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ÂNGELA VIEIRA-

Coordenadora de Educação IDAAM-POSGRADO


Profª. Mestra em Educação e Psicóloga - CRP 0687- 20ª região.

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – TCC

CURSO: DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

ALUNO: SAMARA BRENAIRE PINHEIRO DA ROCHA

TURMA: DC76A

ANO: 2018

TEMA: PLANO DE ENSINO E APOSTILA TEMÁTICA


COORDENAÇÃO DE EDUCAÇÃO
PROJETO BÁSICO PARA TCC
ALUNO: SAMARA BRENAIRE PINHEIRO DA ROCHA
TURMA: DC76A ANO: 2018
SUMÁRIO
PÁG
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................03
1- O QUE É PLANO DE ENSINO........................................................................................................04
2- IMPORTÂNCIA DO PLANO DE ENSINO........................................................................................05
3- PLANO DE ENSINO.....................................................................................................................06
4-APOSTILAS..................................................................................................................................09
4.1 – MÓDULO I: CAPITALISMO, QUESTÃO SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL............................................11
4.1.1. A SOCIEDADE CAPITALISTA E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL.........................................11
4.1.2. PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS NA ORDEM DO CAPITAL........................13
4.1.3. O ESTADO NA ERA DOS MONOPÓLIOS...................................................................................16
4.1.4. A QUESTÃO SOCIAL: OBJETO DE INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL.....................................18
4.1.5. SERVIÇO SOCIAL: CONCEITOS RELEVANTES............................................................................20
4.2-MODULO II: A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO SERVIÇO SOCIAL.....................................................23
4.2.1. O INÍCIO DE UMA GRANDE JORNADA....................................................................................23
4.2.2. SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA...................................................................................25
4.2.3. A CHEGADA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL..........................................................................29
4.2.4. AS PRIMEIRAS ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL.........................................................32
4.3-MÓDULO II: O SERVIÇO SOCIAL E O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO.................................35
4.3.1. ROMPENDO COM O CONSERVADORISMO.............................................................................35
4.3.2. SEMINÁRIOS IMPORTANTES NO MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO....................................37
4.3.2.1 SEMINÁRIO DE ARAXÁ........................................................................................................37
4.3.2.2 SEMINÁRIO DE TERESÓPOLIS..............................................................................................41
4.3.2.3 SEMINÁRIO DE SUMARÉ E ALTO DE BOA VISTA...................................................................44
4.4- MODULO IV: AS BASES DO SERVIÇO SOCIAL AO LONGO DA HISTÓRIA....................................47
4.4.1. POSITIVISMO.......................................................................................................................47
4.4.2. FENOMENOLOGIA................................................................................................................49
4.4.3. NEOTOMISMO.....................................................................................................................51
4.4.4. MATERIALISMO HISTÓRICO- DIALÉTICO................................................................................53
5- BIBLIOGRAFIAS UTILIZADAS......................................................................................................58

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INTRODUÇÃO

Atualmente a área da educação vem crescendo de forma cada vez mais acelerada, dessa
forma, profissionais das mais diversas áreas vislumbram uma grande oportunidade de
ingresso no mercado de trabalho e também de realização profissional, dessa forma, buscam
mergulhar nesse cenário tão importante da sociedade, a Docência no Ensino Superior, mas,
adentrar nesse campo de atuação requer uma preparação específica, pois a docência na
educação superior, apesar de encantadora, é uma tarefa complexa que exige o exercício de
múltiplos saberes e para isso é necessário que além aprimorarmos conhecimentos específicos
da área, tenhamos embasamento teórico e prático, ou seja, aspectos profissionais,
pedagógicos, humanos e formativos da área docente.

Neste trabalho de conclusão será apresentada a percepção adquirida quanto a conhecimentos


pedagógicos importantes para o desenvolvimento das atividades quanto docentes no ensino
superior, faremos um breve relato do que é um plano de ensino e a sua importância para
fortalecimento e otimização da prática profissional, acompanhado a isso, traremos uma
apostila de Fundamento Históricos Teóricos e Metodológicos – FHTM, voltada para o curso
de Serviço Social, que fará um aparato histórico da profissão.

A formação para docentes no ensino superior acontece de forma categórica e seus


conhecimentos específicos são considerados extremamente necessários e valorizados diante a
avaliação nas instituições e esse preparo só evidencia a intensidade da construção da
identidade desses profissionais críticos, reflexivos e competentes no ensino superior.

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1. O QUE É PLANO DE ENSINO?

O Plano de Ensino é um plano de ação que registra o planejamento das ações pedagógicas
para o componente curricular durante o período letivo. É um instrumento didático-pedagógico
e administrativo de elaboração e uso obrigatórios. Sendo planejamento, o plano de ensino
também é estratégico, reflexivo, crítico e dinâmico, devendo, no decorrer de seu percurso de
aplicação, ser revisado, questionado e aprimorado.

É importante colocar em evidência que esse planejamento deve considerar as condições


atuais, experiências anteriores, aspectos contextuais e pensamentos filosóficos, culturais,
econômicos e políticos de quem está planejando e com quem se está planejando.

Este plano vem tratar de decisões do tipo: o que se pensa em fazer, como fazer, quando fazer,
com que fazer, com quem fazer. Para que esse plano exista é importante que haja um diálogo
quanto aos fins e objetivos, para assim chegar ao nível mais alto dos mesmos.

O plano de ensino deve conter os dados de identificação da disciplina, ementa, objetivos,


conteúdo programático, metodologia, avaliação e bibliografia básica e complementar da
disciplina e deve ser apresentado aos alunos até o primeiro dia de aula daquela atividade, via
Portal do Aluno, podendo também ser entregue em sala de aula ou por e-mail.

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2. QUAL A IMPORTÂNCIA DO PLANO DE ENSINO?

É com base no plano de ensino que o professor irá preparar suas aulas e organizar um
cronograma com o conteúdo programático. A elaboração do Plano de Ensino visa facilitar o
acompanhamento do planejamento pedagógico dos cursos por parte da coordenação, direção e
alunos, permitindo a divulgação das metodologias e dos critérios a serem adotados e dos
conteúdos de cada componente curricular dos cursos, ele facilita e incentiva a
interdisciplinaridade no planejamento pedagógico.

Dessa forma, o plano de ensino é importante para ambas às partes, para o professor que terá
um planejamento condizente com o que lhe é determinado e poderá desenvolver aulas de
qualidade e para os alunos que poderão conhecer de antemão o que será trabalhado durante o
período letivo e como serão desenvolvidas as aulas.

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3. PLANO DE ENSINO

PLANO DE ENSINO

CURSO SERVIÇO SOCIAL

DISCIPLINA FHTM I

PROFESSOR SAMARA BRENAIRE

Nº DE CRÉDITOS 4 CARGA HORÁRIA 80 HORAS

MARCO REFERENCIAL

O curso de Serviço Social prepara profissionais para atuarem frente


às expressões da questão social, formulando e implementando

PERFIL DO propostas de intervenção para seu enfrentamento, com capacidade


EGRESSO de promover o exercício pleno da cidadania e a inserção criativa e
propositiva dos usuários do Serviço Social no conjunto das relações
sociais e no mercado de trabalho.

A disciplina de FHTM I possibilita ao aluno contextualizar


historicamente, politicamente, economicamente e socialmente a
CONTEXTUALIZAÇÃO
trajetória do serviço social, identificando as direções teórico-
DA
metodológicas que o Serviço Social percorreu dos primórdios até a
DISCIPLINA
atualidade, bem como as concepções e perspectivas de autores
contemporâneos frente a seu processo de renovação.

Serviço social; Aspectos históricos; Capitalismo; Conservadorismo;


EMENTA
Ruptura; Questão Social;

MARCO OPERACIONAL

Definir a trajetória histórica do Serviço Social e seu processo de


OBJETIVO GERAL DA
DISCIPLINA institucionalização, analisando sua prática profissional frente às
perspectivas modernizadoras.

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 Apontar o significado social da profissão e do seu
desenvolvimento sócio histórico;
 Explicar o surgimento do serviço social em meio às relações
OBJETIVOS
sociais capitalistas;
ESPECÍFICOS DA
DISCIPLINA  Narrar o movimento histórico da sociedade na América
Latina e no Brasil, apreendendo as particularidades do serviço
social do serviço social, sob influência americana e européia;
 Debater o movimento de reconceituação;

MÉTODOS Aulas expositivas; Discussão em pequenos grupos;Brainstorming.

RECURSOS Notebook; Data show; Vídeos;Ambiente Virtual.

UND ASSUNTO

UNIDADE I: Capitalismo, questão social e serviço


I
social.

UNIDADE II: A trajetória histórica do serviço


II
social.
CONTEÚDO
PROGRAMÁTICO
UNIDADE III: O Serviço Social e o movimento
III
de reconceituação.

UNIDADE IV: As bases do serviço social ao


IV
longo da história.

a) PARCIAL 1-Debates em grupo e Entrega de relatórios.

b) AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL 1 –Prova Escrita Individual.


AVALIAÇÃO
c) PARCIAL 2 - Atividades em grupo a cada aula.

d) AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL 2 – Prova Escrita Individual.

Albonette, Eliana Aparecida Gonçalez. Serviço social no Brasil:


panorama histórico e desafios [livro eletrônico]. Curitiba:
InterSaberes, 2017.(Série Metodologia Do Serviço Social) 2Mb; PDF
REFERÊNCIAS
BÁSICAS
Iamamoto, Marilda e CARVALHO, Raul. Relações Sociais e Serviço
Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-
metodológico. 41.ed. São Paulo, Cortez: CELATS, 2014.

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Alves, Marcia Oliveira. Desafios Históricos do serviço social [livro
eletrônico]. Curitiba: InterSaberes, 2016.(Serie Metodologia do
REFERÊNCIAS Serviço Social) 2Mb; PDF
COMPLEMENTARES
Netto, José Paulo. Ditadura e serviço social: uma análise do serviço
social no Brasil pós-64. 8a.ed. São Paulo: Cortez, 2005.

GRANEMANN, Sara. O processo de produção e reprodução social:


trabalho e sociabilidade. Disponível em <
http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/s709726Gx6l8W29E12Si.pdf
>

SCHER, Aline Juliana. O que é serviço social?Fundamentos da


profissão no Brasil e desafios atuais para o Exercício profissional.
Disponível em <http://cac-
php.unioeste.br/eventos/servicosocialunioeste/docs/edicao_atual/Sche
FONTES DA
INTERNET r.pdf>

Serviço Social em Revista / publicação do Departamento de Serviço


Social, Centro de Estudos Sociais Aplicados, Universidade Estadual
de Londrina. – Vol. 4 n. 1 (Jul/Dez. 2001)-. –Londrina: Ed. UEL,
2003. Disponível em <http://www.uel.br/revistas/ssrevista/n1v4.pdf>

SILVA, Anália Barbosa da; SILVA, Diego Tabosa da; JUNIOR,


Luiz Carlos de Souza. O serviço social no Brasil: das origens à
renovação ou o “fim” do “início”. Disponível em: <http://cress-
mg.org.br/hotsites/Upload/Pics/ec/ecd5a070-a4a6-4ba1-8e4a-
81b016479890.pdf>

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APOSTILA

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS TEÓRICOS E


METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL
FHTM

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Prezados alunos,
Esta apostila, direcionada ao curso de Serviço social, disciplina de FHTM,
está divida em 4 módulos:

MÓDULO I: Capitalismo, questão social e serviço social.


