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Ana Maria R.

Gomes

O processo de escolarização entre os Xakriabá:


explorando alternativas de análise na
antropologia da educação

Ana Maria R. Gomes


Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educação

A criação das escolas estaduais indígenas pelo população indígena local, ao final dos anos de 1970,
Programa de Implantação das Escolas Indígenas de e a demarcação do seu território, cuja homologação
Minas Gerais (PIEI-MG), em 1997, foi um fato se deu somente em 1987. Em todo esse período, as
marcante para todos os povos envolvidos: Maxakali, possibilidades de acesso à instrução foram crescen-
Pataxó, Krenak e Xakriabá. A configuração das esco- do de modo progressivo e lento, fruto de uma luta
las seguiu as orientações legais previstas em âmbito incessante pela escola por pelo menos parte da po-
nacional – que garantem o direito à educação dife- pulação local.
renciada e estabelecem seus parâmetros de funciona- Os dados disponíveis permitiram verificar que,
mento – e deu origem a formas específicas de organi- embora iniciado anos antes, o processo de escolariza-
zação institucional e de condução das atividades ção entre os Xakriabá foi intensificado de modo mui-
didáticas, em função das exigências e das caracterís- to acelerado com o início do funcionamento das es-
ticas de cada povo indígena.1 colas estaduais indígenas. Em pouco mais de dois
Entre os Xakriabá, no entanto, o processo de anos, os Xakriabá passaram, de uma oferta escolar
escolarização teve seu início pelo menos sessenta que atendia a menos da metade da demanda, a apre-
anos antes da criação das escolas indígenas, em época sentar um quadro semelhante à oferta em Minas
que antecede o reconhecimento, por parte da Fun- Gerais, que garante vagas para quase a totalidade das
dação Nacional do Índio (FUNAI), da existência da crianças e adolescentes em idade de cursar o ensino
fundamental. Tal expansão acelerada gerou um con-
texto escolar com características muito peculiares,
1
Faz-se referência ao texto da Constituição Federal de 1988, além de provocar profundas mudanças na vida das
à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de comunidades, nas dimensões econômica, social, po-
1996 e ao Referencial Curricular Nacional para as Escolas Indíge- lítica e cultural (Gomes, 2003a). A continuidade des-
nas (RCNEI), de 1998. sa expansão é bem presente, com reivindicação de

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O processo de escolarização entre os Xakriabá

abertura de outras modalidades de ensino (educação O desempenho escolar das minorias étnicas:
infantil e educação de jovens e adultos), além da pro- recuperando os termos de um debate
posta de criação do ensino médio e de acesso à uni-
versidade. É marcante a forma incisiva com que os Os estudos que levaram ao aparecimento da an-
próprios Xakriabá implementam a expansão da esco- tropologia da educação como setor acadêmico nos
larização, sem que se tenha, no momento, uma análi- Estados Unidos alcançaram seu ponto alto no início
se mais clara das implicações de um processo condu- dos anos de 19704 e tiveram como estímulo determi-
zido com tal rapidez. nante a necessidade de contrapor-se ao modelo expli-
É dentro desse quadro que busco explorar algu- cativo prevalente na época sobre os problemas de es-
mas perspectivas de análise sobre os processos de colarização das minorias étnicas, ou seja, contrapor-se
escolarização, propostas pela antropologia da educa- ao modelo da privação cultural, à noção de déficit
ção, retomando o recorte conceitual que caracteriza cultural e aos desdobramentos em termos de uma pe-
cada abordagem. Particularmente, busco explorar o dagogia compensatória. Até então, os estudos reali-
debate que se instituiu sobre o tema do desempenho zados no campo antropológico sobre as dinâmicas
escolar das minorias étnicas nos Estados Unidos,2 familiares e comunitárias de socialização, que se de-
dentro do qual se configuraram duas posições teórico- senvolveram de modo particular dentro da corrente
metodológicas: a das descontinuidades culturais e a conhecida como “cultura e personalidade”, realiza-
do modelo ecológico cultural.3 vam-se principalmente em sociedades em que a es-
Neste artigo, proponho-me a retomar os termos cola não estava ainda presente, ou era interpretada
do debate teórico e identificar as orientações das duas como uma instituição pouco significativa por parte
posições, confrontando-as com as questões que a pes- dos pesquisadores.5
quisa sobre a escolarização dos Xakriabá têm susci- Uma das marcas importantes da entrada da an-
tado. Esse exercício analítico parece-me adequado tropologia no estudo da escola foi justamente a am-
para a explicitação de problemas e dificuldades re- pliação do foco das pesquisas, ao não tomar a instru-
correntes tanto na descrição e análise dos processos ção escolar como único contexto educativo, e sim
de escolarização dos grupos étnicos minoritários (ou, como uma parte do processo mais amplo, e que, por-
em outros termos, do sucesso/insucesso escolar des-
ses grupos) quanto nas implicações para as propostas
de intervenção pedagógica e para a formulação de 4
Em 1970 foi criado o Council of Anthropology and
políticas públicas. Education (CAE), dentro da American Anthropology Association
(AAA), e em 1978 o boletim do CAE transformou-se na revista
Anthropology and Education Quarterly.
5
É interessante notar que nesse período, embora a atuação
2
Tal debate tem início ao final dos anos de 1970 e desen- dos antropólogos norte-americanos na sua própria sociedade fos-
volve-se até os anos de 1990, passando por um período de maior se voltada para a melhoria da educação escolar das minorias, dos
acirramento das posições no curso dos anos de 1980. Ver Jacob e imigrados e das classes sociais desfavorecidas, os estudos exis-
Jordan (1987) e Gibson (1997), para uma apresentação inicial do tentes traziam uma escassa discussão teórica sobre a questão edu-
debate. cacional (Ogbu, 1996, p. 6). Um quadro semelhante ao indicado
3
Para um confronto entre abordagens teóricas sobre os pro- por Silva (2001) quanto à possível emergência do campo da an-
cessos de escolarização na história da educação, ver Gomes tropologia da educação no Brasil. Em outras palavras, em ambos
(2003b); para uma discussão das interfaces da escolarização com os casos o empenho político pela melhoria das condições da edu-
a dimensão econômico-produtiva, ver Lenzi-Grillini, Castro e cação escolar em sua fase inicial não se fez acompanhar de uma
Gomes (2004). discussão teórica suficientemente estruturada.

