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Aula 7

Globalização e Fragmentação
no Mundo Contemporâneo
(1ª fase de 2016) A mundialização não diz respeito apenas às
atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais
que elas provocam. Inclui também a globalização financeira,
que não pode ser abstraída da lista das forças às quais deve
ser imposta a adaptação dos mais fracos e desguarnecidos.
François Chesnais. A mundialização do capital. São Paulo:
Xamã, 1996 (com adaptações). Tendo como referência inicial o
fragmento de texto apresentado, julgue (C ou E) os itens
subsequentes.
1. A agricultura moderna brasileira elabora usos e apropriações
da terra com reduzida demanda de recursos hídricos e
maximização da fragmentação do território nacional.
2. Mundialização do capital ou globalização
refletem a capacidade estratégica de grandes
grupos oligopolistas, voltados para a produção
industrial ou para as principais atividades de
serviços, em adotar, por conta própria, enfoque e
conduta globais.
3. O princípio geográfico da localização, no
mundo globalizado economicamente competitivo,
é superado pelos sistemas técnicos e de
informação.
4. No mundo globalizado, observa-se
uma tendência de compartimentação
generalizada dos territórios, onde se
associam e se chocam o movimento
geral da sociedade do trabalho e o
movimento particular de cada fração
espacial: do nacional ao regional e ao
local.
“Impelida pela necessidade de mercados sempre
novos, a burguesia invade todo o globo. Necessita
estabelecer-se em toda a parte, explorar em toda a
parte, criar vínculos em toda a parte... Pela exploração
do mercado mundial, a burguesia imprime um caráter
cosmopolita à produção e ao consumo em todos os
países. As antigas indústrias nacionais são destruídas e
continuam a sê-lo diariamente.
São suplantadas pelas novas indústrias, cuja introdução
se torna uma questão vital para todas as nações civilizadas,
indústrias que não empregam mais matérias-primas
nacionais, mas sim matérias-primas vindas das regiões mais
distantes, cujos produtos são consumidos não somente no
próprio país mas em todas as partes do globo. Em lugar das
antigas necessidades, satisfeitas pelos produtos nacionais,
nascem novas necessidades que reclamam para a sua
satisfação os produtos das regiões mais longínquas e dos
climas mais diversos.
Em vez do antigo isolamento de regiões e nações que se
bastavam a si próprias, desenvolvem-se um intercâmbio
em todas as direções, uma universal interdependência das
nações. E isso se refere tanto à produção material como à
produção intelectual. As criações intelectuais de uma nação
tornam-se propriedade comum de todas. A estreiteza e o
exclusivismo nacionais tornam-se cada vez mais
impossíveis; das inúmeras literaturas nacionais e locais,
nasce uma literatura universal.”
(MANIFESTO COMUNISTA – Págs. 46 e 47)
“Se ao aterrisar em Trude eu não tivesse lido o nome da cidade
escrito num grande letreiro, pensaria ter chegado ao mesmo
aeroporto de onde havia partido. Os subúrbios que me fizeram
atravessar não eram diferentes dos da cidade anterior, com as
mesmas casas amarelinhas e verdinhas. Seguindo as mesmas
flechas, andava-se em volta dos mesmos canteiros, das mesmas
praças.
As ruas do centro exibiam mercadorias embalagens rótulos que
não variavam em nada. Era a primeira vez que eu vinha a Trude,
mas já conhecia o hotel em que por acaso me hospedei; já tinha
ouvido e dito os meus diálogos com os compradores e vendedores
de sucata; terminara outros dias iguais àquele olhando através dos
mesmos copos os mesmos umbigos ondulantes.
Por que vir a Trude, perguntava-me. E sentia vontade de
partir.
Pode partir quando quiser - disseram-me-, mas você
chegará a uma outra Trude, igual ponto por ponto; o mundo é
recoberto por uma única Trude que não tem começo nem fim,
só muda o nome do aeroporto.”
(Ítalo Calvino. As cidades invisíveis. São Paulo: Cia. das
Letras, 1990)
1- A GLOBALIZAÇÃO OU MUNDIALIZAÇÃO
- A integração da economia mundial

