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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS

SET 410 – Estruturas de Concreto Armado II

Concreto Armado:

Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

José Samuel Giongo

São Carlos, 02 de setembro de 2010


Apresentação

Este texto discute os critérios para a verificação da segurança estrutural de


elementos estruturais lineares fletidos submetidos ação de força cortante. É
apresentada a rotina para o cálculo da área dos estribos segundo os critérios da
ABNT NBR 6118:2003.
Como etapas do processo constituem-se, primeiramente, um estudo dos
critérios indicados no Código Modelo do CEB-FIP (1990), seguida das prescrições
para taxas mínimas de armadura e espaçamentos máximos entre os estribos
indicados na norma brasileira ABNT NBR 6118:2003.
Exemplos de dimensionamento de vigas de concreto armado submetidas à
ação da força cortante são apresentados.
Colaborou na versão editada no ano de 2006 a Engenheira Sandra Freire de
Almeida, pós-graduanda (doutorado) no Departamento de Engenharia de Estruturas
– EESC – USP e estagiária no plano PAE na disciplina SET 410 – Estruturas de
Concreto Armado II.
Na versão de Agosto de 2009 fez-se revisão e foram incluídos três outros
exemplos de dimensionamento de vigas, e foi escrito um capítulo que discute o tema
armadura de suspensão, inclusive com exemplo de projeto de viga e foi ampliada a
Rotina de Projeto anexa.
Este texto de 2010 foi revisado pelo Engenheiro Rodrigo Barros, aluno de
doutorado no Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC - USP.
Colaborou, também, a Engenheira Christiane Menezes, aluna de doutorado no
Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC - USP que, no segundo
semestre de 2009, foi participante do Plano de Aperfeiçoamento de Ensino junto a
disciplina SET 410. Os desenhos das figuras 10 e 11 foram feitos pelo Eng. Walter
Luiz Andrade de Oliveira, pós-doutorando no SET – EESC – USP.
Parte deste texto foi copiada do livro “Modelos de bielas e tirantes aplicados a
estruturas de concreto armado”, publicado em 2000 pela EESC - USP - Projeto
REENGE, escrito por Reginaldo Carneiro da Silva, Professor Adjunto no
Departamento de Construção Civil da Universidade Federal de Viçosa - MG, e José
Samuel Giongo.
Sumário

1 Introdução 1

2 Tipos de ruína 5

3 Efeito de arco 6

4 Critério do Código Modelo do CEB - FIP (1990) e da ABNT NBR 6118:2003 8


4.1 Comentários iniciais 8
4.2 Condições para aplicação do modelo 10
4.3 Dedução das expressões para o dimensionamento 11
4.3.1 Verificação da diagonal comprimida 11
4.3.2 Dedução da equação para cálculo da área da armadura transversal 13
4.3.3 Contribuição dos mecanismos alternativos na capacidade resistente 15

5 Decalagem do diagrama de força no banzo tracionado 18

6 Critérios para o detalhamento das armaduras transversais 20


6.1 Armadura mínima 20
6.2 Limites de diâmetros e espaçamentos entre estribos 20
6.3 Elementos estruturais armados com barras dobradas 21

7 Expressões práticas para o dimensionamento de vigas submetidas à


solicitação de força cortante com θ = 45o e α = 90o 22
7.1 Equação para cálculo da força cortante mínima 22
7.2 Equação para cálculo da área de armadura mínima 25
7.3 Equação para cálculo da força cortante última 25
7.4 Equação para cálculo da área de armadura transversal (estribos) 26
7.5 Cálculo dos espaçamentos entre os estribos considerando a área da barra
(ou fio) 27

8 Exemplos de dimensionamento da armadura transversal em vigas 27


8.1 Exemplo 1 27
8.2 Exemplo 2 35
8.3 Exemplo 3 38
8.4 Exemplo 4 42

9 Armadura transversal de suspensão 45


9.1 Análise teórica do problema 45
9.2 Exemplo de projeto de viga com cálculo e detalhamento de armadura de
suspensão 50

10 Referências bibliográficas 52

Anexo Rotina de projeto A-1


José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2010 1
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

1 Introdução (Versão: 02 de Setembro de 2010)

Os elementos estruturais que façam parte de estruturas de barras de concreto


armado, tais como, pórticos e grelhas estão sujeitos aos esforços solicitantes momento
fletor, força normal, força cortante e momento torçor.
Já foram estudadas as condições de segurança estrutural dos elementos
estruturais fletidos submetidos à ação de momento fletor. Nesta sessão são estudadas
as condições de segurança dos elementos fletidos submetidos à solicitação de força
cortante.
As vigas usuais de concreto armado são constituídas, basicamente, por regiões
contínuas (regiões B). Todavia, regiões descontínuas (regiões D) ocorrem nas
proximidades dos pontos de aplicação de força (reações de apoio e forças
concentradas) como mostra a figura 1a. Essas definições adotadas pela codificação do
Modelo de Bielas e Tirantes feita por Schlaich e Schäfer em 1984, podem ser vista em
Silva e Giongo (2000).
O modelo teórico associado à viga de concreto armado é o modelo de treliça de
banzos paralelos, um comprimido (em concreto) e outro tracionado (constituído pelas
barras de aço), necessários para equilibrar a ação do momento fletor, e, uma barra
diagonal comprimida (em concreto) e um pendural tracionado (em barras de aço). Esse
modelo criado por W. Ritter e E. Mörsch nos primeiros anos do século XX foi baseado
na observação de uma viga de concreto armado na iminência da ruína, portanto, com o
concreto fissurado. Lembra-se que o concreto resiste bem às tensões de compressão e
as barras de aço às tensões de tração (embora, desde que tenham forma adequada,
resistam, também, tensões de compressão).
Os modelos de bielas e tirantes, quando aplicados às vigas, são usualmente
denominados modelos de treliça. A figura 1b apresenta um modelo de treliça para uma
viga simplesmente apoiada, submetida a uma ação uniformemente distribuída. Nessa
treliça fictícia, que substitui a viga real, o banzo superior é a zona comprimida de
concreto, o banzo inferior representa a armadura longitudinal de tração, as diagonais
comprimidas são as zonas situadas entre duas fissuras e as diagonais tracionadas, os
estribos ou as barras dobradas. No modelo teórico da figura 1b, as diagonais
tracionadas, que ligam os banzos da treliça, são constituídas por estribos verticais.
O Professor Lobo Carneiro, em texto escrito em 1964 dizia que: "A chamada
treliça clássica de Ritter-Mörsch foi uma das concepções mais fecundas na história do
concreto armado. Há mais de meio século tem sido à base do dimensionamento das
armaduras transversais - estribos e barras inclinadas - das vigas de concreto armado, e
está muito longe de ser abandonada ou considerada superada. As pesquisas sugerem
apenas modificações ou complementações na teoria, mantendo, no entanto o seu
aspecto fundamental: a analogia entre a viga de concreto armado, depois de fissurada,
e a treliça".
O funcionamento como treliça ocorre em virtude da intensa fissuração da viga
nas proximidades do estado limite último convencional. Como as diagonais
comprimidas são delimitadas pelas fissuras, o ângulo θ de inclinação das bielas é dado
pela inclinação das fissuras. A inclinação das diagonais tracionadas é indicada pelo
ângulo α, sendo α = 90 o quando se adotam estribos verticais (figura 1b).
O modelo de treliça foi originalmente proposto por Mörsch, com a finalidade de
determinar as áreas das armaduras necessárias para absorver as tensões de tração
oriundas da força cortante. Esse modelo, hoje designado por Analogia Clássica da
Treliça", foi baseado nas seguintes hipóteses:

- a treliça é isostática e possui banzos (tracionado e comprimido) paralelos;


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Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

- as diagonais comprimidas (bielas) têm uma inclinação constante com ângulo


θ = 45 o em relação ao eixo longitudinal da viga;

- a inclinação da armadura transversal pode variar entre 45 o ≤ α ≤ 90 o .

Fd

D B D B D

a)

T ir a n t e s

B ie la s

b)

Figura 1 - Modelo de treliça para uma viga em concreto armado

Na Treliça Clássica de Mörsch, as forças nas diagonais comprimidas e nas


diagonais tracionadas são maiores, em valor absoluto, à medida que suas localizações
ficam próximas dos apoios, onde a força cortante é máxima. As forças nos banzos,
tracionado (Rst) e comprimido (Rcc), aumentam de intensidade dos apoios para o meio
do vão, de acordo com a teoria da flexão. Por essa teoria, R st = R cc = M / z . Contudo,
no modelo, Rcc é um pouco menor que M/z e Rst um pouco maior, exceto em algumas
seções transversais.
Numerosos ensaios de vigas de concreto armado realizados por Leonhardt &
Mönnig (1977) mostraram que a treliça clássica conduz a uma área de armadura
transversal um pouco exagerada, pois a tensão nela medida é menor do que a
calculada. Os principais fatores que influem na diferença entre os valores calculados
pelo modelo teórico e os observados experimentalmente são:

- o banzo comprimido é inclinado, o que possibilita a absorção direta de uma


parcela da força cortante;

- as fissuras e, portanto, as bielas que ficam entre elas, têm inclinação θ < 45o,
nos trechos mais solicitados pela força cortante.

Os resultados dos ensaios evidenciaram a necessidade de se utilizar um modelo


que melhor interpretasse a realidade, surgindo, assim, a Analogia Generalizada da
Treliça. Portanto, adota-se como modelo teórico uma treliça com banzo comprimido
inclinado e com bielas de inclinação θ menor ou igual a 45o.
Com a treliça generalizada obtêm-se taxas menores de armadura transversal.
Entretanto, deve-se tomar cuidado com a possibilidade de ruptura das diagonais
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Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

comprimidas inclinadas, pois ocorre um aumento das tensões de compressão. Além


disso, a resultante Rcc inclinada, nas proximidades dos apoios, provoca diminuição no
comprimento do braço de alavanca z e conseqüente aumento da área da armadura
longitudinal de tração. Esse aumento na área de armadura longitudinal de tração na
região do apoio será quantificado por ocasião da verificação da correta ancoragem das
barras da armadura longitudinal de tração em vigas e lajes.
As inclinações das fissuras e do banzo comprimido são influenciadas pela
largura da alma e pela taxa de armadura transversal. Da análise dos resultados
experimentais de Leonhardt & Mönnig (1977), chega-se à conclusão que, em função da
espessura da alma, as bielas têm inclinações θ, em média, contidas nas seguintes
faixas (figura 2):

- vigas T de alma espessa: 30 o ≤ θ ≤ 38 o ;

- vigas T de alma delgada : 38 o ≤ θ ≤ 45 o .

bf

bw

(alm a espessa)
bw 1 a 1
=valores elevados
bf 5 2

θ 30 38

(alm a fina)

bw 1 a 1
=valores baixos
bf 12 6

θ 38 45

Figura 2 - Treliça generalizada, valores médios de θ


em função da largura da alma (Fusco, 1984)

Isso ocorre porque a diagonal comprimida está engastada na região de ligação


com o banzo comprimido, além do fato das diagonais serem muito mais rígidas que os
montantes tracionados (tirantes). Assim, a parcela de força cortante absorvida pela
armadura transversal será tanto menor (θ menor) quanto maior for a largura da alma
(bielas mais rígidas).
Nos elementos de concreto armado submetidos às forças cortantes, além do
modelo de treliça, outros esquemas alternativos são capazes de transmitir as tensões
internas de uma seção transversal à outra. Nas vigas com armadura transversal, a
participação desses esquemas alternativos na resistência pode ser apenas secundária.
Entretanto, nas lajes sem armadura de cisalhamento, eles são responsáveis pela
própria resistência da peça.
Os esquemas alternativos principais são o efeito de arco, o engrenamento dos
agregados e o efeito de pino da armadura longitudinal. O engrenamento dos agregados
ocorre ao longo das fissuras do concreto, possibilitando a transmissão de forças
oblíquas por meio das próprias fissuras (figura 3a).
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Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

Em virtude da maior rigidez das barras de aço em relação ao concreto, as barras


das armaduras longitudinais funcionam como pinos de ligação que solidarizam as
partes da viga de concreto separadas pelas fissuras (figura 3b).
Fusco (1984) comenta que somente a viga de alma muito fina (bw/bf = 1/6)
mobiliza o esquema resistente de treliça desde o início da aplicação das ações. As
vigas de alma mais espessa somente apresentam tensões diagonais coerentes com o
esquema de treliça nos estágios em que as ações são mais altas. Concluem-se, desse
modo, que nessas vigas funcionam preliminarmente os esquemas resistentes
alternativos, cuja colaboração diminui progressivamente, à medida que ocorre a
fissuração da peça. A resistência da peça decorre, portanto, da ação conjugada dos
efeitos e dos esquemas alternativos descritos.

a) Engrenam ento dos agregados b) Efeito de pino

Figura 3 - Esquemas alternativos de resistência à força cortante


(Fusco, 1984)

A ABNT NBR 6118:2003 admite a adoção de dois modelos de cálculo baseados


na analogia com o modelo de treliça de banzos paralelos, associados a mecanismos
resistentes complementares desenvolvidos no interior do elemento estrutural
considerados por uma força adicional (Vc), conforme será estudado logo adiante. O
modelo I considera o ângulo (θ) formado pela diagonal comprimida e as barras da
armadura longitudinal igual a 45o e o modelo II 30 o ≤ θ ≤ 45 o escolhido pelo projetista.
O Código Modelo do CEB-FIP (1990) sugere a utilização de um modelo de treliça
com o ângulo θ de inclinação das bielas adotado livremente no intervalo
18,4o ≤ θ ≤ 45o . É necessário fazer a verificação das forças nos banzos (tracionado e
comprimido), nas bielas diagonais e nos montantes tracionados.
Modelos de treliça podem ser usados também para o projeto e dimensionamento
completo da viga, incluindo o cálculo da armadura longitudinal.
Para o cálculo da armadura longitudinal de tração e verificação da capacidade
resistente do banzo comprimido, região da viga entre a borda comprimida e a linha
neutra (lembra-se que a profundidade da linha neutra mede x), pode-se usar o
processo que considera o equilíbrio da seção transversal submetida a momento fletor
de cálculo (Md) e o binário interno representado pelas forças resultantes Rcc e Rst,
respectivamente as resultantes de compressão no banzo comprimido e resultante de
tração no banzo tracionado (barras da armadura longitudinal). Alternativamente,
podem-se usar as tabelas tipo k (Giongo, 2009).
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Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

Neste capítulo são analisados os critérios do CM - CEB-FIP (1990) e da ABNT


NBR 6118:2003 (ABNT, 2004) para as verificações da segurança de elementos
estruturais fletidos submetidos à solicitação de força cortante.

2 Tipos de ruína

Os tipos de ruína das vigas de concreto armado submetidas aos esforços


solicitantes – momento fletor e força cortante, segundo Fusco (1984) podem ser
classificados como exposto a seguir.

a) Ruína força cortante-compressão (Figura 4a): esse tipo de ruína é típico de


peças superarmadas transversalmente, nas quais ocorre ruptura do concreto das bielas
antes que a armadura transversal entre em escoamento. A ruína é frágil e sem aviso
prévio. A segurança é garantida considerando que a resistência da diagonal
comprimida seja maior que a tensão atuante relativa à força cortante solicitante de
cálculo.

b) Ruína força cortante-tração (Figura 4b): modo de ruína típico de peças


subarmadas transversalmente, isto é, aquelas cuja armadura transversal atinge o
escoamento. Nesse caso ocorrem grandes deformações na armadura transversal e
fissuração excessiva. Garante-se a segurança desse tipo de ruína pelo emprego de
armadura transversal em quantidade suficiente.