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tanto, deveria ser estudada em conexão com as de- ções na reserva indígena de Warm Springs. Philips
mais instituições e processos que constituem as dinâ- observou, na vida cotidiana da aldeia indígena, a au-
micas educativas dos diferentes grupos sociais. Um sência de estruturas de participação nas quais alguém
segundo elemento central foi a introdução da catego- controla diretamente as ações de um grupo de pes-
ria das diferenças culturais para contrapor-se à noção soas em interação; tal controle, ao contrário, é muito
de deficiência, deslocando duplamente o eixo con- presente no contexto escolar, e quase sempre centra-
ceitual da discussão: das dificuldades dos sujeitos in- lizado na figura do professor. Nesse sentido, a parti-
dividuais para o campo das diferenças coletivas na cipação nas interações obedecia a regras diferentes
forma de viver e interpretar a experiência social. nesses dois contextos, o que provocava desentendi-
Nesse contexto de discussão é que emerge a abor- mentos entre alunos e professores, e uma interpretação,
dagem conhecida como “descontinuidades culturais” por parte destes últimos, em termos de dificuldade ou
(ou conflito cultural), que enfatizava as diferenças resistência dos alunos à participação nas atividades
entre as orientações culturais vivenciadas pelos alu- escolares.
nos nas suas comunidades, no seu contexto de vida Erickson e Mohatt (1988), em uma detalhada
cotidiana, e as orientações que estruturavam as rela- análise microetnográfica da atuação de duas profes-
ções sociais e as atividades didáticas desenvolvidas soras de sucesso – uma nativa e outra branca – em
na escola. Segundo essa abordagem, seriam exatamen- classes de crianças indígenas, demonstraram que o
te as descontinuidades entre diferentes modelos cul- fator decisivo para o desenvolvimento positivo das
turais – ou o conflito entre eles – que levariam os atividades não era o pertencimento étnico, mas a
alunos pertencentes aos grupos minoritários a encon- congruência entre o modo de condução das ativida-
trar barreiras para alcançar um êxito positivo no seu des pela professora, de forma mais ou menos sintoni-
percurso escolar.6 zada com o modo de trabalhar e interagir dos alunos.
Duas grandes linhas de pesquisa desenvolveram- Segundo os autores, embora com diferenças na for-
se a partir do tema do desempenho escolar das mino- ma de organizar e conduzir as atividades, ambas pos-
rias, nessa nova perspectiva. Como uma das referên- suíam um “estilo misto” quanto à maneira de interagir
cias emblemáticas da primeira linha, podemos citar a com os alunos, estilos desenvolvidos de forma que se
pesquisa de Philips (1993), The invisible culture. buscasse congruência entre as exigências do contex-
Philips estudou as diferentes estruturas de participa- to escolar e as características das interações nos con-
ção nas interações, observando as diferenças entre o textos de vida cotidiana dos alunos.
modelo que regulava as interações entre professores A título de ilustração, pode-se citar ainda estu-
e alunos na escola e o modelo que regulava as intera- dos que demonstram como muitos aspectos, comu-
mente interpretados como existência de comunicação
entre os sujeitos e centrais na forma de interagir –
6
Seguimos aqui a sugestão de Emihovich (1996), que, a como o encontro do olhar e as trocas verbais –, po-
partir do tema mais amplo indicado como “Continuidade e dem apresentar configurações diferentes, como no
descontinuidade cultural em educação”, faz referência a quatro caso das mães e das crianças Mazahua estudadas por
diferentes perspectivas teóricas: a abordagem baseada na conti- Paradise (1994), que, embora estejam em interação,
nuidade/descontinuidade cultural; a abordagem das descontinui- não se olham e trocam pouquíssimas palavras, sem
dades culturais secundárias; a teoria da reprodução cultural; e a que isso signifique uma fragilidade, instabilidade ou
abordagem baseada em cultura e cognição. Como outras sínteses mesmo ausência da situação interativa. Essa diferen-
que apresentam essas diferentes posições, ver Rockwell (1992) e, te configuração do contexto de interações foi defini-
particularmente para as duas primeiras, que serão objeto de dis- da pela pesquisadora como “separado-porém-junto”
cussão neste trabalho, ver Poveda (2001). (separated-but-together), chamando a atenção para o