MÓDULO II: A trajetória histórica do serviço social.
MÓDULO III: Serviço social e o movimento de reconceituação.
MÓDULO IV: As bases do serviço social ao longo da história.

Ao final da disciplina, você será capaz de atingir os seguintes objetivos:

 Contextualizar historicamente, politicamente, economicamente e


socialmente a trajetória do serviço social em diversos momentos no
mundo;
 Analisar a direção das Políticas Sociais;
 Identificar as direções teórico-metodológicas que o Serviço Social
percorreu ao longo de sua trajetória histórica;
 Examinar os paradigmas de autores contemporâneos e sua influência nas
análises efetuadas por intelectuais assistentes sociais.
 Entender o porquê da erosão do Serviço Social Tradicional e compreender os
elementos que conduzem ao processo de renovação do Serviço Social.

Bons estudos!

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4.1. MÓDULO I: CAPITALISMO, QUESTÃO SOCIAL E SERVIÇO SOCIAL

4.1.1. A SOCIEDADE CAPITALISTA E O SURGIMENTO DO SERVIÇO SOCIAL

A sociedade produz por meio do trabalho e o modo de produção está associado à maneira
como essas relações sociais são determinadas, através da história podemos identificar que
essas relações são marcadas pela exploração do homem sobre o homem.

O capitalismo surge na queda da sociedade feudal na Europa e passou por diferentes estágios
evolutivos, porém, sem nunca abandonar sua essência, a propriedade privada dos meios
fundamentais de produção e a apropriação privada da riqueza 
socialmente produzida.
Mais-valia: é o trabalho
O capitalismo se expressa na busca excedente apropriado do
trabalhador em seu processo
incessante por lucros mediante a
de trabalho, constituindo a
troca de mercadorias e a acumulação base de lucro do capitalista.
de capital. Esse processo ocorre por

meio da mais-valia e da consequente
exploração do capital sobre o
trabalho, desdobrando-se em variadas expressões da questão social,
enraizadas classicamente na desigualdade social e na pauperização da classe trabalhadora.

Iamamoto e Carvalho (2014, p.77), nos definem muito bem o conceito quanto a questão
social:

A questão social não é senão as expressões do processo de formação e


desenvolvimento da calasse operaria e de seu ingresso no cenário politico da
sociedade, exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do
Estado. É a manifestação, no cotidiano da vida social, da contradição entre o
proletariado e a burguesia, a qual passa a exigir outros tipos de intervenção mais
além da caridade e repressão.

Vamos conhecer os estágios do capitalismo?

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1° Estágio:PRÉ-CAPITALISTA, também denominado de acumulação primitiva do
● ● ● capital, surgiu no século XVI indo até meados do século XVII. Aqui iniciou-se o

A formação de processo capitalista de produção, como a introdução da manufatura e do


monopólios é resultado comércio mercantil, dá-se a origem ao trabalho livre, assalariado.
da concorrência
desenfreada entre 2° Estágio:CAPITALISMO CONCORRENCIAL, esse foi o período da
capitalistas. Os capitais expansão da manufatura, introdução de maquinas e de novas invenções,
grandes esmagam os
avanços científicos e tecnológicos, enfim, a consolidação da indústria
pequenos.
moderna, com um amplo avanço industrial e desenvolvimento das forças
● ● ●
produtivas em um sistema produtivo pautado na concorrência entre
capitais, favorecendo a criação e a ampliação de monopólios.

3° Estágio: IMPERIALISMO, este tem como


objetivo principal a formação de monopólios e
perdura até os dias atuais. O crescimento
desproporcional entre os diversos ramos da
produção capitalista e as formas desleais de
concorrências abrem espaço para que os
capitalistas façam acordos entre si, eliminem as
desvantagens e ampliem suas margens de lucro.
O desenvolvimento de novas tecnologias foi sendo
aprimorado ao longo das décadas, porém o sistema
capitalista não ficou isento de enfrentar uma de suas
piores crises: a superprodução industrial e a crise do
petróleo. Para que essa fase fosse superada, o capital
promoveu a chamada “reestruturação produtiva” no
setor industrial, este reorganizou seu sistema de
produção fabril antes fordista para o toyotista.

Há uma relação na qual o Serviço Social está


naturalmente vinculado com a “questão social”, que foi demarcado pelas ações
assistencialistas e filantrópicas alicerçadas na doutrina social da Igreja Católica considerada
como suas protoformas, enfocando, sobretudo, questões de natureza moral e orientação
conservadora baseada no Neotomismo. A priori, os Assistentes Sociais trabalhavam

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principalmente nas instituições da Igreja Católica, fortemente ligado ás origens da profissão.
Portanto, o Serviço social tem sua gênese do antagonismo entre os interesses da classe
trabalhadora assalariada e da burguesia.

A Profissão é uma resposta ao acirramento das contradições capitalistas em sua fase


monopolista, para o “controle” da classe trabalhadora e a legitimação dos setores dominantes
e do Estado, sendo estes profissionais, absorvidos pelas instituições do Estado que se
organizavam para enfrentar a “questão social”. Passando o Estado a ser então o seu grande
empregador. Com as mobilizações e reivindicações da classe trabalhadora nas primeiras duas
décadas do século passado, abre-se o debate sobre a “questão social” em toda sociedade o que
obriga o Estado, a Igreja e a burguesia através de um pacto político a se posicionarem diante
dela.

“Segundo Netto, o surgimento do Serviço Social como profissão, está vinculado à emergência
da “questão social”, esta é conceituada por Netto como o conjunto de problemas políticos,
sociais e econômicos que reclamados pela classe operária no curso da consolidação do
capitalismo; portanto a “questão social” está atrelada aos conflitos da relação
capital/trabalho”.( Netto, 1992)

4.1.2. PRODUÇÃO E REPRODUÇÃO DAS RELAÇÕES SOCIAIS NA ORDEM DO


CAPITAL

A capacidade de produzir coisas pelo trabalho nas diferentes sociedades sempre esteve
subordinada às relações sociais construídas pelos seres sociais, ainda que as justificativas para
a permanência dos diferentes arranjos societários muitas vezes tenha invocado relações
baseadas no sangue e na hereditariedade ou em divindades para explicar o poder e a
realização da vontade das classes dominantes, em nome de
relações que somente na aparência mistificadora por elas assumida
legitimavam a ordem social como natural e, portanto, não
passíveis de transformações e de questionamentos.

No entanto, com o desenvolvimento do modo capitalista de


produzir os bens necessários à vida humana, as relações sociais
tiveram, contraditoriamente, de assumir seu caráter social e o

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trabalho passou a ser obra de contrato livremente acordado entre os homens sem outras
mediações, como a herança genética, as divindades e os heroísmos outorgantes de lugares
privilegiados nas diferentes estruturas sociais.

O contrato é estabelecido entre dois sujeitos no modo de


produção capitalista do seguinte modo: de um lado, está
o possuidor de dinheiro, dito capitalista, que precisa
encontrar no mercado uma mercadoria com
características peculiares, especiais, de modo que as
coisas produzidas no processo capitalista de produção
tenham capacidade de, ao final, alcançarem mais valor
do que aquele injetado pelo capitalista na produção no
seu momento inicial; de outro lado, está a força de
trabalho compreendida por Marx (1988, p. 187) como “o conjunto de faculdades físicas e
mentais, existentes no corpo e na personalidade viva de um ser humano, as quais ele põe em
ação toda a vez que produz valores-de-uso de qualquer espécie”.

Ao estabelecerem relações sociais estes dois sujeitos – que aqui simbolizam relações e
interesses de diferentes classes sociais – defrontam-se reciprocamente como possuidores de
mercadorias, comprador e vendedor da força de trabalho. Nessa relação reside marca
particular da sociedade capitalista: relações sociais são convertidas em relações econômicas
quando a força de trabalho é cedida pelo vendedor (o trabalhador) ao comprador (o
capitalista) como mercadoria, por tempo determinado sem que o vendedor renuncie a sua
propriedade.

As relações sociais próprias do modo capitalista de produção de mercadorias são, como


lembra Marx, produtos de um largo desenvolvimento histórico e econômico anterior que fez
desaparecer todas as anteriores formas de produção social, para que se constituísse a força de
trabalho livre. Em O Capital o trabalhador é livre em dois sentidos:

[...] o de dispor como pessoa livre de sua força de trabalho como sua mercadoria, e o
de estar livre inteiramente despojado de todas as coisas necessárias à materialização
de sua força de trabalho, não tendo além desta outra mercadoria para vender.
(MARX, 1988, p. 189).

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Estabelecida a relação entre comprador e vendedor da
força de trabalho abre-se um novo período da história
social humana no qual os bens necessários à vida
humana também serão produzidos como mercadorias.
Mercadejar com a força de trabalho é o ato inaugural
da sociedade capitalista que deve se produzir e
reproduzir constantemente, em escalas cada vez
maiores, com a pretensão de estender-se para o
conjunto da vida social e de todas as suas expressões.

A resultante desta primeira compra e venda é a de que os produtos produzidos pela força de
trabalho, no período em que está cedida ao capital, são mercadorias porque elaborados para
serem vendidas pelo capitalista que, além de proprietário da força de trabalho em ação, é
também o proprietário dos produtos construídos pela força de trabalho no tempo, ao longo da
duração da jornada em que o trabalhador está sob o comando do capitalista, conforme o
estabelecido no contrato firmado por ambos.

Numa sociedade orientada por um tal modo de produção, o arranjo produtivo faz os trabalhos
privados de diferentes tipos atuarem apenas como partes componentes do conjunto, sem que a
articulação da totalidade social seja efetivada pelos
trabalhadores. Ao contrário, a soma das partes
realiza-a o capital, inclusive como forma de
elevar a produtividade e controlar os
movimentos da classe trabalhadora para que
ela não lute pela superação dessa condição de
desumanização do trabalho e dos trabalhadores.

A sociabilidade contida em um modo de produção que transforma tudo em mercadorias, a


começar pela força de trabalho, tem como seu resultado relações sociais e a atividade
laborativa mesma de produzir os bens e os produtos necessários à vida social, como algo
penoso, alienado, no qual o próprio produtor não se reconhece nos frutos de seu trabalho.

Porém, é este trabalho alienado, é à força de trabalho em ação, cotidiana e continuamente


desumanizada, expurgada do conteúdo de sua segunda natureza que, no modo capitalista de
produção, é a base do desenvolvimento do capital. Este não existe senão no processo de

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produção do trabalho excedente, porque o processo imediato de produção do capital é como
indicou Marx, o processo de trabalho e de valorização que tem por resultado o produto-
mercadoria e, por motivo determinante, a produção de mais valia.

Assim, o que reproduz o capital é o trabalho, tanto o que se cristaliza nas mercadorias como o
que repõem os elementos do processo produtivo. É, sobretudo, no trabalho que é produzido a
maior parte do que lhe é pago, bem como o que é expropriado pelo capitalista do trabalhador,
o que se denomina por mais valia. É ao trabalho produtor de mercadoria que se imputa a
reprodução do capital como força capaz de continuamente submeter a força de trabalho para
que ela reproduza a totalidade da forma social de produção de mercadorias. Essa é a
sociabilidade possível no modo capitalista.

