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MANAUS - 2004
JOSÉ BENTES COUTINHO NETO
Esta dissertação foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Mestre em Engenharia
de Produção no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade
Federal de Santa Catarina.
____________________________________
Prof. Edson Pacheco Paladini, Dr. Enga.
Coordenador do curso
BANCA EXAMINADORA
_____________________________
Prof. Carlos Ricardo Rossetto, Dr.
Orientador
_____________________________
Prof. Ivan de Azevedo Tribuzy, Dr.
_____________________________
Prof. José Waldemar Gonçalves Souza, Dr.
Dedico este trabalho a minha esposa, Sandra, aos meus
filhos Thiago e Fernanda, aos meus país, José Bentes
Coutinho Filho (in memorian) e Lourdes Coutinho e ao
meu avô José Bentes Coutinho (in memorian), que sempre
foi a referência da minha vida. Que Deus nos abençoe.
Agradecimentos
RESUMO 08
ABSTRACT 09
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO 10
1.1 PROBLEMA DA PESQUISA 12
1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO 13
1.2.1 Objetivo Geral 13
1.2.2 Objetivos Específicos 13
1.3 JUSTIFICATIVA 13
1.4 LIMITAÇÕES DO ESTUDO 14
CAPÍTULO II
METODOLOGIA 16
2.1 A Natureza Da Pesquisa 16
2.2 Delineamento da Pesquisa 19
2.3 Coleta e Análise de Dados 20
2.3.1 Coleta e Tipos de Dados Utilizados 21
2.4 A Estrutura do Trabalho 22
2.5 Operacionalização da Pesquisa 23
2.6 Limitações da Pesquisa 24
CAPÍTULO III
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 26
3.1. Organizações 26
3.2. Ambiente Organizacional 28
3.3. Adaptação Organizacional 31
32
3.3.1 Perspectivas teóricas de adaptação organizacional
38
3.3.2 O ciclo de adaptação e tipos de adaptação estratégica.
44
3.4. Estratégia
3.5.Mudança Estratégica 47
3.5.1 O Processo, o Contexto e o Conteúdo da Mudança 48
55
CAPÍTULO IV
AS CONDIÇÕES OBJETIVAS DO SETOR DA EVI
4.1. Ambiente Geral : Condições Macroeconômicas e políticas do Brasil nas 57
décadas de 70, 80 e 90
4.1.1. A Situação Política e Econômica do Brasil nos anos 70 57
4.1.2 A Situação Política e Econômica do Brasil nos Anos 80 63
4.1.3 A Situação Política e Econômica do Brasil nos Anos 90 73
4.1.3.1 O Governo Collor e a Estratégia Neoliberal (1990-1992) 74
4.1.3.2 O Plano Real e a Situação Político-Econômica do Brasil (1993- 76
2000)
4.2 Ambiente específico: a Industria Eletroeletrônica do Pólo Industrial de 79
Manaus
4.2.1 Início da Zona Franca de Manaus (ZFM) 79
4.2.2 Dinâmica da Zona Franca de Manaus (ZFM) na Década de 70 – 81
Liberdade Plena de Importação
4.2.3 Dinâmica da Zona Franca de Manaus (ZFM) na Década de 80 – 82
Contingenciamento de Importação
83
4.2.4 Dinâmica da Zona franca de Manaus (ZFM) na Década de 90 – Nova
Política Industrial
CAPÍTULO V
O ESTUDO DO COMPORTAMENTO ESTRATÉGICO 94
ORGANIZACIONAL
5.1 Situação Atual da Empresa 94
5.2 Fases do Comportamento Estratégico Organizacional 95
CAPÍTULO VI
CONCLUSÔES E RECOMENDAÇÕES 128
6.1 Conclusão 128
6.2 Recomendações 132
The objective of the present work is to study the strategic organizational behaviors of a
company in the Industrial Pole of Manaus (PIM), State of Amazonas, Brazil, manufacturing
electro-electronic goods. The period surveyed were the decades of the 70s, 80s and 90s, based
on the typology of Miles & Snow (1978), the theoretical model of Pettigrew (1987) was used
in studying the processes of longitudinal historical changes, in terms of content, context and
process, aiming at the following specific objectives: to describe the general and specific
environment in which the company was inserted tabled by period; to determine which were
the strategic changes occurred in these periods; and to identify and classify within the four
perspectives of Miles & Snow (1978), the strategic behavior patterns of the company in each
period. As a result, the predominant postures of the company were identified as being the
analytical and the prospecting one. However, the individual analysis of each one of the
eighteen strategies of organizational behavior, we can notice an efficient administration of the
internal interdependences and an excellent organizational adaptation of the company in an
effective alignment with the environment.
CAPÍTULO I
INTRODUÇÃO
Por isso, tanto flexibilidade quanto objetividade são essenciais para o êxito de um
processo de mudança (JUDSON, 1980) e adaptação estratégica, a fim de que ao término do
curso possa haver um aumento de produtividade (KIRKPATRICK, 1988) e uma melhora nos
níveis de performance (GRONHAUG & FALKENBERG, 1989).
Mudança organizacional é um processo multinível e interativo, tendo seus resultados
moldados por interesses e compromissos, tanto em nível do indivíduo como em nível dos
grupos de dentro da organização. Ela resulta da escolha e do determinismo, e da interação de
várias forças políticas e econômicas.
Diante disso, é sabido que as organizações não possuem controle das condições
necessárias para sua própria sobrevivência, sendo elas importadoras de recursos externos,
logo, dependem do ambiente. Por ambiente, se entende o elemento em que a organização não
pode controlar, embora ela possa ser capaz de influenciar o seu ambiente local de algum
modo. Assim, a sobrevivência organizacional depende não apenas de ajustes internos, mas
principalmente, de ajustes e lutas com o ambiente externo.
Abordar as organizações como sistemas abertos - os quais consideram que as
organizações mantêm um relacionamento de interdependência com seus ambientes -, tem
ajudado aos teóricos organizacionais durante as últimas décadas, a desenvolver conceitos,
teorias e modelos que incorporam as novas tendências. Nesse sentido, foram surgindo
diferentes abordagens para estudar o inter-relacionamento organização - ambiente.
Vários autores oferecem abordagens diferenciadas para a adaptação organizacional, na
tentativa de melhor conhecer e retratar as mudanças realizadas pelas organizações a fim de
articular suas capacidades com as contingências do ambiente. Hrebiniak e Joyce (1985), como
também Weick (1973), afirmam que adaptação organizacional deve ser entendida como
conseqüência do comportamento organizacional, seja ele proativo ou reativo, criando seus
próprios ambientes, por meio de escolhas voltadas para o mercado, como produtos,
tecnologias, etc.
No estudo de teoria das organizações, distinguem-se duas perspectivas gerais básicas
de adaptação organizacional: a primeira sugere que as contingências ambientais são
determinantes no desenvolvimento organizacional (determinismo ambiental); já a segunda
posiciona-se do lado oposto e vê as organizações como sendo capazes de exercer escolhas
decisivas no seu desenvolvimento organizacional, assim como, de manipular o próprio
ambiente externo no seu proveito (voluntarismo). Hrebiniak e Joyce (1985) consideram
importante realizar uma análise conjunta das duas perspectivas, sendo determinismo e
12
voluntarismo independentes mas não excludentes.
Miles e Snow (1978), apresentam dois referenciais teóricos para o melhor
entendimento da adaptação organizacional; o primeiro, o modelo do ciclo de adaptação, vem
auxiliar no desenvolvimento e na compreensão do processo pelo o qual as organizações se
ajustam continuamente aos seus ambientes, e ; o segundo, os tipos estratégicos, que
configuram os diversos padrões de comportamentos estratégicos usados nas organizações,
quando a organização procura responder às demandas do ambiente.
Neste contexto, a presente pesquisa tem como foco central, verificar por meio de
estudo de caso, o comportamento estratégico organizacional em uma organização pertencente
ao Pólo Industrial de Manaus (PIM), na cidade de Manaus – Am -, fundamentada na tipologia
de Miles & Snow (1978), as quais classificam as empresas em 04 categorias de
comportamento estratégico distintas, a saber: prospectoras; defensivas; analíticas e reativas.
