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Orientadora:
Prof.ª Dra. Cláudia Carioca
Presidente Prudente - SP
2016
SEMINÁRIO MARTIN BUCER
CURSO AVANÇADO DE TEOLOGIA
Orientadora:
Prof.ª Dra. Cláudia Carioca
Presidente Prudente - SP
2016
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.............................................................................................................3
4 CONCLUSÃO.........................................................................................................20
5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................21
INTRODUÇÃO
1
Reformado é um conceito usado historicamente para as igrejas da reforma do séc. XVI
influenciadas por Zwinglio e Calvino diferenciando das igrejas luteranas. Essa diferença girou em
torno da compreensão sobre a presença de Cristo na Ceia do Senhor. Hoje, usa-se o termo
reformado para conceituar quem crê nos brados da reforma (Sola Scriptura, Sola Fide, Sola Gratia,
Solus Christus e Soli Deo Gloria, respectivamente, somente as Escrituras, somente a fé, somente a
graça, somente Cristo, somente Deus toda a glória). Os reformados são conhecidos também pela
crença nas doutrinas da graça ou chamados “cinco pontos do calvinismo” (acrostico em inglês TULIP
– Total depravation, Inconditional election, Limited atonement, Irresistible grace, Perseverance of
saints, respectivamente Depravação total, Eleição incondicional, Expiação limitada, Graça irresistível,
Perseverança dos santos) elaborados no Sínodo de Dort na Holanda em 1619 em resposta aos cinco
pontos do arminianismo, ou mais delimitadamente conhecidos pela crença na doutrina da eleição e
predestinação.
1. O QUE É ELEIÇÃO À LUZ DO TEXTO BÍBLICO?
2
Culver cita A.A. Hodge, Oulines of Theology Grand Rapids, MI: Eerdmans Publ; 1957, p
215.
2. A BÍBLIA SAGRADA E A DOUTRINA DA ELEIÇÃO.
3
O autor do artigo se reserva no direito de citar aqui o Cânon sagrado protestante. Os
leitores da ICAR certamente protestarão porque a coleção de seus livros incluem os
deuterocanônicos ou livros apócrifos.
Quando a Bíblia Sagrada fala a respeito de Esdras, no capítulo 7 de seu
livro, observam-se três características em sua vida: (1) Ele queria aprender mais
sobre o Senhor e sobre as Sagradas Escrituras. Na época a Torá. Esdras tinha a
disposição para além de aprender, (2) viver a palavra de Deus, cumprindo em seu
dia a dia e finalmente tinha por certo o desejo de (3) ensiná-la ao seu povo.
O leitor pode estar se perguntando: “Por que devo investir meu tempo
procurando aprender sobre a eleição segundo a Bíblia?”. Sturz relata que:
(2) Ela se toma evidente na vida (lTs. 1.4). Isso não significa que
alguém tenha o direito de se achar melhor do que alguém. Os eleitos tem a
evidência da graça de Deus sobre suas vidas. Deve ser evidente no passar dos dias
que eles pertencem ao Senhor.
4
Obtenção do significado de uma passagem bíblica ao extrair o significado do próprio
texto, em vez de inseri-lo ali.
(3) Ela é soberana e incondicional; isto é, não está condicionada em
obras predeterminadas nem em fé prevista (ICo. 1.27,28; 4.7; Ef.
1.4;2.8). “...pelo contrário, Deus escolheu as coisas loucas do mundo para
envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as
fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas
que não são, para reduzir a nada as que são; (1Co. 1:27-28 ARA). Observa-se, que
a escolha é de Deus. Quem ele escolhe é decisão unicamente dele, não de méritos
que possamos ter ou desenvolver em algum momento. Observe essa verdade com o
seguinte texto: “Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas
recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias, como se o não tiveras
recebido?”. (1Co. 4:7 ARA) O que o cristão tem em suas mãos que não tenha vindo
de Deus? A Bíblia declara toda glória ao Deus trino. Pai, Filho e Espírito. (Sl. 115:1)
(4) Ela é justa (Rm. 9.14,15). “Que diremos, pois? Há injustiça da parte
de Deus? De modo nenhum! Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me
aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão”.
(Rm. 9:14-15 ARA) O termo de quem me aprouver denota novamente a soberania
de Deus em ser justo e ele mesmo escolher dentre uma massa caída alguns para a
salvação. Ainda que haja contestações referentes à “bondade de Deus” o texto
bíblico não permite outra interpretação. Igualmente, Sam Storms diz:
Se analisado alguma outra maneira, outro modo de “justiça” que não seja
essa. Ainda se chamaria justiça? O ser humano conseguiria escolher melhor?
5
Seguidor do “Arminianismo”, que nega a predestinação e a eleição incondicional.