- A ação das multinacionais

- A economia de rede

- A globalização financeira
- A Revolução Técnico-Informacional
- A exclusão social
- Os blocos econômicos
Globalização, o meio técnico-científico-informacional - Milton
Santos e María Laura Silveira
As firmas e bancos globais, verdadeiras redes, estimulam a
permanente renovação dos sistemas de engenharia, a partir da
alocação de capitais, sob a forma de créditos e empréstimos de
diversas espécies. O sistema técnico invasor, assim acolhido,
impõe a necessidade de parcelas crescentes de informação e de
escalas coerentes com as regras da consagrada competitividade.
Por isso, essas novas próteses são veículos de fluxos
multidirecionais, cuja escala se alarga até tornar-se global. Através
desses fluxos, elas mobilizam capitais e cumprem, desse modo, o
desígnio da sua criação. A equação entre capital e emprego torna-
se, progressiva ou brutalmente, em desfavor deste último. (…)
Os sistemas de engenharia que antes eram praticamente
subordinados às condições locais são, cada vez mais, tributários de
relações mais amplas. De um controle pulverizado à escala de
comunidades isoladas, eles passaram a depender de um controle
unificado que preside um jogo complexo, social e econômico que,
hoje, caracteriza a utilização de infra-estruturas instaladas segundo
regras científicas e técnicas estritas.
O uso do território é marcado, de um lado, por uma maior fluidez,
com menos fricções e rugosidades e, de outro, pela fixidez, dada
pelos objetos maciços, grandes e difusos no território.
Os microobjetos da eletrônica e da informática demandam
localizações adequadas e precisas. Construídos por capitais
indivisíveis, esses macrossistemas técnicos exigem, para sua
operação eficaz, uma acentuada unicidade de direção. (…) Há,
certamente, seletividade na expansão desse meio técnico-científico-
informacional, com o reforço de algumas regiões e o
enfraquecimento relativo de outras. A divisão social e territorial do
trabalho amplia-se e torna-se mais complexa.
Em todo caso, a demanda por qualificações específicas aumenta
em todas as regiões, enquanto a oferta parece acompanhar as
especializações produtivas dos lugares.
Nas regiões mais pobres, a presença dos bens e serviços é
escassa, pois sua distribuição no território é seletiva.
Paralelamente, nessas regiões, a acessibilidade é menor, porque a
rede de transportes é mais frouxa, o número de automóveis
particulares é mais reduzido, o transporte público se desenvolve
com menor freqüência, aumentando os custos dos deslocamentos.
2- MILTON SANTOS E A GLOBALIZAÇÃO
A- A Globalização como fábula: O mundo tal como nos fazem
crer.
- Aldeia global

- Encurtamento das distâncias para poucos

- A “morte” do Estado

- O global e o local
Fala-se, também, de uma humanidade desterritorializada,
uma de suas características sendo o desfalecimento das
fronteiras como imperativo da globalização, e a essa idéia
dever-se-ia uma outra: a da existência, já agora, de uma
cidadania universal. De fato, as fronteiras mudaram de
significação, mas nunca estiveram tão vivas,na medida em que
o próprio exercício das atividades globalizadas não prescinde
de uma ação governamental capaz de torná-las efetivas dentro
de um território.
A humanidade desterritorializada é apenas um mito. Por outro
lado, o exercício da cidadania, mesmo se avança a noção de
moralidade internacional, é, ainda, um fato que depende da
presença e da ação dos Estados nacionais.
(Santos, Milton- Por uma outra globalização- Pág.42)
B- A Globalização como perversidade: O mundo tal como
ele é.