Ruína por força


cortante-compressão

a)

Ruína por força


cortante-tração

b)

Ruína por força


cortante-flexão

c)

Ruína por flexão


da armadura longitudinal
de tração

Figura 4 - Tipos de ruptura (Fusco, 1984)

c) Ruína força cortante-flexão (Figura 4c): ocorre quando as fissuras diagonais


de cisalhamento cortam uma parte do banzo comprimido da peça. A diminuição da
espessura deste banzo pode provocar a ruptura do concreto. A seção de ruptura
usualmente se localiza nas proximidades de forças concentradas elevadas. A
segurança nesse caso é garantida por meio de dimensionamento e detalhamento
adequados da viga à flexão.
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d) Ruína por flexão da armadura longitudinal (Figura 4d): decorre de deficiências


localizadas da armadura longitudinal de tração que impedem o funcionamento como
treliça. A atenção aos critérios de arranjo das armaduras, principalmente no que se
refere ao espaçamento e à ancoragem dos estribos, garante a segurança contra esse
tipo de ruína.

Pode ocorrer ainda ruína por fendilhamento do concreto em virtude da


ancoragem inadequada da armadura longitudinal. Quando não houver compressão do
concreto transversalmente as barras da armadura longitudinal no trecho de ancoragem,
suficiente para impedir a fissuração do concreto, é necessário dispor uma armadura de
costura, com o critério indicado na ABNT NBR 6118:2003.
Como os possíveis tipos de ruína em virtude das ações de forças cortantes
podem acarretar o colapso não avisado da estrutura, deve-se assegurar no
dimensionamento que as solicitações tangenciais não sejam condicionantes da ruína.
Adota-se como princípio fundamental de segurança que os elementos estruturais sejam
projetados de tal modo que, na eventualidade de sobrevir a ruína, essa decorra pelos
efeitos de solicitações normais, conforme era indicado na ABNT NBR 6118:1978.

3 Efeito de arco

O efeito de arco ocorre nas regiões D próximas aos apoios, para onde as forças
(concentradas ou distribuídas) são conduzidas diretamente por um campo de tensões
de compressão em forma de arco (figura 5a). Simplificadamente pode-se substituir
esse arco por uma biela (diagonal comprimida) com ângulo de inclinação θ1 (figura 5b),
diferente da inclinação θ das outras bielas. Nas vigas usuais, o efeito de arco pode
absorver então uma parcela das ações atuantes. Essa parcela depende da esbeltez da
viga e do tipo e posição do carregamento. Leonhardt & Mönnig (1977) dizem que esse
efeito provoca um aumento da resistência ao cisalhamento em vigas compactas
2 ≤ l / h ≤ 8 e quando atua força próxima ao apoio (a/h < 2) , sendo “a” a distância do
centro teórico do apoio até o eixo que contem o centro da força. A transferência direta
de parte da ação para os apoios provoca um alívio nos montantes tracionados da
treliça, resultando em uma diminuição da área da armadura transversal necessária.
Contudo, ressalta-se que o arco precisa se apoiar em um banzo tracionado bastante
rígido (sem diminuição da área da armadura longitudinal). Schafer & Schlaich (1988)
sugerem a equação 1 para o cálculo da inclinação dessa biela inclinada:

a1 cotgθ
cotgθ1 = + [1]
2⋅z 2

sendo,

θ1 = ângulo de inclinação da biela / arco;

θ = ângulo de inclinação das bielas internas;

a1 = largura do apoio (figura 5b);

z = braço de alavanca.
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a1
a) b)

Figura 5 - Efeito de arco

Para uma aplicação direta nos modelos, o Boletim CEB-198 (1990) apresenta
uma proposta para o equacionamento do problema. Uma força concentrada aplicada a
uma distância a ≤ l arco / 2 do apoio é totalmente absorvida pela biela do arco (figura
6a). Isso também ocorre para a ação distribuída posicionada no trecho de viga de
comprimento larco medido a partir do apoio (figura 6b). O comprimento larco pode ser
calculado pela equação 2:

l arco = a1 + z ⋅ cot gθ [2]

Fd arco
a

a) b)
a1
Fd
a

R cc 2

R st
2

c)

Figura 6 - Parcela das ações absorvida pelo efeito de arco (MC-CEB-FIP, 1990)

Se a força concentrada for aplicada a uma distância "a" situada no intervalo


l arco / 2 ≤ a ≤ l arco , apenas uma parcela Rcc2 da força solicitante de cálculo (VSd) é
transmitida pelo efeito de arco (figura 6c). A outra parcela, Rst2 será absorvida pelo
tirante vertical da treliça, resultando:

⎛ a ⎞
R st 2 = ⎜⎜ 2 ⋅ − 1⎟⎟ ⋅ Fd e R cc 2 = Fd − R st 2 [3]
⎝ l arco ⎠
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No caso de forças concentradas de grandes intensidades próximas ao apoio,


têm-se tensões de tração transversais à biela inclinada. A Figura 7a apresenta as
trajetórias de tensões para essa situação. O Boletim CEB-198 (1990) indica que a força
aplicada a uma distância a ≤ l arco / 4 exige a disposição de armadura adicional, cujo
detalhamento depende da posição exata da força (Figuras 7b e 7c). Essa armadura
precisa absorver uma força de tração Rst3, que pode ser obtida pela equação 4
(simplificada).

⎛ 2⋅a ⎞
R st 3 = 0,25 ⋅ ⎜⎜1 − ⎟⎟ ⋅ Fd [4]
⎝ l arco ⎠

No arranjo das armaduras, é conveniente o uso de grampos horizontais, como


mostrado na Figura 7d.
A ABNT NBR 6118:2003 considera o efeito de arco por meio de uma redução no
valor da força cortante solicitante de cálculo no cálculo da armadura transversal, nas
seções próximas aos apoios.
A força cortante solicitante oriunda de ação distribuída pode ser considerada, no
trecho entre o apoio e a seção situada à distância d/2 da face do apoio, constante e
igual à desta seção.
A força cortante solicitante relativa a uma força concentrada aplicada no
elemento estrutural a uma distância a ≤ 2 ⋅ d desde o centro do apoio, nesse trecho de
comprimento a, pode ser reduzida multiplicando-a pela relação a/2d .
Lembre-se que estas reduções não se aplicam à verificação da resistência a
compressão da diagonal do concreto. As reduções também não são permitidas nos
casos de apoios indiretos, como, por exemplo, em casos de vigas apoiadas em vigas.

Fd Fd
a a

R st3

tra ção
a) com pressão b)
Fd
a
Fd

R st3

c) d)

Figura 7 - Modelo e arranjo das armaduras para uma


força concentrada de grande intensidade próxima ao apoio

4 Critério do Código Modelo do CEB - FIP (1990) e da ABNT NBR 6118:2003

4.1 Comentários Iniciais

As expressões e as condições para o dimensionamento de elementos estruturais


fletidos submetidos à solicitação de força cortante indicadas na ABNT NBR 6118:2003,
foram deduzidas a partir dos critérios do Código Modelo do CEB-FIP(1990).
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Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

É proposto o Modelo de Bielas e Tirantes para vigas usuais submetidas à ação


de momento fletor e força cortante, sem força de compressão de valor significativo em
virtude das ações externas. A figura 8 apresenta os modelos adotados para a dedução
das expressões de verificação e dimensionamento. Para o caso de ação
uniformemente distribuída tem-se o modelo da figura 8a e para força concentrada são
considerados os modelos das figuras 8b (viga biapoiada) e 8c (viga contínua). O
modelo para uma região sujeita à ação de momento fletor, força cortante e pequeno
valor da força de tração axial está mostrado na figura 8d.
O Código Modelo indica duas verificações de segurança que precisam ser feitas
com relação às ações atuantes e as respectivas resistências, ou sejam, nas diagonais
comprimidas (bielas) e nos tirantes da armadura transversal. As tensões atuantes nas
diagonais comprimidas precisam ficar menores que os valores resistentes e as áreas
das barras da armadura transversal precisam ser calculadas para absorver as tensões
de tração, em ambos os casos por conta da ação da força cortante.

a)

b)

c)

d)

Figura 8 - Modelos para vigas com banzos paralelos (CM - CEB-FIP, 1990)

O modelo fundamental de um trecho típico da alma de uma viga é mostrado na


figura 9. O braço de alavanca z e a profundidade da linha neutra x da zona comprimida,
em um trecho no qual os momentos fletores mantêm o mesmo sinal, podem ser
considerados iguais aos valores calculados na seção de momento fletor MSd máximo.
Os ângulos que as diagonais comprimidas formam com o eixo horizontal da viga
são iguais a θ e os ângulos dos estribos constituídos por barras (CA-50) ou fios (CA-
60) de aço são iguais a α. A ABNT NBR 6118:2003 indica dois modelos para a
verificação da segurança de elementos lineares fletidos quanto a ação de força
cortante, quais sejam os Modelo I em que o ângulo θ é adotado igual a 45o e o Modelo
II em que este ângulo pode ser adotado entre 30o e 45o. Nos dois modelos os ângulos
α de inclinação dos estribos podem ser adotados entre 45o e 90o, lembrando que
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estribos perpendiculares ao eixo do elemento estrutural (α = 90o) são mais utilizados


pelas facilidades de montagem na obra e concretagem.

z d h

α θ

bw

Figura 9 - Modelo fundamental da alma da viga (CM - CEB-FIP, 1990)

4.2 Condições para aplicação do modelo

A aplicação do modelo do CM-CEB-FIP (1990) está sujeita às seguintes


condições:

a) a taxa mecânica de armadura transversal não pode ser menor que 0,2, isto é:

A sw f
ωsw = ⋅ yk ≥ 0,2 [5]
b w ⋅ s ⋅ sen α fctm

ou seja, a equação 5 pode ser escrita como (6):

A sw f
= ρ sw ≥ 0,2 ⋅ ctm ⋅ senα [6]
bw ⋅ s f yk

sendo, α é o ângulo de inclinação dos estribos, ρsw a taxa geométrica de


armadura transversal, fyk é a resistência característica ao escoamento do aço e fctm é a
resistência média à tração do concreto [CM-CEB-FIB(1990)], dada por:

⎛ f 2/3 ⎞
fctm = 1,4 ⋅ ⎜ ck ⎟ (em MPa) [7]
⎜ 10 ⎟
⎝ ⎠

A finalidade ao se adotar uma taxa mínima de armadura transversal é para


limitar as aberturas das fissuras que ocorrem por ação conjunta de força cortante e
momento fletor;

b) a inclinação dos estribos (α) em relação ao eixo da peça deve ser no mínimo
45o e a inclinação das barras dobradas, no mínimo 30o;

c) o espaçamento entre os ramos dos estribos (em ambas as direções,


longitudinal e transversal) não deve ser maior que 0,75⋅d ou 800mm;

d) as barras da armadura transversal precisam ser adequadamente ancoradas


nos banzos do elemento estrutural.
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Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

4.3 Dedução das expressões para o dimensionamento


As expressões para o dimensionamento de elementos estruturais fletidos (vigas
e lajes) são deduzidas a partir das condições de equilíbrio, lembrando que, de acordo
com um dos princípios fundamentais da verificação da segurança estrutural, as
solicitações de cálculo (Sd) precisam ficar menores ou iguais que as resistências de
cálculo (Rd).
O modelo de treliça clássica generalizada é o indicado na figura 10a, com o
ângulo θ variável entre 30o e 45o (critério do Modelo II da ABNT NBR 6118:2003) e o
ângulo α que as barras (ou fios) da armadura transversal formam com o eixo da viga é
usualmente adotado igual a 90o.
Assim, são escritas as expressões que relacionam a força cortante solicitante de
cálculo (VSd) e as resistências da diagonal comprimida (biela) e da armadura
transversal constituída por estribos (tirantes verticais ou inclinados).
As verificações de segurança do banzo tracionado (cálculo da área das barras
da armadura longitudinal de tração) e do banzo comprimido (verificação da capacidade
resistente do concreto entre a borda comprimida e a linha neutra) podem ser estudadas
em Silva e Giongo (2000). Essas verificações foram discutidas, não considerando o
modelo de treliça, por ocasião do estudo da segurança de seção transversal sob ação
de momento fletor solicitante de cálculo (MSd), conforme Giongo (2008)
4.3.1 Verificação da diagonal comprimida (biela)

A figura 10a mostra parte da treliça clássica generalizada, conforme modelo da


figura 9, indicado pelo Código Modelo do CEB – FIP (1990) e adaptada para as
deduções que seguem. No modelo teórico de treliça de banzos paralelos as diagonais
comprimidas (bielas) inclinadas de ângulo θ, barra AB , são constituídas por concreto,
e, as barras tracionadas AD do modelo, que formam ângulo α com o eixo longitudinal
são os tirantes. As bielas e os tirantes garantem a segurança estrutural com relação à
força cortante VSd.
A figura 10b mostra as diagonais comprimidas (bielas) e, particularmente, a biela
AB formada pelas fissuras próximas a esse segmento de reta e que se iniciam na face
tracionada do elemento estrutural indo até a linha neutra. As fissuras ocorrem pelo fato
da tensão de tração (σctw), atuante ao longo do comprimento da fissura, ficar maior do
que a resistência do concreto à tração (fct). Para evitar a ruína do elemento estrutural
por força cortante-tração (figura 4) há necessidade de dispor barras (CA-50) ou fios
(CA-60) de aço para absorverem as tensões de tração. A figura 10b mostra a região
fissurada entre as seções 1-1 e 2-2 com preponderância de força cortante, pois as
fissuras são inclinadas em relação ao eixo longitudinal. Nas regiões de momento fletor
solicitante positivo de valor máximo no tramo as fissuras são perpendiculares ao eixo
longitudinal das barras da armadura de tração.
O objetivo deste item é calcular a tensão teórica na diagonal comprimida (biela)
e não permitir que ela ultrapasse o valor último que poderia provocar a ruptura do
concreto por ação da força cortante VSd.
Portanto, analisando a figura 10a, parte da barra AB pode ser representada pela
figura 10c, de tal modo que o polígono de forças indica o equilíbrio entre a força
cortante solicitante de cálculo vertical (VSd) e a força resultante das tensões de
compressão na biela Rcw. As medidas geométricas indicadas nas figuras 10 são
calculadas aplicando-se as propriedades do triângulo retângulo relacionando-as com as
leis da trigonometria.
Assim, a força resultante das tensões e compressão na diagonal comprimida
pode ser escrita como indicado na equação 8.
USP - EESC - SET - Disciplina SET 410 - Estruturas de Concreto Armado II 12
Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

VSd
R cw = [8]
sen θ

sendo que,

VSd é a força cortante solicitante de cálculo;

Rcw é a força resultante das tensões atuantes na biela no trecho


z ⋅ (cotg θ + cotg α ) ⋅ sen θ , conforme figura 10c.

A tensão na diagonal comprimida pode ser calculada pela equação 9, pois, a


área desta diagonal é igual à medida da largura do elemento estrutural (bw) multiplicada
pela medida do segmento HI .

R cw
σ cw = [9]
b w ⋅ z ⋅ (cotg θ + cotg α) ⋅ sen θ

substituindo (8) em (9) tem-se:

VSd
σ cw = [10]
b w ⋅ z ⋅ (cotg θ + cotg α) ⋅ sen 2 θ

que pode ser escrita conforme equação a 11.

VSd = σ cw ⋅ b w ⋅ z ⋅ (cotg α + cotg θ) ⋅ sen 2 θ [11]

A ruína da viga, no caso de ruptura da diagonal comprimida, pode ocorrer de


modo típico à ruína por força cortante-tração, com a tração provocada pela aderência
com os estribos.
Considerando,

σ cw = 0,7 ⋅ σ cd = 0,7 ⋅ 0,85 ⋅ fcd [12]

z = 0,9 ⋅ d ; [13]

fck
αv 2 = 1− (em MPa); [14]
250

que é um fator de redução da resistência de cálculo do concreto indicado no


CM – CEB-FIP (1990), em virtude das tensões no concreto não serem
uniformes;

VSd = VRd2 ; e,

sendo bw a medida da largura da seção transversal viga, conforme figura 11;


pode-se escrever a equação 11 com a forma da equação 15:

VRd2 = 0,54 ⋅ α v 2 ⋅ fcd ⋅ b w ⋅ d ⋅ sen 2 θ ⋅ (cotg α + cotg θ) [15]


José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2010 13
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

que é a equação indicada na ABNT NBR 6118:2003 quando se adota o Modelo


de Cálculo II, com os critérios da analogia generalizada da treliça.
O coeficiente 0,7 leva em conta a redução de resistência do concreto em região
com tração na direção perpendicular, que é o caso da diagonal comprimida.
No caso de se adotar o Modelo Clássico da Treliça, com o ângulo de inclinação
da diagonal comprimida θ = 45o e estribos perpendiculares ao eixo longitudinal do
elemento estrutural (α = 900), resulta:

VSd ≤ VRd2 = 0,27 ⋅ α v 2 ⋅ fcd ⋅ b w ⋅ d [16]

A equação 16 é a indicada na ABNT NBR 6118:2003 para a verificação da


compressão da diagonal comprimida quando se adota o Modelo de Cálculo I.

