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Universidade do Estado do Rio de Janeiro

Faculdade de Formação de Professores


Projeto: “Narrativa nos Livros Didáticos de História: Tradições e Rupturas”.
Bolsistas: Gabriel Fernandes, Monyque Valentim, Philipe de Moura, Tainã Ventura, Victoria
Alencar
Temáticas: Absolutismo, Iluminismo, Revolução Francesa, Independência da América
Espanhola, Independência das Treze Colônias, Independência da América Portuguesa e
Mineração

REGISTRO DE INFORMAÇÕES

Visando ampliar e promover uma melhor compreensão sobre a organização das


temáticas nos Livros didáticos, o grupo Narrativa Histórica desenvolveu os conceitos de
“temas nucleares” e “temas satélites”. Os temas nucleares são aqueles que exercem uma
função central nas discussões presentes nos registros análiticos de informações (REANI). Os
temas satélites adquirem importância nas análises, pois, tais temas, auxiliam na construção e
desenvolvimento dos temas nucleares. Tanto os temas nucleares, quanto os temas satélites,
por nós elencados neste registro, possuem relatórios de análise e síntese disponíveis.
Abaixo um quadro que demonstra quais são os temas satélites trabalhados no núcleo
3, e suas recorrências:

TEMA SATÉLITE RECORRÊNCIA NAS COLEÇÕES


Iluminismo 15
Absolutismo 15
Independência das Treze Colônias 15
Mineração 14
Independência da América Espanhola 15
Independência da América Portuguesa 15
ESQUEMA 1- Temas satélites pertencentes ao núcleo 3.

Para observar a disposição das temáticas na composição das narrativas, fizemos um


levantamento a partir da análise dos sumários das quinze coleções trabalhadas no projeto. A
partir desse levantamento, nos foi possível identificar as particularidades das sequências
existentes para a apresentação e organização das temáticas e como elas se estruturam em
torno do nosso tema nuclear, a Revolução Francesa. A análise dos sumários nos informa que,
das seis sequências obtidas, a sequência de número 1 é a que mais se repete (10 coleções) 1,
sendo, portanto, por nós, caracterizada como a sequência ordinária padrão dos temas que
compõe o núcleo 3. As outras cinco sequência extraordinárias restantes aparecem, cada uma
delas, em apenas uma coleção. Sendo a sequência 2 referente à coleção 6 - “História
Temática”; sequência 3 referente à coleção 8 - “Novo História”; sequência 4 referente à
coleção 10 - “Para Viver Juntos”; e, por fim, a sequência 5 referente à coleção 12 - “Projeto
Radix”.

SEQUÊNCIA 1: Mineração → Iluminismo → Independência da América inglesa →


Revolução Francesa → Independência da América espanhola → Independência da
América portuguesa

SEQUÊNCIA 2: Independência da América portuguesa → Iluminismo e Revolução


Francesa → Independência da América inglesa e espanhola

SEQUÊNCIA 3: Mineração → Iluminismo → Revolução Francesa → Independência da


América inglesa e espanhola → Independência da América portuguesa

SEQUÊNCIA 4: Iluminismo e Revolução Francesa → Independência da América inglesa


e espanhola → Mineração → Independência da América portuguesa

SEQUÊNCIA 5: Mineração → Iluminismo e Independência da América inglesa →


Revolução Francesa → Independência da América portuguesa → Independência da
América espanhola

SEQUÊNCIA 6: Mineração → Iluminismo e Independência da América inglesa →


Revolução Francesa → Independência da América espanhola → Independência da
América portuguesa

ESQUEMA 2 - Análise de sumário das quinze coleções.

O núcleo 3, no projeto “Narrativa nos Livros Didáticos de História: Tradições e


Rupturas”, é composto pelo tema da Revolução Francesa como a temática nuclear; e os temas
do Absolutismo, Iluminismo, Independência das Treze Colônias, Independência da América
Espanhola e Mineração, como temas satélites. No desenvolver deste registro análítico,
trataremos com maior profundidade sobre: 1) como estes temas se apresentam; 2) como eles
dialogam entre si e quais suas ligações com o tema nuclear; 3) e quais são os elementos
coligativos mobilizados pelos livros didáticos para promover essas relações.

1 Coleção 1 - “História”; Coleção 2 - “História das Cavernas ao Terceiro Milênio”; Coleção 3 - “História e Vida
Integrada”; Coleção 4 - “História em Documento”; Coleção 5 - “História, Sociedade e Cidadania”; Coleção 7 -
“Navegando pela História”; Coleção 9 - “Para entender a História”; Coleção 11 - "Projeto Araribá"; Coleção 13
- “Saber e fazer História”, Coleção 14 - “Tudo é História”.
ABSOLUTISMO

Ao analisar o desenvolvimento das narrativas, podemos afirmar que o Absolutismo é


tido pelas coleções como um conjunto de características relacionadas à dimensão político-
administrativa de determinados Estados europeus durante o período da modernidade. Tendo
em vista esta definição - e o desenvolvimento das narrativas -, podemos afirmar que o
absolutismo é um conceito importante para nossas análises sobre os temas do núcleo 3, pois,
além de sintetizar um grupo de características dos Estados modernos europeus, o absolutismo
também é um forte elemento coligativo que confere unidade aos acontecimentos do período
da “Era Moderna”.
Um fator comum à todas as coleções, ao abordarem o tema do Absolutismo, é a ideia
de que o poder, durante a Idade Média, encontrava-se descentralizado e que, a partir do
século XI, esse cenário começou a mudar. As coleções apontam, em conjunto, que com o
revigoramento e o fortalecimento do comércio e das cidades, formou-se um novo grupo
social, a burguesia. A partir daí, as coleções narram que os burgueses se aproximaram do rei
em busca de proteção e de favores e que, em troca, os reis obtinham apoio financeiro dos
burgueses. Segundo as coleções, esta relação, com o progredir do tempo, gerou um crescente
aumento do poder nas mãos dos reis, promovendo, portanto, o crescimento de um poder
fortemente centralizado caracterizado, em alguns contextos, como absoluto.
O conceito de Absolutismo teria surgido entre o fim do século XVIII e no início do
século XIX, porém, foi na primeira metade do século XIX que o conceito de Absolutismo se
popularizou2. O conceito de Absolutismo, tal qual o conceito de Feudalismo, são termos-
conceitos elaborados a posteriori, ou seja, foram criados após os eventos que o termo visa
delimitar, explicar ou sintetizar. O conceito de Absolutismo era comumente utilizado em
nichos políticos liberais para se referir ao poder monárquico “ilimitado” e “pleno”, sendo, por
estes grupos, o conceito de Absolutismo utilizado para condenar os métodos autoritários
destes governos, seja no passado, ou no presente destes grupos liberais do XIX 3. Em resumo,
o Absolutismo, para esses grupos, seria uma forma de governo em que o poder do Estado é
todo concentrado na figura do monarca, sem o limite de outros poderes, e que passa adiante
de forma hereditária. Cabe destacar, é claro, que tal conceito, é limitado tanto no tempo - o
conceito está associado à Era Moderna -, quanto no espaço - refere-se à Europa Ocidental. Ou