4.1.3. O ESTADO NA ERA DOS MONOPÓLIOS

O capitalismo monopolista conduz ao ápice a contradição elementar a socialização da


produção e a apropriação privada: institucionalizada a produção, grupos de monopólios
controlando-a por cima de povos e Estados. Dai a refuncionalização e o redimensionamento
da instância por excelência do poder extra econômico, o Estado. Ele altera suas funções para
atender a demanda do capital.

As funções políticas e economias se mesclam, assim, o Estado assume


múltiplas funções. Como tal, o Estado sempre interveio no processo
econômico capitalista, o traço intervencionista do Estado, a serviço de
franjas burguesas revela-se precocemente. No entanto, com o ingresso
do capitalismo no estagio imperialista, essa intervenção muda
funcional e estruturalmente. Até então, o Estado atuara em condições
externas em relação ao produção capitalista. Mas, extremamente, no
capitalismo monopolista ,as funções políticas do Estado embicam-se
organicamente com as suas funções econômicas.

As funções econômicas diretas consistem na atuação do Estado como empresário, a entrega


de complexos construídos com fundos públicos aos monopólios como os subsídios imediatos
aos mesmos e a garantia explicita de lucro pelo Estado. Já as indiretas aparecem como
investimentos públicos em meios de transporte e infraestrutura, preparação institucional da

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

O Estado do Bem-estar também é força de trabalho requerida pelos monopólios e, com saliência
conhecido por sua denominação em peculiar,os gastos com com investigação e pesquisa.
inglês, WelfareState. Os termos
servem basicamente para designar
Dentro do capitalismo monopolista, o capital se comporta de
o Estado assistencial que garante
padrões mínimos de educação, varias maneira, articulação entre funções econômicas e funções
saúde, habitação, renda e
seguridade social a todos os
políticas do Estado burguês no capitalismo monopolista são uma
cidadãos. possibilidade de desenvolvimento do capitalismo. A sua
 realização é mediatizada pela correlação das classes e das forças
sociais em presença, com efeito, as alternativas sócio-políticas do
capitalista monopolista comportam matizes que vão de um limite a outro – do WelfareStateao
fascismo.

O Estado assume no capitalismo monopolista, no que toca às políticas sociais, o papel de


“conciliador/mediador” entre os interesses dos burgueses e proletários, tornando necessária a
intervenção prática do Estado desempenhando este na transição do capitalismo concorrencial
para o capitalismo monopolista, o papel de mediador entre os interesses (antagônicos) de
ambas as classes sob a égide burguesa.

No Capitalismo monopolista aqui se maximiza um


sistema de contradições da ordem burguesa nos traços
de exploração, alienação e transitoriedade histórica,
fazendo crescer os preços das mercadorias e serviços,
elevando as taxas de lucros nos setores monopolizados,
gerando um consumo abaixo da média e redução na
taxa de lucro de investimentos gerados pela
concorrência, economia de trabalho pela inovação
tecnológica e por fim, o aumento da taxa de
concorrência de trabalhadores de reserva. A supercapitalização, o capital acumulado cresce
dificultando sua valorização; o parasitismo instaurado na vida social em razão do monopólio
se insere nesse cenário.

O Estado burguês no capitalismo monopolista converte questão social em problemas sociais, nas quais
as estratégias de classe do Estado monopolista burguês, envolve de forma diferente as perspectivas
públicas e privadas em termos de questões sociais.

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O Estado então passa a responsabilidade para o individuo, o que era público, torna-se privado
e posteriormente individual, nesse momento o capital ao mesmo tempo em que reconhece sua
responsabilidade, coloca a culpa no Estado e da mesma forma converte a questão social em
problema social no qual o único culpado é o próprio individuo.

A passagem da moralização da sociedade à individualização dos problemas sociais é um


processo que enlaça, fornecendo tanto referencias ideais, quanto instrumentos operativos para
implementar sob as óticas publicas e privadas a intervenção sobre as refrações da questão
social, a conexão nela estabelecida coloca no patamar compatível com a dinâmica econômico-
social e política da idade do monopólio. O tratamento dos afetados pelas refrações da questão
social com individualidades sociopáticas funda instituições especificas, o que ocorre é a
conversão dos problemas em patologias sociais.

4.1.4. A QUESTÃO SOCIAL: OBJETO DE INTERVENÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL

Em 62 anos, 1937 a 1999, o Serviço Social realizou uma


transformação no interior da profissão. Começou
creditando aos homens a “culpa” pelas situações que
vivenciavam, e acreditando que uma prática doutrinária,
fundamentada nos princípios cristãos, era a chave para a
“recuperação da sociedade”.

Chega, em 1999, assumindo uma postura marxiana,


analisando que a forma de produção social é a causa prioritária das desigualdades, os homens,
individualmente, não são desiguais, a forma de produção e apropriação do produto social é
que produz as desigualdades, modo de produção este que deve ser
reproduzido, para manter a dominação de classe

O objeto do Serviço Social, no Brasil, tem, historicamente, sido


delimitado em virtude das conjunturas políticas e sócio-
econômicas do país, sempre tendo-se em vista as perspectivas
teóricas e ideológicas orientadoras da intervenção profissional.
Assim, é que, no início do Serviço Social no Brasil, 1937, o objeto
definido era o homem, mas um homem específico: o homem
morador de favelas, pobre, analfabeto, desempregado, etc.

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Enfim, entendia-se que esse homem era incapaz, por sua própria natureza, de “ascender”
socialmente. Daí que o objeto do Serviço Social era este homem, tendo por objetivo moldá-lo,
integrá-lo, aos valores, moral e costumes defendidos pela filosofia neotomista.

Posteriormente, o Serviço Social ultrapassa a idéia do homem como objeto profissional.


Passa-se à compreensão de que a situação deste homem – analfabeto, pobre, desempregado,
etc. – é fruto, não só de uma incapacidade individual, mas, também, de um conjunto de
situações que merecem a intervenção profissional. O objeto do Serviço Social se coloca,
então, como a situação social problema:

“... o Serviço Social atua na base das inter-relações do binômio indivíduo-sociedade. [...] Como prática
institucionalizada, o Serviço Social se caracteriza pela atuação junto a indivíduos com desajustamentos
familiares e sociais. Tais desajustamentos muitas vezes decorrem de estruturas sociais inadequadas”
(Documento de Araxá, 1965, p.11).

A questão social é uma categoria que expressa a


contradição fundamental do modo capitalista de produção.
Contradição, esta, fundada na produção e apropriação da
riqueza gerada socialmente: os trabalhadores produzem a
riqueza, os capitalistas se apropriam dela. É assim que o
trabalhador não usufrui das riquezas por ele produzidas. A
questão social representa uma perspectiva de análise da
sociedade. Isto porque não há consenso de pensamento no
fundamento básico que constitui a questão social.

IAMAMOTO, (2014, p. 14), define o objeto do Serviço Social nos seguintes termos:

“Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais
como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência
social pública, etc. Questão social que sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que
vivenciam as desigualdades e a ela resistem, se opõem. É nesta tensão entre produção da desigualdade e
produção da rebeldia e da resistência, que trabalham os assistentes sociais, situados nesse terreno movido por
interesses sociais distintos, aos quais não é possível abstrair ou deles fugir porque tecem a vida em sociedade.
[...] ... a questão social, cujas múltiplas expressões são o objeto do trabalho cotidiano do assistente social”.

É indiscutível a inserção da intervenção do Serviço Social no âmbito das desigualdades


sociais, ou, mais amplamente, da questão social. Entretanto, considerando a concepção de
19
questão social, é de se perguntar se a mesma, ou suas expressões, podem se constituir em
objeto de uma única profissão. Estamos partindo da concepção de que o objeto é o que
demonstra, coloca, a especificidade profissional.

Ora, entender a questão social como objeto específico do Serviço Social, das duas uma: ou se
destitui a questão social de toda a abrangência conceitual, ou se retoma a uma visão do
Serviço Social como o único capaz de atuar nas mudanças/transformações da sociedade. Se
pensarmos na abrangência da concepção de questão social, concluiremos que as mais diversas
profissões têm suas atuações determinadas por ela: o médico que atende problemas de saúde
causados por fome, insegurança, acidentes de trabalho, etc.; o engenheiro que projeta
habitações a baixo custo; o advogado que atende as pessoas sem recursos para defender seus
direitos; enfim, os mais diferentes profissionais que, também, atuam nas expressões da
questão social.

4.1.5. CONHECENDO ALGUNS CONCEITOS IMPORTANTES

Antes de iniciarmos nosso estudo através da história dessa profissão, vamos conhecer alguns
conceitos que por vezes trazem confusão entre instituições, sociedade, profissionais e
principalmente entre os estudantes. Vamos aprender o que é serviço social, assistente social,
assistência social e assistencialismo. Dúvidas nunca mais!

Afinal, o que é serviço social?

De acordo com CFESS,

Depois de concluir o curso, o recém-formado


precisa se registrar no CRESS do estado em
que irá atuar. O registro no Conselho Regional
é obrigatório para exercer a profissão de
assistente social.

O Serviço Social se desenvolve como profissão


reconhecida na divisão social do trabalho,
enquanto produto do desenvolvimento do

20
capital industrial e da expansão urbana (IAMAMOTO E CARVALHO, 2014). Sendo assim, o
Serviço Social é uma profissão que se consolida no interior das lutas de classe e que tem,
portanto, esta realidade social enquanto objeto de intervenção profissional.

O serviço social está em ampla expansão e é uma profissão cada vez mais requisitada, seja no
setor público ou no setor privado, no atendimento à população ou na formulação e execução
de políticas públicas que possibilitam o acesso aos direitos.

O que é um assistente social?

Você já ouviu falar sobre assistentes sociais? Quem são e o que fazem? Onde trabalham?
Vamos agora desvendar esse mistério.

Quem são?

Assistentes Sociais são profissionais que cursaram uma


faculdade de Serviço Social (reconhecida pelo Ministério da
Educação) e possuem registro no Conselho Regional de Serviço
Social (CRESS) do estado em que trabalham. A profissão é
regida pela Lei Federal 8.662/1993, que estabelece suas
competências e atribuições.

O que fazem?

Analisam, elaboram, coordenam e executam planos, programas e projetos para


viabilizar os direitos da população e seu acesso às políticas sociais, como a saúde,
a educação, a previdência social, a habitação, a assistência social e a cultura.
Analisam as condições de vida da população e orientam as pessoas ou grupos
sobre como ter informações, acessar direitos e serviços para atender às suas
necessidades sociais.

Assistentes sociais elaboram também laudos, pareceres e estudos sociais e realizam


avaliações, analisando documentos e estudos técnicos e coletando dados e pesquisas. Além
disso, trabalham no planejamento, organização e administração dos programas e benefícios

21
sociais fornecidos pelo governo, bem como na assessoria de órgãos públicos, privados,
organizações não governamentais (ONG) e movimentos sociais.

Assistentes sociais podem ainda trabalhar como docentes nas faculdades e universidades que
oferecem o curso de Serviço Social. As competências e atribuições privativas dessa categoria
profissional estão previstas nos artigos 4º e 5º da Lei 8.662/1993.

Onde trabalham?

Em instituições públicas e privadas. Você pode encontrar


assistentes sociais trabalhando em ministérios, autarquias,
prefeituras, governos estaduais, em empresas privadas, hospitais,
escolas, creches, unidades de saúde, centros de convivência,
movimentos sociais em defesa dos direitos da mulher, da classe
trabalhadora, da pessoa idosa, de crianças e adolescentes, de
lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), negros e
negras, de indígenas, em organizações não governamentais, em
universidades públicas e privadas e em institutos técnicos.