(5) Ela não se limita aos gentios; em cada era um remanescente dos
judeus também está incluído (Rm. 11.5). “Assim, pois, também agora,
no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça.
(Rom 11:5 ARA). Segundo a graça de Deus, o mesmo Deus não esqueceu do povo
de Israel, outrora eleito para ser representante do amor e do poder de Deus sobre a
terra. Hoje participante, assim como todos os demais eleitos, da graça maravilhosa
de Cristo que alcança aqueles que o Senhor desejou salvar.
6
A lista de eventos em que Deus aplica a salvação às vezes é chamada pela frase em
latim, “Ordo Salutis”, que significa "ordem da salvação".
(7) Ela afeta a vida em todas as suas fases. Não é abstrata. Embora a
eleição faça parte do decreto de Deus desde a eternidade, toma-se uma força
dinâmica no coração e na vida dos filhos de Deus. A eleição produz frutos tais
como a adoção de filhos, a vocação ou chamamento, a fé, a justificação, etc.
Veremos ainda nesse trabalho quais são os efeitos da eleição na vida do crente. Por
isso a introdução da Ordo Salutis, para estabelecer o conceito de que existe todo um
processo que se inicia a partir da eleição incondicional.
(8) Ela diz respeito a indivíduos (Rm 16.13; Fp 4.3; cf. At 9.15). “Saudai
Rufo, eleito no Senhor, e igualmente a sua mãe, que também tem sido mãe para
mim. (Rom 16:13 ARA). Rufo possuía o comportamento do crente eleito no Senhor.
Possuía as credenciais daquele que nasceu de novo devido a verdadeira conversão.
As mesmas características que Paulo vai endossar ao escrever aos Filipenses: “A ti,
fiel companheiro de jugo, também peço que as auxilies, pois juntas se esforçaram
comigo no evangelho, também com Clemente e com os demais cooperadores meus,
cujos nomes se encontram no Livro da Vida”. (Fp 4:3 ARA). Aqueles que são eleitos
possuem seus nomes escritos no Livro da Vida. E finalmente Lucas registra em Atos
a respeito do próprio Paulo: “Mas o Senhor lhe disse: Vai, porque este é para mim
um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem
como perante os filhos de Israel”; (At 9:15 ARA).
(9) Ela compreende esses indivíduos “em Cristo”, de modo que são
realmente considerados como um só corpo (Ef 1.4; 2Tm 2.10).
“...assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos
santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor (Ef 1:4 ARA) Os eleitos constituem
“um povo” escolhido, espalhado pelo mundo. “Por esta razão, tudo suporto por
causa dos eleitos, para que também eles obtenham a salvação que está em Cristo
Jesus, com eterna glória. (2Tm 2:10 ARA). Paulo tinha a responsabilidade sobre a
igreja de Cristo – como pastor – e vivia diante das necessidades e demandas dos
eleitos. Dessa forma, ser eleito não é ser perfeito, ser eleito é fazer parte do Corpo
de Cristo chamado igreja. Como igreja deve-se viver de maneira santa, graças ao
Espírito Santo para a glória de Deus.
(10) Ela não só é uma eleição para a salvação, como certamente
também é (como um elo na corrente) para o serviço (Cl 3.12).
“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de
misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade.
(Cl 3:12 ARA). Os eleitos devem ser revestidos ou seja, devem viver uma vida “de
dentro para fora” e “de fora para dentro” com os aspectos e comportamento dignos
de filhos de Deus. A igreja chama isso de “testemunho de vida cristã”.
(11) Ela é ensinada não somente por Paulo, mas também pelo
próprio Jesus (Jo 6.39; 10.11,14,28; 17.2,9,11,24). “E a vontade de quem me
enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o
ressuscitarei no último dia. (Jo 6:39 ARA) Os eleitos pertencem a Jesus. A escolha é
dele, bem como a obra e os “seus”. O apóstolo João, inspirado pelo Espírito Santo
continua registrando as palavras de Jesus que diz: “Eu sou o bom pastor. O bom
pastor dá a vida pelas ovelhas [...] Eu sou o bom pastor; conheço as minhas
ovelhas, e elas me conhecem a mim, [...] Eu lhes dou a vida eterna; jamais
perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão. (Jo 10:11,14,28 ARA)
(12) Ela tem como alvo principal a glória de Deus, e é obra do seu
beneplácito (Ef 1.4-6) “assim como nos escolheu, [...] em amor nos
predestinou para ele, [...] segundo o beneplácito de sua vontade, para louvor da
glória de sua graça, [...] (Ef 1:4-6 ARA). O senhor é glorificado, afinal ele venceu a
morte e o inferno, resgatou seu povo através do sacrifício do seu filho na cruz do
Calvário, todas essas etapas estavam implícitas antes da fundação do mundo
quando elegeu os seus. Como já apresentado na Ordo Salutis, a eleição é o fator
primário e essencial para toda a obra da salvação na vida da pessoa. Entretanto,
não é a pessoa eleita o alvo da glória, a glória pertence àquele que operou
poderosamente todo esse processo sobrenatural e impossível para o homem.