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fato de que era possível aferir a coordenação das ações da comunidade” (Ogbu, 1981) sobre a escola, ou seja,
entre mães e crianças, mesmo se os sinais verbais e o que a comunidade conhece sobre a escola, seria re-
não-verbais de que a interação acontecia não fossem sultante do processo histórico de contato com o gru-
imediatamente perceptíveis para um observador ha- po dominante que detém a condução da instituição
bituado a um outro padrão de comportamento. escolar. Nesse processo, a comunidade constrói um
Estudos nessa linha enfatizam as possibilidades “quadro de referências culturais” (Ogbu, 1994), qua-
de buscar uma organização das interações sociais na dro esse que varia de grupo minoritário para outro.
escola que sejam sensíveis aos padrões culturais das Esse quadro, considerado “diferenças culturais secun-
comunidades de origem dos alunos, e nesse sentido dárias”, orientaria a forma como os membros dessa
fala-se de uma “pedagogia culturalmente orientada”, comunidade agem e interpretam a própria presença
objetivando assim implementar as condições de su- na escola – podendo, então, favorecer ou dificultar a
cesso acadêmico dos alunos pertencentes aos grupos relação dos alunos com a escola. Assim, as diferen-
minoritários. ças culturais primárias seriam ressignificadas em fun-
A segunda linha, proposta de modo incisivo por ção das orientações culturais que se originam no con-
Ogbu (1981, 1987, 1994, 1999), partia de uma abor- tato entre os grupos étnicos e os grupos dominantes.7
dagem metodológica por ele definida como macroet- Segundo Ogbu (idem), algumas minorias, como no
nográfica, e que identificou alguns dos limites da ex- caso dos afro-americanos, desenvolveram um “qua-
plicação fundamentada nas diferenças culturais, em dro de referência opositivo” e uma “identidade so-
função da evolução diferenciada que se verificava no cial/coletiva opositiva”, que traria dificuldades para
processo de escolarização dos diversos grupos mino- a possibilidade de responder em sintonia com as mo-
ritários. Alguns desses grupos, com o passar das ge- dalidades requeridas nas escolas.
rações, passavam de uma situação inicial de insucesso Não é minha intenção entrar na acirrada argu-
escolar para um quadro de progressiva melhoria do mentação que foi desenvolvida entre os representan-
desempenho escolar de seus membros, chegando, em tes dessas duas posições, uma vez que elas mesmas
alguns casos, a obter resultados iguais ou melhores não são unívocas e possuem variações internas. De
aos dos estudantes de grupos hegemônicos (como no um lado, Ogbu (1999) insiste no fato de que a sua
caso de algumas minorias de origem asiática). Outros teoria tem um caráter explicativo, e que não é voltada
grupos, ao contrário, persistem em um quadro de di- diretamente para a intervenção, pois procura enten-
ficuldades marcantes, mesmo apesar dos investimen- der o papel desempenhado pelas “forças da comuni-
tos das famílias na educação dos próprios filhos e dos dade” na maneira como os grupos minoritários se re-
programas especiais dirigidos ao atendimento das lacionam com a escola. Para Philips (1993),8 essa seria
exigências específicas dos diferentes grupos. A ques- uma forma de “culpar as vítimas”, uma vez que a pró-
tão de investigação que se torna central seria, então, a
variabilidade do desempenho escolar entre diferentes
grupos minoritários. 7
Em sua teorização, Ogbu propõe uma tipologia para bus-
A proposta de Ogbu parte de uma leitura mais car explicar as diferenças de desempenho entre as minorias étni-
ampla da experiência histórica das minorias étnicas e cas, tipologia que não nos interessa aqui retomar, uma vez que é o
leva em consideração o modo como estas interpre- foco de análise aquilo que busquei colocar em evidência.
tam a sua posição na sociedade em razão da expe- 8
Comentário presente na introdução à edição de 1993 de
riência de contato com o grupo dominante, das opor- The invisible culture, na qual a autora alega que, em seu estudo
tunidades de inserção no mercado de trabalho e, enfim, sobre a “organização da comunicação nas interações face a face
dos contatos com as instituições geridas pelo grupo entre os indígenas de Warm Springs e de suas conseqüências para
dominante, como a própria escola. A “epistemologia a organização das experiências de ensino e aprendizagem das crian-

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pria idéia de identidade opositiva seria a forma pela (são fundamentalmente pequenos agricultores e cria-
qual os professores atribuem sentido aos comporta- dores de gado), em um processo, por um lado, de im-
mentos dos alunos, e não uma orientação dos pró- posição cultural, que caracterizou os aldeamentos in-
prios alunos e de suas comunidades (p. xvii). dígenas, e de intensa troca com outras populações, como
Como afirmado anteriormente, interessa-me co- os negros libertos no período após a escravidão.
locar em evidência alguns aspectos da orientação teó- A luta pela terra nas décadas de 1970 e de 1980
rica de ambas as posições, e de sua potenciais contri- levou a população a dividir-se, permanecendo na re-
buições para a análise das experiências das escolas serva aqueles que escolheram a afirmação da própria
indígenas no Brasil. Particularmente, a abordagem que ancestralidade indígena. Assiste-se assim a um pro-
vem orientando as investigações sobre o processo de cesso crescente de reconstrução da identidade indí-
escolarização dos Xakriabá buscou articular elemen- gena, processo que tem estreita relação com a própria
tos de uma e outra orientação, para atender às ques- escola e que muito tem influenciado em suas dinâmi-
tões que emergiram no processo da pesquisa.9 cas. Atualmente a reserva tem 26 aldeias, com esco-
las em todas elas e ainda em três subaldeias, organi-
A história local da escolarização e a zadas em duas unidades administrativas: a Escola
experiência dos professores xakriabás Estadual Indígena Bukimuju (15 endereços, 56 tur-
mas e 1.187 alunos) e a Escola Estadual Indígena
A terra indígena Xakriabá reúne uma população Xukurank (14 endereços, 38 turmas e 840 alunos).
de mais de 6 mil habitantes, em uma área de aproxima- São, atualmente (dados de 2003), 104 professores in-
damente 53 mil hectares. Situa-se no Noroeste do esta- dígenas contratados pelo Estado, todos xakriabás, e a
do de Minas Gerais, no município de São João das maioria atua na própria comunidade. Atualmente,
Missões. O processo histórico de contato – que se pode contam com o atendimento de 1ª à 4ª série em todas
verificar na origem mesma da área indígena, atestada as aldeias e de 5ª à 8ª série em sistema de nucleação,
no documento de doação de terras aos caboclos rema- a diplomação da primeira turma tendo ocorrido em
nescentes da Missão de São João (Santos, 1997) – le- dezembro de 2003.
vou os Xakriabá a assumirem as modalidades caracte- Já nas primeiras visitas a campo, procurando
rísticas da região quanto às atividades de subsistência conhecer as escolas espalhadas por todo o território
xakriabá, foi marcante a constatação inicial da exis-
tência de um contexto escolar onde se apresentava
ças indígenas dentro e fora da escola” (1993, p. xi) foi utilizada uma grande variedade de formas de organização das
uma abordagem microetnográfica como parte de uma “aborda- classes e de condução das atividades didáticas, seja
gem etnográfica geral mais tradicional” (p. xiv), que envolvia no comportamento dos professores xakriabás, seja no
observações em outros sítios, além da sala de aula. comportamento dos próprios alunos. Apesar de apre-
9
Faz-se referência ao trabalho desenvolvido pelo grupo de sentar também algumas características recorrentes, e
pesquisa “Sujeitos socioculturais na educação indígena: uma in- que chamavam a atenção por especificidades que sal-
vestigação interdisciplinar”, coordenado por mim junto com os tavam aos olhos – como o silêncio que reina em mui-
colegas Carlos Henrique Souza Gerken, da Universidade Federal tas das salas de aula, onde não se ouve a voz dos alu-
de São João Del-Rei (UFSJ), e Myriam Martins Álvares, da Pon- nos e, em muitos casos, nem dos professores.
tifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). O O início da pesquisa foi marcado pela idéia de
grupo vem desenvolvendo suas atividades desde o ano 2000, e um grupo cuja cultura era caracterizada pela oralidade
conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do e pelo escasso ou inexistente contato com a escrita,
Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) e do Conselho Nacional de assim como pela novidade que a escola diferenciada
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). trazia, ao estender o atendimento escolar a todas as