O que é a assistência social?

A assistência social é uma política pública prevista na Constituição


Federal de 1988 e também direito de cidadãos e cidadãs, assim
como a saúde, a educação, a previdência social etc. Esta política é
regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social (Loas),
constituindo-se como uma das áreas de trabalho de assistentes
sociais.

O que é o assistencialismo?

Este se refere à forma de oferta de um serviço por meio de uma


doação, favor, boa vontade ou interesse de alguém e não como um
direito.

22
4.2. MÓDULO II: A TRAJETÓRIA HISTÓRICA DO SERVIÇO SOCIAL

4.2.1. O INÍCIO DE UMA GRANDE JORNADA

A trajetória do serviço social vem pautada na relação capital e luta do proletariado que há
séculos vem quebrando barreiras para vencer as amarras do capitalismo.
Para iniciarmos esse estudo falaremos um pouco de um momento da história do mundo que
contribuiu muito para surgimento dessa profissão: A
revolução industrial.
A Revolução Industrial no século XIX possibilitou a
ascensão do capitalismo industrial, o que significava
para os operários a exploração de suas próprias
vidas, foi aí que o proletário começou se reconhecer
como classe.

“Nas relações que os homens estabelecem através da troca de


seus trabalhos equivalentes, materializados em objetos, o
caráter social de seus trabalhos aparece sendo relação entre o
produtos e seus trabalhos, entre coisas, independentes de seus
produtores”( IAMAMOTO, 2014, p.34).

O capital, como relação social de produção, tem como característica e condição a expansão de
valor e a faz, em face de classe assalariada. Diante de tamanha exploração surgiu uma onda
crescente de manifestações operárias, mas ainda não tinham força organizativa, nem objetivos
centrados, daí percebeu-se a importância das associações.

O processo capitalista de produção expressa, portanto, uma maneira historicamente


determinada de os homens produzirem e reproduzirem as condições materiais da
existência humana e as relações sociais através das quais levam a efeito a produção.
Neste processo se reproduzem, concomitantemente, as ideias e representações que
expressam estas relações e as condições materiais em que se produzem, encobrindo
o antagonismo que as permeia. (IAMAMOTO, 2014, p.30).

Porém, só através da união massiva dos trabalhadores é que eles ganhariam o direito de se
reunirem em associações. O movimento dos trabalhadores tornara-se cada vez mais

23
organizado politicamente e o proletário era uma presença marcadamente significativa no
cenário social.

Isso e os enormes problemas sociais produzidos pela expansão do capitalismo causaram uma
inquietação na burguesia, no sentido de desestabilizar sua ordem social. A burguesia usou
como estratégia as práticas assistenciais como forma de ratificar tais sujeições e apareceu com
um falso discurso humanitário baseado na igualdade e na harmonia entre as classes, na
verdade ela queria se apropriar da prática social para submetê-la aos seus desígnios.

O Serviço Social surge, portanto como criação típica do capitalismo,


articulada com um projeto de hegemonia do poder burguês. As formas de
assistência vigentes eram repudiadas pelo proletário, que lutava por medidas
mais amplas de política social.

Temerosa e assustada, a classe dominante procurava pensar em estratégias que contivessem as


ameaças que colocavam em risco as suas propriedades. Assim, diante de tamanha expansão da
pobreza, já não se podia mais restringir a assistência aos pobres às iniciativas de particulares
ou da Igreja, era preciso mobilizar o próprio Estado. Foram conferidas às práticas assistenciais
novos padrões de eficácia e racionalidade.

A expansão do número de agentes foi notável no último terço do século XIX. No início do
século XX, o Serviço Social estava presente na maioria dos países europeus e nos EUA. Então
a Revolução Industrial junto com outros fatores que influenciaram para o surgimento da
profissão do Serviço Social intensificou muito o trabalho, o desenvolvimento da prática social
para facilitar o entendimento do que são direitos iguais facilitando a luta e a assistência para
quem realmente precisa.

24
4.2.2. SERVIÇO SOCIAL NA AMÉRICA LATINA

O serviço social na América latina teve com referência o continente europeu e norte
americano, também justificada pela subordinação e dependência dos países latinos a esses
territórios. Não diferente de outras áreas do saber, a profissão também importa modelos
utilizados por outros países.
Em 1925 foi fundada a primeira escola
de serviço social pelo Dr. Alejandro Del
Rio que se dedicou a formação desses
primeiro profissionais, que prestavam
assessoria medica e elevavam os
padrões de qualidade desses
atendimentos, porém entravam na
categoria de sub profissões.

“É possível perceber a forte presença do termo


sub profissão (serviço social), o que traz o
questionamento a cerca de uma ação derivada de uma profissão (medicina). Assim
cabe destacar que o surgimento de uma profissão nem sempre descreve sua trajetória
e origem.”(CASTRO, 1987 apud ALVES, 2016, p.47)

O surgimento do serviço social na América Latina vem tangenciado por indagações,


sobretudo acerca do momento digno de fé de seu status de profissão, e também do momento
em que a profissão passou a ser reconhecida e formada pela academia. Estampada como uma
sub profissão, sua gênese, em primeira instancia, estava calcada em procedimento voltados a
ação social meramente repetidoras de instruções ditadas por outros.

Contudo cabe destacar que, ao ser institucionalizado pela cátedra no Chile em 1925, a prática
se tornou uma profissão cuja formação requer nível superior. Mais que um marco
comemorativo, a institucionalização trouxe consigo um marco reivindicatório de status
profissional e social.

25
“Cabe acrescentar que o processo de trabalho se estrutura à luz de outras
operacionalizações, ou seja, o então assistente social, é requerido a compor equipes
de trabalhos cujas bases do “fazer pensar” representam uma hierarquização que
compromete a autonomia o próprio trabalho, a qual deve ser exposta
cotidianamente”. (ALVES, 2016, p.48)

Em suma, pode-se dizer que foi uma similitude construída sob o a luz de outra profissão,
refletindo em um processo de maturação ainda inicial, fortemente vinculado às origens
européias. O novo que já tinha um papel pré-determinado.

A profissão, naquela época, se deparou com o surgimento das novas classes


sociais que eram estimuladas pelos desenfreados meios de produção e
consequentemente a exploração de mão de obra do trabalho, o processo
de industrialização nesse momento foi bastante intenso e contou com o
apoio econômico e político dos norte-americanos, o que
potencializou a industrialização nos países periféricos.

Com essa potencialização houve resistência entre o


proletariado e repressão por parte do Estado para que
os mesmos fossem contidos e não fossem contra aos
mecanismos utilizados pelos norte-americanos,
deve-se salientar que houve uma repressão não apenas do proletariado, mas também da
sociedade como um todo, ora oprimindo a classe, ora concedendo medidas mascaradas de
benefícios.

“O emprego das mais diferentes formas de repressão sempre combinou com


algumas concessões à classe operária e ao movimento popular. A assunção, por
parte do Estado, de gastos destinado a melhorar as condições de reprodução de
força de trabalho e a aprovação de uma legislação trabalhista evidenciam uma
postura alternativa das classes dominantes”. (CASTRO, 1987 apud ALVES, 2016,
p.49)

Com todos os movimentos e concessões a classe trabalhadora teve um que um preço altíssimo
a pagar, a realidade passou a se tornar mais aterradora, o que demandou intervenções
emergenciais, dessa forma, o serviço social foi chamado a intervir e segundo ALVES:

26
“empreendeu nesse cenário com ações que pudessem minimizar os impactos do
processo de exploração, tanto por meio da franca presença idearia da igreja, que
sempre teve representantes capazes de oferecer aparato profissional emergencial e
carismático aos segmentos da sociedade, quando amplamente marcados pela
ausência dos mínimos para sobrevivência”. (2016, p.50)

Como nos demais países do mundo o serviço social surge da demanda da classe trabalhadora
em meio às suas reivindicações sociais, contudo serviu também como estratégia para que
igreja e capital oprimissem e trabalhassem para que as mesmas não ocorressem.

“As ações empreendidas a fim de efetivar o principiam de caridade, eram voltadas


para a filantropia.Além disso, tinham interesse na reprodução das relações sociais,
com o propósito de manter a divisão entre a classe que vive e depende do trabalho e
aquela que usufrui dos benefícios e explora a mão de obra da classe trabalhadora -
ou seja – o dono dos meios de produção, a chamada burguesia.”

Seguindo a linha histórica da profissão passamos ao movimento de reconceituação na


América Latina que emergiu na metade dos anos1960, prolongou-se por uma década e foi, na
sua especificidade, um fenômeno tipicamente latino-americano. Iamamoto (1999) afirma que
o movimento de Reconceituação representou um marco decisivo no desencadeamento do
processo de revisão crítica do serviço social no continente

A categoria profissional iniciou um debate acerca do papel da profissão diante da


subalternidade dos países latino-americanos,bem como se suas ações estavam realmente
sendo eficazes quando respondiam as seqüelas da questão social, e se a importação de
referenciais de outros países era o suficiente para combater as refrações da questão social
nessa região, já que eram bem específicas e típicas dessa localidade.

Assim, diante desse contexto, a categoria profissional se viu incitada a questionar suas bases
tradicionais, além de quê, esse processo possibilitou a aproximação da profissão a teoria
social marxista, apesar de diversos problemas, inicialmente, ao recorrer aobras equivocadas,
contaminadas por outras perspectivas e de segunda mão.

27
É válido ressaltar que, apesar do
movimento de reconceituação
inserir-se em um movimento mais
amplo de renovação do serviço
social a nível internacional, na
América latina esse movimento
apresentou particularidades, na
medida em que, a ruptura com o
serviço social tradicional ocorreu
concomitantemente com a ruptura das imposições imperialistas no sentido de libertar a
América Latina da subordinação aos países desenvolvidos, voltando-se ainda para
transformações na estrutura capitalista concentradora, excludente e exploradora. A renovação
latino-americana a superação da condição de subdesenvolvimento de seus países. Esse
movimento é pautado por uma série de questionamentos feitos pelos profissionais, que
colocaram como aspectos a serem discutidos:

Os anseios pela mudança, no entanto, foram interrompidos pelo avanço das ditaduras nos
países latino-americanos, extinguindo o movimento de reconceituação no ano de 1975,
permanecendo, porém, a relação com a tradição marxista e a nova relação dos profissionais no
âmbito continental. Como nos relata Alves 2016:

28
“Somente a partir da década de 1980 é que teve a reestruturação democrática,
quando cada país começou a respirar os ares da democracia e, assim, o serviço social
retornou de forma enfática o processo de reorganização e reestruturação da
profissão.” (p.51).

Não podemos dizer que neste período a categoria tenha ficado adormecida, muitos
profissionais combateram o regime, não obstante ao novo regime foi possível tornar publico
suas matrizes filosóficas vinculadas ao materialismo historico-dialetico como diretriz de
pensamento e ação para o serviço social.