Sozinho o ser humano estaria totalmente perdido e arruinado devido a depravação
total do pecado.
3. A ELEIÇÃO E SEUS EFEITOS NA VIDA DO CRENTE.
3.2 O CHAMADO.
“Não pode haver salvação que não seja uma salvação da "carne", e
quando Ezequiel antevê o ato divino da regeneração, declara que
Deus "tirará de vós o coração de pedra e vos darei coração de carne"
(36.26). Nisto, ele deixa subentendido aquilo que Paulo declara: que
a carne se perverteu, e Deus planeja para a humanidade aquilo que
aprendemos a chamar de "ressurreição do corpo".(ELWELL, 2009,
235 p.)
Como disse Spurgeon em seu sermão sobre a Regeneração:
“[...] verdadeiros cristãos são como são porque foram regenerados, e cristãos
formais são como são porque não são regenerados. O coração do cristão foi
verdadeiramente mudado” .
Uma das mais incríveis bênçãos de Deus, que não poucas vezes é
subestimada pelos cristãos, por falta de ensino a respeito da mesma é a justificação
pela fé. O Catecismo de Westminster (VOS, 2007, 195 p.) na sua septuagésima
questão ensina que: “Justificação é um ato da livre graça de Deus para com os
pecadores, no qual Ele os perdoa, aceita e considera justas as suas pessoas diante
dele, não por qualquer coisa neles operada, nem por eles feita, mas unicamente
pela perfeita obediência e plena satisfação de Cristo, a eles imputadas por Deus e
recebidas só pela fé”. (Rm. 3:22-25, e 4:5; 2Cor. 5:19, 21; Ef. 1:6-7; Rm. 3:24, 25,
28, e 5:17-19, e 4:6-8, e 5:1; At. 10:43). Após a justificação em nossa vida, ocorre a
“adoção7” que é um ato da livre graça de Deus, em seu único Filho Jesus Cristo e
por amor dele, pelo qual todos os que são justificados são recebidos no número dos
filhos de Deus, trazem o seu nome, recebem o Espírito do Filho, estão sob o seu
cuidado e dispensações paternais, são admitidos a todas as liberdades e privilégios
7
Ibid, 209 p.
dos filhos de Deus, feitos herdeiros de todas as promessas e co-herdeiros com
Cristo na glória.
1 João 3:1; Ef. 1:5; Gal. 4:4-5: João 1:12; II Cor. 6:18; Apoc. 3:12; Gal.
4:6; Sal. 103:13; Mat. 6:32; Rom. 8:17.
Esse é o divisor de águas quando se observam nas sagradas escrituras
os termos: “Criação de Deus” e “filhos de Deus”. São seus filhos aqueles que lhe
pertencem, logo, aqueles que lhe pertencem são os que foram eleitos. Portanto,
santificai-vos e sede santos, pois eu sou o SENHOR, vosso Deus. (Lev 20:7 ARA)
São esses alguns dos efeitos na vida do eleito. Deve-se atentar para o
cuidado de Deus em cada “etapa” de suprir aos seus filhos tudo aquilo que os
mesmos precisam para concluir a obra que se inicia na eleição. É nobre reconhecer
que o ser humano é totalmente dependente de Deus em todas as coisas e que
somente Deus pode oferecer aos eleitos os meios pelos quais se alcança a vida
eterna.
4. CONCLUSÃO.
Conclui-se que a eleição à luz do texto bíblico é uma doutrina que faz
parte daquilo que a teologia também chama de “predestinação”, decorrente dos
decretos de Deus. Sobre isso Watson postula que:
Você não tem como tornar sua eleição ainda mais segura aos olhos
de Deus do que ela já tem sido por toda a eternidade, posto que nele
não há incertezas. Nada que Deus faz para o seu povo é deixado à
sorte ou sujeito a mudanças. Entretanto, o ponto para o qual desejo
que foque toda a sua atenção é que sua eleição pode ficar mais
evidente para você e sua igreja. Lute por essa certeza de que, como
João afirmou: Você conhece a Cristo! (1Jo. 2:3). Esforce-se para
viver nesse mundo de modo que todos saibam que você é um filho
de Deus e não duvidem de que você esteja indo para o céu. (RYLE,
1961, 8 p.)
8
Ibid, p 43.
REFERÊNCIAS
STURZ, Richard J.. Teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2012.
389 p.
VOS, Johannes Geerhardus. Catecismo maior de westminster
comentado. São Paulo: Os Puritanos, 2007. 195 p.