2 Dicionário de política I Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino; trad. Carmen C, Varriale
et ai.; coord. trad. João Ferreira; rev.geral João Ferreira e Luis Guerreiro Pinto Cacais. - Brasília : Editora:
Universidade de Brasília, 1 la ed., 1998.
3 BONNEY, R. O absolutismo. Europa-América, 1991.
seja, por mais que possamos encontrar formas de governos parecidas com o Absolutismo em
outros lugares, o conceito de Absolutismo, utilizado durante o século XIX, seria específico
para o caso europeu e suas particularidades dos regimes desse tipo na Idade Moderna.
Como apontado anteriormente, o absolutismo teria surgido após a unificação dos
Estados europeus durante a Idade Moderna, centralizando territórios que antes pertenciam a
vários nobres, criando burocracias para administrar esses territórios e exercer controles sobre
eles. Esse processo foi possível graças à burguesia, classe relativamente nova nesta época,
que se aliou à figura do rei e lhe deu poder financeiro. Já o rei, através deste poder financeiro,
poderia passar por cima dos nobres, e centralizar o poder político; por outro lado, com o
progredir da centralização política, a burguesia se beneficiava dos privilégios de ter apoiado
um monarca que, agora, tem poderes absolutos.
Além do aspecto financeiro, devemos salientar que a questão religiosa foi
especialmente importante, principalmente, no caso francês. A teoria do direito divino dos reis
foi muito importante para solidificar o poder centralizado não só na esfera financeira, mas
também na esfera religiosa e cultural. Afinal de contas, se foi Deus quem escolheu a
linhagem, quem poderia contestá-la? Mas é claro que o Absolutismo variou tanto no tempo,
quanto no espaço e, principalmente, na suas formas. Como o caso francês foi tomado como
padrão, podemos cometer o erro de associar esta conexão com o divino como algo comum a
todos os caso, mas não é. Bom, ao menos não nesse modelo tão próximo. Na Espanha, por
exemplo, ainda que a figura do rei tivesse um caráter religioso, o que legitimava o seu poder
não era a religião, o que lhe conferia a legitimidade eram as teses contratuais 4, como se o rei
assinasse um contrato com a sociedade e o rei, portanto, tinha a função de organizar a
estrutura social onde tanto as vontades do monarca, quanto as dos súditos, estivessem em
harmonia. Esta ideia do Estado como uma entidade que nasce do contrato entre o povo e a
figura central de poder tem respaldo em alguns autores clássicos como Maquiavel, Jean
Bodin e Thomas Hobbes, seguindo a premissa de que o povo abre mão de algumas liberdade
para ter proteção do monarca que acaba com as tensões e conflitos constantes frutos do
estado de natureza prévia dos seres humanos.
Cabe aqui salientar que estamos apresentando e discutindo os aspectos do
Absolutismo em nível teórico, afinal de contas, devemos apreender estas diferenças do ponto
de vista da teoria para não incorrermos no erro de atribuir o conceito de Absolutismo a tudo
aquilo que a ele se assemelha. O absolutismo é um daqueles casos de onde o conceito é
criado e é utilizado para tratar de diversos casos como se todos eles fossem a mesma coisa, se
4 ANDERSON, Perry. Linhagens do Estado absolutista. São Paulo: Brasiliense, 2004.
por um lado isso nos ajuda a criar alguns comparativos políticos, por outro lado esconde as
diferenças e generaliza experiências humanas diferentes, e o uso correto dos conceitos é uma
parte fundamental da própria cientificidade da pesquisa em História5.
Apesar das flutuações, existem alguns elementos em comum que as monarquias ditas
absolutistas compartilharam, são eles: a concentração de poder na figura do rei; a existência
da burocracia para administrar os estados; exércitos públicos; o enfraquecimento dos vínculos
sociais do feudalismo; e a mercantilização da economia6 que, aos poucos, daria origem ao
capitalismo comercial.
A decadência do absolutismo, do contrário do seu início, possui uma data melhor
delimitada, começou no século XVIII, conforme a burguesia foi ganhando espaço e poder na
Europa. Foi nesse contexto que novas teorias que defendiam governos constitucionais e
representativos; uma economia mais livre; em suma, o contexto de ascensão do iluminismo 7 e
do liberalismo, foi fruto deste contexto, que surgiram movimentos como a Independência
dos Estados Unidos8, a Revolução Francesa9 e vários outros movimentos tanto na Europa,
quanto na América. Aos poucos, as velhas monarquias foram sendo derrubadas, ou tendo que
aceitar certos limites legais, com constituições mais restritivas, com parlamentos mais forte,
em suma, com outros mecanismos que proporciona um maior controle de poder.