4.2.3. A CHEGADA DO SERVIÇO SOCIAL NO BRASIL

No Brasil, o surgimento do Serviço Social – e sua


institucionalização – atravessa as décadas de 1930 e 1940, e
que não pode ser entendido como um acontecimento isolado
ou natural. Pelo contrário, deve ser considerado o resultado de
dois processos que, relacionados, geraram as condições sócio-
históricas necessárias para que a profissão se constituísse e
traçasse seu percurso histórico no cenário brasileiro.
Segundo Iamamoto (2014), a gênese do Serviço Social no
Brasil, enquanto profissão inscrita na divisão social do trabalho
está relacionada ao contexto das grandes mobilizações da
classe operária nas duas primeiras décadas do século XX, pois
o debate acerca da “questão social”, que atravessa a sociedade nesse período, exige um
posicionamento do Estado, das frações dominantes e da Igreja.
O primeiro processo que devemos destacar é o redimensionamento do Estado brasileiro, que
decorre da transição do capital de um estágio concorrencial para a fase monopólica.
Concordamos com Netto (2009) o entendimento de que o Estado intervém no processo
econômico desde a ascensão da burguesia, mas, é no capitalismo monopolista, que essa
intervenção muda estrutural e funcionalmente. Para o autor “[...] no capitalismo monopolista,
as funções políticas do Estado imbricam-se organicamente com as suas funções econômicas”
(Netto, 2009, p. 25).

29
Como profissão inscrita na divisão do trabalho, o Serviço Social surge como parte
de um movimento social mais amplo, de bases confessionais, articulado à
necessidade de formação doutrinária e social do laicato, para uma presença mais
ativa da Igreja Católica no “mundo temporal”, nos inícios da década de 30. Na
tentativa de recuperar áreas de influências e privilégios perdidos, em face da
crescente secularização da sociedade e das tensões presentes nas relações entre
Igreja e Estado, a Igreja procura superar a postura contemplativa (IAMAMOTO,
2014, p. 18).

As atividades da caridade
tradicional ganham uma nova
conformação e certo caráter
organizativo, contando com famílias
da burguesia paulista e carioca, que
passam a contar com o aporte do
Estado, o que possibilita realizar
obras sociais mais abrangentes.
Podemos destacar o surgimento de
duas instituições assistenciais, em
1920, no Rio de Janeiro, a
Associação das Senhoras Brasileiras e, no ano de 1923, a Liga das Senhoras Católicas, em
São Paulo. Essas instituições surgem dentro do movimento de reação católica e visam atender
algumas demandas oriundas do processo de desenvolvimento capitalista. Essas ações podem
ser consideras como o embrião do Serviço Social brasileiro.
Até aqui já podemos observar que, inicialmente, é impossível dissociar o Serviço Social
brasileiro da ação da igreja Católica, bem como, suas estratégias de adequação às mudanças
econômicas e políticas que alteravam a face do país nesse período.
O Serviço Social surge em resposta à questão social, esta tem seu surgimento relacionado à
propagação do trabalho livre e como pano de fundo um passado não muito distante que nos
mostra isso: a escravidão. Dessa forma podemos observar que homens e meios de produção se
separam. Na transição econômica do Brasil, de colônia a República, esse mercado surgiu e se
desenvolveu nos principais centros urbanos do país.

30
As primeiras escolas de serviço social no Brasil surgem na visão da Igreja, a luta contra as
desigualdades sociais é uma “preocupação” assumida pela Igreja dentro de uma luta contra o
liberalismo e o comunismo. Neste período podemos constatar diversos cursos de formação
social e de semanas sociais entre outros e muitas escolas nascem desses mesmos cursos e
semanas sociais.
Assim, percebemos a atuação do Serviço Social brasileiro numa perspectiva de caráter mais
doutrinário do que científico. Cabe mencionar, que ao se manifestar em relação à “questão
social”, a Igreja Católica se contrapõe aos princípios tanto do liberalismo quanto do
comunismo, tendo em vista que ambos se apresentam enquanto ameaças para sua posição na
sociedade. Portanto, o Serviço Social em sua “fase inicial”, é pautado num posicionamento
moralizador em face das expressões da “questão social”, captando o homem de maneira
abstrata e genérica, configurou-se como uma das estratégias concretas de disciplinamento e
controle da força de trabalho, no processo de expansão do capitalismo monopolista.
A partir da segunda metade da década de 1920, o reconhecimento do serviço social, enquanto
profissão institucionalizada, só ocorre quando a igreja católica se organiza e assume o papel
ativo na chamada questão social, pois até então a profissão girava em torno da filantropia e
caridade. A institucionalização da profissão no Brasil trouxe, sobretudo a presença de
mobilizações que objetivam resgatar os interesses até então garantidos e usufruídos por alguns
segmentos, destacando nesse sentido sua forte presença nos órgãos decisórios do país.

31
Esse processo era atrelado a constituição de movimentos de apoio a segmentos
marginalizados pelo governo da época, cuja tônica era pulso firme da força de contenção das
classes desprovidas,, trazendo assim exclusão e marginalidade.
O marco histórico da institucionalização do serviço social no Brasil foi à década de 1930,
quando o processo de industrialização teve como consequência o agravamento das expressões
da questão social.

4.2.4. AS PRIMEIRAS ESCOLAS DE SERVIÇO SOCIAL

As primeiras escolas de serviço social foram criadas em São Paulo e Rio de Janeiro em
meados de 1930, evento que coincide com o processo de industrialização do país, onde
também observamos que a caridade já não mais atende às expectativas do Estado frente às
expressões da questão social.

32
A escola de serviço Surge de um grupo de O curso foi dirigido
social de São Paulo moças preocupadas por mademoiselle
nasceu do Centro de com a questão social e AdèleLoneaux,
Estudos e Ação que participaram professora da
ativamente no curso ÉcoleCatholique de
Social – CEAS. de formação service social de
Bruxelas.

A atuação do serviço social neste momento ainda era baseada nos preceitos católicos, ações
funcionalistas que ao longo dos estudos passarão por transformações, para atender as
necessidades do Estado bem como da sociedade como um todo.
No Rio de Janeiro em 1937 temos segunda escola de serviço social do país, a escola teve
impulso do Cardeal Leme, Stela de Faro, Alceu Amoroso Lima. Este enfatiza a necessidade
da formação social. Para que exista vocação social é preciso formação social, nisso a igreja se
baseou nas semanas sociais, cursos de formação e outras atividades baseadas na doutrina
social da igreja.

Concordamos com Iamamoto e Carvalho quando nos falam que:

“As primeiras escolas de serviço social representaram um marco exponencial para categorial profissional,
pois com o decorrer do tempo assumiram a assistência social e legalizaram a existência da profissão no
Brasil. Parte-se do pressuposto de que a compressão da profissão serviço social implica o esforço de inseri-la
no conjunto de condições e relações sociais que lhe atribuem um significado e nas quais torna-se possível e
necessária”.(2014,p.76)

As perspectivas de formação profissional para as primeiras turmas de graduados basearam-se


inicialmente no modelo franco-belga, e, posteriormente, no norte-americano o modelo
adotado, em ambos os casos, conservava em si a presença do caráter conservador, de
abordagem individual e psicologizante (e muitas vezes de avaliação moral). As ações
destinavam-se a adaptar o indivíduo à sociedade sem considerar a totalidade social.

Com a influência americana a formação do assistente social se baseia em quatro


pontos: formação cientifica, formação técnica, formação pratica e formação
pessoal. A primeira baseada nas disciplinas de sociologia, psicologia, biologia e
moral; a segunda voltada aos estudos das teorias sociais existentes e sua
adaptação à realidade [...] A terceira está estabelecida no “como fazer” nas
diferentes realidades que o assistente social deverá ser envolvido. [...] A última se

33
baseava no desenvolvimento da personalidade do aluno de serviço social, em que
deveria ter uma “ moral mais sólida”[...]. (Santos apud Albonettep.58).

Posteriormente o serviço social buscou inspiração norte-americana, mas por que isso ocorreu?
Iamamoto nos explica o por quê:

Com a implantação do Estado novo em 1937, o governo passa a buscar legitimidade


para o que estava acontecendo, por isso passa a garantir um controle social, através de
uma política de massa, que conseguia barrar os movimentos reivindicatórios;
Nesse período o serviço social passa a se legitimar e se institucionalizar, rompendo
com a influência católica (caridade) e com isso começa a criação de um mercado de
trabalho para os assistentes sociais, sendo essa profissão agora participante de uma
categoria assalariada atrelada a políticas públicas e a intervenção do Estado;
Na década de 1940 o serviço social tinha que dar respostas às novas demandas que
surgiam, dessa forma tinham que estar técnico e teoricamente preparados para seu
fazer profissional;
Houve uma aliança ente o governo Vargas e o governo norte-americano Roosevelt em
1942, essa aliança tinha por objetivo fortalecer o capitalismo e afastar a ameaça
comunista do Brasil;
Com o fim da II Guerra Mundial , os Estados unidos ganhou mais poder, com isso
estabeleceu-se uma relação mais forte entre os dois países;
Com a guerra fria e com a expansão industrial existe um agravamento da questão
social, não sendo o serviço social capaz de dar conta das novas demandas que a ela
foram apresentadas;
A partir de 1945/1947 é que se passa a ter uma preocupação do serviço social com
relação a elaboração teórica própria para a profissão , com elementos técnicos e
científicos que imprimissem eficácia a sua ação;

34
4.3. MÓDULO III: O SERVIÇO SOCIAL E O MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO

4.3.1. ROMPENDO COM O CONSERVADORISMO

O período compreendido entre os anos de 1940 até meados da década 1960 significou, para o
Brasil, um momento de considerável crescimento econômico. Nos países latino-americanos,
emerge a ideia do desenvolvimentismo, entendido como uma possibilidade de superação do
subdesenvolvimento presente nos países da região.

No Brasil, os planos desenvolvimentistas não alcançaram os resultados esperados, O desejo


do desenvolvimento econômico com justiça social não se concretizou e o que podemos
observar é a forte presença de capital estrangeiro no país, entendida como necessária para o
desenvolvimento nacional. O que se observa, em verdade, é a construção de uma indústria no
Brasil e não uma indústria do Brasil. O surgimento de uma economia urbano-industrial traz à
tona a necessidade de entidades assistenciais para atender às demandas postas e controlar as
lutas sociais.

O processo de renovação, crítica do Serviço Social, é também conhecido como o processo de


ruptura do Serviço Social com o tradicionalismo profissional. Este processo não aconteceu de
imediato, mas iniciou-se a partir de questionamentos e reflexões críticas acerca do seu
conteúdo metodológico e da sua prática profissional, é através deste movimento que surge um
perfil profissional mais crítico, capaz de atuar nos desafios postos à profissão.

A renovação do Serviço Social implica na formação de uma pluralidade profissional,


perspectivas diversificadas que é “radicado nos procedimentos diferentes que embasam a
legitimação prática e a validação teórica, bem como nas matrizes teóricas a que elas se
prendem” (NETTO, 2005), visto que com a inserção das disciplinas das ciências sociais os
profissionais passaram a ter uma visão crítica da sociedade e de sua própria atuação.
35
Entretanto, conforme Netto, a ditadura militar instalada no Brasil em 1964 e posteriormente
nos demais países da América - Latina, estagnou o processo de Reconceituação do Serviço
Social na América Latina que já havia 10 anos de efervescência.

Em meados dos anos 1970, a renovação profissional materializada na reconceituação viu-se


congelada: seu processo não decorreu por mais de uma década. E seu ocaso não se deveu a
qualquer esgotamento ou exaurimento imanente; antes, foi produto da brutal repressão que
então se abateu sobre o pensamento crítico latino-americano
(NETTO, 2005, p. 10).