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O processo de escolarização entre os Xakriabá

crianças com professores das próprias aldeias. Além a primeira fase de entrevistas para esse grupo de pro-
disso, existia a percepção, resultado de observações fessoras – que chamarei de “primeiras professoras”.11
assistemáticas dentro do próprio PIEI-MG, de que as A reconstrução, ainda em processo, das experiên-
escolas xakriabás apresentavam uma modalidade de cias anteriores, permitiu verificar que os esforços da
funcionamento mais “tradicional”, se comparadas às população local para buscar a instrução e a escola
propostas educacionais que eram veiculadas nas ati- datam, no entanto, de bem antes. O registro mais an-
vidades de formação. tigo de uma escola na região, que consta na Prefeitu-
A primeira fase da pesquisa permitiu identificar ra de Itacarambi, remonta à década de 1930. As expe-
a existência de um número significativo de escolas riências relatadas pelas “primeiras professoras” e por
na região, que hoje é delimitada como território pessoas mais velhas da comunidade quanto ao pró-
Xakriabá, na década que antecede a demarcação do prio acesso à instrução segue um padrão recorrente
território indígena, isto é, nos anos de 1970. Apesar nas zonas rurais: um pai de família que tivesse recur-
da existência de um número insuficiente de escolas sos econômicos contratava um professor, que vinha à
na região, nos relatos sobre a luta pela terra a educa- sua casa ensinar a seus filhos. Na ocasião, freqüente-
ção escolar não aparece como tema relevante ou rela- mente se reuniam crianças da vizinhança e filhas de
cionado com as dinâmicas de posse do território (Leite, parentes, de modo que a atividade não era voltada
2002). somente para a família daquele que bancava o servi-
Foi buscando compreender esse quadro contradi- ço. Entre outras características, a atividade dos pro-
tório – por um lado, a forma incisiva dos Xakriabá em fessores não tinha uma longa continuidade no tempo,
implementar a escola indígena, valendo-se para isso pois se tratava de profissionais que transitavam aten-
das suas prerrogativas específicas; de outro, essa re- dendo a diversas demandas. Como explicitado por
produção de aspectos de um contexto escolar que se uma ex-professora leiga,12 quando vinha o professor
assemelhava ao das demais escolas públicas da região – era necessário “pegar tudo o que podia, para ficar es-
que a pesquisa se orientou para a reconstrução da his- tudando depois”. Em outros casos, a busca da instru-
tória local da escolarização. O quadro de referências ção levava as famílias para fora da região. Ou ainda,
culturais (Ogbu, 1994) que guiava a ação dos Xakriabá
só poderia ser compreendido com base na história da
relação desse povo com os grupos sociais dominantes rência institucional passa a ser a administração do novo municí-
com os quais se encontravam em contato. Além disso, pio. Cabe ressaltar o fato de que mais de 60% da população de
tal reconstrução histórica não se poderia limitar às di- São João das Missões é constituída pelos Xakriabá, assim como,
nâmicas mais amplas, mas deveria chegar a explicitar até abril de 2003, o cacique Rodrigo era vice-prefeito, posto que
o modo como a própria escola passou a fazer parte do deixou quando do seu prematuro falecimento. Em 2004, os
contexto de vida da população local. Xakriabá venceram a eleição para a Prefeitura, que hoje tem à sua
Foram assim identificadas algumas das profes- frente um dos diretores e professor indígena, José Nunes de Oli-
soras, que atualmente são contratadas como profes- veira.
soras indígenas, e que já atuavam como professoras 11
A expressão é tomada de Tassinari (2001), que enfatiza tam-
anteriormente contratadas pela prefeitura local, algu- bém a necessidade de analisar as experiências anteriores de escola-
mas delas mesmo antes de 1987.10 Tal fato direcionou rização. Cabe ressaltar, no entanto, que, como será discutido, essas
mestras foram alunas de outros professores, alguns dos quais eram
também membros das comunidades locais. Portanto, são “primei-
10
Até 1996, era a Prefeitura de Itacarambi que respondia, ras” em relação ao atual grupo de professores indígenas.
como governo municipal, pelas relações com os Xakriabá. Com a 12
Trata-se de uma professora que exerceu a função até 1991,
criação do município de São João das Missões, em 1996, a refe- quando perdeu o cargo por não ter diploma de magistério.

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um membro alfabetizado podia ser ele próprio o verificar a qualificação; em outros, simplesmente era
alfabetizador dos demais. Poderíamos dizer que ain- reconhecido a encargo à pessoa em virtude da deman-
da não se tratava propriamente de escolarizar, uma da, e essa passava a ser remunerada pela prefeitura.
vez que não existia a configuração de uma escola, Esse mecanismo era utilizado pelas comunida-
mas de um grupo de crianças que eram instruídas por des das aldeias, e foi descrito para várias aldeias da
uma espécie de preceptor. área Xakriabá, embora não possa ser estendido a to-
A documentação recolhida permitiu verificar que, das elas. Podemos dizer que, nessa forma de
em algumas das escolas existentes nos anos de 1970, contratação, a competência técnica e o comprometi-
mantidas pela Prefeitura como escolas rurais, os pro- mento social do professor eram referidos a uma mes-
fessores pertenciam à comunidade local. Das 28 esco- ma matriz social, interna à comunidade das aldeias.
las que compõem o documento “Relação das Escolas Ou seja, a qualificação do professor era diretamente
Rurais do Município de Itacarambi”,13 treze situam-se reconhecida por aqueles que “inscreviam” seus filhos
em locais hoje pertencentes à área indígena. na classe, e essa negociação face a face implicava um
Os anos de 1970 podem ser configurados como comprometimento direto do professor com os que o
um segundo momento, quando a prefeitura local pas- apoiavam ou a ele confiavam os próprios filhos. Essa
sa a responder às demandas que as comunidades apre- forma de funcionamento, ao que parece, muito se apro-
sentam. Segundo os depoimentos de pessoas que atua- ximava das “escolas isoladas” que caracterizavam o
ram como professor na época, primeiro formava-se o ensino em Minas Gerais no início do século XX, em-
grupo de alunos, decidia-se onde poderia funcionar a bora convivesse e se articulasse, ou ainda, de alguma
atividade escolar – quase sempre na casa de algum forma, se apoiasse na instituição estatal para a sua
líder local, ou da própria professora14 – e a pessoa efetivação.
indicada como professora era apresentada à prefeitura Em termos de atendimento à demanda escolar,
local, com a lista de alunos, configurando uma deman- podemos supor que tenha ocorrido um processo lon-
da real. Em alguns casos, era aplicado um teste para go e lento, ao compararmos as informações contidas
no documento dos anos de 1970 e aquelas presentes
13
Documento cedido pelo senhor Agenor, vereador em no diagnóstico realizado em 1995, quando da criação
Itacarambi à época, que acompanhava o funcionamento das esco- do PIEI-MG. O que revela o diagnóstico, em período
las. Junto à lista das escolas, encontravam-se duas cartas de pro- de plena legalidade das terras indígenas, é que nela
fessoras dirigidas a ele: uma que solicitava material ao mobral e existem doze escolas municipais de 1ª à 4ª série (qua-
outra que tratava da abertura de uma escola junto à Prefeitura de se a mesma quantidade dos anos de 1970), com 17
Itacarambi. O documento, segundo o senhor Agenor, refere-se ao professores, 14 contratados pela Prefeitura de
período de 1973 a 1975. Em entrevista posterior realizada com o Itacarambi e três pela FUNAI. Entre esses, apenas
senhor Antônio Pereira de Souza, hoje pai de uma das professoras quatro pertencem à comunidade local, e eram, na épo-
Xakriabá, foi identificado que algumas das escolas eram relacio- ca, professores leigos (Minas Gerais, 1995). Em 1997,
nadas com o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Alfabetização). dez anos após a homologação do território, quando a
Dos nomes dos professores que constam do documento, três fo- primeira turma de professores indígenas se encontrava
ram identificados pelo então diretor das escolas, José Nunes, como no segundo ano do Curso de Formação de Professo-
pessoas pertencentes à comunidade, todos professores leigos. Além res indígenas realizado pelo PIEI-MG, foram criadas
do senhor Antônio, os outros dois professores são Geraldo Gon-
çalves dos Santos, tio de uma professora xakriabá, e Enita Pereira
de Jesus, mãe de um professor. tes momentos da história local da escolarização. Cabe registrar,
14
Na fase atual, não podemos ainda analisar a variável gê- porém, um aumento da presença masculina desde 1997, com a
nero quanto à composição do quadro de professores nos diferen- implantação da escola pública indígena.

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O processo de escolarização entre os Xakriabá

as escolas estaduais indígenas e os alunos-professo- postas do PIEI-MG, que se inscrevem no quadro da


res assumiram imediatamente seus cargos. criação de escolas diferenciadas, caracterizadas tam-
Dois aspectos devem ser ressaltados, pois se tor- bém enquanto escolas comunitárias, de acordo com o
nam importantes para a compreensão da situação atual RCNEI de 1998. Com o início do funcionamento das
das escolas e da forma como a população xakriabá, escolas estaduais indígenas, o que antes era um pro-
as lideranças indígenas e os próprios professores com- blema de gestão de relações com a prefeitura local –
portam-se quanto às necessidades educacionais e à relações marcadas pelo conflito e pela distância das
sua implementação. Em primeiro lugar, a ausência ou instâncias de decisão – passa então a ser administra-
a distância do aparato estatal, que durante muito tem- do em uma situação de estreito contato com o Estado.
po gerou um espaço de atuação livre das comunida- Surge um novo componente na gestão das demandas
des quanto à gestão da demanda por escolas e ao seu educacionais: essa era, até então, realizada diretamente
próprio funcionamento. O que se conseguiu nos anos pelas comunidades das diferentes aldeias (e prova-
anteriores a 1997, pode-se dizer, de maneira geral, velmente por isso não aparece nos relatos e análises
foi resultado de uma ação direta das comunidades das sobre as dinâmicas de posse da terra), e passa agora a
aldeias no sentido de prover as necessidades educa- ser mediada pela instância comunitária mais ampla, o
cionais. Em contrapartida, o fato de a maioria dos pro- povo indígena Xakriabá, cujas lideranças passam a
fessores não pertencer às comunidades das aldeias foi ter acesso direto à Secretaria de Estado de Educação
indicado, no documento diagnóstico (idem), como (SEE) de Minas Gerais, por sua participação na coor-
fator que comprometia o adequado funcionamento das denação do PIEI-MG. Se, por um lado, nessa nova
escolas. De fato, entre os problemas registrados em configuração a comunidade indígena passa a exercer
1992 em documentação da 9ª Delegacia Regional de uma maior influência sobre as decisões acerca das
Ensino (Januária), a falta de alojamento para os pro- suas escolas, por outro lado, tal influência se dá no
fessores e problemas com “recursos humanos” cons- quadro de uma maior proximidade com o aparato es-
tam do quadro de informações de várias escolas. tatal e com suas formas características de gestão e
Em segundo lugar, é importante atentar para o controle das instituições públicas. Em outras palavras,
caráter não-compulsório da escolarização, que per- um aparato de gestão estatal que, em princípio, não
durou por muito tempo, dadas as condições precárias vem ao encontro dos dois componentes que se orien-
de funcionamento, com um número de classes sem- tam em direção à gestão comunitária, a menos que
pre inferior à demanda. Apesar da imprecisão das in- seja realizada uma ação contínua de mediação.
formações disponíveis, para se ter uma idéia, em 1992 Além da dimensão da gestão, o fato de a expan-
são 561 alunos inscritos; à época do diagnóstico, as são da escolarização ter ocorrido muito recentemente
lideranças locais afirmam a existência de cerca de 500 fez com que passassem a conviver formas muito di-
crianças sem escolas (idem), ou seja, uma demanda ferentes de organização pedagógica das escolas, de
latente de quase o dobro de alunos. Nos dois primei- condução das atividades didáticas, e mesmo formas
ros anos de funcionamento das escolas estaduais in- diferentes nas relações com os pais e com a comuni-
dígenas, os alunos inscritos eram cerca de 1.300. Ou dade. Para melhor compreender esse panorama va-
seja, no período anterior, podemos dizer que a esco- riado de contextos escolares – ou, ainda, para descre-
larização terminava por ser requerida e implementa- ver e analisar as diferentes culturas escolares presentes
da por aqueles que por ela se interessavam. entre os Xakriabá – foi necessário realizar observa-
Como se pode ver, a instituição da escola indí- ções em classe, e tomou-se como referência inicial as
gena trouxe profundas alterações. A experiência an- classes das primeiras professoras. As descrições re-
terior dos Xakriabá, que podemos descrever como uma sultantes dessas observações foram então analisadas
gestão comunitária informal, encontra eco nas pro- tendo como pano de fundo as referências que as pró-

Revista Brasileira de Educação v. 11 n. 32 maio/ago. 2006 323


Ana Maria R. Gomes

prias professoras haviam apresentado, quando, nas en- adultos, sem que estes, por sua vez, interrompam a
trevistas, abordaram sua experiência como alunas e atividade que estão desenvolvendo.15
profissionais. As escolhas pedagógicas, assim como A presença dos “encostados” parece seguir esse
alguns aspectos da forma como as professoras intera- padrão, adaptando-se, porém, ao contexto escolar: as
giam com seus alunos ganharam um significado dife- crianças menores participam de algumas das ativida-
rente quando confrontados com a sua experiência e des sem que pese sobre elas as exigências de desem-
referidos ao processo mais amplo de escolarização penho a que as demais crianças devem responder. O
pelo qual passaram as comunidades das aldeias que pode parecer um simples e banal exercício de
xakriabás. imitação dos irmãos funciona, na verdade, como um
A título de ilustração, serão discutidos dois exem- contexto de aprendizagem que favorece a participa-
plos significativos que nos permitem analisar alguns ção da criança em seu ritmo e suas modalidades pró-
aspectos da cultura escolar que está se configurando prias, alternando longos momentos de curiosa e aten-
entre os Xakriabá, aspectos que podem ser mais bem ta observação com momentos de tentativas de
explorados e compreendidos à luz das discussões so- execução de tarefas e de apropriação dos instrumen-
bre as descontinuidades culturais, ou seja, sobre os tos, simbólicos e práticos, de participação no contex-
diferentes modelos culturais que informam a prática to escolar. Tanto mais importante é essa participação
de professores e alunos xakriabás. em razão da escassa experiência de escolarização pre-
O primeiro exemplo refere-se à presença em clas- sente nas comunidades e da necessidade de realizar
se dos assim chamados “encostados”, ou seja, das uma socialização inicial das crianças quanto às parti-
crianças em idade inferior à idade de cursar o ensino cularidades do contexto escolar – que mantém algu-
fundamental, e que, apesar de oficialmente não esta- mas demarcações que o tornam explicitamente dis-
rem inscritas, passam a freqüentar as salas de aula em tinto dos demais contextos sociais, mesmo quando
companhia de seus irmãos e/ou primos maiores. A assume características locais (Duranti, 1992).
presença dos “encostados” permite que se recrie, no No início, a presença dos “encostados” foi mo-
interior das classes escolares, situações semelhantes tivo de controvérsias com a SEE, pois os recursos
àquelas existentes no contexto de vida cotidiana das repassados para as escolas eram calculados levando
crianças, quando essas podem participar das diferen- em conta somente os inscritos oficialmente, o que
tes atividades desenvolvidas na comunidade. Em tais provocava, quanto à merenda, por exemplo, dificul-
situações, as crianças observam e interagem com as dades permanentes de fornecimento suficiente para
atividades dos adultos e das crianças maiores, sem todas as crianças. Com o passar do tempo, e com as
que seja delas esperado uma participação plena, no pressões exercidas pelos próprios Xakriabá, a pre-
sentido de contribuir efetivamente para a tarefa que sença dos “encostados” foi integrada ao funciona-
está sendo realizada. Tal modelo foi verificado em mento regular das escolas. Se por um lado isso ga-
outros grupos (Cohn, 2002; Pereira, 1999), e é des- rante a especificidade da experiência, por outro tal
crito como um contexto de aprendizagem no qual não presença corre o risco de ser interpretada somente
existe uma separação entre “o fazer e o aprender”, ou como um fator de pressão em direção à abertura de
seja, no qual as situações de aprendizagem são as ati- escolas infantis. A proposta de abertura das escolas
vidades desenvolvidas na vida cotidiana, não existin- infantis, já presente na comunidade e entre os pro-
do uma configuração específica para o momento do fessores, é interpretada pelos agentes institucionais
ensinar-aprender. É a própria criança que se envolve
nas atividades rotineiras e busca as formas de interagir
e participar que lhe parecem mais atender ao seu in- 15
Para uma descrição detalhada do contexto de aprendiza-
teresse, sendo que essa participação é acolhida pelos gem na vida cotidiana entre os Xakriabá, ver Pereira (2003).

