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Aplicação da Robótica nos Centros Cirúrgicos

Mariana Fraga Rosa Michele Santos Moreira

Instituto Nacional de Telecomunicações - Inatel Instituto Nacional de Telecomunicações - Inatel


mah_fraga09@hotmail.com michelesantos@geb.inatel.br

Prof. Msc . João Bosco Assis Leite


Instituto Nacional de Telecomunicações – Inatel
jbosco@inatel.br


Resumo— Este artigo relata a aplicação da robótica nos centros O robô “ativo” consiste em um sistema capaz de mover os
cirúrgicos, em especial o uso do Sistema robótico Da Vinci™ no instrumentos utilizados na cirurgia. [2]
Brasil. Abordando sua história, estrutura, funcionamento,
acessibilidade, aplicações e formação do profissional para o A. História
manuseio do sistema. Destaca também suas vantagens e O conceito inicial de robótica em cirurgia teve início na
desvantagens e faz uma comparação entre a cirurgia robótica e a década de 80 e envolvia a ideia de realizar uma operação em
convencional. local distante de onde estava o cirurgião. Esta possibilidade
Palavras chave— Cirurgia Robótica, Robô Da Vinci, Cirurgia atraiu os militares norte-americanos, que iniciaram o
minimamente invasiva, Aplicações da robótica.
desenvolvimento de robôs visando a realização de cirurgias no
campo de batalha, mediante controle remoto pelo médico. [2]
I. INTRODUÇÃO
Contudo, não obteve êxito devido às limitações da Internet.
A cirurgia robótica iniciou-se nos Estados Unidos entre Entre o final da década de 90 e o começo do século 21, os
1999 e 2000, no Brasil vem ganhando seu espaço desde 2008. robôs cirúrgicos foram aprimorados. O primeiro sistema para
A cirurgia é assistida pelo robô da Vinci Surgical System™, cirurgia robótica foi o AESOP™, exemplo de robô passivo,
desenvolvido pela empresa americana Intuitive Surgical, desenvolvido pela Computer Motion, trata-se de um braço
encontram-se quatro em território nacional. Consiste em um mecânico que segura a ótica laparoscópica e pode ser
tipo de cirurgia minimamente invasiva e dá aos pacientes uma controlado pelo cirurgião com pedais ou com comando de
série de boas alternativas que não existiam. voz. Em 1995, a Computer Motion desenvolveu o robô
Zeus™ a partir do AESOP™, é um robô ativo que possui três
II. SISTEMA ROBÓTICO DA VINCI braços, dois para manusear os instrumentos e um terceiro para
operar uma câmera, a qual é gerenciada pelo primeiro sistema.
Segundo o Robot Institute of America, o robô é definido Enquanto isso, a empresa Intuitive Surgical desenvolveu o Da
como “um manipulador multifuncional reprogramável feito Vinci™, tornado-se o sistema robótico ativo mais completo, já
para mover materiais, ferramentas ou instrumentos que partiu da melhoria de seus antecedentes. [3]
especializados por intermédio de movimentos programados
para realização de várias tarefas”. [1] Os robôs de utilização
cirúrgica podem ser classificados de forma geral em: passivos B. Estrutura
e ativos. Um robô “passivo” seria utilizado para posicionar O sistema Da Vinci™, é composto por quatro braços
corretamente um instrumento fixo e depois seria desligado. robóticos com flexibilidade de 360°, um deles manipula um
endoscópio estéreo que gera imagem 3D e os outros
manipulam hábeis instrumentos cirúrgicos, como tesouras,
pinças e bisturi. Integrando o sistema tem-se um console, no
qual os médicos recebem as imagens tridimensionais de alta
Manuscrito recebido em 5 de dezembro de 2012; revisado em 25 de definição e realizam os movimentos operatórios com as
fevereiro de 2013.
M. F. Rosa (mah_fraga09@hotmail.com) e M. S. Moreira próprias mãos. [4] Nele encontram-se sensores capazes de
(michelesantos@geb.inatel.br) pertencem ao Instituto Nacional de medir as forças de interação da ferramenta nos tecidos, bem
Telecomunicações - Inatel. Av. João de Camargo, 510 - Santa Rita do Sapucaí como um sensor de presença. [5] Além de um conjunto de
- MG - Brasil - 37540-000.
hardware externo, o sistema conta com um software Cirurgiões mais experientes apresentam uma curva de
responsável pelo posicionamento das ferramentas, tendo como aprendizagem mais rápida, utilizando o sistema cirúrgico Da
base a matemática matricial. Dentre as diferenças em relação Vinci™ do que cirurgiões no início da carreira, possibilitando
ao Zeus™ estão: a câmera controlada por um pedal e a ótica aos primeiros, adicionar rapidamente novos e inovadores
que permite ao cirurgião a construção de imagem 3D. [3] procedimentos terapêuticos, aos que já consegue realizar. É
Ainda que o Da Vinci™, seja o sistema robótico mais importante que o cirurgião esteja apto à realizar os dois
completo, tem suas limitações, ao afastar-se dos tecidos o procedimentos, na possibilidade de ter de converter uma
cirurgião perde totalmente o feedback tático . Limitando de cirurgia robótica para uma cirurgia aberta devido a qualquer
modo crucial a identificação e exame das várias propriedades eventualidade. Nos EUA, a FDA exige que qualquer cirurgião
