Introdução: Sobre o tema eleição e predestinação é
importante entendermos 03 coisas:
1º Coisa. Entender que existe a eleição e predestinação
ortodoxa e a heterodoxa.
Hoje, nos temos dois posicionamentos teológicos que
ensinam a doutrina da eleição e predestinação. Um grupo ensina a eleição e predestinação condicional e outro incondicional.
Os monergistas condicionais ou sinergistas ensinam a
eleição e predestinação condicional!
Os monergistas rígidos ensinam a eleição e
predestinação incondicional.
Então, qual posicionamento está correto? A posição
condicional ou incondicional? É isso que vamos tentar demonstrar hoje pra vcs!
2° Coisa. Entender qual doutrina é a ortodoxa e a
heterodoxa.
Para isso precisamos descobrir o que a ortodoxia
ensinou e ensina.
E o que é a ortodoxia?
A ortodoxia é tudo que é tradicional, ou seja, a
posição tradicional estabelecida ao longo do tempo. Portanto, a igreja cristã em toda a sua ortodoxia (tradição) que está registrada e documentada nos escritos dos pais da igreja (discípulos dos Apóstolos) é majoritária e unanimemente sinergista ou monergista condicional. Assim, a ortodoxia é o antônimo de heterodoxia, e heresia é o sinônimo de heterodoxia.
A importância da ortodoxia.
A vantagem do tempo.
Os primeiros cristãos tinham disputas com vários grupos
heterodoxos assim como temos hoje. As disputas com esse grupos heterodoxos (gnósticos, maniqueus, judaizantes etc.) eram para provar quem estava correto na interpretação bíblica.
Então, como os cristãos primitivos resolviam esse
problema? O critério usado por eles era qual era a posição mais antiga sobre o tema.
Tertuliano escreveu: “Eu digo que o evangelho que
ensino é o correto. Marciano [um mestre gnóstico principal] diz que o seu é o correto. Eu digo que o evangelho de Marciano se adulterou. Ele diz que o meu se adulterou. Bem, como podemos resolver esta disputa, exceto pelo fundamento de tempo? Segundo este fundamento, a autoridade a tem o que tem a posição mais antiga. Isto se baseia na verdade elementar que a adulteração está com aquele cuja doutrina originou mais recentemente. Já que o erro é a falsificação da verdade, e a verdade tinha que existir antes do erro.”
Esse é um dos critérios que vou tentar demonstrar pra
vcs hoje através da patrística.
3º Coisa. Entender a mecânica bíblica e ortodoxa da
eleição e predestinação.
Para isso temos que recorrer às escrituras e a
ortodoxia. O que a ortodoxia ensina?
Todos os Pais da igreja até o 5º século eram
sinergistas ou monergistas condicionais (atual Arminianismo) em sua soteriologia.
É a partir do 5º século, dos debates de Agostinho
contra Pelagio e Fortunato que, uma brecha é aberta para que pela primeira vez na história da igreja o monergismo rígido entrasse sutilmente no cristianismo. Mas a igreja foi rápida e condenou essas primeiras ideias nos 04 concílios seguintes.
Concílio de Arles 475 d.C.; Concílio de Orange 529
d.C.; Concílio de Quiersy 853 d.C.; Concílio de Valência 855 d.C..
O que poucos sabem é que nas disputas entre Agostinho e
Pelagio, os dois tiveram várias de suas posições condenadas. Muitos acham que só as ideias de Pelagio foram reprovadas, mas muitas inovações de Agostinho também foram reprovadas nos concílios seguintes.
Os debates se acirraram com Martinho Lutero e a reforma
protestante. O Lutero novo era Agostiniano e reinterpretou de modo errado e radical as ideias de Agostinho. O Lutero novo negava o livre-arbítrio, algo que Agostinho nunca fez! O Lutero novo era monergista rígido e só depois do estabelecimento da reforma e amadurecimento, tendo tempo para consultar a ortodoxia, entendeu que seu posicionamento estava completamente errado.
Agora, a coisa descambou mesmo com Calvino e seus
seguidores! Foi Calvino quem ampliou, reinterpretou e sistematizou o monergismo rígido a partir das novidades doutrinarias do Agostinho velho dos debates contra Pelagio e Fortunato. A partir dai começaram as discursões sobre livre- arbítrio, expiação limitada, graça irresistível, perseverança dos santos, depravação total, reinterpretação de vários textos, etc...