Baseado nesta realidade, este trabalho procurará dar resposta ao seguinte problema de
pesquisa:
1.3 – JUSTIFICATIVA
Pettigrew (1992), tem afirmado que grandes partes das pesquisas sobre esse assunto
14
são ahistóricas, aprocessuais e desenvolvidas sem o exame mais aprofundado do contexto em
que as organizações estão inseridas e outras de que se tem conhecimento, realizadas em outros
tipos de organizações, são, na sua maioria, cross-sectorial, ou seja, se limitam a modos de
análise que consideram simples eventos ou conjuntos de episódios discretos, separados de
acontecimentos mais distantes, fornecendo pouco detalhes quanto à natureza ou ao contexto
1
Nome fictício, respeitando a decisão da diretoria da Empresa em não revelar o nome original.
15
METODOLOGIA
Existe uma histórica influência dos métodos de pesquisa das ciências naturais
conhecidos como métodos quantitativos positivistas nas outras áreas do conhecimento, entre
elas as ciências sociais. Neste sentido Hughes (1980) observa que as conquistas das ciências
naturais influenciaram as formas através das quais concebemos e estudamos a sociedade. O
18
mesmo autor considera que tal fato não significa que essas disciplinas foram forçadas a adotar
os métodos das ciências naturais, mas assinala apenas que esses métodos constituem um
aspecto importante de seu embasamento intelectual.
Nas ciências sociais existe uma tendência crescente pela utilização de métodos
qualitativos de pesquisa. Um dos princípios básicos desta abordagem é que as ciências
humanas são específicas e possuem metodologia própria, a qual busca os dados no contexto
onde ocorrem; considera que existe uma relação dinâmica entre o mundo real observado e o
observador-pesquisador, ele faz parte do processo de cognição e interpreta os fenômenos de
acordo com seus valores e crenças, dando-lhes significado.
Nesse sentido, Merriam (1998) considera que os pesquisadores que utilizam métodos
qualitativos, deveriam possuir três características importantes:
Gil (1989) considera que cada pesquisa possui um delineamento próprio, determinado
pelo objeto de estudo, pela dificuldade na obtenção de dados, pelo nível de precisão exigido,
pelas limitações próprias do pesquisador.
Merriam (1998) observa que na literatura existente, pode ser identificada uma enorme
variedade de tipos de pesquisa qualitativa, as quais são apresentadas como: orientações,
tradições teóricas, estratégias de indagação, gêneros ou tradições importantes. A referida
autora considera que na área de educação, destacam-se cinco tipos de pesquisa qualitativa,
pela sua relevância e utilização: estudo qualitativo básico ou genérico; etnografia;
fenomenologia; ground theory; e estudo de caso.
O presente estudo pretende utilizar como técnica de pesquisa o estudo de caso simples,
tendo como unidade de análise uma única organização. A seguir são abordadas algumas
considerações relevantes referidas ao estudo de caso.
Yin (1990) conceitua o estudo de caso como uma investigação empírica que estuda um
fenômeno contemporâneo dentro do contexto da vida real, especialmente quando as fronteiras
entre o fenômeno e o contexto não são evidentes. Merriam (1998) define o estudo de caso
como uma intensiva descrição holística e análise de um fenômeno ou unidade social.
21
O estudo de caso é uma técnica de pesquisa particularmente apropriada quando se
deseja estudar situações complexas nas quais resulta praticamente impossível separar as
variáveis do fenômeno do seu contexto (YIN, 1990). O estudo de caso resulta conveniente
quando a pesquisa tem interesse na evolução do processo do fenômeno em estudo
(MERRIAM, 1998).
Merriam (1998) considera que de um modo geral, os estudos de caso podem ser
classificados como descritivos, interpretativos e avaliativos.
1. Estudos de caso descritivos. São estudos que apresentam uma detalhada descrição
do fenômeno sob estudo, não são guiados por questões estabelecidas ou generalizações, nem
motivadas pelo desejo de estabelecer hipóteses amplas.
3. Estudos de caso avaliativos. São estudos que contemplam as características das duas
anteriores (descritivo e interpretativo), adicionando uma etapa final de julgamento dos
resultados.
A pesquisa qualitativa não segue uma seqüência rígida de etapas. A coleta e a análise
dos dados não constituem divisões rígidas. As informações recolhidas são interpretadas,
podendo gerar uma exigência de novas coleta de dados (TRIVIÑOS, 1992).
Conforme Triviños (1987), no estudo de caso, a coleta e a análise dos dados ocorrem
concomitantemente, buscando novas descobertas no decorrer da pesquisa. Os dados são
coletados e analisados, procurando-se exercer uma crítica necessária para garantir
confiabilidade e consistência.
CAPÍTULO III
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Antes de iniciar a revisão de literatura, é importante esclarecer que este trabalho segue
a linha de outros trabalhos realizados no Núcleo de Estudos Organizacionais (NEO) – ligado
ao Mestrado em Administração da UNIVALI – SC, Universidade do Vale do Itajaí –
(Biguaçu) e no Núcleo de Estudos Estratégicos (NEST), do programa de pós-graduação em
Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
3.1 – ORGANIZAÇÕES
regulamentações governamentais que, cada vez mais, têm tratado de controvérsias sociais
(tais como, discriminação, segurança no local de trabalho, proteção do meio ambiente); c)
escassez de recursos; d) maior diversidade da força de trabalho; e) normas culturais em
mudança e; f) pressões empresariais mais tradicionais, por parte dos concorrentes,
fornecedores, etc.
A metáfora da máquina remonta a vários séculos atrás, mas foi no início do século XX
que suas idéias e desenvolvimentos foram sintetizados numa teoria de organização. Morgan
(1996, p.26) descreve que a mais importante contribuição a essa teoria foi feita pelo sociólogo
alemão Max Weber que observou os paralelos entre a mecanização da indústria e a
proliferação de formas burocráticas de organização. Concluiu que as formas burocráticas
rotinizam os processos de administração como a máquina rotiniza a produção.
Portanto, as organizações são vistas como sistemas abertos, que precisam se adaptar às
condições externas, em constante mudança, e necessitam realizar trocas com o ambiente,
através de inputs e outputs. A principal característica dos sistemas abertos é sua
adaptabilidade, ou seja, o seu processo contínuo de aprendizagem e de auto-organização em
face das condições do ambiente.
Com a ênfase na organização como sistema aberto, o ambiente passou a ser definido
como todos os fenômenos que são externos à população em estudo, e que a influenciam
potencial ou realmente (HAWLEY apud HALL, 1984); ou como partes do meio que são
relevantes ou potencialmente relevantes para que a organização estabeleça e atinja seus
objetivos (DILL apud THOMPSON, 1967).
As empresas como sistemas abertos, são as que estão em permanente intercâmbio com
o seu ambiente e caracterizam-se por equilíbrio dinâmico. Esse intercâmbio é constituído de
fluxos contínuos de entradas e saídas de matérias, energia e/ou informações, caracterizando,
desta forma, o equilíbrio dinâmico, a partir de uma adaptação da empresa em relação a seu
ambiente (KELLY e ALLISON, 1999).
Legenda:
Externos
Ação indireta
Ocorre porém que, nem tudo que acontece no ambiente, seja ele geral ou específico, é
significativo, ou sequer chega a ser conhecido pelos membros das organizações. Este é um
fenômeno ligado aos processos de atenção e percepção do homem, isto é, nenhum indivíduo é
capaz de captar toda gama de informações que está ao seu redor, mesmo que o fizesse, nada
garante que a percepção do que ele captou seja correta, ou mesmo útil para suas atividades
(WEICK, 1973). Neste ponto, em que intervêm o fator humano – identificando as condições
do ambiente – é que surge a necessidade de abordar o ambiente organizacional, a partir da
segunda perspectiva colocada acima, fazendo a distinção entre ambiente real e ambiente
percebido.
Este tipo de consideração, faz surgir uma distinção analítica do ambiente, de grande
interesse para o desenvolvimento deste estudo. Esta distinção reside no fato de que, muito
embora o ambiente possa ser distinguido de diferentes maneiras, ele só existirá para a
organização na extensão em que for percebido pelos seus integrantes.
Miles (1982), em sua pesquisa que relata como as organizações complexas se adaptam
sob condições impostas pelo ambiente externo, procura explicar como as empresas adaptam-
se ao ambiente por meio de duas perspectivas distintas quanto ao poder de influência das
organizações e do ambiente. Há a determinista que considera o ambiente com forte poder de
influência sobre a organização, sendo, então, o único responsável pela definição das
estratégias e a voluntarista que considera a organização com forte poder de influência sobre o
ambiente, com capacidade de manipulá-lo em função de seus interesses estratégicos.