dos tecidos moles (consistência, viscosidade e elasticidade), que pretenda utilizar este sistema cirúrgico frequente cursos
pelo que a identificação de margens de tumores ou mesmo de de formação ministrados pelo fabricante. Na Europa não
alterações patológicas de tecidos aparentemente normais, fica existe tal exigência, contudo a formação cirúrgica na
gravemente comprometida. [6] utilização do sistema Da Vinci™, passa por uma primeira
fase, que decorre fora do bloco operatório, de familiarização
C. Funcionamento
ao sistema, aos vários componentes e procedimentos técnicos
O processo começa com informações sobre o paciente, tais de preparação do sistema; e também pela aquisição de
como imagens, resultados de testes, informação genética e os competências técnicas motoro-visuais básicas, através do uso
sintomas. Esta informação é combinada com a anatomia e de simuladores. Numa segunda fase, o cirurgião irá presenciar
fisiologia humana criando uma representação do paciente que vários procedimentos cirúrgicos realizados por um cirurgião
é utilizado para formular um plano de intervenção. [4] Feito experiente no uso do sistema, iniciando posteriormente a
estes procedimentos, no console o cirurgião com melhor visão realização de cirurgias sobre supervisão, onde irá maturar
dos órgãos e melhor conforto atua em terminal de operação todas as competências adquiridas previamente.[6] Segundo
fazendo os mesmos movimentos de uma cirurgia tradicional cirurgiões altamente qualificados, como K. Ashutosh Tewari,
que são imitados com precisão pelo robô. Os instrumentos do Weill Cornell Medical College, em Nova York, dizem que
reproduzem simultaneamente os movimentos das mãos e do demora cerca de 200-300 procedimentos para as cirurgias
pulso do cirurgião que são filtrados e medidos por um sensor assistidas por Robô se tornarem altamente proficientes.
de força. [5] Tewari fez 3,2 mil. [4]
D. Segurança F. Acessibilidade
Quanto à segurança, os objetivos são evitar lesões em seres No Brasil, o custo do robô sai em torno de R$ 2,5 milhões.
humanos que trabalham próximo do robô e impedi-lo de [4] Pode ser visto em ação em três hospitais privados de São
danificar outro equipamento, ou a peça de trabalho. O robô Paulo; Hospital Albert Einstein, Hospital Sírio Libanês e
deve fornecer um sistema para assegurar que as falhas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz. Em novembro de 2012, o
sensor não leve-os a posicionar incorretamente a ferramenta Hospital de Câncer de Barretos, conhecido por oferecer
de corte ou de guia. atendimento gratuito e manter boa parte de sua estrutura com
Nos Estados Unidos, dispositivos médicos devem ser doações de artistas e do setor, começou a realizar operações
habilitados para o mercado pela Food and Drug com o robô Da Vinci™. Como o SUS não remunera cirurgias
Administration(FDA). O sistema Da Vinci™ tem sido robóticas, o custeio dos procedimentos virá de outras fontes
sucessivamente aprovado pela FDA para utilização em vários tradicionais do hospital, como leilões de gado e ações
ramos cirúrgicos. Empresas médicas de equipamentos devem beneficentes. [7] Além do alto custo para a aquisição do robô
respeitar os regulamentos do sistema de qualidade (QSR) e ainda são gastos mais R$ 200 mil anualmente para sua
são periodicamente auditados pelo FDA para verificar o manutenção, feita por um Engenheiro Biomédico. [4] Tal
cumprimento. Os processos de fabricação devem cumprir o manutenção consiste nos seguintes aspectos: o início e fim de
International Standards Organization (ISO) 9001 e 9002. garantia; as calibrações necessárias bem como um registro das
Deve notar-se que a obtenção de aprovação ainda não é o intervenções efetuadas e respectivo planejamento. [8]
suficiente para garantir o sucesso comercial. Obviamente, é
necessária relação custo-benefício favorável. [5]
E. Formação do profissional G. Cirurgia Robótica x Cirurgia Convencional
A formação em técnicas de CMI (Cirurgia minimamente
A cirurgia robótica tem grande aplicação nas áreas: da
invasiva) é mais desafiante e mobiliza mais competências do
urologia, da ginecologia, da cardiologia e da
que na cirurgia aberta. Por isso existe a necessidade de
gastroenterologia. [10] A tabela abaixo apresenta um
recorrer ao treino em cadáveres de animais ou humanos, uma
comparativo entre a cirurgia robótica e a cirurgia
outra alternativa é a utilização de simuladores mecânicos e convencional. Porém, vale destacar a necessidade de
virtuais que tiveram um papel importante, pois médicos e profissionais técnicos altamente capacitados para
proporcionaram ao cirurgião aquisição rápida das o uso da técnica robótica e aptos a executar a técnica
competências básicas, sem por em risco a vida dos pacientes.
convencional se ocorrer qualquer falha mecânica ou humana desconforto no pós-operatório, na diminuição de perdas
durante o procedimento operatório. sanguíneas durante o procedimento, no