4.3.2 Dedução da equação para cálculo da área da armadura transversal


A área das barras da armadura transversal (estribos) é calculada com a equação
23, deduzida como segue, porém sem a consideração da contribuição dos mecanismos
alternativos do concreto, que será considerada no item 4.3.3.
Analisando o polígono de força em equilíbrio conforme a figura 10d, e,
observando que a força Rsw é a resultante das tensões de tração nos estribos
inclinados de ângulo α em relação ao eixo longitudinal da viga, distribuídos no trecho
de comprimento [( z / 2) ⋅ (cotg θ + cotg α)] , pode-se escrever a equação 17:

Vsw
senα = [17]
R sw

Reescrevendo a equação 17 tem-se:


Vsw = R sw ⋅ sen α [18]

sendo,
Rsw a força resultante das tensões nas barras da armadura transversal no trecho
de medida z ⋅ (cotg θ + cotg α ) , conforme figuras 10a e 10b;

Vsw a componente, que atua na direção da força VSd, da força resultante das
tensões nas barras da armadura transversal no trecho de medida z ⋅ (cotg θ + cotg α ) ,
de acordo com as figuras 10a e 10b.
A força resistente de um estribo é calculada por:
R sw,1estribo = A sw,1estribo ⋅ σsw [19]

Pelo esquema de distribuição das barras da armadura transversal mostrado na


Figura 10b, o número de barras da armadura transversal distribuídas no trecho de
comprimento z ⋅ (cotg θ + cotg α ) pode ser calculado por:

z ⋅ (cotg θ + cotg α)
número de barras = nb = [20]
s
sendo que s é o espaçamento entre os estribos medido ao longo do eixo do
elemento estrutural linear.
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Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

z ⋅ ( cotg θ + cotg α ) ⋅ sen θ

1 2

E A G C
Rcc Rcc

I
z
Rcw Rsw

θ θ α
Rst Rst
F B H D
z ⋅ cotg θ z ⋅ cotg α

z ⋅ ( cotg θ + cotg α )

a.- modelo clássico da treliça generalizada


1 2

A
Rcc Rcc

MSd VSd Fissuras

z
NSd Estribos
zs
θ αα
Rst Rst
B s

z ⋅ ( cotg θ + cotg α )

b.- região fissurada por ação de MSd e VSd

z ⋅ ( cotg θ + cotg α ) ⋅ sen θ


σcw

θ
VSd
Rcw

F B H

c.- verificação da segurança da diagonal comprimida


z
⋅ ( cotg θ + cotg α ) ⋅ sen α
2
2
A
Rcc

Vsw Rsw
Rsw
α
Rst
Rst θ α
B H
z
⋅ ( cotg θ + cotg α )
2

d.- verificação da segurança dos estribos inclinados de ângulo α


Figura 10 - Modelo teórico da treliça clássica
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Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

A força resistente resultante (contando todos os estribos no trecho) é calculada


com a equação 19, considerando σsw = fywd , conforme equação 21.

R sw = A sw,1estribo ⋅ nb ⋅ fywd [21]

Substituindo a equação 20 na equação 21, e a 21 na equação 18, e fazendo z =


0,9.d (valor usual considerando a viga com deformações compatíveis com o Estádio II),
vem:

A sw,1estribo
Vsw = ⋅ fywd ⋅ 0,9 ⋅ d ⋅ (cotg θ + cotg α) ⋅ sen α [22]
s

que é a equação indicada na ABNT NBR 6118:2003 para cálculo da área das
barras da armadura transversal quando se adota o Modelo II de dimensionamento
sendo que, neste modelo, o ângulo de inclinação das diagonais comprimidas (θ) e das
barras (α) podem ser escolhidos livremente.
No caso do Modelo I no qual se adota θ = 450 a equação 22 pode ser escrita
como:

A sw,1estribo
Vsw = ⋅ fywd ⋅ 0,9 ⋅ d ⋅ (sen α + cos α) [23]
s

sendo a resistência de cálculo ao escoamento dos estribos (fywd) limitada a


435MPa, de acordo com a ABNT NBR 6118:2003.

4.3.3 Contribuição dos mecanismos alternativos na capacidade resistente

Conforme estudado no item 1 há contribuição dos mecanismos alternativos na


capacidade resistente à tração dos elementos fletidos por solicitação de força cortante.
Assim, à força resistida pelos estribos, calculada pelo segundo membro da equação 22,
há que se somar a força resistida pelo concreto (Vc).
A equação (24) retrata matematicamente o cálculo da capacidade resistente à
tração por solicitação de força cortante em elementos estruturais lineares fletidos
(vigas).
VSd ≤ VRd3 = Vc + Vsw [24]

Analisando a parte da viga indicada na figura 10a, entre as seções 1-1 e 2-2, há
uma tensão de tração σct que atua perpendicularmente a diagonal comprimida AB, em
toda a extensão, conforme figura 11. A tensão de tração é causada pela força Vcw,
considerada vertical, como a força cortante solicitante de cálculo VSd, e, sendo Rct a
resultante das tensões de tração, pode-se escrever a equação 25, deduzida tendo em
vista o equilíbrio destas forças indicado no polígono de forças da figura 11.
Vcw
cos θ = [25]
R ct

Lembrando que a direção da força Rct é perpendicular ao plano da fissura AB ,


considerada um segmento de reta, conforme figura 11.

O comprimento AB da fissura é calculado pela equação 26, conforme figura 11:


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Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

z 0,9 ⋅ d
AB = = [26]
sen θ sen θ

considerando o braço de alavanca (z) igual a 0,9 ⋅ d , que é a distância entre as


resultantes de compressão no concreto Rcc e a de tração nas barras da armadura
longitudinal de tração Rst.

1 2

Borda comprimida A
Rcc Rcc

Asw d h z θ V
cw
σct Rct

θ
Rst Rst
B
Borda tracionada
Ast
bw

Figura 11 - Fissura inclinada por solicitação de momento fletor e força cortante -


cálculo da força Vcw de tração resistida pelo concreto

A tensão de tração atuante ao longo do segmento AB é calculada pela equação


27.

R ct
σct = [27]
b w ⋅ AB

Substituindo as equações 25 e 26 na equação 27, resulta:

Vcw = fctd ⋅ b w ⋅ 0,9 ⋅ d ⋅ cotg θ [28]

Quando a tensão de tração ( σ ct ) é igual a resistência de cálculo à tração do


concreto (fctd) há grande probabilidade de ocorrer a primeira fissura.
A equação 24 indica que a resistência à tração da viga é obtida pela soma das
resistências dos estribos e do concreto. Para uma força cortante moderada, o concreto
resiste sem contribuição das barras transversais até a ocorrência da primeira fissura
diagonal. Depois do aparecimento da primeira fissura pode ocorrer um pequeno
aumento da resistência do concreto em virtude de redistribuição de tensões internas,
transferindo gradativamente as tensões do concreto para a armadura transversal, à
medida que a primeira fissura aumenta de comprimento ou pela formação de outras
fissuras. Assim, a contribuição do concreto na resistência à tração à força cortante é da
ordem de 50% a 70% [Mangini, 2000] da força Vcw calculada pela equação 28, tendo
sido adotado pela norma 67%.
A ABNT NBR 6118:2003 indica que a força Vc0 é calculada pela equação 29,
quando o ângulo θ de inclinação da diagonal comprimida é adotado igual a 45o (Modelo
I), assim:

Vc 0 = 0,67 ⋅ Vcw = 0,6 ⋅ fctd ⋅ b w ⋅ d [29]


José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2010 17
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

sendo,

fctk,inf
fctd = [30]
γc

pois, segundo a ABNT NBR 6118:2003, a resistência característica à tração com


o valor inferior é calculada por:

fctk,inf = 0,7 ⋅ fctm = 0,7 ⋅ 0,3 ⋅ fck2/3 [31]

Para o Modelo I de cálculo da armadura transversal (θ = 450) o valor de Vc é


determinado como segue:

Vc = 0 nos elementos estruturais tracionados quando a linha neutra se situa


fora da seção;

Vc = Vc 0 na flexão simples e na flexo-tração com a linha neutra cortando a


seção;

Vc = Vc 0 ⋅ (1 + M0 / MSd,máx ) ≤ 2 ⋅ Vc 0 na flexo-compressão;

sendo que,
M0 é o momento fletor que anula a tensão normal de compressão na borda da
seção (tracionada por ação de Md,máx), provocada pelas forças normais de diversas
origens concomitantes com VSd, sendo essa tensão calculada com valores de γ f e γ p
iguais a 1,0 e 0,9 respectivamente; os momentos correspondentes a essas forças
normais não devem ser considerados no cálculo dessa tensão pois são considerados
em MSd; são considerados apenas os momentos isostáticos de protensão;
MSd,máx é o momento fletor de cálculo, máximo no trecho em análise, que pode
ser tomado como o de maior valor no semitramo considerado (para esse cálculo não
se consideram os momentos isostáticos de protensão, apenas os hiperestáticos);
Para o Modelo II de cálculo da armadura transversal (300 ≤ θ ≤ 450) o valor de Vc
é determinado como a seguir se expõe:
Vc = 0 em elementos estruturais tracionados quando a linha neutra se situa
fora da seção;
Vc = Vc1 na flexão simples e na flexo-tração com a linha neutra cortando a
seção;
Vc = Vc1 ⋅ (1 + M0 / MSd,máx ) ≤ 2 ⋅ Vc1 na flexo-compressão; com,

Vc1 = Vc 0 quando VSd = Vc 0 ;

Vc1 = 0 quando VSd = VRd2 ,

interpolando-se linearmente para valores intermediários.


USP - EESC - SET - Disciplina SET 410 - Estruturas de Concreto Armado II 18
Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

5 Decalagem do diagrama de força no banzo tracionado (armadura longitudinal)

A análise da necessidade de decalagem do diagrama de momentos fletores é


feita estudando a figura 10d e calculando o momento em relação ao ponto A e
considerando os esforços solicitantes na seção 1-1 (figura 10b), momento fletor MSd,
VSd e não considerando a força normal NSd, por se tratar de análise de resistência e
elemento estrutural submetido a flexão, e não submetido a flexo-tração. Esse momento
é calculado por:

MA = MSd (1 − 1) + VSd (1 − 1) ⋅ z ⋅ cotg θ [32]

O equilíbrio das forças verticais indica que a força cortante solicitante de cálculo
VSd na seção 1-1 é igual à força resultante das tensões de tração nos estribos
inclinados (Rsw), no trecho de medida 2 ⋅ ( z / 2) ⋅ (cot gα + cot gθ) ⋅ senα , projetada na
vertical segundo o ângulo α, conforme figura 10d, obtendo-se:

R sw ⋅ sen α = VSd (1− 1) [33]

Montando a equação de equilíbrio dos momentos das forças resultantes das


tensões nos estribos inclinados e das tensões nas barras da armadura longitudinal,
considerando o ponto A para pólo, conforme figura 10c, resulta:

z ⋅ (cotg α + cotg θ) ⋅ sen α


MA = R st (1 − 1) ⋅ z + R sw ⋅ [34]
2

Substituindo 33 em 34 e igualando as expressões 32 e 34 tem-se:

z ⋅ (cotg α + cotg θ) ⋅ sen α


R st (1 − 1) ⋅ z + R sw = MSd (1 − 1) + VSd (1 − 1) ⋅ z ⋅ cotg θ [35]
2

Trabalhando a equação 35, resulta a equação 36 com a qual se calcula o valor


da força resultante nas barras da armadura longitudinal tracionada, considerando os
efeitos do momento fletor e da força cortante:

MSd (1 − 1) VSd (1 − 1) ⋅ (cotg θ − cotg α )


R st (1 − 1) = + [36]
z 2

A força resultante Rst nas barras da armadura longitudinal de tração é diferente


para cada seção transversal, como pode ser observado nas seções (1-1) e (2-2),
conforme figura 10a, por causa da ocorrência da fissura inclinada de ângulo θ, como
pode ser visto analisando a equação 36.
O acréscimo de força na armadura de tração em virtude da ação da força
cortante, pode ser entendido como um acréscimo ao momento fletor MSd( 1− 1 ) de
módulo ΔMSd( 1− 1 ), ambos divididos pelo braço de alavanca z. Assim, a segunda
parcela do segundo membro da equação 36 pode ser escrita como:

ΔMSd (1 − 1) VSd (1 − 1) ⋅ (cotg θ − cotg α ) VSd (1 − 1) ⋅ a l


= = [37]
z 2 z

Ou seja, igualando a segunda e terceira parcelas da equação 37 e considerando


z = d, resulta:
José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2010 19
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

a l = 0,5 ⋅ d ⋅ (cot g θ − cot g α ) ≤ d [38]

Esse deslocamento precisa ser limitado à altura útil d. A equação 38 é a indicada


na ABNT NBR 6118:2003, quando se adota o Modelo II de dimensionamento da
armadura transversal, para o cálculo do deslocamento que precisa ser dado ao
diagrama de força Rst (pode ser o diagrama de MSd) para a retirada de serviço das
barras longitudinais em seções transversais antes dos apoios.
O deslocamento ( a l ) precisa cumprir as seguintes condições:

a l ≥ 0,5 ⋅ d , no caso de estribos inclinados de 900;

a l ≥ 0,2 ⋅ d , no caso de se adotar estribos inclinados de 450.

No caso de se adotar o Modelo I ( θ = 45 0 ) de dimensionamento à força cortante


o deslocamento do diagrama de momentos fletores solicitantes de cálculo é calculado
com a equação 45, indicada pela ABNT NBR 6118:2003, e deduzida como segue,
adotando-se a sugestão de Mangini (2000).
A força de tração absorvida pelos estribos, relativa à força cortante solicitante de
cálculo, quando se adota o Modelo II de dimensionamento, é calculada pela equação
22. Trabalhando algebricamente com a equação 22 é possível determinar a equação
39 que calcula o valor da cotg θ .

Vsw
cotg θ = − cotg α [39]
A sw,1estribo
⋅ f ywd ⋅ 0,9 ⋅ d ⋅ sen α
s

A equação 39 pode ser escrita como indicado na equação 40, pois se multiplicou
e se dividiu a primeira parcela do segundo membro por sen α + cos α .

Vsw [sen α + cos α] 1


cotg θ = ⋅ ⋅ − cotg α [40]
⎡ A sw,1estribo ⎤ [sen α + cos α ] sen α
⎢ ⋅ f ywd ⋅ 0,9 ⋅ d⎥
⎣ s ⎦

Considerando a equação 24 pode-se escrever:

VSd − Vc = Vsw [41]

Comparando a equação 40 com a equação 23, com a qual se calcula o valor da


resultante das tensões de tração nos estribos quando se considera o modelo I
( θ = 45 0 ), percebe-se que as expressões entre colchetes escritas nos denominadores
da equação 40 é a parcela Vsw da equação 23 e, portanto, igual ao primeiro membro da
equação 41.
A equação 40 pode ser escrita como (42):

VSd 1
cotg θ = ⋅ (sen α + cos α ) ⋅ − cotg α [42]
VSd − Vc sen α
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Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

A expressão entre parêntesis multiplicada por ( 1 / sen α ) pode ser escrita como
( 1 + cotg α ) resultando:

VSd
cotg θ = ⋅ (1 + cotg α ) − cotg α [43]
VSd − Vc

Substituindo a equação 43 na equação 38, com a qual se calcula o valor do


deslocamento do diagrama de momentos fletores solicitantes de cálculo ( a l )
considerando o Modelo I resulta a equação 44.

