparemos nós, se
negligenciarmos tão grande salvação? (2:3a). A doutrina da salvação é extre-
mamente importante e deve ser entendida por nós. Não podemos negligen-
ciá-la, mas precisamos nos preocupar com tal assunto (Hb 2:1). Por saber
disso, dedicamos três estudos deste manual para tratar deste nobre tema.
Nos dois últimos, analisamos os primeiros passos do processo de salvação:
a regeneração, a conversão, a justificação e a adoção. No presente estudo,
consideraremos mais dois: A santificação e a perseverança.
Sobre estes dois assuntos, a Bíblia é clara em mostrar como ambos os
passos são importantes no processo de salvação. Sobre o primeiro, a santifi-
cação, a Escritura diz o seguinte: Procurai viver em paz com todos e em san-
tificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12:14 – grifo nosso). Sobre
o segundo, a perseverança, a Bíblia mostra que: ... quem perseverar até o fim
será salvo (Mt 24:13 – grifo nosso). Sem a santificação e a perseverança, o de-
senvolvimento da nossa salvação fica comprometido. Veja quão importantes
são estes dois passos. Estudemos essas doutrinas de forma mais detalhada.
O Doutrinal | 87
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1. Grudem (1999:622).
2. Idem, pp.628-9
O Doutrinal | 89
pensar que qualquer esforço humano anularia a graça de Deus. Essa não é
a visão bíblica sobre a santificação pessoal.
Realmente, nunca conquistaremos a santidade por iniciativa ou esforço
nosso. Precisamos entender, quanto a isso, que não se trata de mérito hu-
mano, mas de uma resposta voluntária de cada crente com o que recebeu
gratuitamente de Deus. A palavra de Deus nos ensina que a nossa coopera-
ção na santificação pessoal inicia-se com uma atitude de aceitação de nossa
parte (cf. Rm 8:16, 10:8-11; Tg 1:21) e também implica obediência. Em
Efésios 2:10, somos ensinados da seguinte maneira: Porque somos feitura
sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que
andássemos nelas.
Além disso, a Bíblia ensina que devemos encorajar uns aos outros à
santidade, com palavras e atitudes (Rm 12:10-13; 1 Ts 5:14-18; Hb 10:24-
25; 1 Tm 4:11-12; 5:1-2). Isso significa que a santificação é pessoal, mas
não individual, pois precisamos uns dos outros para avançar nesse processo
(1 Co 12:12-27). A essa altura, cabe outra pergunta: Qual a abrangência da
santificação? A resposta é: todos os aspectos da vida do cristão. Observemos
o que diz a Escritura: E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo (1 Ts
5:23a – grifo nosso). A santificação afeta a pessoa como um todo: intelecto,
emoções, vontade, caráter e corpo físico. Como diz a Bíblia, em outra parte:
... em toda a vossa maneira de viver (1 Pe 1:15).
Tudo o que fazemos, falamos, sentimos ou pensamos deve ser alcança-
do pela santificação. O crente em Cristo deve ter santidade em sua maneira
de vestir-se, deve também alimentar-se de maneira santa: Portanto, quer co-
mais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus
(1 Co 10:31). Além disso, o cristão deve se portar em santidade, em todos
os lugares em que estiver. Não deve ser santo apenas no templo, na hora do
culto, mas também no trabalho, na faculdade, no lazer, no lar, no trânsito, na
Internet e assim por diante.
Quando se dará, então, a plenitude da santificação pessoal, ou quando
não precisaremos mais vivenciar esse processo? Devemos entender que
a santificação nunca será plena nesta vida. Tanto o Antigo (Pv 20:9; Ec
7:20) quanto o Novo Testamento (Tg 3:2; 1 Jo 1:8,10) são claros em
afirmar que não somos capazes de sermos moralmente perfeitos, aqui.
A plenitude da santificação acontecerá somente na volta de Cristo. Esse
precioso fim é conhecido também como glorificação. Nesse dia, finalmen-
O Doutrinal | 91
entanto, leiamos o que diz o versículo seguinte: De fato, a vontade de meu
Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna ( Jo 6:40 –
grifo nosso). Preste atenção nas palavras “vir” e “crer”, destacadas no texto.
Na língua original, os termos são theõron (ver) e pisteúon (crer). Estes dois
verbos estão em um tempo grego chamado “particípio presente”, que indica
uma ação continuada ou repetida.
Então, a ideia dos termos no versículo é: ... a vontade de meu Pai é que
todo homem que “continuar olhando” o Filho e “continuar crendo” nele, tenha
a vida eterna. Nós recebemos a salvação pela graça e escolhemos continuar
crendo ou não. Por causa do livre arbítrio – que é um fator determinan-
te nesse assunto –, as pessoas podem escolher se desviar. Deus não quer
que isso aconteça, e o Filho, através do Espírito, se empenha para que não
ocorra. Todavia, essa possibilidade existe. É possível que o desvio aconteça.
Ademais, se o ser humano não puder fazer esta escolha, infere-se que ele
não tem o direito de escolher. Nesse caso, não é, de fato, livre.
Outro texto que parece ensinar que, “uma vez salvo, sempre salvo”, é
João 10:27-28. Ali, lemos: As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conhe-
ço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as
arrebatará da minha mão (grifo nosso). Por causa desta afirmação, podemos
dizer que este texto está ensinando que uma pessoa que se rendeu a Cristo
está eternamente segura, independentemente do que faz? É óbvio que não.
Este versículo faz parte de uma resposta de Jesus aos seus opositores. O que
o texto está apresentando é uma preciosa promessa de que “nada exterior ao
homem pode destruí-lo, enquanto ele estiver depositando sua fé em Deus”,4
ou seja, ninguém pode arrebatar uma pessoa da mão de Deus, a não ser que
ela mesma escolha fazer isso.
Agora, quanto aos textos que ensinam que o salvo precisa preservar a
sua salvação, podemos citar vários deles. De início, pensemos no que Jesus
disse a esse respeito. Ele alertou os seus discípulos, quanto ao perigo de
serem desviados (Mt 24:3-14). Será que ele os alertaria, se não houvesse a
possibilidade de isso acontecer? Além do mais, em algumas ocasiões, Jesus
enfatizou a necessidade de o crente permanecer fiel até o fim (cf. Mt 10:22;
24:13; Jo 8:31-32). “Mas quem perseverar”, dizia Jesus. Por que ele usaria
O Doutrinal | 93
II Praticando a doutrina da palavra de Deus
01. Leia Romanos 8:29 ; Hebreus 12:14; Levítico 20:26 e 1 Pedro 1:15-16
A. O que é santificação?
B. De acordo com os textos lidos, viver em santidade é opcional ou é
ordem de Deus, que todo cristão deve cumprir?
O Doutrinal | 95
03. Leia 1 Pedro 1:14-15 e 1 Tessalonicenses 5:23
A. Com base nos textos citados, comente a parceria que há entre Deus e
o cristão, no processo da santificação pessoal. De que maneira Deus
age em nossa santificação? Qual é a nossa parte?
B. Q uais os aspectos de nossa vida que a santificação abrange? Cite
exemplos práticos sobre a santidade pessoal na vida do cristão?
Falta a página de
anotações
O batismo no
Espírito Santo
Introdução
No estudo anterior, aprendemos que, sem a santificação, ninguém verá o
Senhor (Hb 12:14). Devemos ser santos, em todo o nosso procedimento (1 Pd
1:15). Vimos, também, ao estudar sobre a perseverança, que somente aquele
que perseverar até o fim será salvo (Mt 24:13). No presente estudo, vamos
tratar do tema: “O Batismo no Espírito Santo”. Iniciamos afirmando que,
com base na Bíblia Sagrada, o Espírito Santo habita dentro de cada crente.
No Antigo Testamento, Ezequiel profetizou sobre essa majestosa verdade:
Também porei o meu Espírito dentro de vós e farei com que andeis nos meus
estatutos (Ez 36:27).
No Novo Testamento, Paulo deu testemunho sobre essa magnífica rea-
lidade: Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita
em vós, o qual tendes da parte de Deus (1 Co 6:19). No entanto, o Batismo
no Espírito Santo, conforme acreditamos, é uma obra adicional do já pre-
sente Espírito Santo. Essa sublime experiência ocorreu, pela primeira vez,
no dia de Pentecostes (At 2). Jerusalém estava repleta de pessoas de todas
as partes do mundo. Muitas dessas milhares de pessoas foram testemunhas
desse evento, que, desde então, continua acontecendo em todos os cantos do
mundo. Vejamos o que a Bíblia tem a nos dizer sobre este assunto.
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I Verificando a doutrina na palavra de Deus
O Doutrinal | 99
o batismo no Espírito Santo? Confira alguns textos bíblicos: Eu, em verda-
de, tenho-vos batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo
(Mc 1:8); Eu, na verdade, batizo-vos com água, mas eis que vem aquele que é
mais poderoso do que eu (...) este vos batizará com o Espírito Santo e com fogo
(Lc 3:16; cf. Mt 3:11; Jo 1:33).
João Batista sabia que Jesus era aquele que viria para executar a pro-
messa do Pai. João batizou nas águas; seu superior batizaria no Espírito
Santo. Jesus também afirmou ser o executor da promessa, em Lucas 24:49.
É muito provável que este texto seja paralelo a Atos 1:4-5. Lucas terminou
o evangelho fazendo menção à conversa de Jesus com os discípulos, à mesa,
e iniciou o livro de Atos com essa mesma conversa. Observe, novamente,
o texto: Eu lhes envio a promessa de meu Pai; mas fiquem na cidade até serem
revestidos de poder do alto (Lc 24:49 – NVI).
Cristo assegurou aos seus discípulos: Eu lhes envio. O Pai é o doador da
promessa e Jesus, o batizador. Durante o seu discurso, no dia de pentecostes,
o apóstolo Pedro também demonstrou entender que Jesus era o executor
da promessa do batismo no Espírito Santo. Falando sobre Cristo, ele disse:
De sorte que, exaltado pela destra de Deus e tendo recebido do Pai a promessa do
Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis (At 2:33). É o Cristo
exaltado que envia essa benção à terra. Tudo que foi visto e ouvido, no dia
de Pentecostes, veio do Cristo ascendido.
4. A concessão do batismo no Espírito Santo: Acabamos de estudar
sobre quem executa o batismo no Espírito Santo. Agora veremos de que
maneira ele acontece. Em Atos 2:1-4, encontramos registrado o cumpri-
mento da promessa do batismo no Espírito Santo. Neste relato, encontra-
mos claramente quatro preciosos e instrutivos ensinos sobre sua concessão.
Em primeiro lugar, a concessão é inesperada. O texto diz assim: Cumprindo-
-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e, de repente
veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda
a casa em que estavam assentados (grifo nosso). A expressão “de repente”
ensina que a concessão do batismo no Espírito Santo é repentina. Não há
como prever, nem marcar o dia, o mês ou o ano para que este aconteça.
Em segundo lugar, a concessão é abrangente. Na parte final do versículo 2,
lemos: ... e encheu toda a casa em que estavam assentados (grifo nosso). A ação
batizadora do Espírito Santo não é preconceituosa nem discriminatória.
O batismo no Espírito Santo não foi concedido somente aos doze, mas a
O Doutrinal | 101
Atos 19:1-7, o apóstolo Paulo encontra um pequeno grupo de discípulos
que havia sido batizado segundo o batismo de João. Todavia, a Bíblia diz
que, pela imposição das mãos do apóstolo, esse grupo recebeu o Espírito
Santo e começou a falar em línguas estranhas (v. 6). É notável, aqui, que esse
fato ocorreu cerca de vinte anos depois do evento narrado em Atos 2. Jesus
ainda continuava batizando pessoas no Espírito Santo, da mesma forma
que o faz ainda hoje. Com base nesses quatro exemplos, podemos afirmar
que falar em línguas estranhas é a evidência do batismo no Espírito Santo
e que esta evidência é imediata.
E é bom que se entenda: estas línguas não são humanas, mas celes-
tiais. Não são aprendidas na escola ou na faculdade, mas concedidas pelo
Espírito Santo, conforme sua vontade (At 2:4; 1 Co 14:2, 13). São línguas
ininteligíveis. Em Atos 2:4, lemos assim: Todos ficaram cheios do Espírito
Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que
falassem. Devemos prestar atenção à palavra outras, pois Lucas usou o termo
grego heteros, indicando línguas diferentes ou totalmente desconhecidas de
quem as falava. Outra coisa que se deve lembrar é que essas línguas são
concessões do Espírito Santo, ou seja, ele é a fonte. Eles falaram em línguas
não porque queriam, mas porque o Espírito Santo lhes concedia que falassem.
Falar em línguas não é meramente fruto da vontade humana; é o Espírito
Santo quem inicia essa manifestação. As línguas são, portanto, de natureza
espiritual. Ter a convicção de que a evidência do batismo no Espírito Santo
é espiritual aumenta a nossa confiança na grandiosidade dessa promessa.
A experiência é fantástica. Saber disso é animador e aumenta a vontade de
buscá-lo. O Pai celeste pode nos dar essa dádiva.
6. O propósito do batismo no Espírito Santo: Qual é o propósito do
batismo no Espírito Santo? Deus não faz nada sem propósito. Conforme o
comentário feito no tópico sobre a natureza do batismo no Espírito Santo,
este é uma experiência inesperada e sobrenatural. Quando o Espírito desce
sobre o crente, dá-lhe poder com propósitos específicos. Em Atos 1:8, Jesus
diz aos seus discípulos: ... mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito
Santo, e sereis minhas testemunhas. Aqui, há dois aspectos importantes que nos
ajudam a entender corretamente o propósito do batismo no Espírito Santo.
Em primeiro lugar, o batismo no Espírito Santo visa à capacitação do dis-
cípulo de Cristo. A primeira parte do versículo diz: ... recebereis poder, ao
descer sobre vós o Espírito Santo (At 1:8a – grifo nosso). Este é o aspecto
O Doutrinal | 103
Em razão disso, se o batismo no Espírito Santo não ocorrer no tempo espe-
rado por você ou se até mesmo não acontecer, não fique sob autocondenção.
Deus é Soberano e sabe o que faz.
Conclusão
Como aprendemos neste estudo, a promessa do batismo no Espírito
Santo tem origem divina: Deus, o Pai, prometeu. É extremamente anima-
dor saber disso, pois a palavra do Senhor é confiável: ... porventura, diria
ele e não o faria? Ou falaria e não o confirmaria? (Nm 23:19). Deus é fiel e
totalmente capaz de cumprir o que promete. Aprendemos, também, que
o batismo no Espírito Santo é um dom do céu, uma dádiva de Deus para
o ser humano. É Jesus quem o executa, de forma inesperada, abrangente,
espontânea e cristocêntrica. A evidência imediata são as línguas estranhas.
O Doutrinal | 105
B. Fale sobre a concessão do batismo no Espírito Santo? Como acontece?
Anotações
Os dons espirituais
Irmãos, quanto aos dons espirituais, não quero que
vocês sejam ignorantes. (1 Co 12:1 – NVI)
INTRODUÇÃO
No último estudo, aprendemos o que a Bíblia ensina sobre a promessa, a
natureza, o executor, a extensão, a concessão e a evidência do batismo no Espí-
rito Santo. Conforme estudamos, ele está disponível a todos. Devemos procu-
rar o batismo no Espírito com sabedoria, desejá-lo com sinceridade e buscá-lo
com perseverança. Neste estudo, continuaremos a tratar sobre a atuação do
Espírito Santo, com o tema: Os dons espirituais. A palavra “dons”, no português,
é a tradução da palavra grega charisma, ou charismata, no plural, cuja raiz é o
substantivo charis, que significa “graça”. Uma vez que “graça” é algo recebido
de forma imerecida, a definição de charisma caminha nesse sentido. Este é um
presente, uma dádiva recebida de forma gratuita e espontânea.
Sobre os charismas do Espírito Santo ou “dons espirituais”, podemos
dizer que estes são capacitações, distribuídas gratuitamente pelo próprio
Espírito Santo aos crentes em Jesus, com um objetivo específico (veremos
qual, no decorrer do estudo). A Bíblia diz: ... a manifestação do Espírito é
dada a cada um para benefício comum (1 Co 12:7); um só Espírito realiza todas
essas coisas, distribuindo-as individualmente conforme deseja (1 Co 12:11). É
importante que façamos uma distinção, desde o início do nosso estudo.
Não podemos confundir dons espirituais com talentos naturais. Talentos na-
O Doutrinal | 107
turais também são dádivas dadas por Deus (Tg 1:17), todavia, não é preciso
ser um cristão para recebê-las. Uma pessoa pode, por exemplo, ter grandes
dons naturais de sabedoria e ciência, sem nunca ter recebido o Espírito de
Deus. Então, de novo frisamos, dons “espirituais não são talentos. Os dons
espirituais são dados por Deus para fins espirituais, e apenas para cristãos”.1
Confiramos esta doutrina nas Escrituras.
1. Boice (2011:528).
2. Vine et al (2009:564).
3. Na tabela, no final deste estudo, explicamos resumidamente cada um destes dons citados.
O Doutrinal | 109
indica atividade contínua através do tempo. Poderíamos parafrasear esse
versículo da seguinte forma: “O Espírito Santo está sempre, de contínuo,
distribuindo e dando dons a cada pessoa”.4
Deus pôs cada um no corpo e dá a cada um as capacidades que ele quer
(1 Co 12:29-31). Por isso, o cristão não pode e não deve se orgulhar de ter
determinado dom, nem pode recriminar aqueles que não possuem o mesmo
dom. O dom que cada crente possui é, exatamente, o que o Espírito Santo
quis que ele possuísse. Entender bem essa verdade faz bem. Desfaz o risco
do descontentamento, afinal, a escolha de Deus é perfeita. Ele sabe perfei-
tamente o que é melhor para todos nós. Isso não exclui, é óbvio, o fato de a
pessoa que tem um dom desejar, de forma sadia, algum outro dom. Agora,
se esta receberá, depende daquele que os concede. Trataremos mais sobre
este tema no item 5 deste estudo.
3. A finalidade dos dons: Qual a finalidade dos dons do Espírito Santo?
Não podemos ser ignorantes quanto a esse assunto. A Bíblia diz que a ma-
nifestação do Espírito é dada a cada um para benefício comum (1 Co 12:7). Os
dons não são para o bem pessoal, mas, sim, para o bem comum. A palavra
de Deus não descarta que o dom, em si, pode trazer benefícios à pessoa,
mas Deus confere seus dons sobre seu povo para que todos sejam edifica-
dos e abençoados espiritualmente (1 Co 14:26). Neste sentido, os coríntios
falhavam, ao usar os dons para fomentar a divisão. O exercício dos dons,
em Corinto, precisava focalizar-se no interesse e no benefício do próximo.
A finalidade dos dons espirituais é a edificação da igreja, o amadureci-
mento do corpo de Cristo (cf. 1 Co 14:5,12,26; Ef 4:16), até que ele volte: ... de
modo que não vos falta nenhum dom, enquanto aguardais a revelação de nosso Se-
nhor Jesus Cristo (1 Co 1:7). O Espírito Santo “usa os dons do cristão individual
para a edificação da igreja”.5 Sobre isso, o texto de Efésios 4:11-12 é bem claro:
E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evange-
listas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para
o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo (grifo nosso).
Quando uma pessoa usa os dons que recebeu do Espírito Santo para
outros fins que não a edificação espiritual dos membros do corpo de Cristo,
o serviço espiritual dela é inútil. Nesse sentido bíblico, os dons espirituais
4. Grudem (1999:868).
5. Kistemaker (2004a:582).
O Doutrinal | 111
5. A procura dos dons: Já aprendemos que os dons nos são distribuídos,
gratuita e soberanamente, pelo Espírito Santo. Não podemos nos tornar
merecedores dessa bênção. Mas a Bíblia mostra um sentimento que todos
nós devemos ter, na procura dos dons espirituais. Está em 1 Coríntios, ca-
pítulo 12, versículo 31. Ali, lemos: Procurai com zelo os melhores dons (RA).
Outra versão diz: Aspirai os dons mais altos (BJ). Uma leitura rápida, neste
texto de Coríntios, pode fazer com que pensemos que as Escrituras se con-
tradizem neste ponto.
No versículo 11, lemos que os dons são dados soberanamente pelo Es-
pírito Santo, mas, no versículo 31, é-nos dito que devemos procurá-los?
Como entendermos estes textos? Na verdade, não existe contradição algu-
ma. Aqui, estão refletidas apenas as verdades da “soberania de Deus” e do
“livre-arbítrio do homem”. Apesar de Deus ser soberano, o homem tem
liberdade para desejar. Esse é o sentido da palavra “procurar”: desejar since-
ramente, avidamente, zelosamente. Então, veja que interessante: o fato de
o Espírito Santo distribuir os dons, de forma soberana, não nos impede de
desejarmos certos dons.
Vale ressaltar que o desejo por este ou aquele dom não é garantia de
que os receberemos. Podemos desejar, mas quem escolhe o dom que de-
vemos receber é o Espírito Santo. Observe também que tipo de dons a
Bíblia nos manda desejar: os melhores dons. As Escrituras não negam o
fato de que alguns dons são mais importantes que outros. Quais são estes?
Levando em conta a finalidade dos dons, que é a edificação da igreja, os
mais importantes são aqueles que oferecem mais benefícios para o corpo.
Neste ponto, precisamos nos acautelar. Já comentamos, algumas vezes, que
os dons não são concedidos por méritos. Por isso, o fato de uma pessoa ter
um dom “mais” ou “menos” importante não significa que ela seja “mais”
ou “menos” importante. Todos os dons são necessários, apesar do fato de
existir melhores dons.
6. A utilização dos dons: A Bíblia ensina, no capítulo 13 de 1 Coríntios,
qual o ambiente ideal para a utilização dos dons do Espírito Santo. Paulo
utiliza dois capítulos desta carta para instruir os crentes daquela cidade so-
bre dons. O capítulo 13, em que encontramos um brilhante ensino sobre o
amor, encontra-se exatamente no meio destes dois capítulos que tratam dos
dons. É claro que essa localização não é acidental. Devemos lembrar que, de
acordo com o que aprendemos no estudo 1 deste manual, quando a Bíblia
6. Lima (2006:458).
O Doutrinal | 113
II Praticando a doutrina da palavra de Deus
Conclusão
Nós, da Igreja Adventista da Promessa, não somos cessacionistas, ou seja,
não sustentamos que, hoje em dia, não existem mais os dons do Espírito
Santo. Somos uma igreja pentecostal. Não somente acreditamos na atua-
lidade dos dons, mas também encorajamos o seu exercício na igreja. Não é
difícil imaginar quantas e quão radicais e positivas mudanças podem acon-
tecer no corpo de Cristo, se cada membro usar corretamente o seu dom
para o bem dos outros. Teremos, sem dúvida, uma igreja mais madura e
mais estável na fé.
Então, não seremos mais como crianças, sempre mudando nossa ideia a
respeito daquilo que cremos, porque alguém nos disse uma coisa diferente
ou habilmente nos mentiu e fez que a mentira soasse como verdade (Ef
4:14). Sejamos, portanto, bons administradores dos diferentes dons que re-
cebemos do Espírito Santo, de modo que, em todas as coisas, seja Deus glori-
ficado, por meio de Jesus Cristo, a quem pertence a glória e o domínio pelos séculos
dos séculos. Amém! (1 Pd 4:11). No próximo estudo, trataremos de “Evange-
lização e Discipulado”, duas práticas importantes e imperativas para a igreja
de Cristo. Que Deus continue nos fortalecendo.
O Doutrinal | 115
03. Leia Efésios 4:11 e 1 Coríntios 12:11
A. Quem distribui os dons?
B. O que significa dizer que ele “distribui os dons”? Qual o seu critério
nessa distribuição?
(Apesar de apresentarmos uma breve exposição de cada um dos dons das listas que aparecem no
Novo Testamento, reconhecemos que este número não é absoluto; pode, ainda, haver dons que
não foram mencionados. O próprio fato de não haver uniformidades nas listas comprova isso. Elas
não são exaustivas. O propósito dos autores é motivar o exercício dos dons que Deus distribui, não
fechar a questão dogmatizando um número “x” de dons espirituais).
Dom Descrição
Dons espirituais de caráter ministerial
Serviço É a capacidade especial, dada por Deus, para ser apoiador em sua
(Rm 12:7; obra e ajudar outros a fazer a obra de Deus, dar assistência prática
1 Pd 4:10-11) aos membros do corpo de Cristo. Quem tem este dom é uma pessoa
extremamente prestativa.
Ensino É a capacidade especial dada por Deus a alguns cristãos de ensinar,
(Rm 12:7) explicar e aplicar as verdades divinas de forma clara, com mais
naturalidade e fluência, às pessoas. Quem tem este dom, é, com
facilidade, propenso à pesquisa e ao estudo.
Encorajamento, É a capacidade especial, dada por Deus a alguém, para estar sempre
exortação pronto a consolar, incentivar e a conclamar outros a adotar alguma
(Rm 12:8a) conduta apropriada. Ter o dom do encorajamento ou da exortação
também é ter a habilidade de estar ao lado do outro para fortalecê-
lo e dizer as palavras certas.
Contribuição É a capacitação dada por Deus ao cristão para que este contribua
(Rm 12:8) de forma especial, na medida de suas posses e até acima delas,
com liberalidade e alegria, com a obra do Senhor e no auxílio a
outras pessoas.
7. Arrington & Roger (2003); Boice (2011); Farias Filho et al (1999); Kistemaker (2004); Lopes (2004 e
2010); Mendes (1993); Priori (2001); Ryrie (2004); Stott (2007a).
O Doutrinal | 117
Dom Descrição
Liderança A palavra traz a ideia de “ficar de pé diante de alguém”. É a
(Rm 12:8) capacidade dada por Deus a alguns cristãos de estarem à frente,
presidindo ou guiando. Este dom capacita a pessoa, na obra de
Deus, na escolha da direção que deve ser tomada. Quem recebe
esta capacitação, tem habilidade de organização e direção.
Misericórdia É capacidade dada por Deus de transformar a preocupação com o
(Rm 12:8) próximo em ação concreta, isto é, a capacidade de ajudar efetiva-
mente, e com alegria, aqueles que enfrentam ou passam neces-
sidades. Quem tem esse dom se envolve, de verdade, com os aflitos,
pois tem uma profunda empatia com relação à situação destes.
Dom de apóstolo Apóstolo, no sentido técnico da palavra, como aplicada aos
(1 Co 12:28; doze, não existe nos nossos dias. Não temos mais apóstolos e
Ef 4:11) nem devemos conferir este título a ninguém, na atualidade.
Todavia, não acreditamos que o “dom do apostolado” foi dado
apenas para a fundação da igreja. Este dom, de acordo com
o que acreditamos, é diferente do ministério dos primeiros
apóstolos e do sentido técnico em que a palavra era empregada.
A partir do significado do verbo grego apostello, que significa
“enviar”, acreditamos que a pessoa que recebe este dom possui
uma capacitação especial para implantar igrejas em solos vir-
gens. É alguém comissionado para fundar igrejas. Por isso, é um
ministério de natureza itinerante. Os missionários transculturais
são bons exemplos da aplicação deste dom.
O dom de mestre É a capacitação divina dada a alguns cristãos maduros para in-
(1 Co 12:28; struírem a outros sobre o significado da fé cristã, sobre as verdades
Ef 4:11) das Escrituras; quem o recebe é alguém capacitado a ensinar, que
desenvolve este ministério com maestria. O mestre capacita os
cristãos a caminharem de forma crescente, rumo à maturidade.