PERDA DE TEMPO DE TAMANHO DOS CORTES


SANGUE INTERNAÇÃO CIRURGICOS

150
Robótica De 1 a 2 dias De 1 a 3 cm, perto do umbigo
Extração mililitros
UROLOGIA
radical da
700
próstata Convencional De 3 a 4 dias 15cm, abaixo do umbigo
mililitros

150
Robótica 2 dias De 1 a 10 cm, na região lombar
mililitros
Extração
total de rim 500
Convencional 4 dias 20cm, abaixo do umbigo
mililitros

100
Robótica De 1 a 2 dias De 1 a 3 cm, na região pelvica
mililitros
GINECOLOGIA Extração de
mioma 400
Convencional De 3 a 4 dias De 10 a 20 cm, na região pelvica
mililitros
100
Robótica 2 dias De 1 a 3 cm, na barriga
mililitros
Extração do
útero 300
Convencional De 4 a 5 dias 10 cm, na barriga
mililitros
200
Robótica De 3 a 4 dias 1 cm, no peito
Ponte de mililitros
CARDIOLOGIA
safena e Convencional 400
mamaria 10 dias 25 cm, no peito
mililitros
Robótica 200
De 3 a 4 dias 1 cm, no peito
Troca de mililitros
válvula 400
cardíaca Convencional 10 dias 20 cm, no peito
mililitros
Robótica 50
3 dias De 1 a 3 cm, na região pélvica
mililitros
GASTROENTEROLO- Retirada de
GIA tumor no reto 400
Convencional 1 semana 25 cm, na região pélvica
mililitros
Robótica 100
De 1 a 2 dias, na UTI 1 cm, no tórax
Retirada de mililitros
tumor no 600
esôfago Convencional 1 semana, na UTI De 20 a 30 cm no tórax
mililitros
Robótica 250
12 dias De 1 a 5 cm, na barriga
Retirada de mililitros
tumor no 750
pâncreas Convencional 15 dias 35 cm, na barriga
mililitros
Robótica 250
De 4 a 5 dias De 1 a 5 cm, na barriga
Retirada de mililitros
tumor no 750
fígado Convencional 10 dias 30 cm, na barriga
mililitros
Tabela 1 – Cirurgia Robótica x Cirurgia Convencional - Revista Veja,
23 de novembro de 2011.