REVOLUÇÃO FRANCESA

A partir das narrativas apresentadas pelas coleções, podemos perceber que a


Revolução Francesa pode ser tida como um marco para uma mudança de paradigma. E é
justamente por conta da importância atribuída à Revolução Francesa que este tema figura, no
nosso projeto, como tema central do núcleo 3.
Das coleções por nós analisadas, todas, ao tratarem do tema da Revolução Francesa,
apontam, como fator detonador de suas narrativas, a insatisfação com a estrutura social,
econômica e tributária do Antigo Regime. As coleções apontam que essa inconformidade se
fez presente majoritariamente nos setores da burguesia, pois, apesar dessa estrutura, em um
primeiro momento, ter possibilitado a ascensão econômica deste setor social, a lógica ou
estrutura social do Antigo Regime, dificultava a burguesia ampliar seus poderes e sua
5 VEYNE, P. Os conceitos em História. in: SILVA da, Maria Beatriz Nizza (org.). Teoria da História. São
Paulo: Editora Cultrix.
6 ver: RELCON-MERCANTILISMO e REANI-NÚCLEO 2
7 RELCON-ILUMINISMO
8 RELREG-INDEPENDENCIAAMERICAINGLESA
9 RELCON-REVOLUÇÃO FRANCESA
influência. Ou seja, grande parcela do dito Terceiro Estado, colocou-se em oposição à
determinadas características que compunham a sociedade do Antigo Regime, sociedade essa
que, de grosso modo, se fundamentava na desigualdade entre os homens, um dos principais
pontos da Revolução Francesa é o pioneirismo em contestar tal aspecto. A Revolução
Francesa tinha como bandeira a igualdade, a soberania do povo, a liberdade e a ideia de
Direito do Homem. Não é à toa, portanto, que a Revolução Francesa é tida, até hoje, como o
marco da transição da Idade Moderna a Idade Contemporânea.
Partindo dessa insatisfação com a sociedade do Antigo Regime que o tema da
Revolução Francesa, nos livros didáticos, se liga ao tema do Iluminismo. Tal afirmativa se
justifica ao perceber que, dentre as coleções analisadas, no que se refere ao tema da
Revolução Francesa, nove10, apresentam uma narrativa a respeito das influências geradas
pelas ideias iluministas no processo da revolução. As narrativas dão ênfase em como as ideias
iluministas penetraram tanto no corpo intelectual, como no âmago das principais
reivindicações das massas populares. As coleções destacam que a influência das ideias
iluminista foi de suma importância para fomentar a oposição às estruturas sociais que
produziam e faziam a manutenção da desigualdade existente no Antigo Regime. Além disso,
essas narrativas tratam o movimento revolucionário francês como um movimento de
concretização dos ideais iluministas. Essas coleções dão ênfase em relatar o iluminismo como
um conjunto de ideias que forneceram a base para o progresso do movimento revolucionário
francês.
Já em relação às suas ligações com o tema do Absolutismo, como já citamos acima, a
Revolução Francesa foi tida como marco de transição da Era Contemporânea para a Idade
Moderna, ou seja, a sociedade proposta pela Revolução Francesa, em certos aspectos, se
opunha à sociedade do Antigo Regime. Este conceito “Antigo Regime”, sintetiza um grupo
de elementos que, como consta nas narrativas das coleções, podemos encontrar, em grande
parte, também sintetizadas, pelas mesmas coleções, no conceito de Absolutismo. Não
queremos dizer que podemos chamar o Absolutismo e o Antigo Regime, dois conceitos
elaborados a posteriori e com certo cunho pejorativo11, de irmão gêmeos; mas podemos
chamá-los de primos, primos bem próximos. A distinção, no caso, seria que, o Antigo
Regime reúne dentro deste conceito um conjunto de características de uma determinada

10 Coleção 1 - “História”, Coleção 3 - “História e vida integrada”, Coleção 6 - “História Temática”, Coleção 7
- “Navegando pela História”, Coleção 8 - “Novo História”, Coleção 9 - “Para entender a História”, Coleção 12
- “Projeto Radix”, Coleção 13 - “Saber e fazer História”, Coleção 14 - “Tudo é História”.

11 BONNEY, R. O absolutismo. Europa-América, 1991.


organização social, enquanto que o Absolutismo, como visto anteriormente, é um modelo
político-administrativo. O ponto é, como destaca Albert Soboul,

“Dez anos de peripécias revolucionárias haviam transformado, porém, de


maneira fundamental, a realidade francesa, essencialmente segundo os
desejos da burguesia e dos proprietários. A aristocracia do velho regime
destruíra em seus privilégios e sua preponderância os derradeiros vestígios
do feudalismo abolidos. Fazendo tábua rasa de todas as sobrevivências
feudais, libertando os camponeses dos direitos senhoriais e dos dízimos
eclesiásticos - numa certa medida, também, dos constrangimentos
comunitários -, destruindo os monopólios corporativos e unificando o
mercado nacional, a Revolução Francesa acelerou a evolução e marcou uma
etapa decisiva da transição do “feudalismo” ao capitalismo. Destruindo, por
outra parte, os particularismos provinciais e os privilégios locais, quebrando
a armadura estática do Antigo Regime, tornou possível a instauração, do
Diretório ao Império, de um Estado moderno, correspondendo aos interesses
econômicos e sociais da burguesia”12.

Podemos perceber que é através dos contrastes de características de diferentes


momentos, que as coleções constroem o início das narrativas sobre a Revolução Francesa.
Sendo, através deste recurso dos pares contrastantes, que as narrativas sobre o tema
Revolução Francesa se associam às narrativas sobre o tema do Iluminismo
Em relação às Independências, do ponto de vista das narrativas do tema da Revolução
Francesa, um dos tópicos que merece destaque é aquele diz respeito às dívidas ocasionadas
por conta do envolvimento da França (pré-revolucionária) em conflitos estrangeiros. Segundo
as coleções, tais envolvimentos acarretaram em dívidas que intensificaram a crise econômica
que viria ser um dos fatores detonadores do processo revolucionário francês. Ou seja, esses
“conflitos estrangeiros”, de certa forma, influenciaram para agravar a crise e a insatisfação
que ocasionaram a Revolução. Ao investigar os tais “conflitos estrangeiros”, percebemos que
oito13, das quinze coleções, apresentam uma narrativa sobre este aspecto, e estas que narram
estes acontecimentos, dão ênfase no envolvimento da França nas Guerras de Independência
das Treze Colônias. Ou seja, em oposição a rival Inglaterra, a França apoiou a independência
de sua colônia rebelde, mas os custos geraram, na França, problemas financeiros que,
atrelados a outros fatores, promoveram a Revolução.