Porém, essa herança da reconceituação foi à base para a


renovação crítica do Serviço Social brasileiro na década de
1980, conforme Netto (2005) “mesmo contida e pressionada
nos limites de uma década, a reconceituação marcou o Serviço
Social latino-americano”, podendo apontar pelo menos quatro
conquistas decorrentes desta época no Brasil.

A explicitação da dimensão política da ação profissional: até


então a ação profissional tinha uma dimensão “pretensão
assepsia ideológica”.

A interlocução crítica com as ciências sociais: com a reconceituação incorpora-se a crítica ao


tradicionalismo, lançando as bases para “uma nova interlocução do Serviço Social com as
ciências sociais, abrindo-se a novos fluxos (inclusive da tradição marxista) e sincronizando-se
com tendências diversificadas do pensamento social então contemporâneo”.

A inauguração do pluralismo profissional: “a


reconceituação concedeu carta de cidadania a diferentes
concepções acerca da natureza, do objeto, das funções,
dos objetivos e das práticas do Serviço Social, inclusive
como resultado do recurso a diversificadas matrizes
teórico-metodológicas”. (NETTO, 2005, p. 11-12).

A importância do Movimento de Reconceituação para o


Serviço Social brasileiro é a transformação, a renovação
36
dos conceitos e do agir profissional, que buscava uma formação qualificada, com técnicas
precisas, fundamentação teórica e cientificidade para a profissão. Disso tudo resulta na
Reforma Curricular e na condução dos destinos das organizações profissionais e intervenção
profissional expressas no Código de Ética Profissional que faz uma opção clara pela defesa
dos direitos da classe trabalhadora e seus interesses.

4.3.2. SEMINÁRIOS IMPORTANTES DO MOVIMENTO DE RECONCEITUAÇÃO


DO SERVIÇO SOCIAL

4.3.2.1. SEMINÁRIO DE ARAXÁ

Desde o surgimento das primeiras escolas de


serviço social no Brasil, que se deu no inicio
da década de 1930 a profissão vem sofrendo
radicais transformações, tendo em vista que
suas primeiras práticas estavam ligadas a
igreja católica e a ação social, muita coisa
começou a ser repensada. Embora o serviço
social tenha surgido como uma demanda do
capitalismo, essa prática no início da década
de 1960 passou a causar grandes questionamentos e inquietações por parte de alguns
profissionais que se encontravam insatisfeitos com o rumo que a profissão levava.

O seminário de Araxá foi promovido pelo centro brasileiro de cooperação e intercâmbio de


serviço social no período 19 a 26 de março de 1967 na cidade de Araxá, Minas Gerais,
participaram um grupo de 38 assistentes sociais de diversos estados no Brasil, com formação
nas vertentes católicas com objetivo de teorização do serviço social.

O seminário de Araxá foi o primeiro seminário de teorização do serviço social brasileiro e


teve como objetivo estudar e teorizar a metodologia da área. Tratava-se de um movimento de
busca por diferentes premissas a serem implementadas no cotidiano do profissional de
Serviço Social. ( ALVES, 2017, p.59)

37
As discussões dos profissionais que participaram do seminário de teorização o serviço social
em Araxá tinham a preocupação em discutir e compreender que o serviço social não havia
atingido, até o momento, sistematização com instrumentos de intervenção pertinentes para a
realidade social. O seminário foi fundamentado em cinco documentos, elaborados pela Escola
de Serviço Social da PUC-SP, os quais se destacamos pressupostos e diretrizes do serviço
social:

PRESSUPOSTOS E DIRETRIZES DO SERVIÇO SOCIAL


O Serviço social é uma disciplina ou
instrumento de intervenção na realidade
Componentes universais do Serviço Social humano-social, com objetivos específicos ,
funções em vários níveis e metodologia
própria.
 Identificar e tratar problemas e
distorções que impedem indivíduos e
famílias de alcançar padrões
econômicos compatíveis coma a
Metas do Serviço Social dignidade humana.
 Colher elementos e recolher dados
referentes a problemas e, assim,
propor reformas nas estruturas e
ajudar grupos e comunidades nessas
reformas.
 Criar condições para a participação
de indivíduos, grupos, comunidades e
populações;
 Implantar e dinamizar sistemas e
equipamentos que alcancem o
objetivo da profissão

 Trabalhar a visão global das


necessidades e aspirações humanas e
sociais;

38
 Ter experiência pratica dos
Atitudes do Serviço Social diante do problemas;
processo de formulação e implantação da  Preocupar-se com a marginalização;
política social  Considerar os indivíduos portadores
de algum benefício como sujeitos
participantes ativos desses planos e
medidas.

O papel do Serviço Social, assim como suas


funções, deve estar alinhado de forma a
fundamentar-se no conhecimento da
Alinhamento do papel e das funções do dinâmica da vida individual e social e da
Serviço Social construção de sistemas e técnicas para obter
a participação da população na criação e
avaliação de recursos sociais.
 Política Social;
 Planejamento social;
Neveis de atuação do Serviço Social  Prestação de serviços e direitos;
 Administração de serviços de bem-
estar social.
Participação na elaboração, na criação e na
Funções formulação dos níveis de atuação.
Visão global das necessidades humanas e
Ótica sociais.
 Serviço social de Caso;
 Serviço social de Grupo;
Metodologias  Desenvolvimento de comunidades;
 Assessoria.
Fonte: Elaborado com base em Herrera, 1976, apud, Alves 2017.

O documento de Araxá aponta para os princípios e postulados que fundamentam a


metodologia do serviço social, os princípios operacionais são norteadores de atuação do
agente profissional e da prática do serviço social, momento em que se estabelece o serviço

39
social de caso, grupo e comunidade ou desenvolvimento de comunidade, o postulado é o
pressuposto ético e metafísico.

Alves, 2017 (p.60), nos mostra bem a definição desses postulados:

Postulado da dignidade da pessoa humana: o ser humano é compreendido numa


posição de eminência ontológica na ordem universal, na qual todas as coisas devem
estar referidas;
Postulado da sociabilidade essencial da pessoa humana: é o reconhecimento da
dimensão social intrínseca à natureza humana;
Postulado da perfectibilidade da pessoa humana: consiste no reconhecimento de
que o ser humano é, na ordem ontológica, aquele que pode verificar sua capacidade de
produzir resultados e autorrealização.

Podemos identificar que o objetivo do evento foi


integrar o serviço social no processo de
desenvolvimento da sociedade e, a partir daí, redefinir
os objetivos, as funções e a metodologia do serviço
social. A história da profissão se fez ainda muito
presente quando se debateu a respeito da evolução de
conceitos e a sistematização de disciplinas e elementos
de intervenção na pratica profissional, e também se
abordou temas como caráter da profissão, que foi
definido em três: caráter corretivo, caráter
preventivo e caráter promocional.

40
4.3.2.2. SEMINÁRIO DE TERESÓPOLIS

A partir do encontro de Araxá, a categoria profissional


mobilizou-se para que uma nova possibilidade de discussão e
debate fosse implementada, assim foi organizado o Segundo
Seminário de Teorização do Serviço social. O seminário de
Teresópolis foi promovido pelo CBISS( Centro Brasileiro de
Cooperações e Intercâmbio de Serviço Social), o documento de
Teresópolis tem características distintas ao Documento de
Araxá.

O encontro que aconteceu em janeiro de 1970, contou com a participação de 33 profissionais


que tomaram conhecimento previamente da temática do encontro, “a necessidade de um
estudo sobre a Metodologia do Serviço Social face à realidade Brasileira”. Os organizadores
elaboraram um roteiro minucioso, mas foi refundido pelos profissionais, que optaram por uma
dinâmica diferenciada acabando por inviabilizar a redação de um texto final.

NETTO 2005, Enfatiza:

“No documento de Teresópolis o dado relevante é que a


perspectiva modernizadora se afirma não apenas como
concepção profissional geral, mas, sobretudo como pauta
interventiva.”

No texto de Teresópolis, o que se têm é um coroamento do transformismo:


nele o “moderno” triunfa sobre o “tradicional”. A perspectiva
modernizadora se afirma não apenas como concepção profissional geral,
mas, sobretudo como pauta interventiva

.O roteiro, definido pelo CBCISS, apresenta-se abaixo:

 Teoria do diagnóstico e da intervenção em Serviço social – a intervenção em Serviço


Social;
 Diagnóstico e intervenção em nível do planejamento, incluindo situações globais e
problemas específicos;
 Diagnóstico e intervenção em nível da administração;

41
 Diagnóstico e intervenção em nível de prestação de serviços diretos a indivíduos,
grupos, comunidades e populações.

A primeira reunião aconteceu do dia 10 a 17 de janeiro e teve como embasamento os


fundamentos da metodologia do Serviço Social, na concepção científica da prática
profissional, na aplicação da metodologia e nas pesquisas e pressupostos da área.

Netto nos traz a reflexão de que o Documento de Teresópolis configura, no privilégio


à questão da “metodologia”, a exclusão de vieses tendentes a problematizar a
inserção do Serviço Social dos complexos institucional-organizacionais que
promoviam o processo da “modernização conservadora”(2005, pág. 190).

Neste seminário foram recebidos 21 documentos com foco no roteiro apresentado, dentre eles
um se destaca, o de José Lucena Dantas: A teoria Metodológica do Serviço Social. Uma
abordagem sistemática.

Netto, em sua obra, Ditadura e Serviço Social no Brasil pós 64,nos relata a visão de Dantas,
a qual destacaremos alguns pontos fundamentais abaixo:

Dantas considera que a questão da


metodologia da ação constitui a parte É visível a filiação do pensamento de
central do Serviço Social, sendo assim a Dantas à tradição neopositivista.
definição de um modelo de prática do Metodologia como ordenações formais,
Serviço Social adequado à problemática as problemáticas ideológicas são
social brasileira depende da solução do escamoteadas;
seu problema metodológico;

Ele oferece ao Serviço Social uma


A ideia é que a prática do serviço social legitimação teórico-metodológica,
alcance uma cientificidade; atribuindo ao SS o estatuto decorrente
da aplicação das ciências;

Ele apresenta o Serviço Social como um Dantas conferiu a perspectiva


“método científico aplicado”. Esse modernizadora uma organicidade teórica
método se constitui de duas categorias de fundo estrutural-funcionais e
básicas: diagnóstico e intervenção ideológicas através do viés da
planejada; modernização conservadora.

42
Muitas questões foram levantadas nesse seminário e os principais resultados do encontro tiveram
como foco principal o reconhecimento de que as discussões a cerca das temáticas estudadas não se
encerraram e que o objeto dos estudos do Serviço Social deveria ser mais profundado em reflexões
futuras. Dessa forma podemos percebe que a temática ainda não estava no fim, e ainda renderia
futuros debates, por ser de tão alto significado.
O seminário foi dividido em grandes temas, estes divididos em partes e etapas. A primeira parte
foi denominada FENÔMENOS E VARIÁVEIS SIGNIFICATIVOS PARA A PRÁTICA DO
SERVIÇO SOCIAL, que teve cinco etapas.
Poderemos contemplá-las logo abaixo de acordo com o que nos mostra ALVES (2017, p.64):

1. Levantamento de fenômenos significativos observados na prática do Serviço Social,


obviamente partindo das necessidades básicas – no nível biológico, no nível doméstico, no
nível residencial e no nível de equipamentos escolares; e considerando também as
necessidades sociais;
2. Identificação das variáveis significativas para o Serviço Social nos fenômenos observados;
3. Identificação de funções correspondentes às variáveis inventariadas;
4. Redução das funções administrativas, de assessoria técnica, assistenciais, conscientizadoras, de
criação de recursos, de educação de base mobilizadora, de pesquisa de métodos, de
necessidade e planejamento, de política social socializadora de substituição de padrões
terapêuticos;
5. Classificação das funções, num total de 14, divida em funções-fim e funções-meio; as
primeiras oriundas das dimensões educativa, mobilizadora, de educação de base, de
substituição de padrões, conscientizadoras e, finalmente, socializadora; e as segundas de
perspectiva curativa, descritas com base nas discussões sobre assessoria técnica, pesquisa,
planejamento, administração e política social.

