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Apologética Cristã I
A. O desafio do século XXI. Estamos enfrentando um novo milênio que vai começar daqui a cinco
anos, se o Senhor não vier antes. Será o terceiro porque Ele veio a primeira vez e fundou a Sua
Igreja. Ele deixou com a Igreja, quer dizer Ele deixou conosco desde que nós somos a Igreja dEle,
a tarefa de espalhar o Evangelho no mundo inteiro até que todos os povos tenham ouvido a men-
sagem da salvação. Também, essa tarefa inclui a responsabilidade de avançar o Seu Reino neste
mundo como uma previsão do Reino pleno que virá depois que Jesus voltar. Mas qual é a situação
da Igreja e como vai a tarefa dela depois de dois milênios? E, o que vai acontecer no próximo
milênio?
Com certeza há coisas boas e coisas ruins. Em vários lugares o Evangelho está sendo rapidamente
aceito e as igrejas evangélicas estão crescendo como jamais antes. Agora há mais crentes do que
em qualquer outra época da história. Isso está acontecendo primariamente nos lugares aonde o
Evangelho chegou recentemente ou onde houve muitos anos de perseguição aos crentes. Mas
também, devemos notar que nos lugares onde a Igreja está crescendo, há maior crescimento de
seitas, ocultismo, e outras negações da fé evangélica. É importante entender que os países histo-
ricamente mais fortes na fé, os países com a herança da reforma protestante, já têm abandonado a
fé por suas próprias idolatrias, como o materialismo e o hedonismo. Essas idolatrias são justifi-
cadas através de várias filosofias que têm pelo menos uma coisa em comum. Todas elas rejeitam a
noção de que o ortodoxo Evangelho de Jesus Cristo deva ser levado a sério pelo homem moderno.
Agora estamos enfrentando uma situação grave. Mesmo que o Evangelho esteja alcançando cada
vez mais pessoas, o número de habitantes no mundo está crescendo mais rapidamente ainda. Es-
tamos perdendo terreno. Também, com o surgimento das seitas, religiões falsas, e filosofias se-
culares, muitas pessoas que estão procurando alguma razão de ser, estão bloqueadas quanto a
aceitar ou entender o Evangelho por causa das dúvidas que se levantam. Então, hoje em dia, a
proclamação do Evangelho precisa ter respostas às dúvidas, problemas, e alternativas que existirão
no começo do terceiro milênio. A apologética ajuda nesse compromisso.
B. O mandamento da Bíblia. A própria Bíblia diz alguma coisa sobre esse compromisso. I Pedro
3:15 diz: “Antes santificai em vossos corações a Cristo como Senhor; e estai sempre preparados
para responder com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir a razão da esperança que há em
vós.” Pedro está nos ensinando aqui que não basta somente dizer ao não-crente, “Arrepende-te!”
Nós temos que falar isso, mas também, temos que falar o porquê. Quando alguém nos pede o
porquê de nós crermos e porque ele deve crer em Cristo, a Bíblia exige que nós respondamos com
respostas que mostrem a verdade de nossa fé. Na análise final, só existe uma razão válida para
aceitar a Jesus Cristo e se tornar cristão. É porque o Cristianismo é verdadeiro. A verdade do
Cristianismo quer dizer que a fé cristã tem um alicerce racional. De fato, o Cristianismo é a única
cosmovisão que é racional. Deus não exige que nós tenhamos que nos suicidar intelectualmente
para sermos crentes. Por isso Ele nos diz que temos que ter respostas para a esperança que temos.
Portanto, é preciso estudar apologética.
C. O exemplo dos profetas e apóstolos. Na Bíblia, quando a Palavra de Deus foi pregada, a pre-
gação foi normalmente acompanhada por argumentos apologéticos. Por exemplo, os profetas e
apóstolos usaram evidências da presença e obra de Deus na história para apoiar a proclamação do
julgamento de Deus e do Evangelho. No Velho Testamento os milagres que Deus fez para con-
seguir a saída de Israel do Egito são evidências usadas para verificar que só Deus deve ser servido
em vez dos ídolos (Ex. 20:2). No Novo Testamento o melhor exemplo de apologética é o sermão
de Paulo em Atos 17. Ele enfrentou os filósofos gregos, mostrando um bom conhecimento das suas
filosofias, inclusive as fraquezas delas. Nesse sermão Paulo negou pelo menos 20 propos-
tas-chaves da filosofia grega e ofereceu em lugar dela a pessoa de Jesus Cristo. O exemplo de
Paulo e de outros mensageiros de Deus na Bíblia deve ser seguido pelos crentes hoje.
A. Definição – “Etimologicamente apologia quer dizer defesa; significa primariamente uma res-
posta de defesa contra alguma acusação, ou denúncia.” (Richardson, p. 17). Fazer apologia, então,
quer dizer responder aos assaltos contra a verdade da fé cristã. A apologética é definida como “o
estudo dos modos e meios usados na defesa da verdade cristã.” (Richardson, p. 31). A apologética
nos ensina a defender a cosmovisão cristã.
Depois da pregação de Paulo em Atos 17 houve três reações. Algumas pessoas riram, outras dis-
seram que gostariam de ouvir Paulo de novo num outro dia, e algumas aceitaram o Evangelho.
Essas três reações são iguais àquelas que nós vemos hoje em dia quando pregamos o Evangelho.
Quando vierem, como sempre acontece, as objeções ao Cristianismo, temos que respondê-las.
Para que respondamos adequadamente às perguntas e dúvidas levantadas por pessoas que ainda
não crêem, temos que fazer apologia. Isso quer dizer que é preciso estudar apologética para nós
nos prepararmos para encontros inevitáveis que vêm depois de se apresentar o Evangelho a al-
guém.
Uma outra ocasião da apologética acontece quando os próprios crentes têm dúvidas sobre a ver-
dade do cristianismo e não sabem como respondê-las. A apologética fortalece a vida espiritual dos
crentes através de respostas racionais e práticas que podem tirar as suas dúvidas e estabelecê-los
num alicerce firme. A apologética, então, é a atividade auxiliar, mas imprescindível à pregação e
ensino do Evangelho e à cosmovisão cristã. No sermão de Atos 17, como foi feito em outros
exemplos, Paulo usou argumento apologético quando ele apresentou o Evangelho. A apologética,
na pregação dele, fazia parte naturalmente do evangelismo. Não havia dicotomia entre os dois.
III. A metodologia da apologética. “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os
em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as cousas que vos
tenho ordenado...” (Mt. 28:19-20). A responsabilidade do crente é fazer discípulos. Isso quer dizer
que é preciso ganhar aos perdidos e ensinar aos crentes para que se tornem maduros. A metodo-
logia da apologética é determinada pela natureza dessa obra e também, pelas reações que vêm
depois de se pregar o Evangelho.
A. O propósito ofensivo. Não estou usando a palavra “ofensivo” aqui, no sentido de ofender, mas,
no sentido de quando se fala sobre um jogo de futebol ou uma guerra. Eu ouvi falar que a melhor
defesa é uma boa ofensiva. Estou propondo aqui que a maneira melhor de se fazer apologética é
pregar o Evangelho primeiro. Essa maneira combina com a ênfase da pregação do Evangelho
como prioridade do crente. Desde que qualquer apresentação do Evangelho represente um ataque
contra o reino de Satanás e contra o orgulho do homem, a pregação do Evangelho é necessaria-
mente um ataque contra a incredulidade.
Mas, por que começar com o Evangelho? 1) A primeira razão é que talvez a pessoa já esteja pronta
para receber o Evangelho. Ao invés de gastar tempo discutindo filosofia, será melhor compartilhar
o plano de salvação para que a pessoa o aceite na hora. 2) Segunda: antes de começar a discutir
apologética com o incrédulo, ele precisa ter diante de si a natureza da escolha que ele deverá fazer.
Existe um abismo enorme entre o Evangelho de Cristo e o pensamento do homem natural. São
duas coisas totalmente distintas. Ele precisa conhecer a gravidade da decisão que tem a fazer. Jesus
exige que o pecador deixe tudo, tome a sua cruz, e O siga. Não é certo permitir que o pecador esteja
enganado com a idéia de que ele possa ficar com o paganismo e o pecado e ainda ser salvo através
de apenas acrescentar Jesus àquilo que ele já tem. Por isso, a primeira coisa a ser feita é apresentar
o mandamento de Deus para que o pecador venha a Jesus Cristo reconhecendo-O como Senhor e
Salvador (Atos 17:30, Rom. 10:9-11). Antes de tudo, o pecador precisa entender a natureza do
Evangelho (veja o excelente livro de John MacArthur, O Evangelho Segundo Jesus).
B. O propósito negativo. Como nós vimos anteriormente, entre os que ouvem o Evangelho há três
respostas. (Algumas pessoas crêem, outras riem, e outras querem continuar a conversa num outro
dia. Atos 17:32-34) Inevitavelmente objeções à mensagem surgem nas mentes dos incrédulos.
Essas objeções são naturais no contexto da sua cosmovisão. Nós precisamos sempre lembrar que,
“o homem natural não aceita as cousas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode
entendê-las porque elas se discernem espiritualmente” (1 Cor. 2:14). O pecador está cativo a uma
filosofia falsa que controla a sua maneira de pensar. Do seu ponto de vista, nós, crentes, somos
bobos.
A tarefa do evangelismo exige que nós enfrentemos a filosofia falsa do incrédulo e a derrubemos
com a verdade do Evangelho. Estou escolhendo essas palavras confrontadoras de propósito, pois, é
absolutamente necessário que entendamos a natureza daquilo que encontramos ao falarmos do
Evangelho com os perdidos. Como eu vou mostrar duma maneira ampla mais tarde, a cosmovisão
do incrédulo é uma antítese total da cosmovisão cristã. O incrédulo não está buscando a Deus
(Rom 3:10) mas, está detendo a verdade pela injustiça (Rom. 1:18), tentando fugir de Deus, como
Jonas. A apologética faz uma análise dos sistemas religiosos do incrédulo usados para fugir de
Deus revelando suas fraquezas e destruindo a resistência à Palavra de Deus. O apologista, então,
faz uma “desconstrução” total dos sistemas pagãos que os homens têm.