1 ⎡ VSd ⎤
al = ⋅d⋅ ⎢ ⋅ (1 + cotg α ) − cotg α⎥ − cotg α [44]
2 ⎣ VSd − Vc ⎦

O deslocamento do diagrama ( a l ) quando se adota o modelo I da ABNT NBR


6118:2003 é, portanto, calculado pela equação 45.

⎡ VSd,máx ⎤
al = d ⋅ ⎢ ⋅ (1 + cotg α) − cotg α⎥ ≤ d [45]
⎣ 2 ⋅ ( VSd,máx − Vc ) ⎦

sendo:

a l ≥ 0,5 ⋅ d , no caso de estribos inclinados de 900;

a l ≥ 0,2 ⋅ d , no caso de se adotar estribos inclinados de 450.

Sugere-se que o valor do deslocamento calculado com a equação 45, quando


se adota o Modelo I, fique limitado a medida da altura útil d.

6 Critérios para o detalhamento das armaduras transversais (estribos)

6.1 Armadura mínima

Conforme indicado na ABNT NBR 6118:2003 todos os elementos lineares


fletidos, submetidos à solicitação de força cortante, precisam ter uma armadura
transversal mínima constituída por estribos, com taxa geométrica calculada pela
equação 46, ou seja:

A sw f
ρsw = ≥ 0,2 ⋅ ctm [46]
b w ⋅ s ⋅ senα fywk

6.2 Limites de diâmetros e espaçamentos entre estribos [ABNT NBR 6118:2003]

Os estribos para absorver as tensões de tração por solicitação de força cortante


precisam ser fechados por meio de um ramo horizontal, envolvendo as barras da
armadura longitudinal de tração e ancoradas na face oposta. Quando essa face
também for tracionada, o estribo precisa ter o ramo horizontal nessa região, ou
complementado por meio de barra adicional.
O diâmetro da barra ou fio de aço do estribo ( φt ) precisa ser maior ou igual a 5
mm, sem exceder 1/10 da largura da alma da viga, ou seja:
José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2010 21
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

bw
5mm ≤ φt ≤ (bw em milímetros) [47]
10

Quando a barra que compõe o estribo for lisa o diâmetro não pode ser superior a
12 mm.
No caso de estribos formados por telas soldadas, o diâmetro mínimo pode ser
reduzido para 4,2 mm, desde que sejam tomadas precauções contra a corrosão dessa
armadura.
O espaçamento mínimo entre estribos, medido segundo o eixo longitudinal do
elemento estrutural, deve ser suficiente para permitir a passagem do vibrador,
garantindo um bom adensamento da massa. O espaçamento máximo deve atender às
seguintes condições:

se VSd ≤ 0,67 ⋅ VRd2 então smáx = 0,6 ⋅ d ≤ 300mm = 30cm [48]

se VSd > 0,67 ⋅ VRd2 então smáx = 0,3 ⋅ d ≤ 200mm = 20cm [49]

O espaçamento transversal entre ramos sucessivos da armadura constituída por


estribos não deve exceder os seguintes valores:

se VSd ≤ 0,20 ⋅ VRd2 então s t,máx = d ≤ 800mm = 80cm [50]

se VSd > 0,20 ⋅ VRd2 então s t,máx = 0,6 ⋅ d ≤ 350mm = 35cm [51]

As emendas por traspasse são permitidas apenas quando os estribos forem


constituídos por telas ou por barras de alta aderência.

6.3 Elementos estruturais armados com barras dobradas

6.3.1 Ancoragem

No caso de barras dobradas resistentes à tração provocada por forças cortantes,


o trecho reto de ancoragem deve ser maior ou igual a lb,nec , conforme estudado em
Giongo (2006).

6.3.2 Espaçamento longitudinal

O espaçamento longitudinal entre barras dobradas precisa respeitar o valor


máximo dado por:

smáx = 0,6 ⋅ d ⋅ (1 + cotg α) [52]

sendo que α é o ângulo de inclinação da barra dobrada.


USP - EESC - SET - Disciplina SET 410 - Estruturas de Concreto Armado II 22
Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

7 Expressões práticas para o dimensionamento de vigas submetidas à


solicitação de força cortante com θ = 45o e α = 90o

As expressões deduzidas a partir das indicações do CM – CEB – FIP (2000) e


apresentadas pela ABNT NBR 6118:2003 precisam ser adaptadas para o
dimensionamento de vigas de concreto armado submetidas à solicitação de força
cortante. Assim, tabelas práticas podem ser construídas e as expressões podem ser
arranjadas com o intuito de facilitar e otimizar o processo de cálculo da área da
armadura e verificação da segurança estrutural.
Como visto a segurança de elementos lineares fletidos solicitados por força
cortante é verificada quando não ocorre ruptura do concreto da diagonal comprimida, e
quando, se ocorrer ruptura do concreto tracionado, a viga não apresenta escoamento
das barras ou fios da armadura transversal.
Para facilitar o processo de dimensionamento é importante conhecer o valor da
força cortante resistente mínima (VRd,mín) relativa à área de armadura mínima
transversal, com a taxa mínima (ρsw,mín) e a força cortante resistente última (VRd,u)
relativa à força, que se atingida há grande probabilidade de ocorrência de ruptura da
diagonal comprimida, calculada igualando-a à força VRd2.

7.1 Equação para cálculo da força cortante resistente mínima

Considerando a equação 46, indicada na ABNT NBR 6118:2003, e reescrita de


outro modo:

A sw f
ρsw = ≥ 0,2 ⋅ ctm (equação 46)
s ⋅ b w ⋅ senα fywk

sendo:

Asw a área da seção transversal dos estribos;

s o espaçamento dos estribos, medido segundo o eixo longitudinal do elemento


estrutural;

α a inclinação dos estribos em relação do eixo longitudinal do elemento


estrutural;

bw a largura média da alma, medida ao longo da altura da seção;

fywk a resistência ao escoamento das barras e fios de aço da armadura


transversal, que para as barras de aço CA-50 é igual a 500MPa e para os fios de
aço CA-60 é 600MPa;

fctm a resistência média à tração do concreto, calculada pela equação indicada na


ABNT NBR 6118:2003, conforme segue:

fctm = 0,3 ⋅ fck2 / 3 [53]

A tabela 1 apresenta os valores das taxas de armadura mínima (ρsw,mín) para os


aços CA-50 e CA-60 (ABNT NBR 7480:2007) e para os concretos das classes de
resistências do Grupo I indicados na ABNT NBR 8953:1992.
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Tabela 1 - Taxa geométrica mínima de armadura transversal

Taxa geométrica mínima de armadura transversal


Classe de ρsw,mín (%)
resistência do
concreto CA-50 CA-60

C20 0,0884 0,0737


C25 0,1026 0,0855
C30 0,1159 0,0965
Grupo I

C35 0,1284 0,1070


C40 0,1404 0,1170
C45 0,1518 0,1265
C50 0,1629 0,1357

Retomando a equação 24, pode-se escrever:

VSd ≤ VRd3 = Vc + Vsw (equação 24)

Considerado que se quer determinar uma equação para cálculo da força cortante
resistente de cálculo relativa à área de armadura transversal mínima, pode-se fazer
VRd3=VRd,min e, portanto, Vsw,min, ou seja a força resistida pela armadura também é a
mínima.
Assim:

VRd,mín = Vc + Vsw,mín [54]

A primeira parcela do segundo membro é calculada pela equação 29, com a


resistência fctd calculada pelas equações 30 e 31, sendo que para compatibilizar as
unidades é preciso multiplicar o segundo membro por 0,1, pois 1MPa = 0,1kN/cm2,
assim a unidade do segundo membro fica em quilonewton (kN).

Vc = [0,6 ⋅ fctd ⋅ 0,1] ⋅ b w ⋅ d = τc ⋅ b w ⋅ d (em kN) [55]

A parcela do segundo membro indicada entre colchetes é aqui chamada de τc


cuja unidade é em kN/cm2, sendo que os valores de τc estão indicados na tabela 2 em
função das resistências características dos concretos indicados na ABNT NBR
8953:1992.
A segunda parcela do segundo membro da equação 54 é calculada pela
equação 23, porém com a resistência característica ao escoamento das barras ou fios
de aço (fywk) adotados como estribos, conforme equação 6:

A sw,1estribo
Vsw = ⋅ fywk ⋅ 0,9 ⋅ d ⋅ (sen α + cos α) (equação 23)
s

Essa equação pode ser escrita, considerando o ângulo de inclinação dos


estribos em relação ao eixo longitudinal do elemento estrutural de 900, e, multiplicando
por 0,1 para compatibilizar as unidades de tensão, como:
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Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

A sw,mín
Vsw,mín = ⋅ 0,9 ⋅ fywk ⋅ 0,1⋅ b w ⋅ d (em kN) [56]
bw ⋅ s

ou, ainda:

Vsw,mín = ρsw,mín ⋅ 0,9 ⋅ 0,1⋅ fywk ⋅ b w ⋅ d [57]

Na equação 57 fyk é a resistência característica ao escoamento das barras ou


fios da armadura transversal adotada igual a:

barras de aço categoria CA - 50 → fywk = fyk = 500MPa [58]

fios de aço categoria CA - 60 → fywk = fyk = 600MPa [59]

Assim, a equação 57 pode ser escrita, no caso de se adotar no projeto barras de


aço CA-50:

Vsw,mín = ρsw,mín ⋅ 0,9 ⋅ 0,1⋅ 500 ⋅ b w ⋅ d [60]

resultando:

Vsw,mín = 45,0 ⋅ ρsw,mín ⋅ b w ⋅ d (para barras de aço CA-50) [61]

No caso de se adotar fios de aço CA-60 para os estribos verticais, a equação 57


pode ser escrita com fyk = 600MPa (expressão 59):

Vsw,mín = ρsw,mín ⋅ 0,9 ⋅ 0,1⋅ 600 ⋅ b w ⋅ d [62]

resultando:

Vsw,mín = 54,0 ⋅ ρsw,mín ⋅ b w ⋅ d (para fios de aço CA-60) [63]

O valor da força cortante resistente mínima, no caso de se adotarem estribos


feitos com barras de aço CA-50, é calculado com a equação 64 obtida substituindo as
equações 60 e 61 na equação 54.

VRd,mín = [τc + 45,0 ⋅ ρsw,mín ]⋅ b w ⋅ d (em kN e para barras de aço CA-50) [64]

Com τc e ρsw,mín indicados na tabela 2.

No caso de fios de aço CA-60 a força cortante resistente de cálculo mínima é


calculada com a equação 65 obtida substituindo-se as equações 60 e 62 na equação
54.

VRd,mín = [τc + 54,0 ⋅ ρsw,mín ]⋅ b w ⋅ d (em kN e para fios de aço CA-60) [65]
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7.2 Equação para cálculo da área de armadura transversal mínima

Considerando a equação 52 pode-se escrever, com estribos perpendiculares ao


eixo longitudinal do elemento estrutural (α = 900), a equação 66:
A sw,mín
ρsw,mín = [66]
s ⋅ bw

ou seja:

A sw,mín b 100
= ρsw,mín ⋅ w ⋅ (em cm2/m) [67]
s ⋅n n 1

sendo,

n o número de ramos (segmento(s) perpendicular(es)) do estribo que na maioria


dos casos é um polígono de dois lados paralelos, conforme figura 9;

bw é a espessura da viga;

os números 100 (em centímetros) em numerador e 1 (em metro) em


denominador foram inseridos para acertar a unidade da equação (multiplicou-se
e dividiu-se o segundo membro por 1m); a unidade da área de barras por
comprimento unitário de viga é calculada em cm2/m.

Calculado o valor da área de uma barra ou fio da armadura transversal, ou seja,


a área dos estribos de n ramos a cada s de espaçamento, com a equação 67, é
possível adotar o diâmetro da barra ou fio ( φest ) de acordo com a ABNT NBR
7480:2007 e calcular o espaçamento com a equação 74.

7.3 Equação para cálculo da força cortante de cálculo resistente última

A força cortante de cálculo resistente última (VRd,u) é aquela que se atingida há


grande probabilidade de ocorrer a ruptura da diagonal comprimida (VRd2). Assim,
considerando a equação 16, pode-se escrever:

VRd,u = VRd2 = 0,27 ⋅ α v 2 ⋅ fcd ⋅ b w ⋅ d ⋅ 0,1 (em kN) [68]

Substituindo a equação 14 na equação 68, considerando fcd = fck/1,4, e,


lembrando que o fator 0,1 tem a finalidade de compatibilizar a unidade de tensão em
unidade de força, pois 1 MPa = 0,1 kN / cm2 , resulta:

⎡ ⎛ f ⎞ f ⎤
VRd,u = VRd2 = ⎢0,27 ⋅ ⎜1 − ck ⎟ ⋅ ck ⋅ 0,1⎥ ⋅ b w ⋅ d (em kN) [69]
⎣ ⎝ 250 ⎠ 1,4 ⎦

A expressão entre colchetes é nomeada de τcu, cujos valores são apresentados


na tabela 2, calculados em função das resistências características dos concretos
indicados na ABNT NBR 8953:1992.
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Tabela 2 - Valores de τc, ρsw,min (CA-50 e CA-60) e τcu para dimensionamento


de vigas submetidas à solicitação de força cortante

Cálculo da área de armadura transversal em vigas


Força cortante resistente mínima
Classe de Taxa mínima de armadura Força cortante
resistência do Contribuição do transversal resistente última
concreto concreto τcu (kN/cm2)
τc (kN/cm2) ρsw,mín (%)
CA-50 CA-60
C20 0,0663 0,0884 0,0737 0,3549
C25 0,0769 0,1026 0,0855 0,4339
C30 0,0869 0,1159 0,0965 0,5091
Grupo I

C35 0,0963 0,1284 0,1070 0,5805


C40 0,1053 0,1404 0,1170 0,6480
C45 0,1139 0,1518 0,1265 0,7116
C50 0,1221 0,1629 0,1357 0,7714

7.4 Equação para cálculo da área da armadura transversal relativa à força cortante de
cálculo no caso de VRd,mín < VSd ≤ VRd,u .

Considerando a equação 24 pode-se escrever:

VSd ≤ VRd3 = Vc + Vsw (equação 24)

Substituindo as equações 55 e 23 na equação 24, considerando o ângulo de


inclinação dos estribos (α) igual a 90o, e, multiplicando o segundo fator do segundo
membro por (bw/bw) e por 0,1 para compatibilizar as unidades, conforme justificado
anteriormente, resulta:

VSd ≤ VRd3 = τ c ⋅ b w ⋅ d +
A sw,1estribo
bw ⋅ s
[ ]
⋅ f ywd ⋅ 0,9 ⋅ 0,1 ⋅ b w ⋅ d [70]

A equação 70 pode ser escrita conforme a equação 71:

VSd ≤ VRd3 = [τ c + ρ sw ⋅ 39,15] ⋅ b w ⋅ d (em kN) [71]

A equação 71 é válida para o cálculo da área de armadura transversal quando se


adotam barras de aço CA-50 ou fios de aço CA-60, conforme a ABNT NBR 6118:2003
que limita a resistência de escoamento de cálculo dos estribos (fywd) a 435MPa, e com
τ c indicado na tabela 2.
A limitação da resistência de escoamento de cálculo para os estribos é em
virtude de controlar de modo indireto as aberturas das fissuras por solicitação de força
cortante.
Com a equação 71 determina-se a taxa geométrica de armadura transversal,
pois no projeto de vigas se conhece o valor da força cortante solicitante de cálculo
(VSd) e as dimensões da seção transversal da viga, largura bw e a altura h (e, portanto,
a altura útil d). Conhecido o valor da taxa ρsw, que tem que ser maior do que ρsw,mín,
pois VSd é maior do que VRd,mín calcula-se a área de estribos com a equação 72.
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A sw b 100
= ρ sw ⋅ w ⋅ (em cm2/m) [72]
s⋅n n 1

7.5 Cálculo dos espaçamentos entre os estribos considerando a área da barra (ou fio)

Sendo as,cal (ou as,mín) a área dos estribos calculada pela equação 72, a s,1φ a
área de uma barra ou fio de aço, e 100/s o número de estribos em 1m, pode-se
escrever a equação 73.