Este dom está relacionado ao de ensino sistemático e profundo
da palavra de Deus, tornando-a clara e prática para o povo de
Deus. Às vezes, é dado sozinho; outras vezes, ligado ao dom do
pastorado: pastor-mestre (cf. Ef 4:11).
O Doutrinal | 119
Dom Descrição
Evangelista Apesar de esta ser uma incumbência de todo salvo, quem tem o
(Ef 4:11) dom espiritual de “evangelista”, recebeu uma capacitação especial,
dada por Deus, para pregar o evangelho aos não-salvos. A pessoa
recebe uma habilidade fora do comum para fazer o evangelho
entendido aos descrentes e aos crentes. Seu testemunho é eficiente e
leva as pessoas a aceitarem Cristo e o evangelho.
O dom de pastor É a capacitação dada por Deus para pastorear, ou seja, cuidar, ali-
(Ef 4:11) mentar, guiar, proteger e apascentar o rebanho de Deus. As pessoas
com este dom providenciam direção e orientação para os crentes
em Jesus, lideram e protegem os que estão sob seus cuidados.
Celibato É a capacitação dada por Deus para o cristão permanecer solteiro,
(1 Co 7:7-8) tendo controle sobre seus impulsos sexuais, com vistas à dedica-
ção exclusiva ao reino de Deus.
Falar ou pregar Este dom está relacionado à pregação da palavra de Deus.
(1 Pd 4:10-11) Todos os crentes são exortados a pregar a palavra de Deus, mas
a alguns, Deus deu uma capacidade especial para isso. O dom
de falar ou pregar é uma capacitação especial para proclamar
a palavra de Deus; por isso, a advertência: ... fale segundo as
palavras de Deus (ARC). Nesta linha, a NTLH diz: Que cada um
use o seu próprio dom para o bem dos outros! Quem prega pregue
a palavra de Deus.
Dons espirituais de caráter sobrenatural
Palavra de É uma capacidade sobrenatural dada por Deus para falar com
sabedoria clareza e precisão uma palavra que reflita a sabedoria divina e
(1 Co 12:8) não a humana. O dom é dado quando necessário, em diferentes
situações, para orientação e solução de problemas espirituais,
emocionais e materiais.
O Doutrinal | 121
Dom Descrição
Profecia É o dom de trazer uma mensagem ou revelação de Deus para o
(1 Co 12:10; seu povo, com possíveis implicações imediatas ou futuras. Por
Rm 12:6) este meio, Deus envia mensagens de edificação, exortação e
consolação à igreja (1 Co 14:3). Veja que este dom tem vários
raios de ação: 1) Edificar é construir, promover o crescimento. 2)
Exortar é a tradução da palavra grega paraklesis, que significa
ajudar e sustentar. 3) Consolar é paramythia, que significa sus-
surrar no ouvido, provavelmente, com o sentido de apaziguar o
temor. Deus pode usar o cristão que tem este dom para mostrar
os segredos do coração do incrédulo para o seu bem e edificação
(1 Co 14:24-25). Através do dom de profecia, de igual forma,
Deus pode confirmar algo que já havia falado (At 13:1-3), e
também fazer predições sobre situações futuras (At 11:27-30).
Então, uma profecia que mina ou arrasa a fé dos outros deve ser
questionada. O próprio Paulo diz que o dom de profecia deve ser
provado (1 Co 14:29). Em Romanos, ele diz que a profecia deve
ser “segundo a medida da fé” (12:6). Fé, neste contexto, se refere
ao evangelho, à fé cristã (Rm 14:1). A profecia deve estar em
concordância com o evangelho.
O Doutrinal | 123
Anotações
Evangelização
e discipulado
INTRODUÇÃO
De acordo com o que aprendemos no estudo anterior, os dons são dá-
divas de Deus, distribuídas gratuitamente pelo Espírito Santo, visando à
capacitação e à edificação da igreja: O Espírito Santo manifesta o poder de
Deus através de cada um de nós como um meio de ajudar toda a igreja (1 Co
12:7 – BV). O conhecimento natural e o esforço próprio não nos tornam
merecedores dos dons espirituais. É o Espírito Santo quem os distribui in-
dividualmente, conforme deseja (1 Co 12:11). É este mesmo Espírito Santo,
que é Deus, quem nos dá poder para exercitarmos as duas tarefas temas
deste estudo: a evangelização e o discipulado.
Apresentar Cristo aos outros é uma das experiências mais compensa-
doras e comoventes da vida cristã. A Bíblia diz: Como são maravilhosos os
pés dos que anunciam boas novas! (Rm 10:15 – KJV). Este versículo é uma
citação de Isaías 52:7. Refere-se aos mensageiros que anunciaram a boa
notícia da soltura dos judeus que haviam sido levados como escravos para
a Babilônia. Em Romanos, porém, o versículo foi aplicado aos mensageiros
do evangelho. Estes também espalham uma maravilhosa notícia: Jesus nos
libertou do império das trevas. Nosso objetivo, neste estudo, é tratar sobre
os dois meios deixados por Cristo para divulgarmos essas boas novas: a
evangelização e o discipulado.
O Doutrinal | 125
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1. Dever (2007:149).
2. Stott (2010:30-33).
O Doutrinal | 127
Já sabemos o que é evangelização e quem deve evangelizar. Analisemos,
então, alguns conceitos básicos sobre a prática da evangelização. Quais são
os meios que podemos usar para evangelizar? Cremos que existem, pelo
menos, quatro: Em primeiro lugar, podemos evangelizar pela intercessão.
Podemos e devemos orar por aqueles que ainda não receberam a Cristo.
Paulo disse que tinha uma grande tristeza e incessante dor no coração (Rm 9:2)
por seus compatriotas judeus. Essa preocupação o levou à ação: ... o desejo do
meu coração e a minha oração a Deus em favor dos israelitas é que eles sejam sal-
vos (Rm 10:1 – KJV). O apóstolo orava pela salvação dos seus compatriotas.
Nós temos orado pela salvação dos milhares que ainda vivem sem Cristo? A
igreja precisa e pode orar pela salvação dos pecadores.
Em segundo lugar, podemos evangelizar pelo exemplo. O nosso teste-
munho é um dos meios mais eficazes de transmitirmos o evangelho. As
palavras, faladas ou escritas, podem ser rebatidas, mas uma vida santa, não.
Somos o sal da terra e a luz do mundo (Mt 5:13-16). Como um perfume
que se espalha por todos os lugares, deixemo-nos ser usados por Deus para
que Cristo seja conhecido por todas as pessoas (2 Co 2:14). Em terceiro
lugar, podemos evangelizar pela contribuição. A igreja de Filipos entendia
bem o que isso significava. Os crentes dessa cidade ajudaram o apóstolo
Paulo na pregação do evangelho, através da contribuição financeira (Fp 1:5,
4:15-16). Nós também podemos evangelizar, através da contribuição para
a obra evangelística.
Em quarto e último lugar, podemos evangelizar pelo anúncio. Orar, ser
exemplo e contribuir são atitudes importantes, mas, acima de tudo, devemos
anunciar: A fé vem pela pregação (Rm 10:17). Evangelização é, essencial-
mente, proclamação. Cada cristão que declara a mensagem do evangelho
a qualquer pessoa, amigo ou não, está cumprindo a ordem de Cristo. Em
Atos, no capítulo 8, versículos 26-40, observamos um exemplo de cristão
que evangelizou pelo anúncio: Felipe. Podemos aprender muito com o seu
exemplo. Como evangelista, Felipe mostrou obediência (v. 26); apresentou
disponibilidade (vv. 27-29); teve iniciativa (v. 30); possuía conhecimento bíbli-
co (vv. 31-33) e era cristocêntrico, isto é, Jesus era o centro de sua mensagem
(vv. 35-37). Sigamos o seu exemplo!
2. O ensino bíblico sobre o discipulado: Além de entendermos a respeito
da evangelização, precisamos ter um entendimento correto acerca do discipu-
lado. Destacaremos três relevantes e vitais ensinos sobre o tema: o chamado,
3. Wiersbe (2006b:140).
4. Ortiz (2007:117).
O Doutrinal | 129
que indica ação em desenvolvimento.
A ideia do texto é “indo, discipulai”. A única e inegociável ordem da
grande comissão, de acordo com Mateus, é fazer discípulos. Essa ordem
de Cristo constitui-se um chamado ao discipulado. Não ficou restrita aos
primeiros discípulos: é para todos os cristãos, de todos os tempos e em
todos os lugares. Não é uma opção, sugestão, mas um mandamento. Jesus
não somente ordenou a prática do discipulado: também o praticou, durante
seu ministério. Ele atribuiu grande importância à parte do seu trabalho que
consistiu no treinamento dos doze. Esse treinamento ou discipulado foi
constante e prático. Às vezes, Jesus ensinava seus discípulos com a multidão
(Mt 5:1-2; 23:1), e, outras vezes, em particular (Mt 13:36, 16:21, 17:1).5
Além de chamá-los a segui-lo e ensinar-lhes, Jesus os treinou para
que também ensinassem outros a segui-lo. Eles cumpriram esta ordem.
Uma das marcas da igreja primitiva era o ensino: Eles se dedicavam ao en-
sino dos apóstolos (At 2:42); não cessavam de ensinar (...) Jesus, o Cristo (At
5:42). A igreja primitiva interessava-se pela edificação tanto quanto pelo
evangelismo6; evangelizava e discipulava. Em certo sentido, podemos cha-
mar a pregação de ministério do recrutamento e o ensino, de ministério
do amadurecimento. Ambos devem fazer parte da prática da igreja cristã.
Então, como vimos, a tarefa de discipular é de todos nós. Mas como
devemos fazer isso? A prática do discipulado é o assunto no qual nos de-
teremos agora. De maneira simples, Jesus ordenou e apresentou o modo
de se fazer discípulos: Ide, portanto, fazei discípulos (...) batizando-os (...)
ensinando-os a obedecer a tudo o que lhes ordenei (Mt 28:20). “Ide”, “batizan-
do” e “ensinando” apontam para as atitudes pelas quais a ordem “fazei dis-
cípulos” deve ser colocada em prática. Esta foi a metodologia ensinada por
Jesus. Vejamos cada um deles. Em primeiro lugar, o Ide. Já mencionamos,
anteriormente, que este não é um imperativo, mas uma ação em desenvol-
vimento, na língua original do Novo Testamento. A ideia do verbo é indo.
Podemos observar, então, que ainda assim, há uma responsabilidade
quanto à ação. Não evangelizaremos e nem faremos discípulos se ficarmos
parados. O Indo faz parte da grande comissão e nos ensina que devemos
ser agentes missionários em todos os lugares, mas, é claro, sem nunca es-
5. Marra (2007:55).
6. Hendriksen (2001b:704).
7. Para mais detalhes sobre o batismo, cf. estudo 11: Ordenanças instituídas por Cristo.
O Doutrinal | 131
doença do pecado; é restaurado e transformado. Tudo isso por pura graça.
Como não se sentir devedor? Todo o salvo tem o dever solene de compar-
tilhar aquilo que recebeu. Se o evangelho chegou até nós, não temos o di-
reito de guardá-lo só para nós. “Ninguém pode reivindicar o monopólio do
evangelho”.8 Você também, a exemplo de Paulo, se considera um devedor?
Tem esse compromisso e está ansioso para pagar a sua dívida, repartindo a
boa nova com os outros, através da evangelização e do discipulado? Tornar
o evangelho conhecido às outras pessoas é nosso compromisso.
8. Stott (2000:63).
O Doutrinal | 133
B. Quem deve evangelizar?
Ordenanças
instituídas por Cristo
INTRODUÇÃO
No último estudo, tivemos a oportunidade de meditar sobre evange-
lização e discipulado. Pelo estudo da palavra de Deus, ficou evidenciado o
quanto essas duas práticas são importantes e imperativas para a igreja de
Cristo. Através delas, a igreja pode espalhar as boas novas, a maravilhosa
notícia de que Jesus nos libertou do império das trevas e convida pessoas
para serem discípulas suas. Esperamos que você tenha entendido e reconhe-
cido a importância da evangelização e do discipulado. No presente estudo,
iremos tratar de outro assunto, igualmente importante: as ordenanças insti-
tuídas por Cristo a sua igreja.
São três as ordenanças que ele nos deixou: o batismo nas águas, a ceri-
mônia do lava-pés e a ceia do Senhor. Todas são cerimônias simples, admi-
nistradas com elementos simples. Nós as chamamos de “ordenanças” justa-
mente porque todas são cerimônias “ordenadas”. O próprio Jesus as instituiu.
Precisamos entender que estas “ordenanças” não possuem, em si mesmas, um
poder misterioso capaz de mudar aqueles que as praticam. Por si só, elas não
podem transmitir graça a ninguém. Todavia, acreditamos firmemente que
Deus pode usá-las para fortalecer e encorajar a fé de quem as pratica.
O Doutrinal | 135
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1. Ryrie (2004:490).
2. Brow (1981:260).
3. Grudem (1999:817).
O Doutrinal | 137
de pecados e mudança de conduta (Mc 1:4-5). O batismo é o símbolo externo
do arrependimento, um gesto público, uma cerimônia externa de uma obra que
aconteceu interiormente (a regeneração), na vida de quem o recebe. O batismo
não tem poder de salvar ninguém. Não somos batizados para ser salvos, mas
porque somos salvos. Ele simboliza a morte, o sepultamento e a ressurreição de
Cristo (Rm 6:3-6): morremos para vida passada e a sepultamos (ato tipificado
com a imersão); depois, ressuscitamos para uma nova vida (ato tipificado na
emersão). O batismo é um testemunho público da nova vida que nos foi dada.
2. A ordenança do lava-pés: Semelhante ao batismo, o lava-pés tam-
bém é uma ordenança de Cristo à sua igreja. Quando o instituiu, Jesus vivia
a semana mais importante do seu ministério, a noite mais intensa de sua
vida aqui na terra, véspera da crucificação. Ele estava com os doze no Ce-
náculo. Naquele lugar, eles comiam a refeição da páscoa, festa judaica que
comemorava a libertação do Egito.4 Ali, o Mestre surpreendeu a todos. Para
entendermos o que aconteceu, precisamos recorrer a algumas informações
sobre os costumes da época: era costume que os pés das pessoas fossem
lavados, antes da refeição; contudo, lavar os pés de alguém era ato muito
humilhante. Somente o mais baixo dos escravos podia fazê-lo.5
Na reunião de Jesus com os discípulos, não havia escravos disponíveis para
fazer esse trabalho. Sendo assim, os discípulos poderiam lavar os pés uns dos
outros. Mas seus corações orgulhosos os impediam. À mesa, eles disputavam
entre si quem era o maior (Lc 22:24). Foram cear com corações e pés sujos.
Precisavam, encarecidamente, de uma lição de humildade. Jesus lhes ensinou.
De repente, ele se levantou da mesa, tirou a capa, cingiu-se com uma toalha e
foi fazer o trabalho de um escravo.6 Passou a lavar e enxugar os pés dos discí-
pulos ( Jo 13:4-5). Nenhum deles estava entendendo o que aquilo significava.
Ao tomar a iniciativa de lavar os pés dos discípulos, Jesus se colocou na
posição de servo, mesmo sendo Senhor. Que lição de humildade ele ministrou!
Contudo, apesar de se rebaixar à condição de escravo, Jesus conhecia perfei-
tamente sua posição ( Jo 13:13), pois sabia que viera do Pai e para ele voltaria
( Jo 13:3). Com essa postura, mostrou aos seus amigos que servir aos outros
não diminui o valor de ninguém. Foi na execução daquela tarefa humilhante
4. Boyer (1989:472).
5. McArthur (2003:41).
6. Bruce (2009:1736).
7. Grün (2006:114).
O Doutrinal | 139
mória de mim (Lc 22:19). Em seguida, fez o mesmo com o cálice, e disse: Este
é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós (Lc 22:20).
Os componentes da ceia apontam para a cruz de Cristo e os seus
significados estão centrados na morte expiatória e no sacrifício de Jesus.8
O pão simboliza seu corpo, que foi ferido por nós. O cálice simboliza
seu sangue derramado no Calvário. A ceia é um memorial. Disse Jesus:
... façam em memória de mim (Lc 22:19). Cada vez que a celebrarmos,
devemos pensar em Cristo, em tudo que ele fez por nós e, pela fé, apro-
priarmo-nos dessas bênçãos. A ceia não é simplesmente uma refeição
compartilhada pelos homens; é a comunhão com o próprio Cristo, em
sua presença, à sua mesa.9
A ceia do Senhor é uma cerimônia com finalidades claras. Na primeira
carta aos Coríntios, o apóstolo Paulo traz valiosos ensinos sobre esse as-
sunto. Ali, aprendemos que um dos objetivos para a realização dessa ceri-
mônia é a comunhão (1 Co 10:16-17). A ceia é mais que um ajuntamento
de crentes; é uma comunhão, no sentido vertical, com Deus, e, no sentido
horizontal, com os irmãos. É a festa da família de Deus, com ele presente.
Além da comunhão, outro objetivo para a realização desta cerimônia é a
recordação. Esse é o motivo principal. Na ceia, nós nos lembramos do nosso
Senhor. Recordamos o seu sacrifício, tudo o que ele fez por nós.
Por três vezes, a Bíblia registra a expressão “em memória de mim” (Lc
22:19; 1 Co 11:24-25). Ao relembrar a morte de Cristo, também celebramos
a vitória que recebemos por meio dela. Vale dizer que recordar é também re-
novar. Portanto, ao comer e beber, temos a oportunidade, dada por Jesus, de
ver renovada a nossa fé e a nossa esperança nele. É uma ocasião em que é re-
afirmada a nossa aliança com Cristo. Por fim, outro objetivo para a realização
da ceia é a proclamação: Porque, sempre que comerem deste pão e beberem deste
cálice, vocês anunciam a morte do Senhor até que ele venha (1 Co 11:26). Na
ceia do Senhor, são proclamadas a morte, a ressurreição e a vinda de Cristo.
E quanto aos que participam da ceia? O que se espera dos que querem
compartilhar da mesa do Senhor? Em 1 Co 11:27-29, Paulo ensina três re-
quisitos básicos: o primeiro é a reverência. O texto diz que não podemos comer
nem beber indignamente (v. 27). O que isso significa? Pense: se fôssemos es-
8. Hendriksen (2004a:562-5).
9. Grudem (1999:805).
1. As ordenanças instituídas por Cristo a sua igreja nos ensinam a olhar com
gratidão para o passado.
Ao pensamos no simbolismo do batismo, isto é, no que representa,
não há como não olharmos com gratidão para o passado. Nossa velha vida
O Doutrinal | 141
foi sepultada com Cristo no batismo (Cl 2:12). Esse rito é o testemunho
público da morte da nossa velha vida e da nossa ressurreição para uma
nova vida em Cristo. Semelhantemente ao batismo, a ceia do Senhor tam-
bém é um convite a olharmos para trás com gratidão. Na ceia, olhamos
para o monte Calvário e nos prostramos, cheios de gratidão, diante da
cruz de Cristo. Nessa cerimônia, a morte de Jesus é anunciada e recorda-
da. Lembramos que os nossos pecados foram perdoados e fomos recon-
ciliados com Deus. A morte de Cristo é nossa vida. Portanto, recorde-a
com muita gratidão.
2. As ordenanças instituídas por Cristo a sua igreja nos ensinam a olhar com
reflexão para o presente.
Toda vez que praticamos a cerimônia do lava-pés, não há como fugir
do exercício da reflexão. A humildade deve caracterizar o viver diário do
cristão. Não fomos chamados para ser vistos, mas para servir. O lava-pés
no induz a refletir sobre essas questões. Muito mais do que limpar a sujeira
dos pés, precisamos refletir no nosso andar diário. De igual modo, a ceia do
Senhor também é um chamado à reflexão. Nessa solene reunião, “não cami-
nhamos ao redor de um monumento e o admiramos à distância”.12 Ao con-
trário, há uma mensagem rica e atual: temos comunhão com um Salvador
vivo, do qual nos aproximamos pela fé, e com os irmãos (1 Co 10:16-17).
Somos lembrados de que não estamos sozinhos (Mt 28:20). Como está sua
comunhão com o Senhor e com os irmãos? Reflita sobre isso, não só na ceia,
mas em todos os dias de sua vida.
3. As ordenanças instituídas por Cristo a sua igreja, nos ensinam a olhar com
esperança para o futuro.
Talvez um dos mais maravilhosos ensinos da ceia do Senhor seja o que
é relacionado ao futuro. Essa festa espiritual aponta para o que acontecerá,13
pois, nela, anunciamos a morte do Senhor até que ele venha (1 Co 11:26).
Cada vez que a realizamos, somos lembrados de uma esperança maravilho-
sa: Jesus está voltando. Essa é a expectativa da igreja de Cristo e de cada
cristão. Na ceia, você vê que Jesus não apenas morreu em seu favor, mas que
também ressuscitou, subiu ao céu e, num precioso dia, voltará para levá-lo
Conclusão
O batismo, o lava-pés e a ceia são cerimônias preciosas aos olhos de
Deus e também devem ser aos nossos olhos. Esses três ritos nos fazem
lembrar a obra de Cristo em nosso favor. É essencial entendermos o que
significam. Como ordenanças de Cristo à igreja, essas cerimônias devem ser
praticadas com reverência, profunda gratidão e alegria. Jesus praticou todas
elas. Ele foi batizado, lavou os pés dos discípulos e participou da ceia. Só o
fato de ser Deus já o torna suficientemente autorizado para instituir qual-
quer uma dessas ordenanças, mas, não bastasse isso, ele também as praticou.
Assim, não nos resta dúvida da sua validade para nós, hoje.
Concluímos, então, lembrando que o batismo é “símbolo” da obra divina
(regeneração) que marca o início da nossa nova vida. O lava-pés é símbolo da
essência do chamado desta nova vida: a disposição para servir humildemente
o próximo, o amor fraternal, a igualdade, etc. De igual modo, a ceia do Senhor
é símbolo da comunhão que devemos ter no desenvolvimento da nossa vida
cristã: a comunhão com Deus e com os irmãos. Dessa forma, encerramos por
aqui esse estudo. Para o próximo, comece, desde já, a refletir na expressão: “sã
doutrina”. O que ela significa? É sobre disso que iremos estudar.
O Doutrinal | 143
B. É certo realizar o batismo de crianças? Justifique a resposta.
A sã doutrina
Introdução
No estudo anterior, tratamos um assunto muito importante, relacio-
nado às práticas do dia-a-dia da igreja: As ordenanças instituídas por Cristo.
São elas: o batismo nas águas, a cerimônia do lava-pés e a ceia do Senhor.
Todas são cerimônias simples, administradas com elementos simples. Nós
as chamamos de “ordenanças” justamente porque todas são cerimônias “or-
denadas”. O próprio Jesus as instituiu. O assunto do presente estudo tam-
bém é vital para o bom andamento da igreja de Cristo: A sã doutrina. Ele é
salutar porque uma doutrina saudável é a base para uma conduta saudável.
A Bíblia utiliza o termo “sã doutrina”, algumas vezes, e diz que a lei
condena todos que se opõem à sã doutrina (cf. 1 Tm 1:8-10), que, no fim
dos tempos, muitos, por ajuntarem para si mestres segundo seus próprios
desejos, não suportarão a sã doutrina (1 Tm 4:3). Diz, também, que os presbí-
teros da igreja devem ser capazes de encorajar outros pela sã doutrina (Tt 1:9
– NVI). E, por fim, ensina que a melhor maneira de combater o erro é falar
o que está em harmonia com a sã doutrina (Tt 2:1). Mas o que é a sã doutrina?
Como podemos defini-la? Verifiquemos o que a Bíblia diz.
O Doutrinal | 145
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
Uma vez salvos pela graça, iniciamos a nossa carreira cristã. Depois de
justificados, entramos no processo de santificação. Nessa caminhada, saber
qual a vontade Deus para nós é extremamente importante, se não quiser-
mos andar por caminhos errados. Por isso, é tão necessário conhecermos
a sã doutrina. Alguém comparou a vida cristã com uma viagem no tempo
para a eternidade. Essa viagem tem rumo e destino certo. Nela, a doutrina
é como o mapa que indica o caminho até o destino final. Deus não nos
deixou sem rumo. Sua vontade foi revelada a nós. Com isso em mente,
consideremos alguns pontos relevantes sobre a sã doutrina.
1. A sã doutrina deve ser entendida: Há muita confusão em torno da
palavra “doutrina”. Para muitos, essa palavra é sinônimo de rigidez, seve-
ridade, fardo e legalismo. Mas não é isso que a Bíblia ensina. “Doutrina” é
a tradução do grego didaquê ou didaskalia, que significa ensino ou instrução.
Deste modo, a doutrina cristã pode ser definida como o conjunto das ver-
dades fundamentais da Bíblia, ensinadas de forma sistemática, ordenada e
organizada.1 Os exageros de alguns que torcem a palavra de Deus para criar
seus próprios pontos de vista não podem ser chamados de doutrina, pelo
menos não de “doutrina cristã”.
Novamente, ressaltamos que a doutrina cristã é bíblica, isto é, é baseada
na Bíblia Sagrada. A doutrina é o que a Bíblia, como um todo, nos ensi-
na a cerca de um determinado assunto. É composta pelos mandamentos e
princípios cristãos ensinados na palavra de Deus. Por exemplo, é doutrina
bíblica o ensino sobre o pecado, sobre a salvação, o sábado, a abstinência, a
temperança, a volta de Cristo, sobre o Espírito Santo e muito mais. Mas por
que o adjetivo “sã”? Essa palavrinha é a tradução do grego, hygiainoúse, que
significa “estar bem”, “estar com saúde”, “ser são”.
Desse modo, por “sã doutrina”, devemos entender “doutrina saudável”.
É claro que o fato de a Escritura Sagrada usar esse termo indica que exis-
tem doutrinas enfermas ou falsas doutrinas. O cristão deve acautelar-se
para não se deixar enganar. Jesus, em certa ocasião, afirmou: Como vocês estão
errados não conhecendo nem as Escrituras e nem o poder de Deus (Mt 22:29).
1. Pearlman (2006:16).
2. Schwarz (2002:17).
O Doutrinal | 147
a palavra de Deus com muito interesse, examinando as Escrituras todos os dias
para ver se as coisas eram, de fato, assim (At 17:11).
Eles não receberam passivamente tudo o que lhes fora dito por
Paulo. Os bereanos questionaram, examinaram, estudaram as Escri-
turas para ver se a doutrina que lhes era ensinada era verdadeira. O
vocábulo grego usado, em Atos 17:11, é anakrino, que significa fazer
passar pelo crivo, fazendo uma pesquisa cuidadosa e exata. O estudo
fez com que os judeus de Bereia avançassem em seus conhecimentos.
Nessa mesma época, Paulo também pregou aos judeus de Tessalônica.
Por essa atitude madura, os bereanos foram chamados de mais nobres
(At 17:11a) que os tessalonicenses.
Não nos esqueçamos: a ignorância quanto aos ensinos bíblicos induz
à falha e leva as pessoas à derrota. Foi o que Deus denunciou, através do
profeta Oséias: O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimen-
to (Os 4:6). Por isso, mais do que ler superficialmente as doutrinas cristãs,
é fundamental estudá-las com profundidade. Elas são o antídoto contra o
erro. São elas que desenvolvem o caráter cristão em nós; afinal, crenças bem
definidas produzem convicções bem definidas. A sã doutrina livra-nos das
vendas enganadoras do pecado. Disse Jesus: ... e conhecereis a verdade, e a
verdade vos libertará ( Jo 8:32). Estude a sã doutrina!