324 Revista Brasileira de Educação v. 11 n. 32 maio/ago. 2006


O processo de escolarização entre os Xakriabá

como parte de um percurso “adequado” de escolari- aspectos da vida cotidiana – como as modalidades de
zação (e, mais ainda, como um dos direitos a serem interação verbais e não-verbais e as relações de au-
garantidos). A possibilidade de criar-se contextos toridade – que estão profundamente enraizados na
escolares que sejam “culturalmente orientados” – próprio corpo, nos modos de ser e de conviver dos
respondendo assim à proposta de uma educação es- diferentes grupos indígenas, e que não alcançam visi-
colar diferenciada – choca-se assim com uma ver- bilidade ou o estatuto de aspectos “culturais”, e que
são consolidada do que seja a escola, incluindo sua muitas vezes, por isso mesmo, ficam relegados a as-
lógica de separação por grupos de idade e da especi- pectos pedagógicos a serem manipulados em função
ficidade mesma do espaço de aprendizagem em re- de exigências didáticas de eficiência do processo de
lação aos demais contextos sociais. aprendizagem. Pode-se afirmar que a “cultura invisí-
Outro exemplo significativo vem da experiência vel” de que trata Philips (1993) responde pela especi-
de uma das primeiras professoras, que realizava “re- ficidade da experiência escolar dos Xakriabá, um povo
provações” dos melhores alunos nas séries iniciais que deve continuar lutando para a legitimação da pró-
para que estes permanecessem na classe de principian- pria identidade, e que se vê na constrição de elaborar
tes e funcionassem como apoio para o processo de formas de torná-la pública que respondam aos este-
alfabetização deles. O procedimento é aceito pelos reótipos do que é considerado uma “autêntica cultura
alunos e pais, e cria uma diferente orientação para a indígena”. A facilidade com que hoje, nas diferentes
presença em classe – na qual as crianças passam a se classes xakriabás, é possível acolher crianças de di-
ocupar de algo que não somente o próprio processo ferentes idades e que participam de modo diferencia-
de aprendizagem, pois são efetivamente envolvidas do das atividades escolares – uma característica difí-
nas atividades de aprendizagem de outros colegas – e cil de encontrar em escolas do meio urbano – pode
para a experiência dos próprios alunos aparentemente ser considerada contemporaneamente uma caracterís-
“retidos”, que, ao serem aprovados no ano seguinte tica do contexto escolar e um recurso cultural do mais
para uma classe mais avançada, vivenciam um per- alto potencial pedagógico. Recurso potencial que pode
curso que desmistifica a lógica por etapas fixas que desaparecer em pouco mais de duas gerações, se a
na maioria das vezes caracteriza a experiência esco- configuração do contexto escolar não tornar mais pos-
lar. O individualismo que caracteriza a experiência sível a sua concreta ativação.
escolar e a idéia de uma progressão linear da aprendi- No entanto, a forma como a “cultura invisível”
zagem são assim concretamente deslocados em favor será ativada e significada dependerá em grande parte
de uma experiência que apresenta diferentes facetas e das “forças da comunidade”, ou seja, da forma como
diferentes dimensões da convivência e da possibili- os Xakriabá interpretam a própria experiência esco-
dade de aprender dentro da escola. lar e o sentido que atribuirão à escola no processo de
afirmação da própria identidade e da busca de garan-
Conclusões tias quanto ao direito à escola diferenciada.

As descrições de diferentes contextos escolares Referências bibliográficas


que as investigações sobre as descontinuidades cul-
turais tornaram possíveis de serem conhecidas intro- COHN, Clarice. A criança, o aprendizado e a socialização na antro-
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ANA MARIA R. GOMES, doutora em educação pela (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológi-

Università degli Studi di Bologna, é professora da Faculdade de co – CNPq/ Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas

Educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Prin- Gerais – FAPEMIG). E-mail: anagomes.bhz@terra.com.br

cipais publicações: Vegna che ta fago scriver: Etnografia della Recebido em novembro de 2004
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Revista Brasileira de Educação v. 11 n. 32 maio/ago. 2006 327


Resumos/Abstracts/Resumens

Las transformaciones en la esfera de modo muito acelerado com o início and the possibility of failing the best
pública y acción ecológica: do funcionamento das escolas esta- students – focus our attention on those
educación y política en tiempos de duais indígenas. Tal expansão acelera- aspects of daily life that are not
crisis de la modernidad da gerou um contexto escolar com ca- generally perceived as cultural
Discute las transformaciones de la es- racterísticas muito peculiares. No elements (such as the verbal and non
fera pública contemporanea y la artigo busca-se explorar algumas pers- verbal interactional styles and the
emergencia de nuevos modos de acción pectivas de análise sobre os processos relations of authority). These aspects
política asociados a la formación de de escolarização, propostas pela antro- are not immediately visible and are
un campo político y pedagógico pologia da educação. A presença dos not, therefore, taken as constitutive of
ambiental. Afirma que la acción políti- “encostados” ou a possibilidade de “re- the cultural specificity of the xakriabá
ca ambiental, en el contexto del provação dos melhores”, dois exem- school.
ambientalismo y de la nueva izquierda plos de aspectos que caracterizam as Key-words: indigenous education;
contracultural. puede ser considerada escolas xakriabás, alertam-nos para a school culture; anthropology of
una de las expresiones de la crisis de necessidade de se passar a perceber education
la modernidad. En este sentido, los também como elementos culturais os El proceso de escolaridad entre los
movimientos ecológicos buscan aspectos da vida cotidiana (como as Xakriabás: explorando alternativas
reposicionar el ego y el socius, el pri- modalidades de interação verbais e de análisis en la antropología de la
vado y el público, la ética y la estética não-verbais e as relações de autorida- educación
en la esfera de acción social. Esto de) que não alcançam imediata visibili- La creación de las escuelas estatales
repone un dilema que remite tanto a dade, e não são, portanto, considerados indígenas, através del Programa de
las tendencias conflictivas de la parte da especificidade cultural que Implantación de las Escuelas Indíge-
modernidad cuanto a su proyecto marca a escola xakriabá. nas de Minas Gerais (PIEI-MG) en
emancipatorio. Frente a esa problemá- Palavras-chave: educação indígena; 1997, fue un hecho marcante para to-
tica, algunos análisis destacan la cultura escolar; antropologia da educa- dos los pueblos envueltos. Entre los
disolución y el declinio de la política, ção Xakriabás, el proceso de escolaridad
en cuanto otros enfatizan la The process of schooling among the tuvo su inicio por lo menos veinte años
emergencia de una nueva forma de Xakriabá people: an exploration of antes, y fue intensificado de un modo
acción política. Por fin, el artículo ex- alternative forms of analysis in the muy acelerado, con el inicio del
plora los rebatimientos de esos anthropology of education funcionamiento de las escuelas
cambios sociales en el campo de la The creation of indigenous public estatales indígenas. La expansión ace-
acción educativa, particularmente la schools in 1997 by means of the lerada produjo un contexto escolar con
educación ambiental, preocupada con Programme for the Implantation of características muy peculiares. En el
la construcción de un sujeto ecológico. Indigenous Schools in the State of Mi- artículo explorar algunas perspectivas
Palabras claves: acción polític; nas Gerais (PIEI-MG) was an de análisis al respecto de los procesos
modernidad; educación ambienta; important event for all the indigenous de escolaridad, propuestas por la
sujeto ecológico groups involved. Among the Xakriabá antropología de la educación. La pre-
people, the process of schooling began sencia de los “arrimados” o la
Ana Maria R. Gomes twenty years earlier, and was posibilidad de “reprobación de los
O processo de escolarização entre os intensified by the creation of the mejores”, son dos aspectos que
Xakriabá: explorando alternativas indigenous public schools. This caracterizan a la escuela xakriabá,
de análise na antropologia da accelerated expansion generated a poniéndonos sobre aviso para la
educação very specific school context. In this necesidad de pasar a notar, también,
A criação das escolas estaduais indíge- article, explore the different como elementos culturales, los aspec-
nas, pelo Programa de Implantação das perspectives of analysis of the tos de la vida cotidiana (como las mo-
Escolas Indígenas de Minas Gerais schooling process proposed by the dalidades de interacción verbal y no-
(PIEI-MG), em 1997, foi um fato anthropology of education. Two verbal y las relaciones de autoridad)
marcante para todos os povos envolvi- examples of the characteristics of the que no alcanzan una inmediata
dos. Entre os Xakriabá, o processo de xakriabá schools – the attendance of visibilidad, y no son, por lo tanto, con-
escolarização teve seu início pelo me- non official students, the “indolent”, siderados como parte de la
nos vinte anos antes, e foi intensificado