⎡100 ⎤
as,cal = ⎢ ⎥ ⋅ a s,1φ [73]
⎣ scal ⎦

O espaçamento calculado (scal) entre os estribos resulta, portanto:

a s,1φ
scal = 100 ⋅ [74]
a s,cal

sendo que as áreas de um ramo do estribo e a calculada são dadas em cm2/m e


o espaçamento s em centímetros.
Para escolher a medida do espaçamento adotado (sado) arredonda-se o valor do
espaçamento calculado para o número inteiro menor, a favor da segurança. Medida do
espaçamento entre os estribos com números decimais iguais a 0,5cm também pode
ser considerada no projeto.
Para cálculo da área efetiva de estribos é necessário calcular o número de
estribos em 1m = 100cm dado por:

100
número de estribos = [75]
sado

Para cálculo da área efetiva de estribos se considera o valor calculado com a


equação 75, sem arredondamento do número obtido, e usando a equação 76.

100
a s,efe = ⋅a s,1φ (cm2/m) [76]
s efe

Os diâmetros dos estribos e seus respectivos espaçamentos precisam respeitar


os espaçamentos máximos indicados na ABNT NBR 6118:2003, conforme já
estudados neste texto.

8. Exemplos de dimensionamento da armadura transversal em vigas

8.1 Exemplo 1 - Viga biapoiada com ação uniformemente distribuída

8.1.1 Preâmbulo

A viga biapoiada apresentada na figura 12 é projetada verificando-se as


resistências com relação às tensões normais e tangenciais. Na etapa inicial do projeto
são calculados os esforços solicitantes - momentos fletores e forças cortantes, são
desenhados os diagramas e são verificadas as seguranças quanto a estes esforços.
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Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

Neste exemplo a viga é considerada biapoiada, com vão efetivo de 600cm,


largura (bw) igual a 20cm altura (h) igual a 50cm e ação uniformemente distribuída
(g+q) igual a 35kN/m. O coeficiente de majoração das solicitações características ( γ f ) é
adotado igual a 1,4.
O dimensionamento com relação ao momento fletor é feito calculando-se a
posição da linha neutra, com a respectiva determinação do domínio de deformações, e
o cálculo da área das barras da armadura longitudinal de tração. Com relação à força
cortante solicitante de cálculo, verifica-se a resistência da diagonal comprimida e
calculam-se as áreas das armaduras transversais (estribos) necessárias para garantir a
segurança em relação aos estados limites últimos, considerando a maior intensidade
da força cortante solicitante de cálculo e a força cortante resistente mínima.
São adotados fios de aço da categoria CA-60 para os estribos (diâmetro de
5,0mm) e barras de aço CA-50 (diâmetros maiores do que 5,0mm) para as armaduras
longitudinais e transversais e concreto da classe C30.
Considerando que a viga será construída em local com classe de agressividade
ambiental II, o cobrimento nominal é de 3cm, porém é possível adotar uma redução de
0,5cm, quando na obra se adota rígido controle de construção, portanto
cefe = 3,0 – 0,5 = 2,5cm.

8.1.2 Cálculos iniciais

a.- Momento fletor limite

O valor do momento fletor limite, com deformações limites entre os domínios 3 e


4, permite saber se será necessária armadura dupla ( MSd >MRd,lim ) ou armadura simples
MSd ≤ MRd,lim .
O cálculo se faz com a rotina já estudada na disciplina Estruturas de Concreto
Armado I, ministrada no primeiro semestre do quarto ano do Curso de Engenharia Civil
da EESC - USP. Para concreto C30 e barras de aço CA-50 o valor de k c,lim é igual a
1,5. Adotando, inicialmente, altura útil igual a 45cm, pois podem-se avaliar o diâmetro
dos estribos em 5mm e a distância do centro geométrico das barras da armadura
longitudinal em relação ao plano tangente à primeira camada destas, ou seja:

d = 50 − 2,5 − 0,5 − 2,0 = 45cm

O cálculo de Md,lim é feito pela equação (Giongo, 2009):

b w ⋅ d2 20 ⋅ 452
MRd,lim = = = 27.000kNcm = 270kNm
k c,lim 1,5

com:

MSd = γ f ⋅ MSk = 1,4 ⋅ 157,5 = 220,5kNm < MRd,lim = 270kNm

Assim, a área das barras da armadura longitudinal de tração será calculada com
a rotina de armadura simples.

b.- Cálculo da força cortante resistente mínima

A força cortante resistente mínima é calculada pela equação 65.


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VRd,min = [τ c + 54,0 ⋅ ρ sw,min ] ⋅ b w ⋅ d (equação 65)

De acordo com a ABNT NBR 7480:2007 os diâmetros de 5,0mm são disponíveis


para os fios de aço CA-60 e a ABNT NBR 6118:2003 especifica que, para elementos
estruturais submetidos à solicitação de força cortante e armados com estribos
perpendiculares ao eixo do elemento, os estribos precisam ter diâmetros maior ou igual
a 5,0mm sem exceder o diâmetro calculado por bw/10, com bw em milímetros igual a
largura da alma da viga.
Assim, nestes exemplos a área da armadura transversal mínima é calculada
para os fios de aço CA-60.
Com τ c = 0,0869 kN / cm 2 para concreto C30 e ρ sw ,min = 0,0965 % para fios de aço
de CA-60, conforme Tabela 2, e, bw = 20cm e d = 45cm, resulta:

⎡ 0,0965 ⎤
VRd,mín = ⎢0,0869 + 54,0 ⋅ ⋅ 20 ⋅ 45 = 125,1kN (equação 65)
⎣ 100 ⎥⎦

De acordo com o diagrama de força cortante, junto aos apoios têm-se regiões
com estribos calculados para a força VSd reduzida (item 8.1.4), e, na outra região os
estribos têm a área mínima de armadura transversal.

c.- Cálculo da força cortante resistente última

O cálculo da força cortante resistente última, aquela que se ultrapassada há


probabilidade de ocorrer a ruptura do concreto por compressão da diagonal, é feita com
a equação 69.

⎡ ⎛ f ⎞ f ⎤
VRd,u = VRd2 = ⎢0,27 ⋅ ⎜1 − ck ⎟ ⋅ ck ⋅ 0,1⎥ ⋅ b w ⋅ d = τcu ⋅ b w ⋅ d (equação 69)
⎣ ⎝ 250 ⎠ 1,4 ⎦

Com τ cu indicado na Tabela 2 para C30 igual a 0,5091kN/cm2 resulta:

VRd,u = VRd2 = 0,5091 ⋅ 20 ⋅ 45 = 458,2 kN

A força cortante solicitante de cálculo de maior intensidade é igual a:

VS d = 1,4 ⋅ Vk = 1,4 ⋅ 105 = 147,0 kN

que é menor do que a força cortante resistente última, portanto há pequena


probabilidade de ocorrer a ruptura da diagonal comprimida.

8.1.3 Cálculo da área das barras da armadura longitudinal

O momento fletor solicitante de cálculo na seção de meio do vão efetivo é


MSd = 220,5kNm e a determinação da área da armadura longitudinal segue a rotina já
estudada, assim tem-se:

b w ⋅ d2 20 ⋅ 45 2
kc = = = 1,84
MSd 22.050
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Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

consultando a Tabela A-1 [Giongo (2009)], para concreto C30 e barras de aço
CA-50 obtém-se:

β x = 0,45 e k s = 0,028

lembrando que a posição relativa da linha neutra βx é o quociente entre a medida


da profundidade da linha neutra (x) e a altura útil (d), resulta:

x = β x ⋅ d = 0,45 ⋅ 45 = 20,3 cm

V01 (20x50)

10

50
P01 P02

40
2
20 580 20

20

600

45 (43,25)
R 105 105
k
5 Ø t > 5cm
g+q 35kN/m
15 (13,25)
M 157,5
Sk 33 Ø 5,0 (130)

V Sk 105 105

M Sd 220,5
131,1
147

V = 125,1kN
Rd,mín

10 10
V = 125,1kN
267,5 Rd,mín

22,5
300

35 255 255 35

4 Ø 5,0 c/13 24 Ø 5,0 c/20 4 Ø 5,0 c/13

Figura 12 - Exemplo de viga biapoiada com força uniformemente distribuída –


Viga V01
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A área das barras da armadura longitudinal resulta:

MSd 22.050
A st = k s ⋅ = 0,028 ⋅ = 13,72 cm 2
d 45

Adotando barras de 16,0mm, com área de cada barra igual a 2,01cm2, obtem-se
o número de barras necessárias na seção de meio de vão:

13,72
→ 7 φ 16,0 mm
2,01

A área efetiva de barras tracionadas é igual a 14,07cm2.


Para o cálculo da altura útil efetiva (defe) observa-se o desenho do arranjo das
barras da armadura na seção transversal, conforme figura 12, onde nota-se que são
alojadas quatro barras de 16,0mm na primeira camada e três na segunda.
Adota-se, de acordo com os critérios da ABNT NBR 6118:2003, cobrimentos
iguais a 2,5cm.
A distância entre as barras, medida na horizontal é o maior valor entre um
diâmetro das barras ( 1⋅ φ) , 2,0cm (valor nominal), e 1,2 ⋅ φagr , que resulta,
respectivamente, 1,6cm, 2,0cm e 1,2 ⋅ 1,9 = 2,3cm , portanto, o espaçamento mínimo na
horizontal entre as barras é igual a 2,3cm. O espaçamento vertical é calculado de modo
idêntico, porém, o terceiro critério fica igual a 0,5 ⋅ 1,9 = 0,95cm , portanto, o
espaçamento mínimo vertical é igual a 2,0cm.
O espaçamento horizontal entre as barras, segundo o arranjo mostrado no corte
vertical da viga (figura 12), é igual a 2,53cm, portanto maior que 2,3cm.
A distância do centro geométrico das barras da armadura longitudinal,
considerando como referência a face inferior da viga, resulta igual a 5,34cm, que
permite calcular a altura útil efetiva por:

defe = 50,0 − 5,34 = 44,66cm , ou seja, adota − se 45cm.

8.1.4 Cálculo da área das barras da armadura transversal (estribos)

Analisando o digrama de forças cortantes de cálculo, figura 12, e considerando


as semelhanças entre os triângulos retângulos, é possível determinar as distâncias dos
centros dos apoios (pilares) até as seções nas quais as forças cortantes são iguais às
forças cortantes resistentes mínimas, assim, resulta:

147 125,1
=
300 x VRd,mín

e, portanto:

x VRd,mín = 255,3cm

Portanto, a distância da seção transversal em que a força cortante solicitante de


cálculo é igual à força cortante resistente mínima até o centro do pilar P01 é igual a
45cm (300cm – 255cm), sendo que 255cm é a medida de x VRd,mín adotada no projeto
para facilitar o detalhamento e a favor da segurança.
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Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

a.- Cálculo da força cortante solicitante de cálculo para o dimensionamento da


armadura transversal

Conforme já analisado no item 3 deste texto a ABNT NBR 6118:2003 permite


que se considere para o dimensionamento dos estribos junto aos apoios, o módulo da
força cortante solicitante de cálculo na seção que dista d/2 (22,5cm) da face. Assim,
considerando a semelhança entre os triângulos retângulos da figura 12 e que a força
cortante solicitante de cálculo no centro do apoio é VSd = 147kN, a força cortante
solicitante de cálculo nessa seção resulta:

147 VSd,d / 2
=
300 ⎡ 45 ⎤
⎢300 − 10 − 2 ⎥
⎣ ⎦

ou seja,

VSd,d / 2 = 131,1kN

No diagrama de forças cortantes solicitantes de cálculo definem-se as seções


transversais que estão submetidas a forças maiores do que a força cortante resistente
mínima, e, também, aquelas seções em que a força cortante solicitante de cálculo é
menor que a mínima, portanto, com área de armadura transversal igual à mínima
necessária.

b.- Cálculo da área das barras da armadura transversal

Para o cálculo da armadura transversal, iguala-se o valor da força cortante


solicitante de cálculo ao valor da força cortante resistente de cálculo, obtendo-se a taxa
de armadura transversal, ou seja usando a equação 71, resulta:

VSd = Vc + Vsw = ( τ c + 39,15 ⋅ ρ sw ) ⋅ b w ⋅ d (equação 71)

substituindo os valores relativos a este projeto de viga vem:

131,1 = (0,0869 + 39,15 ⋅ ρ sw ) ⋅ 20 ⋅ 45

portanto, a taxa geométrica de armadura transversal é:

ρ sw = 0,15%

Com a taxa calcula-se a área das barras da armadura transversal com a


equação 72:

A sw b
= ρ sw ⋅ w ⋅ 100 (equação 72)
( s ⋅ n) n

obtendo-se:

0,15 20
A sw = ⋅ ⋅ 100 = 1,5cm 2 / m
100 2
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c.- Cálculo da área mínima das barras da armadura transversal

Para o cálculo da área mínima de estribos constituídos de fios de aço CA-60,


utiliza-se a equação 67, resultando:

A sw,mín 0,0965 20
= ⋅ ⋅ 100 = 0,97cm2 / m (equação 67)
s ⋅n 100 2

d.- Cálculos dos espaçamentos entre os estribos

Calculadas as áreas das barras da armadura transversal, o próximo passo é


adotar o diâmetro das mesmas, que deve satisfazer o indicado na expressão 46:

b w 200
5mm ≤ φt ≤ = = 20,0mm (expressão 47)
10 10

ou seja:

5,0mm ≤ φt ≤ 20,0mm

O espaçamento máximo deve atender às seguintes condições:

se VSd ≤ 0,67 ⋅ VRd2 então smáx = 0,6 ⋅ d ≤ 300mm = 30cm (expressão 48)

se VSd > 0,67 ⋅ VRd2 então smáx = 0,3 ⋅ d ≤ 200mm = 20cm (expressão 49)

Assim:

VSd = 131,1kN < 0,67 ⋅ 458,2 = 307kN

Portanto,

smáx = 0,6 ⋅ 45 = 27cm < 30cm

Para a área de armadura transversal calculada para força cortante na seção d/2
igual a 131,1kN resultou a área de 1,5cm2/m e a área de armadura transversal mínima
é igual a 0,97cm2/m. Adotando diâmetro dos fios de 5,0mm (CA-60) os espaçamentos
podem ser calculados com a equação 74 resultando:

0,20
s cal = 100 ⋅ = 13,33cm (equação 74)
1,50

É conveniente adotar número inteiro (ou número com decimal igual a 0,5cm)
para facilitar o trabalho na obra. Portanto, adotando-se espaçamento igual a 13cm o
número de estribos, de acordo com a equação 75 resulta:

100
número de estribos em 1 metro = = 7,69
13
USP - EESC - SET - Disciplina SET 410 - Estruturas de Concreto Armado II 34
Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

Com esse número calcula-se a área de armadura transversal efetiva (equação


76), obtendo-se:

100
a s,efe = ⋅ 0,20 = 1,54cm 2 / m
13

Para a área de estribos relativos à área de armadura mínima asw,min = 0,97cm2/m,


escolhendo diâmetros dos fios de 5,0mm (CA-60), os espaçamentos resultam iguais a
20cm, com área efetiva de 1,00cm2/m.
A figura 12 apresenta as distribuições dos estribos ao longo do comprimento da
viga e o estribo desenhado em verdadeira grandeza, sendo que os diâmetros de
dobramentos são iguais a 3 ⋅ φ t e os comprimentos dos segmentos retos dos ganchos
são iguais a 5 ⋅ φ t ≥ 5cm , conforme indicado na ABNT NBR 6118:2003.
Com essas informações calculam-se os comprimentos totais dos estribos
resultando:

1 1 1 1
l est = 2 ⋅ 12,5 + 2 ⋅ 42,5 + 5 ⋅ ⋅ 2 ⋅ π ⋅ ( ⋅ 3 ⋅ 0,5) + 2 ⋅ ⋅ 2 ⋅ π ⋅ ( ⋅ 3 ⋅ 0,5) + 2 ⋅ 5 = 127,1cm
4 2 8 2

considerando-se esse cálculo como rigoroso.