menor tempo de permanência no hospital e ainda oferece a


H. Vantagens e Desvantagens
oportunidade de retorno mais rápido às suas atividades diárias.
Graças a sua combinação de recursos, a robótica confere ao [9] Em controvérsia, há algumas barreiras que dificultam a
cirurgião maior destreza e controle durante os procedimentos realização desse tipo de cirurgia, que são a falta de médicos
em áreas delicadas, mais conforto durante a cirurgia e pode preparados para o manuseio. Além disso, entre as opções
efetuar tarefas que lhes causam riscos evitando o contato cirúrgicas, a cirurgia robótica é a mais cara, conta com o
direto do profissional com um paciente infectado. A Cirurgia elevado preço do equipamento e manutenção, e para
Robótica disponível para o tratamento de diversas patologias complicar, os planos e seguros de saúde não reembolsam o
pode beneficiar pacientes na diminuição da dor e do
aluguel do robô, o qual custa de R$ 6 mil a R$12 mil reais,
sempre pago pelos pacientes. [4]

I. Imagens do Sistema Robótico Da Vinci

Fig. 3. Incisões em um procedimento na área de gastroenterologia. [12]

III. CONCLUSÕES
Com base neste ano de estudos e pesquisas concluímos que o
sistema robótico Da Vinci™ é visto de forma positiva pela
sociedade, tendo grande aceitação pela classe dos cirurgiões e
pacientes devido aos benefícios que oferece. É um sistema
moderno, dotado de altas tecnologias e bem planejado,
visando o conforto daqueles que o manuseia e o alívio dos que
o escolhem. Contudo, ainda que esteja provada a sua eficácia,
ele não passa de uma ferramenta de trabalho, sem autonomia
nenhuma, sem o homem por trás dele nada seria efetivado. Foi
um estudo realmente interessante e instrutivo. A expectativa é
que esse sistema seja acessível a todas as classes e
Fig. 1. Estrutura do Sistema Robótico daVinci. [12]
aperfeiçoado, para poder atender mais necessidades e facilitar
um procedimento cirúrgico.
.

IV. REFERÊNCIAS
[1] Ryan A. Beasley - Medical Robots: Current Systems and Research
Directions

[2] Emprego de sistemas robóticos na cirurgia cardiovascular* Roberto T.


SANT´ANNA1, Paulo R. L. PRATES 2 , João Ricardo M.
SANT´ANNA2 , Paulo R. PRATES 2 , Renato
K. KALIL 2 , Diogo E. SANTOS 1 , Ivo A. NESRALLA.

[3] Clínica Vladimir Schraibman – Cirurgia Robótica


http://www.cirurgiarobotica.med.br/?cirurgia%20robotica=www.cirurgia
robotica.med.br  
 
[4]      LEMES, Conceição. “Tempos Modernos? Cirurgia Robótica”, in:
Revista
Onco&, Iaso Editora, Dezembro 2011/ Janeiro-Fevereiro 2012.

[5] Biomedical Information Technology - Academic Press Series in


Biomedical Engineering - Edited by David Dagan Feng.

[6] Diogo Nuno Martins Félix Rodrigues Veiga Dissertação de Mestrado


Integrado em Medicina. Porto, 2011. Instituto de Ciências Biomédicas
Abel Salazar

[7] Saúde Web


http://saudeweb.com.br/32073/hospital-de-barretos-ganha-robo-da-vinci-
Fig. 2. Destreza das pinças. [12] para-cirurgias/

[8] Manso, Joana Maria Dias- Práticas de gestão de equipamentos médicos


no
Hospital da Luz. Dissertações de mestrado – 2012

[9] Albert Einstein- Cirurgia Robótica


http://www.einstein.br/einstein-saude/pagina-einstein/Paginas/cirurgia-
robotica-em-urologia-e-ginecologia.aspx

[10] CREMESP- Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo


http://www.cremesp.org.br/?siteAcao=Revista&id=444

[11] Revista Veja – 23 de novembro de 2011.


[12] Revista Galileu -
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Common/0,,ERT204049-
17770,00.html

[13] SisSaúde
http://www.sissaude.com.br/sis/inicial.php?case=2&idnot=6623

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