D. Os fins da apologética. Os dois lados, positivos e negativos, correspondem aos fins da apolo-
gética. A apologética, obviamente, é uma ferramenta indispensável nas mãos do evangelista. Mas,
além disso, a apologética é muito importante para estabelecer e fortalecer o crente na sua fé. O
Diabo está atacando a Igreja com toda força que ele tem através das filosofias do evolucionismo,
materialismo, comunismo, humanismo, pós-modernidade, ocultismo, e as demais religiões do
mundo. É bem fácil o crente ficar confuso até ao ponto de ser enganado por uma seita. Alguns
abandonaram a sua fé por falta de respostas às dúvidas levantadas pelos seus mestres. A apolo-
gética, portanto, tem um papel especial na vida dos jovens crentes que vão estudar numa faculdade
secular. Por todas essa razões, a Igreja não pode deixar de ensinar apologética.
Apologética II
A Estrutura de uma Cosmovisão
O que é uma cosmovisão? É uma maneira de ver o mundo! Ela é a interpretação que uma pessoa
faz da realidade ulterior. É o sistema de pressupostos que se usa para organizar e interpretar a sua
experiência da vida. É literalmente a sua visão do cosmos.
1. Pressupostos A axiomas
2. Lógico ou Raciocinio Razão
3. Dado Fatos
C1...C2...C3...C4..
4. Conclusões Cosmovisão
1. Suficiência dos pressupostos - Qual é o ponto de referência final? Os pressupostos básicos são
suficientes para a interpretação do universo? Prova da verdade - A cosmovisão que deixa per-
guntas maiores sem respostas não pode ser verdadeira.
3. Ajusta-se aos fatos? - Consistência com a experiência externa. Prova da verdade - Aquilo que
não concorda com os fatos interpretados corretamente não pode ser verdadeiro.
4. Viabilidade existencial - Quais são as conseqüências práticas? É possível viver sem hipocrisia e
construir uma civilização nessa cosmovisão? Prova da verdade - Uma filosofia que não pode ser
vivida autenticamente não pode ser verdadeira.
c. Teoria da ação - ética. Como devem as pessoas se comportar? O que é o sumo bem? Como
distinguir entre o bem e o mal?
d. Teoria do fim ou alvo - teleologia. Qual é o fim da vida e da criação? Por que nós estamos aqui
neste universo? O que é a História? A história é cíclica ou vai numa linha em direção a um fim?
2. Fica bem claro que quando respondemos a essas perguntas teremos proposições. Uma cosmo-
visão consiste em várias idéias, proposições, ou seja doutrinas, que declaram os conceitos chaves
do sistema. Para elaborar uma cosmovisão, é preciso falar em doutrina.
Sua cosmovisão é a sua religião. Portanto, não é possivel separar a sua teologia da sua apologética.
O tipo de teologia que você aceita influenciará fortemente a sua apologética. Teologia Sistemática
é uma elaboração da cosmovisão cristã baseada na Bíblia. Deve ficar claro agora que a doutrina é
absolutamente essencial na vida do crente para que ele possa ter uma cosmovisão correta e viver a
sua vida de maneira a agradar a Deus. A apologética é importante para apoiar a doutrina cristã. Por
que doutrina é importante?
A. Doutrina é importante para salvação. João 8:24: “Por isso vos disse que morrereis em vossos
pecados; porque, se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados.” Portanto, o próprio
Jesus disse que a salvação depende de ter-se a doutrina correta.
1. Uma vez falei com uma testemunha de Jeová e ele me disse que entre as milhares de portas em
que ele bateu, ele sempre descobriu que as pessoas mais ignorantes sobre a sua fé são os crentes.
Quando alguém dizia ser nascido de novo, esta TJ sempre deduzia que ele tinha um conhecimento
superficial da Bíblia.
2. O pressuposto de que o crente leigo não está interessado em teologia é bem comum entre os
pastores. Dizem que é preciso pregar sermões práticos e pertinentes (como se a teologia da Palavra
de Deus não fosse prática ou pertinente) em vez de sermões de teoria. Mas toda prática é a prática
de alguma teoria, e se você estiver ignorante da teoria, com certeza a sua prática vai ser errada. Na
minha opinião, a noção de evitar sermões de doutrina e teologia é apenas uma tentativa de des-
culpar a preguiça do pastor que não quer fazer o trabalho requerido para se preparar e ensinar
doutrina.
3. A heresia da cabeça contra o coração. Na psicologia moderna há uma distinção entre a cabeça e
o coração. Dizem que a fé verdadeira é uma coisa do coração e não apenas a cabeça. Os liberais, e
até muitos evangélicos, acham que a fé é algo irracional, que é o contrário de conhecimento. A fé é
vista como localizada nas emoções. Mas a Bíblia não tem nada disso. Na Bíblia não existe uma
distinção entre a cabeça e o coração. Fé na Bíblia é altamente racional, as emoções não têm quase
nada a ver com ela.
4. Mas uma heresia ligada a isso é a noção de que os problemas da fé são emocionais e devem ser
tratados com terapia em vez de instrução e orientação nas doutrinas da Bíblia. Não estou negando
a importância da terapia cristã, mas estou dizendo que a melhor terapia não basta sem o ensino da
doutrina. Às vezes a falta de apologética pode até criar uma crise na vida do crente ao enfrentar
questões importantes.
5. O fato é que todos os crentes já são teólogos. A única pergunta para ser respondida é: Será que
eles são teólogos bons ou ruins? Parece que a maioria dos crentes são teólogos ruins e a culpa disso
fica plenamente nos ombros dos pastores. O crente deve ser um bom teólogo e um apologista
também. O pastor tem a responsabilidade de formar apologistas.
1. A tarefa do pastor é ensinar. Isso quer dizer ensinar a Palavra de Deus verso por verso e também
de uma forma sistemática.
I Tm. 3:9 - O diácono deve estar “guardando o mistério da fé...” Ele não pode ter um conhecimento
superficial.
II Tm. 2:15 – “Procura apresentar-te diante de Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se
envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.”
Tito 1:9 – “Retende firme a palavra fiel, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto
para exortar na sã doutrina como para convencer os contradizentes.”
Não é possível ensinar doutrina a não ser que as doutrinas da Bíblia estejam sistematizadas. Para
obedecer ao que Paulo falou, é preciso estudar e ensinar nas igrejas a teologia e apologética. Em
outras palavras, o pastor que não ensina teologia na sua igreja está desobedecendo ao Senhor. Ele
está pecando, e um dia ele vai ter quer explicar a Deus por que ele pecou assim.
Rm.12:1-2 - Para sermos transformados pelo renovação da mente, nossa mente deve se conformar
às doutrinas da Bíblia.
A apologética é vacinação contra doutrina falsa. A conclusão? Apologética não é uma opção!!! É
essencial!!!
Apologética III
O Que é a Cosmovisão Cristã?
I. Estrutura
1) Raciocínio dedutivo - O mundo, como criado por Deus, corresponde às categorias lógicas e
racionais também criadas por Deus e consistentes com Seu próprio caráter racional. Podemos
chegar à verdade através do raciocínio, em conformidade com as leis da lógica, fundado em
pressupostos verdadeiros. A lógica e a racionalidade, como matemática, correspondem ao uni-
verso físico porque Deus criou todas elas como uma unidade. (Gn. 1:1; Cl. 1:16-17)
2) Raciocínio indutivo - Há uma correspondência entre aquilo que é percebido pela mente humana
através dos sentidos e o que existe no mundo físico. Deus criou a mente humana e também o
mundo. Portanto, “coisas em si” podem ser conhecidas, mesmo que elas não sejam conhecidas
completamente como Deus as conhece. (Gn. 1:19-20)
3) Viabilidade existencial - Deus criou o homem para uma vida autêntica, livre de hipocrisia. O ser
humano terá a sua realização completa quando ele viver de conformidade com a vontade de Deus e
a lei de Deus escrita em seu coração. A verdade pode ser conhecida porque ela é viável. (Sl. 1; Mt.