Os segmentos retos dos estribos medem:

comprimento horizontal: 20,0 − 2 ⋅ 2,5 − 2 ⋅ 0,5 − 2 ⋅ 0,5 ⋅ 3 ⋅ 0,5 = 12,5cm ;

comprimento vertical: 50,0 − 2 ⋅ 2,5 − 2 ⋅ 0,5 − 2 ⋅ 0,5 ⋅ 3 ⋅ 0,5 = 42,5cm .

Os estribos têm cinco dobras e na quina onde estão os ganchos têm-se dois
comprimentos adicionais de medidas iguais a 1/8 de circunferência.

Cálculo não rigoroso do comprimento do estribo pode ser feito considerando:

l est = 2 ⋅ 15 + 2 ⋅ 45 + 2 ⋅ 5 = 130cm

Assim o comprimento de corte dos estribos é adotado igual a 130cm.


A quantidade de estribos é calculada dividindo-se o comprimento do trecho da
viga em que eles são distribuídos pelo espaçamento e acrescentando-se 1 estribo. No
trecho em que as força cortantes de cálculo são maiores que a força cortante de
cálculo mínima resulta:

35
= 3 + 1 = 4 estribos
13

No trecho entre as seções transversais onde as forças cortantes são iguais a


força cortante mínima resulta para número dos estribos:
2 ⋅ 255
= 26 − 2 = 24 estribos
20
Nesse cálculo foram subtraídos dois (2) estribos pelo fato de terem sido
acrescidos nas duas regiões de força cortante maiores que a mínima.
A figura 12 apresenta o detalhamento dos estribos.
José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2010 35
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

Os comprimentos das barras da armadura longitudinal de tração, calculadas para


absorver a força resultante das tensões de tração por ação de MSd, serão estudados
oportunamente no curso.

8.2 Exemplo 2 - Viga biapoiada com ações uniformemente distribuída e concentrada

8.2.1 Preâmbulo

A figura 13 apresenta a vista lateral e o corte transversal de uma viga de


concreto armado submetida a uma ação uniformemente distribuída, oriunda das
reações de apoio de lajes, da ação de parede de alvenaria e com uma ação
concentrada de 150kN atuando a 300cm do centro geométrico do pilar P4, força esta
igual à reação de apoio de viga de concreto armado (V05) que se apóia na viga em
análise.
O objetivo desta fase do projeto da viga é calcular as áreas das armaduras
transversais (estribos) considerando concreto classe C30 e aço da categoria CA-50 e
CA-60 (diâmetros de 5,0mm).
A largura da viga (bw) e altura (h) são iguais a 25cm e 75cm, respectivamente.
Em função do alojamento das barras da armadura longitudinal de tração, dos
estribos e dos cobrimentos considerados no dimensionamento a altura útil (d) é
adotada igual a 71cm, sendo que depois do detalhamento das barras da armadura
longitudinal de tração precisa ser calculada a altura útil efetiva.
Neste exemplo é feito o dimensionamento das armaduras transversais (estribos).
Este exemplo de viga será analisado na íntegra na etapa do curso de projeto de vigas.

a.- Cálculo da força cortante resistente mínima

Conforme já estudado a força cortante resistente mínima é calculada pela


equação 65, resultando:

VRd,mín = ( τc + 54,0 ⋅ ρsw,mín ) ⋅ b w ⋅ d (equação 65)

Substituindo os valores indicados na tabela 2 calculados para concreto C30 e


aço CA-60 vem:

⎛ 0,0965 ⎞
VRd,mín = ⎜ 0,0869 + 54,0 ⋅ ⎟ ⋅ 25 ⋅ 71 = 246,7kN
⎝ 100 ⎠

Em nenhuma seção transversal as forças cortantes solicitantes de cálculo são


maiores do que a força cortante resistente mínima, portanto em todas as seções a área
da armadura transversal é igual à área mínima.

b.- Cálculo da força cortante resistente última

Considerando a equação 69, com τ cu indicado na tabela 2 para concreto C30, a


força cortante resistente última é igual a:

VRd,u = VRd2 = τ c,u ⋅ b w ⋅ d = 0,5091 ⋅ 25 ⋅ 71 = 903,7kN


USP - EESC - SET - Disciplina SET 410 - Estruturas de Concreto Armado II 36
Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

Analisando na figura 13 o diagrama de forças cortantes solicitantes de cálculo


nota-se que em nenhuma seção transversal o valor de VRd,u é ultrapassado, portanto
há segurança com relação as rupturas das diagonais comprimidas.

8.2.2 Força cortante solicitante de cálculo

Como em todas as seções transversais do tramo da viga as intensidades das


forças cortantes de cálculo são menores do que a força cortante de cálculo mínima, em
toda a extensão há necessidade de estribos com área mínima.
Portanto, a força cortante solicitante de cálculo para o dimensionamento da
armadura é a força cortante resistente mínima VSd = VRd,mín = 246,7kN .

8.2.3 Cálculo da área das barras da armadura transversal

Para o cálculo da área mínima de barras dos estribos utiliza-se a equação 67,
com o valor da taxa mínima de armadura transversal (tabela 2), em função das
resistências do concreto C30 e de fios de aço CA-60, igual a 0,0965, resultando:

A sw,mín 0,0965 25
= ρsw,mín ⋅ (b w / n) ⋅ 100 = ⋅ ⋅ 100 = 1,21cm2 / m
(s ⋅ n) 100 2

Calculada a área das barras da armadura transversal adotam-se os diâmetros


das mesmas, que deve satisfazer a seguinte condição:

b w 250
5mm ≤ φt ≤ = = 25,0mm (expressão 47)
10 10

O espaçamento máximo deve atender às seguintes condições:

se VSd ≤ 0,67 ⋅ VRd2 então smáx = 0,6 ⋅ d ≤ 300mm = 30cm (expressão 48)

se VSd > 0,67 ⋅ VRd2 então smáx = 0,3 ⋅ d ≤ 200mm = 20cm (expressão 49)

Assim:

VSd = 218,0kN < 0,67 ⋅ 903,7 = 605,5kN

Portanto,

smáx = 0,6 ⋅ 71 = 42,6 ≤ 30cm

Então;

smáx = 30cm

Para a área de armadura transversal calculada de 1,21cm2/m e adotando


diâmetro dos fios de 5,0mm (CA-60) os espaçamentos podem ser calculados com a
equação 74 resultando:

0,20
s cal = 100 ⋅ = 16,53cm
1,21
José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2010 37
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

V02 (25x75)
V05

10

75
P03 P04
20 380 20 280 20

R v2 = 150 kN 25

400 300 C30


CA-50
P03 P04 c=2,5cm

g + q = 20kN/m
k k

70,0 70,0
64,3 85,7
VSk 134,3 155,7

x
M+ 400
Sk

+
MSk 377,2

V = 246,7kN
188 Rd,mín

76
VSd

134
218
V = 246,7kN
Rd,mín

25 Ø 5,0 C/16 19 Ø 5,0 C/16

10 10

Figura 13 - Exemplo de viga biapoiada com forças uniformemente distribuída e


concentrada - Viga V02
Portanto, adota-se 16cm e o número de estribos por metro de viga resulta
(equação 75):
100
número de estribos em 1 metro = = 6,25
16
Com esse número calcula-se a área de armadura transversal efetiva (equação
76):
USP - EESC - SET - Disciplina SET 410 - Estruturas de Concreto Armado II 38
Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

100
as,efe = ⋅ 0,20 = 1,25cm2 / m
16
Adotando espaçamentos de 16,5cm a área efetiva resulta igual a 1,21cm2/m,
portanto, igual a área mínima de estribos que é de 1,21cm2/m. Esta solução também é
adequada, ficando a decisão de adotar 16cm ou 16,5cm de espaçamento por conta do
projetista.
As distribuições dos estribos são mostradas na figura 13 que ilustra a memória
de cálculo. Os detalhamentos são feitos de modo semelhante ao exemplo 1.
8.3 Exemplo 3 - Viga biapoiada com ações uniformemente distribuída e concentrada
8.3.1 Preâmbulo
A figura 14 apresenta a vista lateral e o corte transversal de uma viga de
concreto armado submetida a uma ação uniformemente distribuída com intensidade de
25kN/m e com uma ação concentrada de 250kN atuando a 300cm do centro
geométrico do pilar 6, reação da viga V06.
O objetivo desta fase do projeto da viga é calcular as áreas das armaduras
transversais (estribos) considerando concreto da classe C30 e aço da categoria CA-50
e CA-60 (diâmetros de 5,0mm).
A largura da viga (bw) e altura (h) são iguais a 20cm e 80cm, respectivamente.
Em função do alojamento das barras da armadura longitudinal de tração, dos
estribos e dos cobrimentos considerados no dimensionamento a altura útil (d) é
adotada igual a 74cm, sendo que depois do detalhamento das barras da armadura
longitudinal de tração precisa ser calculada a altura útil efetiva.
Neste exemplo é feito o dimensionamento das armaduras transversais (estribos).
Considerando as ações atuantes na viga, foi verificada a segurança com relação
às tensões normais, para o momento fletor de cálculo de maior intensidade, na seção
em que atua a força concentrada, obtendo-se para área das barras da armadura
longitudinal de tração 34,6cm2 e área das barras longitudinais de compressão igual a
2,74cm2, portanto, com solução em armadura dupla, pois MSd > MRd,lim.
a.- Cálculo da força cortante mínima
A força cortante mínima resistente é calculada pela equação 65, considerando
concreto C30 e fios de aço CA-60, resultando:

⎛ 0,0965 ⎞
VRd,mín = ( τc + 54,0 ⋅ ρsw,mín ) ⋅ b w ⋅ d = ⎜ 0,0869 + 54,0 ⋅ ⎟ ⋅ 20 ⋅ 74 = 205,7kN
⎝ 100 ⎠

b.- Cálculo da força cortante resistente última


Considerando a equação 69 a força cortante resistente última é igual a:
VRd,u = VRd2 = τ c,u ⋅ b w ⋅ d = 0,5091 ⋅ 20 ⋅ 74 = 753,5kN
Analisando o diagrama de forças cortantes solicitantes de cálculo (figura 14)
nota-se que em nenhuma seção transversal o valor de VRd,u é ultrapassado, portanto
há segurança com relação as rupturas das diagonais comprimidas.
c.- Seções nas quais a força cortante de cálculo é igual a força cortante resistente
mínima
Considerando as semelhanças entre os triângulos retângulos na figura 14 é
possível determinar as distâncias dos centros dos apoios (pilares) até as seções nas
quais as forças cortantes são iguais às forças cortantes mínimas, assim, resulta:
José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2010 39
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

c.1 Seção transversal próxima do Pilar P05


272,5 − 132,5 272,5 − 205,7
=
400 x VRd,mín,P 05

e, portanto:
x VRd,mín,P 05 = 190,9cm

c.2 Seção transversal próxima do Pilar P06


Conforme pode ser observado na figura 14 no trecho entre o pilar P06 e a seção
em que atua a força concentrada, as forças cortantes solicitantes de cálculo são
maiores que a força cortante resistente mínima, portanto, neste trecho a taxa de
armadura transversal é calculada com a equação 71 e a área dos estribos é calculada
com a equação 72.
Esses segmentos estão desenhados no diagrama de força cortante de cálculo
para posterior indicação das armaduras, conforme figura 14.
8.3.2 Cálculo da força cortante solicitante de cálculo
A seção transversal de aplicação da força concentrada dista, como indicado na
figura 14, 400cm do centro do pilar P05 e 300cm do centro do pilar P06, que são
segmentos maiores do que:
2 ⋅ d = 2 ⋅ 74 = 148cm
Assim, segundo a ABNT NBR 6118:2003 e item 3 deste texto, não é feita a
redução no módulo da força cortante relativa a força concentrada para cálculo das
áreas dos estribos.
No diagrama de forças cortantes de cálculo estão definidas as seções
transversais que estão submetidas a forças maiores que a força cortante mínima e
aquelas em que a força cortante é menor que a mínima, sendo que neste caso a área
de armadura transversal é igual a mínima necessária.
8.3.3 Cálculo das áreas das barras (ou fios) da armadura transversal (estribos)
Para o cálculo da área da armadura transversal, iguala-se o valor da força
cortante solicitante de cálculo ao valor da força cortante resistente de cálculo, obtendo-
se a taxa de armadura transversal, ou seja, usando a equação 71, resulta:
VSd = ( τ c + 39,15 ⋅ ρ sw ) ⋅ b w ⋅ d (equação 71)

a. Área de estribos junto ao Pilar P05:


Substituindo na equação 71 os valores relativos ao pilar P05 vem:
272,5 = (0,0869 + 39,15 ⋅ ρ sw ) ⋅ 20 ⋅ 74

Portanto, a taxa geométrica de armadura transversal junto ao pilar P05 e com τ c


da tabela 2 para concreto C30 é:
ρ sw = 0,25%

Com essa taxa calcula-se a área das barras da armadura transversal (estribos
adotados com dois ramos) com a equação 72, resultando:
USP - EESC - SET - Disciplina SET 410 - Estruturas de Concreto Armado II 40
Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

A sw b 0,25 20
= ρ sw ⋅ w ⋅ 100 = ⋅ ⋅ 100 = 2,5cm 2 / m
( s ⋅ n) n 100 2

V03 (20x80)
V 06

10

80
P 05 P 06
20 380 20 280 20

R VT03 = 250 kN
20

400 300

P03 P04
Rk
C30
CA -50 e CA-60
g+q 25 kN/m 25 kN/m
d = 74cm
b = 300cm > 2d = 148cm
87,50 87,50
107,14 142,86
V 194,64 94,64 155,36 230,36
Sk

x +
M Sk 400

M+
Sk 578,60

272,5

10 V = 205,7kN
Rd,mín
132,5

V Sd

10
217,5 V = 205,7kN
Rd,mín

322,5

Ø 8,0 c/15
Ø 8,0 c/20 Ø 5,0 c/20 Ø 8,0 c/15
200 150 30 280
10 10

Figura 14 - Exemplo de viga biapoiada com forças uniformemente distribuída e


concentrada - viga V03
Observa-se que para o cálculo desta área de armadura poderia ter sido feita a
redução na força cortante de cálculo, considerando a força cortante de cálculo na
seção que dista d/2 da face do apoio P05.
José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2010 41
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

b. Área de estribos junto ao Pilar P06


Substituindo na equação 71 os valores relativos ao pilar P06 tem-se:
322,5 = (0,0869 + 39,15 ⋅ ρ sw ) ⋅ 20 ⋅ 74

Portanto, a taxa geométrica de armadura transversal junto ao pilar P06 é:


ρ sw = 0,33%

Com a taxa calcula-se a área das barras da armadura transversal (estribos


adotados com dois ramos) com a equação 72, obtendo-se:

A sw b 0,33 20
= ρ sw ⋅ w ⋅ 100 = ⋅ ⋅ 100 = 3,3cm 2 / m
( s ⋅ n) n 100 2

c. Cálculo da área mínima das barras da armadura transversal


Para o cálculo da área mínima dos estribos de fios de aço CA-60, a serem
posicionados entre as seções transversais nas quais as forças cortantes solicitantes
são menores do que a força cortante resistente mínima utiliza-se a equação 67,
resultando:
A sw,mín 0,0965 20
= ρsw,mín ⋅ (b w / n) ⋅ 100 = ⋅ ⋅ 100 = 0,97cm2 / m
(s ⋅ n) 100 2

Calculadas as áreas das barras da armadura transversal adotam-se os


diâmetros das mesmas, que deve satisfazer a seguinte condição:
b w 200
5mm ≤ φt ≤ = = 20,0mm (expressão 47)
10 10
O espaçamento máximo deve atender às seguintes condições:
se VSd ≤ 0,67 ⋅ VRd2 então smáx = 0,6 ⋅ d ≤ 300mm = 30cm (expressão 48)

se VSd > 0,67 ⋅ VRd2 então smáx = 0,3 ⋅ d ≤ 200mm = 20cm (expressão 49)

Assim:
VSd = 322,5kN < 0,67 ⋅ 753,5kN

Portanto,
smáx = 0,6 ⋅ 74 = 44,4cm ≤ 30cm

A tabela 3 apresenta as áreas das barras dos estribos necessários nas


armaduras transversais da viga.
Tabela 3 - Áreas dos estribos para a viga V03
VSd Asw/s.n φ sefe Asw,efe
(kN) (cm2/m) (mm) (cm) (cm 2
/m)
322,5 3,30 8,0 15 3,33
272,5 2,50 8,0 20 2,50
VSd<VRd,mín 0,97 5,0 20 1,00
USP - EESC - SET - Disciplina SET 410 - Estruturas de Concreto Armado II 42
Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

As distribuições dos estribos são mostradas na figura 14 que ilustra a memória


de cálculo. Os detalhamentos são feitos de modo semelhante ao exemplo 1.
8.4 Exemplo 4 - Viga biapoiada com forças uniformemente distribuída e concentrada
próxima de um dos apoios
Para a viga V04 da figura 15, com uma ação concentrada de 250kN atuando em
uma seção transversal que dista 130cm do centro do pilar P08, reação da viga V07,
calculam-se as áreas das barras da armadura transversal considerando concreto
classe C30 e aço categoria CA-50 e CA-60. A ação uniformemente distribuída na viga
V04 é igual a 25kN/m.
A viga V04 tem as mesmas dimensões da viga V03, do exemplo do item 8.3,
inclusive com os módulos das forças aplicadas, porém mudando a posição da viga
apoiada V07, modificando, portanto, os valores das forças cortantes junto aos pilares.
Os valores das forças cortantes resistentes mínima e última são as mesmas
calculadas para a viga V03.
A figura 15 apresenta a forma da viga com os desenhos da vista lateral e corte
transversal, as intensidades dos esforços solicitantes, o diagrama de forças cortantes
solicitantes de cálculo e as distribuições dos estribos.
A força cortante relativa à força uniformemente distribuída pode ser considerada,
para cálculo da área das barras da armadura transversal, como a força cortante
solicitante de cálculo na seção que dista d/2 das faces dos apoios (P07 e P08).
Analisando o diagrama (não desenhado neste exemplo) de forças cortantes relativas à
ação da força uniformemente distribuída, e considerando a semelhança entre os
triângulos retângulos obtém-se:

1,4 ⋅ 87,5 VSd,P08,d / 2


=
700 700 74
− 10 −
2 2 2
Portanto, resulta:
VSd,P07,d / 2 = 106,1kN

A seção transversal de aplicação da força concentrada dista, como indicado na


figura 15, 130cm do centro do pilar P08 e 570cm do centro do pilar P07, de tal modo
que a distância da força concentrada ao centro do apoio P08 é menor do que duas
vezes a altura útil da viga, ou seja,
130cm < 2 ⋅ d = 2 ⋅ 74 = 148cm
assim, é possível, segundo os critérios da ABNT NBR 6118:2003, considerar-se,
para cálculo da área de armadura transversal junto ao pilar P08, a redução da força
cortante relativa a força concentrada na proporção de a/2d, resultando:
130
VSd,P 08,red,fc = 1,4 ⋅ 203,6 ⋅ = 250,4kN
2 ⋅ 74
A força cortante solicitante de cálculo junto ao pilar P08 com as respectivas
reduções resulta:
VSd,P08,red = 106,1 + 250,4 = 356,5kN < 362,0kN
O módulo da força cortante reduzida de cálculo junto ao pilar P08 é menor que a
força cortante de cálculo na seção transversal que atua a força concentrada
José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2010 43
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

(VSd = 362,0kN), portanto é com esta força que se calcula a área de estribos que serão
dispostos no trecho entre a ação da força centrada e o pilar P08.
A força cortante solicitante de cálculo, para cálculo da área da armadura
transversal, junto ao pilar P07 resulta:
VSd,P07 = 106,1 + 1,4 ⋅ 46,4 = 171,1kN < VRd,mín = 205,7kN
V04 (20x80)
VT07

10

80
P07 P08
20 550 20 110 20

250 kN
20

570 130

P07 P08

R k 134 291 C30


CA-50 e CA-60
25 kN/m c=2,5cm
b = 130cm > 2d = 148cm
87,50 87,50
46,40 203,60
V 133,90 291,10
Sk
8,60 258,60

x
M+
Sk
5,36 m

+
MSk 358,60 kNm

187,5 V = 205,7kN
34,3 10 Rd,mín

VSd

12,0

10
V = 205,7kN
Rd,mín

362,0 407,5

Ø 5,0 c/20 Ø 8,0 c/12,5


Asw,min Asw,calc

Figura 15 - Exemplo de viga biapoiada com forças uniformemente distribuída e


concentrada - viga V04
USP - EESC - SET - Disciplina SET 410 - Estruturas de Concreto Armado II 44
Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

No diagrama de forças cortantes solicitantes de cálculo é possível definir as


seções transversais que estão submetidas a forças maiores que a força cortante
resistente mínima de intensidade igual a 205,7kN (exemplo V03) e aquelas em que a
força cortante é menor que a mínima, sendo que neste caso a área de armadura é
igual à área mínima necessária.
d.- Cálculo da área das barras da armadura transversal
Para o cálculo da armadura transversal iguala-se o valor da força cortante
solicitante de cálculo ao valor da força cortante resistente de cálculo, obtendo-se a taxa
de armadura transversal, ou seja, usando a equação 71, resulta:
VSd = ( τ c + 39,15 ⋅ ρ sw ) ⋅ b w ⋅ d (equação 71)

d.1 Área de estribos junto ao Pilar P08:


substituindo os valores relativos a esta viga V04 vem:
362,0 = (0,0869 + 39,15 ⋅ ρsw ) ⋅ 20 ⋅ 74

portanto, a taxa geométrica de armadura transversal junto ao pilar P08 é:


ρsw = 0,40%

Com a taxa calcula-se a área das barras da armadura transversal (estribos


adotados com dois ramos) com a equação 72:

A sw b
= ρ sw ⋅ w ⋅ 100
( s ⋅ n) n

obtendo-se:

0,40 20
A sw = ⋅ ⋅ 100 = 4,0cm2 / m
100 2

e.- Cálculo da área mínima das barras da armadura transversal

A área de armadura transversal mínima a ser disposta no trecho entre o pilar


P07 e a viga VT 07 é igual a 0,97cm2/m, conforme exemplo 3. O diâmetro mínimo e
máximo dos estribos é igual a 5,0mm e 20,0mm, respectivamente, e como mostrado no
exemplo 3. Os espaçamentos máximos entre estribos também são os mesmos.
A tabela 4 mostra as áreas dos estribos necessários nas armaduras transversais
da viga.

Tabela 4 - Áreas dos estribos para a viga V04


VSd Asw/s.n φ sefe Asw,efe
(kN) (cm2/m) (mm) (cm) (cm 2
/m
407,5 3,9 8,0 12,5 4,00
VRd,mín 0,97 5,0 20 1,00

As distribuições dos estribos são mostradas na figura 15. Neste exemplo de


projeto da viga V04 não foi feita a verificação da armadura de suspensão; sugere-se
que o leitor a faça.
José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2010 45
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

9 Armadura transversal de suspensão


9.1 Análise teórica do problema
A ABNT NBR 6118:2003, no item Armadura de suspensão, diz:
"Nas proximidades das forças concentradas transmitidas à viga por outras vigas
ou elementos discretos que nela se apóiem ao longo ou em parte de sua altura, ou
fiquem nela penduradas, precisa ser colocada armadura de suspensão”.
A recomendação é em virtude do fato de, ao se projetar uma viga apoiada em
outra, a ação da viga que se apóia é distribuída ao longo da altura da alma da viga
que serve de apoio, desde que ambas tenham as faces superior e inferior contidas
pelos mesmos planos horizontais. Esse mecanismo de transferência de ações, que é
também chamado de apoio indireto, está ilustrado nas figuras 16a e 16b.
Os resultados dos ensaios de ligações entre vigas realizados por Leonhardt
(1977), mostram a necessidade de se adotar na região da ligação uma armadura de
suspensão, preferencialmente constituída por estribos, com a finalidade de redistribuir
na zona comprimida da viga que serve de apoio (Viga II) a ação da viga apoiada (Viga
I). Essa idéia fica mais clara ao analisar-se a figura 16b, sendo que as forças aplicadas
nas vigas são distribuídas para os apoios por arcos ou pórticos atirantados, que são
idealizados teoricamente por meio da treliça de Ritter-Mörsch, conforme estudado no
item 1 deste texto, com as diagonais comprimidas, montantes tracionados e com
banzos superior comprimido e inferior tracionado.
Na região de cruzamento entre as vigas a armadura de suspensão tem,
simultaneamente, a função de armadura transversal para absorver as tensões de
tração ocorridas por força cortante, isto é, a armadura de suspensão precisa ter área
maior ou igual que a necessária para o cisalhamento e pode ser distribuída na região
hachurada da figura 16c.
O dimensionamento da área das barras da armadura de suspensão (As,susp) é
feito, considerando as hipóteses do estado limite último, com a reação de apoio da Viga
I com o valor de cálculo ( R SId = γ f ⋅ R SIk ) multiplicada pela relação aI/aII, resultando a
equação:

aI γ f ⋅ R SIk
A s,susp = . [77]
aII f ywd

sendo que, de acordo com a figura 17,


aI é a distância da face superior da viga VII (viga de apoio) até a face inferior da viga
VI (viga apoiada);
aII = hII é a altura da viga VII (viga de apoio);
f yk
f ywd = ≤ 435MPa .
γf

Nos casos a, b, e c da figura 17, as faces inferiores das vigas coincidem,


tornando a relação aI/aII igual à unidade. Nos casos d, e, e, f as faces inferiores não
coincidem, isto é, a face inferior da viga apoiada (Viga I) está acima da face inferior da
viga II, tornando aquela relação menor que a unidade, pois, a distribuição da reação de
apoio da Viga I ao longo da alma está próximo do banzo comprimido da Viga II.
As barras ou fios de aço da armadura de suspensão calculadas pela expressão
77 precisam ser distribuídas nas regiões hachuradas das figuras 18 (caso de apoio de
extremidade) e 19 (caso de apoio intermediário), na proporção de pelo menos 70% de
As,susp na Viga II e no máximo de 30% na Viga I.
USP - EESC - SET - Disciplina SET 410 - Estruturas de Concreto Armado II 46
Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

Viga de
Apoio (II) h/2

h
Viga
Apoiada ( I ) h/2

a) Apoio indireto b wI

h/2
Viga ( I )

Viga (II)

R st = R VI b wII

b) Esquema das treliças


c) Região de intersecção

Figura 16 - Apoio indireto - Modelo de treliça na região de intersecção


[Gertsenchtein, 1978]

hI
h I = h II

hI

a) II I b) II I c) II I

hI
aI = hI aI
aI
a I = h II hI h II

d) II I e) II I f) II I

Figura 17 - Tipos de ligação entre vigas [Gertsenchtein, 1978]

As barras da armadura longitudinal de tração (Ast), posicionada junto à face


inferior da viga VI, precisam ser ancoradas na alma da Viga II, para a força nas barras
José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2010 47
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

da armadura longitudinal junto ao apoio calculada com o critério da ABNT NBR


6118:2003 sendo que este tópico pode ser estudado em Giongo (2006).
Havendo necessidade de ganchos nas barras da armadura, é conveniente
posicionar os ganchos a 90° em plano paralelo à face inferior da viga em vez de
verticais, para evitar a tendência de formação de fissuras de flexão na Viga II (figura
20). Os ganchos no plano vertical, porém inclinados, também podem ser adotados no
projeto.
O arranjo geral das armaduras recomendado é o mostrado na figura 21, sendo
que as barras da armadura de tração da viga VI precisam ser posicionadas sobre as
barras da armadura longitudinal de tração da viga VII, isto é, na terceira camada de
barras da viga VII.
Quando a face inferior da viga apoiada VI está abaixo da face inferior da viga
suporte VII, conforme figura 22a, as barras da armadura de suspensão precisam ser
constituídas por estribos (E1) alojados no trecho de ligação entre as duas vigas e
posicionados conforme figuras 22b e 22c. A área desta armadura é calculada pela
equação 78 sem nenhuma redução e com a força RSIk igual à reação de apoio da viga
VI.

γ f ⋅ R SIk
A s,sus,I = [78]
f ywd

Gertsenchtein (1978), sugere a colocação de estribos (E2), que façam parte da


armadura de suspensão, posicionados na viga VII (de suporte), distribuídos a partir das
faces da viga VI, à direita e à esquerda, em trechos de aproximadamente 15 cm e,
calculados pela expressão 79 com a reação de apoio reduzida à metade.

γ f ⋅ R SIk
A s,sus,II = 0,5 ⋅ [79]
f ywd

Na análise da armadura para força cortante, a armadura de suspensão tipo E1


contribui para absorver esse efeito na viga VI e, os estribos tipo E2, contribuem para
absorver o efeito na viga VII. Lembra-se que não há necessidade de se somar às
armaduras e, sim, verificar que a armadura de suspensão não pode ser inferior do que
a área de estribos calculada para absorver as tensões de tração em virtude da
solicitação de força cortante na seção em análise.
Quando nos projetos existe viga suporte em balanço viga VII na figura 23a, as
forças nas diagonais comprimidas são aplicadas na face inferior e, portanto, precisa ser
introduzida na viga VII por um tirante para distribuir a ação no seu banzo comprimido.
A armadura de suspensão para este caso é calculada pela equação 77
conforme sejam as posições relativas entre as faces inferiores das vigas. A distribuição
recomendável das armaduras é mostrada na região hachurada da figura 23d, com as
porcentagens de armadura da 23e.
No caso da figura 24a a face inferior da viga apoiada VI está sobre a face
superior da viga de apoio VII, não há necessidade de armadura de suspensão, pois,
segundo a figura 24b, a reação de apoio da viga VI é aplicada diretamente no banzo
comprimido da Viga II.
USP - EESC - SET - Disciplina SET 410 - Estruturas de Concreto Armado II 48
Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

h II /2 > bwI /2 h II /2 > bwI /2

b wII

b
wI
I
hI /2 > b wII /2

Viga de
h
Apoio (II) II

b wI

b) Região de distribuição

h
I
Viga 0,70 A s,susp
Apoiada (I)
b wI

0,30 A s,susp
a) Intersecção entre as vigas

c) Distribuição da armadura de suspensão

Figura 18 - Apoio de extremidade [Gertsenchtein, 1978]

hII/2 > bwI /2 hII/2 > bwI /2

h I /2 > bwII /2

b wII

h I /2 > bwII /2

Viga de b
w II
Apoio (II)

h
b wI
II
b) Região de distribuição

0,70 A s,susp
hI

Viga
I
Apoiada (I) bw

0,15 A s,susp

0,15 A s,susp
a) Intersecção entre as vigas

b wI

c) Distribuição da armadura de suspensão

Figura 19 - Apoio intermediário [Gertsenchtein, 1978]


José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2010 49
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

Viga de
Apoio (II)

Viga
Apoiada (I)

Figura 20 - Ancoragem das barras da armadura de viga [Leonhardt, 1979]

Viga de
Apoio (II) Viga
Viga Apoiada (I)
Apoiada (I)
Viga de
Apoio (II)

a) b)

Figura 21 - Arranjo das armaduras [Gertsenchtein, 1978]


Viga de
Viga de hII /2 hII /2
Apoio (II)
Apoio (II)
Estribos E1

b wII
II
h

Estribos E2 Estribos E2

h
II Viga
Apoiada ( I )
Viga b wI
Apoiada ( I )

b wI
a) Corte b) Planta

Estribos E2 Estribos E2

Viga de
Apoio (II)