ILUMINISMO

12 SOBOUL, A. História da Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Zahar, 1974.


13 Coleção 1 - “História”, Coleção 4 - “História em documento”, Coleção 8 - “Novo História”, Coleção 9 -
“Para entender a História”, Coleção 10 - “Para viver juntos”, Coleção 13 - “Saber e fazer História”, coleção 14 -
“Tudo é História” - coleção 15 - “Vontade de Saber História”.
O Iluminismo é um tema presente nas quinzes coleções analisadas caracterizado por
ter consolidado a cultura moderna nos países da Europa Ocidental. A partir das análises,
compreendeu-se que, o surgimento do pensamento iluminista se deu, principalmente, pela
insatisfação, ou em oposição, ao Antigo Regime. No núcleo 3, o Iluminismo assume um
papel importante por se apresentar como um conector entre as narrativas de alguns dos outros
temas que estão inseridos no núcleo.
As 15 narrativas apresentam como principais fatores detonadores: a insatisfação pela
falta de poder político da classe burguesa juntamente com sua consolidação econômica, a
crítica ao modelo econômico presente na época - Mercantilismo - e a instauração da
monarquia parlamentar na Inglaterra, levaram os burgueses a denunciar os privilégios do
clero e da nobreza, levando a uma revolução científica, filosófica, política, econômica e etc.,
que se desenvolveu entre os séculos XVII e XVIII, e, como apontado nas coleções, teve mais
força na França do que em outros países. Algumas coleções como a coleção 01 - “História” e
coleção 06 - “História Temática”, ainda abordam que o processo do Iluminismo teve seu
início no Renascimento e que o processo de transformações se completou no
desenvolvimento do Iluminismo no século XVIII.
Em todas as coleções, desenvolve-se três conceitos, que ajudam na compreensão do
tema: Absolutismo, Revolução Científica e Despotismo Esclarecido. O primeiro definiu-se
como uma forma política de governo das monarquias europeias durante a Idade Moderna
(1453 - 1789) onde houve um fortalecimento do poder real, ou seja, conferia poder total ao
rei sobre a nação, cabia a ele a criação de impostos, leis e etc., foi nesse contexto que o
mercantilismo surgiu como prática econômica desse governo e que os ideais iluministas se
desenvolveram como um ideal contrário as medidas que vinham sendo impostas pelo Antigo
Regime. A Revolução Científica se caracterizou como um movimento intelectual que
defendia o uso da razão, da observação e da experimentação como mecanismos para
compreender o universo, ideias que transformaram a forma de pensamento que se tinha até
então e, tal revolução, colaborou no aumento da insatisfação da sociedade em relação ao
regime vigente. O despotismo esclarecido foi uma forma de governo adotada por alguns
monarcas europeus durante o século XVIII. Essa forma de governo se caracterizava pela
mistura de práticas absolutistas e ideias iluministas, visando acelerar o processo de
modernização em alguns países, assim, o governante, nomeado como déspota esclarecido,
conseguia aumentar seu poder e diminuir as chances de oposição ao seu governo. Essa forma
de governo foi bem desenvolvida no Leste europeu.
Nas 15 narrativas aborda-se, além das origens e conceitos antes citados, alguns
personagens importantes para esse período como, Diderot e D´Alembert, responsáveis pela
organização da Enciclopédia; John Locke, como precursor do liberalismo político; Voltaire;
Rousseau e o contrato social; Adam Smith e o pensamento econômico liberal; Montesquieu e
a divisão dos três poderes, que influenciou os setores econômico e político contemporâneo de
nações, como o Brasil, e no processo de independência de outras, como os Estados Unidos;
esses personagens além de contribuírem na formação dos pensamentos liberais e etc.,
ajudaram na divulgação do conhecimento e das ideias iluministas que foram reproduzidas em
livros, jornais, salões literários e cafés, onde pessoas se encontravam para debater questões
políticas e sociais.

Analisando14 as conexões do Iluminismo, com temas coligatórios inseridos no núcleo


3, é possível observar a presença do tema no conjunto de fatores que fomentaram a:
Revolução Francesa15 e o processo de Independência das Américas (Inglesa e Espanhola)16, já
no conjunto de fatores detonadores do Iluminismo, está o Antigo Regime (Absolutismo), que
está presente como um dos fatores detonadores em todas as coleções analisadas.

Temas como Absolutismo, considerando também a prática econômica


(Mercantilismo), Renascimento e Liberalismo, mesmo alguns não tendo relatórios ou não
estarem inseridos no núcleo 3 do projeto, ganharam importância na construção da análise do
Iluminismo, assim, são chamados de temas satélites 17. Sem o Absolutismo seria difícil
compreender os motivos pelos quais as ideias iluministas surgiram e foram ganhando força,
visto que, esse foi, também, um dos principais fatores detonadores; o Renascimento, citado
nas coleções 01 - “História” e 06 - “História Temática”, ajuda também na compreensão das
transformações ocorridas na Europa, com início no século XIV e que se perdurou até o século
XVIII com a difusão das ideias iluministas, e o Liberalismo, apesar de estar presente após o
tema Iluminismo (considerando o que normalmente está inserido no sumário), suas principais
ideias partiram de pensadores iluministas e tiveram grande importância no campo político e

14 Partindo de uma análise do RESGUM-NUCLEO3-13-09.


15 Coleção 1 - “História”; Coleção 11 - “Projeto Araribá” e Coleção 12 - “Projeto Radix”.
16 Coleção 2 - “História das cavernas ao terceiro milênio” e Coleção 7 - “Navegando pela História” tratam
apenas da América Espanhola.
Coleção 6 - “História temática”; Coleção 8 - “Novo História”; Coleção 9 - “Para entender História”; Coleção 10 -
“Para viver juntos”; Coleção 11 - “Projeto Araribá”; Coleção 14 - “Tudo é História” e Coleção 15 - “Vontade de
saber História” tratam apenas da América Inglesa.
Coleção 3 - “História e vida integrada”; Coleção 4 - “História em documento”; Coleção 5 - “História, sociedade
e cidadania” e Coleção 12 - “Projeto Radix” tratam das duas Américas.
17 Análise nos documentos: RESGUM-REVOLUÇÃOFRANCESA, RELCON-ILUMINISMO-06-03 E RELCON-
ABSOLUTISMO-06-03.
econômico desde o século XVIII, indo contra as práticas do Antigo Regime, caracterizando-
se pela liberdade individual no setor político, econômico e etc.