4:4)
1) A distinção entre o Criador e a criação - O primeiro versículo da Bíblia afirma que existe uma
distinção radical entre o Criador e a criação no nível do ser. Essa distinção é absolutamente fun-
damental para a cosmovisão cristã e constitui a diferença básica entre o Deus do Cristianismo e os
deuses das demais religiões. Existem dois tipos de ser; 1) o Ser de Deus, que é original, eterno,
infinito, e não foi criado e 2) o ser criado, incluindo tudo que não é Deus; o resto do universo que é
finito, derivado, e dependente. O segundo inclui espaço e tempo. (Gn. 1:1; Is. 40-45; Jo 1:3)
Deus sempre existiu como um Deus em três pessoas. Deus é pessoal e expressa amor eterno nos
relacionamentos entre as três pessoas da Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Deus não precisa de
coisa alguma. Ele não criou o universo por causa de alguma necessidade; Ele não precisa nem
depende dele de maneira alguma. Deus não está em processo (como dizem os teólogos do pro-
cesso), mas é o Criador do tempo (história) e do espaço (o universo físico) também. (Lc. 3:21-22;
Is. 44-45)
2) O mundo foi criado ex nihilo. Isso significa que o mundo foi criado do nada. Não havia matéria
preexistente da qual Deus formou o mundo. Antes da criação só Ele existia. O universo não é
divino porque não foi criado da essência de Deus. O universo não faz parte de Deus. Os dois não
podem ser relacionados (identificados como a mesma coisa). São distintos. O universo foi criado
num estado de perfeição e chamado de bom pelo Senhor. Como criação de Deus, ele tem grande
valor e merece ser protegido e desenvolvido sem exploração nem abuso. (Gn. 1:1; 31)
3) O ser humano foi criado masculino e feminino igualmente à imagem de Deus. Ele foi criado
imediatamente, sem um processo de evolução dos animais. Atributos específicos, os quais Deus
tem, como intelecto, personalidade, criatividade, vontade, etc., foram doados ao ser humano,
mesmo que duma forma finita. (Gn. 1:26-28)
O ser humano foi criado sem pecado com uma natureza pura e perfeita. O pecado entrou na raça
humana através da escolha de Adão e Eva em desobedecer a Deus. A essência dessa rebelião
consistiu no fato de que eles declararam a sua autonomia (independência) de Deus. Eles deixaram
de considerar Deus e a Sua Palavra como o ponto de referência final para toda interpretação. Ao
invés de depender de Deus para interpretar o mundo que Ele fez, eles deram ouvidos à interpre-
tação do Diabo. Eles se colocaram no lugar de Deus quando eles decidiram qual seria a verdadeira
interpretação. Assim Adão e Eva assumiram o lugar de Deus como ponto de referência final de
interpretação, virtualmente declarando que eles mesmos foram os criadores do mundo. E acaba-
ram discordando de Deus e O rejeitando. (Gn 3:1-7; Rm. 1:18-32)
Desde então todo ser humano nasce com uma natureza pecaminosa e continua asseverando a sua
autonomia de Deus. Os homens são pecadores por natureza e por escolha. Gostam de pecar. A pior
expressão dessa autonomia é o desejo de se tornar um deus. Deus, sendo santo e justo, condena o
pecado e os pecadores. Não há ser humano nenhum que seja tão bom ou tenha capacidade de fazer
boas obras suficientes para merecer o favor de Deus. A salvação não pode ser ganha por obras.
Todos os seres humanos merecem ser condenados ao inferno e serem punidos eternamente. O
problema fundamental do ser humano, então, é uma questão ética. Ele é um rebelde contra Deus.
(Rm. 3: 10- 23)
C. Ética - Qual é o sumo bem? “Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celestial.”
(Mt. 5:48). O próprio Deus é o sumo bem na ética de Jesus, e o Seu caráter é o padrão para julgar os
deveres do homem. O bem é aquilo que Deus determina. O que é segundo a vontade de Deus é
certo e o que é contra é errado. Implicações da doutrina da criação pela ética. O ser humano não é
independente eticamente. Deus tem o direito de dispor da criação dEle, inclusive dos seres hu-
manos, como Ele quiser. Ele mesmo é o padrão de justiça, verdade e o sumo bem. (Êx. 20:1-17;
Pv. 21:1; Rm. 9:14-24; Mt. 6:33)
O homem foi criado à imagem de Deus. A própria natureza humana é uma revelação de Deus, com
a lei de Deus escrita no coração do homem. O valor e o bem-estar do ser humano só pode ser
achado em relação a Deus (Gn. 1:26-28; 9:6). No fim, a doutrina da criação significa que Deus, e
somente Deus, é o ponto de referência final em ética. A localidade do ulterior é nEle. (Prov. 1:7)
D. Teleologia -Deus é o soberano Deus que é o Senhor da história. Deus planeja e controla a
história, segundo os profetas. Ele usa as nações para cumprir o seu plano. Is. 10:5. A história teve
um começo definido e vai ter um fim. (Ap 21-22)
Apologética IV
Metodologia
Portanto, qualquer sistema de apologética, para ser completo, deve ter pelo menos as seguintes
partes: 1) Um ponto de partida lógico, 2) um ponto de contato com o descrente, ou seja, “terreno
comum”, 3) provas da verdade, 4) o papel do raciocínio, 5) a base da fé em Deus, Cristo e a Bíblia.
O significado destes aspectos de uma apologética deve ficar claro ao explicar as metodologias
abaixo.
Existe muito debate sobre a metodologia adequada para defender a fé, mas elas podem ser resu-
midas dentro de três grupos maiores.
A. A apologética tradicional
1) Os “evidencialistas” tomam a postura de que a melhor maneira de se comprovar a existência de
Deus e a veracidade da Bíblia é apelar para a evidência da história. Eles apontam para a evidência
da ressurreição de Jesus, por exemplo, como a prova de que Ele é Deus. O “evidencialismo” é
caracterizado pela tendência de se asseverar que a verdade do Cristianismo pode ser demonstrada
como sendo altamente provável. Os evidencialistas começam a partir do empirismo e a abordagem
deles pode ser analisada assim:
a) Ponto de partida lógico - O empirismo começa a partir do dado empírico para construir uma
cosmovisão. Ele pressupõe que exista uma correspondência entre a realidade exterior e as per-
cepções interiores na mente humana e que os cinco sentidos são confiáveis. Outros pressupostos
incluem a unidade da experiência, a regularidade das leis da natureza e causalidade. É claro que o
evidencialismo não depende apenas dos fatos, mas também de alguns pressupostos metafísicos,
embora nem todos os empiristas admitam isso.
b) Terreno comum - Os evidencialistas dizem que a coisa que temos em comum com o não-crentes
são os fatos. “Um fato é um fato”, eles dizem. Eles pressupõem que os fatos são os mesmos para
todo mundo é que eles têm o mesmo significado. Alguns evidencialistas admitem que temos em
comum com os descrentes as formas lógicas do raciocínio humano.
c) Prova da verdade -Algo é verdadeiro se ele é consistente com os fatos. Por isso eles dão muita
ênfase aos fatos históricos: a ressurreição de Jesus, etc. Para eles a evidência exige um veredito.
(Daí, o título do livro de Josh McDowell).
Quais são os problemas do evidencialismo? Os evidencialistas insistem que apologética não pode
começar a partir do pressuposto do Deus da Bíblia. A epistemologia deles, então, começa no
mesmo lugar da epistemologia do descrente. Os dois pressupõem que o universo pode ser inter-
pretado pela mente humana sem referência a Deus. Os princípios para interpretar o mundo existem
no próprio mundo. Mas, se o descrente pode descobrir a verdade e interpretar o universo sem Deus,
então por que ele precisa de Deus? E como é que o evidencialista sabe que existe uma corres-
pondência entre as percepções na sua mente e o mundo exterior dele? A não ser que ele possa
resolver os problemas inerentes à epistemologia do mpirimo, o apologista não pode comprovar a
possibilidade do conhecimento. Sem uma base de conhecimento não é possível comprovar a e-
xistência de Deus. Minha avaliação é que o evidencialismo pode ser muito útil contanto que ele
seja colocado num arcabouço de pressupostos suficientes para o sustentar. O evidencialismo só
não basta para comprovar o cristianismo.
a) Ponto de partida lógico - O racionalismo começa a partir de axiomas ou pressupostos que não
podem ser negados. O cogito ergo sum (penso, logo, existo) de Descartes é um exemplo.
b) Terreno comum - O ponto de contato entre os não-crentes é a validade universal das leis da
lógica: a lei da não-contradição, a lei da identidade, e a lei do meio excluído. Estas leis compõem a
estrutura da mente humana e definem as possibilidades na realidade.
A lei da não-contradição - Uma proposição não pode ser afirmada e negada ao mesmo
tempo, no mesmo sentido, e ainda ser verdadeira.
A lei do meio excluído - ou A = B ou A não = B, não existe uma terceira opção, por
exemplo, ou Sócrates é um homem ou não é um homem. Não pode ser um ente que seja
parcialmente homem.
Problemas? O problema do racionalismo é que os argumentos são apenas tão bons como os
pressupostos. Um argumento pode ser válido e ainda falso por ter falsos pressupostos. O raciona-
lismo pretende construir um argumento com pressupostos fundamentados no mundo finito e
concluir com um Deus infinito. Mas pressupostos finitos (pensou, logo existo, etc.) não são sufi-
cientes para chegar a um Ser Infinito. O raciocínio, para ser suficiente, deve começar a partir de um
ponto de referência infinito.
3) Misticismo
b) Terreno comum - Não existe terreno comum porque os não-crentes não podem entender o que
eles não experimentaram.
d) O papel do raciocínio - A razão pode interpretar a experiência, mas ela é incapaz de avaliar a
verdade da experiência. As vezes o raciocínio é visto como um obstáculo a uma experiência de
Deus.
e) A base da fé - Os místicos dizem que eles têm uma certeza psicológica. A fé é irracional.
Problemas? Os Mórmons têm a sua experiência, os Hindus, e todas as outras religiões também. A
experiência precisa de um ponto de referência objetivo para validá-la.
B. Metodologias recentes:
a) Ponto de partida lógico - Eles propõem a existência de Deus como uma hipótese que precisa ser
testada.
b) Terreno comum - Os verficacionalistas dizem que todos os homens têm em comum os fatos da
experiência, as leis da lógica, a busca de valores e as leis morais.
c) Prova da verdade - Consistência sistemática, ou seja, aquilo que corresponde aos fatos (com
menos problemas do que outros sistemas), sem contradições lógicas, e pode ser vivido sem hipo-
crisia é o mais provável.
d) O papel do raciocínio - A razão humana é o juiz que verifica a hipótese através da lógica e
experiência.
mento pagão, as idolatrias do mundo são derrubadas e o Evangelho é apresentado como a única
esperança.
b) Terreno comum - O ponto de contato com o descrente é o fato de que ele é uma criatura de Deus,
feito à imagem dEle e que ele mora no mundo que Deus criou. Não existe terreno comum entre o
sistema (epistemologia) do descrente e do crente, porque a interpretação do mundo feita pelo
descrente pressupõe que Deus não existe. Mas o descrente não é consistente com os seus próprios
pressupostos. Ele aceita várias verdades que ele roubou do sistema cristão. Podemos aproveitar
este “terreno comum” para falar com eles. Por exemplo, os humanistas aceitam relativismo ético e
negam que existem absolutos morais, mas quando alguém rouba o carro deles, eles instistem que
roubar é errado.
e) A Base da fé - No fim das contas, a Palavra de Deus e a autoridade de Deus são as bases da fé
cristã. Os pressuposicionalistas dizem que a veracidade da fé cristã é absoluta.