Estribos E2
Viga
Apoiada ( I ) E1

b WI Estribos E1
~15cm ~15cm

c) Posicionamento das Armaduras

Figura 22 - Viga apoiada em nível inferior da viga de apoio


[Gertsenchtein, 1978]
USP - EESC - SET - Disciplina SET 410 - Estruturas de Concreto Armado II 50
Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

Viga II
Viga I

Viga II Viga I
A

a) Esquema Estático

Tração

Compressão

R st = R vI

c) Treliça
b) Detalhe A
b wI

Viga II

0,70 A s,susp

Viga I
h II /2 = b wI /2

b wII

h I /2 = b wII /2 h I /2 = b wII /2

0,15 A s,susp 0,15 A s,susp

e) Porcentagem da Armadura
d) Região de distribuição

Figura 23 - Viga suporte em balanço [Leonhardt, 1979]

Viga I
Viga II

Viga I Viga II

Não há necessidade de
armadura de suspensão
a) Esquema b) Mecanismo Resistente

Figura 24 - Viga apoiada sobre a viga de apoio


9.2 Exemplo de projeto de viga com cálculo e detalhamento de armadura de suspensão
É estudado o exemplo de projeto de viga V03 analisada na sessão 8.3 em que se
verificou a segurança estrutural com relação à solicitação de força cortante, sendo que,
aqui se retoma o projeto da viga V03 calculando e detalhando a armadura de
suspensão. A viga V03 serve de apoio para a viga V06 com a reação de apoio igual a
R Sk,VT 06 = 250kN e com força uniformemente distribuída de 25kN/m, conforme figura
14.
José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2010 51
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

Como foi estudado no item 9.1, na viga V03, na região de ligação entre as vigas
V03 e V06, é preponderante a área de armadura transversal de maior valor, ou seja,
calculam-se as áreas de estribos e de armadura de suspensão, adotando-se a maior.
Analisando a figura 14 pode-se observar que na região da ligação entre as vigas
têm-se as seguintes armaduras:
à esquerda da ligação entre as vigas V03 e V06:
VSd = 132,5kN < VRd,mín = 205,7kN → a sw,mín,efe = 1,0cm2 /m → φ 5, 0 c/ 20,0cm

à direita da ligação entre as vigas V03 e V06:


VSd = 217,5kN > VRd,mín = 205,7kN → a sw = 3,3cm2 /m → φ 8, 0 c/ 15,0cm
A área de armadura à direita da ligação foi calculada para a força cortante
solicitante de maior valor no trecho de 3,0m entre a seção de aplicação da força
concentrada e o apoio P06, conforme estudado no item 8.3.3b.
Para o cálculo da armadura de suspensão segue-se o que foi estudado em 9.1.
As dimensões da seção transversal da viga V06 são a espessura bw = 20cm e a
altura h = 60cm. No cálculo da área da armadura transversal de suspensão considera-
se a equação 77 sendo que:
RIk = 250kN, que é a reação da viga V06, considerada apoiada na Viga V03;
aI = 60cm;
aII = hII = 80cm;
aI γ f ⋅ R SIk 60 1,4 ⋅ 250
A s,susp,V03 = . = . = 6,0cm 2
aII f ywd 80 43,5
A distribuição dessa armadura de suspensão na viga V03 é feita de acordo com a
figura 18, sendo que o trecho de distribuição da armadura de suspensão é igual a:
h V 03 80
2⋅ = 2⋅ = 80cm ;
2 2
e a área dos estribos de dois ramos da armadura de suspensão neste trecho é
igual a:
1 A 1 6,0
0,7 ⋅ ⋅ s,susp,V03 = 0,7 ⋅ ⋅ = 2,63cm2 / m
n 2 ⋅ hV 03 2 0,8
2
Considerando as áreas de estribos já calculados para absorver as tensões de
tração oriundas da força cortante têm-se à direita da ligação uma área de armadura
transversal de 3,3cm2/m, portanto, maior que a área de armadura de suspensão que
resultou igual a 2,63cm2/m; porém, do lado esquerdo da ligação a área de estribos
relativa à força cortante resultou igual a 1,0cm2/m, havendo necessidade de se detalhar
até uma seção transversal que dista 40cm da ligação entre as vigas estribos com área
de no mínimo igual a 2,63cm2/m, . Neste projeto optou-se por adotar a mesma área da
armadura transversal dimensionada para a força cortante junto ao apoio P06 que é
representada por φ 8,0 mm a cada 15,0cm , assim padronizam-se o diâmetro e os
espaçamentos entre os estribos.
A distribuição dessa armadura de suspensão está detalhada na figura 14.
USP - EESC - SET - Disciplina SET 410 - Estruturas de Concreto Armado II 52
Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante - E. L. Último

Na viga V06 é preciso detalhar armadura de suspensão com área igual a


0,30 ⋅ A s,susp no trecho de medida 30cm a partir da ligação entre as vigas V03 e V06, de
acordo com a figura 18.
10 Referências bibliográficas
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT) Projeto de estruturas
de concreto. NBR 6118:2003. Rio de Janeiro, ABNT, 2004.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT) Projeto e execução de
obras de concreto armado. NBR 6118:1978. Rio de Janeiro, ABNT, 1980. (Substituída
pela versão de 2003.)
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT) Aço destinado a
armaduras para estruturas de concreto armado - Especificação. NBR 7480:2007. Rio
de Janeiro, ABNT, 2007.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT) Concreto para fins
estruturais – Classificação por grupos de resistência. NBR 8953:1992. Rio de Janeiro,
ABNT, 1992.
COMITE EURO-INTERNATIONAL DU BÉTON Code model CEB-FIP pour les
structures en béton. Paris, 1990.
COMITÉ EURO-INTERNATIONAL DU BÉTON (1990). CEB-FIP model code 1990: first
draft, Addendum. Bulletim D’Information, n. 198, Sep.
COMMISSON OF THE EUROPEAN COMMUNITIES (1989). Eurocode 2 – Design of
concrete structures. Bruxelas.
FUSCO, P. B. (1984) Estruturas de concreto: solicitações tangenciais. São Paulo,
EPUSP.
GIONGO, J. S. (2009) Concreto Armado: Dimensionamento considerando o estado
limite último de elementos estruturais fletidos submetidos à ação de momento fletor.
São Carlos, EESC-USP. www.set.eesc.usp.br/docentes/José Samuel Giongo/Material
Didático/SET 409.
GIONGO, J.S. (2006) Concreto armado: ancoragem por aderência. São Carlos, EESC-
USP.
LEONHARDT, F. & MÖNNING, E. (1977) Construções de concreto. 6v. Rio de
Janeiro, Interciência.
MANGINI, S. (2000). Força Cortante – Elementos lineares com armaduras
transversais. Os princípios diretivos da proposta ao texto de revisão da NB 1. IV
Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto. São Paulo.
GERTSENCHTEIN, M. (1978) Apoio Indireto. Caderno L. MAUBERTEC Engenharia e
Projetos Ltda.São Paulo.
SCHLAICH, J.; SCHAFER, K. (1989). Konstruieren in Stahlbetonbau. Beton-Kalender,
Berlin, Teil 2.
SCHAFER, K.; SCHLAICH, J. (1988). Consistent design of structural concrete using
strut and tie models. In: COLÓQUIO SOBRE COMPORTAMENTO E PROJETO DE
ESTRUTURAS, 5, PUC/RJ, Rio de Janeiro, 1988. Anais.
SILVA, R. C. & Giongo, J. S. (2000). Modelos de bielas e tirantes aplicados a
estruturas de concreto armado. São Carlos, EESC-USP, Projeto Reenge.

Anexo/ Rotina de projeto


José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2009 1
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

Rotina para o cálculo da área de armadura transversal em vigas


Modelo I - ABNT NBR 6118:2003
11 de setembro de 2009

O Modelo I da ABNT NBR 6118:2003 considera as diagonais de compressão


inclinadas de θ = 450 em relação ao eixo longitudinal do elemento estrutural e admite
que a parcela Vc tenha valor constante, independente de VSd.
A verificação do estado limite último de elementos estruturais fletidos se faz
considerando que a resistência do elemento, em uma determinada seção transversal, é
satisfatória, quando verificadas simultaneamente as seguintes condições:
VSd ≤ VRd2 [kN]

VSd = VRd3 = Vc + Vsw [kN]

sendo:

VSd a força cortante solicitante de cálculo na seção;

VRd2 a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína das diagonais


comprimidas de concreto;

VRd3 = Vc + Vsw , é a força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína por


tração diagonal;

Vc é a parcela de força cortante absorvida por mecanismos complementares ao


de treliça;

Vsw é a parcela absorvida pela armadura transversal.

Na região dos apoios, os cálculos devem considerar as forças cortantes atuantes


nas respectivas faces.
A rotina para verificação da segurança no Estado Limite Último de elementos
estruturais fletidos prevê a determinação dos valores das forças cortantes resistentes
mínima e última para possibilitar a análise do valor de VSd em relação a essas. As
expressões dos itens 4 e 5 para cálculo das áreas das armaduras transversais. Os
passos seguintes estão na ordem que usualmente se adotam para o dimensionamento
de viga.

1) Força cortante resistente mínima:

VRd,mín = [τc + 45,0 ⋅ ρsw,mín ]⋅ b w ⋅ d CA-50 [kN]

VRd,mín = [τc + 54,0 ⋅ ρsw,mín ]⋅ b w ⋅ d CA-60 [kN]

2) Força cortante resistente última:

VRd,u = VRd2 = τ cu ⋅ b w ⋅ d [kN]

3) Força cortante resistente de cálculo em função da área de armadura por unidade de


comprimento:

VRd3 = Vc + Vsw = ( τc + 39,15 ⋅ ρ sw ) ⋅ b w ⋅ d CA-50 e CA-60 [kN]


USP - EESC - SET - Disciplina SET 410 - Estruturas de Concreto Armado II - 2009 2
Rotina para a verificação da segurança de vigas com solicitação de força cortante no ELU - Modelo I - NBR 6118:2003

4) Área das barras ou fios de aço da armadura transversal:

A sw b
a sw = = ρ sw ⋅ w ⋅ 100 [cm2/m]
s⋅n n

5) Área mínima das barras ou fios de aço da armadura transversal:

A sw,mín b
a sw,mín = = ρsw,mín ⋅ w ⋅ 100 [cm2/m]
s ⋅n n

6) Diâmetro dos estribos:

bw
5mm ≤ φt ≤ [mm]
10

7) Espaçamento longitudinal máximo entre estribos:

se VSd ≤ 0,67 ⋅ VRd2 então smáx = 0,6 ⋅ d ≤ 30cm

se VSd > 0,67 ⋅ VRd2 então smáx = 0,3 ⋅ d ≤ 20cm

8) Espaçamento transversal máximo entre ramos sucessivos:

se VSd ≤ 0,20 ⋅ VRd2 então s t,máx = d ≤ 80cm

se VSd > 0,20 ⋅ VRd2 então s t,máx = 0,6 ⋅ d ≤ 35cm

9) Cálculo do espaçamento entre os estribos considerando a área da barra (ou fio) por
unidade de largura

a s,1φ
scal = 100 ⋅ [cm]
a s,cal

10) Número de estribos por metro

100
número de estribos = [sado em cm]
s ado

10) Cálculo da área efetiva de estribos

a s,efe = (número de estribos por metro ) ⋅ a s,1φ [cm2/m]

11) Nas expressões anteriores têm-se:

Asw = área da seção transversal de um ramo do estribo;

as,cal = asw = área de barras ou fios aço calculada pela expressão do item 4 desta
rotina;
José Samuel Giongo – USP – EESC – SET Setembro de 2009 3
Concreto armado: Dimensionamento de elementos estruturais fletidos submetidos à força cortante

as,1Ø = área de uma barra ou fio aço calculada por π ⋅ φ 2 / 4 , ou mediante


consulta às tabela 3 ou 4, para barras e fios padronizados pela ABNT NBR
7480:2007;

as,efe = área efetiva de barras ou fios de aço;

scal = espaçamento calculado entre os estribos, medido segundo o eixo


longitudinal do elemento estrutural;

sado é o espaçamento adotado para a viga em análise [cm]

sefe = espaçamento efetivo entre os estribos, medido segundo o eixo longitudinal


do elemento estrutural;

bw = largura média da alma, medida ao longo da altura útil da seção;


d = altura útil da seção transversal;
α é o ângulo de inclinação das barras da armadura transversal em relação ao
eixo do elemento estrutural, adotando-se 45o ≤ α ≤ 90o;
n = número de ramos perpendiculares ao plano horizontal do elemento
estrutural;
fywd = fyd ≤ 435MPa = resistência da armadura transversal.
Para bw > 5.d, o dimensionamento do elemento linear deve ser feito com os
critérios de laje;
Os detalhamentos dos estribos são feitos com as indicações da ABNT NBR
6118:2003, com relação a diâmetros de dobramentos, ganchos e comprimentos retos
dos ganchos.
Os valores de τc para o cálculo de VRd,mín, Vd,u e VRd3 e da taxa mínima de
armadura transversal estão indicados na Tabela 2 (o mesmo número da tabela no
texto).

Tabela 2
Cálculo da área de armadura transversal em vigas
Força cortante resistente mínima
Classe de Taxa mínima de armadura Força cortante
resistência do Contribuição do transversal resistente última
concreto concreto τcu (kN/cm2)
τc (kN/cm2) ρsw,mín (%)
CA-50 CA-60
C20 0,0663 0,0884 0,0737 0,3549
C25 0,0769 0,1026 0,0855 0,4339
C30 0,0869 0,1159 0,0965 0,5091
Grupo I

C35 0,0963 0,1284 0,1070 0,5805


C40 0,1053 0,1404 0,1170 0,6480
C45 0,1139 0,1518 0,1265 0,7116
C50 0,1221 0,1629 0,1357 0,7714
Elaborada por: Daniel dos Santos e José Samuel Giongo – USP-EESC-SET/FAPESP
USP - EESC - SET - Disciplina SET 410 - Estruturas de Concreto Armado II - 2009 4
Rotina para a verificação da segurança de vigas com solicitação de força cortante no ELU - Modelo I - NBR 6118:2003

Tabela 3 - Propriedades geométricas de barras de aço para estribos em vigas


(Adaptada da NBR ABNT 7480:2007)
CA-50
Diâmetro Massa Perímetro Área da
Nominal Aproximado Nominal seção
equivalente transversal
das barras
(mm) (polegadas) (kg/m) (cm) (cm2)
6,3 1/4 0,245 1,98 0,31
8,0 5/16 0,395 2,51 0,50
10,0 3/8 0,617 3,14 0,79
12,5 1/2 0,963 3,93 1,23

Tabela 4 - Propriedades geométricas de fios de aço para estribos em vigas


(Adaptada da ABNT NBR 7480:2007)
CA-60
Diâmetro Massa Perímetro Área da
seção
Nominal Nominal
transversal
das barras
(mm) (kg/m) (cm) (cm2)

5,0 0,154 1,57 0,20


5,5 0,187 1,73 0,24
6,0 0,222 1,88 0,28
6,4 0,253 2,01 0,32
7,0 0,302 2,20 0,38
8,0 0,395 2,51 0,50
9,5 0,558 2,98 0,71
10,0 0,617 3,14 0,79

Observações:
1.- As tabelas 3 e 4 apresentam as propriedades geométricas das barras e fios
padronizados pela ABNT NBR 7480:2007 e com diâmetros maiores ou iguais a 5,0mm,
que são especificados pela ABNT NBR 6118:2003 como valores mínimos para estribos
de vigas.
2.- Nos casos de vigas de edifícios usuais são adotados como diâmetros de estribos
fios de 5,0mm (CA-60) e barras de 6,3mm ou de 8,0mm (CA-50), conforme a área da
armadura transversal. Os fios de aço CA-60 com diâmetros até 8,0mm também podem
ser utilizados nas vigas usuais de edifícios.
3.- As barras e fios com diâmetros maiores que 8,0mm e menores ou iguais a 10,0mm
(CA-60) ou menores ou iguais a 12,5mm (CA-50) são adotadas para os estribos de
vigas de pontes ou vigas de equilíbrio em fundações de edifícios, onde os valores das
forças cortantes são mais intensas.

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