Modelo da ecologia das populações. Este modelo foi desenvolvido com base no
modelo da seleção natural da ecologia, na biologia, que por sua vez tem suas raízes na teoria
evolutiva de Darwin (ALDRICH, 1979). Os desenvolvimentos desta perspectiva está
relacionado aos trabalhos de Aldrich e Pfeffer, Hannan e Freeman, Kasarda e Bidwell e
Mckelvey e Aldrich (HALL, 1990).
Duas suposições são assumidas como verdades para sustentar a validade da dinâmica
populacional proposta no modelo: a) as organizações se caracterizam basicamente pela
inércia; b) as organizações são cativas de seu ambiente. Assim, as variações de formas
organizacionais não surgem e se materializam dentro das organizações, mas sim através do
surgimento ou entrada de novas formas organizacionais diferenciadas na população existente -
ambiente -, onde é realizada a seleção, preservação, duplicação e reprodução das formas
organizacionais que tiveram melhor adequação ao ambiente (MILES, 1982).
Assim, a adaptação organizacional neste modelo vai no sentido de uma melhor
adequação da organização ao ambiente, onde as formas organizacionais com melhor êxitos
são as que sobrevivem no longo prazo. A crítica ao modelo é que os processos pelos quais é
alcançada essa melhor adequação são desconsiderados (HALL, 1990).
Modelo racional de contingências. Hall (1990) observa que este modelo consegue
combinar elementos importantes das perspectivas de objetivos múltiplos e conflitantes e das
restrições ambientais. O mesmo autor coloca que o modelo tem sua raiz na teoria da
contingência, surgida em trabalho pioneiro de Lawrence e Lorsch e aperfeiçoada
posteriormente por diversos autores, tais como Galbraith, Becker e Neuhauser, Negandhi e
Raimann. Essa teoria pode ser resumida da seguinte maneira: a maneira ótima de organizar
depende da natureza do ambiente com o qual a organização deve relacionar-se. Segundo o
mesmo autor a principal crítica à teoria da contingência é que não explica como e por que se
desenvolve uma maneira ótima de organizar.
Assim, o modelo considera que as ações organizacionais são resultantes das opções
feitas pela coalizão dominante da organização de um conjunto de alternativas, num
determinado contexto ambiental de restrições e oportunidades, utilizando os objetivos
organizacionais como direcionadores das decisões adotadas (HALL, 1990; MILES, 1982). As
ações adotadas pela coalizão dominante podem ser vistas como solucionadoras de problemas
35
(posição reativa), porém, restrita à limitada racionalidade e disponibilidade de informação da
coalizão dominante.
Child (1997) considera que o exercício da escolha estratégica pela coalizão dominante
acontece através de um processo circular que tem três estágios: a) avaliação da posição da
organização. São avaliadas as condições existentes no ambiente dentro do qual a organização
opera (oportunidades e restrições), assim como são recolhidas informações do desempenho
global da organização.
Child, citado por Miles e Snow (1978, p.20), afirma que a maneira mais precisa de se
conceituar esse processo é a Abordagem da Escolha Estratégica. Essa abordagem, segundo os
mesmo autores, argumenta que os administradores estão em uma posição para não somente
ajustar a estrutura e processos organizacionais, mas também para tentar manipular o próprio
ambiente para trazê-lo em conformidade com o que a organização realiza.
Miles e Snow (1978) afirmam que a abordagem da escolha estratégica argumenta que
a eficácia organizacional depende das percepções da direção ou, como defende (CHILD apud
MILES e SNOW, 1978) coalizão dominante, sobre condições ambientais, e das decisões que
38
ela toma relacionadas à maneira pela qual a organização enfrentará essas condições.
Miles e Snow (1978) sustentaram uma estrutura teórica para retratar o processo de
ajustamento ou adaptativo nas organizações. O processo dinâmico de ajustamento às
mudanças e incertezas ambientais é bastante complexo, envolvendo inúmeras decisões e
condutas em vários níveis organizacionais. Sustentam os autores que a complexidade desse
processo de ajustamento pode ser melhor compreendida e reduzida por meio da busca de
padrões no comportamento das organizações, já que estes padrões podem descrever e até
mesmo prever o processo de adaptação organizacional. A visão dos autores insere-se na
abordagem da escolha estratégica, ao reconhecer que as principais decisões tomadas pelos
administradores servem para definir o relacionamento da organização com o macro ambiente
(CHILD,1972).
Prospectoras
Defensivas
Adotam a postura quase que oposta aos prospectoras, pois procuram defender e
garantir a posição em que se encontram. Tendem a não introduzir inovações tecnológicas,
competindo nas dimensões de preço e qualidade dos seus produtos já comercializados no
mercado.
Ainda que esta estratégia possa ser aplicada a diversas indústrias, os autores concluem
que são nas indústrias estáveis que este tipo de organização se dá com maior probabilidade.
Esta estratégia se depara com o risco de ser incapaz de se adaptar a mudanças mais
drásticas no ambiente competitivo, pois o foco impede que haja a diversificação, fundamental
para acompanhar mudanças.
Analíticas
Reativas
Estas empresas não adotam uma postura pró-ativa, apenas reagem às ações das outras
empresas quando são forçadas. Estão geralmente em desvantagem, pois sofrem os ataques das
prospectoras e não conseguem atingir o mercado protegido pelas empresas defensivas e
analíticas.
Geralmente, as reativas chegam a esta situação por não conseguirem definir uma
estratégia específica em função de um líder centralizador, ou pela contradição entre a
estratégia escolhida e a estrutura organizacional adotada ou pela não adaptação da estratégia
ao novo ambiente competitivo.
Uma vez escolhida a postura que irá adotar frente ao ambiente competitivo, a empresa
deve adequar seu processo produtivo, a rede de distribuição e logística, a política de preço, os
esforços de promoção e marketing e demais processos envolvidos de forma a apoiar a postura
selecionada.
Pettigrew (1987) sugere um modelo para estudar a mudança de uma forma dinâmica e
holística em termos de conteúdo, contexto e processo. A presente pesquisa adotará esse
modelo para analisar o processo de adaptação organizacional da empresa em estudo. O
referido autor representa a análise da mudança através de uma figura em que transparece a
indivisível relação entre conteúdo, contexto e processo.
Esta seção apresenta uma revisão das dimensões da estratégia relacionado ao modelo
de Pettigrew (1987): conteúdo, processo e contexto (ver Figura 3).
44
CONTEÚDO
ÂInterno
CONTEXTO
PROCESSO
ÂExterno
2
A teoria do processo teleológico é baseada na suposição de que o desenvolvimento do ser é proposital e adaptativo. Ele
mesmo constrói um estado final desejado e seleciona, das alternativas, um curso de ação para alcançar o estado final. Quando
alcança este fim, não significa que esteja em equilíbrio, influências do meio externo ou interno devem criar instabilidade que
o colocam em uma nova trajetória. Teorias que dependem do processo teleológico não podem especificar que trajetória o
desenvolvimento irá seguir. Dentro de uma lista dos melhores caminhos, e através de normas de racionalidade escolher-se-á
um certo caminho.
45
Greenwood e Hinings (1988) têm tratado a questão da mudança macro organizacional
com o conceito de caminhos. Um caminho é uma seqüência que envolve a alteração de
elementos da estrutura de um esquema interpretativo vigente, o surgimento de novos
esquemas interpretativos e seu rearranjo com apropriados elementos da estrutura. Esta deve
ser de reorientações transformacionais, movimentos que iniciam um processo de
transformação seguido pela estabilidade onde ocorrem mudanças incrementais.
Os cenários de adaptação podem ter vários formatos. Nos sistemas mais complexos,
biológicos ou comerciais, os cenários têm muitos picos e vales (analogia com o ambiente
físico), porém as alturas dos diversos pontos se correlacionam de modo que as estratégias,
ligeiramente diferentes, estejam próximas umas das outras e tenham níveis de adequação
semelhantes.
Aponta quatro elementos vitais para chegar aos altos picos nos cenários de adaptação:
a) não parar nunca; b) colocar alpinistas em todo o território; c) misturar saltos curtos e longos
e; d) criar populações de estratégias.
Para Pettigrew e Whipp (1991), o contexto pode ser dividido em contexto externo e
interno. O contexto externo é formado pelas condições econômicas, competitivas, políticas e
sociais do ambiente; o contexto interno é o espaço no qual vão surgir as idéias de mudança.