Antes de Calvino nunca houve tais discursões! Em
Agostinho houve alguns exageros nos debates, mas ele logo se retratou defendendo o livre-arbítrio.
Tudo isso que eu disse é reconhecido pelos próprios
calvinistas:
Norman Geisler reconhece que Agostinho (que havia sido
maniqueísta e foi convertido ao catolicismo romano) discordava dos Pais que o precediam no ensino da absoluta soberania de Deus.
Loraine Boettner, teólogo consagrado pelos calvinistas,
diz que “ele foi muito além dos primeiros teólogos”. E que “esta verdade fundamental do Cristianismo [referindo-se ao calvinismo] foi claramente percebida primeiro por Agostinho”.
O próprio Calvino, após uma tentativa fracassada de
buscar apoio para a sua doutrina da mecânica da Salvação nos Pais da Igreja, confessou decepcionado que “todos os escritores eclesiásticos, exceto Agostinho”, lhe eram “contrários” (Institutas, II, 2, 9).
Com exceção do Agostinho velho, nenhum teólogo
importante da patrística até a reforma sustentou essa ideia de uma eleição e predestinação incondicional. Na verdade, nem Agostinho sustentou, mas seu modo particular de interpretar certas passagens nos debates abriu essa brecha.
Foi por isso que Thomas Oden (teólogo Metodista) disse
que “a remonstrância representou uma reapropriação substancial do consenso patrístico oriental pré- agostiano”.
Portanto, as doutrinas calvinistas não tem apoio da
ortodoxia, assim elas são heterodoxas!
O que as escrituras ensinam? As Escrituras são
enfáticas e claríssimas que Deus estabeleceu condições para salvação!
Quais são as principais condições estabelecidas por
Deus? Fé, arrependimento, fidelidade.
Fé. João 3.16: Porque Deus amou o mundo de tal maneira
que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
Arrependimento. Atos 17.30: Mas Deus, não tendo em
conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam.
Fidelidade. Mateus 24.13: Mas aquele que perseverar até
ao fim, esse será salvo.
São centenas de textos!
Assim, se foi Deus quem estabeleceu, elas não são
meritórias!
Qual é a Mecânica da Eleição e Predestinação Bíblica.
Eu vou destacar 03 textos pra gente entender o processo
da eleição: Romanos 8.29-30: Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou.
Gálatas 3.8-9: Ora, tendo a Escritura PREVISTO que Deus
justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão.
1º Pedro 1.2: Eleitos segundo a presciência de Deus
Pai, em santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo: Graça e paz vos sejam multiplicadas.
Agora, o que é presciência? Transliterado do grego
prognōsis e proginōskō, significa “pré-conhecer, conhecer de antemão”.
Agora, o que Deus pré-conhece para nos eleger conforme
os textos lidos acima? Aqueles que atenderiam as condições estabelecidas por Deus antes da fundação do mundo.
Quais são as condições estabelecidas por Deus?
A básica e toda-suficiente condição é se a pessoa está
em Cristo. Se o indivíduo entrou para uma união salvífica com Cristo por meio da qual Ele compartilha de todos os benefícios da obra redentora de Cristo.
O instrumento para nos enxertar em Cristo é a fé!
Este é o significado de Ef 1.4, que diz: “Ele nos
escolheu Nele” – em Cristo – “antes da fundação do mundo”. Os eleitos são escolhidos em (έν) Cristo, isto é, porque eles estão em Cristo. Eles não são escolhidos para (έίς) Cristo, isto é, a fim de que eles possam estar em Cristo. Eles estão em Cristo antes da fundação do mundo, não na realidade, mas no pré-conhecimento de Deus.
A eleição dos que estão em Cristo preserva o caráter
cristocêntrico da predestinação.
Não deve ser esquecido que Jesus Cristo é o eleito de
Deus (Is 42.1; Mt 12.18) e que qualquer eleição redentora é Nele. Assim, a eleição é condicional, tudo depende de Cristo e dos graciosos benefícios da sua obra redentora.