Como já citado, todas as coleções apontam a insatisfação com Antigo Regime como
principal fator detonador para o surgimento das ideias iluministas. Ao analisarmos a
organização dos capítulos nos livros didáticos, podemos afirmar que o tema do absolutismo,
das quinze coleções analisadas, em catorze, antecede o capítulo do Iluminismo, sendo
somente em uma coleção, tratado em um capítulo conjunto ao tema do Iluminismo 18. Em
algumas, coleções é possível observar a recorrência dos temas: Revolução Industrial 19 e
Revoluções Inglesas20 aparecendo como antecessores. Algumas coleções21isoladas abordam
anteriormente: a exploração de ouro e diamantes no Brasil, a igreja na América Portuguesa, o
que acontecia no mundo no início do século XVIII, direito à cidadania: a pólis na Grécia
antiga e a Revolução Francesa e introdução ao mundo contemporâneo.

Em relação ao tema do Iluminismo e a sua posição nos livros didáticos, constantemente


se vê em capítulos sucessores ao tema do Iluminismo os temas: Independência das 13
Colônias22 -EUA-; Revolução Industrial23; Revolução Francesa24; e Era Napoleônica25.
Referente à Revolução Francesa, entendemos que existe uma semelhança com o Iluminismo
em seus fatores detonadores ao observar que os dois foram influenciados por um
descontentamento com o modelo administrativo vigente - Antigo Regime/Absolutismo- na
época e a existência das ideias iluministas, que chegaram as classes sociais, deram ainda mais
força para o descontentamento que resultou na Revolução. Em capítulos “próximos” ao
Iluminismo e seus sucessores, há ainda aparições e ligações com os capítulos que tratam da
Independência da América Portuguesa e com a influência das ideias iluministas nos sistemas
econômico e político contemporâneo.

18 Coleção 15 - “Vontade de saber História” trata no capítulo antecessor.


19 Coleção 5 - “História, sociedade e cidadania”; Coleção 8 - “Novo História”; Coleção 9 - “Para entender a
História” e Coleção 14 - “Tudo é História”.
20 Coleção 2 - "História das cavernas ao terceiro milênio”; Coleção 5 - "História, sociedade e cidadania”;
Coleção 7 - "Navegando pela História”; Coleção 10 - "Para viver juntos”; Coleção 13 - "Saber e fazer História” e
Coleção 14 - "Tudo é História”.
21 Respectivamente coleções: 1 - "História”; 3 - "História e vida integrada”; 4 - "História em documento”; 6 -
"História temática” e 12 - "Projeto Radix”.
22 Coleção 3 - “História e vida integrada”; Coleção 4 - “História em documento”; Coleção 5 - "História,
sociedade e cidadania”; Coleção 6- "História temática”; Coleção 8- "Novo História”; Coleção 9- "Para entender
História”; Coleção 10- "Para viver juntos”; Coleção 11- "Projeto Araribá”; Coleção 12- "Projeto Radix“ e Coleção
14- "Tudo é História”.
23 Coleção 2- "História das cavernas ao terceiro milênio”; Coleção 3 - "História e vida integrada”; Coleção 7 -
"Navegando pela História”.
24 Coleção 1 - "História”; Coleção 11- "Projeto Araribá" e Coleção 12 - "Projeto Radix”.
25 Coleção 1 - "História”.
Essa análise, nos leva a compreender como as narrativas vão sendo construídas, como
temas de fora do núcleo colaboram na construção do tema do Iluminismo, como a
insatisfação ao Antigo Regime fomentou o Iluminismo e como os dois foram umas das
causas para a Revolução Francesa. Além destes temas, o Iluminismo ainda esteve fortemente
presente influenciando a Independência das Treze colônias, da América Espanhola e em
alguns movimentos e revoltas da América Portuguesa.

INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA ESPANHOLA

A independência das colônias espanholas ocorre ao longo do século XVIII,


influenciadas por uma série de fatores externos e internos, Napoleão no poder, a ascensão de
um novo conjunto de valores e ideias que defendiam a liberdade dos povos, o autoritarismo
exacerbado e a busca por direitos políticos incentivam diretamente o processo e são
levantados ao longo das narrativas.
O processo de Independência da América espanhola é descrito nas narrativas dos
livros didáticos como um período marcado por crises do sistema colonial; falta de controle do
governo espanhol; exploração econômica por parte da metrópole; e, consequentemente, uma
insatisfação colonial crescente. Levando em consideração este cenário, segundo as coleções,
passou a existir, por parte dos colonos, um crescente desejo por liberdade que culminou no
aparecimento de diversos movimentos populares que tinham a emancipação como finalidade.
Ao analisarmos as coleções, verificamos que o episódio da destituição do rei
Fernando VII é um aspecto abordado ao longo de oito narrativas 26. As narrativas demonstram
que, ao invadir a Espanha, em 1808, Napoleão Bonaparte27 o substituiu por seu irmão - José
Bonaparte. Essa medida foi responsável por criar uma situação insustentável na Espanha e, de
acordo com as narrativas, foi o fator decisivo para impulsionar a luta por liberdade, visto que
tal acontecimento gerou indignação e resistência por parte dos colonos, que se recusaram a
reconhecer a autoridade de José Bonaparte. Partindo desse pressuposto, esse pode ser
considerado o estopim para o evento, o seu fator detonador.
Ao longo do texto, seguem sendo descritos diferentes processos de independência das
colônias, e um dos que se destaca dentro desse tema é a Independência do México, que inicia
26 coleção 1 - “História”, coleção 2 – “História das cavernas, Coleção 4 – “História em documento – imagem e
texto”, coleção 7 – “Navegando pela história, coleção 9 –” Para entender história”, coleção 10 – “Para viver
juntos”, coleção 12 – “Projeto radix” e coleção 14 – “Tudo é história”.
27 Capítulos referentes a ascensão e império napoleônico se apresentam em capítulos anteriores nas narrativas,
com exceção da coleção 11 que se apresenta no mesmo capítulo da Independência da América espanhola.
suas lutas por independência a partir de 1808, porém só a consolida em 1822. O tema é
ressaltado em doze coleções28. No que se refere à Independência do México, é sempre
pontuado seu caráter popular e seu principal líder Agustín Iturbide 29. Outro processo narrado
de maneira constante nas coleções é a Independência do Haiti, sendo mencionada em dez
delas30. A Independência do Haiti é descrita sempre como um processo diferenciado, liderado
predominantemente por escravos que, além de lutar pela independência da colônia, lutavam
também por sua própria liberdade individual. As narrativas, ao narrarem este aspecto,
ressaltam que o processo de independência do Haiti foi bem sucedido e que o Haiti passou a
ser o primeiro país latino-americano a se tornar independente em 1804. Alguns personagens
que tiveram um papel importante na realização do processo de independência das colônias
espanholas também ganham seu devido destaque ao longo das narrativas, é o caso de San
Martín e Simón Bolívar, o primeiro retratado como um líder importante no processo de
independência do Chile e do Peru, já Simón Bolívar é sempre lembrado por sua liderança
nas lutas travadas ao norte da América do sul, seu caráter democrático e seu desejo de
unificação da América Latina. Essas duas figuras são centrais nas narrativas não deixando de
ser mencionados em nenhuma coleção, seja no texto corrido, seja em boxes informativos.
algumas chegam a utilizar o termo “Libertadores da América” 31 ao se referir a ambos e
“bolivarianismo” ao se referir a política de solidariedade defendida por Simon Bolívar.
A partir da análise do desenvolvimento das narrativas, podemos perceber menções aos
temas conectores, pertencentes ao núcleo temporal três, são eles: Iluminismo, Revolução
Francesa e a Independência das Treze Colônias Inglesas.
O tema do Iluminismo, por exemplo, nas coleções analisadas, é um tema
desenvolvido por um grupo de seis32 coleções nos capítulos e tópicos referentes a
independência da América espanhola, onde se pode constatar que, nesse grupo de coleções, é