Ele é constituído pela estratégia atual, recursos, cultura, competências e processo político.
Whipp et al. (1989) afirmam que existem poucas dúvidas e que a adaptação para mudanças
competitivas no contexto tem sido um fator chave para o sucesso das organizações
Terceiro, existem aqueles que acreditam que os gerentes têm um papel chave no
monitoramento da mudança ambiental e mudam as estratégias para ajustar suas organizações
47
àquelas mudanças (CHILD, 1972). Devido à perspectiva da escolha estratégica, o
relacionamento ambiente-organização muda através do tempo.
Por último, tem-se a perspectiva institucional, esta trata de como e por que as
estruturas e processos organizacionais tornam-se legitimados e as conseqüências deste
processo de institucionalização (MEYER e ROWAN, 1977; ZUCKER, 1987).
As forças que fazem com que as organizações mudem podem ser compreendidas da
perspectiva teórica. Contudo, a natureza apropriada da mudança pode ser determinada
somente em relação a um conjunto específico de condições externas e internas (FRIESEN e
MILLER, 1986).
Para resumir, os estudos encontrados nesta área parecem suportar a afirmação que a
mudança estratégica, para ser entendida, deve ser examinada considerando não somente as
mudanças ambientais, mas também certos fatores contextuais internos à organização.
a) Contexto externo
Portanto, a pressão do contexto externo faz com que a organização adote uma postura
empreendedora e tente modificar seu ambiente ou adotar uma postura adaptativa e ajustar-se a
ele.
b) Contexto interno
3
Como as estratégias em nível funcional ou operacional não envolvem a interação ambiente-estratégia, estudos
deste nível geralmente não são considerados ao aplicar-se a estudo da estratégia (Bourgeois, 1980). Por esta
razão, eles não serão incluídos na discussão da mudança estratégica.
50
Portanto, o conteúdo da mudança estratégica, adotando as dimensões sugeridas por
Topping (1991), pode ser definido da seguinte maneira: a) mudança estratégica em nível
corporativo envolve um realinhamento do domínio produto/mercado da organização
(ANSOFF, 1977); b) mudança estratégica em nível de negócios é definida como uma
modificação das decisões competitivas (mudanças de preço ou qualidade) dentro de um
domínio específico de produto/mercado (BOURGEOIS, 1980); c) mudança estratégica em
nível cooperativo envolve uma variação no grau de interdependência ou cooperação entre
uma organização e outras organizações no ambiente (NIELSEN, 1988).
3.6 – ESTRATÉGIA
A estratégia diz respeito tanto à organização como ao ambiente. Uma premissa básica
para se pensar a respeito de estratégia diz respeito à impossibilidade de separar organização e
ambiente. A organização usa a estratégia para lidar com as mudanças nos ambientes
(MINTZBERG, et al, 2000).
Bourgeois (1980) define estratégia como os meios pelos quais a administração de uma
organização estabelece objetivos e persegue estas propostas através do coalinhamento dos
recursos organizacionais com as oportunidades e ameaças ambientais.
Primeiro, as estratégias podem ser dirigidas para o ambiente externo, isto é, quando
elas buscam posicionar a organização no ambiente. Segundo, as estratégias podem ser
dirigidas para dentro quando se preocupam com o coalinhamento dos recursos
organizacionais às oportunidades e ameaças ambientais.
Hambrick e Schecter (1983) observam que uma estratégia pode ser considerada um
padrão em uma corrente de decisões passadas ou pretendidas que: a) guia o alinhamento
contínuo da organização com seu ambiente, e; B) molda os procedimentos e políticas internas.
Mintzberg et al. (2000) observam como impróprio considerar uma única definição de
estratégia e propõem como válidas cinco caracterizações distintas de estratégia. Uma
estratégia pode ser considerada como um plano, um padrão, uma posição, uma perspectiva ou
uma manobra.
Estratégia como plano é definida por esses autores como um curso ou guia de ação
para o futuro predeterminado, resultante de um processo de deliberação formalizado.
Observa-se, no entanto, que na hora de rever o seu passado as realizações de uma organização
geralmente não guardam muita correlação com o que originalmente fora pretendido.
Estratégia deliberada
Estratégia Estratégia
Pretendida realizada
Estratégia Estratégia
Este capítulo teve como objetivo fornecer a base teórica para a pesquisa efetuada,
dando sentido acadêmico, aos fatos a serem estudados. Assim enfocou-se conceitos, teorias e
modelos relacionados com organizações, como sistemas abertos, ambiente organizacional,
fazendo-se a distinção entre ambiente geral e especifico, assim como, entre ambiente real e
percebido. Na seqüência, apresentou-se aspectos relacionados a adaptação organizacional,
agrupados em modelos determinísticos e voluntaristas, o ciclo de adaptação e padrões de
comportamentos estratégicos, baseada na tipologia de Miles e Snow (1978), que é objeto
deste estudo, sobre o comportamento organizacional de uma empresa do Polo Indústrial de
Manaus (PIM). Também foram abordados aspectos sobre mudança estratégia e estratégia,
dando fundamentos teóricos necessários para compreender e dar significado ao fenômeno
estudado.
54
CAPÍTULO IV
O ambiente geral – se refere aos fatores, tendências e condições gerais que afetam a
todas as organizações. Inclui aspectos relacionados às condições tecnológicas, fatores sociais,
interações políticas, condições econômicas, fatores demográficos, além da estrutura legal e
condições culturais (BOWDITCH e BUENO, 1997). Em função das peculiaridades do objeto
de análise – empresa industrial que atua no setor eletroeletrônico do Pólo Industria de Manaus
(PIM), - dar-se-á maior ênfase à descrição das condições econômicas e políticas do ambiente
geral, fazendo referências a outros aspectos, somente quando da abordagem for considerada
relevante para a consecução dos objetivos do estudo.
55
O ambiente específico – enfoca os fatores e as condições externas que tenham
relevância imediata para a organização. Inclui os clientes, fornecedores, sindicatos,
autoridades regulamentadoras, grupos de interesses e outros segmentos ou entidades
considerados relevantes para a organização. Está relacionado ao espaço de domínio específico
da organização, ou seja, à gama de produtos ou serviços oferecidos ou mercados servidos
(BOWDITCH e BUENO, 1997).
Com essa análise ambiental, descrição das condições objetivas do setor, através da
caracterização dos ambientes geral e específico, completa-se o exame do contexto externo das
mudanças estratégicas da organização, de acordo com a caracterização de Pettigrew (1987).
Neste período, é possível destacar dois grandes fatos que têm influência decisiva na
condução dos rumos do país e repercussão no âmbito da ação política e econômica da nação:
médias anuais superiores a 10%, com destaque para o produto industrial, enquanto a taxa de
inflação apresentava índices relativamente baixos, com média inferior a 20%.
DA ECONÔMIA (1970-1973)
Muitos são os fatores que contribuíram para esta fase de expansão econômica. Havia
um clima favorável aos investimentos econômicos, destaque para o saneamento da economia
e das finanças públicas; a estabilidade sócio-política, embora sob a égide de um regime
autoritário; as perspectivas seguras de expansão e lucratividade dos empreendimentos
econômicos; e a restauração da confiança dos investidores.
Este fato inusitado abalou não só a economia brasileira mas também a economia
mundial. O combustível básico que movimentava a economia mundial desde o início do
século XX deixava de ser barato e abundante.
59
O governo Geisel, logo que assumiu, em março de 1974, alterou em parte os rumos da
política externa brasileira em relação à orientação seguida pelos governos do ciclo militar
anteriores, adotando uma linha de maior autonomia e de projeção da personalidade nacional
60
Neste contexto, surge o II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND), para dar
continuidade aos esforços de crescimento econômico dos anos anteriores. As grandes metas
governamentais apontavam para :
DA ECONÔMIA (1974-1979)
Fonte: FIBGE
passando os déficits em conta corrente a serem cobertos com empréstimos junto aos bancos
estrangeiros, aumentando significativamente a dívida externa, conforme mostra a Tabela 2.
Outro fator significativo deste período foi à ampliação do setor estatal na economia.
Apesar de que na ótica do governo a solidez da economia do país dependeria do equilíbrio do
desenvolvimento formado pelo tripé empresas estatais, empresas estrangeiras e empresas
privadas nacionais, exigindo, portanto, uma política de contenção da estatização e de
fortalecimento do setor privado, a perna mais fraca do tripé, acabou, na prática, ampliando-se
mais do que em qualquer outra época o setor estatal da economia. Grandes investimentos
foram feitos na empresas estatais – Eletrobrás, Petrobrás, Embratel e outras (FAUSTO, 1995).