3) Nesta série de palestras vou usar uma metodologia pressuposicionalista, chamada “apologética
através da cosmovisão”. Isso quer dizer que eu vou criar um argumento a favor do cristianismo e
atacar o sistema do incrédulo através de uma comparação entre eles e usar os recursos dos três
sistemas mencionados antes. Vou asseverar que a Bíblia tem que ser pressuposto como a inerrante
Palavra de Deus se o ser humano quer chegar ao conhecimento da verdade e não reduzir toda a sua
vida a um caos. A minha abordagem sobre o assunto, portanto, terá mais em comum com os
“pressuposicionalistas”, embora eu vá usar muito do trabalho dos demais apologistas.
Apologética V
Paulo em Atenas (Atos 17:16-34)
v. 16-17 A cidade estava cheia de ídolos. Atenas era conhecida por ter mais ídolos que o resto da
Grécia. Petrônio calculou que existia 30 mil deuses nas ruas e prédios públicos. Paulo ficou re-
voltado no seu espírito e foi para a sinagoga, como sempre fazia, para discutir com os judeus e os
gregos. Mas ele não deixou de pregar na praça também.
v. 18-21 Os estóicos e epicureus ouviram Paulo e disputavam com ele. Os filósofos reconheceram
que Paulo estava pregando uma doutrina nova e estranha. Em vez de assimilar a nova doutrina,
eles perceberam que era bem diferente das idéias deles.
Os epicureus eram ateus e materialistas. O propósito deles era livrar o homem do medo dos deuses
através da negação da sua realidade. Eles negavam a vida depois da morte (e o juízo final) e devem
ter ficado escandalizados com a noção da ressurreição. Segundo os epicureus, a realidade última
consiste apenas em matéria composta de átomos. Os deuses eram simplesmente símbolos.
Os estóicos eram panteístas. Eles acreditavam que o logos, ou Deus, era uma energia que per-
meava tudo e que dava ordem e estrutura ao universo. O logos guiava a sorte dos homens e tudo
que acontecia além da vontade do homem não podia ser mudado. Portanto, os homens não devem
se preocupar com as coisas além do seu controle mas devem aceitá-las sem ficar perturbados. O
que será, será. Eles acreditavam na unidade da humanidade e na paternidade de Deus.
Os filósofos chamavam Paulo de “paroleiro” (spermologoi) que quer dizer vagabundo ou uma
pessoa que não presta. Obviamente eles não respeitaram a doutrina de Paulo, mas pelo menos eles
estavam abertos para ouvir mais sobre ela. Daí, eles o levaram para o Areópago.
v. 23 O Deus desconhecido. Era muito comum eles terem altares aos deuses desconhecidos, para o
caso de um deus ficar irado por não ter recebido sacrifícios. Paulo não identificou o Deus verda-
deiro com nenhum dos deuses gregos, mas com franqueza disse que eles estavam ignorantes desse
Deus. O propósito de Paulo foi anunciar este Deus. O que segue, pois, deve ser entendido como
uma exposição do verdadeiro Deus. Paulo não adaptou o seu conceito de Deus às idéias dos fi-
lósofos, mas colocou perante eles a antítese completa entre o paganismo e o cristianismo. O dis-
curso é um ataque frontal contra a cosmovisão grega. Podemos ver pelo menos 25 proposições de
Paulo que contradizem idéias comuns entre os gregos antigos.
(1) Paulo respondeu “sim” à pergunta: “Será que Deus pode ser conhecido?” Isso é uma refutação
dos céticos gregos e dos epicureus, que negavam a existência de Deus.
(2) Paulo não começou com uma prova da existência de Deus (v. 24). Ele pressupôs a realidade de
Deus, mas não qualquer Deus; o Deus Criador. Contra os materialistas, asseverou que Deus re-
almente existe.
(3) Paulo declarou a distinção entre a criação e o Criador. Os deuses dos gregos não eram trans-
cendentes no sentido de serem separados do universo. Para eles o universo em si era último, mas
para Paulo só Deus era. O panteísmo, o politeísmo e o ateísmo estavam excluídos do pensamento
paulino.
(4) Deus é Senhor do céu e da terra. Ele não é apenas um símbolo, nem é o cosmos em si. A im-
plicação é que Ele é pessoal, e enquanto os gregos tinham deuses pessoais, a realidade última era
impessoal na sua filosofia. Com certeza, nem a realidade última dos gregos, nem os deuses, eram
considerados seres soberanos sobre a terra. Paulo introduziu uma estranha idéia de Deus, que
contradisse tudo em que os gregos acreditavam.
(5) Deus não habita em templos. Alguns filósofos gregos concordaram com essa reivindicação,
mas a existência dos muitos templos em Atenas deu bastante testemunho ao fato de que a maioria
dos gregos localizaram os seus deuses aí. Paulo defendeu a onipresença de Deus.
(6) Paulo declarou a asseidade ou independência de Deus (v. 25). Deus não precisa de nada mas é
completo em si. Os rituais religiosos, pois, não acrescentam nada a Deus. A religiosidade do povo
grego era irrelevante para o verdadeiro culto a Deus. Mais uma vez Paulo destacou a distinção
entre o Criador e a criatura.
(7) Deus é a origem da vida. Segundo os epicureus a vida era a forma mais alta de organização da
matéria. A vida tinha uma origem impessoal, segundo eles. Para os estóicos a origem de tudo, o
logos, era também impessoal. Paulo declarou que na origem da vida e de todas as outras coisas
estava um Deus infinito e pessoal.
(8) Paulo atacou o racismo e o elitismo, e também colocou todas as pessoas no mesmo nível
quando declarou a unidade da raça em Adão (v. 26). Os estóicos aceitavam a unidade da raça
humana no sentido físico. Outros gregos não acreditavam nessa unidade, mas faziam uma dis-
tinção entre eles mesmos e os bárbaros. Além disso, alguns gregos (gnósticos) distinguiam entre
três classes de homens: os homens da carne, os homens da alma, e os homens do espírito. Os
homens da carne eram incapazes de entender coisas espirituais, os homens da alma tinham alguma
capacidade para entender mas apenas até certo ponto, e os homens espirituais (naturalmente os
gnósticos) tinham uma superioridade que lhes permitia acesso ao conhecimento oculto da sua
religião.
(9) Deus fez o homem para cumprir um propósito. O homem não existe por acaso mas a sua
existência tem significado. Paulo fez uma alusão ao imperativo cultural que Deus deu ao homem,
para ele se multiplicar e encher a terra.
(10) A história é predestinada por Deus. Na área da teleologia, a história tem um fim determinado
por Deus. Especificamente, antes da criação, Deus determinou os tempos e os lugares em que os
povos habitariam a terra. A história, portanto, não pode ser cíclica e não era determinada por um
destino cego e impessoal, nem era resultado do acaso. Contra essas especulações dos gregos, Paulo
afirmou que a história é controlada pelo plano do Deus pessoal.
(11) Deus é soberano sobre os lugares e tempos onde habitam os povos (v. 27). Deus colocou os
povos nos seus lugares para que eles O buscassem. A cidade-estado grega não é divina e não
merece obediência absoluta, como Sócrates dizia. Só Deus merece tal obediência.
(12) O homem tem a responsabilidade de buscar a Deus. Paulo pressupôs que todas as pessoas
fossem capazes de conhecer a Deus. Isso constituiu mais uma negação da idéia de que algumas
pessoas são inerentemente superiores no âmbito espiritual.
(13) Deus não está longe de cada um de nós. Deus está interessado no homem. Os epicureus, sendo
ateus, e os estóicos, sendo panteístas, achavam que a realidade última não tinha nenhum interesse
nos seres humanos.
(14) Paulo citou dois poetas gregos para mostrar que mesmo na sua religião pagã, os gregos tinham
recebido alguma coisa da revelação de Deus (v. 28). Os gregos deturparam esta revelação, atri-
buindo a Zeus as coisas de Deus. Mesmo assim, as idéias de que o próprio Deus seja o ambiente
em que tudo existe e a origem de todos os homens não eram noções totalmente estranhas. Paulo
colocou conteúdo cristão nas palavras dos poetas gregos.
(15) Paulo revelou a irracionalidade da religião grega (v. 29), mostrando que a sua prática era
inconsistente com a sua teoria. Desde que somos gerados por Deus, não faz sentido fabricar i-
magens das divindades, como se fosse possível criar um deus. Deus não pode ser representado por
uma imagem. Paulo atacou fortemente a idolatria grega.
(16) Deus é misericordioso (v. 30). Deus está disposto a esquecer o que os homens fizeram na sua
ignorância, contanto que eles se arrependam e voltem para Ele. Ao contrário dos deuses gregos, o
Deus verdadeiro se importa com o homem.
(17) Deus fala. Deus pode se comunicar com o homem através de proposicões racionais. O uni-
verso não é fechado. Existe uma revelação de Deus e essa revelação vem com autoridade abso-
luta. A interpretação da realidade ulterior não é descoberta por dentro do próprio universo, mas os
princípios para interpretar o universo vêm de fora dele. Deus é o ponto de referência último na área
da epistemologia.
