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Quais os argumentos da autora a respeito da crise de agosto de 1954?

Segundo Maria Celina D’Araujo, a visão apresentada pela historiografia


tradicional sobre a crise de agosto de 1954, de que o governo Vargas, do ano
de 1951 à 1953, teria adotado uma política de conciliação com os setores
conservadores, e que de 1953 à 1954 o governo teria mudado de postura
radicalmente, promovendo uma “guinada” para a esquerda ao se voltar para
uma orientação mais trabalhista em favor dos setores populares, é para autora
uma leitura insuficiente sobre o momento histórico. De acordo com a autora, a
crise tem seu desfecho em um processo que se inicia com a própria eleição de
Vargas à presidência, este que se elege extrapartidariamente com base no
“getulismo”, embora tivesse a legenda do PTB. A autora realiza sua análise
sobre a crise de 1954 a partir das relações entre os partidos e o governo. Ela
ainda coloca que os partidos políticos eram de baixa institucionalização, devido
à tradição apartidarista da sociedade brasileira, e isto somado aos resquícios
do Estado Novo e seu caráter autoritário que ainda impregnava o período,
impossibilitou uma aliança sólida entre partidos e governo, acarretando na não
ida do PTB para governar com Vargas. Segundo a autora, Vargas, sem uma
base partidária (portanto, sem uma linha político-ideológica-partidária) buscou
conciliar-se com todos os partidos e setores sociais (diluindo seus elementos
partidários), mesmo com os opositores, como a UDN (que dizia ser Vargas o
grande mal da nação), tal como fica evidente mesmo na reformulação de seu
ministério em 1953, que continuou sendo tão conservador quanto o primeiro
(desconstruindo a versão que aponta a reforma como uma “guinada” para a
esquerda), acarretando dificuldades ao governo, que por tentar se aliar com
vários grupos com interesses díspares, ocasionou o isolamento de Vargas
devido ao mesmo não se posicionar a favor de um grupo, mostrando o caráter
ambíguo do presidente. Justamente essa ambiguidade de Vargas levou os
trabalhadores a pressionarem o presidente para tomar uma posição e decidir
para quem ele vai governar, com isso em 1953 são realizadas greves em São
Paulo e no Rio de Janeiro, evidenciando o descontentamento dos
trabalhadores em relação ao governo vigente. Para buscar conter o
descontentamento destes, João Goulart (ministro do trabalho nomeado por
Vargas) vai oferecer o aumento de 100% do salário mínimo e com isso deixar
descontentes os setores conservadores e militares, acirrando assim a crise do
governo. Vargas, na verdade, governa a partir da despolitização, adotando o
princípio do Estado de recorte corporativista, que se baseia na conciliação de
classes, elementos esses que perduraram durante seu governo e que
culminaram na crise de agosto de 1954.

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