Nos anos 80, a economia brasileira foi marcada por graves desequilíbrios externos e
internos. Se a década de 70 pode ser lembrada como a década da prosperidade econômica, a
década de 80 leva o estigma da década perdida. As dificuldades internas da economia
brasileira no final dos anos 70 e início dos anos 80, agravados por um conjunto de mudanças
adversas no cenário econômico internacional, levaram o Brasil ao colapso financeiro e a mais
grave crise econômica de sua história.
Os anos 80 iniciam sob égide de um novo governo e de uma nova proposta para
consolidar os êxitos econômicos e políticos auferidos no período anterior. O General
Figueiredo, que assumira a Presidência da República em 15 de março de 1979, promulga o III
Plano Nacional de Desenvolvimento – III PND, que consistia fundamentalmente na idéias de
manter o crescimento acelerado da economia e de combater a inflação, para repetir o sucesso
do milagre brasileiro.
(1980-1984)
Com a Nova República, inicia-se um novo ciclo histórico no país, agora sob a
coordenação de políticos civis, novos desafios e esperanças surgem a partir da posse do novo
governo. No campo político, impunha-se a necessidade de superar o autoritarismo e implantar
o Estado de Direito Democrático. No campo econômico, era preciso criar condições para um
novo ciclo de expansão econômica, uma vez que a economia brasileira apresentava um
quadro de asfixia generalizada, em função dos resultados negativos dos últimos anos de
governo militar.
O Plano Cruzado introduziu uma nova moeda, substituindo o cruzeiro pelo o cruzado,
e definiu regra de conversão de preços e salários de modo a evitar efeitos redistributivos, ou
seja, buscou promover um “choque neutro” que mantivesse sob o cruzado o mesmo padrão de
distribuição de renda do cruzeiro (VASCONCELLOS et al., 1996). As principais medidas do
plano, em síntese, foram as seguintes:
c) reajuste dos salários pelo seu valor médio dos últimos seis
meses anteriores, mais um abono de 15% para o salário mínimo e 8% para os
demais salários. Os reajustes posteriores seriam automáticos (“gatilhos”)
sempre que a inflação atingisse 20%;
e) criação do seguro-desemprego.
O Plano Cruzado, no entanto, mostrou-se ser um plano com objetivos limitados e com
prazo curto de duração. No final de 1986 e início de 1987 os sinais do desaquecimento da
economia já eram percebidos, com a queda da demanda e profunda desestruturação das
condições de ofertas devida à longa permanência do congelamento. Tem-se um movimento de
perda de reservas em razão dos saldos negativos na balança comercial, o que levou ao anúncio
da moratória em fevereiro de 1987 para estancar a perda de reservas e reiniciar as negociações
da dívida externa (VASCONCELLOS et al., 1996).
69
Na tentativa de reverter o quadro de descrédito por força do fracasso do Plano
Cruzado, o governo substitui a equipe econômica (Ministérios da Fazenda, do
Planejamento e Banco Central), em abril de 1987. O novo ministro da fazenda, Luiz Carlos
Bresser Pereira, passou a centralizar o comando da política econômica.
Apesar de ser tecnicamente mais consistente que o Plano Cruzado, o Plano Bresser
encontrou pouca ressonância nos agentes econômicos e na sociedade, e obteve poucos
resultados concretos. Quando se iniciou a descompressão de preços, voltou a aceleração
inflacionária e as pressões por reposições salariais, acabando com o plano. Com a demissão
do ministro Bresser Pereira, em dezembro de 1987, decorrente do fracasso do plano, assumiu
a pasta da economia o Ministro Maílson da Nóbrega e novas medidas foram anunciadas pelo
governo.
70
Com o Ministro Maílson da Nóbrega o governo optou por administrar o dia-a-dia da
economia, com medidas de curto alcance, contrariamente às tentativas de combate drástico ao
processo inflacionário, dos planos anteriores. Essa opção, conhecida como “política-do-
feijão-com-arroz”, tinha como metas principais à retenção da inflação ao redor de 15% ao
mês e redução gradual do déficit público, projetado em torno de 7 a 8% do PIB para 1988.
O Plano Verão foi de curta duração. O governo não conseguiu realizar nenhum
ajuste fiscal, o que mantinha os elevados e crescentes déficits públicos. O descontrole fiscal,
em conseqüência, levava ao descontrole monetário. O imobilismo da política econômica
contribuía para um quadro de hiperinflação. O Presidente Sarney encerrava seu mandato em
meio a um verdadeiro caos político e econômico. Encerrava-se, também, de forma
melancólica, a antes esperançosa Nova República.
Brum (1997) afirma que a crise brasileira dos anos 1980 foi certamente a mais longa,
profunda e complexa da nossa história e conseqüentemente, de mais difícil superação. Em
face do fraco desempenho econômico e da ineficácia das medidas e planos econômicos para a
superação da crise, neste período, estes anos são lembrados como a “década perdida”.
Os anos de 1990 foram marcados pelo grande desafio de viabilizar novamente o país,
que se encontrava abalada pela crise profunda dos anos 80. Para além das exigências
decorrentes da necessidade de superação da crise, impunha-se, também, a inserção do país
numa nova etapa de desenvolvimento, provocada pelas profundas mudanças em que estavam
em curso no cenário mundial no século XX.
Diante deste contexto, destacam-se dois grandes fatos que marcam o quadro político
econômico do Brasil, nos anos 90. O primeiro, diz respeito ao Governo Collor e a sua
estratégia de desenvolvimento baseada nos postulados neoliberal, que compreendeu o período
de 1990 – 1992. Neste período, o país passa por uma profunda reestruturação produtiva, essa
reestruturação, designada por alguns autores (LACERDA et. Al., 2000; BATISTA , 1994) de
modernização conservadora5 , provocou aceleração no processo de privatização de empresas
estatais, abertura da economia e desregulamentação dos mercados. O segundo momento
caracteriza-se pela adoção do Plano Real, anunciado em 7 de dezembro de 1993, considerado
um dos mais bem-sucedidos planos de estabilização da economia brasileira. Ao desindexar a
economia e reduzir substancialmente os níveis inflacionários, o Plano Real criou condições
5
Trata-se de uma expressão cunhada pelo historiador Barrington Moore para qualificar o modelo autoritário de
desenvolvimento de capitalismo retardatário do séc. XIX, especialmente da Alemanha e do Japão.
73
efetivas para uma nova etapa de desenvolvimento econômico e social, em base mais
sustentáveis e duradouras do que os planos de estabilização anteriores.
Depois de um longo período sem eleição direta para presidente da República (29
anos) o povo brasileiro elegeu um novo presidente. Em 1989 foram eleitos Fernando Collor
de Mello e Itamar Franco como presidente e vice-presidente da República, para um mandato
de cinco anos (1990-1995). Porém, o envolvimento do Presidente Collor em um esquema de
corrupção, determinaria o seu afastamento da Presidência da República já no final do terceiro
ano de seu mandato.
6
Expressão usada pelo economista norte-americano John Williamson. Tratava-se de um decálogo de medidas liberalizantes e
de ajustes sugerido para reformas nos países em desenvolvimento, concebidas no âmbito de organizações sediadas ou
vinculadas a Washington, como o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial.
74
d) reduzir o tamanho e a presença do Estado na economia, através da
privatização de empresas estatais;
Com a deposição de Collor, assumiu seu vice, Itamar Franco, que mais tarde
convidaria Fernando Henrique para ser, inicialmente, seu Ministro das Relações Exteriores e,
posteriormente, Ministro da Fazenda. Dois compromissos principais marcaram a orientação
do seu curto e convertido governo: resgatar a ética na administração pública (e na política),
75
enfraquecida pelos últimos acontecimentos que envolveram o ex-presidente Collor, e
preparar o país para a implantação de um novo plano de estabilização econômica, com
possibilidade de sucesso.
Segundo Lacerda (2000), o Plano Real foi concebido e implementado em três etapas.