28 coleção 3 – “História e vida integrada”, Coleção 4 – “História em documento – imagem e texto”, coleção 5 -
“História sociedade e cidadania” coleção 7 – “Navegando pela história, coleção 8 – “Novo história: conceitos e
procedimentos”, coleção 9 – “ Para entender história”, : coleção 10 – “Para viver juntos”, coleção 11 – “Projeto
araribá”, coleção 12 – “Projeto radix”, coleção 13 – “Saber e fazer história”, coleção 14 – “Tudo é história”,
coleção 15 – “Vontade de saber história”.
29 Relcon - independência da América espanhola
30 coleção 1 – “História”, coleção 2 – “História das cavernas”, coleção 3 – “História e vida integrada”, coleção
5 - “História sociedade e cidadania” coleção 7 – “Navegando pela história, coleção 8 – “Novo história:
conceitos e procedimentos”, coleção 9 – “ Para entender história”, coleção 11 – “Projeto araribá”, coleção 13 –
“Saber e fazer história” e coleção 15 – “Vontade de saber história”.
31 coleção 7 – “Navegando pela história, coleção 9 – “ Para entender a história”.
32 coleção 02 - História das cavernas, coleção 03 - História e vida integrada, coleção 04 - história em
documento, coleção 05 - História sociedade e cidadania, coleção 07 – navegando pela história, e coleção 12 –
projeto radix.
tido como um fator com grande influência, por conta da inspiração exercida sobre as ideias de
alguns movimentos emancipacionistas.
Seguindo na mesma linha do Iluminismo, também são mencionadas a Revolução
Francesa33 e a Independência das Treze Colônias inglesas 34 em quatro coleções cada uma, e a
exemplo do Iluminismo, é possível notar que existiu uma difusão dos ideais revolucionários
presentes nesses eventos, ideais que serviam como uma espécie de estímulo e modelo a ser
seguido. Sendo assim, esses dois eventos, mais o conjunto de ideias do iluminismo são
tratados nas narrativas como pertencentes a um conjunto de fatores que exerceram influências
ideológicas sobre o processo das independências e, por isso, são resgatados como fatores
contextuais de referência, visto que são temas já trabalhados em seus respectivos capítulos,
isso ocorre geralmente no início da narrativa, mas entende-se que não tiveram centralidade ou
impacto suficiente para serem resgatados ao longo do texto.

INDEPENDÊNCIA DAS TREZE COLÔNIAS

Durante o século XVI, período de expansão ultramarina, a Inglaterra também se


interessou em chegar pelo Oriente, buscando caminho pelo norte da América. E apesar desse
objetivo não ter sido concluído, essas buscas permitiram a ocupação da América do Norte,
criando as colônias inglesas35. A relação entre metrópole e colônia começa a mudar apenas
após a Guerra dos Sete Anos, que ocorre no século XVIII, porque apesar de a Inglaterra ter
saído vitoriosa, ela entra em grave crise financeira, por conta das despesas da guerra. E a
saída, para o Parlamento britânico, é passar a intervir na economia colonial36.

Todas as coleções, ao tratarem do tema da Independência das Treze Colônias,


apontam a insatisfação das colônias inglesas com o conjunto das chamadas “Leis
intoleráveis” criadas pela Inglaterra, como forma de recuperar a economia após a Guerra dos
Sete Anos, e que consistiam no aumento de taxação sobre produtos, como a lei do selo, do
açúcar e do chá37, que tinham o objetivo de recuperar os gastos militares com a guerra dos
33 coleção 01 - História, coleção 02 - História das cavernas, coleção 03 - História e vida integrada e coleção 04
- história em documento.
34 Coleção 02 - “História das cavernas”, Coleção 04- “História em documento”, Coleção 05 - “História
Sociedade e Cidadania” e Coleção 07- “Navegando pela História”.

35 Fragmentos retirados de campo sobre “ingleses, franceses e holandeses” em RELCON-


EXPANSAOMARITIMA-11-03.
36 Fragmentos retirados do campo de fator detonador em RELCON-
INDEPENDENCIAAMERICAINGLESA-13-03.
37 Ver: RELCON–INDEPENDENCIAMERICAINGLESA-13-03.
sete anos. Tais medidas foram recebidas negativamente pelos colonos e funcionaram como o
principal fator impulsionador da luta por liberdade. Contemporâneas a esse fator detonador
comum, as ideias iluministas são mencionadas como importante fator influenciador em 07
coleções38, essas ideias eram difundidas entre os colonos, que se viam embalados pelas ideias
de liberdade e participação política e entravam em choque com a carga de impostos e
restrições adotadas pela metrópole.