(18) Deus manda que eles se arrependam. O ser humano não é autônomo. Deus tem o direito de
mandar nele. Paulo estava pressupondo que eles fossem pecadores. A salvação não vem por meio
da filosofia, do conhecimento oculto, nem de rituais religiosos. A piedade dos gregos não era
gnosis, mas ignorância.
(19) Deus determinou um dia para julgar o mundo (v. 31). Deus controla a história, inclusive o
futuro. Ele pode intervir na história. A história caminha para um fim determinado por Deus. O
tempo é linear, não cíclico.
(20) Paulo declarou que Deus julgará o mundo com justiça. Deus é o padrão da justiça. O sumo
bem é definido pelo caráter de Deus. Contra Sócrates, Deus não ama o bom porque é bom em si,
mas o bom é bom porque Deus o ama. Os deuses gregos sempre mudavam e faziam coisas imorais,
mas o Deus verdadeiro tem um caráter moral que sempre foi consistente. Deus, portanto, é o ponto
de referência final na ética.
(21) Paulo introduziu o conceito da encarnação quando ele disse que o juízo de Deus será exercido
por um homem. A encarnação é única, não existem muitos deuses na forma de homem, mas só
Jesus Cristo. A salvação está disponível somente através dEle.
(22) Deus deu certeza a todos por meio de um ato na história. Para os gregos, a história não tinha
nada a ver com a verdade religiosa. Paulo colocou a idéia hebraica da história diante dos gregos e
declarou que os eventos da história são importantes em relação às coisas eternas.
(23) A veracidade do evangelho não é uma questão de probabilidade, mesmo que seja uma pro-
babilidade muito alta. Paulo não pregou que a evidência do evangelho é de 95% e deve ser aceito.
Ele disse que era absolutamente verdadeiro sem nenhuma possibilidade de ser falso. O futuro não
consiste em possibilidade pura, mas é controlado por Deus.
(24) A prova do evangelho é um evento específico: a ressurreição corporal de Jesus. Paulo negou o
conceito grego da relação entre o corpo e a alma. Alguns gregos acreditavam na reencarnação, e
outros (os epicureus), que a pessoa deixa de existir depois da morte. Os gnósticos acreditavam
numa evolução espiritual que exigia a saída do corpo. A noção de uma ressurreição fisíca era
incompreensível.
(25) Entre os que se converteram, Lucas notou um homem e uma mulher (v. 34). No contexto, isso
é extraordinário porque os gregos não consideravam as mulheres iguais espiritualmente aos ho-
mens.
Conclusão - Nos versículos 32-34 Lucas relata os resultados da pregação de Paulo. Estas três
reações incluíam todas as possibilidades. Alguns rejeitaram a mensagem, achando que era tolice.
Alguns quiseram pensar na mensagem e continuar a discussão. Finalmente, alguns outros aceita-
ram a mensagem, sendo convencidos pelo argumento.
Paulo colocou diante dos gregos, sem ambigüidade, uma escolha entre Cristo e o paganismo.
Começando a partir de pressupostos bíblicos, ele respondeu às reivindicações maiores da filosofia
e religião gregas mostrando a superioridade do cristianismo. Ele fez uma comparação entre duas
cosmovisões e desafiou os gregos a aceitarem a Cristo. A questão relevante para nós é: Como
aplicaremos esse exemplo a uma apologética contemporânea?
Apologética VI
A Queda e a Estrutura da Mente Caída
I. A questão da RELIGIÃO. Há muitas definições da religião mas, entre elas, um aspecto comum é
que todas elas tentam explicar o mundo e oferecer uma cosmovisão que abranja toda a experiência
dos seus adeptos. Portanto, podemos entender a religião de uma pessoa como a sua cosmovisão.
Ela é fundamentada na resposta da pessoa à sua própria existência no mundo criado por Deus
(revelação geral). As questões básicas são as seguintes: Qual é a natureza do ser ulterior? e qual é a
base ulterior do todo conhecimento? Trataremos, agora, as questões da epistemologia e da onto-
logia para vermos o que a Bíblia diz sobre elas.
Existem vários argumentos usados para comprovar a existência de Deus. É importante observar
que a Bíblia não tenta oferecer provas assim. No primeiro versículo é declarado: “No princípio
criou Deus os céus e a terra”. A existência de Deus é algo pressuposto e declarado. Além disso, o
Deus pressuposto não é apenas qualquer Deus. Ele é o Criador de todas as coisas. Portanto, Ele é
distinto da criação e é soberano sobre a criação.
Como Criador do universo, Deus também é o primeiro intérprete da criação. Como Criador Deus
não interpreta a criação através do empirismo, como se fosse algo que já existia e foi descoberto,
pesquisado, e depois interpretado. O universo nunca existiu sem interpretação. A interpretação do
universo veio primeiro, antes da criação, no plano eterno de Deus. A criação realizou o plano que
Deus tinha antes de criar o universo. Na interpretação de todas as coisas, portanto, Deus é a auto-
ridade final. A interpretação de Deus do universo está na Palavra de Deus, a Bíblia. Ela é o único
alicerce que funciona para sustentar a possibilidade do conhecimento, ou seja, a correta interpre-
tação do universo. O problema é: quem é a autoridade ulterior? No fim das contas, a autoridade
da Bíblia reside no auto-testemunho da própria Bíblia porque não existe nenhuma outra autoridade
ulterior por meio do qual a Bíblia possa ser medida. A Bíblia é a autoridade final e ulterior para
todo conhecimento.
III. A QUEDA envolveu mudanças radicais nas quatro áreas que definem qualquer cosmovisão:
conhecimento (epistemologia), existência (ontologia), ação (ética), e alvo do universo (teleologia).
Isso quer dizer que com a chegada da palavra da serpente, Adão e Eva enfrentaram dois universos
diferentes e contraditórios.
Cosmovisão No. 1 (Interpretação de Deus) Cosmovisão No. 2 (Interpretação de Satanás - Gn. 3:1-21)
Temos nessa apresentação as duas cosmovisões nas formas puras. Na realidade, existem várias
tentativas a sintetizá-las. Além disso, as contradições inerentes na cosmovisão pagã fazem com
que o incrédulo enfatize um aspecto ou outro, sempre buscando, mas nunca achando, o equilíbrio e
a consistência no pensamento dele. Apesar das diferenças superficiais, todas as filosofias pagãs
têm uma raiz comum. A cosmovisão do diabo é fundamentada na negação da distinção entre o
Criador e a criatura. A mente caída se recusa a reconhecer que Deus é ulterior, preferindo buscar o
ponto de referência final no mundo, e adorar e servir à criatura antes que ao Criador (Rm. 1:25). Os
resultados dessa decisão têm sido desastrosos, quer na vida intelectual, quer na vida prática. Na
próxima aula vamos ver a incoerência da cosmovisão pagã, o dilema prático que ela traz, e como
somente o Deus da Bíblia pode resgatar o homem do caos que ele provocou.
Apologética VII
A Mente Caída: Evolução Cósmica e a Escala da Existência
I. Agora nós podemos fazer um resumo da cosmovisão do incrédulo, fundamentada nas declara-
ções feitas pela serpente no jardim do Éden e aceitas por Adão e Eva. Essa cosmovisão corres-
ponde àquilo que o filósofo Aldous Huxley chamou de “Filosofia Perene” porque ela aparece em
quase todas as culturas de uma forma ou outra. Ela é tão comum que não seria errado se dissés-
semos que é a maneira natural do homem interpretar o universo. Esta cosmovisão existe em con-
traste com o ensino da Bíblia sobre a criação e representa a interpretação pagã do universo porque
começa com o pressuposto de que o universo não é criado mas é auto-existente. A fonte dessa
visão do universo está nos pressupostos básicos da queda, fundamentada nas declarações feitas
pela serpente no jardim do Éden e aceitas por Adão e Eva.
A. A essência do universo - (ontologia) - Tudo o que existe faz parte de um Ser em geral. O Ser é
indeterminado (o acaso) e também é capaz de ser controlado (determinismo impessoal e absoluto).
Deus (se admitir que Ele existe) vive conosco num meio-ambiente comum de possibilidade pura.
Ele é apenas um aspecto do Ser em geral. Implicações - Diz-se que aquilo que é produzido no
universo é produzido por acaso. Para evitar reduzir o universo ao caos, que a noção de acaso
implica, a ordem e a unidade aparente do universo são explicadas por uma lei mecânica de cau-
salidade absoluta que se conforma às leis da matemática e lógica, ou uma lei impessoal e espiritual
de desenvolvimento. Os dois processos implicam que todos os acontecimentos são causados pelos
eventos antecedentes num processo impessoal. O incrédulo então tem um conceito da realidade
definida pelas idéias contraditórias de acaso e determinismo mecânico. Esse dilema é chamado de
“o problema da unidade e multiplicidade” (“o Uno e o Múltiplo” ou “o Único e os Muitos”),
porque de um lado a realidade última é vista como uma unidade absoluta e do outro lado é vista
com uma multiplicidade.
C. Ação - (ética) - O padrão da ética é a experiência humana. Não existe um padrão do bem e do
mal que seja absoluto. Implicações - O problema da unidade e da multiplicidade surgiu no campo
da ética também. Sem um ponto de referência absoluto, cada pessoa se tornou uma lei em si
mesma. O resultado é relativismo absoluto.
Essa filosofia organiza todo Ser numa escala com unidade absoluta por cima e caos absoluto (ou
não existência) por baixo. A multiplicidade (todas as coisas particulares que existem) está loca-
lizada numa escada (ou uma corrente) entre o caos e a unidade. Todas as coisas estão evoluindo a
partir dos níveis baixos de caos, desordem, e diversidade aos níveis altos de perfeição, ordem, e
unidade. Como no sistema dos gnósticos, coisas espirituais e boas estão por cima e coisas materiais
e más estão por baixo na escala. Por exemplo, anjos estão acima dos seres humanos e os seres
humanos estão acima dos cachorros, das árvores, e das pedras. Essa filosofia, então, propõe que
todas as coisas existam numa hierarquia. Dependendo do sistema, se diz que tudo foi criado por
Deus assim ou que as particulares emergiram do caos naturalmente e estão se evoluindo para a
unidade (divindade). A filosofia da escala da existência é mais explícita nos sistemas de ocultismo
como o espiritismo e a Nova Era. Também ela é importante nas teorias modernas de evolução
biológica, nas cosmologias da ciência de física, e até na teologia da igreja católica.