Na primeira etapa procurou estabelecer o equilíbrio das contas do governo, objetivando
eliminar a principal causa da inflação. A segunda etapa constitui na criação de um padrão
estável de valor a Unidade Real de Valor (URV), um índice-moeda que neutralizava a inércia
inflacionária, na medida em que se constituiu num instrumento que serviu de indexador
único da economia, num período de quatro meses. A terceira etapa do plano foi à emissão de
uma nova moeda nacional com poder aquisitivo estável – o Real (01/07/94), eliminando a
URV. A taxa de inflação teve uma redução imediata, muito próxima de zero.
Este fato também teria influência nas eleições presidenciais de 1998. Apesar da
economia brasileira apresentar alguns sinais de debilidade, por conseqüência, dos reflexos das
crises mexicana, asiática e russa, cuja absorção destes choques teve que ser feita através da
elevação das taxas de juros reais, Fernando Henrique não encontrou dificuldade para
conseguir a sua reeleição à Presidência da República. Em 01 de janeiro de 1999, é
reconduzido ao cargo, para mais um mandato de quatro anos (1999-2002).
O balanço do Plano Real, destes últimos seis anos (1994-2000), pode ser contabilizado
como favorável. A inflação declinou de uma média de 1.440% ao ano, no período de 1988-
1993, para apenas 13,3% ao ano, entre o segundo semestre de 1994 e 1999 (Tabela 7). Trata-
se de um efeito considerável, uma vez que foi obtido sem que a economia resvalasse para
uma forte recessão. Entre 1994 e 1999, também se observa que o PIB real apresentou uma
taxa de crescimento médio de 2,8% ao ano, o que se compara favoravelmente aos 0,7% do
período 1988-1993 (Tabela 7).
De outra parte, o plano não sofreu grandes arranhões da dura prova da mudança do
regime cambial, em janeiro de 1999. O impacto da desvalorização do câmbio (45%) sobre a
inflação foi pequeno, a economia apresentou um crescimento pequeno, mas teve crescimento
de 0,8% no ano (Tabela 7), a balança comercial melhorou, as metas fiscais acertadas com o
FMI foram alcançadas, ao contrário do que ocorreu no México, no Sudeste da Ásia e na
Rússia, não houve falência de instituições financeiras de porte. A desvalorização do câmbio,
em síntese criou a condição necessária para retomada do crescimento sustentado e para a
estabilidade sólida e duradoura de preços.
Ano Inflação (% PIBReal Taxas de Desemprego Investimento Déficit Fiscal Déficit Conta
a. a) Juros Reais Corrente
(% a.a) Aberto (% PIB) (% PIB)
(% a .a) (% PIB)
(% PEA)
A Zona Franca de Manaus (ZFM), teve seu início no período do milagre econômico
onde o país apresentava um grande desenvolvimento industrial e as industrias hoje do Pólo
Eletroeletrônico, que foram as primeiras empresas a iniciar suas atividades na Zona Franca de
Manaus – ZFM , apresentavam um grande crescimento, fazendo com que as empresas que
estavam com suas fábricas no sudeste do Brasil mudassem suas atividades industriais para
Manaus, e as que ainda não possuíam industrias no Brasil, vieram abrir suas fábricas em
Manaus.
A Zona Franca de Manaus – ZFM foi idealizada pelo deputado federal Francisco
Pereira da Silva e criada pela Lei 3.173 de 6 de junho de 1957, como Porto Livre. Dez anos
depois, o governo federal, através do Decreto-Lei 288, de 28 de fevereiro de 1967, ampliou e
regulamentou essa legislação, estabelecendo incentivos fiscais por 30 anos para implantação
de um pólo industrial, comercial e agropecuário, instituindo, assim, o atual modelo de
desenvolvimento. O pólo engloba uma área física de 10 mil km², tendo como centro a cidade
de Manaus (Publicação da Coordenadoria de Comunicação Social da Suframa - CODEC).
Visando integrar a Amazônia à economia do país, bem como promover sua ocupação e
elevar o nível de segurança para manutenção de sua integridade, o governo federal, através do
Decreto-Lei 291 de 28 de fevereiro de 1967, define a Amazônia Ocidental tal como ela é hoje
conhecida, abrangendo os estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima.
de Importação
No início, a Zona Franca de Manaus – ZFM criada como Porto Livre mudou o
comércio de produtos importados que antes tinha o Panamá como centro distribuidor para o
Brasil fosse transferido para Manaus, fazendo com que vários comerciantes e importadores
sediados em outras regiões do Brasil viessem a Zona Franca de Manaus – ZFM.
Este período coincide com o grande aumento nas importações brasileiras que subiram
de US $ 2,8 bilhões para US $ 7,0 bilhões no período do milagre econômico de 1968 – 1973
80
(BRUM, 1997). Nesta mesma época, devido a problemas na Balança Comercial, o governo
incentivou a implantação do Distrito Industrial que até então só existia a sua pedra
fundamental cujo lançamento foi em 30/09/68 (Conjuntura Econômica, 2000).
A segunda fase da ZFM, estendeu-se até o final de 1990 e teve seu início com a edição
dos Decretos-Leis 1435/75 e 1455/76, que introduziram as seguintes modificações no modelo
da Zona Franca de Manaus – ZFM:
LINHAS ESTRATÉGICAS:
a) Tecnologia;
c) Atração de Investimentos
83
d) Logística
e) Interiorização do desenvolvimento;
f) Desenvolvimento Institucional.
a) Tecnologia
Estão previstas alianças entre o núcleo técnico que será criado na Suframa ou em
outro órgão a definir, e empresas privadas para desenvolverem processos que possibilitem
ganhos de competitividade em determinados produtos do Pólo Industrial de Manaus – PIM.
84
A Suframa está incentivando projetos de formação e especialização de recursos
humanos em áreas já definidas:
c) Atração de Investimentos
d) Logística
O programa pretende:
Estratégias:
f) Desenvolvimento Institucional
CAPÍTULO V
Em São Paulo, numa área de 25.000 m², está localizado o prédio da administração
central, como também seu centro de distribuição, cuja logística atinge no território brasileiro
seus mais de 6.000 pontos de vendas, possuindo também, nos mais diversos lugares 470
serviços autorizados de Assistência Técnica.
93
A EVI está localizada no PIM desde o início, desempenhando papel relevante na
economia, contribuindo fortemente na agregação de valor da produção da região. Por muitos
anos a empresa utilizou-se apenas do mercado do varejo com produtos da sua própria marca
na área de entretenimento e atualmente possui parceiros globalizados como Motorola,
Siemens/VDO, Pioneer e AOC, trabalhando em sistema de Order Manufactor (O&M),
atingindo com isso outros segmentos de mercados e diversificando sua linha de produtos nas
áreas: automotiva, informática e telecomunicação.
ANO
MUDANÇAS ESTRATÉGICAS – DÉCADA 70
1. Atuação como exportadora no Panamá, criação da marca AIKO. 1965
2. Abertura da importadora em S. Paulo. 1967
3. Introdução da importadora em Manaus no início da ZFM. 1967
4. Organização da atividade Industrial. 1971
5. Realização da parceria com a Mitsubishi. 1974
6. Execução da produção de Televisores a cores. 1979
7. Divulgação da marca Mitsubishi no Brasil. 1979
Figura 5: Mudanças Estratégicas
Fonte: Entrevistas do autor (2002/2003)
94
ANO
MUDANÇAS ESTRATÉGICAS – DÉCADA 80
ANO
MUDANÇAS ESTRATÉGICAS – DÉCADA 90
15. Aquisição de máquinas automáticas para inserção de componentes. 1993
16. Implementação da Certificação ISO 9002 1995
17. Consolidação da Parceria Order Manufactor (O&M). 1995
18. Unificação das fábricas de componentes e produtos em uma única planta. 1997
Figura 7 : Mudanças Estratégicas
Fonte: Entrevistas do autor (2002/2003)
Foram definidas três fases das mudanças estratégicas da empresa EVI. Estas fases,
caracterizadas pelos conjuntos de decisões tomadas pela empresa que estabeleceram um
padrão de comportamento estratégico e foram identificadas utilizando-se como referencial a
base teórica que norteia a pesquisa.
Criada como porto livre, a Zona Franca de Manaus mudou o comércio de produtos
importados que antes tinha o Panamá como centro distribuidor para o Brasil, fazendo com que
vários comerciantes e importadores sediados em outras regiões do Brasil viessem para a Zona
Franca de Manaus. Devido a esse fato, muitas empresas comerciais e importadoras
transferiram suas atividades para Manaus, por exemplo: Lojas Alvorada, Top Internacional,
Três Elefantes, entre outras. A EVI como empresa comercial, chamava-se Três Diamantes,
localizada no centro da cidade (chamado de comércio da Zona Franca) onde vendiam
produtos eletroeletrônicos das marcas Aiko e Mitsubishi. Mais tarde a EVI tornou-se
representante oficial da marca Mitsubishi no Brasil. De acordo com o comentário do Gerente
da Área Administrativa e Financeira de Manaus.