Para além desta ligação com o iluminismo, o tema da Independência das Treze
Colônias é tido como um fator influenciador ideológico na Independência da América
espanhola.39 Por fim, cabe acrescentar que, em relação ao tema da Independência dos
Estados Unidos, existe uma coleção40 que menciona sua presença como influenciadora em
movimentos no Brasil, para ser mais exato, na Conjuração Mineira 41. Percebe-se então
conexões e linearidade entre esses temas, e isso fica explicito nas disposições dos capítulos,
que seguem exatamente a cronologia das independências.

A relevância do posicionamento da narrativa sobre a Independência da América


inglesa pode ser mostrada por dados quantitativos e sua disposição nas coleções, observe:

Mineração → Iluminismo → Independência da América inglesa → Revolução Francesa →


Independência da América espanhola → Independência da América portuguesa

ESQUEMA DE SEQUÊNCIAS DO NÚCLEO 3

Esta é a Sequência 1 de temas do núcleo 3 42, que está presente em 10 das 15 coleções
analisadas do PNLD de 2011, cuja particularidade é ser unânime quando cada tema do núcleo
possui um capítulo próprio para desenvolvimento de narrativa. Nessa sequência verificamos
que as coleções tendem a posicionar a “Revolução Americana” antecedida por Iluminismo e
precedida pelas outras revoluções pelo Ocidente, ressaltando sua importância como fator
influenciador ideológico nos outros eventos. Há ainda aquelas sequências que são chamadas
de extraordinárias, por abordarem dois temas do núcleo em um único capítulo:

38 Coleção 01 - “História”, coleção 03 - “História e vida integrada”, coleção 06- “História Temática”, coleção
07 – “Navegando pela História”, coleção 08 – “Novo História”, coleção 12 - “Projeto Radix” e coleção 13 –
“Saber e Fazer História”.
39 Coleção 02 - “História das Cavernas”, coleção 04 - “História em Documento”, coleção 05 - “Históruia
Sociedade e Cidadania” e a coleção 07 – “Navegando pela História”.

40 Coleção 12 – “Projeto Radix”.


41 ver Relcon independência da América portuguesa.
42. Ver REGSUM-NUCLEO3-13-09.
Sequência 4: Mineração → Iluminismo e Independência da América inglesa → Revolução Francesa
→ Independência da América portuguesa → Independência da América espanhola

Sequência 5: Mineração → Iluminismo e Independência da América inglesa → Revolução Francesa


→ Independência da América espanhola → Independência da América portuguesa

ESQUEMA DE SEQUÊNCIAS EXTRAORDINÁRIAS

Essas sequências, presentes em uma coleção cada43, não só mostram como as ideias
iluministas são importantes para independência das 13 colônias, ao tratar os temas em um
único capítulo, mas também mostra que, no total 44, 12 coleções tratam da questão de
emancipação da América inglesa antes das outras revoluções, tendo nexo cronológico, já que
ela se deflagra em 1776, treze anos antes da Revolução Francesa e vinte e oito anos do início
da independência haitiana, agindo como precursora de outros movimentos separatistas.

INDEPENDÊNCIA DA AMÉRICA PORTUGUESA

O processo da Independência do Brasil é abordado nas quinze coleções analisadas 45, a


temática é trabalhada juntamente com os capítulos da chegada da Família Real em seis
coleções46 e possui capítulo próprio em nove coleções47.

As revoltas que ocorreram no território do Brasil não contribuíram para a


proclamação da independência, esta foi realizada com o apoio das elites a d. Pedro para
manutenção de privilégios, como manter a escravidão e controlar as possíveis revoltas
populares. E, apesar desses movimentos não buscarem a separação de Portugal, uma coleção
traz a Revolta do Rio de Janeiro tendo como objetivo a independência48 da metrópole. Ela é
apresentada como um movimento que discutia assuntos filosóficos e políticos que ocorriam
na Sociedade Literária do Rio de Janeiro em 1786. O movimento defendia a independência
do Brasil em relação a Portugal.

A conjuração Baiana em1798, por outro lado, possui um diferencial em relação às


outras revoltas que ocorreram no reino, porque ela reivindicou o fim da escravidão. Dentro do

43A Sequência 4 (EXTRAORDINÁRIA) refere-se a coleção 10, enquanto a 5 refere-se a coleção 12.
44 Levando em consideração as sequências ordinárias e extraordinárias.
45 RELCON-INDEPENDENCIA p, 2
46 RELCON-INDEPENDENCIA p,3
47 RELCON-INDEPENDENCIA p,3
48. Coleção 9 – Para entender a História, conforme RELCON pág. 11.
movimento circulavam as idéias iluministas, e a Independência da América Inglesa é tida
como um fator influenciador.49
Quanto à conjuração Mineira em 1789, apenas uma coleção 50 faz menção direta ao
pensamento Iluminista e a Independência dos Estados Unidos, ela expõe que os revoltosos
colonos de Vila Rica (principal cidade de Minas na época) organizaram a Conjuração
Mineira. Muitas pessoas aderiram à conjura porque estavam endividadas com Portugal, ou
eram acusadas de contrabando, ou ainda porque haviam perdido cargos importantes no
governo colonial.

Por último, temos a Revolução Pernambucana, em que apenas a coleção 12 – Projeto


Radix faz menção a ideias externas, mas em um box informativo, mostrando que a
transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro não havia eliminado as dificuldades
econômicas do Nordeste e os pesados impostos cobrados pelas autoridades.

A isso se somavam as ideias de liberdade e independência que circulavam na Europa e


na América, ocasionando, em 1817, uma rebelião em Pernambuco. É importante destacar que
todos os capítulos que apresentam revoltas no tema de Independência da América Portuguesa
se situam, no livro didático, após os outros temas do núcleo 3. Os pensamentos iluministas
transitam entre as narrativas sobre as revoluções que ocorrem pelo continente americano,
movimentos emancipatórios eclodem e as colônias tornam-se repúblicas independentes. Os
franceses, insatisfeitos com o absolutismo, também se revoltam e viram uma república,
enquanto no Brasil a monarquia permanece, mesmo após o rompimento com Portugal, e
ainda há a figura do poder moderador, uma forma implícita de absolutismo, em que o rei
mantém os poderes que tinha antes do processo de independência. O processo se deu por
disputas entre interesses das cortes e da elite, a independência nasceu monárquica e se
manteve assim.