III. A solução bíblica - A solução da confusão e da futilidade da mente caída é rejeitar a estrutura
do pensamento do incrédulo e começar novamente. A pergunta, “Que aspecto da realidade vem
por último, o único ou os muitos,” não é uma pergunta válida porque nenhum aspecto do universo
é ulterior. Somente o Deus triúno da Bíblia é ulterior. O universo (inclusive o homem) é depen-
dente de Deus. A realidade última, o Deus da Bíblia, é igualmente uma unidade e uma diversidade.
Ele existe em uma só essência na forma de três pessoas distintas. O Deus uno e o múltiplo criou o
mundo na forma de uma unidade e de uma diversidade também. Os fatos (a multiplicidade) são
reais e distintos. Porém, eles não existem por acaso e sem interpretação. Eles são relacionados uns
com os outros mediante o plano soberano de Deus. Deus tem conhecimento exaustivo deles. A
unidade do universo é achada, portanto, no plano e no conhecimento do Deus triúno. O universo
somente faz sentido à luz da cosmovisão cristã.
Unidade: Multiplicidade:
Universal Particular
Lógica Dados
Teoria Prática
Continuidade Descontinuidade
Alma ??????????????????? Corpo
Eternidade Tempo
Forma A TENSÃO ETERNA Matéria
Estado Individual
Causalidade ??????????????????? Contingência
Ordem Caos
Fatalidade Liberdade
Racionalismo Irracionalismo
Bem, Ser Mal, não Ser
Ciência Religião
Razão (Conhecer) Fé (Crer)
Cabeça Coração
Ser Último "O Um" Deus Olorúm Deus (Energia, Matéria e energia impessoal)
Unidade
absoluta Anjos Os deuses Os deuses
Santos (Oxalá, etc.)
O mundo (Maria, etc.) Espíritos dos Espíritos dos
espiritual Mortos Mortos
(Purgatório)
--------------------------------------------------------------------------------------
O mundo O homem Pai/Mãe de O homem Os animais
físico (masculino) santo (branco) (O ser humano
O Papa (masculino) macacos,
(hierarquia da Os “cavalos” (feminino) aves, répteis, etc.)
igreja) Casta plantas
Leigos iniciados (preto) os planetas, etc.
(feminino) Sem casta átomos, etc.
Freiras não-iniciados Animais
Leigas Plantas
A Terra
Animais energia, caos
A terra
O ciclo Multiplicidade
eterno absoluta
Não Ser “Os Muitos” Inferno Caos Caos (big bang)
Apologética VIII
A Existência de Deus
Existem várias argumentos na história da filosofia em prol da existência de Deus, e também muitos
contra. Agora discutiremos os argumentos mais importantes.
A. O argumento ontológico - Este argumento foi inventado por Santo Anselmo (1033-1109) e é
resumido por Geisler e Feinberg da seguinte maneira:
Alguns reclamaram que o argumento pode comprovar a existência de qualquer coisa, uma ilha
perfeita por exemplo, mas Anselmo respondeu que a existência não é, por definição, qualidade de
uma ilha perfeita, mas é uma qualidade de Deus por definição. Kant criticou o argumento obser-
vando que a existência não é um predicado de algo mas apenas uma declaração de um fato, a coisa
ou existe ou não existe. Então o argumento não é valido.
B. O argumento moral. Existe nos seres humanos um sentido moral. A lei moral é comum e parece
que ela exige a existência de um absoluto moral. Mas se Deus não existe, não existe um absoluto
moral. Logo, Deus deve existir. Padrões morais exigem a existência de padrões morais absolutos,
que exigem a existência de Deus.
Segundo o argumento moral, se Deus não existisse, todos as leis morais seriam apenas opiniões
subjetivas. Mas ninguém, mesmo o relativista, acha que não exista nenhuma lei moral absoluta. Os
relativistas, pelo menos, acham que o relativismo é verdadeiro e que temos a obrigação moral de
aceitá-lo. Mas isso é igual a dizer que existe uma lei moral absoluta. O relativismo moral é uma
contradição lógica. Logo, o relativismo deve ser falso.
C. O argumento cosmológico. Este argumento diz que o que é contingente não pode ser au-
to-existente. O universo é um ser contingente. Portanto, ele depende de algo mais para a sua e-
xistência. O argumento tem duas formas.
Os ateus Stephen Jay Gould (The Panda’s Thumb) e Richard Dawkins (The Blind Watchmaker),
têm tentado mostrar que o universo tem exemplos de desordem inconsistente com o planejamento.
Por outro lado, o físico Hugh Ross (The Fingerprint of God, The Creator and the Cosmos), ar-
gumenta que muitos cientistas estão admitindo a existência de Deus porque a evidência é muito
forte.
A forma clássica do argumento foi de William Paley, que disse que ao achar um relógio no campo,
ninguém imaginaria que passou a existir lá por acaso. Todo mundo diria que deve existir um
relojoeiro. O problema é que essa analogia não funciona no caso do universo. Nossa experiência
com relógios e relojoeiros nos mostra que o relógio tem um criador, mas não temos nenhuma
experiência empírica que indica que o universo tem que ter um planejador. Talvez Kant estivesse
certo quando disse que a ordem do universo não existe em si, mas é a mente humana que impõe
uma estrutura nele.
A existência da ordem é uma questão de interpretação, mas um ser finito (o ser humano) não pode
ter uma interpretação compreensiva do universo. Também ele não pode transcender o universo
para ver se existe um planejador do lado de fora dele. Para ter certeza de que o universo foi pla-
nejado, ele teria que ter uma interpretação exaustiva do universo, ou seja, ele teria que ser infinito.
Mas ele não é. Daí, o ser humano finito precisa da interpretação de um Ser infinito para entender o
planejamento do universo. Portanto, o planejamento aparente em si não é uma prova da existência
de Deus, embora seja muito mais consistente com os pressupostos do cristianismo do que os do
ateísmo. Por exemplo, Hugh Ross cita os cálculos do biofísico Harold Morowitz a respeito da
dificuldade da origem da vida por acaso. Segundo Morowitz, se todos os elementos de uma célula
viva estivessem num só lugar, a probabilidade, nas melhores condições, de eles se tornarem uma
célula viva seria uma em 10100,000,000,000 (The Creator and the Cosmos, p. 139)
O lado negativo desse argumento é aceitar, por força do argumento, a posição do incrédulo, e
mostrar que essa posição implica a destruição de todo o conhecimento, propósito e moralidade. A
posição do não-crente termina no abismo. Qualquer interpretação do universo finito que tenha a
sua origem dentro do universo finito será sempre limitada. Existem muitas interpretações finitas
entre os filósofos, cientistas e outros. Todas essas interpretações são opiniões de seres finitos, mas
quem vai determinar qual é a melhor? Para ter conhecimento da realidade o homem precisa de uma
interpretação do universo fundamentado no conhecimento infinito. A única fonte possível é uma
revelação de um Ser infinito.
Apologética IX
Como posso saber que a Bíblia é a Palavra de Deus?
I. A questão básica - A pergunta fundamental ao falar com o incrédulo sobre a Bíblia é a base da
autoridade ou a localidade do ulterior. Portanto, antes de falar com ele sobre a veracidade da Bí-
blia, é preciso colocar diante dele o desafio que ele necessariamente vai enfrentar ao rejeitar a
Bíblia. Na realidade, a pergunta não é: “Como você (o crente) sabe que a Bíblia é verdadeira?” A
pergunta é: “Como você (o incrédulo) sabe que ela não é verdadeira?”
Conforme as duas religiões das quais já tratamos em Gn 3, só existem duas atitudes acerca da
Bíblia. A primeira pressupõe que toda a realidade deva ser interpretada à luz da Bíblia porque ela é
a inerrante palavra de Deus. A segunda atitude nega que a Bíblia seja digna de confiança. Portanto,
o padrão para a interpretação do mundo seria localizado no mundo em si (Ser em geral). Um bom
método é examinar as duas posições para saber as suas conclusões. Qual seria o resultado? Pri-
meiro vamos investigar o pressuposto da inerrância da Bíblia.
II. A base da autoridade - A Bíblia declara a sua autoridade. Hoje em dia há muitos, até alguns
evangélicos, que alegam que a Bíblia não declara a sua própria inerrância. Mas ao contrário, a
Bíblia afirma com muita força a doutrina da inerrância da palavra de Deus. Veja os versículos
seguintes: Sl. 19:7-11 - perfeito; Sl. 119:89 preservado no céu; Sl. 119: 144 - a verdade; Mt. 4:4- as
palavras da boca de Deus; Lc. 1:4 - infalível; Jo 10:35, 2 Tm. 2:13 - não tem contradições; 2Tm.
3:16-17 - a fonte dela é Deus, literalmente a Bíblia é respirada por Deus; 2Pd. 1:20-21 - não um
produto da vontade humana, mas de Deus. A doutrina da inerrância é o ensino da Bíblia sobre a
sua própria natureza de que tudo que a Bíblia afirma como verdade, é verdadeiro, quer na área da
história, quer nos fatos da natureza (ciência), quer na religião
.
O ensino de Jesus - Em Mt. 5:17-18 a Bíblia nos dá a opinião de Jesus acerca da veracidade da
palavra de Deus: “Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir.
Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da lei
um só i ou um só til, até que tudo seja cumprido.”
A afirmação da Lei que é dada no verso 18 é uma afirmação forte da inerrância da Bíblia. A pa-
lavra “lei” pode funcionar como uma palavra técnica que descreve a Lei de Moisés e também
como uma referência ao Velho Testamento, num sentido mais geral. Nesse último, subentende-se
que o Velho Testamento é perfeito. Isso quer dizer que todas as proposições afirmadas no Velho
Testamento são verdadeiras. Desde que elas são verdadeiras, o VT inteiro é inerrante. A impor-
tância dessa afirmação de Jesus não pode ser subestimada. O ser humano finito precisa de um
ponto de referência fora de si, para interpretar o mundo. Esse ponto de referência é Deus. Mas só
conhecemos esse ponto de referência, Deus, mediante a Sua revelação. A Bíblia, portanto, foi dada
para ser o ponto de referência final para a interpretação do mundo.
III. O cânon - Como nós sabemos que a Bíblia tem os livros certos?
A. O Velho Testamento - Os livros do VT já eram aceitos pelos judeus antes do tempo de Jesus.
Eles eram classificados em três divisões: 1) A Lei - Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deute-
ronômio; 2) os Profetas - Josué, Juízes, Samuel, Reis, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Os Doze; e 3) Os
Escritos - Salmos, Provérbios, Jó, Cântico dos Cânticos, Rute, Lamentações, Ester, Eclesiastes;
Daniel, Esdras-Neemias, Crônicas. O VT de Jesus era igual ao VT que temos hoje. Jesus declarou
todos esses livros como a escritura canônica em Lucas 24:44: “São estas as palavras que vos falei,
estando ainda convosco, que importava que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei
de Moisés, nos profetas e nos Salmos.” Os Escritos eram chamados pelo nome do livro maior, os
Salmos. Se ainda existe dúvida, veja as palavras de Jesus em Lucas 11:51: “desde o sangue de
Abel até ao de Zacarias.” Jesus citou o primeiro e o último livro no VT, segundo a ordem dos livros
na Bíblia hebraica, dando a autoridade dEle ao inteiro conteúdo do VT.
B. O Novo Testamento - O testemunho dos pais da Igreja mostra que os livros do VT e do NT eram
reconhecidos como escritura pela maior parte da Igreja desde os dias dos apóstolos. Pedro afirmou
que as cartas de Paulo eram escritura (2 Pd. 3:15-16). Policarpo (um discípulo de João), Clemente,
e Justino Mártir, no século seguinte, aceitavam os livros do VT e do NT como Escritura. A ne-
cessidade de definir o cânon surgiu porque vários hereges, como Marcião (140 A. D.), começaram
a propagar alternativas. Desde que existiam livros espúrios, os líderes da igreja decidiram publicar
uma lista dos livros reconhecidos pela Igreja inteira. É importante saber que o propósito era so-
mente aceitar os livros que não poderiam ser excluídos. Nas palavras de F. F. Bruce: “quando
finalmente um Concílio da Igreja - o Sínodo de Hipona (393 A. D.) - elaborou uma lista dos vinte
e sete livros do Novo Testamento, não lhes conferiu qualquer autoridade que já não possuíssem,
mas simplesmente registrou a canonicidade previamente estabelecida.” Para não ser excluído do
cânon um livro tinha que ter a autoridade dos apóstolos. Somente sete dos livros foram questio-
nados: Hebreus, Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas e Apocalipse. Eles não poderiam ser excluídos
porque eles vieram dos apóstolos ou do círculo deles.
IV. A integridade do texto da Bíblia - A Bíblia foi mudada? Uma acusação comum contra a Bíblia
é que ela foi mudada, por acidente ou de propósito, e portanto, não é possível confiar nela. Os
adeptos da Nova Era declaram que a Bíblia foi mudada para tirar os ensinos sobre a reencarnação,
que eles insistem estavam contidos nos manuscritos originais. O que diz a evidência?
A. O VT - Antes do descobrimento dos Rolos do Mar Morto, o mais antigo manuscrito do VT com
o texto hebraico completo tinha uma data do décimo século (900 A. D.). Um exemplo da precisão
do processo de copiar os manuscritos é que o manuscrito de Isaías (100 a. C.) nos Rolos do Mar
Morto corresponde quase exatamente ao texto massorético de Isaías (916 A. D.). As diferenças são
apenas questões de ortografia e não do sentido do texto. Os massoretas (quem copiava o texto)
eram fanáticos em relação à fidelidade da preservação do texto. Eles tinham regras estritas sobre
como copiar, inclusive contar cada palavra e cada letra da cópia para verificar se os números
correspondiam ao original.
V. Vimos que a Bíblia declara a sua inerrância e que ela tem sido preservada durante as épocas da
história. Mas só isso não comprova que ela é nem fidedigna nem a verdadeira Palavra de Deus.
Que evidência existe para apoiar a noção de que a Bíblia é o único livro revelado por Deus?
A. A Bíblia concorda com os fatos? Podemos usar a prova empírica para verificar a veracidade da
Bíblia.
2. A evidência da profecia cumprida - A Bíblia tem muitas profecias detalhadas. Muitas delas
fazem referência a lugares específicos. Portanto, podemos comparar as profecias com a história
que se seguiu, para verificar se as profecias foram cumpridas. Exemplo: (veja McDowell, p. 379).
Babilônia: a) será como Sodoma e Gomorra (Is 13:19); b) jamais será habitada de novo (Jr 51:26;
Is 13:20); c) ali os árabes não armarão tendas (Is 13:20); d) lá não haverá rebanhos de ovelhas (Is
13:21); e) não se usam as pedras das ruínas para construir outras coisas (Jr 51:43); f) estará coberta
de pântanos (Is 14:23). Babilônia era uma cidade grande e poderosa. Mas a cidade foi capturada
por Ciro (veja Dn 8) e depois de uma série de guerras a cidade ficou tão prejudicada que o custo de
a reconstruir era maior do que construir uma nova cidade. Isso foi feito 60 km. ao norte e Babilônia
tornou-se um deserto. Hoje é ainda um lugar sem habitantes a não ser animais selvagens. Então a
cidade foi destruída e abandonada como Sodoma e Gomorra. Ela jamais foi habitada de novo, nem
por árabes nas tendas, que chamam o lugar de “o deserto das águas”, porque os rios transbordaram
e o lugar se tornou um pântano. Todas as profecias foram cumpridas. A probabilidade disso tem
sido calculada em 1 em 5x109, ou seja uma vez em 5.000.000.000. Em outras palavras, a proba-
bilidade é praticamente zero. Os exemplos podem ser acrescentados: Tiro (Ez 26), Sidom (Ez 28),
Gaza (Am 1, Jr 47, Sf 2), Moabe (Ez 25). A probabilidade que todas essas profecias e as demais no
VT fossem cumpridas é tão pequena que é um absurdo supor que os cumprimentos tenham a-
contecido por acaso.
VI. A Bíblia e as grandes perguntas - A Bíblia é o único alicerce que funciona para sustentar a
possibilidade do conhecimento. O problema é o que é a autoridade ulterior? - A pergunta fun-
damental ao falar com o incrédulo sobre a Bíblia é: qual é a autoridade final na área do conheci-
mento (epistemologia)? Portanto, antes de falar com ele sobre a veracidade da Bíblia, é preciso
colocar diante dele o desafio que ele necessariamente vai enfrentar ao rejeitar a Bíblia. Na reali-
dade, a pergunta não é: “Como você (crente) sabe que a Bíblia é verdadeira?” A pergunta: “Como
você (incrédulo) sabe que tem conhecimento de qualquer coisa?” No sistema cristão, a Bíblia é a
base do todo o conhecimento. Se o incrédulo rejeitar a Bíblia como base do conhecimento, ele
estará obrigado a providenciar uma teoria que estabeleça uma outra base. Se ele não tiver uma
teoria válida do conhecimento, ele não terá uma base ou um padrão para julgar a veracidade da
Bíblia. Por isso, quando o incrédulo nega a veracidade da Bíblia, o crente tem o direito de exigir
que ele produza uma teoria alternativa. Se ele não conseguir, ele não terá direito algum em criticar
o crente. Destarte, no início da conversa o crente deve abrir a discussão para que ela inclua os dois
lados.
O problema de quem nega que Deus tenha dado uma revelação inerrante na Bíblia é que ele ficará
sem um ponto de referência para o conhecimento que transcende o universo finito e contingente.
Ele aceita com o filósofo grego Strato de Lamcisus, que os princípios para interpretar o mundo
existem no mundo em si. Mas o mundo em si é admitido pelo incrédulo como sendo um resultado
de processos controlados pelo acaso. O universo enfrenta o homem como uma coleção de fatos
brutos e sem interpretação prévia. Mas num universo assim, nenhum fato seria relacionado com
outro. Qualquer ponto de referência derivado de dentro do universo finito, seria finito e relativo
também. Não existiria interpretação alguma que fosse objetiva e compreensiva. De fato, toda
interpretação seria apenas a opinião subjetiva do intérprete.
Pior ainda, se tudo fosse o resultado do acaso, então não seria possível identificar fato algum.
Todos os “fatos” seriam somente acontecimentos ao acaso. Sem uma unidade não seria possível,
portanto, distinguir um fato de outro. Todos os fatos ficariam perdidos num abismo de puro acaso.
Por outro lado, quando o incrédulo tenta unir os fatos pela negação de que “os muitos” são ulte-
riores, ele ainda perde os fatos numa unidade absoluta, porque se o mundo só fosse um, então “os
muitos” não existiriam. A conclusão desse exercício desagradável é que a partir do mundo só, não
há possibilidade para justificar o conhecimento. Parece que sem um ponto de referência inerrante,
que venha de fora do universo finito, o ser humano tem que viver num universo sem sentido, sem
conhecimento e sem significado.