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Resumos/Abstracts/Resumens

especialidad cultural, que marca a la Cultural history and the history of cultural y la ausencia casi completa de
escuela xakriabá. education trabajos relativos a la historia cultural
Palabras claves: educación indígena; The article analyses the separation de la educación. Aborda cuestiones
cultura escolar; antropología de la between cultural history and the history disciplinares e institucionales, pero
educación of education. It verifies the growing también historiográficas, que
importance of cultural history and the concurren para la exclusión de deter-
Francisco José Calazans Falcon almost complete absence of studies on minadas disciplinas, como la historia
História cultural e história da the cultural history of education based de la educación, del ámbito de trabajo
educação on an examination of works starting in del historiador. Durante la década de
O artigo analisa a separação entre a the 1970s. It deals with disciplinary, 1980, detecta un mayor interés por la
história cultural e a história da educa- institutional and historiographic historia de la educación y por su
ção. Examinando obras a partir dos questions which contribute to the inserción en las perspectivas
anos de 1970, verifica a importância exclusion of determined subject areas historiográficas. Focaliza algunas
crescente da história cultural e a au- like the history of education in the ambit cuestiones que interesan a los historia-
sência quase completa de trabalhos of work of the historian. It detects a dores y a los historiadores de la
relativos à história cultural da educa- greater interest in the history of educación; las relaciones entre
ção. Aborda questões disciplinares e education during the 1980s, and in its historia y cultura; la tentativa de con-
institucionais, mas também insertion in historiographic siderar la historia cultural bajo dos
historiográficas, que concorrem para perspectives. It focuses on some perspectivas; una que le atribuye el re-
a exclusão de determinadas discipli- questions which are of interest to corte y análisis de objetos culturales, y
nas, como a história da educação, do historians and historians of education: otra que privilegia los presupuestos
âmbito de trabalho do historiador. the relation between history and metodológicos, abordando tanto las
Durante a década de 1980, detecta culture; the attempt to consider cultu- prácticas sociales como sus
maior interesse pela história da edu- ral history from two perspectives – one presentaciones, de acuerdo con
cação e por sua inserção nas perspec- which attributes to it the separation concepciones de las diversas teorías
tivas historiográficas. Focaliza algu- and analysis of cultural objects and the sociales. Concluye que la historia cul-
mas questões que interessam aos other which privileges methodological tural es un campo multi o interdiscipli-
historiadores e aos historiadores da presuppositions dealing with both so- nar, no apenas un tipo de abordage, ni
educação: as relações entre história e cial practices and their apenas un nuevo espacio o dimensión
cultura; a tentativa de considerar a representations, in accordance with de lo real, y enfatiza la necesidad de
história cultural em duas perspecti- conceptions from diverse social una reflexión más sistemática sobre la
vas: uma que lhe atribui o recorte e theories. It concludes that cultural educación como un tema/objeto de
análise de objetos culturais, e outra history is a multi or interdisciplinary investigación necesario a la
que privilegia os pressupostos meto- field, not simply a kind of approach comprensión de la formación cultural
dológicos, abordando tanto as práti- nor a new space or dimension of de una sociedad.
cas sociais como as suas representa- reality and emphasizes the need for a Palabras claves: historia cultural;
ções, de acordo com concepções das more systematic reflection on education historia de la educación
diversas teorias sociais. Conclui que as a theme/object of investigation
a história cultural é um campo multi necessary for understanding the cultu- Luiz Felipe Baêta Neves
ou interdisciplinar, não apenas um ral formation of a society. História intelectual e história da
tipo de abordagem, nem apenas um Key-words: cultural history; history of educação
novo espaço ou dimensão do real, e education O texto começa por tratar do uso ana-
enfatiza a necessidade de uma refle- Historia cultural y historia de la crônico de palavras e idéias. Tal uso
xão mais sistemática sobre a educa- educación caracteriza-se por uma rigidez na inter-
ção como um tema/objeto de investi- El artículo analiza la separación entre pretação da linguagem, que acaba por
gação necessário à compreensão da la historia cultural y la historia de la se fixar nos significados correntes na
formação cultural de uma sociedade. educación. Examinando obras a partir época em que se escreve a história.
Palavras-chave: história cultural; de los años de 1970, se verifica la Essa reificação do discurso tende a des-
história da educação importancia creciente de la historia considerar as possíveis significações

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