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O Papa: rezar para ter um

coração luminoso, não cinzento


Segundo Francisco, "o perigo é ter um coração cinzento, quando o estar
pra baixo chega ao coração e o adoece. Existem pessoas que vivem com
o coração cinzento. Isso é terrível"!

Mariangela Jaguraba - Vatican News


"Distrações, aridez e acídia" foi o tema da catequese do Papa Francisco, sobre o tema da
oração, na Audiência Geral, desta quarta-feira (19/05), realizada no Pátio São Dâmaso.
Francisco procurou mostrar algumas dificuldades comuns identificadas e superadas na
experiência vivida da oração, ressaltando que "rezar não é fácil" e que "são tantas as
dificuldades que surgem na oração".
Oração e concentração
O primeiro problema que se apresenta para aqueles que rezam é a distração.
Você começa a rezar e a mente gira, gira o mundo inteiro. A oração convive
frequentemente com a distração. De fato, a mente humana tem dificuldade de se
concentrar por muito tempo num único pensamento. Todos nós experimentamos este
turbilhão contínuo de imagens e ilusões em movimento perpétuo, que nos acompanha
até durante o sono. E todos sabemos que não é bom dar seguimento a esta inclinação
fragmentada. A luta para alcançar e manter a concentração não se limita à oração. Se
não se atinge um grau de concentração suficiente, não se pode estudar com proveito,
nem se pode trabalhar bem.
"As distrações não são culpáveis, mas devem ser combatidas. No patrimônio da nossa fé
há uma virtude que é frequentemente esquecida, mas que está muito presente no
Evangelho. Chama-se “vigilância”. Jesus chama frequentemente os discípulos ao dever
de uma vida sóbria, guiada pelo pensamento de que mais cedo ou mais tarde ele voltará,
como um noivo volta das bodas ou um senhor da viagem. A distração é a imaginação
que gira, gira, gira. Santa Teresa chama essa imaginação que gira, gira na oração de "a
louca da casa". É como uma louca que te faz girar, girar. Temos que pará-la e engaiolá-
la com atenção", disse o Papa.
Coração cinzento
O segundo problema é a aridez.
A aridez nos faz pensar na Sexta-feira Santa, na noite e no Sábado Santo. Jesus
morreu: estamos sozinhos. Este é um pensamento da aridez. Muitas vezes não sabemos
quais são as razões da aridez: pode depender de nós, mas também de Deus, que
permite certas situações na vida exterior ou interior. Os mestres espirituais descrevem
a experiência da fé como uma alternância contínua de tempos de consolação e tempos
de desolação; tempos em que tudo é fácil, enquanto outros são marcados por uma
grande dificuldade.

O Papa disse ainda que muitas vezes encontramos um amigo que nos diz: "Estou pra
baixo". "Muitas vezes estamos assim, ou seja, não temos sentimentos, não temos
consolação. São aqueles dias cinzentos que existem na vida!", disse o Pontífice.
Segundo Francisco, "o perigo é ter um coração cinzento, quando o estar pra baixo chega
ao coração e o adoece". "Existem pessoas que vivem com o coração cinzento. Isso é
terrível! Não se reza mais, não se sente o consolo com o coração cinzento. O coração
deve ser aberto e luminoso para que entre a luz do Senhor. E se ela não entrar", disse o
Papa, "é preciso aguardá-la com esperança".
Perseverar em tempos difíceis
O terceiro problema que se apresenta para quem reza é a acídia, "uma verdadeira
tentação contra a oração e, mais geralmente, contra a vida cristã. A acídia é «uma forma
de depressão devida ao relaxamento da ascese, à diminuição da vigilância, à negligência
do coração». É um dos sete “pecados capitais” pois, alimentado pela presunção, pode
levar à morte da alma".
"O que devemos fazer, então, nesta sucessão de entusiasmos e desencorajamentos?",
perguntou o Papa. "Devemos aprender a caminhar sempre", respondeu ele.
O verdadeiro progresso na vida espiritual não consiste em multiplicar os êxtases, mas
em ser capaz de perseverar em tempos difíceis. Caminhar, caminhar e se você se
cansar, pare um pouco, mas volte a caminhar, com perseverança. Todos santos
passaram por este “vale escuro”, e não nos escandalizemos se, lendo os seus diários,
ouvirmos o relato de noites de oração sem vontade, vivida sem gosto.
Zangar-se com Deus é uma forma de rezar
Segundo o Papa, protestar diante de Deus é uma forma de rezar, "zangar-se com Deus é
uma forma de rezar também". Francisco convidou a não "nos esquecer a oração do
porque, que é a oração das crianças quando começam a não entender as coisas. A idade
dos porquês ".  "Mas a criança não escuta a resposta do pai. O pai responde e vem logo
outro porque. A criança quer chamar a atenção do pai. Quando nos zangamos com Deus
e continuamos a dizer porque, estamos atraindo o coração do nosso Pai para a nossa
miséria, para as nossas dificuldades, para a nossa vida. Zangar-se com Deus faz bem,
pois faz despertar a relação de filho com o Pai, de filha com o Pai, que nós devemos ter
de ter com Deus", concluiu

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