A dívida externa brasileira saltou de US$ 5,3 bilhões em 1970 para US$ 12,6 bilhões
em 1973 (BRUM, 1977) isto levou alguns autores (LACERDA et al 2000; CRUZ 1984), a
classificarem o período do milagre econômico como de crescimento conduzido por
financiamentos externos, uma vez que o volume de capital externo que entrou no país sobre a
forma de empréstimos foi decisivo no financiamento deste crescimento.
O rápido crescimento econômico, ao longo do milagre econômico brasileiro, levou ao
aparecimento de alguns desequilíbrios que gerariam pressões inflacionárias e problemas na
balança comercial. Prevendo tais problemas, o fundador da EVI tomou a decisão de iniciar a
atividade industrial em Manaus, conforme informação do atual Vice-Presidente da empresa.
As mudanças estratégicas ocorridas nos anos setenta apresentam várias posturas, entre
elas, a Prospectora (MILES e SNOW, 1978), identificada em vários momentos como por
exemplo na ação de seu fundador quando cria a marca AIKO, visando novas oportunidades de
105
negócios, tornando-a conhecida no mercado e mais tarde usando-a na fabricação de seus
próprios produtos. Identificada também no momento em se transforma em industria e se torna
a primeira empresa eminentemente comercial da Zona Franca de Manaus a tornar-se
industrial.
Outra mudança com a mesma postura é a divulgação da marca Mitsubishi no Brasil
encontrada nas ousadas campanhas publicitárias, transformando a empresa em pioneira no
relacionamento direto com seus clientes.
Outra postura identificada é a Defensiva (MILES e SNOW, 1978) que aparece na
mudança estratégica em que a empresa, na busca por novos produtos e inovações
tecnológicas, firma parceria com a Mitsubishi, ocorrida após a morte do fundador e
conquistada por seu sucessor e filho primogênito que tem como característica a ousadia
administrativa.
A postura Analítica (MILES e SNOW, 1978) é utilizada, nesta primeira fase, no
momento em que a administração da empresa inicia suas atividades no Brasil como
importadora em São Paulo, com o propósito de investir em novos mercados, mantendo as
atividades desenvolvidas no mercado anterior como exportadora no Panamá.
Essa mesma postura é identificada quando a empresa resolve mudar-se para Manaus,
aproveitando-se do advento da Zona Franca, que oferecia vantagens para as importações,
viabilizando e garantindo novos produtos e mercados. Outro evento caracterizado pela postura
analítica é quando a administração da empresa resolve aproveitar-se do sucesso dos
televisores a cores conquistados a partir da copa de 1978 e acrescenta em seus produtos a sua
fabricação, concretizando, assim, a parceria com a Mitsubishi.
Nos anos 80, a economia brasileira foi marcada por graves desequilíbrios externos e
internos. Essas dificuldades internas no final dos anos 70 e início dos anos 80, agravados por
um conjunto de mudanças adversas no contexto econômico internacional, levaram o Brasil ao
colapso financeiro e a mais grave crise econômica de sua história, estigmatizando a década de
80 como “a década perdida”.
106
É neste cenário que assume o novo governo militar (Figueiredo), estabelecendo novas
políticas governamentais como III Plano de Desenvolvimento (III PND). Mesmo diante de
toda essa crise, a administração da EVI, com sua ousadia, investe em avanço tecnológico de
produto, criando televisores como os de controle remoto, com imagem ZOOM e com telas
grandes de até 40 polegadas, além da criação da fábrica de componentes, a produção de VCR
e a saída da Linha de Áudio.
Os anos 80 iniciam sob a égide de um novo governo militar que estabelece nova
tentativa de adequar o projeto “Brasil Potência” do governo Geisel a nova situação da
economia, criando o III Plano de Desenvolvimento (III PND) que consistia fundamentalmente
na idéia de manter o crescimento acelerado da economia e de combater a inflação, para repetir
o sucesso do milagre econômico brasileiro.
A conjuntura das dificuldades internas e das condições desfavoráveis da economia
mundial, provocou uma política econômica interna fortemente recessiva, onde houveram
falência de empresas, aumento dos índices de desemprego e arrocho salarial de trabalhadores.
Os setores mais atingidos pela recessão foram as industrias de bens de consumo, de
bens de capital, construção civil, comunicação e transporte, justamente aquelas que deram
suporte ao novo padrão de industrialização desenvolvido no projeto Brasil Potência do
Governo Geisel. Para manter sua estabilidade econômica, a EVI investe em campanhas de
marketing. Em 1982, com o advento de mais uma copa mundial de futebol, a empresa
resolveu fazer um trabalho de divulgação através dos meios de comunicação de massa,
lançando a campanha com o slogan: garantia de copa a copa, entre outras, conforme afirma o
Gerente da Área de Marketing da empresa:
Com essa inovação a EVI proporciona a seus clientes condições para adquirirem
produtos de qualidade, oferecendo também suporte técnico sem ônus durante todo o período
da garantia.
Com o objetivo de manter sua estabilidade financeira, a empresa, apresentando atitude
agressiva, promove campanhas de marketing verificadas no comentário do Gerente da Área
de Marketing. Perseguindo os objetivos acima citados, oferece, a seus clientes, mais uma
diferenciação de produtos, ou seja, todos os televisores com controle remoto.
inflacionários e altas taxas de juros a cada novo choque de oferta, choque cambial ou tentativa
de mudança na estrutura de apropriação da renda (LARCERDA et al, 2000).
No meio das mudanças e dificuldades econômicas, A EVI, mais uma vez, avança a seu
tempo e lança no mercado produtos de ultima geração, como aparelhos de televisão com
controle remoto. E para torná-los acessíveis a seus clientes, realiza campanhas promocionais
conforme descreve o seu Gerente da Área de Marketing.
A EVI surpreende mais uma vez e mostra que é capaz de oferecer um produto de
qualidade e tecnologia avançada a um custo competitivo oferecendo todos os seus televisores
com controle remoto aos seus clientes sendo seguido mais tarde por todos os fabricantes de
televisores no Brasil.
Apresentando campanhas publicitárias com criatividade acima do comum, demonstra
a mesma ousadia anteriormente observada em seus dirigentes, denotando, ainda, adaptação a
controles de custos e resultados, através de indicadores financeiros e industriais, quando
necessário.
Com essas características e visando outros investimentos, a EVI, intensificando nova
adaptação ao mercado, proporcionando garantia, qualidade, conforto e ampliando sua
competitividade, constitui sua fábrica de componentes.
O Plano Cruzado introduziu uma nova moeda, substituindo o cruzeiro pelo cruzado, e
definiu regra de conversão de preços, ou seja, buscou promover um “choque neutro” que
mantivesse, sob o cruzado, o mesmo padrão de distribuição de renda do cruzeiro
(VASCONCELLOS et al., 1996).
A principio, o plano foi considerado um sucesso, pois as taxas de inflação
efetivamente caíram no curto prazo, desestimulando a especulação financeira, por
conseqüência, estimulava os investimentos produtivos. Enquanto funcionou, conseguiu
sacudir o consumidor, carrear investimentos para a produção, impulsionar o número de micro,
pequenas e médias empresas, expandir as atividades econômicas, aumentar o consumo e
recuperar a confiança da sociedade em si própria e no país.
Visando a consolidação do Pólo Industrial de Manaus (PIM), a Suframa incentiva a
formação de uma rede local de fornecedores para atender à demanda progressiva de bens
intermediários e evitar importações, bem como diminuir os custos de produção e abrir vagas
no mercado de trabalho. Aproveitando esse momento, a EVI inaugura a Fábrica de
110
Componentes, verticalizando sua produção, garantindo, com isso, melhor qualidade,
produtividade, e flexibilidade, conforme comentário do Gerente da Área Industrial.
Apesar de ser tecnicamente mais consistente que o Plano Cruzado, o Plano Bresser
encontrou pouca ressonância nos agentes econômicos e na sociedade, e obteve poucos
resultados concretos. Quando se iniciou a descompressão de preços, voltou a aceleração
inflacionária e as pressões por reposições salariais, acabando com o plano
(VASCONCELLOS et al., 1996)..