- A contração do espaço e do tempo

- A questão das fronteiras / desterritorialização e cidadania


universal

- A pobreza incluída, a marginalidade e a pobreza


estrutural globalizada
C- O mundo como pode ser: uma outra globalização.
Todavia, podemos pensar na construção de um outro
mundo, mediante uma globalização mais humana. As bases
materiais do período atual são, entre outras, a unicidade da
técnica, a convergência dos momentos e o conhecimento do
planeta. É nessas bases técnicas que o grande capital se apoia
para construir a globalização perversa de que falamos acima.
Mas, essas mesmas bases técnicas poderão servir a outros
objetivos, se forem postas ao serviço de outros fundamentos
sociais e políticos. Parece que as condições históricas do fim
do século XX apontavam para esta última possibilidade.
(Santos, Milton- Por uma outra globalização- pág.20)
1- (1ª fase de 2016) A mundialização não diz respeito apenas às
atividades dos grupos empresariais e aos fluxos comerciais que
elas provocam. Inclui também a globalização financeira, que não
pode ser abstraída da lista das forças às quais deve ser imposta a
adaptação dos mais fracos e desguarnecidos. François Chesnais.
A mundialização do capital. São Paulo: Xamã, 1996 (com
adaptações). Tendo como referência inicial o fragmento de texto
apresentado, julgue (C ou E) os itens subsequentes.
1. A agricultura moderna brasileira elabora usos e apropriações
da terra com reduzida demanda de recursos hídricos e
maximização da fragmentação do território nacional.
2. Mundialização do capital ou globalização refletem a
capacidade estratégica de grandes grupos
oligopolistas, voltados para a produção industrial ou
para as principais atividades de serviços, em adotar,
por conta própria, enfoque e conduta globais.
3. O princípio geográfico da localização, no mundo
globalizado economicamente competitivo, é superado
pelos sistemas técnicos e de informação.
4. No mundo globalizado, observa-se uma tendência
de compartimentação generalizada dos territórios,
onde se associam e se chocam o movimento geral da
sociedade do trabalho e o movimento particular de
cada fração espacial: do nacional ao regional e ao
local.
2-"Sejamos mais claros: os instrumentos atuais da universalização, dos
quais costumamos dizer que eliminam o tempo e reduzem o espaço,
só realizam esse milagre para alguns! Quantos, na realidade, podem
beneficiar-se das facilidades de contato criadas à escala mundial pelo
avião ou pelo telefone? Quantos, igualmente, podem ter acesso à
difusão de um saber multiplicado e universalizado? As próprias
estradas de rodagem, que se expandem dentro de cada país e as
próprias ruas dentro de cada cidade, somente são utilizadas por
alguns."
(SANTOS, M. "Por uma Geografia nova: da crítica da Geografia a uma
Geografia crítica". São Paulo: Hucitec, 1986. p.170.)
Sobre a universalização ou globalização discutida pelo geógrafo
Milton Santos, é correto afirmar:
a) Com a universalização, não muda a organização do espaço.
b) Com a universalização, a discriminação entre os indivíduos
está desaparecendo, juntamente com as distinções de classe
social.
c) Como as pessoas de menor poder aquisitivo têm hábitos de
vida mais simples, não há razão para que elas participem dos
benefícios trazidos pelas inovações tecnológicas.
d) A utilização dos meios universais de comunicação relaciona-
se diretamente com a soma de poder que cabe a cada indivíduo.
e) A modificação do espaço geográfico, tendo como uma das
causas a universalização, é sempre maléfica.
3- Em “Por uma outra globalização” o geógrafo Milton
Santos aborda o fenômeno da globalização através de três
perspectivas: a fábula, a perversidade e a possibilidade.
Julgue certo ou errado as afirmativas a seguir que tratam
dessas perspectivas.
I –. A ideia de Aldeia Global faz parte da perspectiva da
possibilidade que Milton Santos aborda em “Por uma outra
globalização”.
II – O aspecto da perversidade pode ser tratado pelo
caráter seletivo do fenômeno. Nesta perspectiva, a
globalização beneficiaria apenas uma parcela da
sociedade e a atuação do capital ficaria restrita às partes
do território mais atrativas.
III – A perspectiva da fábula é aquela que acredita em uma
apropriação das mesmas capacidades técnicas que
promovem a possibilidade de atuação do capital em escala
global por movimentos sociais. Nestes termos é que se
tornaria possível falar em uma outra globalização, somente
mais justa e respeitadora da diversidade.
IV – Milton Santos vai se apoiar na irreversibilidade do
processo e apresentar como única possibilidade de
resistência uma valorização do local associada a um
progressivo isolamento das relações universalizadas.
Segundo Milton Santos, as sociedades deveriam combater,
culturalmente, a globalização.
4-( TPS 2005) A localidade opõe-se à globalidade, mas
também se confunde com ela. O mundo, todavia, é nosso
estranho. Pela sua essência, ele pode esconder-se; não
pode, entretanto, fazê-lo pela sua existência, que se dá
nos lugares. No lugar, nosso Próximo, superpõem-se,
dialeticamente, o eixo das sucessões, que transmite os
tempos externos das escalas superiores, e o eixo dos
tempos internos, que é o eixo das coexistências, onde
tudo se funde, enlaçando, definitivamente, as noções e
as realidades de espaço e de tempo.
No lugar - um cotidiano compartido entre as mais diversas
pessoas, firmas e instituições -, cooperação e conflito são a base
da vida em comum. Porque cada qual exerce uma ação própria, a
vida social individualiza-se; e, porque a contigüidade é criadora
de comunhão, a política se territorializa, com o confronto entre
organização e espontaneidade. O lugar é o quadro de uma
referência pragmática ao mundo, do qual lhe vêm solicitações e
ordens precisas de ações condicionadas, mas é também o teatro
insubstituível das paixões humanas, responsáveis, por meio da
ação comunicativa, pelas mais diversas manifestações da
espontaneidade e da criatividade.
Milton Santos. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e
emoção. 2.ª ed. São Paulo: Hucitec, p. 258 (com adaptações).
Tendo o texto como referência inicial, assinale a opção incorreta.
(A) O entendimento do conteúdo geográfico permite perceber a
relação entre o espaço e os movimentos sociais, construídos a
partir dos objetos que nos cercam.
(B) Na atualidade, vive-se a mobilidade dos homens, que mudam
de lugar, assim como de produtos, mercadorias, imagens e idéias,
o que evidencia transformações na relação espaço-tempo.
(C) O entendimento de lugar como eixo de sucessões, eixo de
tempos internos, de coexistências de tempo e espaço conduz às
idéias de desterritorialização ou de desculturalização.
(D) O texto refere-se ao espaço cotidiano como
marca identitária entre pessoas. Nesse sentido,
o lugar, por se opor à globalidade, mantém a
integridade, o que permite que sejam compostos
espaços geográficos singulares.
(E) Enquanto a globalidade se identifica nos
processos coletivos que se distribuem em
diferentes espaços, o mundo é composto pela
singularidade de cada local.
5- (1ª FASE DE 2014) A aparição das chamadas cidades mundiais e
das cidades globais se explica pela necessidade de organização e
controle da economia global. O termo cidade global, em sua versão
mais topológica, é definido por Saskia Sassen como um território onde
se exerce uma série de funções de organização e controle na economia
global e nos fluxos de investimentos em escala planetária. O. Nel.Lo e
F. Muñoz. El proceso de urbanización. In.: Geografía humana, J.
Romero et al (Coord.). Barcelona: Ariel, 2008, p. 321 (com adaptações).
Considerando a perspectiva conceitual de Saskia Sassen, julgue (C
ou E) os itens seguintes, relativos a cidades globais.
1 .A dinâmica fundamental do novo processo de urbanização
pressupõe que, quanto mais a economia for globalizada, maior será a
convergência de funções centrais nas cidades globais, cuja densidade
demográfica elevada expressa espacialmente essa dinâmica.
2 .A dispersão territorial das atividades econômicas contribui, por
meio, por exemplo, de tecnologias da informação, para o crescimento
das funções e das operações centralizadas nas cidades globais.
3 . A globalização econômica contribui para uma nova geografia da
centralidade e da marginalidade, tornando as cidades globais lugares
de concentração de poder econômico, ao passo que cidades que
foram centros manufatureiros experimentam nítido declínio.
4. O nível máximo de controle e de gerenciamento da indústria
permanece concentrado em poucos centros financeiros diretores,
como observado especialmente em cidades globais como Paris, São
Paulo e Los Angeles, na década de 80 do século XX.

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