Dito isto, nota-se a ausência de uma ligação direta da emancipação do Brasil com as
ideias iluministas, apesar de sua presença nas revoltas antecedentes. A coleção 6 é a única
que fala primeiro da independência brasileira para depois explicar o iluminismo 51. E, levando
em consideração como as revoluções na América espanhola influenciaram o que ocorreu no

49. Coleção 5 – História e cidadania, coleção 7 – Navegando pela História, coleção 8 – Novo História –
conceito e procedimento, coleção 9 – Para entender a História, coleção 13 – Saber e fazer História e coleção
14 – Tudo é História, conforme RELACON pág. 12.
50. Coleção 7 – Navegando pela História, conforme RELCON pág. 12.
51. Ide ao anterior.
Brasil, há uma sequência anômala, que é a da coleção 1052, que apresenta a independência da
América portuguesa primeiro.

MINERAÇÃO

A era de mineração no território da colônia portuguesa na América, que ocorreu por


volta do século XVIII, foi o período em que a economia na colônia era predominada pela
extração de metais preciosos. E os livros didáticos do PNLD 2011 apresentam três
explicações53 para o início do período de mineração, mas que, de alguma maneira, acabam
dialogando entre si. São elas: a crise econômica que surge com o fim da União Ibérica; a
menção direta da decadência do comércio do açúcar e; as expedições bandeirantes realizadas
no interior54. E embora este período possa parecer um pouco destoante dos outros temas do
núcleo 3, algumas coleções trazem narrativas atípicas55, legitimando a permanência desse
tema no núcleo, conforme tabela abaixo:

Assunto atípico para a narrativa sobre Temas do núcleo 3 que os assuntos


mineração56 atípicos se relacionam

Período Pombalino Iluminismo


Iluminismo; Independência da América
Iluminismo e Revoluções pelo Mundo
inglesa e Revolução Francesa
Conjuração Mineira e Conjuração Iluminismo; Independência da América
Baiana inglesa e Revolução Francesa

Voltando a questão do fator detonador nas narrativas do período analisado, foi feito
um levantamento da presença desses temas nos livros didáticos, desde que estivesse fora do
capítulo relativo à mineração, para que pudessem se encaixar no conceito de temas satélites.
Contudo, foi observado que há uma discrepância em relação a recorrência desses tópicos nos
livros didáticos. Observe:

52. Ide ao anterior.


53. Conforme RELCON-MINERACAO-13-03.

54. Fragmentos sintetizados das variadas narrativas sobre as causas da mineração.

55 Esses assuntos estão sendo chamados de atípico por conta da falta de recorrência nas narrativas sobre
mineração nos livros didáticos.

56. Informação podendo ser encontrada na tabela ASSUNTO X COLEÇÃO de RELCON-MINERACAO-13-03.


Fator detonador57 Tema satélite58

Crise financeira decorrente do fim da União Ibérica (está presente em 8


União Ibérica (presente em 6 coleções) coleções)
Decadência do comércio do açúcar Economia açucareira (está presente
(presente em 2 coleções) em 14 coleções)
Expedições realizadas pelos Bandeirantes (está presente nas 10
bandeirantes (presente em 5 coleções) coleções)

Conforme analisado, o fator detonador de maior recorrência, a crise relativa a União


Ibérica, é o que menos tem capítulos específicos nos livros didáticos. Enquanto o que aparece
apenas duas vezes para justificar as minerações, que é a decadência do comércio do açúcar,
possui catorze capítulos para desenvolvimento de uma narrativa própria, suscitando
questionamentos acerca do que seria realmente relevante para a compreensão do tema aqui
analisado, dado que, conforme supracitado, esses fatores acabam dialogando entre si e pode
haver algum tipo de ponte nesses capítulos que acaba justificando os esforços para encontrar
pedras preciosas.
Algumas coleções59 trazem tópicos atípicos, registrando, em suas narrativas, eventos
que sofrem influências estrangeiras, que ao menos elas tenham sido apresentadas. O primeiro
deles é o Período Pombalino, que trata do governo de Sebastião José de Carvalho, o Marquês
de Pombal, o ministro de D. José, de 1750 a 1777 60. Sua forma de administrar a metrópole a
colônia é um dos exemplos de despotismo esclarecido contidos nas narrativas sobre
Iluminismo61. Agindo com “rigor e disciplina”, o ministro foi responsável por reformas
como: a expulsão das ordens jesuíticas de todo o território português, centralizou poderes
que, até então, eram dos capitães donatários, aboliu a escravidão indígena e a perseguição a
cristãos-novos, assim como também pois fim à prática escravista na metrópole. Contudo, o
capítulo sobre Mineração e o sobre Iluminismo não estão nem no mesmo ano da coleção
analisada62:

57. A coleção 15 não apresenta fator detonador no texto principal.

58. Registrados em REG-MINERACAO-13-09.

59. Coleção 2, 3, 8 e 15.

60 Informações contidas em REG-MINERACAO-13-09, decorrentes da coleção 2.

61. Conforme tópico sobre Despotismo Esclarecido em RELCON-ILUMINISMO-06-03.

62. Coleção 2 – História – das cavernas ao terceiro milênio.


CAPÍTULO 14 (7º ano): A mineração → CAPÍTULO 2 (8º ano): O Iluminismo63

Mas o que realmente chama a atenção é o tópico Iluminismo e Revoluções pelo


mundo, presente nas coleções 3, 8 e 15, no qual é narrado que os jovens entravam em contato
com os ideais iluministas, também é narrado que as Treze Colônias inglesas estavam
insatisfeitas com as altas taxações realizadas pela coroa inglesa, fomentando sentimentos
revoltosos que culminaram na Revolução Americana64. Todavia, a coleção 8 é a única que
apresenta os temas Iluminismo e Independência da América inglesa antes de mineração,
dando sentido a narrativa.

63. Maiores informações em SEQUÊNCIA 1 (EXTRAORDINÁRIA), para ver como os capítulos se relacionam.

64 Termo presente na coleção 15, mas o assunto é abordado na coleção 8 e 15. RELCON-MINERACAO-13-03.

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