É claro, existem também condições que se deve reunir a
fim de estar em Cristo, isto é, a fim de entrar em união redentora com Ele e permanecer nesta união (João 15.5-6).
Quais são as principais condições estabelecidas por
Deus?
Fé. João 3.16: Porque Deus amou o mundo de tal maneira
que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (Mc 16.16; Gl 3.26; Ef 3.17; Cl 2.12). Arrependimento. Atos 17.30: Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam. (At 2.38
Fidelidade. Mateus 24.13: Mas aquele que perseverar até
ao fim, esse será salvo.
São centenas de textos!
Assim, se foi Deus quem estabeleceu, elas não são
meritórias!
Estas condições não devem de forma alguma ser
interpretadas como meritórias da parte do homem, visto que elas são graciosa e soberanamente impostas pelo próprio Deus.
Assim, tendo definido estas condições para se estar em
Cristo, Deus pré-conhece desde o princípio quem irá e quem não irá reuni-las. Aqueles a quem ele pré-conhece como as reunindo são predestinados para a salvação.
Três coisas que precisamos entender:
1. Os Arminianos clássicos e Wesleyanos creem e ensinam
a eleição e predestinação! Então em que eles diferem dos calvinistas? Diferem que a eleição e a predestinação bíblica e ortodoxa são condicionais e a calvinista incondicional, ou seja, heterodoxa!
Aqui está o chibolete: Condicional e incondicional!
É isso que diferencia Arminianos clássicos e Wesleyanos
de calvinistas no tocante a eleição e predestinação! O restante são narrativas falaciosas, espantalhos e fakenews! A essência da doutrina calvinista é que a eleição é incondicional. Ou seja, Deus elegeu e predestinou arbitrariamente e incondicionalmente sem levar em conta a fé, o arrependimento, fidelidade, etc... eles dizem que essas condições seriam meritórias, mas isso não passa de um espantalho, pois essas condições foram estabelecidas por Deus. E Outra, a fé não é meritória como ensina o Apóstolo Paulo em Efésios 2.
2. A presciência, a eleição e a predestinação são
distintas, as duas últimas são condicionadas pela presciência.
Então, os pecadores impenitentes foram apenas pré-
conhecidos, não pré-ordenados. Sendo a punição predeterminada para o pecador por seus pecados, e não o pecador foi predeterminado para a punição.
3. A ordem do processo é presciência, eleição e
predestinação. Observe os textos de Efésios 1.4-5: Como também nos ELEGEU nEle antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; E nos PREDESTINOU para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade...
4. As diferenças entre Eleição e predestinação.
A eleição se refere ao ato de escolha. O verbo é
“eklegomai” significa “eleger”, “escolher”; referindo- se ao ato divino da eleição.
A predestinação, diz respeito ao fim de uma escolha de
Deus (eleição). O termo do grego “proorizo” significa predeterminar, decidir de antemão, preordenar, designar para um destino.
O que é determinado por antecipação? Não são atos ou
decisões de indivíduos, mas seu destino.
O calvinismo ensina isso? Sim!
Deus não só viu de antemão a queda do primeiro homem e
nela a ruína de sua posteridade, mas também por seu próprio prazer a ordenou.
João Calvino, Institutas da Religião Cristã, Livro 3,
Capítulo 23, Seção 7.
Embora sua perdição de tal maneira depende da
predestinação divina, a causa e a substância dela (perdição) estão ambas neles (homens)….. Portanto, o homem cai porque assim o ordenou a providência de Deus; no entanto, cai por falha sua.
João Calvino, Institutas da Religião Cristã, Livro 3,
Capítulo 23, Seção 8.
Mesmo a queda de Adão, e através dele a queda da raça,
não foi por acaso ou acidente, mas foi assim ordenada no secreto conselho de Deus.
Loraine Boettner, The Reformed Doctrine of
Predestination, p. 234.
Claramente foi da vontade de Deus que o pecado entrasse
neste mundo, caso contrário não teria entrado, pois nada acontece, exceto o que Deus eternamente decretou. Além disso, houve mais do que uma simples permissão, pois Deus só permite coisas que realizam o seu propósito.
A.W. Pink, The Sovereignty of God, p. 162.
Deus não apenas tinha um pré-conhecimento perfeito do
resultado da experiência de Adão; não só seu olho onisciente viu Adão comer do fruto proibido, mas decretou de antemão que ele deveria fazê-lo.
A.W. Pink, The Sovereignty of God, Appendix II, The
Case of Adam, p. 283.
Deus move as línguas dos homens para blasfemar.
Franciscus Gomarus, conforme citado por Laurence Vance em O Outro Lado do Calvinismo, www.arminianismo.com/index.php/categoria…42-o-decreto- de-deus.
Nem mesmo a obra do pecado parte de qualquer outra
pessoa a não ser Deus.
Ulrich Zwinglio, “On the Providence of God – Sobre a
Providência de Deus”, The Latin Works of Huldreich Zwingli – As Obras Latinas de Ulrich Zwinglio (Philadelphia: Heidelberg Press, 1922), II:203-204.
O pecado é um dos eventos “quaisquer” que “acontecem”,
os quais são todos “decretados”.
W.G.T. Shedd, Calvinism: Pure and Mixed, p. 32
Todas as coisas, incluindo até mesmo as ações malévolas dos homens perversos e dos demônios – são trazidas à existência de acordo com o propósito eterno de Deus.
JG Machen, conforme citado por Laurence Vance em O
Outro Lado do Calvinismo, p.254 – www.arminianismo.com/index.php/categoria…to-de- deus#_ftnref29
Nunca houve discursão na ortodoxia acerca da expiação
universal, livre-arbítrio, graça resistível, apostasia, eleição condicional. Dos cinco pontos do calvinismo quatro são refutados pela ortodoxia. Quanto à depravação total, a diferença está entre depravação total intensiva (calvinista) e a ortodoxia enfatiza a extensiva.
O que dizem as fontes ou a ortodoxia:
A ortodoxia é unanime quanto à sinergia bíblica! Quanto
ao livre-arbítrio! Quanto à eleição condicional! Quanto à expiação ilimitada! Quanto à graça resistível! Quanto à possibilidade de apostasia!
Portanto, o calvinismo e suas doutrinas são heterodoxos
e o próprio Calvino reconhece isso quando diz:
Tudo indica que grande preconceito atraí contra minha
pessoa quando confessei que todos os escritores eclesiásticos, exceto Agostinho, nesta matéria se expressaram tão ambígua ou variadamente que de seus escritos não se pode ter coisa alguma certa. Ora, alguns haverão de interpretar isto exatamente como se os quisesse privar do direito de opinião, já que todos me são contrários... Inst. 2.2.9 Cinco livros que recomendo são:
- O livro “Que Falem os Primeiros Cristãos: Uma Análise
da Igreja Moderna sob a luz do Cristianismo Primitivo”, de David W. Bercot, um historiador Batista. Esse é um livro leve e muito agradável de ler sobre o que criam e ensinavam a igreja primitiva e os pais apostólicos.
- O livro “Arminianismo. A Mecânica da Salvação”, de
Silas Daniel, apologista e historiador. Esse livro situa o leitor na história da igreja cronologicamente.
- O livro “Teologia Arminiana - Mitos e Realidades, de
Roger Olson”, um teólogo e historiador batista e professor de teologia. Esse livro explica os espantalhos criados pelos calvinistas acerca do Arminianismo e demonstra o que é o Arminianismo pelos teólogos Arminianos.
- O livro “Eleição Condicional - Um breve estudo sobre
a doutrina da Eleição Divina”, de Jack W. Cottrel, um filósofo e teólogo cristão.
- O livro “Eleição Condicional”, Thiago Titillo,
Teólogo Batista. Editora Reflexão,
Recomendo também o aplicativo mybible!
OBS 01: Nenhum Arminiano deve acreditar no que os
calvinistas dizem acerca do Arminianismo sem averiguar o fato por si mesmo ao ler as fontes primárias. E isso também serve para o calvinismo, catolicismo, pentecostalismo, adventismo, etc...
OBS 02: Tenho a maioria desses livros em PDF e caso
alguém deseje posso enviar. Observação final: Foi com John Wesley e a primeira geração de Metodistas que Deus reavivou a fé bíblica e ortodoxa de forma definitiva dentro do cristianismo. Foi com os Metodistas que o livro da lei foi reencontrado novamente dentro de uma religião fria, morta, abstrata e indiferente.