A segunda parte da abordagem da metodologia do Serviço Social trouxe novas propostas para
o fazer profissional, com base nas reflexões a cerca da necessidade como geradora de
demandas que possibilitasse o desenvolvimento da função; nessa discussão pôde-se discutir e
concluir que a intervenção profissional estava diretamente ligada com aos fenômenos
coletivos e individuais.

43
O Documento de Teresópolis foi um estudo sobre a metodologia do serviço social, em que se
colocou a pensar a prática e sua interlocução com a teoria, uma concepção operacional da
profissão, pautando-se a qualificação do assistente social. Buscava-se criar um perfil que melhor
contemplasse a modernização conservadora da Ditadura Militar, consolidando o estrutural-
funcionalismo como concepção teórica.

4.3.2.3. SEMINÁRIO DE SUMARÉ E ALTO DA BOA VISTA

Assim como os seminários anteriores, estes também foram realizados pela CBCISS, e tinham
como intenção a ruptura com o conservadorismo do Social, estimulados pelos documentos
elaborados anteriormente e também pelas mudanças e lutas sociais da época que batiam de
frente com as desigualdades sociais instituídas.

Porém, é no marco dos seminários do Sumaré e Alto da Boa Vista que ressoaram as
formulações da vertente renovadora da “Reatualização do Conservadorismo”. A perspectiva
modernizadora não erradicou por completo o conservadorismo. Ela apenas “explorou
particularmente seu vetor reformista e subordinou as suas expressões às condições das novas
exigências que a „modernização conservadora‟ colocou ao exercício profissional.” ( NETTO,
2005, p.202)

44
Vamos analisar agora os principais pontos de questionamento apresentados no seminário de
Sumaré de acordo com a CBCISS:

O Serviço Social numa perspectiva


do método cientifico de construção e
aplicação;
O Serviço Social com base em uma
abordagem de compreensão-interpretação
fenomenológica do estudo científico;
O Serviço Social com base em uma
abordagem dialética;

É necessário também destacar os temas que


foram abordados nesse seminário, questões
que tiveram muita repercussão e causaram
certa inquietude no que tange o “fazer”
profissional.

Serviço Social e cientificidade:


Este tema era direcionado a necessidade de conceituar a
cientificidade, considerada uma “ideia reguladora e não um modelo
determinado”; assim tomou o saber cientifico como aquisição do
saber, aperfeiçoamento de metodologia e elaboração de uma norma.
Serviço Social e a fenomenologia:
Nas discussões foi representado como ciência do senso comum,
considerando o vivido numa abordagem de reflexão, e não
explicação. Partiu-se da premissa de que é necessário compreender o
objeto ou o fato para, assim, considerar os fenômenos, fonte de
discernimento nas escolhas. Para tal, é necessário discernir, escolher,
selecionar, separar e agrupar. Nesse sentido, cabe acrescentarmos
que o referido ponto de vista não alcançava perspectiva de compreensão da totalidade.

45
Serviço Social e a dialética:
As discussões sobre o tema consideraram a dialética a base do diálogo e da discussão, na
perspectivado enfrentamento da realidade, colocado de forma crítica. Nesse sentido, a
realidade deve ser analisada para, assim, ser decifrada para além dos dados aparentes, o que
possibilita a presença da categoria totalidade.(ALVES, 2017:67)

Já o seminário de Alto da Boa Vista aconteceu em 1984 e não só contribuiu com os demais
seminários de teorização, como também os complementou.

“Esse evento é considerado marcante e propiciou o fomento ao debate que lançaria outros
olhares acerca das matrizes teóricas e filosóficas d Serviço Social. Nesse sentido, o encontro
se constituiu em marca da renovação do Serviço Social na perspectiva teórica de ação, bem
como seus processos de análise da realidade social”. (Alves, 2017, p.67)

Podemos destacar alguns acontecimentos importantes que ocorreram com o seminário do Alto
a Boa vista:

O serviço social aderiu ao materialismo histórico dialético, bem como aos


conceitos formulados por essa vertente teórica para a interpretação da realidade
social;
Tal aproximação resultou, de certa forma,, na proposta e elaboração do código de
ética em 1986;
Os profissionais começaram a produzir mais conhecimento, o que permitiu
complementar a base teórica para além das ciências sociais aplicadas.

Todos os seminários aqui destacados se transformaram em documentos e


foram um avanço para a época, mesmo que houvessem muito a discordar e as
mudanças não fossem tão nítidas, por um longo período estes documentos
sustentaram o fazer profissional do Serviço Social e antecederam o Código de
ética do Assistente Social, publicado em 1986. Mas só com a elaboração do
código de ética 1993 que o Serviço Social assumiu a teoria crítica pautada no
materialismo histórico dialético, rompendo assim com as premissas
conservadoras de outros matizes de pensamento.

46
4.4. MÓDULO IV: AS BASES DO SERVIÇO SOCIAL AO LONGO DA HISTÓRIA

Não podemos afirmar que existe uma filosofia do Serviço Social, porém esta profissão foi
fortemente influenciada por algumas correntes filosóficas que embasaram e embasam sua
teoria e sua prática nos diferentes momentos históricos. O positivismo, a fenomenologia, o
neotomismo e o marxismo são as principais correntes teóricas do pensamento contemporâneo,
que servem como nosso guia, pois nos baseamos nos conceitos das mesmas em nossas
intervenções e em nossas pesquisas.

4.4.1. POSITIVISMO

O positivismo é uma corrente filosófica advinda do pensamento do filosofo francês Auguste


Comte, que teve forte presença no serviço social brasileiro desde a sua gênese. Cabe destacar,
que a profissão, desde seu marco inaugural, teve seusrumores fortemente influenciados pelos
curso implantados no Brasil naquele período, os quais traziam para as ciências humanas o
pensamento de Comte, cujos princípios e dogmas tiveram forte influencia na formação
ideológica da nossa sociedade, principalmente nos primeiros
tempos da Republica.

Segundo Alves, o positivismo caracteriza-se por uma


perspectiva, funcionalista, estrutural, com perspectiva de
modernização, mas travestida de uma intensa base conservadora
na sua abordagem; trata-se de uma tríade dedicada ao
desenvolvimento social e ao enfrentamento da marginalidade e
da pobreza com intenção de ajustar os indivíduos à sociedade. (
2017, p 129)

47
Para o positivismo os indivíduos devem se dedicar a
encontrar o seu lugar na ordem que rege a sociedade, o qual é
predeterminado pela sua situação no processo social. Para o
positivista a ordem e o progresso devem ser mantida a todo
custo já que fora disso a sociedade está fadada ao fracasso e à
degradação.
Dessa forma, o que não atende as expectativas positivistas
deve ser subtraído da sociedade, para que a mesma não seja
contaminada. Portanto se há algum problema, este não está na
corrente e sim no individuo, que logo tem de buscar se adequar as normas estabelecidas bem
como a hierarquização as quais são regidas.
A filosofia de Comte envolve teorias de valores filosóficos e morais, os quais defendem a
ordem estabelecida, as característica, mas importantes da teoria/filosofia são:

A sociedade é regida por leis análogas às leis da natureza, que são invariáveis e,
portanto, independem da ação humana;
As leis regulam a vida social;
A sociedade funciona de acordo com uma espécie de harmonia natural ou semelhante
à natureza.

Albonette nos mostra que essas características resultam em


aspectos fundamentais do positivismo: neutralidade,
preconceito, inércia e alienação. Tais características vão de
encontro com a ideologia capitalista e refletem-se na ação do
Estado sobre a sociedade por meio de políticas publicas, no
enfraquecimento dos movimentos sociais e no fortalecimento
da política interna das empresas privadas e publicas,
resultando inclusive em iniciativas de privatização.
Assim alguns valores que são criados partir do positivismo está fortemente vinculado a
preconceitos, pré-noções, objetividade e ainda neutralidade. Trata-se de um conservadorismo
disfarçado de modernidade.

48
Cabe destacar que a muito esses ideais foram banidos pela profissão, pois representam um
perigo aos valores vinculados à democracia e à cidadania, dessa forma cabe ao assistente
social lutar contra essa corrente, pois a profissão hoje defende a transformação social, a
autonomia e o protagonismo do sujeito.

No entanto nas décadas de 30 à 50 essa corrente se fez presente na história


do serviço social e ainda se faz presente em alguns setores da sociedade. No
serviço social essa influencia se desfez em 1990, quando a categoria passou a
vincular-se ao materialismo histórico-dialético e aos princípios de Marx.
Dessa forma é de suma importância que o profissional conheça a corrente
positivista e esteja preparado para não reproduzir tais fundamentos.

4.4.2. FENOMENOLOGIA

A formação do Serviço Social garante o desenvolvimento da dimensão investigativa, pois o


assistente social reúne atributo que lhe conferem a condição de pesquisador. Desvendar a
realidade deve ser uma constante no processo de trabalho desse profissional. Cabe acrescentar
que esse processo é de significativa relevância para o assistente social, uma vez que ele é
requisitado a analisar a realidade para além de sua aparência e, assim, adentrar meandros que
ficam imersos no cotidiano das relações sociais.

Entretanto, nem sempre a profissão esteve ao lado das


premissas questionadoras do aparente imediato; como pano de
fundo às suas ações profissionais, ela esteve vinculada às “Enquanto os positivistas e neo
premissas da fenomenologia. positivistas postulam a
objetividade e a racionalidade
O mais expressivo representante da fenomenologia Edmund do saber científico, a
fenomenologia coloca em
Hussel, a definiu como a ciência de essências de fenômeno, evidência o sujeito reflexivo e a
entendido como aquilo que aparece e se manifesta em si experiência vivida”.

mesmo, ou seja, como é em si, na sua essência, a uma


consciência intencional.

49
Esta corrente vem trazer a presença da subjetividade nos processos
de análises da sociedade. Assim, remete ao sujeito a
responsabilidade por seus movimentos de superação e, da mesma
forma, relega a secundaridade, o protagonismo das determinações
sociais. Por essa lógica a responsabilidade de toda a e qualquer
mudança ainda reside no sujeito, e, assim, seu fracasso depende
única e exclusivamente dele. (Alves, 2017, p.122)

A fenomenologia descreve os fatos, não explica e nem analisa. Seu


principal objeto é o mundo vivido, ou seja, os sujeitos de forma isolada. Considera a imersão
no cotidiano e a familiaridade com as coisas tangíveis. É necessário ir além das manifestações
imediatas para captá-las e desvendar o sentido oculto das impressões imediatas. O sujeito
precisa ultrapassar as aparências para alcançar a essência dos fenômenos.