4. A sã doutrina deve ser praticada: Não basta conhecermos a doutrina
de Cristo; devemos, também, colocá-la em prática. Veja o ensino do apóstolo
Tiago: Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganan-
do-vos a vós mesmos (Tg 1:22). Muitos pensam, erroneamente, que só o ouvir
uma boa mensagem bíblica ou participar de um estudo bíblico é o que os faz
crescer espiritualmente. Não é só o ouvir ou estudar, mas também o praticar
que resulta nessa bênção. É preocupante perceber que muitos cristãos “costu-
mam marcar passagens na Bíblia, mas nunca marcam a própria vida!”.3
Os capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho de Mateus fazem parte do conhe-
cido “Sermão do monte”, proferido por Jesus. Esses capítulos narram uma
bela exposição do ensino do mestre sobre felicidade, testemunho, assassi-
nato, adultério, divórcio, amor, justiça, oração, jejum, etc. São mais de cem
versículos altamente instrutivos e esclarecedores. Já no final, Jesus conclui
com a seguinte exortação: ... quem ouve estas minhas palavras e as pratica é
3. Wiersbe (2006c:448).
4. Ryrie (2007:13).
5. Bíblia de Aplicação Pessoal (2004:1529).
O Doutrinal | 149
que habitavam na Ásia ouviram a palavra do Senhor. Paulo ensinava a sã
doutrina. A ordem da palavra de Deus para nós é a mesma: Tome os ensi-
namentos que você ouviu (...) e entregue-os aos cuidados de homens de confiança,
que sejam capazes de ensinar outros (2 Tm 2:2 – NTLH). Através de cristãos
sérios, a fé cristã resistiu a séculos de ataques e ao levante de muitas heresias.
Passou por várias gerações até chegar a nós. Devemos ensiná-la também
com cuidado (cf. 1 Tm 4:16).
6. A sã doutrina deve ser protegida: Além de entender, apreciar,
estudar, praticar e ensinar a sã doutrina, é imprescindível, também,
“protegê-la”, isto é, defender e zelar pela sua pureza. Contudo, manter
a pureza doutrinária da igreja é um imenso desafio. Na verdade, sempre
foi um desafio, mas, atualmente, parece ainda maior. Vale dizer que o
engano religioso foi o primeiro sinal apontado por Jesus para o fim dos
tempos (Mt 24:3-5). Ele avisou que surgiriam falsos cristos e falsos
mestres com falsas doutrinas.
Em outra passagem, a Bíblia diz: ... haverá tempo em que não suportarão
a sã doutrina (...) como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar
ouvidos à verdade entregando-se às fábulas (2 Tm 4:3-4). Estamos vivendo
esse tempo. Há uma enxurrada de heresias invadindo nosso país e de práti-
cas contrárias ao ensino Escrituras, como a propaganda indevida de sinais
e prodígios e a venda de bênçãos. Entre os acadêmicos, a “teologia liberal”
e suas vertentes, que negam veracidade da Bíblia, ainda têm considerável
influência nas reflexões teológicas e na interpretação da Bíblia. Esta lista
não para por aqui. São muitas as mentiras que tentam manchar a pureza do
evangelho e enfermar a sã doutrina.
Por isso, devemos lutar pela genuína fé cristã. Devemos desmascarar
os falsos mestres e suas falsas doutrinas. É necessário estarmos prepara-
dos, como obreiro que maneja bem a palavra da verdade (2 Tm 2:15), que
se mantém f irme na palavra f iel, conforme a doutrina, para que seja capaz
tanto de exortar na sã doutrina quanto de convencer os opositores (Tt 1:9).
Só quem conhece, aprecia, estuda, ensina e pratica a sã doutrina, conse-
gue protegê-la. É nosso dever fazer isso. Pureza doutrinária é essencial:
Pois, todo aquele que não permanece no ensino de Cristo, mas vai além dele,
não tem Deus (2 Jo 1:9).
Reiteramos que a doutrina é o conjunto das verdades fundamentais da
Bíblia, ensinadas de forma sistemática, ordenada e organizada ou o que a
O Doutrinal | 151
que conhecem as doutrinas bíblicas, mas não lhes obedecem; isso porque
temos a tendência de nos acomodar e nos conformar com o pecado. Mas o
conselho bíblico é este: Como filhos obedientes, não vos amoldeis aos desejos que
tínheis em tempos passados na vossa ignorância (1 Pd 1:14). Você não pode ser
complacente com o pecado. Se há algo errado em sua vida, não deixe para
amanhã; corrija a agora mesmo. Além disso, não podemos ser coniventes
com o erro dos outros. Fazemos parte da igreja de Cristo. Uma igreja santa,
que tem um ensino bíblico e íntegro, não pode ser conivente com o erro.
Conclusão
Está lançado o desafio: zelar pela doutrina que Jesus Cristo nos deixou
(cf. 1 Tm 4:16). Sem pureza na doutrina, não há pureza na conduta. Como
afirmamos, no início deste estudo, uma conduta correta depende, em mui-
tos sentidos, de uma doutrina correta. É por isso que devemos entender,
apreciar, estudar, praticar, ensinar e proteger a sã doutrina, com bastante
e zelo e muita seriedade. Nenhum caminho para a perdição tem se enchi-
do tanto atualmente como o das falsas doutrinas e das heresias. Por isso,
permaneça naquilo que aprendeu. As Sagradas Letras podem fazê-lo sábio
para a salvação (2 Tm 3:14-15).
Lembramos que a doutrina bíblica não é um fim em si mesmo. Ela
mostra algo maior; aponta para Cristo. O caminho é Jesus. A doutrina fun-
ciona como as placas que apontam para ele. Ela é a luz que nos permite
conhecer esse caminho. Ele mesmo disse que as Escrituras dão testemunho
a seu favor ( Jo 5:39). No próximo estudo, iremos tratar, especificamente, de
abstinência e temperança. Você sabia que o que você come, como você come,
onde você come e o quanto você come pode torná-lo mais santo ou menos
santo? Estude a próxima lição e saiba por quê.
O Doutrinal | 153
Anotações
Abstinência
e temperança
Introdução
No último estudo, aprendemos um pouco mais sobre a sã doutrina. Uma
doutrina saudável é a base para uma conduta saudável. Como vimos, a Bíblia
utiliza o termo “sã doutrina” algumas vezes, ao afirmar que a lei condena todos
aqueles que se opõem a sã doutrina (cf. 1 Tm 1:8-10); que, no fim dos tempos,
muitos não suportarão a sã doutrina (1 Tm 4:3); que os presbíteros da igreja de-
vem ser capazes de encorajar outros pela sã doutrina (Tt 1:9 – NVI), e, ainda, que
a melhor maneira de combater o erro é falar o que está em harmonia com a sã dou-
trina (Tt 2:1). No presente estudo, trataremos, especificamente, sobre um en-
sino bíblico que está em harmonia com a sã doutrina: Abstinência e temperança.
Você sabia que os seus alimentos e a maneira de você se alimentar po-
dem influenciar de forma negativa ou positiva no seu relacionamento com
Deus? A Bíblia diz: ... seja comendo, seja bebendo, seja fazendo qualquer outra
coisa, fazei tudo para a glória de Deus (1 Co 10:31). Observe que esse texto
deixa claro que Deus pode ser ou não glorificado, quando estivermos co-
mendo ou bebendo. Por isso, precisamos entender tanto o que podemos ou
não comer quanto o quanto devemos comer. A Bíblia tem ensinos instruti-
vos nessa área. É isso que este estudo sobre “abstinência e temperança”, vai
nos mostrar. A primeira nos mostra o ensino bíblico sobre o que comer, e a
segunda o ensino bíblico sobre quanto comer.
O Doutrinal | 155
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
O Doutrinal | 157
... eu sou o Senhor vosso Deus. Portanto, santificai-vos e sede santos, porque eu
sou santo (...). Sede santos, porque eu sou santo. Esta é a lei sobre os animais (Lv
11:44-46a). A santidade é a razão bíblica para as leis alimentares. Observe
o que Deus disse mais à frente, em Levítico 20: E não imiteis os costumes dos
povos (...). Portanto fareis separação entre animais puros e impuros (...). Sereis
santos para mim, porque eu, o Senhor, sou santo (vs. 23-26).
Viver em santidade envolve todos os aspectos da nossa vida, inclusive o
que comemos. Deus queria que o seu povo vivesse de modo diferente, com
estilo de vida diferente. Pensemos: se os israelitas não se alimentassem da
mesma maneira dos seus vizinhos pagãos, seria mais difícil a confraterni-
zação entre eles, e, assim, haveria menos casamentos mistos e a nação seria
preservada. É interessante como, no Novo Testamento, a preocupação com
a separação dos costumes pagãos é repetida (cf. 2 Co 6:14-18). Em Deute-
ronômio, a ênfase com relação à santidade continua. Antes de reenfatizar as
leis alimentares, lemos: Porque és povo santo para o Senhor teu Deus, e o Senhor
te escolheu para seres o seu povo particular (...) Não comereis nenhum animal
repugnante (Dt 14:2-3).
Em quarto lugar, temos a validade das leis alimentares. As leis alimenta-
res prescritas no Antigo Testamento continuaram valendo para os crentes
do Novo Testamento e para nós hoje? A Bíblia mostra que sim. Nem Jesus
e nem os apóstolos as aboliram. Jesus, ao contar uma das parábolas sobre
o reino do céu, confirmou a validade das leis alimentares. Ele disse que a
rede, uma vez lançada ao mar, recolhe peixe de toda a espécie. E, quando já está
cheia, os pescadores arrastam-na para a praia e, assentados, escolhem os bons para
os cestos e os ruins deitam fora (Mt 13:47-48 – grifo nosso). Muitos dos que
ouviram essa parábola conheciam bem o costume de selecionar peixes. “Os
comestíveis e comerciáveis eram lançados em baldes e barris, e os demais
eram descartados” (grifo nosso).1 Além disso, mesmo depois da ascensão de
Jesus, os discípulos continuaram reconhecendo a validade das leis alimenta-
res, o que mostra que Cristo não as aboliu (At 10:14; 11:8).
A Bíblia também afirma que, nos últimos tempos, certos mestres falsos
iriam exigir abstinência de alimentos permitidos pela palavra Deus aos fiéis
(1 Tm 4:3), o que evidencia, claramente, que existem tais alimentos, como
também o contrário, isto é, que existem alimentos não permitidos aos fiéis.
1. Hendriksen (2001a:108).
2. Oliveira (2005:34).
3. Moulton (2007:120).
4. Hendriksen (2009:270).
O Doutrinal | 159
precisa estar sob controle. O autocontrole é uma virtude cristã tão indispen-
sável que, quando Paulo pregou a diante do tribunal do governador Felix,
falou a respeito do domínio próprio (At 24:25).
De igual modo, na carta a Tito, a Bíblia mostra que a temperança ou
domínio próprio não tem idade: Exorta os velhos a que sejam temperantes
(Tt 2:2 – grifo nosso). Em 2 Pedro, o domínio próprio está entre as vir-
tudes que, se estiverem crescendo em nossa vida, impedirão que nós, no pleno
conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo, sejamos inoperantes ou improdutivos
(1:8 cf. vv. 5-8). No tocante à alimentação, que é o foco do nosso estudo,
devemos, de forma semelhante, ser também temperantes. Uma pessoa que
possui domínio de si mesma sabe o que comer e quanto comer: não come
demais nem de menos, mas com equilíbrio.
Uma pessoa temperante domina, governa, controla o seu apetite, quan-
do se alimenta do que é permitido por Deus. O seu deus e o seu senhor não
são o próprio ventre (Rm 16:18; Fp 3:19). O seu estômago não é soberano.
O seu lema não é: os alimentos são para o estômago, e o estômago, para os ali-
mentos (1 Co 6:13). O seu apetite não dita a direção da sua vida. A pessoa
temperante conhece e consome os alimentos permitidos pela palavra de
Deus, mas não se deixa dominar por nenhum deles (1 Co 6:12). Ela não
ingere nem pouco nem muito alimento: ingere somente o suficiente para
viver de maneira saudável. Quando negligenciamos esse ensino bíblico, co-
mendo muito ou comendo pouco, nós mesmos é que somos prejudicados.
Para aqueles que quebram o princípio bíblico da temperança, comendo
com excesso, a Bíblia diz: ... põe uma faca à tua garganta, se és homem glutão
(Pv 23:2). O contexto desse versículo de Provérbios é o de bons modos à
mesa. O sábio escreve destacando o valor da etiqueta apropriada na pre-
sença de pessoas importantes, no caso, dos reis: Quando te assentares para a
comer com um governador (Pv 23:1). A expressão “põe uma faca na tua gar-
ganta” diz respeito ao autodomínio e a temperança que é exigida, quando
se está à mesa para uma refeição. Neste versículo, a recomendação é dada
porque o rei em questão pode estar querendo comprar a sua amizade em troca
de uma comida deliciosa (Pv 23:3 – BV).
A orientação de Provérbios, apesar de estar ligada a sentar-se à mesa
com um governador e acautelar-se quanto às intenções deste, deve ser le-
vada em conta em todas as ocasiões em que nos assentarmos para comer.
Todo aquele que não consegue controlar seu apetite precisa aprender a
5. Chapman et al (2009:406).
O Doutrinal | 161
II Praticando a doutrina da palavra de Deus
6. Meyer (2002:19)
Conclusão
A nossa salvação é conseguida única e exclusivamente pela graça de Deus,
através da fé no sacrifício de Jesus Cristo, na cruz. Mas, uma vez salvos por
Cristo, devemos obedecer a todos os seus ensinamentos (Mt 28:20), entre os
quais está o ensinamento sobre abstinência e temperança, tratado no presente
estudo. Vimos que a Bíblia oferece orientações tanto sobre o que podemos
comer (Lv 11; Dt 14; At 15:20, 29) quanto sobre a maneira correta de comer
o que é permitido: com moderação. Coloquemos esses princípios em prática, e
quer comamos, quer bebamos (...), façamos tudo para a glória de Deus (1 Co 10:31).
No próximo estudo, veremos o que a Bíblia nos ensina sobre a oração.
Assim como precisamos de alimentos para nos manter saudáveis fisicamen-
te, precisamos de “alimentos” para nos manter de pé espiritualmente. Jesus
disse: Nem só de pão viverá o homem (Mt 4:4). Dentre as práticas que nos fa-
zem crescer e nos firmam espiritualmente, está a oração. Na leitura da Bíblia,
Deus fala conosco, mas, na oração, nós falamos com Deus e expomos, diante
dele, os nossos anseios, desejos, pecados etc. Não perca o próximo estudo.
O Doutrinal | 163
B. Quais são as aves que não são apropriadas ao consumo humano?
Quanto aos insetos, quais podemos comer? Os répteis são adequados
para alimentação?
Falta a página de
anotações
A oração e
sua eficácia
Introdução
Com base na palavra de Deus, pudemos analisar, no estudo anterior, a
importância da abstinência e da temperança para a vida espiritual dos filhos
de Deus. Essa doutrina não é recente, pois vemos que foi ordenada por
Deus e praticada por vários homens e mulheres de Deus do passado (Gn
7:1-3; Lv 11:1-2; Is 65:3-5; At 15:29; 1 Co 10:31). Por se tratar de uma or-
dem divina, continua em vigor. Portanto, devemos nos abster dos alimentos
e bebidas reprovados por Deus para o nosso consumo.
Neste estudo, porém, aprenderemos lições importantíssimas sobre a ora-
ção. Assim como precisamos de alimentos para nos mantermos saudáveis
fisicamente, precisamos de “alimentos” para nos mantermos saudáveis espi-
ritualmente. Sem dúvida, a oração é um excelente alimento. Nas Escrituras,
encontramos, com facilidade, diversos textos que nos incentivam à prática da
oração (1 Ts 5:17; cf. 1 Tm 2:1; Mt 5:44, 6:9, 26:41). De todos os exemplos
que podemos citar, Jesus Cristo é o mais proeminente. Ele não somente
ordenou que nos dedicássemos à oração, mas também foi um autêntico pra-
ticante desta (Mt 6:9; Jo 17:1). Vejamos, então, essa importante doutrina.
O Doutrinal | 165
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1. César (1993:21).
O Doutrinal | 167
xes cair em tentação, o filho suplica que o Pai o guarde de cair “em” tentação
e “na” tentação.
No último pedido, livra-nos do mal, o filho pede que o Pai o livre das
artimanhas do maligno (cf. 2 Co 11:13-14; Ef 6:11; 2 Tm 2:26). Todos os
pedidos são feitos na primeira pessoa do plural. Isso mostra a dimensão
solidária e fraterna dessa oração. Não podemos excluir os nossos irmãos,
quando falamos com Deus. Ao final da oração, o filho reconhece que o Pai é
poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo o que pediu ou pensou,
porque dele é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém! (Mt 6:13b). Ele
admite “não só o direito do Pai de atender às petições, visto que ele é o Rei
sobre tudo, mas também o seu poder para fazê-lo”.2
3. O conteúdo da oração: Na oração, há elementos que nos auxiliam
eficazmente no nosso crescimento relacional com Deus. A prática da
oração é tão importante e nobre na vida cristã que não deve, de modo
algum, ser realizada de forma inconsequente, ou seja, menosprezando-se
os exemplos bíblicos. A oração não deve ser realizada de qualquer modo.
Tiago confirmou isso, ao dizer: Pedis e não recebeis, porque pedis mal, para
o gastardes em vossos deleites (Tg 4:3). Para não incorrermos no erro de
praticar a oração de modo equivocado, precisamos tomar o cuidado de,
nela, incluir elementos que a Bíblia prescreve (cf. 1 Tm 2:1-2). Vejamos
cinco destes elementos.
O primeiro é a adoração. A adoração é primordial na oração, pois nos
faz exaltar o caráter e a soberania de Deus. Assim, declaramos que ele é
santo, domina sobre o universo e, portanto, deve ser adorado, porque a sua
misericórdia dura para sempre (Sl 136:1b). O segundo elemento é a gra-
tidão. Em nossas orações, precisamos incluir, também, a gratidão. Agra-
decer, na oração, leva-nos a reconhecer que Deus é o responsável direto
pelo nosso bem-estar e que nos trata com misericórdia. Não podemos
esquecer, em nossas orações, o exemplo de gratidão do salmista, quando
disse: Bendize, ó minha alma, ao Senhor, e não te esqueças de nenhum só
de seus benefícios (Sl 103:2). O terceiro elemento é a súplica. A súplica
nos leva a expor as nossas necessidades materiais, espirituais, familiares
etc., ao nosso Deus, que intervirá, no tempo certo, em nossa situação,
trazendo-nos a sua resposta.
2. Hendriksen (2001a:477)
3. Adeyemo (2010:1555).
4. César (1993:22).
O Doutrinal | 169
No passado, muitos usaram esse recurso, pois sabiam que, sem Deus,
chegariam a lugar nenhum. Deus não age na presunção e na arrogância
humana. Ele não exalta os que já estão exaltados (Mt 23:12), mas opera
quando confessamos a nossa dependência no seu agir. Essa prática tão
maravilhosa pode nos proporcionar resultados muito significativos. Além
dos que já mencionamos, a eficácia da oração se estende a resultados
psicológicos, pois nos ajuda a “superar a tensão, a ansiedade, a angústia,
certos tipos de depressão, o sentimento de culpa e outros estados emo-
cionais desagradáveis”.5 A Bíblia afirma que a oração é uma arma contra
a ansiedade (Fp 4:6-7). Além dos resultados psicológicos, a eficácia da
oração também se estende a resultados espirituais. O salmista estreita a
relação da prática da oração com a prática da santificação: Se eu tivesse
guardado lugar para o pecado no meu coração, Deus nunca teria me ouvido
(Sl 66:18 – BV ).
Estudamos, até aqui, sobre a prática, o modelo, o conteúdo, o motivo, a
insistência e a eficácia da oração. Cada item analisado é de suma importân-
cia para a nossa vida espiritual. Precisamos aceitar o fato de que a oração
é ordem de Cristo (Mt 26:41) e, portanto, não deve ser encarada apenas
como conceito teórico, mas prático, pois Cristo afirma: Todo aquele, pois,
que escuta estas minhas palavras e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem pru-
dente, que edificou a sua casa sobre a rocha (Mt 7:24). Como acabamos de
verificar a doutrina da palavra de Deus, atentemos, agora, para a prática da
doutrina da palavra de Deus.
5. Idem, p. 23.
Conclusão
Chegamos ao final deste importante estudo. Pudemos aprender con-
ceitos valiosos sobre a prática, o modelo, o conteúdo e a eficácia da oração.
Vimos que Jesus Cristo é o principal exemplo de oração que temos, pois
não somente nos ordenou que nos dedicássemos à oração, mas também
foi um autêntico praticante desta (Mt 6:9; Jo 17:1). Portanto, nunca deixe
O Doutrinal | 171
orar. Não hesite em expor suas dúvidas e necessidades diante de Deus,
porque ele ouve você. Lembre-se do que Deus disse a seu povo, através do
profeta Jeremias: Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o
vosso coração ( Jr 29:13).
A oração tem muito a ver com o próximo assunto que iremos tratar.
Tendo por base a palavra de Deus, estudaremos sobre a cura divina. Segun-
do Tiago, a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará; e, se houver
cometido pecados, ser-lhe-ão perdoados (Tg 5:15). Observe que o apóstolo não
desvincula a prática da oração da cura divina. Deus age milagrosamente na
vida das pessoas, quando estas o buscam em oração. Que o próximo estudo
lhe seja útil para o seu crescimento na graça e no conhecimento de nosso
Salvador Jesus Cristo (2 Pd 3:18).
O Doutrinal | 173
Anotações
A cura divina
Introdução
Aprendemos, no estudo anterior, conceitos valiosos sobre a prática da
oração. Observamos, num primeiro momento, o modelo deixado por Jesus
na famosa oração do Pai Nosso, e, comparando-o com outras partes da
Bíblia, vimos como deve ser o conteúdo, quais são as motivações, e em que
está baseada a eficácia da oração. Não deixemos de utilizar este recurso tão
importante que está à nossa disposição! Oremos sem cessar (1 Ts 5:17), no
Espírito, isto é, por meio do Espírito (Ef 6:18), com a confiança de que, se
pedimos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve (1 Jo 5:14).
No presente estudo, analisaremos outra doutrina bíblica igualmente im-
portante, a da cura divina, aceita sem restrições pelos verdadeiros cristãos. E
a razão é óbvia: está embasada nas Escrituras. No Antigo Testamento, o pró-
prio Deus se autodenominou como o Deus que cura: ... eu sou o Senhor que os
cura (Ex 15:26 – NBV). Temos, neste texto, a palavra hebraica rapha’, que diz
respeito a “tornar saudável”. O versículo mostra que Deus é soberano tanto
sobre a doença como sobre a cura. Já no Novo Testamento, vemos o próprio
Jesus realizando curas. Desde o início do seu ministério, ele apareceu curando
todas as doenças e enfermidades entre o povo (Mt 4:23). Jesus mesmo prometeu
para os seus discípulos que um dos sinais que acompanhariam a proclamação
O Doutrinal | 175
do evangelho seria a cura dos enfermos (Mc 16:17-18). Na igreja primitiva,
eles oravam pedindo que Deus estendesse sua mão para curar (At 4:30). Ve-
jamos, então, com mais detalhes, essa doutrina da palavra de Deus.
1. Cheung (2010:6).
2. Idem.
3. Duffield & Cleave (2000:143).
4. Elwell (2009:393).
5. Cheung (2010:4).
O Doutrinal | 177
todos os tempos, “os registros demonstram que a cura física por intervenção
divina têm sido a experiência de muitos membros do povo de Deus”.6
Isso não significa, é óbvio, que algum corpo humano será perfeita-
mente saudável nesta vida. Toda cura física, num certo sentido, é relativa
e incompleta, visto que ficaremos doentes de novo (mesmo que não seja
a mesma doença), e um dia morreremos. Todavia, Jesus, na cruz, garan-
tiu a nossa completa redenção da doença física. Quando Isaías profetizou
que ele tomaria sobre si as nossas enfermidades (53:4-5), estava se referindo
tanto à cura espiritual (1 Pd 2:24) quanto à física (Mt 8:16-17).7 Na cruz,
Jesus conseguiu para nós, também, a plena libertação da fraqueza física.
Conseguiu para nós a garantia de que um dia teremos saúde perfeita. Isso
não significa que a teremos completamente agora. Ela não ocorrerá antes
da segunda vinda, quando receberemos um novo corpo. Mas, no presente,
ele é soberano e livre para nos dar uma pequena prova desta nova vida,
curando-nos, fortalecendo-nos e até mesmo imunizando-nos de algumas
doenças.8 Os crentes do Antigo Testamento foram beneficiados por causa
da morte de Jesus, que viria, e os do Novo Testamento e atuais, por causa
desta mesma morte, que já foi consumada.
3. A procura da cura divina: Já que a possibilidade da cura divina é real,
o que podemos fazer para obtê-la? É bom que se diga que Deus pode curar
alguém, mesmo que esta pessoa não esteja pedindo naquele momento. É
claro que nem sempre isto acontece, e, por isso mesmo, todos nós podemos
orar por cura (Tg 5:16). Podemos orar a Deus pelo doente estando ele pre-
sente ou ausente (Mc 7:29-30); podemos orar pelo doente com imposição
das mãos, estando ele presente (Mc 16:15-18; At 9:17). Neste caso, preci-
samos tomar alguns cuidados, quando formos impor as mãos em pessoas
doentes, para não tocar em suas partes privadas ou sensíveis, especialmente
se é alguém do sexo oposto. Às vezes, seremos tentados a colocar a mão
mais perto do local da enfermidade, por causa de uma falsa sensação de
que, se fizermos isso, o poder de Deus será aplicado mais diretamente sobre
o problema. Contudo, o poder de Deus não está sujeito a distâncias. Ele
6. Elwell (2009:394).
7. Grudem (1999:904).
8. Cheung (2010:6).
9. Idem, p. 36.
10. É a capacitação divina e sobrenatural, que torna o cristão um instrumento através do qual Deus realiza
curas das mais diversas enfermidades, ou seja, restaura a saúde de quem quer que seja, como um todo.
11. Moo (1990:185).
12. Grudem (1999:905).
O Doutrinal | 179
presbíteros? Qualquer um poderia fazê-lo! Além de não estar pensando em
óleo como remédio, Tiago também não lhe atribui poderes sobrenaturais.
Ele bem sabia que o óleo não possui poder algum para conduzir a benção
da cura divina sobre o doente, e, certamente, não usou a expressão ungindo-
-o com óleo apostando nisso. A explicação que mais se alinha com o Antigo
Testamento, a Bíblia que Tiago usava, é a que entende o óleo como um sím-
bolo da ação divina na vida do doente. Por isso, a unção deve ser feita “em
nome do Senhor”. Somente o Senhor tem poder para curar enfermidades.
Ungir alguém com óleo simboliza que os doentes estão sendo separados
para receberem os cuidados especiais de Deus em suas vidas.
Nesta mesma linha de interpretação, temos de entender o que Tiago
afirma no versículo 15: E a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levan-
tará. Não é o óleo que cura; não é o presbítero quem cura: é o Senhor quem
o levanta. A terceira consideração é que a unção não deve ser feita de forma
indiscriminada. O texto diz: Chame os presbíteros. Então, estes, sabedores
de que o óleo é apenas um símbolo, devem ministrar a unção só quando
solicitados. Neste texto, ao que parece, eles são chamados com este objetivo.
Também não se pode alegar que a unção deva ser ministrada no local da
enfermidade ou da dor, afinal, já sabemos que o óleo aplicado como unção
não têm poder curador. É ainda importante refletirmos que, à luz da pala-
vra de Deus, não existe sustentação para o argumento favorável à unção de
pessoas endemoninhadas, no intuito de libertá-las do demônio. Se a unção
com óleo para expulsar demônios fosse uma prática sadia, o próprio Jesus
teria usado esse método e ensinado a seus discípulos; mas não o fez. Demô-
nios são expulsos em nome do Senhor Jesus (às vezes, com necessidade de
jejum), o que pode ser realizado por qualquer irmão (Mc 16:17-18).
5. Os propósitos da cura divina: Ao curar uma pessoa, Deus sempre
tem um propósito determinado. Em primeiro lugar, ao curar alguém, Deus
o faz para que seu nome seja glorificado. Temos um exemplo disso no evan-
gelho de João ( Jo 9), quando da cura do cego de nascença. Esse caso, como
está registrado, contribuiu muito para a glória de Deus, pois o homem que
conseguiu ver, depois de ter nascido cego, passou a testificar de Jesus, tor-
nando-o conhecido entre aqueles que ainda não o conheciam. Jesus disse
que aquele cego estava enfermo para que a glória de Deus se manifestasse
( Jo 9:3). Além disso, em segundo lugar, a cura de uma enfermidade também
é fator positivo no encorajamento da fé, pois é uma prova do poder de Deus
O Doutrinal | 181
riência neste sentido. Trazendo esses fatos à lembrança, não podemos deixar
de reconhecer a malignidade do pecado, por ter causado tudo isso. Deus,
porém, tem determinado um dia em que essas coisas cessarão. Graças ao sa-
crifício de Jesus Cristo, um dia seremos completamente libertos do poder do
pecado e de todas as suas consequências, inclusive as doenças (Ap 21:1-4).
Estamos chegando ao final desta primeira parte do nosso estudo. Até
aqui, vimos que as doenças são uma consequência do pecado e que jamais
estaremos completamente livres delas, enquanto o pecado não for extinto.
Lembramos, porém, as promessas bíblicas referentes à cura divina (Dt 7:15,
15:26; Sl 103:3), que pode ser alcançada, uma vez respeitada a soberania de
Deus, visto que é ele quem controla o processo da cura, do início ao fim.
Vimos, também, que, quando cura alguém, Deus sempre tem um propósito.
Como acabamos de verificar a doutrina da palavra de Deus, atentemos,
agora, para a prática dessa doutrina.
Conclusão
No estudo que acabamos de fazer, pudemos manifestar a nossa crença
na cura divina através da oração, respeitando a soberania divina. Essa cura
pode ser alcançada diretamente, isto é, sem qualquer intervenção humana,
representada por médicos ou medicamentos, como já tem acontecido. Isso,
porém, não impede o crente de utilizar estes recursos; na verdade, é até acon-
selhável. Se Deus decidir curar, com ou sem os medicamentos, isso ocorrerá.
Entretanto, de acordo com o que estudamos, precisamos depositar a nossa
confiança em Deus para curar, antes de buscar qualquer outro recurso.
No presente estudo, tratamos da cura divina; no estudo seguinte, fare-
mos uma abordagem sobre outro assunto extremamente relevante para a
O Doutrinal | 183
vida cristã: a lei moral dos dez mandamentos, cujo cumprimento, por parte
do cristão, constitui uma demonstração de amor e obediência a Deus. Neste
próximo estudo, trataremos não somente do conteúdo da lei, mas também
da sua validade para nossos dias. Ao se referir ao final dos tempos, o autor
do livro do Apocalipse diz: Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que
guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus (Ap 14:12). Esperamos que o
leitor tire o melhor proveito possível desse próximo estudo.
O Doutrinal | 185
Anotações
Introdução
Aprendemos, no estudo anterior, conceitos valiosos sobre a cura divi-
na. O Deus a quem servimos é poderoso para curar, ainda hoje, todo tipo
de enfermidade. Ele é soberano para fazê-lo em quem e quando desejar.
Segundo Tiago, a oração da fé salvará o enfermo, e o Senhor o levantará (Tg
5:15). Nós oramos, e Deus, de acordo com a sua vontade, age. Graças a
Deus, que enviou Jesus a esta terra, e em razão do que ele fez na cruz, temos
a garantia de que um dia viveremos totalmente livres das enfermidades,
com um corpo ressurreto perfeito e totalmente saudável. A cura divina é
uma autêntica doutrina bíblica. E nós cremos nela.
Agora vamos estudar outra grande doutrina da Bíblia: A lei dos dez
mandamentos e sua vigência. Também conhecida por lei moral de Deus, por
revelar o seu caráter santo e sintetizar, em dez mandamentos, sua vontade
para os seres humanos, essa lei tem abrangência universal, porque isto é o de-
ver de todo homem (Ec 12:13), e vigência eterna, pois a cruz do Calvário não
a anulou (Mt 5:17). Cremos que a morte de Cristo, de forma alguma, nos
isenta de guardar à lei de Deus. Por isso, todo cristão deve obedecer aos dez
mandamentos. As razões para isso estão presentes neste estudo.
O Doutrinal | 187
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
O Doutrinal | 189
do decálogo porque o concebeu. O que o nosso Senhor fez, aqui na ter-
ra, foi obedecer aos mandamentos e nos ensinar como obedecer-lhes (Mt
5:17). De fato, ele foi quem melhor explicou o significado da lei. Ensinou
que a essência dela é o amor. Esclarecendo essa verdade, disse que todos os
mandamentos podem ser agrupados em apenas dois: Amarás o Senhor, teu
Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento (...)
e amarás o teu próximo como a ti mesmo (Mt 22:37-39 – grifo nosso). Depois,
finalizou dizendo: ... destes dois mandamentos dependem toda a lei (Mt 22:40).
No mesmo sentido, o apóstolo Paulo, após comentar o decálogo, concluiu:
... o cumprimento da lei é o amor (Rm 13:10).
Veja que curioso: a lei de Deus foi escrita em duas tábuas de pedras.
Você já se perguntou por que foi divida assim, em duas partes? O que
Deus deseja nos ensinar com essa divisão? A explicação é simples e reve-
ladora: a primeira tábua trata do amor a Deus. Lá, estão escritos os quatro
primeiros mandamentos que orientam, sobretudo, a maneira de nos re-
lacionarmos com Deus. A segunda tábua, por sua vez, refere-se ao amor
ao próximo. Lá, estão os seis últimos preceitos que guiam o modo de nos
relacionarmos com os nossos semelhantes (cf. Rm 13:8-10).2 Realmente,
a essência da lei é o amor e pode, sim, ser sintetizada em dois grandes
mandamentos, como nos ensinou Jesus. Consequentemente, o amor não
anula a lei, mas a cumpre.
Com isso em mente, passemos agora a observar, de forma resumida,
cada um dos dez mandamentos. O primeiro mandamento é: Não terás ou-
tros deuses diante de mim (Ex 20:3). O Pai celestial exige de seus filhos exclu-
sividade. Quer que o amem acima de todas as coisas. Por isso, não precisam
adorar o sol, a lua e as estrelas para desobedecerem a esse mandamento:
basta darem o primeiro lugar de suas vidas a qualquer outra pessoa ou coisa
e não a Deus.3 O segundo mandamento é: Não farás para ti imagem de es-
cultura (20:4-6). Com esse preceito, o Senhor proíbe todo e qualquer tipo
de objeto que vise representá-lo ou substituí-lo na adoração. É idolatria,
infidelidade e rebelião contra o criador.
O terceiro mandamento é: Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em
vão ... (20:7). O nome de alguém representa o seu caráter e sua reputação.
2. Meyer (2002:51).
3. Stott (2007c:62).
4. Hamilton (2007:222).
5. Wiersbe (2006a:291).
O Doutrinal | 191
nos torna dignos, nem nos faz merecedores diante de Deus. A salvação é
sempre pela graça de Deus. Paulo disse: Vocês são salvos pela graça, por meio
da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém
se glorie (Ef 2:8-9).
Não somos salvos porque obedecemos à lei, mas lhe obedecemos por-
que Cristo já nos salvou por sua graça. Se “salvação” não é função da lei,
então por que esta existe? Qual é o seu propósito? Vejamos:6 Em primeiro
lugar, a lei especifica o pecado. Para o cristão deixar de pecar, precisa, antes,
saber o que é pecado. Nessa questão, a lei de Deus é imprescindível, pois
aponta e define o pecado. O apóstolo Paulo explica: De fato, eu não saberia o
que é pecado, a não ser por meio da lei. Pois, na realidade, eu não saberia o que é
cobiça, se a lei não dissesse: “Não cobiçarás” (Rm 7:7). O apóstolo João também
diz: ... o pecado é a transgressão da lei (1 Jo 3:4).
Em segundo lugar, a lei condena o pecador. A lei é um instrumento eficaz,
que o Espírito Santo utiliza para convencer o pecador dos seus pecados
e das terríveis consequências destes (cf. Rm 3:19-20; 7:7-11; Gl 3:10; Tg
2:8-13). A lei nos mostra a perfeição da justiça de Deus e reflete o caráter
santo do Criador. Tiago compara a Lei de Deus a um espelho (Tg 1:23-25).
Diante do espelho podem-se ver as manchas do rosto ou sujeira da rou-
pa. Assim também ocorre quando o pecador está perante a perfeita lei do
Senhor. Somente através dela pode conhecer seus defeitos de caráter, suas
fraquezas e suas iniquidades.
Ao contemplar a lei de Deus, o ser humano percebe o quanto está longe
do alvo. Vê-se incapaz de satisfazer as exigências divinas. Descobre que está
perdido e condenado. Em terceiro lugar, a lei aponta o Salvador. Quando o
homem se vê condenado e sujeito à ira de Deus, por causa de sua transgres-
são, fica em total desespero. Nesse momento, a lei direciona-o para a única
esperança: a graça de Deus em Jesus Cristo.7 A lei não salva, mas aponta o
Salvador, diagnostica o problema, e Cristo o resolve. Paulo afirma que a lei
foi o nosso tutor até Cristo, para que fôssemos justificados pela fé (Gl 3:24 – NVI).
Em quarto lugar, a lei inibe a transgressão. A lei carrega consigo a pe-
nalidade por sua infração. Nisso, desempenha também a função de inibir
e restringir a maldade dos homens. Esse aspecto, que se aplica a todas as
O Doutrinal | 193
Jo 5:3). Enquanto, o incrédulo obedece por medo da punição, nós obede-
cemos por amor e gratidão ao nosso Salvador e Senhor. Esta é a motivação
correta! Você ama mesmo o seu Senhor? É grato a ele por tudo que ele lhe
fez? Então, obedeça aos seus mandamentos (cf. Jo 14:15). Quem ama ao
Senhor, ama também a sua lei e obedece com alegria, dizendo: Amo os teus
mandamentos (...) e a tua lei é o meu prazer (Sl 119:127,174).
Conclusão
No presente estudo, aprendemos sobre um ponto essencial da fé cristã:
A lei dos dez mandamentos e sua vigência. Vimos que o decálogo é o resumo
de toda a lei moral, que está presente em toda a Bíblia. Os preceitos deste
O Doutrinal | 195
B. Será que essa lei se aplica a todos os homens ou somente aos judeus?
Depois que Jesus veio, essa lei continua vigente? Baseie-se também
em Ec 12:13; Mt 5:17, e Rm 3:31.
06. Leia 1 Timóteo 1:8; Efésios 2:8-9; Romanos 7:7-12, e 1 João 3:4
A. Por que é errado usar a obediência à lei como meio de salvação ou
de justificação diante de Deus? Para responder, leia também Gl 5:16
e Lc 17:10.
B. Cite e comente os cincos propósitos da lei de Deus. Recorra ao
comentário deste estudo.
Falta a página
de anotações
O verdadeiro dia
de descanso
Introdução
No último estudo, analisamos o ensino bíblico sobre A lei dos Dez Man-
damentos e sua vigência. Conforme aprendemos, a Bíblia diz que a Lei é santa,
e o mandamento, santo, justo e bom (Rm 7:12). Por isso, o fato de termos sido
salvos pela graça, através da fé em Jesus, não é motivo para anularmos a lei
pela fé; pelo contrário, confirmamos a lei (Rm 3:31), pois, pela lei vem o pleno co-
nhecimento do pecado (Rm 3:20). Como prova do nosso amor a Deus, a exem-
plo de Jesus, obedecemos aos mandamentos ( Jo 14:10), e, dentre eles, está
o que diz respeito ao verdadeiro dia de descanso, tema do presente estudo.
Na agitação deste nosso mundo moderno, precisamos redescobrir as
bênçãos da observância do quarto mandamento. Dentre os dez manda-
mentos da lei de Deus, este é o que tem o conteúdo mais extenso. Ele é
apresentado da seguinte forma: Lembra-te do dia de sábado, para o santificar.
Seis dias trabalharás e farás o teu trabalho; mas o sétimo dia é o sábado do Senhor
teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum (Êx 20:8-10a – AS21). Note que
a Bíblia é clara em dizer que o sábado é o verdadeiro dia de descanso. Deus
institui este mandamento, porque, além de reconhecer o valor do trabalho,
também reconhece o valor do descanso, conforme veremos neste estudo.
O Doutrinal | 197
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1. Harris et al (1998:2414).
O Doutrinal | 199
A terra, de um modo geral, com todos os seus recursos naturais, minerais,
animais, vegetais usufrui desse descanso. O descanso ao sábado, portanto, é
socialmente justo e ecologicamente correto. Enfim, contribui com a susten-
tabilidade ambiental.
3. O exemplo do verdadeiro dia de descanso: Deus é o nosso exemplo
ou padrão de descanso. Antes de nos mandar trabalhar seis dias e descansar
no sétimo, ele próprio, no princípio, trabalhou seis dias e descansou no sé-
timo: Porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que
neles há e, ao sétimo dia, descansou (Êx 20:11). Basta lermos Gênesis 1:3–2:4.
Deus poderia ter feito tudo num instante, mas escolheu demorar seis dias.
A razão de tudo isso é óbvia. Deus fez tudo dessa maneira para se tornar o
nosso exemplo. Ele é o nosso padrão de descanso ao sábado.
Todavia, o que faz de Deus um padrão de descanso não é somente a
maneira como ele descansou, mas também a maneira como ele trabalhou
durante a semana. Não é possível tratar de descanso sem tratar de trabalho.
Há quem pense que o trabalho é uma maldição de Deus. Porém, esse não
é o ensino da Bíblia. O trabalho é uma benção, um presente de Deus (Ec
3:13 cf. 2:24). Adão já trabalhava antes da queda (Gn 2:15). O que a Bíblia
ensina, em Gênesis, é que Deus amaldiçoou a “terra” e não o trabalho (Gn
3:17). Nesse sentido, o trabalho pré-queda era totalmente prazeroso, por-
que a terra não estava sob maldição. Agora, por causa da maldição da terra,
o trabalho pós-queda tornou-se algo, por vezes, desgastante e desanimador.
Deus é o nosso exemplo, também, pela maneira como trabalhou. Pri-
meiro: Deus planejou o seu trabalho. Havia ordem. Adão e Eva foram cria-
dos quando o jardim onde seriam postos para viver já existia. Segundo: Deus
distribuiu o seu trabalho. Ele poderia ter criado todas as coisas de uma única
vez, mas optou por criá-las em etapas (Gn 1:3-31). Terceiro: Deus partilhou
o seu trabalho. A obra da criação foi uma obra coletiva (Gn 1:26), isto é,
teve a participação do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Só quem trabalha
durante a semana como Deus trabalhou, isto é, planejando, distribuindo
e partilhando o seu trabalho semanal, descansa como Deus descansou no
sábado. Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados (Ef 5:1).
4. A importância do verdadeiro dia de descanso: O sábado é um pre-
sente de Deus para o seu povo. Observe o seguinte texto bíblico: Vejam que
o Senhor lhes deu o sábado (Êx 16:29 – NVI). O verbo “deu”, que aparece
no versículo 19, corresponde a um verbo hebraico, que, dentre os sentidos
O Doutrinal | 201
“reanimar-se”. Todavia, o sábado não é somente um cessar de atividades,
mas um cessar de “certas” atividades, isto é, as que fazem parte dos outros
seis dias da semana.
O Salmo 92 apresenta uma lista de atividades que podem e devem ser
realizadas ao sábado. Esse salmo é intitulado “Salmo e cântico para o dia de
sábado”. Ele era usado nos cultos, no templo. Segundo esse Salmo, sábado é
dia de: agradecer (v. 1a), louvar (v. 1b-3), relembrar (v. 4-5), testemunhar (v.
6-11), proclamar (vv. 12-15). Durante o sábado, o povo de Deus pode, além
de revigorar o corpo, revigorar a alma.
Na Bíblia, a palavra sábado também está associada a festividades e ale-
gria (2 Rs 4:23; 2 Cr 2:4, 8:13; Is 1:13-14, 66:23; Lm 2:6; Ez 44:24, 45:17,
46:1-12; Os 2:11). Com base nisso, aprendemos que o dia de sábado é tem-
po para a celebração da graça e da glória de Deus (Rm 11:36). É tempo de
feliz e alegre comunhão com o Criador e Senhor do universo: ... considerem
o sábado como um dia de festa, o dia santo do Senhor, que deve ser respeitado (Is
58:13). Sábado também é dia de solidariedade. Jesus disse que é lícito fazer
o bem nesse dia (Mt 12:12). Finalmente, sábado é dia de ensinamento. Je-
sus, em seu ministério, retratado nos evangelhos, gastou a maior parte dos
seus sábados ensinando nas sinagogas (cf. Mc 1:21-34; Lc 4:16-22, 13:10-
17, 14:1-24; Jo 5:1-47).
6. A validade do verdadeiro dia de descanso: A Bíblia mostra, clara-
mente, que o imperativo do descanso ao sábado, prescrito no Antigo Testa-
mento, continuou valendo aos crentes do Novo Testamento e continua para
nós, hoje. Comecemos com o exemplo de Jesus. Ir à sinagoga, aos sábados,
era um hábito seu: ... entrou na sinagoga no dia de sábado, segundo o seu cos-
tume (Lc 4:16). Esse é o único texto em que aparece a expressão “segundo
o seu costume”. Esse fato, porém, pode ser comprovado à luz de outras
passagens bíblicas (cf. Mt 12:9-10, 13:54; Mc 1:21, 3:1-2, 6:2; Lc 4:15-16,
31, 6:6, 13:10; Jo 18:20).
É interessante como, no decorrer de todos os evangelhos, por várias ve-
zes, Jesus foi censurado por causa da maneira como observava o sábado (Mt
12:1-13; Mc 2:23-28; 3:1-5; Lc 6:1-11; Jo 7:10-24). Em nenhuma dessas
ocasiões, ele questiona a validade do mandamento, mas as suas distorções.
Jesus disse que é Senhor do sábado (cf. Mt 12:8, 2:28; Lc 6:5). Por ser Senhor
do sábado, Jesus apresenta o verdadeiro sentido do mandamento: O sábado
foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado (Mc 2:27). Este
O Doutrinal | 203
2. Aproveitemos o sábado para fortalecer a comunhão.
O sábado é propício, também, para fortalecermos a comunhão. A Bíblia
mostra Jesus visitando pessoas e compartilhando de suas refeições, no dia de
sábado (Lc 14:1). Após curar um endemoninhado, na sinagoga de Cafar-
naum (Mc 1:23-26), ele foi, com Tiago e João, diretamente para a casa de Simão
e André (Mc 1:29). Ali, depois de curar a sogra de Pedro, alimentou-se e pas-
sou o dia todo com eles (Mc 1:31-32). Essa atitude de Cristo nos ensina que
sábado é dia de desfrutarmos os benefícios do companheirismo cristão, de
nos alegrarmos na presença dos amigos e aprimorarmos os relacionamentos.
Conclusão
Finalizamos este estudo lembrando que o verdadeiro dia de descanso
não é uma instituição humana, mas divina: Deus é o seu legislador. Além
de ser legislador, ele também é o grande exemplo de descanso ao sábado,
pois descansou nesse dia. Conforme vimos, observar esse mandamento não é
opcional, mas obrigatório. Contudo, apesar de ser obrigatório, não devemos
fazê-lo somente por essa razão. Devemos obedecer por amor e com senti-
mento de gratidão em nosso coração: o sábado é um presente de Deus para
o homem. Nesse dia, temos a oportunidade de renovar as nossas forças, cele-
brar o criador, exercitar a compaixão e fortalecer os nossos relacionamentos.
Além da prescrição, a Bíblia apresenta também uma promessa para
aqueles que observam o verdadeiro dia de descanso: Guardem o sábado, des-
cansando em vez de trabalhar; (...) Se me obedecerem, eu serei uma fonte de alegria
para vocês e farei com que vençam todas as dificuldades (Is 58:13-14a – NTLH).
Confiemos nessa palavra. Paremos ao sábado e entreguemos a nossa vida nas
O Doutrinal | 205
06. Leia Isaías 58:13; Mateus 12:12 e Lucas 4:16-22
A. Além de ser dia de descanso, o sábado também é dia de celebração
e solidariedade. Comente sobre essas verdades. Como colocá-las em
prática?
B. Como Jesus gastou a maior parte dos seus sábados? Podemos fazer
isso também?
07. Leia Lucas 4:16; Mateus 12:8; Marcos 2:27-28, e Lucas 23:56
A. Jesus guardava o sábado? Quando foi censurado, questionou a
validade do mandamento ou as suas distorções?
B. Jesus disse que o sábado foi “feito” por causa do homem: O que isso
nos ensina? Depois da morte de Cristo, seus discípulos continuaram
observando o sábado?
Anotações
Introdução
No estudo anterior, que tem por título: O verdadeiro dia de descanso,
aprendemos sobre a importância de se observar o quarto mandamento da
lei de Deus. Vimos que a guarda do dia de sábado é um mandamento para
todos os filhos e filhas de Deus. Este é um dia de celebração, ensinamento,
companheirismo, restauração, solidariedade e proclamação. A Bíblia é cla-
ra em mostrar que a observância deste mandamento ainda está em vigor,
tendo em vista, também, a vigência dessa lei (Mt 5:17-18).1 Logo, cabe-nos
não só aceitar, mas obedecer a este importante mandamento da lei de Deus.
No presente estudo, trataremos sobre a distinção das leis. A palavra
lei, de forma geral, faz referência as normas ou regras de vida, vindas de
uma autoridade soberana. Neste sentido, quando tratamos de leis de Deus,
estamos nos referindo aos preceitos vindos de Deus. A palavra hebraica
mais usada para se referir à lei é torah, empregada mais de 220 vezes na
Bíblia. A lei de Deus é um dos temas mais presentes nas Escrituras e um
dos mais mal compreendidos na atualidade. Há, em nossos dias, por parte
de alguns, até uma atitude de desprezo quanto à lei de Deus, no que diz
O Doutrinal | 207
respeito a sua aplicação contemporânea. Neste estudo, mostraremos que a
Bíblia apresenta diferentes tipos ou categorias de leis: as civis, as rituais e a
moral. Ambas foram estabelecidas por Deus, a fim de serem devidamente
observadas. Todavia, nem todas permanecem em vigor para a nossa obser-
vância. Vejamos quais.
2. Meister (2003:45).
O Doutrinal | 209
Apesar de concordarmos que elas são um modelo para o uso civil, para o
bom governo e a paz, que podemos aprender muitos princípios estudando-
-as, entendemos que as leis civis não têm mais caráter normativo para o
povo de Deus. Suas penas e prescrições não devem ser aplicadas literalmen-
te nas sociedades modernas.
2. O ensino bíblico sobre a lei ritual: Se, por um lado, as leis civis regiam
a forma com que os israelitas deveriam comportar-se diante da sociedade,
por outro, as leis rituais (ou cerimoniais) mostravam como eles deveriam
se apresentar diante do Senhor. Elas regulamentavam a adoração de Isra-
el e favoreciam meios para que o pecado pudesse ser perdoado por Deus,
através do sacerdócio e do sacrifício de animais. As leis rituais descreviam
a maneira pela qual as cerimônias e os sacrifícios deveriam ser preparados
e oferecidos ao Senhor. Cuidavam mais da exterioridade da vida religiosa,
apresentando as formas exteriores pelas quais os servos de Deus, daquele
tempo, poderiam expressar a sua fé.
Podemos encontrar as leis rituais nos livros de Êxodo, Deuteronômio
e, principalmente, no livro de Levítico, que é um manual de cerimônias,
regras e deveres sacerdotais, que visava instruir a comunidade israelita a
respeito da adoração e da vida santa perante Deus. As leis rituais tratam
de questões relacionadas a cerimônias, sacrifícios e festividades. Podemos
citar como exemplos a lei do altar (Êx 20:22-26); as festas anuais (Êx
23:14-19); as cerimônias para consagração dos sacerdotes (Êx 29:1-30);
os sacrifícios pelos pecados (Lv 4:1-6:7); a circuncisão (Lv 12:2); o dia da
expiação (Lv 16:1-10).
Apesar de serem chamadas de “leis de Moisés”, em algumas passagens
bíblicas ( Js 8:31; Ed 3:2), as leis rituais foram dadas pelo próprio Deus. A
exemplo do que ocorreu na lei civil, Moisés serviu apenas como um procla-
mador da lei cerimonial. Ele não inventou as ordenanças; estas se origina-
ram em Deus (Êx 20:22; 25:1). “O Senhor disse a Moisés” é uma expressão
que se repete mais de 25 vezes, em Levítico, livro em que a maioria das
leis cerimoniais é apresentada. Deus apresentou esses preceitos à nação
israelita, com o fim de guiá-la em sua fé no Messias. Essas leis apontavam
para a vinda do Messias.
Os rituais eram didáticos e serviam como ilustração e alicerce para a
compreensão daquilo que Jesus viria a realizar. Os sacerdotes eram os res-
ponsáveis por desempenhá-los e estavam aptos para explicar o que cada
O Doutrinal | 211
3. O ensino bíblico sobre a lei moral: Segundo os dicionários moral é,
basicamente, o conjunto de regras de conduta consideradas como válidas,
de modo absoluto, para qualquer tempo ou lugar. Por essa razão, dizemos
que a lei moral de Deus é aquela que estabelece o padrão de conduta para
todos os homens e em todos os lugares; revela, de forma muito evidente, a
vontade de Deus, em termos de caráter e procedimento. A lei moral é um
reflexo da natureza e do caráter do próprio Deus. Sendo assim, é universal,
indispensável e válida para todos os homens, de todas as épocas e lugares; é
imutável. Onde podemos encontrá-la? Nos dez mandamentos. Estes são a
expressão da lei moral de Deus.
Os dez mandamentos apontam quais são os deveres e as obrigações
daqueles que se encontram no caminho da santificação. Assim como a lei
civil e a ritual, a lei moral foi dada pelo próprio Deus. Em Êxodo 20, depois
de haver libertado o povo de Israel da escravidão, por meio de uma voz au-
dível e terrível, Deus transmitiu a lei moral, os dez mandamentos, no monte
Sinai: Então falou Deus todas estas palavras (Êx 20:1). Além de transmiti-los
oralmente, Deus também os escreveu em tábuas de pedra, com o seu pró-
prio dedo (Êx 24:12; 31:18), e pediu que estas fossem guardadas dentro da
arca da aliança (Dt 10:1-5; 4:10-15). Sempre que as pessoas olhassem para
a arca, iriam lembrar-se da lei do Senhor.
Dessa maneira, podemos afirmar que a lei moral foi destacada diante
das demais, visto que estas não foram escritas em tábuas de pedra, nem
mesmo guardadas dentro da arca (Dt 31:24-26). Isso era mesmo necessário.
As leis morais ou os dez mandamentos são extremamente importantes, pois
prescrevem como deve ser o nosso relacionamento com Deus (Não terás
outros deuses diante de mim (v. 3); Não farás para ti imagem de escultura (v. 4a);
Não tomarás o nome do Senhor, teu Deus, em vão (v. 7a); Lembra-te do sábado,
para o santificar (v. 8)) e com o próximo (Honra teu pai e tua mãe (v. 12a); Não
matarás (v. 13); Não adulterarás (v. 14); Não furtarás (v. 15); Não dirás falso
testemunho (v. 16), e Não cobiçarás (v. 17a)).
Conforme já foi mencionado, a lei moral foi dada para um povo já
liberto (Êx 20:2). É importante lembrarmos que o povo de Israel foi esco-
lhido por Deus unicamente pela graça: O Senhor não se afeiçoou de vós e vos
escolheu por serdes mais numerosos (...). Mas porque vos amava (Dt 7:7-8). No
entanto, Israel não foi escolhido sem propósito. Foi alcançado para ser um
povo santo (Dt 7:6, 14:2, 21), e os mandamentos serviriam para orientá-lo
5. Meister (2003:56).
6. Gentry, Jr. (2008:35).
O Doutrinal | 213
A remoção da lei moral do viver dos crentes contradiz o fato de os
mandamentos terem sido escritos no coração (cf. Jr 31:33, 32:40; Rm 2:15,
7:22; 2 Co 3:3; Hb 8:10, 10:16); afinal, por que Deus escreveria uma lei em
nossos corações, se esta não tivesse mais validade? Não há como negarmos
que a lei moral é permanente e aplicável a todos os cristãos. O mesmo não
se pode dizer das leis civis e rituais. Como vimos, estas também provêm de
Deus, mas se distinguem da lei moral no tocante à vigência e ao público
a que se destinam. A única lei que permanece vigente para a nossa e para
todas as épocas é a lei moral de Deus: Bem-aventurados os que (...) andam na
lei do Senhor! (Sl 119:1).
Conclusão
Este estudo tratou da distinção das leis. Como vimos, três categorias de
leis foram formalmente instituídas por Deus. Ele as criou e as estabeleceu, a
fim de serem devidamente observadas. Conquanto sejam de origem divina,
nem todas permanecem em vigor para a nossa observância, pois, com exce-
ção da lei moral ou “lei dos dez mandamentos”, as demais (a civil e a ritual)
foram instituídas em caráter transitório, isto é, tinham validade por apenas
certo período de tempo, que também fora determinado pelo criador. A lei
moral permanece totalmente válida para os servos de Deus de nossos dias.
Diante disso, felizes os que guardam os mandamentos de Deus e lhe obedecem de
todo o coração (Sl 119:2 – NTLH).
Chegamos, assim, ao final do presente estudo. No próximo, dentre ou-
tras coisas, a fidelidade terá enfoque importante. O seu título é: A manu-
tenção da obra: dízimos e ofertas. Conforme estudaremos, estas duas práticas
bíblicas foram estabelecidas por Deus como meio de manutenção de sua
O Doutrinal | 215
obra aqui na terra. Tanto a Bíblia quanto a história testemunham que a
igreja de Cristo sempre foi amparada financeiramente pelas contribuições
de seus membros. São esses subsídios que lhe têm permitido cumprir sua
missão no mundo. Aproveite o próximo estudo para entender um pouco
mais sobre esses dois importantes temas.
07. Leia Romanos 3:31, 7:12; Mateus 5:17-18; Romanos 3:31 e compare com
Efésios 2:15; Colossenses 2:14 e Hebreus 10:1
A. Há contradição entre esses textos? Justifique a sua resposta. O que
esses textos nos ensinam sobre as distinções entre as leis.
B. Comente sobre as diferenças existentes entre a lei moral e as demais
leis. Fale sobre a vigência delas.
O Doutrinal | 217
RESUMO DO ESTUDO SOBRE A DISTINÇÃO DAS LEIS
Lei civil Lei ritual Lei moral
Definição As leis civis são As leis rituais regula- A lei moral de Deus é
aquelas que regula- mentavam a adoração aquela que esta-
mentam a vida dos de Israel e favoreciam belece o padrão de
cidadãos entre si. meios para que o conduta para todos
Dizem quais são os pecado pudesse ser os homens, em todos
direitos e quais são os perdoado por Deus, os lugares; revela, de
deveres dos cidadãos, através do sacerdócio forma muito evidente,
em diversas áreas da e do sacrifício de a vontade de Deus,
sua vida cotidiana. animais. Descreviam em termos de caráter
a maneira pela qual e procedimento. A lei
as cerimônias e os moral é um reflexo da
sacrifícios deveriam natureza e do caráter
ser preparados e do próprio Deus.
oferecidos ao Senhor.
Origem As leis civis foram Apesar de serem A lei moral foi dada
estabelecidas num chamadas de “leis de pelo próprio Deus. Em
momento em que Moisés”, em algumas Êxodo 20, depois de
Israel começava a passagens bíblicas (Js haver libertado o povo
se estruturar como 8:31; Ed 3:2), as leis de Israel da escravidão,
nação. Não são leis de rituais foram dadas por meio de uma voz
Moisés, mas de Deus: pelo próprio Deus. audível e terrível, Deus
Estes são os estatutos Moisés serviu apenas transmitiu a lei moral,
que proclamarás a eles como um proclamador os dez mandamentos,
(Êx 21:1-23-13). das leis cerimoniais. no monte Sinai: Então
Ele não as inventou; falou Deus todas estas
elas se originaram em palavras (Êx 20:1).
Deus (Êx 20:22, 25:1).
O Doutrinal | 219
Anotações
Introdução
No estudo anterior aprendemos sobre a distinção existente entre as leis
mencionadas na Bíblia. Através daquele estudo, ficou esclarecido que todas
as leis pelas quais foi regido o antigo povo de Israel foram, direta ou indire-
tamente, criadas por Deus, com a diferença de que algumas delas tiveram
caráter provisório. As leis cerimoniais, por exemplo, notadamente aquelas que
consistiam no oferecimento de sacrifícios pelos pecados do povo, tornaram-se
desnecessárias, depois do sacrifício de Cristo (Cl 2:14). Atualmente, estas só
retêm importância como uma ferramenta de ensino para melhor entender-
mos a obra de Cristo. A lei moral dos dez mandamentos, no entanto, tem
caráter permanente, pois continua em pleno vigor, conforme foi estudado.
No presente estudo, trataremos sobre o dever que o crente tem de contri-
buir financeiramente para a manutenção da igreja. Essa contribuição é repre-
sentada pelos dízimos e pelas ofertas, e está embasada no ensino das Escritu-
ras, conforme veremos neste estudo. A igreja se sustenta e subsiste através dos
seus próprios recursos materiais. Portanto, é normal que conte com a contri-
buição financeira de seus membros, para a manutenção da obra que Deus lhe
confiou na terra (Mc 16:15). Sem essa contribuição, ela dificilmente poderá
cumprir essa sua missão. Entretanto, precisamos lembrar que os dízimos e as
ofertas são compromissos que temos, acima de tudo, com o Senhor da igreja.
O Doutrinal | 221
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
O Doutrinal | 223
cialidade os que se afadigam na palavra e no ensino (1 Tm 5:17 – grifo nosso
– cf. 1 Coríntios 9:1-14).
É importante entendermos, também, que os dízimos não são do crente;
pertencem ao Senhor (Lv 27:30). Portanto, o crente não tem o direito de
retê-lo, diminuí-lo, substituí-lo, dividi-lo ou administrá-lo. Há crentes que,
por qualquer contrariedade, retêm o dízimo; outros entregam apenas uma
parte; há quem o substitua pelas ofertas; outros ainda se sentem no direito
de administrá-lo do seu próprio modo. Essas atitudes não estão corretas
diante de Deus, porque é da igreja o direito de administrar os dízimos. Aos
crentes, cabe o dever de entregá-los, o que devem fazer com alegria, de boa
vontade e com fidelidade.
Lembramos que Deus é o dono de tudo. Como está escrito: Do Se-
nhor é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele habitam, diz o
salmista (Sl 24:1). Nossa vida e tudo o que temos pertencem ao Senhor.
Nós somos apenas e tão somente seus mordomos. Portanto, quando con-
tribuímos com os dízimos, não estamos “pagando” ao Senhor; só estamos
lhe devolvendo parte daquilo que já lhe pertence. Essa é uma atitude de
fé e uma prova de gratidão. Embora o dízimo não deva ser entregue com
vista na garantia de uma retribuição, esta, com certeza, virá para aqueles
que contribuem com fé.
2. O ensino bíblico sobre as ofertas: Outra maneira de honrarmos
a Deus com a nossa fazenda é através das ofertas. Diferentemente dos
dízimos, estas são presentes: nós as entregamos a Deus e escolhemos o
valor. Enquanto dizimar é um dever determinado pelo criador, ofertar
é um ato natural de agradecimento. As ofertas são sempre voluntárias.
A diferença principal existente entre os dízimos e as ofertas consiste no
seguinte: os dízimos têm valor prefixado em 10% das rendas obtidas; as
ofertas são voluntárias, isto é, não têm valor preestabelecido. Todavia,
tanto os dízimos quanto as ofertas são absolutamente necessários para a
manutenção da igreja.
Nos dias do profeta Malaquias, a negligência dos filhos de Israel, no
tocante ao dever de contribuir, havia atingido um alto grau. Daí a razão
de o profeta usar uma linguagem considerada pesada, no tratamento com
aquele povo, a respeito desse assunto: Roubará o homem a Deus? Todavia vós
me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas alçadas (Ml
3:8). Notemos bem: “nos dízimos e nas ofertas”. Estas são as duas formas
O Doutrinal | 225
tribuição imediata. Essa retribuição é, acima de tudo, espiritual. Devemos
ofertar também com generosidade, ou seja, ofertas cujo valor seja signifi-
cativo, com gratidão. A Escritura afirma que aquilo que o homem semear
isso também ceifará.
Precisamos ser suficientemente sensíveis para ofertarmos ao Senhor
com alegria, generosidade, gratidão, espontaneidade e planejamento.
Ofertar com espontaneidade significa ofertar com o coração aberto, com
boa vontade, ou seja, de maneira voluntariosa, sem constrangimento, sem
pressão. Ofertar com planejamento significa decidir, com antecipação, o
que pode ser dado e separar a oferta previamente. Lembremos sempre a
recomendação feita em Êx 22:29. Neste texto, aprendemos duas coisas
importantes: 1) dar o melhor que podemos e 2) dar do primeiro que che-
gar às nossas mãos.
Quando Moisés construiu o tabernáculo, foi tão grande a disposição do
povo em contribuir que, bem antes que a obra terminasse, os responsáveis
por ela fizeram chegar até Moisés a seguinte informação:
O Doutrinal | 227
são proporcionais às nossas posses. Com certeza, o Senhor jamais pediria de
nós aquilo que não estivesse ao nosso alcance. De qualquer maneira, seria
importante perguntarmos a nós mesmos se temos contribuído na mesma
medida em que temos sido abençoados por Deus.
Conclusão
No presente estudo, aprendemos que os dízimos e as ofertas foram
estabelecidos por Deus como meios de manutenção de sua igreja e da-
queles que nela trabalham. Como resultado deste estudo, entendemos que
contribuir é um dever de todo crente em Jesus e deve fazer parte do nosso
culto de adoração a Deus. Por isso mesmo, devemos contribuir com ale-
gria, gratidão, generosidade, espontaneidade e fidelidade. De acordo com
as Escrituras, a entrega dos dízimos e das ofertas não deve ser feita do que
sobeja, mas das primícias de nossas rendas. Deus promete recompensar
aqueles que lhe são fiéis.
No próximo estudo, trataremos da Submissão às Autoridades e a Liber-
dade de Consciência. As Escrituras recomendam a submissão às autoridades
constituídas, acrescentando, inclusive, que essas autoridades foram estabe-
lecidas por Deus, para garantir o direito dos justos e punir os malfeitores
(Rm 13:1-6; 1 Pd 2:13-14). Reconhecemos, porém, não ser fácil viver em
harmonia com algumas leis e costumes do mundo, principalmente quando
a obediência a essas leis implica desobediência às leis de Deus. O estudo
seguinte nos dará orientações necessárias sobre o que fazer nesses casos.
O Doutrinal | 229
07. Leia Deuteronômio 16:17; 2 Coríntios 8:1-4,12, 9:7-8
A. As ofertas têm um percentual estabelecido ou são voluntárias?
B. Com que sentimento devemos ofertar?
Anotações
Introdução
O ensino bíblico sobre dízimos e ofertas foi o foco de nossas atenções
no estudo anterior. Como vimos, a entrega do dízimo não é uma invenção
humana, mas um princípio estipulado pelo próprio Deus, que é o dono
de todas as coisas, inclusive da prata e do ouro (Sl 24:1; Ag 2:8). O ato de
dizimar é um procedimento explícito, tanto no Antigo quanto no Novo
Testamento (Ne 12:44; Ml 3:10; Mt 23:23). O ato de ofertar também está
exposto nas Escrituras (Dt 16:17; 2 Co 8:4, 11). É uma ação voluntária, isto
é, cabe a nós estipular o seu valor, pois cada um deve ofertar de acordo com
as bênçãos que o SENHOR, nosso Deus, lhe tiver dado (Dt 16:17). A partir de
agora, estudaremos sobre outro assunto também relevante.
Fazendo um exame sério das Escrituras, entendemos que Deus é sobe-
rano e domina sobre as nações da terra. Portanto, tem poder para conceder
o domínio a quem quer que seja, conforme declara Dn 4:25: … o Altíssimo
tem domínio sobre o reino dos homens e o dá a quem quer. Deus também gover-
na a igreja e domina sobre ela (1 Pd 2:9). A igreja encontra-se solidificada e
edificada na pedra principal, que é Cristo (Ef 2:20). Deus escolhe e capacita
pessoas para liderá-la (Ef 4:11). Neste estudo, nós nos ateremos ao que a
Bíblia diz sobre a submissão às autoridades governamentais e eclesiásticas,
bem como sobre a liberdade de consciência.
O Doutrinal | 231
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1. Lopes (2010:422).
O Doutrinal | 233
O princípio da submissão deve ser posto em prática também em relação
às autoridades eclesiásticas, isto é, os que cuidam do rebanho do Senhor e
o lideram. Com base em que fundamentamos o princípio da submissão a
essas autoridades? Na Bíblia! Veja o que escreve o autor de Hebreus: Obede-
çam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles (13:17a – NVI). Tal prin-
cípio é uma ordem bíblica direcionada à igreja de Cristo e, portanto, é um
dever a ser cumprido por todos os crentes. Os líderes da igreja devem ser
honrados, e sua importância, reconhecida. A nossa submissão a eles deve-se
a dois motivos fundamentais explícitos nas Escrituras.
O primeiro motivo refere-se à procedência da autoridade eclesiástica. Não
só a autoridade governamental tem procedência divina: a autoridade eclesi-
ástica também procede de Deus. Veja o que ensina o texto de Atos 20:28a:
Portanto, cuidem bem de vós e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo
vos pôs como supervisores. O termo “supervisores” é uma tradução da palavra
grega episkopous, que designa aqueles que exercem função pastoral. Os lí-
deres e os consagrados da igreja de Cristo, principalmente os pastores, têm
autoridade divina para liderar (Ef 4:11; 1 Pd 5:1-3). Essa é uma razão mais
que suficiente para prestarmos-lhes submissão. Não é à toa que a ordem
bíblica é um tanto incisiva nesse sentido (Hb 13:17).
Há um detalhe importante que merece ser ressaltado. Todos os que
exercem a função pastoral estão munidos de autoridade divina. Logo, cons-
titui-se pecado grave o ato de insurgir-se contra eles. É imprudente ima-
ginar que Deus deixará impunes aqueles que ousarem desrespeitar as auto-
ridades eclesiásticas por ele constituídas. Miriam e Arão, bem como Corá
e seus cúmplices, tiveram de encarar a punição divina, por se rebelarem
contra Moisés, líder de Israel (Nm 12:9-15, 16:31-35). Deus está atento às
palavras difamatórias dirigidas aos líderes do seu povo (Nm 12:2). O Se-
nhor se ira contra os que não honram os guias do seu rebanho (Nm 12:9).
Todavia, quem honra a autoridade, teme a Deus (1 Pd 2:17) e é prudente.
O segundo motivo da nossa submissão refere-se à atividade da autori-
dade eclesiástica. Tratando dos líderes da igreja, o texto de 1 Ts 5:13a, nos
ensina: Tenham-nos na mais alta estima, com amor, por causa do trabalho deles.
O ato de pastorear o rebanho de Deus é um trabalho nobre e santo. Não
se trata de uma atividade fácil, pois envolve cuidado constante. Os pastores
velam pelas ovelhas (Hb 13:17) e as advertem do mal caminho (Ez 3:17-
18). Eles se desgastam no aprendizado e no ensino da palavra (1 Tm 5:17),
O Doutrinal | 235
Por conta disso, foram recompensadas por Deus (Êx 1:15-20). Sadraque,
Mesaque e Abede-Nego não se prostraram diante da estátua do rei Nabu-
codonozor, porque acreditavam que a adoração deve ser exclusiva ao Senhor
(Dn 3:17-18). Este os honrou, livrando-os não da fornalha, mas na fornalha
(vv. 24-27). João Batista, por sua vez, repreendeu Herodes, em razão de este
haver se casado ilicitamente com Herodias (Mc 6:17-18). Observe que os
personagens, aqui citados, ousaram resistir às autoridades, em defesa dos
princípios divinos.
Quando as autoridades se levantam contra Deus ou contra a população,
por meio da tirania, da exploração e do abuso de poder, devem ser energi-
camente repreendidas. Foi assim que Neemias agiu, quando os nobres e
os magistrados estavam explorando o povo, submetendo-o à escravidão e
à fome (Ne 5:1-4). Neemias reuniu uma grande assembleia, com o fim de
confrontá-los publicamente e exigir deles uma mudança urgente de postura
(Ne 5:7-11). Esse episódio mostra como devemos agir em situações seme-
lhantes. A inércia ante a má administração é perigosa. Em vista disso, vale
a pena atentarmos para as palavras de Tiago: Portanto, comete pecado a pessoa
que sabe fazer o bem e não faz (Tg 4:17 – NTLH).
Em segundo lugar, consideremos a liberdade de consciência para com as
autoridades eclesiásticas. É imprescindível que toda autoridade zele digna-
mente pelo ministério de que foi incumbida. A Bíblia descreve, em 1 Tm
3:1-8, 12 e Tt 1:7, as reais características que uma autoridade eclesiástica
deve possuir. O versículo 2 de 1 Tm 3 afirma que é necessário, portanto, que
o bispo seja irrepreensível (...). O termo “irrepreensível” é uma tradução da
palavra grega anepileptos, que significa não censurável. A boa reputação de
um lider eclesiástico baseia-se não somente na pureza de suas atitudes, mas,
também, na veracidade dos seus ensinos. Paulo considerava fundamental o
ensino em seu ministério (At 20:27, 31-32).
Diante disso, como proceder, em relação às autoridades eclesiásticas
cujos ensinos nos sugerem contrariar ou macular a sã doutrina? Será que,
nessas situações, temos a obrigação de nos submeter a elas? Os líderes ecle-
siásticos, por mais que tenham autoridade divina para liderar e mereçam a
nossa submissão, não são imunes a erros. A ordem é para que sejam irrepre-
ensíveis (1 Tm 3:2). Contudo, nem todos são. É triste, mas é correto afirmar
que muitos pastores e consagrados preferem agir contra os princípios divi-
nos. Nesse caso, não merecem submissão, nem obediência. O fato de toda
O Doutrinal | 237
II Praticando a doutrina da palavra de Deus
3. Clowney (2007:188)
01. Leia Efésios 5:21-22, 6:1; Colossenses 3:18; 1 Pedro 2:18, 5:5; Hebreus 12:9
A. O que é submissão?
B. Q ual a importância da “submissão” para o bom andamento da
família, da igreja e da sociedade?
O Doutrinal | 239
03. Leia Romanos 13:4-7
A. O poder das autoridades governamentais tem uma finalidade diante
de Deus. Qual é?
B. Q uais os deveres do cristão perante a sociedade? É correto o cristão
se rebelar contra o Estado, deixando de pagar os impostos e de
cumprir as suas leis? Verifique Rm 13:7.
O casamento,
o lar e a família
Introdução
Todo o crente em Jesus, independentemente da posição que ocupa, na
igreja ou fora desta, deve respeitar as autoridades da nação e as autoridades
eclesiásticas e sujeitar-se a elas. Foi justamente isso que aprendemos no
estudo anterior, intitulado: Submissão às autoridade e liberdade de consciência.
A palavra de Deus diz: Todos devem sujeitar-se às autoridades do governo,
pois não há autoridade que não venha de Deus (Rm 13:1 – grifo nosso); mais
à frente, completa: Dai a cada um o que lhe é devido: a quem tributo, tributo; a
quem imposto, imposto; a quem temor, temor; a quem honra, honra (v. 7).
No presente estudo, vamos meditar nas instruções bíblicas sobre o ca-
samento e a família, as mais antigas de todas as instituições da história da
humanidade. Ambas foram ideias de Deus. Nos dias atuais, estamos assis-
tindo a uma avalanche de ataques contra essas instituições. A família unida,
reunida, estruturada, tornou-se algo raro, na sociedade moderna. A ideia de
que casamentos não duram para sempre é cada vez mais aceita com natura-
lidade. A autoridade dos pais nunca foi tão fraca sobre os filhos como agora.
Diante disso, o que fazer? De que forma devemos nos comportar? Segundo
a Bíblia, como devem ser o casamento e as relações familiares?
O Doutrinal | 241
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1. Oliveira (2005b:74).
2. Lopes (2005:24).
O Doutrinal | 243
É bom ponderarmos que o texto não ensina o casal a ignorar ou des-
cuidar-se dos pais; porém, mostra que, com o casamento, os cônjuges de-
vem priorizar um ao outro. O quarto princípio para o casamento segundo
o plano original de Deus é: O casamento deve ser uma união indissolúvel. O
casamento tem que durar por toda a vida. O texto bíblico diz: unir-se-á
à sua mulher (grifo nosso). O verbo “unir” é a tradução para uma palavra,
no hebraico, que significa cimentar.3 O casamento deve ser para sempre
(Mt 19:6). Apesar de a Bíblia permitir o divórcio (Mt 19:9), em uma
ou duas situações bem definidas, não podemos confundir “permitir” com
“aprovar”. Foi por causa da dureza dos corações, mas no princípio não foi
assim (Mt 19:8).
Apesar de a sociedade atual fazer apologia do divórcio, este continua
sendo uma coisa horrenda aos olhos de Deus: Eu odeio o divórcio, diz o
Senhor (Ml 2:16 – NVI). Não existe divórcio sem dor, sem sofrimento. O
perdão ainda continua sendo a melhor saída, pois “Deus planejou que os
laços matrimoniais deveriam ser terminantemente indissolúveis”.4 O quin-
to princípio para o casamento segundo o plano original de Deus é: O ca-
samento deve ser uma união pública. Ao casarem, ambos, homem e mulher,
precisam deixar os pais. Esse “deixar” que o texto apresenta também indica
uma ocasião social e pública. A família, a sociedade, os amigos, todos devem
saber o que está acontecendo.
O sexto e último princípio para o casamento segundo o padrão de Deus
é: O casamento deve ser uma união física. O versículo encerra-se da seguinte
forma: ... e serão os dois uma só carne (Gn 2:24). A expressão uma só carne se
refere à união sexual e revela a pureza e a santidade da relação sexual dentro
do casamento. O que, para os solteiros, é proibido, para os casados, é orde-
nado: Não vos priveis um ao outro (1 Co 7:5). Muito bem, como vimos, com
base em Gênesis 2:24, há seis princípios que caracterizam o casamento. Se-
gundo os propósitos de Deus, a união matrimonial deve ser heterossexual,
monogâmica, exclusiva, indissolúvel, pública e física. Avançando um pouco
mais, vejamos as instruções bíblicas sobre a família.
2. Instruções bíblicas sobre a família: Em Efésios 5:18-33, 6:1-4, te-
mos o ideal de Deus para o lar cristão. Ali, os papéis de cada membro foram
3. Kemp (2005:76).
4. Pfeiffer & Harrison (1984:8).
5. Swindoll (2007:36).
6. Hendriksen (2005:294).
7. Wiersbe (2006c:65).
O Doutrinal | 245
sujeitar-se a um homem que a ame à semelhança de Cristo, pois seu amor
será persistente, sacrificial, santificador e romântico (cf. Ef 5:25-33).
Além do papel das esposas e do dever dos maridos, o texto, em terceiro
lugar, mostra o preceito aos filhos. A parte que cabe aos filhos, na santidade do
lar, é de extrema importância (Ef 6:1-3): é a obediência motivada pela hon-
ra! O texto inicia desta forma: Filhos, obedecei a vossos pais no Senhor (v. 1a) e
segue apresentando três excelentes razões para tal tarefa. A primeira razão
apresentada no texto é que a obediência é justa (v.1b). Os pais colocaram os
filhos no mundo e são mais sábios do que estes. Por isso, nada mais correto
do que serem respeitados e honrados. A obediência também é justa porque
a autoridade dos pais foi conferida pelo Senhor. Desse modo, desobedecer
aos pais é afrontar o próprio Deus.
A segunda razão apresentada no texto é que a obediência é ordenada (v. 2).
Trata-se de um preceito bíblico que está entre os dez mandamentos: Honra
teu pai e tua mãe (Êx 20:12). Entretanto, honrar os pais é bem mais do que
obedecer-lhes: é “mostrar respeito e amor por eles, cuidar deles enquanto
precisarem de nós e procurar honrá-los pela maneira como vivemos”.8 A
terceira razão apresentada no texto é que a obediência é abençoadora. Há uma
promessa para o filho ou a filha obediente: Terá uma vida longa e cheia de
bênçãos (Ef 6:3 – BV). Além de tratar do relacionamento dos filhos para com
os pais, Paulo também apresenta um conselho aos pais, no tocante aos filhos.
Em quarto lugar, o texto apresenta o conselho aos pais. Ao tratar com
os pais, o apóstolo começa aconselhando-os da seguinte forma: E vós, pais,
não provoqueis vossos filhos à ira (Ef 6:4a). De fato, há alguns erros cometi-
dos pelos pais que irritam muito os filhos: excesso de proteção, favoritismo,
mentiras, injustiça na disciplina, desestímulo, menosprezo, ironias, uso de
palavras ásperas, crueldades físicas e assim por diante. Então, Paulo conti-
nua o conselho: ... mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor (Ef
6:4b). Há, aqui, três missões dos pais. A primeira é nutrir os filhos. A expres-
são “criai-os” vem do grego ektrepho, que significa “alimentar”, “nutrir” ou
“educar” para se tornar maduro.9
É no lar cristão que as crianças devem aprender sobre o Senhor e sobre
a vida cristã. Ali, aprendem a se santificar. Isso é uma incumbência dos pais.
8. Idem, p.68.
9. Stott (2007b:186).
O Doutrinal | 247
cada um a verdade (v. 25). Mas a verdade precisa ser dita em amor. Devemos
falar sem machucar; dizer apenas palavras que edifiquem (v. 29). A falta de
boa comunicação tem causado a destruição de muitos lares. Feliz é a família
em que há diálogo sincero! Ali, um confia no outro e os problemas são re-
solvidos mais facilmente. Cultive isso em casa. Não permita que sua família
seja destruída por falta de diálogo.
Conclusão
Na carta aos Efésios, conforme estudamos, o apóstolo Paulo mostra o
caminho que devemos trilhar para que nossa família seja santa, harmônica
e feliz (Ef 5:18-6:4). Todavia, antes de começar a tratar sobre isso, ele ini-
cia com um apelo esplêndido: Enchei-vos do Espírito! (Ef 5:18). Somente
depois, passa a tratar da responsabilidade de cada membro da família nos
relacionamentos. A mensagem aqui é clara: Sem o Espírito Santo, não há
vitória familiar. Existe uma ligação profunda entre “vida cheia do Espírito”
O Doutrinal | 249
05. Leia Efésios 5:25-33
A. Qual o dever dos maridos cristãos, segundo esse texto bíblico?
B. Q ual é o modelo do amor que os maridos devem demonstrar por
suas esposas? Comente sua resposta.
Anotações
A igreja de Cristo
Introdução
No estudo anterior, aprendemos que o casamento e a família foram
estabelecidos por Deus. Ambos foram criados para dar certo. Não existe
sociedade, nação ou igrejas fortes, sem casamentos e famílias fortes. Por
isso, devemos fazer a nossa parte, para que as nossas famílias permaneçam
unidas, harmônicas e sadias. No presente estudo, vamos considerar outro
empreendimento igualmente divino: a igreja (Mt 16:18), que é coluna e fir-
meza da verdade (1 Tm 3:15).
A igreja tem tanto valor que Cristo a amou e a si mesmo se entregou por
ela, a fim de santificá-la, (...) para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa,
sem mancha, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreen-
sível (Ef 5:25-27). Hoje, a igreja está na terra. Ainda não é o que deve ser;
tem muitas imperfeições, mas, um dia, será perfeita e gloriosa. É com essa
finalidade que Cristo tem trabalhado e continua trabalhando na igreja.
O Doutrinal | 251
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
O Doutrinal | 253
integral e recebiam por isso, enquanto outros serviam a Deus e continuavam
com suas ocupações normais (cf. 1 Tm 5:17-18). Em todo caso, como é uma
questão apenas relacionada à terminologia, a Igreja adventista da Promessa
chama os presbíteros responsáveis por uma igreja de “pastor”, termo também
usado nas Escrituras para se referir aos que cuidam da igreja (cf. Ef 4:11).
Os diáconos ou as diaconisas, por sua vez, de acordo com 1 Timóteo
3:10-13, devem ser, primeiramente provados, para servirem depois, se forem
achados irrepreensíveis (v. 10). Nesse mesmo texto, encontramos as qualifi-
cações necessárias para estes. A exemplo dos presbíteros, eles também fa-
ziam parte da liderança da igreja primitiva (cf. Fp 1:1). Em Atos capítulo
6, temos a escolha dos primeiros diáconos. À luz deste texto, aprendemos
que os diáconos foram chamados, essencialmente, para servir. Enquanto
os presbíteros lidavam, primeiramente, com as necessidades espirituais, os
diáconos, ou diaconisas, lidavam com as necessidades materiais das igrejas.
Isso não significa que a obra do diácono tenha valor inferior. Essa era e é
uma tarefa digna e especial.
4. A unidade da igreja de Cristo: A unidade da igreja recebeu grande
ênfase no Novo Testamento. Jesus, em sua oração sacerdotal, fez uma sú-
plica em favor disso (cf. Jo 17:1-16). Entre os autores sagrados, entretanto,
Paulo é quem mais trata do assunto. Em sua carta aos Efésios 4:1-16, o
apóstolo ensina sobre o dever da igreja de andar em unidade. Ele faz um
apelo a todos os membros: [Procurem] cuidadosamente manter a unidade do
Espírito no vinculo da paz (Ef 4:3).
Paulo mostra que o que sustenta a unidade da igreja não são os mé-
todos humanos, mas, sim, os princípios da palavra de Deus. Como uma
casa, ela deve ser construída em cima e em torno de bases sólidas; do
contrário, cairá. Quais são essas bases? Paulo cita sete: um só corpo, um só
Espírito, uma só esperança, um só Senhor, uma só fé, um só batismo e um
só Deus e Pai (Ef 4:4-6). Esses são os elementos básicos que unem todos
os cristãos verdadeiros.
No que diz respeito às pessoas da triunidade, observe que: “O Espíri-
to Santo é o agente da unidade; o Filho é Aquele em quem nós estamos
unidos; o Pai é Aquele cujos propósitos são expressos por meio da unidade
do corpo”.1 A unidade da igreja é algo possível e muito bom, quando alcan-
1. Richards (2008:425).
2. Mulholland (2004:40).
O Doutrinal | 255
vontade divina, Deus usa a disciplina como um instrumento para manter a
pureza na igreja: Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma ofensa, vós, que
sois espirituais, corrigi o tal (Gl 6:1). Dentre outras coisas, a disciplina visa
remover o erro e evitar que o pecado “levede” a igreja com a sua influência.3
A correção serve tanto para restaurar o membro disciplinado quanto para
preservar a pureza da igreja (2 Pd 3:14).
6. A força da igreja de Cristo: A igreja do Senhor é forte. Entretanto,
para não se corromper, precisa saber de onde vem o seu poder, qual a origem
da sua força. Em primeiro lugar, veremos qual é a fonte do poder da igreja.
Em Efésios, lemos: No demais irmão meus, fortalecei-vos no Senhor e na força
do seu poder (Ef 6:10 – grifo nosso). Esse texto mostra, de forma bem clara,
a fonte do poder da igreja: o Senhor. O poder é dele. A igreja deve sempre se
lembrar que a fonte do seu poder está no Senhor (cf. Mt 16:18-19).
Em segundo lugar, veremos qual é a natureza do poder da igreja. Como
é o poder da igreja? Como são as armas que devem ser usadas pela igreja? A
Bíblia responde: ... embora vivamos como homens não lutamos segundo os pa-
drões humanos. As armas com as quais lutamos não são humanas ao contrário, são
poderosas em Deus (2 Co 10:3-4 – NVI). As armas da igreja não são físicas,
mas espirituais. A igreja não anuncia o reino de Deus armada com espadas,
mas pelo poder de Deus. O poder da igreja é espiritual. Veja que Paulo ad-
mite, em 2 Coríntios 10:3-4, que ele vive no mundo, entretanto, “não luta
contra o mundo pecaminoso aplicando padrões do mundo; ele luta segundo
os padrões que Deus estabeleceu”.4
Em terceiro e último lugar, veremos qual é a finalidade do poder da igre-
ja. Depois de dizer que o poder da igreja é espiritual, Paulo informa o obje-
tivo desse poder: ... para derrubar as fortalezas do diabo (2 Co 10:4b – BV).
A verdadeira luta da igreja não é contra seres humanos, mas (...) contra as
forças espirituais do mal nas regiões celestiais (Ef 6:12 – NVI). Sendo assim,
o objetivo da força da igreja é “livrar os homens da escravidão espiritual
infundindo-lhes o conhecimento da verdade, cultivando neles graças espiri-
tuais, e elevando-os a uma vida de obediência aos preceitos divinos”.5 Deus
não capacitou a igreja simplesmente por capacitar.
3. Ryrie (2004:504).
4. Kistemaker (2004b:467).
5. Berkhof (2007:548).
O Doutrinal | 257
mundo gentio, para que pudesse manifestar qual seja a dispensação do mistério,
desde os séculos, oculto em Deus, que criou todas as coisas (Ef 3:9).
Conclusão
Estamos chegando ao final de mais um estudo. Nosso foco, neste capí-
tulo, foi a igreja de Cristo. De acordo com o que acabamos de estudar, ela é o
conjunto de todos os verdadeiros cristãos de todos os tempos. É comparada
a um corpo, uma noiva, um edifício, uma lavoura, um templo. Existe com o
propósito maior de adorar a Deus. Sabe que precisa, a todo custo, manter a
unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4:3). Esforça-se para, cada dia, ser
mais pura e mais santa, pois esse é o desejo do seu Senhor. Entende que é
forte, não por si mesma, mas por aquele que a comprou e a encheu de força.
Essa é a igreja de Cristo! É sublime; tem um dono incomparável, um
preço incalculável e um segredo admirável; anda, nesta terra, de modo dig-
no da vocação a que foi chamada, mas não tem cidade permanente aqui (Hb
13:14): sua pátria está nos céus, de onde também aguarda o Salvador, o Senhor
Jesus Cristo (Fp 3:20). Seu futuro é glorioso. Aliás, é sobre o futuro que tra-
taremos, no próximo estudo, intitulado: A mortalidade da alma. Você sabe
o que acontece com todo ser humano, após a morte? É isso que iremos
descobrir, no próximo capítulo. Não deixe de estudá-lo.
O Doutrinal | 259
Anotações
A mortalidade da alma
Introdução
A igreja é o conjunto de todos os verdadeiros cristãos de todos os tem-
pos, isto é, os que se arrependeram, foram perdoados e justificados, median-
te a fé em Jesus Cristo. Essa é a definição de igreja que aprendemos, no úl-
timo estudo deste manual, intitulado: A igreja de Cristo. Além da definição,
estudamos também sobre a missão, os consagrados, a unidade, a pureza e
a força da igreja de Cristo. Ela é sublime: tem um dono incomparável, um
preço incalculável e um segredo admirável. O Senhor Jesus se entregou por
ela, para apresentá-la a si mesmo como igreja gloriosa (Ef 5:27).
No presente estudo, porém, trataremos de outro assunto, igualmente
importante: A mortalidade da alma. A morte é um assunto que, na maioria
das vezes, evitamos. Não gostamos de falar sobre ela. A grande verdade é
que nenhum de nós, em condições normais, deseja morrer. Por isso mesmo,
temos medo da morte. Até certo ponto, isso é normal. Nós fomos criados
para sermos eternos. No plano original de Deus, ninguém deveria morrer.
Foi Deus quem colocou a eternidade no coração do homem (Ec 3:11). Por isso,
naturalmente, desejamos a imortalidade. Todavia, não há como escapar: a
morte é uma realidade. Todos morrem. E o que acontece depois disso? A
alma é imortal? Há consciência, após a morte? Vejamos.
O Doutrinal | 261
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
2. Merrill (2009:180).
3. O termo significa uma “divisão em três partes” (gr. Tricha: “em três partes”; temnein: “cortar”).
O Doutrinal | 263
2. A finitude da alma: Depois de formar o homem, Deus o colocou
para viver no jardim do Éden e lhe deu esta ordem: De todas as árvores do
jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não
comerás, porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás (Gn 2:16-
17 – grifo nosso). Já sabemos o final dessa história, de acordo com o que
aprendemos, em estudos anteriores (Estudo 4: Origem, queda e restauração
do ser humano). Diante da serpente, o ser humano desobedeceu à ordem de
Deus, comendo do fruto proibido pelo Senhor (Gn 3:6-7).
Adão e Eva não morreram fisicamente, logo após a desobediência à
ordem de Deus. O tipo de morte imediata que o ser humano sofreu foi a
espiritual: a separação de Deus (Is 59:2). A morte física não seria imediata,
mas, a partir daí, inevitável: homem e mulher ficaram sujeitos à mortalida-
de: ... tu és pó e ao pó tornarás (Gn 3:19 cf. Ec 3:20; Jó 10:9, 34:15). Então,
a morte entrou no mundo, como consequência e punição do pecado, e, a
partir desse acontecimento, estendeu-se a todos os seres humanos, como
afirma Paulo: Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo,
e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque
todos pecaram. (...) o salário do pecado é a morte (Rm 5:12, 6:23). Apesar de, no
plano original de Deus, o ser humano ter sido feito para viver eternamente,
o pecado mudou isso.
Paulo, em 1 Coríntios 15, afirma que o aguilhão da morte é o pecado (v.
56). A palavra “aguilhão” significa “ferrão” – como de um escorpião, por
exemplo, que pode até matar com a sua ferroada. Paulo faz essa compa-
ração para ressaltar o poder venenoso e fatal da morte.4 Ele diz que esta
tem tal autoridade por causa do pecado. É por isso que todos os homens,
hoje, caminham com esta certeza: Que homem há, que viva, e não veja
a morte? (Sl 89:48). A certeza da morte é uma garantia da Bíblia: Não
há nenhum homem que tenha (...) poder sobre o dia da morte (Ec 8:8; cf.
Sl 90:3-6, 103:15-16; Is 40:6-7; Tg 1:10). Com exceção dos justos que
estiverem vivos por ocasião do retorno de Cristo (1 Co 15:51-52), todos
irão morrer.
O que é morte? A palavra hebraica mais usada no Antigo Testamento
para se referir à morte é mãweth, e a grega mais usada para se referir a ela,
no Novo Testamento, é thanatos. As duas são usadas para descrever o fim
5. “Espírito” e “fôlego”, neste versículo, são usados como sinônimos. A NTLH traduz este texto da seguinte
maneira: Se Deus quisesse, poderia fazer voltar para si o fôlego, a respiração da gente.
O Doutrinal | 265
para poupar a sua alma da cova ( Jó 33:14,18 – AS21). Observe que é dito,
de forma clara, que a sepultura é o destino imediato a ser seguido por
quem morre. Outros textos ratificam essa verdade (cf. Sl 28:1, 30:9, 88:4;
Is 38:17; Ez 26:20; At 2:29).
Na sepultura, o ser humano permanece num estado de inconsciên-
cia: A sepultura não te pode louvar, nem a morte glorif icar-te; não esperam
em tua f idelidade, os que descem à cova (Is 38:18). É por isso que a morte,
na Bíblia, é repetidamente comparada com um “sono”. No Antigo Tes-
tamento, lemos: Disse o Senhor a Moisés: Eis que estás para dormir com teus
pais (Dt 31:16); Muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão (Dn
12:2; cf. Jó 7:21; Sl 13:3). No Novo Testamento, essa mesma figura de
linguagem é aplicada com relação à morte: Depois foi visto por mais de
quinhentos irmãos de uma só vez, dos quais a maioria sobrevive até agora,
porém alguns já dormem (1 Co 15:6); Não queremos, porém, irmãos, que
sejais ignorantes com respeito aos que dormem (1 Ts 4:13; cf. 1 Co 15:51; Jo
11:11-14; At 13:36).
O sono é a cessação da atividade. Quando uma pessoa morre, aca-
bam-se as suas atividades. Não existe vida humana pós-morte. Como já
foi dito, a Bíblia enxerga o ser humano de forma integral. Este morre,
portanto, em sua totalidade. O ser humano não tem uma alma imortal,
que continua existindo fora do seu corpo, depois do seu falecimento.
Atualmente, existe muita confusão com relação a esse assunto. Um dos
vinte e seis significados que o mais famoso dicionário da língua portu-
guesa emprega para “alma” é: “Princípio espiritual do homem concebido
como separável do corpo e imortal”.6 Esta definição apresenta a alma
como imortal.
Uma pessoa desavisada, ao dirigir-se à Bíblia, acha que a palavra alma,
ali, tem esse mesmo significado, o que não é verdade. Só há um ser imortal
(1 Tm 6:16). Nós já aprendemos, neste estudo, o que é alma. Sabemos que
não temos uma alma, mas somos uma alma. Quando morremos, deixamos
de existir completamente: A alma que pecar, essa morrerá (Ez 18:4, 20; cf. Pv
19:16; 33:9). Na visão bíblica do estado dos mortos, não se admite o fato
da existência de alguém com um espírito desincorporado. Não existe vida
humana extracorpórea. Esse é o ensino da Bíblia.
6. Ferreira (1975:71).
O Doutrinal | 267
II Praticando a doutrina da palavra de Deus
Conclusão
Concluímos este estudo trazendo novamente à memória que o ser hu-
mano foi formado do pó da terra. Foi somente após receber o fôlego de vida
que ele se tornou uma alma vivente. Dessa maneira, conforme aprendemos,
nossa constituição é: corpo + espírito = alma vivente. A alma é o ser total e
nada mais que isso. Foi a fusão corpo + espírito que transformou o homem
em um ser vivo. Com a entrada do pecado, ele começou a morrer. Na morte,
em sua totalidade, o ser humano deixa de existir. Não vai para um estado
intermediário consciente, mas para a sepultura, num estado de inconsci-
ência. Ali, na sepultura, é uma alma morta. Fica nesse estado até o dia da
ressurreição, para a vida eterna ou para a segunda morte.
Estudar sobre essas certezas constitui-se um alerta vigoroso sobre a fra-
gilidade e a brevidade do ser humano; também é um alerta contra a sua arro-
gância. Cientes disso, devemos orar como o salmista orou: Ensina-nos a contar
os nossos dias para que alcancemos coração sábio (Sl 90:12). No próximo estudo,
meditaremos sobre o dia da crucificação e ressurreição de Jesus. Esses dias, o da
crucificação e o da ressurreição de Cristo, para nós, crentes em Jesus, são
incrivelmente cheios de significado. Neles, a nossa vitória sobre a morte foi
decretada e confirmada, através do que o Senhor Jesus fez. Vale a pena estudar
sobre esses acontecimentos. Faça isso. Não deixe de ler o próximo estudo!
O Doutrinal | 269
B. Segundo esse texto, qual o resultado da soma das partes materiais e
imateriais do ser humano? O que ele “se torna”?
06. Leia Jó 33:14, 18; Salmo 28:1, 30:9, 88:4; Daniel 12:12
A. Depois da morte, qual é o destino imediato de todo ser humano?
B. O que aguarda o ser humano, depois da morte?
07. Leia 1 Coríntios 15:6; Isaías 38:18 e 1 Tessalonicenses 4:13; Eclesiastes 9:5,10
A. Com o que a Bíblia compara a morte?
B. O que essa comparação nos ensina sobre o estado dos mortos?
Falta a página de
anotações
Os dias da crucificação
e da ressurreição de Jesus
Introdução
No estudo anterior, que tem por título A mortalidade da alma, tratamos
acerca da natureza, da finitude e do destino da alma. De acordo com o que
pudemos estudar, vimos que o ser humano não tem uma alma, mas é uma
alma. A fusão entre corpo e espírito tornou isso possível (Gn 2:7). Sendo
assim, quando o ser humano morre, a alma morre. Por causa do pecado, não
possuímos a imortalidade (Gn 2:17). A Bíblia diz que, na morte, o nosso cor-
po voltará para o pó da terra, de onde veio, e o nosso espírito voltará para Deus,
que o deu (Ec 12:7 – NTLH). Depois disso, o ser humano, quer tenha sido
justo ou ímpio, deixa de ser alma vivente e vai para a sepultura. Ali, fica até
o dia da sua ressurreição.
No presente estudo, Os dias da crucificação e da ressurreição de Jesus, tra-
taremos dos acontecimentos descritos nos evangelhos acerca dos últimos
momentos de Jesus, antes, durante e depois da sua crucificação, morte e
ressurreição. Esses dois dias, o da crucificação e o da ressurreição, para nós,
crentes em Jesus, são incrivelmente cheios de significado. Neles, a nossa vi-
tória sobre a morte foi decretada e confirmada, através do que o Senhor fez.
Nosso objetivo é mostrar quando essas coisas aconteceram. Verifiquemos
essa doutrina na palavra de Deus.
O Doutrinal | 271
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
O Doutrinal | 273
a Páscoa, como se fosse uma família, poderia fazê-lo. Esse foi o caso de
Jesus com os seus discípulos.
Na época do rei Josias, só este ofereceu mais de trinta mil animais para
serem sacrificados na Páscoa (2 Cr 35:7). No período do Novo Testamento,
esse número aumentou expressivamente. Cerca de duzentos e cinquenta
mil cordeiros eram sacrificados. Para que todos eles fossem mortos até o
pôr-do-sol1 do dia 14 de abibe (Êx 12:6), haveria a necessidade de centenas
de sacerdotes realizando tal tarefa. Na prática, seria quase impossível que
eles conseguissem sacrificar tantos cordeiros em tão pouco tempo. Imagi-
nemos também o número assustador de pessoas que circulavam pela área
do templo, nesse período de tempo, a maioria querendo sacrificar o seu
cordeiro para poder comer a refeição da Páscoa.
Havia algo que ajudava a aliviar ou amenizar todo esse tumulto. É bem
provável que os sacrifícios fossem realizados em mais de um dia, isso por
causa da existência de duas maneiras diferentes de se comemorar a Páscoa.
Os judeus da Galileia, em estrita conformidade com Êxodo 12, sacrifica-
vam o cordeiro no início do dia 14 de abibe, segundo a contagem oficial
do calendário, e comiam a refeição pascal na noite desse mesmo dia,2 en-
quanto os judeus que moravam em Jerusalém e nos distritos circunvizinhos
(provavelmente, toda a Judeia) seguiam um plano diferente: sacrificavam
o cordeiro pascal no fim do dia 14 de abibe, comendo, assim, a refeição da
páscoa na noite do dia 15 de abibe. Isso explica por que Jesus e seus discípu-
los – todos galileus, com exceção de Judas – comeram a páscoa numa noite
e, ao amanhecer, os líderes judeus – todos habitantes de Jerusalém – ainda
não haviam celebrado a Páscoa.3
Um texto que merece nossa consideração é João 19:14. Esse texto diz
que o dia em que Jesus foi crucificado era a o dia da preparação da Páscoa.
Fica bem evidente que, quando Jesus foi crucificado, a Páscoa oficial, ou
seja, a de Jerusalém, ainda não havia acontecido. Observe o termo “prepa-
ração da páscoa”. Os discípulos o usaram no dia anterior ao da morte de
Jesus (Mt 26:19; Mc 14:12). O dia chamado de “preparação da Páscoa” era
1. Alguns pensam que seja o período entre o pôr-do-sol e a escuridão da noite, isto é, entre 18h a 19h; outros, entre
a hora em que o sol começa a declinar e o pôr-do-sol, isto é, entre 15h a 17h (Ryrie, 1991:95).
2. Precisamos lembrar que os dias se iniciavam com o pôr-do-sol. As horas da noite eram as primeiras do dia.
3. MacArthur (2003:36).
4. Daniel-Rops (1986:230).
O Doutrinal | 275
O dia em que Jesus foi crucificado - a questão da Páscoa
Jesus morreu no dia 14 de abibe, o dia em que o cordeiro pascal era sacrificado (Jo 19:14).
O Doutrinal | 277
O dia 14 de abibe era o dia oficial da comemoração, como vimos an-
teriormente. O dia seguinte, 15 de abibe, era o primeiro da Festa dos Pães
Asmos, que durava sete dias (Êx 12:15). Acontece que o primeiro e o úl-
timo dia da Festa dos Pães Asmos, dias 15 e 21 de abibe, eram de santa
convocação: nenhuma obra servil era feita (Lv 23:4-8). O primeiro e o sétimo
dia dessa festa eram de descanso, considerados sábados, quando acontecia
uma cerimônia religiosa. Lembremos que um dos significados do verbo
hebraico shâbat é, tão somente, “descanso”. No calendário judaico, alguns
dias de festa e de repouso eram considerados sábados (Hb. shâbat), sem,
necessariamente, caírem no sábado semanal, o sétimo dia da semana (cf.
Lv 23:24, 32).5 Esse é o mesmo caso do dia 15 de abibe, o primeiro dia da
Festa dos Pães Asmos. Quando os autores dos evangelhos se referem ao
sábado após o dia da morte de Jesus, não têm em mente o sétimo dia da
semana, mas um sábado de festa, o dia 15 de abibe, o primeiro dia da Festa
dos Pães Asmos.
Podemos constatar a veracidade dessa informação pelas seguintes ra-
zões: Em primeiro lugar, por causa do evangelho de João. O evangelista faz
questão de frisar, quando se refere a esse sábado: ... era grande o dia daquele
sábado ( Jo 19:31). A Almeida Século 21 traduz esse texto assim: ... aquele
sábado era especial. A NVI, desta forma: ... seria um sábado especialmente sa-
grado. O sábado a que João se refere não é o de uma semana regular, mas
um sábado especial, por causa das festividades.6 O mesmo João, um pouco
antes, escreveu sobre o dia da preparação que antecedeu esse sábado: ... era o
dia da preparação da Páscoa (19:31). Então, o “dia da preparação” a que os ou-
tros evangelhos se referem não é uma sexta-feira, mas, simplesmente, o dia
da preparação da Páscoa, dia 14 de abibe, que antecedia o grande sábado, 15
de abibe. O dia 14 era considerado como “o dia da preparação” por ser o dia
em que o cordeiro era morto e assado para ser comido na comemoração da
Páscoa. Na época do Novo Testamento, pães Asmos, vinho, ervas amargas e
condimentos também eram providenciados para a ceia, nesse dia.
Em segundo lugar, afirmamos que o sábado do dia posterior ao sepulta-
mento de Jesus não era o sábado semanal por causa da prudência da narrati-
va de Mateus, ao se referir a esse dia. Observe o que ele diz: No dia seguinte,
5. Vaux (2003:512).
6. Dake (2009:1555).
O Doutrinal | 279
assim o Filho do Homem estará três dias e três noites no coração da terra, ou seja,
exatamente, um pouco antes do pôr-do-sol do sábado, conforme cremos.
O texto bíblico que parece contradizer esse argumento é Marcos 16:9,
que diz: Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da semana,
apareceu primeiro a Maria Madalena (ARA). Essa tradicional versão bíbli-
ca, juntamente com outras, como a ARC, colocam a vírgula deste texto
no lugar errado, dando a entender que Jesus ressuscitou no domingo. Nas
versões bíblicas NVI e Almeida Século 21, isso não acontece. Nelas, os
tradutores respeitaram o sentido do texto grego e colocaram a vírgula
após o verbo “ressuscitar”. O texto está assim: Quando Jesus ressuscitou,
na madrugada do primeiro dia da semana, apareceu primeiramente a Maria
Madalena (NVI). Com essa construção, o versículo ainda pode ser enten-
dido de duas maneiras: “a madrugada do primeiro dia da semana” pode
tanto indicar o dia da ressurreição quanto o dia do aparecimento de Jesus
a Maria Madalena.
Estamos certos de que a última opção é a verdadeira. O que nos dá ain-
da mais certeza é o texto grego. Nele, há uma conjunção adversativa (δε)7,
entre as sentenças “Havendo Jesus ressuscitado” e “na madrugada do pri-
meiro dia da semana, apareceu ...”. Uma conjunção adversativa tem como
função firmar uma divergência de sentido entre duas sentenças. Fica muito
claro pelo texto grego que “a madrugada do primeiro dia da semana” diz
respeito, não ao dia da ressurreição (que aconteceu no final do sábado), mas
ao dia do aparecimento de Jesus a Maria Madalena. A conjunção adversa-
tiva entre as sentenças não deixa dúvidas quanto a isso. Veremos, a seguir,
baseados nesses eventos, a crucificação e a ressurreição de Cristo, importan-
tes certezas para a nossa vida cristã.
7. A conjunção adversativa δε pode ser traduzida por: mas, porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto.
Dia da morte
de Jesus
1a Noite 1o Dia 2a Noite 2o Dia 3a Noite 3o Dia
O Filho do homem estará três dias e três noites no coração da terra (Mt 12:40).
O Doutrinal | 281
sem chance alguma de vida eterna, por causa do pecado (Is 59:2), hoje, pode-
mos nos alegrar, pois a cruz de Cristo nos aproximou de Deus, de modo que,
com ela, fomos reconciliados, conforme nos afirma o texto: Agora, porém, vos
reconciliou no corpo da sua carne, mediante a sua morte (Cl 1:22a). Cristo nos re-
conciliou porque nos ama. A sua vontade é que vivamos sempre próximos dele.
Conclusão
Diante de tudo que vimos, neste estudo, realmente não faz sentido al-
gum dizer que Jesus foi morto na sexta-feira e ressuscitado no domingo. Se
ele tivesse sido sepultado ao entardecer da sexta-feira, a sua ressurreição,
obviamente, teria de ocorrer, não no domingo cedo, mas no pôr-do-sol de
segunda para a terça. Isso teria de ser assim para que a predição de Jesus
se cumprisse plenamente (Mt 12:40). Sendo assim, a única possibilidade
bíblica é esta: Cristo foi crucificado no dia 14 de abibe, em uma quarta-
-feira, dia da preparação da Páscoa. Nesse mesmo dia, antes do pôr-do-sol,
O Doutrinal | 283
04. Leia Mateus 27:46-50, 57-60
A. Já sabemos que Jesus morreu dia no 14 de abibe. O que esses textos
dizem sobre a hora da sua morte?
B. E sobre o seu sepultamento, a que horas aconteceu?
Anotações
A segunda vinda
de Cristo
... virei outra vez e vos levarei para mim, para que
onde eu estiver estejais vós também. (Jo 14:3)
Introdução
No último estudo, que tratou sobre o dia da crucificação e da ressur-
reição de Jesus, aprendemos que a Bíblia ensina que Jesus morreu numa
quarta-feira, por volta da hora nona, isto é, às três da tarde (Mt 27:46-50),
e ressuscitou três dias depois, antes do pôr-do-sol do sábado (Mt 28:1). O
próprio Jesus havia dito, claramente, que, assim como Jonas esteve três dias e
três noites no ventre do grande peixe, assim o Filho do homem estará três dias e
três noites no coração da terra (Mt 12:40). De acordo com o que vimos, essas
palavras se cumpriram literalmente.
O assunto deste estudo é a segunda vinda de Cristo, a nossa maior es-
perança. Um dia, as cortinas da nossa presente história se fecharão. Jesus,
então, aparecerá no céu. Como se dará a segunda vinda de Cristo? Que
garantias são dadas pela Bíblia de que ele virá outra vez? É possível saber
quando será o advento do Senhor? De que maneira Jesus voltará? Por quais
razões ele retornará? Como devemos aguardar o seu retorno? São esses e
outros questionamentos que procuraremos responder a partir de agora.
O Doutrinal | 285
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1. Milne (2005:262).
O Doutrinal | 287
Os apóstolos revelam curiosidade em relação ao futuro. Mas o fu-
turo pertence a Deus, e não a eles. As coisas reveladas pertenciam a
eles e a seus filhos, para sempre, mas as encobertas pertencem só ao
Pai (Dt 29:29). Assim sendo, não tinham o direito de saber o que não
lhes fora revelado. O que as pessoas mais desejam é levantar a cortina
que separa o futuro do presente. Desde a ascensão de Jesus, sempre tem
havido pessoas tentando calcular e definir o dia, o mês e o ano de sua
volta à terra. Essas especulações desprovidas de fundamentação bíblica
já frustraram inúmeros seguidores do Senhor.
A volta de Cristo jamais deve ser objeto de dúvida, porque fiel é o que
prometeu (Hb 10:23). Porém, ainda que esse evento seja garantido de ma-
neira explícita no Novo Testamento, o tempo em que ele ocorrerá é um
segredo de Deus. Jesus falou dos sinais da sua segunda vinda, mas nada
disse sobre a data (Mt 24:1-12). Ele, na verdade, declarou que apenas o
Pai sabe o tempo exato dessa vinda: Mas a respeito daquele dia e hora nin-
guém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai (Mt 24:36). Disse,
ainda, que ela ocorrerá em momento repentino: À hora em que não cuidais,
o Filho do Homem virá (Mt 24:44).
4. A maneira da segunda vinda de Cristo: Como será a volta de Jesus?
Jesus disse que será visível, como o relâmpago que sai do oriente e se mostra
até no ocidente (Mt 24:27). Ainda afirmou que será percebida universal-
mente: Todos os povos da terra verão o Filho do Homem descendo nas nuvens
(Mt 24:30). Por ocasião da ascensão de Jesus, dois anjos também falaram
a respeito do seu retorno visível à terra: Esse Jesus que estava com vocês e
que foi levado para o céu voltará do mesmo modo que vocês o viram subir (At
1:11 – NTLH). Ele partiu e voltará, de forma visível. Além de visível, o
retorno de Jesus será pessoal.
O apóstolo Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, declarou que o
Senhor regressará de modo pessoal e ruidoso: Porquanto o Senhor mesmo,
dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta
de Deus, descerá dos céus (1 Ts 4:16). O escritor de Hebreus, por sua vez,
destaca que Cristo aparecerá outra vez aos que o aguardam para a salva-
ção (Hb 9:28). O apóstolo João também explicou esse acontecimento
maravilhoso da seguinte maneira: ... eis que vem com as nuvens, e todo olho
o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão
sobre ele (Ap 1:7).
O Doutrinal | 289
terra. Então, os filhos de Deus estarão livres, não apenas dos efeitos e do
poder do pecado, mas também da presença do pecado, de modo completo.
Este não mais interferirá, nem prejudicará a sua relação com Deus, com o
próximo e consigo mesmos.
6. A espera da segunda vinda de Cristo: Como aguardar a segunda
vinda de Cristo? Esta deve ser esperada com vigilância. Sempre que a
Bíblia trata desse assunto, a atitude da vigilância é requerida (Mt 24:42,
25:13; Mc 13:33; Lc 21:36; 1 Ts 5:6; Ap 16:15). Como não sabemos o dia
da volta do Noivo, devemos andar não como néscios, e sim como sábios (Ef
5:15). Os dias são maus, assim, pois, não durmamos como os demais; ao con-
trário, vigiemos e sejamos sóbrios (1 Ts 5:6).
A segunda vinda de Cristo deve ser esperada com paciência. A
ordem bíblica é esta: Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor
(Tg 5:7a). Nessa questão, devemos seguir, com atenção, o exemplo do
lavrador, que aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber
as primeiras e as últimas chuvas (Tg 5:7b). Se deixarmos a impaciência
nos dirigir, não receberemos do Senhor o galardão (Ef 6:8; Mt 5:12;
1 Co 4:5; 1 Pd 5:40), que será dado não a poucos, mas a todos quantos
amam a sua vinda (2 Tm 4:8).
Por fim, a segunda vinda de Cristo deve ser esperada com trabalho.
Ser vigilante e paciente não significa aguardar a volta de Cristo de maneira
passiva ou ociosa. Não se deve jamais imitar a atitude daqueles irmãos que
faziam parte da igreja de Tessalônica, fundada pelo apóstolo Paulo. Esses
irmãos, ao contrário do apóstolo Paulo (2 Ts 3:6-9), esperavam o dia do
Senhor preguiçosamente (2 Ts 3:10-12). Quem espera a volta de Cristo,
tem a obrigação de trabalhar, tanto pela comida que perece quanto pela que
subsiste para a vida eterna ( Jo 6:27).
Uma das verdades mais gloriosas das Sagradas Escrituras é, com ab-
soluta certeza, a que diz respeito à segunda vinda de Cristo. Todos nós,
crentes em Jesus, que fomos comprados não com coisas que perdem o
valor, como a prata ou o ouro, mas pelo seu precioso sangue, aguardamos
ansiosamente esse maravilhoso acontecimento. Apesar de não sabermos
quando ocorrerá, estamos absolutamente certos de que esse dia chega-
rá. Afinal, Jesus pessoalmente garantiu: Certamente venho em breve (Ap
22:20a). Vem, Senhor Jesus!
O Doutrinal | 291
Conclusão
Paulo, o velho apóstolo, já no final de sua vida, escreveu a seu filho na
fé, Timóteo: Combati o bom combate, terminei a carreira, guardei a fé, desde
agora a coroa da justiça me está reservada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará
naquele dia, e não somente a mim, mas a todos os que amarem a sua vinda (2
Tm 4:7-8). Mesmo frente à terrível e inevitável realidade da morte que se
aproximava (2 Tm 4:6), Paulo sabia em quem tinha crido (2 Tm 1:12). Ele
não se desesperou, porque não esperava em Cristo só nesta vida. A certeza
de que um dia Jesus voltará para dar fim a todo sofrimento, toda angústia e
toda perseguição o fez viver confiando nele, até o fim.
Jesus virá outra vez! Que maravilhosa e confortante esperança! Con-
tinuemos firmes, vigiando, esperando, trabalhando, confiando, desejando
e nos purificando, porque, quando se manifestar o Sumo pastor, recebere-
mos a imarcescível coroa de glória (1 Pd 5:4). Lembremo-nos sempre de
que, quando Cristo, que é a nossa verdadeira vida, aparecer, tomaremos
parte na sua glória (Cl 3:4). No próximo estudo, estudaremos sobre al-
guns eventos que ocorrerão por ocasião da volta de Cristo e também
de eventos que ocorrerão depois dela. O tema do nosso estudo será: As
ressurreições dos mortos. Estude-o!
O Doutrinal | 293
Anotações
Introdução
Vimos, no último estudo, que, em um futuro próximo, numa data que
está além da nossa e da compreensão dos anjos (Mt 24:36), cumprir-se-
-á uma das profecias mais enfatizadas das Escrituras: a segunda vinda de
Cristo. Este é, talvez, o evento mais aguardado por todos que se renderam
a Cristo e o aceitaram como Senhor e Salvador de suas vidas. A propósito,
esse dia deve ser aguardado com perseverança, pois se trata de uma garantia
de Jesus (Mc 13:26). A Bíblia afirma que a vinda de Cristo será visível (Mt
24:27) e pessoal (1 Ts 4:16). O seu propósito principal é salvar as pessoas que
estão esperando por ele (Hb 9:28 – NTLH).
Hoje, porém, trataremos de outro assunto muito importe: As ressur-
reições dos mortos. Nós não cremos em uma, mas em duas ressurreições
coletivas: a dos justos e a dos injustos (Dn 12:2; Jo 5:28-29). Essas duas
ressurreições distinguem-se quanto ao tempo e aos propósitos. A primeira
marcará o início da bem-aventurança para os salvos; a segunda, por sua vez,
marcará o início da desventura para os não salvos. Certamente, há muitas
ideias acerca desse assunto; todavia, o nosso propósito é enfatizar o que a
Bíblia tem a nos dizer sobre isso. Apliquemo-nos ao estudo da palavra.
O Doutrinal | 295
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1. Bruce (1987:227).
2. Idem, p.140.
O Doutrinal | 297
arcanjo era usado para anjos de grau mais elevado, que lideram os anjos
santos e defendem o povo de Deus. A sua voz proclamará a libertação desse
povo.3 O terceiro fato é a trombeta de Deus. O sonido da trombeta anun-
ciava, na antiga dispensação, a “descida” de Deus para encontrar-se com o
seu povo. A trombeta dele servirá de sinal para que os que dormiram em
Cristo ressuscitem e os justos vivos sejam transformados, para, em seguida,
encontrarem-se com ele.4
Quanto ao corpo da ressurreição, Paulo a explica, utilizando, a princí-
pio, fatos relacionados à natureza (1 Co 15:36-44). Os coríntios não en-
tendiam como corpos desintegrados pudessem novamente tornar à vida.
Os corpos da ressurreição seriam idênticos aos corpos do sepultamento? A
explicação paulina mostra o milagre da seara, em que uma semente é enter-
rada, para que, a partir dela, surja um novo e glorioso corpo; assegura que,
mesmo sendo “semeado” um corpo corruptível, em desonra e fraqueza, dali,
a exemplo da semente, surgirá um novo corpo, não mais com as limitações
de outrora, mas incorruptível, revestido de glória e poder, pois, se tão sabia-
mente Deus dotou os seres animados e inanimados de corpos apropriados,
para “viverem” nesta terra (1 Co 15:39-41), certamente saberá nos dotar
dos devidos corpos, para que possamos apropriadamente desfrutar de nossa
existência (1 Co 15:42-44).
Após utilizar a natureza para ilustrar o corpo da ressurreição, Paulo
recorre também ao ensino da Escritura (1 Co 15:45-49; cf. Gn 2:7), para
melhor fundamentar a sua argumentação. No mundo presente, temos es-
tampadas em nós as características do primeiro Adão, de origem terrestre;
mas, no mundo vindouro, teremos estampadas em nós as características do
segundo Adão, de origem celestial (1 Co 15:45). O apóstolo fez questão
de frisar que o nosso corpo será imortal. Ciente disso, ele declarou que é
necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo
mortal se resvista da imortalidade (1 Co 15:53).
A recompensa dos justos ressuscitados foi predita por Jesus. Disse ele:
os que tiverem feito o bem, [sairão] para a ressurreição da vida ( Jo 5:29a – grifo
nosso). Cremos que, a partir desse dia, os seus corpos não mais serão sus-
cetíveis à corrupção. O pecado não terá poder para maculá-los. Da mesma
5. Bruce (1987:227).
O Doutrinal | 299
Os injustos participarão somente da segunda ressurreição. Deus, em
sua soberania e por meio da sua justiça, reservou-a para eles. Nessa ocasião,
eles, literalmente, se levantarão, cada um, dos seus túmulos. Todos os não
salvos, sem excessão, de todos os tempos, culturas, etnias etc., participarão
desse evento. Diante dessa verdade, é importante nos indagarmos: Quando
se dará a ressurreição dos injustos? Esse importante acontecimento tem
um tempo específico determinado por Deus: após o milênio. Isso mesmo,
somente mil anos após a ressurreição dos salvos é que os impíos despertarão
do sono da morte e retornarão à vida.
Na sua visão narrada no capítulo 20, versículo 4 de Apocalipse, João de-
clara que viu, diante do trono, as almas dos decaptados por causa do testemunho
de Jesus (…) tantos quantos não adoraram a besta (...); e viveram e reinaram
com Cristo durante mil anos (grifo nosso). Essa informação é de extrema
importância. Conduz-nos ao conhecimento do que, de fato, acontecerá com
os justos ressuscitados, enquanto os impios estiverem nos seus túmulos. É
o retrato perfeito da derrota destes e da vitória daqueles. Mas precisamos
ainda considerar outra questão.
Ao contrário do que muitos pensam e professam, Apocalipse 20:4
não defende uma “ressurreição espiritual”, isto é, equivalente à regenera-
ção, mas uma ressurreição física. A palavra grega para “viveram” é ezesan.
O ponto crucial de todo o problema exegético consiste no significado
que se dá a essa palavra, que não é usada nem uma só vez para indicar
uma “ressurreição espiritual” dos justos.6 Além disso, o texto é suficien-
temente claro e não tem sentido duplo. Deve ser interpretado de modo
literal. Somente essa forma de interpretação dá mais sentido à passagem,
como também nos induz à conclusão de que o termo ezesan refere-se a
uma ressurreição física.
É dessa forma também que deve ser interpretado o versículo posterior,
em que João afirma: Os restantes dos mortos não reviveram até que se com-
pletassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição (Ap 20:5). A “primeira
ressurreição”, aqui mencionada, refere-se aos justos que reviveram (v.4). A
segunda ressurreição, por sua vez, não é descrita explicitamente na Bíblia,
mas implicitamente. A expressão “os restantes dos mortos” é uma alusão
que lhe é feita. Os versículos 12 e 13 tornam ainda mais clara a realidade
6. Ladd (1980:197).
O Doutrinal | 301
II Praticando a doutrina da palavra de Deus
01. Leia Jó 19:25-27; Salmos 16:8-11, 49:14-15; Isaías 26:19; Daniel 12:2
A. A crença de que todos os mortos ressuscitarão um dia é um mito ou
é, de fato, uma doutrina ensinada pela Bíblia?
B. O que o Antigo Testamento diz a respeito das ressurreições dos
justos e injustos?
O Doutrinal | 303
B. É possível alguém que morreu ficar livre da ressurreição e do
julgamento final ou todos os seres humanos terão que comparecer
ressuscitados diante do tribunal de Deus?
O milênio
Introdução
No estudo anterior, aprendemos a respeito das duas ressurreições. O
fim dos tempos e o julgamento final serão marcados, primeiramente, pela
ressurreição dos justos. Estes se unirão aos outros justos vivos, que serão
transformados, e, juntos, se encontrarão com Jesus e receberão a coroa da
vida. Depois virá a ressurreição dos ímpios. Estes se levantarão das sepultu-
ras para receberem o veredito final e a morte eterna. É por isso que o após-
tolo João declarou: Felizes e santos os que participam da primeira ressurreição!
A segunda morte não tem poder sobre eles; serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e
reinarão com ele durante mil anos (Ap 20:6 – NVI).
Agora vamos verificar o que a Bíblia ensina sobre o espaço de tempo
entre essas duas ressurreições. De acordo com o apóstolo João, entre as duas,
haverá um período de mil anos, que também é conhecido por o milênio. O
que ocorrerá durante estes mil anos? O que vai suceder com Satanás? E os
ímpios, como ficarão? Durante o milênio, os justos estarão no céu ou na
terra? Que fatos marcarão o fim do milênio? Felizmente, a palavra de Deus
nos dá respostas precisas para essas perguntas. O milênio é descrito com
clareza em Apocalipse 20. Portanto, abra a sua Bíblia e vamos ao estudo.
O Doutrinal | 305
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1. Mackenzie (1983:613).
O Doutrinal | 307
2. Fatos que marcarão o período do milênio: Sabemos que os salvos,
tanto os ressuscitados, quanto os transformados, serão levados para o céu
( Jo 14:1-3; 1 Ts 4:16-17). Aprendemos, também, que os ímpios não su-
portarão a glória de Deus, quando Jesus aparecer nas nuvens para buscar a
sua igreja. O apóstolo Pedro afirma que, no dia do Senhor, os céus desapa-
recerão com um grande estrondo, os elementos se desfarão, e a terra, e tudo
o que nela há, será desnudada (2 Pd 3:10 - NVI). O apóstolo João assegura
que viu todos os ímpios sendo mortos por ocasião da vinda de Cristo (Ap
19:21); em seguida, afirma que eles não reviveram até que se completassem os
mil anos (Ap 20:5).
Assim sendo, sabemos que, durante todo o período do milênio, a terra
permanecerá desolada e Satanás continuará preso (Ap 20:3). E os justos,
onde estarão? Segundo João, durante o milênio, os salvos reinarão com
Cristo (Ap 20:6). É bom lembrarmos que esse reinado não será na terra,
mas no céu. A razão para isso é que o apóstolo garante ter visto tronos
(20:4). Todas as 44 vezes em que a palavra “trono” aparece, em Apocalipse,
com referência a Deus e à igreja, este trono é sempre no céu.2 Então, pode-
mos afirmar, sem dúvida, que essa cena, observada por João, nos versículos
4 e 6, acontece no céu e não na terra.
Mas qual será o encargo daqueles que reinarão com Cristo no céu?
Eles assentarão em tronos para julgar (Ap 20:4). De fato, a Bíblia afirma
que a igreja de Cristo julgará as tribos de Israel (Mt 19:28), o mundo (1
Co 6:2) e até os anjos (1 Co 6:2). Foi Jesus quem prometeu que o vence-
dor sentaria com ele no trono (Ap 3:21). No milênio, a noiva do Cordeiro
se tornará rainha e reinará com ele. A morte não terá mais poder sobre
os filhos de Deus (Ap 20:6), que estarão a salvo, guardados e protegidos,
num lugar seguro. Ali, serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele
durante mil anos (Ap 20:6).
Contudo, o milênio no céu não será marcado apenas por “trabalho”.
Será caracterizado, sobretudo, por festa e alegria. No milênio acontecerão
as bodas do Cordeiro, conforme Apocalipse 19:7: Alegremo-nos, exultemos e
demos-lhe a glória, porque são chegadas às bodas do Cordeiro. Esse é o casamen-
to de Cristo e sua Igreja. A figura do casamento é bastante significativa para
este estudo sobre o milênio. Os casamentos, na cultura judaica dos tempos
2. Lopes (2005a:350).
3. Stott (2007c:431).
4. Wiersbe (2006c:786).
O Doutrinal | 309
marcará o final do milênio: satanás será solto. A razão é obvia: A sua prisão
será a terra desolada e vazia. Quando os ímpios ressuscitarem, ele voltará a
fazer suas maldades. Contudo, a ressurreição dos ímpios e soltura de satanás
não serão os únicos eventos que marcarão o final do milênio. O terceiro fato
é que a nova Jerusalém descerá do céu. João declara: Vi também a cidade santa,
a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus... (Ap 21:2). Essa santa
cidade está no céu, mas não permanecerá ali para sempre. Após o milênio,
descerá para a terra.
A nova Jerusalém não descerá vazia, pois os salvos descerão com ela
do céu. A propósito, o apóstolo afirma o seguinte sobre essa cidade: Eis
o tabernáculo de Deus com os homens (Ap 21:3). As características dela
são descritas em Apocalipse 21:9 a 22:5. A antiga Jerusalém perdeu a
sua glória. Mas a nova Jerusalém, ao contrário daquela, será o próprio
santuário de Deus e ele habitará ali para sempre (Ap 21:3). Contudo, os
acontecimentos não param por aí. Enquanto a cidade e os salvos estão
descendo, Satanás e seus comparsas estão se preparando para combater
Cristo e seu povo. O que nos leva ao quarto fato que marcará o termi-
no do milênio: A batalha final. Este evento está muito bem descrito em
Apocalipse 20:7-9.
O enganador fará aquilo que é a sua especialidade, ou seja, enganará
as nações. Os ímpios de todas as nações, ao serem seduzidos pelo pai da
mentira, serão reunidos, a fim de atacar a nova Jerusalém e os santos que
nela estarão. Isso reflete a inconformidade dos ímpios à condenação que
obterão do julgamento divino. O versículo 8 enfatiza um número imenso de
perversos: O seu número é como a areia do mar (NVI). Pelo tamanho do seu
exército, os ímpios possivelmente nutrirão a certeza de que conseguirão as
suas pretensões. Mas isso não acontecerá, porque o quinto fato que marcará
o fim do milênio é que Deus enviará fogo do céu. João declara: desceu, porém,
fogo do céu e os consumiu (Ap 20:9b).
Nem as forças ímpias, nem os poderes do deus deste século serão capazes
de impedir a intervenção divina para livrar os seus escolhidos e exterminar,
de uma vez por todas, aqueles que rejeitaram o Filho de Deus. Os injus-
tos, portanto, enfrentarão, nesta ocasião, a dura consequência das escolhas
que fizeram na vida presente. Mas João não pára por aí, e afirma: o diabo,
o sedutor deles, foi lançado para dentro do lago de fogo e enxofre, onde já se
encontram não só a besta como também o falso profeta. Esta será, portanto, a
5. A expressão “segunda morte” é mencionada quatro vezes no Apocalipse (2:11, 20:6,14, 21:8).
6. Ladd (1980:201).
O Doutrinal | 311
sabilidade, aproveitando o caminho que Cristo nos abriu, através da cruz, e
buscando a Deus, enquanto o podemos achar. Se o Senhor voltar ou se mor-
rermos antes e não estivermos em Cristo, a condenação já estará decretada.
Nada poderá ser feito no milênio para revertê-la. A nossa chance é agora!
Conclusão
Chegamos ao final de mais um importante estudo. Nele, aprendemos
sobre a doutrina do milênio, que é bíblica e verdadeira. Não há como afir-
mar o contrário, uma vez que a própria Bíblia a defende (Ap 20:2-7). Este
evento acontecerá mais cedo ou mais tarde. Devemos estar preparados para
ele. Hoje, vimos os fatos que marcarão o começo, o período e o término
do milênio. Também vimos que essa doutrina, além de nos propor uma só
chance de acertar, nos mostra também duas opções de destino e nos apre-
senta dois lados da batalha. A vontade de Cristo é que, durante esse tempo,
reinemos com ele no céu (Ap 20:6). Mas a escolha é nossa.
O Doutrinal | 313
B. Onde estarão os santos, durante o milênio? Como ficará o planeta
terra, no período milenar? Onde e como estarão os injustos, durante
esse período?
Falta a página de
anotações
Introdução
O tema do estudo anterior foi o milênio. Através daquele estudo, apren-
demos que o milênio é o período de descanso e paz que Deus reservou para
os fiéis, quando estes terminarem suas lutas aqui na terra. Esse período
terá início com a segunda vinda de Cristo e, de acordo com as Escrituras,
durante esse tempo, os salvos estarão no céu, para onde serão levados pelo
Senhor, depois de terem sido ressuscitados e transformados (1 Co 15:51-
52; 1 Ts 4:16-17; Ap 20:6). O céu não será a morada definitiva dos salvos,
pois, depois dos mil anos, estes descerão à terra, onde viverão para sempre.
No presente estudo, trataremos sobre o juízo final. Através deste, pro-
curaremos responder algumas perguntas, tais como: Por que ocorrerá o jul-
gamento? Quem participará dele? Quando ocorrerá? Quem será o juiz?
Qual a base desse julgamento? Qual é o seu propósito? O juízo final cons-
titui um dos últimos atos constantes do drama representado pelo pecado,
pois, após a sua execução, será determinado, de maneira total e definitiva, o
destino final de cada pessoa. Pedimos a atenção especial do leitor para este
estudo, enquanto desejamos que tire dele o melhor proveito possível.
O Doutrinal | 315
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1. Lima (2006:624).
2. Grudem (1999:974).
3. Idem.
4. Erickson (1997:505).
O Doutrinal | 317
me enviou, tem a vida eterna, e não entrará em condenação, mas passou da morte
para a vida ( Jo 5:24). Como essa é uma escolha que deve ser feita enquanto
o indivíduo vive, cada um poderá mudar o final de sua história, optando por
não ser condenado. Para aquele que fizer isso, temos outra promessa: Por-
tanto agora nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus (Rm 8:1).
3. Quando ocorrerá o julgamento? A Bíblia ensina que há um juízo
logo depois da morte física da pessoa: E, assim como aos homens está ordena-
do morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo (Hb 9:27 – grifo nosso).
Tão logo morre, a pessoa já é, de imediato, julgada inocente ou culpada
pelo justo juiz. Se morreu com Cristo, ela é inocentada. Desde então, a co-
roa da justiça lhe está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, lhe dará naquele
dia (2 Tm 4:8a). Mas se ela morreu sem Cristo? É condenada, porque não
creu no nome do único Filho de Deus ( Jo 3:18). Ninguém escapa desse
juízo divino (Ec 12:14).
Todavia, o resultado concreto desse julgamento permanente e irrevo-
gável será conhecido em momentos diferentes: os justos, tanto os que fo-
ram ressuscitados quanto os que foram transformados, antes do milênio,
saberão do veredito divino por ocasião da segunda vinda de Cristo; os
ímpios, logo depois do final do milênio. Após o fim dos mil anos, todos
os ímpios serão ressuscitados e postos em pé diante do trono (Ap 20:12a). A
Escritura diz, na sequência: Então, se [abrirão] livros. Ainda outro livro, o
Livro da Vida, [será] aberto (Ap 20:12b). Esse julgamento dos ímpios é o
que chamamos de juízo final, justamente porque depois dele não há mais
julgamento algum, ele é o último.
Acreditamos que o juízo final deverá ocorrer depois do milênio pelas
seguintes razões: 1) Será realizado, principalmente, para os maus; 2) por
esse tempo, os ímpios ressuscitarão (Ap 20:5) e conhecerão a sentença que
lhes cabe por terem rejeitado Jesus Cristo quando tiveram a oportunidade
de aceitá-lo. Antes do julgamento, porém, os ímpios, uma vez ressuscita-
dos, serão mobilizados por Satanás para uma batalha contra Deus e contra
os santos de Deus. Frustrados nessa tentativa, terão de enfrentar, logo de-
pois, o juízo de Deus.
4. Quem será o juiz, no julgamento? Nesse julgamento, Jesus Cristo
é o juiz. Hebreus 12:23 diz que Deus é o juiz de todos; outras passagens
bíblicas, porém, mostram que Deus, o Pai, delegou essa autoridade ao Fi-
5. Idem, p.506.
O Doutrinal | 319
É com boas ações que demonstramos que amamos a Deus e estamos
agradecidos a ele pela salvação que nos deu, através de seu Filho Jesus Cris-
to. O padrão segundo o qual essas obras serão avaliadas é a vontade de Deus
revelada. Para julgar, Cristo usará a sua própria palavra. Aquele que der
ouvidos à sua palavra e crer que ele é o enviado de Deus tem a vida eterna, e
não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida ( Jo 5:24). Aos que
pensavam que poderiam manter um bom relacionamento com Deus, o Pai,
mesmo rejeitando a Cristo, este disse: Quem me rejeitar a mim, e não receber
as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que eu tenho pregado, essa o
há de julgar no último dia ( Jo 12:48).
A palavra de Deus é a norma de conduta para todos os homens (cf.
Ec 12:13-14; Mt 19:16-17; Jo 12:48-50; Rm 2:11-13). Quanto mais clara
for a nossa visão da vontade de Deus para conosco, maior será o grau de
responsabilidade que temos perante ele, no dia do juízo. Todavia, mesmo
aqueles que nunca ouviram explicitamente nada a respeito da lei de Deus
serão julgados: Todos aqueles que pecam sem conhecer a lei de Deus se perderão
sem essa lei, mas todos os que pecam conhecendo a lei serão julgados por ela (Rm
2:12 – NTLH). O que esse texto está mostrando é que existe um grupo de
pessoas que nunca receberam o conhecimento da lei de Deus, isto é, a lei
nunca lhes foi revelada. Mas todo ser humano tem alguma noção de certo e
errado. Sendo assim, os que não têm a lei se perderão, mesmo nunca tendo
conhecido a lei.
6. Qual o propósito do julgamento? O principal propósito do julga-
mento é, entre outros, punir os culpados, premiar os justos e tornar oficial
a separação entre estes e aqueles. Quando isso acontecer, então se cumprirá
o que foi dito pelo profeta Malaquias: ... vereis outra vez a diferença entre o
justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve (Ml 3:18). O pró-
prio Jesus demonstrou isso, em passagens do Novo Testamento, tais como:
Mt 13:24-30, 25:31-32. No primeiro texto, Jesus trata da separação entre o
trigo e o joio; no segundo, da separação entre as ovelhas e os cabritos. Em
ambos os textos, os elementos usados são simbólicos.
Durante suas vidas, é possível que muitos dentre os justos e injustos
tenham estado bem próximos uns dos outros: trabalhando numa mesma
empresa, estudando numa mesma escola, morando debaixo de um mesmo
teto, dormindo num mesmo quarto e sobre uma mesma cama, fazendo suas
refeições a uma mesma mesa, ou, quem sabe, num mesmo prato, apesar de
1. Creia: O juízo final nos traz, ainda mais, a certeza de que Deus é infalível.
Com a realização do juízo, Deus terá cumprido uma de suas promes-
sas mais frequentes. E as promessas de Deus não falham. Ele não é homem
para que minta (Nm 23:19a). Dele está escrito: Assim será a palavra que sair
da minha boca: ela não voltará para mim vazia; antes fará o que me apraz, e
6. Grudem (1999:980).
7. Couch (2009:700).
O Doutrinal | 321
prosperará naquilo para que a enviei (Is 55:11). O nosso Deus é o Deus da
verdade (Sl 31:5, 119:160). Não precisamos recorrer a muitos textos das Es-
crituras para provarmos que Deus e sua palavra são infalíveis. E é assim que
precisamos crer nele. Deus cumprirá a sua promessa de juízo. Portanto, as
pessoas que se deleitam na prática do adultério, da corrupção, da feitiçaria,
da idolatria, da ira, do homicídio, da maledicência etc. serão julgadas por
Deus. Ele é infalível!
2. Creia: o juízo final nos traz, ainda mais, a certeza de que Deus é justo.
O juízo final é a manifestação suprema da justiça de Deus, ou seja, é
uma das formas de Deus revelar a sua justiça. O dia do juízo, portanto, é
um dia de prestação de contas, no qual cada pessoa deverá receber de Deus
a retribuição correspondente ao que fez por merecer, durante sua vida. Há,
inclusive, por parte de muitos humanos, uma consciente expectativa nesse
sentido. É através do julgamento que se cumprirão as palavras da Escritura,
que dizem: ... Porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará (Gl 6:7).
Se não houvesse juízo, como isso ficaria provado?
3. Creia: o juízo final nos traz, ainda mais, a certeza de que Deus é gracioso.
O juízo final provará não apenas que Deus é infalível e justo, mas tam-
bém que ele é gracioso. O juízo final é feito não somente para punir e
castigar os maus; é feito também para premiar os bons. Toda pessoa justa
tem a esperança de que, em algum momento, receberá do Senhor a coroa da
vida. O justo, quando do juízo, terá a certeza de que valeu a pena levar uma
vida de resignação, em obediência a Deus e à sua palavra. O Deus a quem
servimos é o Deus que vê e valoriza o que cada um faz de bom, e a ninguém
deixa sem a devida recompensa.
Conclusão
Falamos sobre o juízo final e do que acontecerá depois dele. Esperamos
que, como resultado das reflexões feitas em torno desse tema, você tenha se
conscientizado melhor a respeito dele. Tudo o que Deus nos revelou a res-
peito tem como objetivo a nossa preparação para aquele dia. Nenhuma pes-
soa deverá encarar esse acontecimento sem estar devidamente preparada.
Paulo adverte: Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia
agora, a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam; porquanto tem
01. Leia Isaías 2:12, 13:6, 9; Joel 1:15, 2:1,11; Sofonias 1:7,14
A. O que ensina a doutrina do juízo final?
B. Essa doutrina tem base bíblica? O que os antigos profetas disseram
a respeito do juízo final?
O Doutrinal | 323
B. Embora saibamos que o julgamento de Deus já acontece no momento
da morte de cada pessoa, quando serão conhecidos os resultados
desse julgamento? Quando os justos e os injustos receberão o
veredito final? Leia Ap 20:4-6,12.
05. Leia Hebreus 12:23; João 5:22-24; Atos 10:42 e 1 João 2:1-2
A. Quem será o juiz, no julgamento?
B. Por que, hoje, Jesus Cristo é advogado, mas, naquele dia, será juiz?
06. Leia Apocalipse 20:13; Efésios 2:10; João 12:48 e Romanos 2:12
A. Qual será a base do julgamento final?
B. As pessoas que conhecerão a lei de Deus e a Bíblia poderão ser
inocentadas, no juízo final?
Anotações
A origem e a
extinção da maldade
Introdução
No estudo anterior, tratamos sobre o juízo final. Procuramos responder
as seguintes perguntas: Por que ocorrerá o julgamento? Quem participará
deste? Quando ocorrerá? Quem será o juiz? Qual a base desse julgamento?
Qual é o seu propósito? Conforme estudamos, o juízo final constitui-se um
dos últimos atos constantes do drama representado pelo pecado, pois, após
a sua execução, será determinado, de maneira total e definitiva, o destino
final de cada pessoa. Por isso, de alguma maneira, o presente estudo é uma
continuação do anterior, pois tratará, com mais detalhes, do destino de to-
dos aqueles que praticam a maldade.
Mesmo vivendo em meio a sequestros, assassinatos, estupros, roubos,
infortúnios, adversidades, calamidades, pestes e coisas parecidas, quase to-
dos os seres humanos sonham com um mundo melhor, independentemente
de serem cristãos ou não. Será possível, um dia, o fim de toda maldade?
Aliás, por que existe tanta maldade no mundo? Onde esta se originou?
O presente estudo trata justamente dessas questões. Veremos a origem da
maldade e saberemos, também, que a sua destruição final e total já está cla-
ramente sentenciada por Deus. O último capítulo da história da maldade,
nesta presente era, virá, abrasador como fornalha, (...) e todos os que cometem
maldade, serão como palha... (Ml 4:1).
O Doutrinal | 325
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1. Chaffer (1986:369).
2. Idem, p.363.
3. Grudem (1999:335).
O Doutrinal | 327
Descendo à terra, conseguiu afastar, com astúcia, os primeiros seres hu-
manos da comunhão com Deus. Com isso, conseguiu atingir toda a raça
humana, fazendo com que a maldade se instalasse na terra. Mas como ele
conseguiu isso? Como sabemos, o Senhor havia submetido o primeiro casal
a uma prova de obediência. Essa prova consistia em o casal abster-se de
comer do fruto da árvore da ciência do bem e do mal, se quisesse continuar
vivendo. A ordem dada por Deus foi a seguinte: De toda a árvore do jardim
comerás livremente; mas da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás;
porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás (Gn 2:16-17). Então,
Satanás, usando a serpente, enganou o casal, levando-o à desobediência à
palavra de Deus.
A queda de nossos primeiros pais marcou, aqui na terra, o início do
conflito entre as forças do bem e as do mal. Foi o próprio criador que,
depois de atribuir um tipo de punição a cada um dos envolvidos naquele
episódio, disse, no tocante à serpente e à mulher: E porei inimizade entre ti
e a mulher e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe
ferirás o calcanhar (Gn 3:15). A partir daí, estava declarada a guerra entre
Deus e Satanás – dois poderes bem diferentes: um maior (Deus) e o outro
assustadora e infinitamente menor (Satanás).
O mal, representado por Satanás e seus seguidores, uma vez estabe-
lecido na terra, passou a operar através dos séculos, tendo como objetivo
dificultar e destruir a obra de Deus. Faz isso especialmente tentando as
pessoas. Seu maior intento é roubar, matar e destruir os seres humanos ( Jo
10:10). Jesus Cristo teve de lutar contra essas forças do mal (Mt 4:1-11), e
seus apóstolos nos advertiram a respeito dessa luta (Ef 6:10-17). São seres
poderosos, ardilosos e influentes, mas a sua atuação é sempre limitada pela
soberania de Deus (Mt 12:29; Ap 20:2). Além do mais, sendo fortalecidos no
Senhor e na força do seu poder (Ef 6:11), podemos resistir-lhes firmemente.
Porém, mesmo a despeito desta luta, nossa grande alegria e esperança é a de
sabermos que um dia toda a maldade deixará de existir.
2. O fim de toda maldade: O sonho de um final feliz para todas as coi-
sas não uma invenção. A “terra celeste por vir”, cantada por muitos, chegará!
A Bíblia afirma que ali não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem
dor (Ap 21:4). O fim da maldade na terra é apenas uma questão de tempo.
A nossa luta contra essas hostes da maldade não é uma luta sem fim. A Bí-
blia nos garante que o príncipe deste mundo já está julgado ( Jo 16:11b) e que o
O Doutrinal | 329
saparecerão, sim, como fumaça se desfarão (Sl 37:20). O diabo também será des-
truído, pois Jesus veio a este mundo também com esse objetivo (Hb 2:14).
Mas o que dizer dos textos que trazem a ideia de um sofrimento eter-
no? Por exemplo, Isaías 66:24 não trata de um fogo que “nunca se apaga”?
Não existe um grupo de pessoas para o qual Jesus dirá no último dia: afas-
tai-vos de mim para o fogo eterno, de acordo com Mt 25:41? Neste mesmo
capítulo, no versículo 46, Jesus não disse: E eles irão para o castigo eterno, mas
os justos irão para a vida eterna? E quando Jesus fala de inferno de fogo? (Mt
5:22, 29-30; 18:8-9). Será que essa afirmação não é base para dizermos que
existe um inferno onde pessoas ficam queimando o tempo todo? E quanto a
esse “lago de fogo e enxofre” onde o diabo, a besta, o falso profeta e todos os
ímpios serão lançados, de acordo com Ap 19:20; 20:10; 21:8? A Bíblia não
diz que o tormento ali é eterno? Consideremos rapidamente esses textos.
Comecemos com Isaías 66:24. Neste texto, devemos observar que não
se trata de uma descrição de tormento eterno, mas de completa destruição;
afinal, os justos vão observar “cadáveres”, não pessoas vivas. O “verme” é uma
prova disso. Este só se encontra em corpos mortos; apressa a decomposição
destes; representa o desprezo dos cadáveres, que não serão dignos nem mes-
mo de um sepultamento. O “fogo que não se apaga” é uma descrição que
está presa a um contexto. Na Palestina, para manter um fogo aceso, a fim de
queimar um cadáver, era preciso um esforço considerável. Os cadáveres não
queimavam prontamente. O fogo que não se apaga é um fogo que é constan-
temente alimentado, a fim de que o cadáver seja completamente consumido.
Então, a expressão “o fogo que não se apaga” traz a ideia de algo que queima
ou consome completamente. O texto trata de “‘corpos dos mortos’ que são
consumidos, e não de almas imortais que são eternamente atormentadas”.5
Quanto ao “fogo eterno” e ao “castigo eterno”, citados por Jesus, preci-
samos levar em conta o uso da palavra eterno, que é a tradução da palavra
grega aiônios. Esse termo, muitas vezes, é usado não para se referir à duração
de algo, mas aos seus resultados permanentes. Em Judas 7, temos um exem-
plo comprobatório dessa afirmação: Sodoma e Gomorra (...) foram postas como
exemplo, sofrendo a pena do fogo eterno. Neste texto, “eterno” não se refere à
duração; afinal, Sodoma e Gomorra não estão queimando até os dias de
hoje. O fogo foi eterno em seus resultados ou efeitos, isto é, as cidades fo-
5. Bacchiocchi (2007:191).
6. Idem, p. 199.
7. Oliveira (2008:65).
O Doutrinal | 331
quais habita justiça (2 Pd 3:13b), não mais o diabo, o falso profeta, a besta, a
morte, o inferno, o ímpio. Sendo assim, não se atormente por causa daquele
que anda em derredor, como leão que ruge (1 Pd 5:8b). Seja apenas vigilante e
resistente (1 Pd 5:8-9). E, de igual modo, não se indigne por causa dos mal-
feitores, nem tenha inveja dos que praticam a iniquidade (Sl 37:1), pois eles
dentro em breve definharão como a relva e murcharão como a erva verde (v.2).
Apenas confie no Senhor e faça o bem (v.3).
Conclusão
Mesmo convivendo com desgraças, perdas, misérias, dificuldades, in-
fortúnios, privações, todo ser humano sonha com uma vida melhor no fu-
turo. Afinal, foi o próprio Deus que pôs a eternidade no coração do homem
(Ec 3:11). O ser humano não é capaz de descobrir e entender tudo aquilo
que Deus fez; entretanto, Deus lhe deu a capacidade de perceber além das
ocorrências diárias da vida. Por isso, todos nós, de alguma forma, sabemos
que haverá um final feliz. A história do mal no mundo já acumula vários
capítulos, mas, conforme ensina a Bíblia, o fim da maldade virá.
Satanás, seus anjos e todos os ímpios serão banidos eternamente. Con-
forme estudamos, isso acontecerá após o milênio. O próximo estudo, o últi-
mo deste Doutrinal, tem por título A nova terra: o lar dos remidos. Nele, vere-
mos a continuação da história final deste presente estado de coisas. Uma vez
banido todo mal, será instaurado definitivamente um tempo de felicidade
e eterna paz. Numa terra totalmente restaurada, viveremos para sempre ao
lado do Senhor. Como será esse lugar? Quem são as pessoas que irão morar
ali? Quais serão as atividades nessa nova terra? Confira no próximo estudo.
O Doutrinal | 333
02. Leia Ezequiel 28:15 e Isaías 12:14
A. O que foi achado no coração de Lúcifer? Quais eram suas
pretensões arrogantes?
B. Comente o significado do termo “semelhante ao altíssimo”.
05. Leia Apocalipse 20:7-10, 14-15, 21:8; Salmo 37:10, e Malaquias 4:1
A. Q uando acontecerá a destruição final de toda maldade? Onde os
maus serão jogados?
B. Podemos ver, no lago, um lugar de tortura eterna? O Senhor
atormentará eternamente Satanás, seus demônios e os ímpios ou os
aniquilará completamente?
Falta a página de
anotações
A nova terra,
o lar dos remidos
Introdução
No estudo anterior, ocupamo-nos com a origem e a extinção da mal-
dade. Por meio daquele estudo, aprendemos, nas Escrituras, que o mal
originou-se no céu, de onde foi transferido para a terra. Aqui, Satanás, o
tentador, conseguiu influenciar o primeiro casal e, enganando-o, prejudi-
cou a todos os demais seres humanos (Rm 5:12). Deus enviou seu Filho
ao mundo para salvar os pecadores arrependidos e determinou um dia em
que há de julgar e punir aqueles que rejeitaram a graça que lhes ofereceu
em Jesus. O juízo determinará o destino final do pecado e dos pecadores
impenitentes, assim como de toda maldade.
O presente estudo trata da nova terra, que, depois de restaurada e puri-
ficada por Deus, está destinada a ser a morada dos salvos. A vida eterna para
estes não começa aqui, mas, sim, a partir dos mil anos de descanso no céu.
Mas o céu não é o lugar onde os salvos devem permanecer, uma vez que,
depois dos mil anos, todos serão trazidos à terra, para, aqui, serem estabele-
cidos para sempre. Foi isso o que procuramos mostrar nos últimos estudos
ministrados neste livro. O nosso sincero desejo é que o estudante tire deste
estudo o melhor proveito possível.
O Doutrinal | 335
I Verificando a doutrina na palavra de Deus
1.Beltran (2010:27).
Pedro, em sua segunda carta, diz que aguardamos novos céus e nova terra,
nos quais habita a justiça (3:13). A palavra-chave deste versículo é “aguarda-
mos”, que significa “aguardar com grande expectativa”. Essa palavra descre-
ve uma atitude de empolgação. Nesse lugar, “habita a justiça”. Tal expressão
aponta para o estabelecimento total da santidade de Deus. A justiça, que
agora é uma forasteira neste mundo cheio de injustiças, “finalmente obterá
residência fixa na nova criação. Será estabelecida para sempre ali. Será a
proprietária e a dona-de-casa, e não uma mera hóspede”.2
Os céus e a terra, uma vez renovados, tornar-se-ão a habitação dos
salvos: no céu, eles viverão por um período de um mil anos; na terra, depois
desse período, viverão por toda a eternidade. Quanto às condições que pre-
valecerão na terra depois da descida da igreja com a nova Jerusalém, tudo
ainda está muito embrionário para que se possa dizer alguma coisa a respei-
to. O que nos foi revelado na Escritura é que, quando tudo isto acontecer,
então se cumprirão as palavras proféticas: Eis aqui o tabernáculo de Deus com
os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo e o mesmo Deus estará
com eles e será o seu Deus (Ap 21:3).
A linguagem humana é demasiadamente pobre para traduzir com pa-
lavras, tudo o que de belo e maravilhoso Deus reservou para aqueles que
tiverem a felicidade de chegar ali: Olho nenhum viu, ouvido nenhum ouviu,
nem jamais o coração do homem percebeu, as coisas maravilhosas que Deus pre-
parou para aqueles que o amam (1 Co 2:9). Não há método de apreensão
acessível ao homem “(olhos, ouvido ou entendimento) que lhe possa dar
qualquer ideia das coisas maravilhosas que Deus tem pronto para aqueles
que o amam”.3 Não duvide: haverá novos céus e nova terra!
2. Características da nova terra: Sabemos bem pouco sobre as condi-
ções que prevalecerão na nova terra, depois do milênio. Porém, o que sabe-
mos é suficiente para nos dar uma ideia de como será. Em primeiro lugar,
não haverá maldição contra alguém. Em Ap 22:3-5, temos informações do
que existirá e do que não existirá. Esse texto nos afirma que, ali, ninguém
ousará dizer mal contra outrem. Todos viverão em plena harmonia. Desa-
venças e desentendimentos jamais existirão. Ali, ninguém proferirá mentira
ou sofrerá os danos causados por ela.
2. Champlin (1979e:212).
3. Morris (1981:45).
Sobre a harmonia, há uma promessa de Deus ao antigo Israel que irá
se cumprir na nova terra: E morará o lobo com o cordeiro, e o leopardo com o
cabrito se deitarão, e o filho de leão e a nédia ovelha viverão juntos e uma criança
pequena os guiará (Is 11:6). E mais: O lobo e o cordeiro se apascentarão juntos,
e o leão comerá palha com o boi (...). Não farão mal nem dano algum em todo o
monte da minha santidade, diz o Senhor (Is 65:25). Mesmo sendo simbólicas,
essas expressões dão-nos uma ideia do clima de paz que reinará entre os
habitantes da nova terra.
Em segundo lugar, lá estará o trono de Deus e do Cordeiro. A presença
do trono de Deus e do Cordeiro, na nova terra, e especialmente na cidade,
é a garantia de um governo de justiça e paz, pois justiça e juízo são a base do
seu trono (Sl 97:2). Todos aqueles que, como servos do Senhor, já sofreram,
neste mundo, com a falta de justiça, ali, jamais sofrerão em decorrência
disso, porque o Deus de justiça tem o seu trono estabelecido no meio deles,
estará sempre com eles e será o seu Deus. Como será maravilhoso viver tão
perto de Deus!
Em terceiro lugar, na nova terra, não haverá clamor, nem dor nem morte.
O fato de sabermos que, na nova terra, não haverá sofrimento encoraja-nos
a enfrentarmos, aqui, qualquer adversidade. Sob o presente sistema, nada
marca mais presença que o sofrimento. Costuma-se até dizer que a própria
morte não seria tão temida, se não fosse o sofrimento causado pelas doen-
ças que quase sempre a precedem. Não só as doenças causam sofrimento.
Há uma grande variedade de sofrimentos, que desgastam, debilitam, depri-
mem, angustiam e podem levar à morte. Ali, não haverá clamor, nem dor,
nem morte, porque não haverá pecado.
Em quarto lugar, na nova terra, não haverá noite. Aqui, temos uma das
características da cidade, não da terra toda, pois está escrito:
... a cidade não necessita de sol nem de lua para que nela res-
plandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o Cor-
deiro é a sua lâmpada (...). E as suas portas não se fecharão de
dia, porque ali não haverá noite (Ap 21:23,25)
4. Dagg (2003:288).
nhor, digno de honra (Is 58:13). Nele, periodicamente, virão os fiéis de toda
a nova terra à nova Jerusalém, para adorarem ao Senhor, assim como, em
escala bem menor, faziam as tribos de Israel, no passado, nas celebrações
especiais, como as da páscoa, do pentecostes etc. Jerusalém será a capital
da nova terra, o centro de adoração para todos os remidos. Todos os salvos
terão acesso a essa cidade. Visitá-la será um grande prazer.
Sobre a nova Jerusalém, é importante que nos refiramos a algumas de
suas características. A cidade não necessita da luz do sol, nem da lua. O
Cordeiro, refletindo a glória de Deus, a alumia. Ali, as ruas são de ouro e os
muros de jaspes luzentes, as mansões são ornadas de pedras preciosas. Os
fundamentos, em número de doze, são ornados com todo o tipo de pedras
preciosas; as portas, também em número de doze, cada uma é constituída
de uma pérola. Lá, não há templo, porque o seu templo é o Senhor Deus Todo-
-Poderoso, e o Cordeiro. A praça da cidade é de ouro puro, como vidro trans-
parente (Ap 21:19-21). Todas essas são descrições simbólicas para mostrar
a grande beleza e esplendor da cidade.
À vista de tudo o que temos dito, qual é a expectativa que temos com
relação ao futuro? Temos colocado o nosso coração nas coisas que dizem
respeito a Deus, ou temo-nos deixado levar pelos interesses do mundo, ao
ponto de perdermos de vista o alvo de nossa vocação? Deixamos aqui o
grande anseio do apóstolo Pedro: Nós, porém, segundo a sua promessa, espera-
mos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça (2 Pd 3:13). Que esta seja,
também, a nossa grande esperança!
1. Confie: A nova terra, o lar dos remidos, será um lugar de felicidade plena.
Tudo o que tenhamos imaginado, até agora, sobre felicidade, não se
pode comparar com o que Deus tem preparado para aqueles que lhe são
fiéis. Leia o que Paulo diz: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu e
não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para aqueles que o
amam (1 Co 2:9). Ainda esta afirmação do apóstolo: Porque para mim tenho
por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória
que em nós há de ser revelada (Rm 8:18). São essas as mensagens de esperan-
ça que Deus tem para nós. O final de nossa história será feliz.
2. Confie: A nova terra, o lar dos remidos, será um lugar de comunhão plena.
Ali, na nova terra, o nosso relacionamento será perfeito: com Deus (1
Jo 1:3b), com os nossos irmãos (1 Jo 1:7) e com a natureza (Is 11:6-9). Esse
relacionamento, de certa forma, já foi prefigurado pelo modo de viver dos
primeiros cristãos (At 2:42). Mas, na nova terra, será praticado com mais
intensidade. O individualismo, que o apóstolo Paulo tanto combateu (Fp
2:3-5), não existirá ali. O que, de fato, vai prevalecer é o espírito comunitá-
rio. Quem ainda não aprendeu a fazer isso, deve começar desde já.
3. Confie: A nova terra, o lar dos remidos, será um lugar de santidade plena.
Na nova terra, tudo é especial. Portanto, é de se esperar que só pessoas
especiais tenham acesso a esse lugar. Uma das qualidades exigidas daqueles
que querem entrar ali é a santificação. Na parábola da grande ceia (Mt
22:11-13), temos uma ideia de como o Senhor tratará aqueles que querem
ter acesso a esse novo mundo, sem estarem devidamente preparados. Lugar
como esse o Senhor reservou tão somente a um povo seu especial, zeloso e de
boas obras (Tt 2:14). O conselho bíblico para nós é este: Segui a paz com
todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12:14). Sejamos
santos, se quisermos fazer parte da nova terra.
Conclusão
A nova terra, a respeito da qual temos falado neste estudo, é o lar que
Deus tem preparado para aqueles que o amam. É o cumprimento da pro-
messa de Cristo aos seus discípulos, no último dia de convivência pessoal
com eles: Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito.
Pois vou preparar-vos lugar ( Jo 14:1-2). É o desfecho da história de lutas pe-
las quais tem passado o povo de Deus, aqui na terra. É o fim da caminhada,
através dos desertos deste mundo, e a chegada à terra prometida.
É com essa visão que chegamos ao fim desta série de estudos nos
quais foram apresentados, de maneira resumida, todos os artigos de fé
que têm norteado nossa conduta cristã até agora. O espaço delimitado
para a apresentação de cada um deles não nos permitiu uma abordagem
mais abrangente. Esperamos, porém, que a forma como foram discutidos
tenha contribuído para uma melhor compreensão das doutrinas bíblicas,
por parte do estudante, pois foi esse o alvo principal das nossas atenções,
do princípio ao fim desses estudos. Se isso, de fato, acontecer, nós nos
daremos por recompensados.
03. Leia Romanos 8:22-23; 1 Coríntios 2:9; 2 Pedro 3:13; Apocalipse 21:3
A. Por que a terra e o céu precisam passar por essa reforma feita por Deus?
B. O utro motivo para essa reforma é que a terra será a habitação perene
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