Preso, entretanto, pelo próprio êxito do Cruzado, o Governo não teve condições de
corrigir os preços relativos e manter o equilíbrio da demanda agregada. Os desequilíbrios de
preços relativos que se congelaram no dia 28 de fevereiro foram agravados por novos
desequilíbrios provocados por setores de difícil controle, que, apoiados na explosão de
consumo, aumentaram seus preços usando dos mais diversos artifícios. Quando o
desequilíbrio dos preços relativos tornou-se insustentável, ao mesmo tempo que continuava o
excesso de demanda, o congelamento foi rompido - e a inflação voltou a se acelerar. A
inflação, que estava em 2 por cento ao mês subiu para um patamar de 15 por cento - em
função, fundamentalmente, da necessidade de recomposição dos preços, o excesso da
demanda está na base da aceleração da inflação - mas só a necessidade de realinhamento de
preços ou de recomposição de preços relativos explica que a inflação tenha saltado para o
patamar de 15 por cento (BRESSER-PEREIRA, 1987).
Para enfrentar mais um momento de crise econômica brasileira e para garantir a
satisfação de seus clientes, a EVI inicia a produção do VCR - vídeo cassete, produto já
lançado no mercado por empresas concorrentes e recebido com muito sucesso, motivada por
seus clientes que o solicitavam de acordo com os comentários e informações complementares
do Gerente da Área de Vendas, como segue:
Ainda não havia, no mercado, desde então, aparelhos desse porte, que pudessem imitar
as telas de cinema. A EVI, desde o início de suas atividades, apresentou inovações no setor de
televisão e essa foi, entre outras, uma das mais audaciosas, alcançando sucesso imediato no
comércio nacional que acabou exigindo, da empresa, maiores investimentos nessa área, em
detrimento da linha de produção dos aparelhos de áudio.
115
MUDANÇA ESTRATÉGICA – 14: Eliminação da linha de Áudio - (1989).
O maior desafio para os anos 90 era de viabilizar novamente o país, que se encontrava
abalado pela crise profunda dos anos 80. Além das exigências decorrentes da necessidade de
superação da crise, impunha-se, também, a inserção do país numa nova etapa de
desenvolvimento, provocada pelas profundas mudanças em que estavam em curso no cenário
mundial no século XX.
As principais mudanças que se processavam, configuravam uma nova ordem mundial
com reflexos nas economias das nações neste final de século, podem ser resumidas na
seguinte ordem: abertura das economias e liberação do comércio que estabelece um processo
de globalização; a revolução tecnológica liderada pela eletrônica e pela informática; a
emergência de novos conceitos de qualidade, produtividade, modernização e competitividade
que revolucionaram o processo evolutivo das empresas.
A EVI, alinhada com os objetivos do país e tendo como característica a ousadia de sua
administração, investiu em parcerias com outras empresas, fez grandes aquisições em
equipamentos, como por exemplo: máquinas automáticas para inserção de componentes
eletrônicos, diversificou a sua linha de produtos, como: os de informática, de telefonia e
automotivos, certificou seu sistema da qualidade nas normas ISO, também unificou a fábrica
de componentes com a de produtos em uma única planta. Assim sendo pode-se dizer que a
fase estratégica dos anos 90 foi, sem dúvida, o maior processo evolutivo da empresa em
termos de crescimento tecnológico e diversificação da linha de produtos.
Com o início nos anos 90, o país passa por uma profunda reestruturação produtiva
designada por alguns autores (LACERDA el. al., 2000; BATISTA, 1994) de modernização
conservadora que provocou abertura da economia e desregulamentação dos mercados. Devido
a este fato, várias empresas revolucionaram as estruturas de seus processos produtivos,
modernizando-os em busca de maior produtividade e maior competitividade.
119
A EVI adapta-se a essa nova tendência, investindo em automação, adquirindo
máquinas para inserção de componentes e diversificando seu processo produtivo. De acordo
com a declaração do Gerente da Engenharia de Produtos, a EVI evolui tecnologicamente com
essas aquisições e declara:
Com a deposição de Collor, assumiu seu vice, Itamar Franco, com o compromisso de
resgatar a ética na administração pública e na política, enfraquecidas pelos últimos
123
acontecimentos que envolveram o ex-presidente Collor e preparar o país para a implantação
de um novo plano de estabilização econômica, com possibilidade de sucesso. Para coordenar
esse projeto, foi convidado o então ministro das relações exteriores, Fernando Henrique
Cardoso, o qual assumiu a pasta da fazenda e sendo mais tarde eleito o Presidente da
República.
O plano real, considerado tecnicamente consistente, proporcionou de uma maneira
geral, melhora do poder aquisitivo das camadas mais pobres da população e ganhos para as
grandes empresas que se reestruturaram, enquanto penalizou quem tentou especular com o
dólar apostando no fracasso do plano (LACERDA, 2000).
Por mais que o plano real tenha conseguido uma certa estabilidade econômica no país,
foi abalado fortemente pelas crises mexicana, asiática e russa, fazendo com que a economia
brasileira apresentasse sinais de debilidade. Diante dessa situação a EVI que decide unificar
as fábricas de componentes com a de produtos em um único espaço físico, dando
continuidade na sua produção de televisores com tecnologia Mitsubishi e adentrando no
mercado da informatização, telefonia e automotiva, garantindo seu lugar entre as empresas
que apostaram e investiram no futuro tecnológico. Comenta o Gerente da Área Industrial:
Na fase estratégica dos anos 90, vimos a EVI comprovando sua característica de
ousadia, principalmente em eventos que demonstram sua adequação a ambientes
competitivos, buscando inovações e estruturando seus processos produtivos.
125
Na aquisição de máquinas automáticas para inserção de componentes, a empresa,
numa postura Reativa (MILES e SNOW, 1978), adequa seus processos para defender-se das
crises do mercado, com isso alcançando mais produtividade e garantindo melhor qualidade de
seus produtos e o aumento de sua competitividade.
Objetivando a competitividade para manter seu mercado, a empresa, numa postura
Analítica (MILES e SNOW, 1978), se adequa às Normas ISO 9000 que proporcionaram
investimentos em desenvolvimento, em equipamentos e qualificação de pessoal. Ao investir
em parcerias, a empresa utiliza-se também da postura Analítica, diversificando sua linha de
produtos e mercados, mantendo os produtos de entretenimentos e o mercado de varejo
anteriormente verificados.
Essa mesma postura é encontrada na fusão das duas fábricas, transformando-as em
uma unidade industrial com a mesma capacidade produtiva anteriormente encontrada,
garantindo, com isso, seu mercado atual. Esse último evento citado comprova, de forma
transparente a adequação dentro do ciclo adaptativo de Miles & Snow (administrativ
problem).
126
CAPÍTULO VI
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
6.1 - CONCLUSÕES
início da Zona Franca de Manaus (ZFM), um problema na Balança Comercial do país, devido
a liberdade plena de importações, fazendo com que o governo federal incentivasse a atividade
industrial no Amazonas, criando-se o Pólo Industrial de Manaus (PIM). Na década de 80, com
o contingenciamento das importações, a industria nacional de componentes teve sua melhor
fase, devido a nacionalização das suas matérias-primas pela empresas locais e o
desenvolvimento de um pólo de empresas de componentes na Zona Franca de Manaus. A
década de 90, iniciou-se com a chamada Nova Política Industrial e de Comércio Exterior do
governo federal, promovendo a abertura do mercado brasileiro às importações. Com essa
mudança, as empresas sediadas no Pólo Industrial de Manaus, tiveram que adequar-se a nova
ordem econômica, que fixou como paradigma a busca da qualidade e produtividade.
uma outra linha. Nota-se também que a organização se adapta de acordo com os ambientes,
promovendo mudanças estratégicas sempre que necessário, comprovando a excelente
adaptação organizacional da empresa, num efetivo alinhamento com seus ambientes.
Assim a EVI comprova seus propósitos, metas estabelecidas desde o seu início,
atravessando o tempo, chega no século XXI vislumbrando novos projetos guardados por seus
administradores que até o momento do fechamento deste trabalho, efetuado em 2002, não se
permitiram compartilhar de mais detalhes, que, mesmo diante dos obstáculos, continuaram
nas investidas para um futuro sempre promissor.
6.2 – Recomendações
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