A análise da realidade não pode considerar apenas aspectos subjetivos do sujeito, uma vez que
este tem suas determinações sócio-históricas, culturais, religiosas e outras, queinterfere em
seu modo de viver, por isso, responsabilizá-lo por suas mazelas, fracassos ou seus sucessos é
esquecer-se de analisar a realidade na qual o individuo está inserido, bem como, suas
influencias e desafios cotidianos.

Iamamoto e Carvalho acrescentam que:

Dessa forma, entendemos que esta


corrente não foi suficiente para o
rompimento com o
conservadorismo e não trouxe
fundamentos de uma prática
inovadora.

50
4.4.3. NEOTOMISMO

A presença do neotomismo no Serviço Social marca profundamente a profissão desde a


fundação da primeira escola de Serviço Social no Brasil. O Serviço Social, ao surgir atrelado
ao projeto da reforma social da Igreja, a serviço de sua ideologia, carrega, além de sua prática,
o seu ponto de vista teórico. Toda a visão de homem e de sociedade adotada na profissão se
dará a partir da visão católica, tendo como sustentação filosófica o neotomismo.

O serviço social se fundamenta na doutrina social da igreja. Do ponto de vista filosófico


terá por base o neotomismo. Os princípios de dignidade humana, do bem comum, entre
outros, hauridos em Santo Tomás, iluminaram a teoria e prática do assistente social de
maneira preponderante. (Albonette, 2017, p. 123)

Essa corrente se manifestou em três fases distintas. Vamos conhecê-las?

1ª – Fase Preliminar(1736 - 1879): trata-se


dos antecedentes e de todo movimento
2ª – Fase Tradicional(1879 - 1918): essa
filosófico que culminou o surgimento do
fase é marcada por um grande esforço em
neotomismo. Esse movimento teve sua
comentar a obra de Tomás Aquino,
inauguração oficial com a publicação da
especialmente a Suma teológica, e de
encíclica AeterniPatris do Papa Leão XIII, no
rejeitar a filosofia moderna.
dia 04 de agosto de 1879.

3ª – Fase de Transição(1918- 1945): trata-se de 4ª – Contemporânea ou progressista (1945- até os


uma fase dentro do neotomismo que coincidiu dias atuais): Nesta fase há uma abertura para o
com grandes e delicados problemas vividos pelo pensamento filosófico moderno e contemporâneo,
ocidente no século XX. Entre esses problemas: a integrando dessa forma o tomismo aos debates
grande depressão econômica de 1930, os regimes filosóficos atuais, esclarecendo que, tal atitude não
totalitaristas em países como a Alemanha, Itália e representa a negação das teses centrais do
Rússia e a segunda guerra mundial. Essa fase é tomismo, pelo contrário, mantém sua identidade
marcada por uma postura tradicional, porém, com filosófica, porém busca dialogar e até criticar as
diálogos filosóficos modernos e contemporâneos. corrente filosóficas contemporâneas .

51
A inteligibilidade humana é, enfim, um atributo
Com relação à elevação do
que denota a viabilidade de um projeto educativo
indivíduo à condição de pessoa, os
primeiros assistentes sociais voltado à construção de uma nova moral.
idealizavam um processo
educativo erigido, sobretudo, a Assim, como já salientamos, os assistentes
partir de dois atributos sociais, interpretando a questão social como uma
constitutivos neotomista da questão moral, preconizavam a atuação
pessoa humana: a
profissional junto às “deficiências sociais e
inteligibilidade e a liberdade.
individuais”, com vistas à construção de uma
nova ordem social.

Ao princípio da inteligibilidade, os primeiros assistentes sociais, ainda na trilha do


neotomismo, vinculavam a liberdade da pessoa humana. Respeitar esta liberdade, na atuação
profissional, significa respeitar a liberdade do assistido.

A concepção do homem como pessoa humana, nos moldes da


filosofia neotomista, permitia aos primeiros assistentes sociais
compactuar com as diretrizes doutrinárias da Igreja Católica na
década de 30.

O Serviço Social acreditava diferenciar-se de ações meramente

filantrópicas. Estas se
limitariam à assistência
material e a atuação
profissional do assistente
social teria um caráter
técnico, porque ancorava-
se em uma doutrina que
permitia aos indivíduos
elevarem-se da
precariedade material com
vistas à realização em uma
esfera atemporal.

52
4.4.4. MATERIALISMO HISTÓRICO-DIALÉTICO – MARXISMO

Materialismo é toda concepção filosófica que aponta a matéria como substância primeira e
última de qualquer ser, coisa ou fenômeno do universo. Para os materialistas, a única
realidade é a matéria em movimento, que, por sua riqueza e complexidade, pode compor tanto
a pedra quanto os extremamente variados reinos animal e vegetal, e produzir efeitos
surpreendentes como a luz, o som, a emoção e a consciência.

A concepção marxista é uma ciência à


qual o pensador alemão Karl Marx deu
o nome de materialismo histórico;

Seu objeto são as transformações


econômicas e sociais, determinadas
pela evolução dos meios de produção;

Marx constrói uma dialética (do grego


dois logos) materialista, em oposição à
dialética idealista hegeliana.

A filosofia de MARX parte do estudo dialético do homem como ser histórico do mundo.
Desta forma, ela pretende enfocar um homem concreto, vivendo no mundo, em luta constante
contra a natureza e em relação com os outros homens. Rejeita a ideia de um homem abstrato
ideal, no marxismo, o homem passa a ser visto como o conjunto de suas relações sociais.

O materialismo dialético pode ser definido como a filosofia do materialismo histórico, ou o


corpo teórico que pensa a ciência da história.

53
Há quatro princípios fundamentais do materialismo dialético, vamos conhecê-los?

O materialismo dialético entende que não existem oposições dualistas/dicotômicas entre as


instâncias sociais e individuais, objetividade-subjetividade, interno-externo. Entretanto, é
comum vermos nas publicações marxistas certa rejeição ao tema da subjetividade.
O marxismo fundou na história do pensamento uma
ontologia ancorada em bases de uma dialética eminentemente
histórica, que redimensionou um conjunto de questões
concernentes à relação do homem com sua história, do
homem consigo mesmo.
O homem marxiano se recusa como um ser apenas
determinado na/pela história, mas como transformador da
história, sendo a práxis, a forma por excelência desta relação.

54
Mas e no Serviço Social, qual foi à influência dessa corrente?

No marxismo há a presença do entendimento da sociedade por meio de suas contradições, o


que remete à consciência de classe. no que se refere ao Serviço Social, essa teoria faz com que
a categoria compreenda sua incursão na sociedade, a luta de classes e o entendimento do

Nos anos 80 a teoria social de Marx fortaleceu sua interlocução com


o Serviço Social, porém, apenas em 90 a corrente de pensamento
ganhou intensa notoriedade com a implementação do Projeto Ético-
Político da profissão e com a redefinição dos princípios e valores da
profissão, amplamente difundidos e publicados em seu Código de
Ética e, sobretudo, ao posicionamento da categoria quanto a defesa
da classe que vive do trabalho.

homem com base em suas determinações sociais, numa visão de totalidade. (Alves, p.122)

Nesse sentido, na perspectiva marxista, o homem só será entendido quando visto em sua
totalidade, sendo sujeito a mudanças, e a prática profissional se dá, então, de forma
complementar a práxis. O serviço social adere a essa corrente de pensamento ocorre a partir
da década de 80, porém, houve bastante resistência quanto a isso, por conta de se tratar de um
novo olhar da realidade e representar algo novo para a categoria.

Esses novos referenciais teórico-metodológicos e interventivos, fundamentados no


pensamento marxista, atravessaram discussões em diversos fóruns da categoria, e foram
organizados tanto por estudantes de Serviço Social como por profissionais e órgãos que
representam a categoria profissional. Vamos ver alguns?

55
Tais reuniões tiveram como objetivo promover a formação continuada e, assim, contribuir
substancialmente para a produção intelectual da profissão e, por conseguinte, com o processo
de trabalho profissional.
Surgiu então desses debates produção teórica, resultando em produção bibliográfica da
categoria, que foi fruto dos programas de pós graduação lato sensu (especializações) e stricto
sensu (mestrados e doutorados) em Serviço Social, espaços privilegiados de discursos teóricos
metodológicos que permitem amplo debate ente as ciências humanas e sociais.

*Aspectos discutidos nesse debates*

 Natureza da intervenção;
 Procedimentos;
 Formação;
 Historia;
 Realidade social, politica, econômica e cultural;
 Divisão social e técnica de trabalho;
 Estado capitalista;
 Politicas sociais;
 Movimentos sociais;
 Poder local;
 Direitos sociais;
 Cidadania e democracia;
 Processo de trabalho;
 Realidade institucional.

56
Desta forma podemos perceber a relevância do materialismo-dialético para a profissão, uma
vez que esta considera a sociedade como um todo, promovendo o exercício de entendimento
da ideologia que permeia a sociedade do capital e as formas que são representadas e
expressadas cotidianamente. Mostrou-se que através dessa corrente a categoria pôde se
fortalecer, alcançou melhores condições de entender a realidade social e consequentemente
ampliou seu olhar diante as desigualdades sociais produzidas pelo sistema.

APOSTILA

FUNDAMENTOS HISTÓRICOS TEÓRICOS E


METODOLÓGICOS DO SERVIÇO SOCIAL -
FHTM

57
5. BIBLIOGRAFIAS UTILIZADAS

ALBONETTE, Eliana Aparecida Gonçalez. Serviço social no Brasil: panorama histórico e


desafios [livro eletrônico]. Curitiba: InterSaberes, 2017.(Série Metodologia Do Serviço Social)
2Mb; PDF

ALVES, Marcia Oliveira. Desafios Históricos do serviço social [livro eletrônico]. Curitiba:
InterSaberes, 2016.(Serie Metodologia do Serviço Social) 2Mb; PDF

GRANEMANN, Sara. O processo de produção e reprodução social: trabalho e sociabilidade.


Disponível em < http://www.cressrn.org.br/files/arquivos/s709726Gx6l8W29E12Si.pdf>

IAMAMOTO, Marilda e CARVALHO, Raul. Relações Sociais e Serviço Social no Brasil:


esboço de uma interpretação histórico-metodológico. 41.ed. São Paulo, Cortez: CELATS.

NETTO, José Paulo. Ditadura e serviço social: uma análise do serviço social no Brasil pós-64.
8a.ed. São Paulo: Cortez, 2005.

SCHER, Aline Juliana. O que é serviço social? Fundamentos da profissão no Brasil e desafios
atuais para o Exercício profissional. Disponível em <http://cac-
php.unioeste.br/eventos/servicosocialunioeste/docs/edicao_atual/Scher.pdf>

SERVIÇO SOCIAL em Revista / publicação do Departamento de Serviço Social, Centro de


Estudos Sociais Aplicados, Universidade Estadual de Londrina. – Vol. 4 n. 1 (Jul/Dez. 2001)-
. –Londrina: Ed. UEL, 2003. Disponível em <http://www.uel.br/revistas/ssrevista/n1v4.pdf>

SILVA, Anália Barbosa da; SILVA, Diego Tabosa da; JUNIOR, Luiz Carlos de Souza. O
serviço social no Brasil: das origens à renovação ou o “fim” do “início”. Disponível em:
<http://cress-mg.org.br/hotsites/Upload/Pics/ec/ecd5a070-a4a6-4ba1-8e4a-
81b016479890.pdf>

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Você também pode gostar