Apologética X
Quem é Jesus Cristo?
I. A identidade de Jesus Cristo é a pergunta mais importante que o incrédulo enfrenta. Ele tem que
fazer uma decisão a respeito do seu relacionamento para com a pessoa de Jesus Cristo. Para ser
salvo ele tem que entender quem é Jesus.
Todas as religiões têm os seus fundadores e grandes líderes. Todos são iguais? Se não, então, quais
são as diferenças?
II. A identidade de Jesus segundo o próprio Jesus. Jesus declarou a sua própria divindade. Muitos
teólogos liberais negam que Jesus disse que Ele mesmo era Deus. Esses teólogos também negam a
fidedignidade da Bíblia como um documento histórico, apesar da evidência que já citamos ante-
riormente. Eles fazem isso porque eles têm um preconceito filosófico que diz que milagres são
impossíveis. Qualquer documento que relata milagres é automaticamente classificado como mito.
Começam o estudo sobre Jesus com as mentes fechadas por causa do dogma filosófico deles.
Os adeptos da Nova Era aceitam as declarações de Jesus mas eles fazem uma reinterpretação e
chegam à conclusão que Jesus era um grande guru. Eles aceitam que Ele era Deus mas falam que
todos nós somos deuses iguais a Ele.
A. Jesus era judeu. É muito importante lembrar o contexto judaico de Jesus. Ele gastou a vida dEle
inteira vivendo como judeu no meio dos judeus. Ele aceitou a cosmovisão do VT. Portanto,
quando Ele falava em Deus sempre estava fazendo referência ao Deus do VT. Quer dizer, o Deus
de Jesus era o Deus pessoal e distinto da criação e não o Deus do panteísmo dos hindus.
B. Declarações de Jesus: Mc 14:61-64 - Jesus foi condenado porque Ele declarou a sua divindade.
Jo 10:30-33. Jo 8:24; 58 - Jesus usou para si mesmo o nome de Deus, que foi revelado a Moisés no
VT (Êx 3:14). Mt 8:2 - Jesus aceitou louvor e adoração.
C. Explicações - Muitas pessoas, que não aceitam a divindade de Jesus, acreditam que Ele foi um
grande homem, com muita sabedoria. Mas esta atitude é impossível à luz dos fatos. Se Jesus não
era Deus, então só há duas possibilidades; Ele era fraudulento e mentiroso ou era lunático. Mas
quase ninguém faz essas acusações contra Ele porque é fácil ver, mesmo através duma leitura
superficial dos evangelhos, que Jesus era uma pessoa com uma ética pessoal do mais alto padrão e
que também Ele não agiu como um louco. Então, a conclusão de que Ele realmente era Deus é
inevitável para quem estuda o assunto objetivamente.
III. A ressurreição e outros milagres. Entre as provas mais fortes da divindade de Jesus estão os
seus milagres. E dentre os milagres, a ressurreição é o mais importante. Se podemos aceitar a
ressurreição de Jesus dentre os mortos, então é fácil aceitar os outros milagres. Por isso, a histo-
ricidade da ressurreição é atacada violentamente pelos incrédulos. Qualquer teoria acerca dos
eventos do terceiro dia após a morte de Cristo tem que explicar três linhas de evidência. 1) O
túmulo vazio. 2) As aparições de Jesus a mais de 500 pessoas. 3) A mudança dos discípulos e o
fato que eles acreditavam que Jesus estava vivo. Isso é especialmente difícil de se explicar uma vez
que eles ficaram apavorados e derrotados depois que Jesus foi morto.
Apologética XI
O Problema do Mal
Uma objeção que quase sempre surge, quando se prega o evangelho, é o problema do mal. Se Deus
é bom, por que existe o mal? Esse problema não é simplesmente uma questão intelectual, porque
todo mundo terá a experiência da dor e do sofrimento, inclusive os crentes. Ao responder a essa
questão, portanto, é preciso abordar tanto as situações pastorais quanto às dificuldades intelectuais.
Realmente, é impossível separar as duas respostas.
(1) Um Deus totalmente bom não permitiria crianças inocentes sofrerem e morrerem
(2) Um Deus onipotente pode evitar o sofrimento das crianças inocentes
(3) Crianças inocentes sofrem
(4) Deus não é bom ou não é onipotente, ou Deus não existe
II. Pressupostos - Muitas vezes o problema não é a questão em si, mas os pressupostos ulteriores. A
objeção supra tem dois problemas.
A. Se o problema fosse resolvido mediante a negação da existência de Deus, então não seria pos-
sível falar sobre o que é o bem e o mal objetivamente. Se só existisse o mundo físico, da matéria e
da energia, a realidade básica seria impessoal. Mas num universo impessoal, não existe uma
pessoa infinita, um referencial absoluto e pessoal. Quer dizer, todas as pessoas que existem são
finitas. Agora, os conceitos do bem e do mal são interpretações do mundo feitas por seres pessoais
que podem refletir e pensar. O bem e o mal não podem existir na matéria e na energia cruas.
Portanto, sem um ser infinito e pessoal, as idéias do bem e do mal seriam reduzidas a apenas
opiniões e preferências dos vários seres finitos que existem no universo. A declaração, “é errado
matar uma pessoa”, seria igual à expressão “eu não gosto de espinafre.” Portanto, o problema do
mal é um problema cristão, porque fora do cristianismo, não é possível saber o que é o bem e o
mal.
B. A colocação do problema anterior pressupõe que existe um padrão do sumo bem que seja ul-
terior ao próprio Deus. Noutras palavras, a proposição 1 pressupõe que existe um padrão do bom
que Deus é obrigado a obedecer e que esse padrão diz que é sempre errado permitir ao mal existir.
Podemos resolver o problema filosófico por negar a primeira proposição. Isso é possível porque o
pressuposto básico do teísmo cristão é que o próprio Deus é o ponto de referência final para
qualquer predicação, inclusive todas as proposições éticas. Não há padrão algum mais último do
que Deus. Ele mesmo é o padrão último do bem e do mal. Então o que ele fizer é bom, simples-
mente porque é Ele quem o faz. Ponto final. Destarte, é um bem positivo que Deus permite ao mal
existir, mesmo que eu não saiba e não entenda as razões que Ele tem. Se eu não gosto do que Ele
faz, é meu problema. O ser humano não é competente para julgar a Deus. Em vez de impor meus
padrões a Deus, eu preciso me submeter a Ele.
III. A resposta pastoral - De início é necessário entender que enquanto a Bíblia nos dá esperança no
meio do sofrimento da vida, ela não fala sobre tudo o que Deus está fazendo, nem no mundo nem
em nossas próprias vidas. Enfim, o plano de Deus é impenetrável para nós. Pelo menos, antes de
chegar ao céu, há muita coisa que nós não entenderemos. Talvez nesta vida agora não tenhamos a
capacidade de entender. Mas se nós não entendemos essas coisas, então de onde vem a esperança
que Deus nos prometeu? É fundamentada no caráter de Deus. Há três aspectos do caráter de Deus
que são especialmente importantes para entender. Estes são a soberania de Deus, a justiça de Deus,
e o amor de Deus.
A Soberania de Deus - Deus é totalmente soberano sobre todas as coisas que acontecem. Deus tem
um plano para a história e Ele está realizando esse plano no universo que Ele criou. Isso quer dizer,
no fim, nada acontece fora do plano de Deus. Mesmo que muitas coisas que Deus condena acon-
teçam, essas coisas não acontecem por acaso, nem fora do controle de Deus. Deus permite o mal e
o pecado existirem enquanto ele dirige tudo para realizar os Seus planos. Isso inclui também as
ações de Satanás, como se verifica na história de Jó. Enquanto o crente nem sempre sabe porque
ele está sofrendo, ele pode ter certeza de que o sofrimento não vem porque Deus é fraco demais
para fazer alguma coisa. O crente pode sempre descansar no conhecimento de que ele não é como
um navio numa tempestade no mar, batido em toda direção pelo vento fora de controle. Ele está
nas mãos de Deus.
Deus é Justo - Deus é o padrão de justiça. Por definição todas as coisas que Deus faz são justas.
Como Paulo escreveu, ninguém tem o direito de reclamar contra ele. Ele tem o direito de fazer o
que quiser com as criaturas dEle (Rm. 9:20-21). Então nós não temos o direito de exigir que Deus
aja da maneira mais justa para conosco, porque ele já está fazendo o que é justo. Realmente, se Ele
tivesse feito o que era justo para conosco, nós já estaríamos no inferno. Nós precisamos ter a
humildade de reconhecer que a única coisa que nós merecemos dEle é sermos condenados.
O Amor de Deus - Além de ser o soberano que tem o direito de fazer o que quiser, Deus também é
amor. Ele não faz as coisas arbitrariamente. As coisas que Ele faz são motivadas pelo amor que Ele
tem por seu povo. É por isso que Paulo também escreveu que “m todas as coisas Deus trabalha
para o bem daqueles que o amam”(Rm. 8:28). O amor de Deus é tão grande que Ele mesmo se
tornou homem, sofreu a dor deste mundo e morreu na cruz para nos salvar. Deus não ficou no céu,
olhando nossa dor. Ele mesmo sofreu conosco. Ele entende nossa dor por experiência. Podemos
falar com Ele e receber o conforto dEle. Além disso, o plano dEle é fazer algo de nós que é muito
além do que nós podemos imaginar. Nosso sofrimento nos ajuda a nos tornarmos mais maduros.
Então, nós sabemos que o sofrimento desta vida vale a pena.
Um outro princípio que a Bíblia ensina é que, no fim, Deus acabará com o mal de uma vez. Então,
como Geisler e Feinberg dizem, podemos modificar os argumentos supra assim: