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Rita Na nossa apresentação falaremos sobre a fisiologia da voz a partir do

capitulo escrito por Ardeshir Khambata.


Antes de tudo, Kambata introduz o tema afirmando que “a voz humana é
essencialmente um instrumento de sopro” e reforça esta ideia comparando as
diferentes características da voz às várias partes de um instrumento. Utilizando
um clarinete como exemplo, podemos, então, fazer uma relação direta entre as
cordas vocais e a palheta que têm a função de produzir o som através da
vibração do ar; a laringe e a boquilha (da mesma forma que a palheta se coloca
na boquilha, as cordas vocais encontram-se na laringe); os ressoadores da
nossa cabeça comparam-se ao corpo do instrumento que funciona como uma
caixa de ressonância e finalmente a boca equipara-se à campânula onde o
som é projetado.
Tal como todos os instrumentos de sopro, também a voz necessita de dois
mecanismos para produzir som: um que fornece o ar para o ativar e outro que
produz, de facto, o som. O primeiro, o chamado “fole respiratório” (respiratory
bellows), é provavelmente o mais importante uma vez que “um bom canto é
governado por uma respiração correta, não podendo existir sem ela”. Este
mecanismo é constituído pelos pulmões e o diafragma, mas também pelos
músculos da parede abdominal e pelas costas. Assim, um cantor tem de ser
capaz de encher rapidamente os pulmões e esvazia-los de uma forma
controlada utilizando o diafragma e os músculos da parede abdominal. O
segundo refere-se obviamente às cordas vocais que são vibradas/ativadas
quando o ar é libertado.
Antes de falarmos propriamente sobre as cordas vocais, explicaremos um
pouco sobre a anatomia da laringe onde estas se encontram.

Cris A laringe é composta por uma série de cartilagens, membranas e


ligamentos, formando uma ligação direta entre os pulmões e a traqueia, a boca
e o nariz. Na parte superior da laringe encontramos o osso hioide, um osso em
forma de “U” que se encontra na base da língua. Os chamados “músculos
intrínsecos”, que são músculos em formatos de tiras amarrados à estrutura
óssea do tórax, são também os responsáveis por suportar a laringe, mantendo-
a na sua posição normal e evitando que esta suba inconvenientemente.
As principais cartilagens da laringe são: a tiroide, caracterizada como um
escudo que provoca a saliência da “maça de adão”; a cricoide em forma de
“anel de sinete” que contém acima as cartilagens aritenoides. Os ligamentos
vocais que constituem as cordas vocais estão fixados na parte de traz destas
cartilagens, sendo que nas suas laterias encontram-se os músculos que
movem as cordas vocais.

Roxane As cordas vocais são ligamentos que se encontram dentro da laringe,


afixadas na parte de traz das cartilagens aritenoides e na parte frontal da
cartilagem tiroide. As cordas vocais consistem, essencialmente, em faixas
planas de cor branca (mais brancas nas mulheres que nos homens) e são
constituídas por redes de tecido elástico, membranas finas e fibras musculares.
Em cima das cordas vocais estão situadas as “falsas cordas vocais” (pregas
vestibulares), que contém um ventrículo entre as duas pregas.
Relativamente às suas dimensões, as cordas vocais possuem um comprimento
médio de 17-25mm nos homens, e de 12-17mm nas mulheres. Além disso,
quando os homens atingem a puberdade, o tamanho das suas cordas vocais
aumenta, provocando uma perda temporária no controlo da voz que “quebra”
até se estabilizar na sua tessitura adulta, que pode atingir uma oitava abaixo
em relação à tessitura anterior.
Nas bordas internas das corda vocais, é possível perceber que nas mulheres
são mais “afiadas”/pontiagudas, enquanto que nos homens são mais
arredondadas. São estas diferenças anatómicas que diferenciam as
características da voz feminina e masculina.
As cordas vocais possuem mais do que uma posição durante todo o processo
de produção de som, denominadas de “fase aberta” e “fase fechada”.

Rita Na “fase aberta”, durante a respiração, as cordas vocais encostam-se às


laterais da laringe, enquanto que os ventrículos estão fechados e as falsas
cordas vocais se afastam, facilitando a passagem do ar.
Na “fase fechada/de contacto”, durante a fala ou o canto, o processo é o
contrário, ou seja, as margens livres das cordas vocais movem-se uma contra a
outra enquanto o ar é libertado, fazendo-as vibrar vertical e lateralmente,
cortando a passagem do ar. Simultaneamente, as falsas cordas vocais movem-
se para fora das laterais e os ventrículos enchem-se de ar.
No entanto, os movimentos das cordas vocais não resultam apenas da
passagem do ar entre elas. A contração e relaxamento dos músculos tiro-
aritenoide, unidos às margens das cordas vocais, provoca a sua vibração,
através da regulação da tensão superficial conscientemente, sob controlo do
próprio cantor.
O volume do tom, depende em grande escala da pressão que o ar provoca
sobre as cordas vocais – a “pressão subglótica”- mas também pode ser
controlada através da contração dos músculos intrínsecos da laringe. Isso
permite a um bom vocalista sustentar uma nota forte durante bastante tempo.
Agora vamos apresentar um vídeo onde podemos observar os movimentos das
cordas vocais durante o canto: https://www.youtube.com/watch?v=-
XGds2GAvGQ&t=112s (0:45)

Tom
Cris Quando produzimos notas graves, as cordas vocais encontram-se mais
relaxadas, as suas margens livres (pontas) engrossam e arredondam e todo o
comprimento das cordas vibra. À medida que o tom sobe, as cordas vocais
esticam e as pontas tornam-se mais finas e “afiadas”.
O aumento da pressão do ar também faz com que o tom seja mais agudo, algo
que pode ser corrigido através de uma correspondente redução na tensão das
cordas.
A amplitude das vibrações diminui enquanto o tom aumenta e nas notas mais
agudas as cartilagens aritenoides estão firmemente juntas e apenas a parte
membranosa das cordas vibra.

Ressoadores
Roxane Os ressoadores da voz, e o seu habilidoso domínio pelo cantor, são,
certamente, os fatores mais importantes que influenciam a qualidade e o timbre
da voz; sem eles, o som produzido unicamente pela laringe seria fraco.
Alguns dos mais significativos incluem: os “ressoadores inferiores” que se
encontram abaixo da laringe como a cavidade torácica e a árvore traqueio-
bronquial; e os “ressoadores supraglotais” que se encontram acima da glotis
como a faringe, a cavidade oral e o palato mole; o nariz, as cavidades nasais
(?), a nasofaringe, os lábios e a língua.
Rita Começando pela faringe, a sua capacidade e forma conseguem ser
alteradas por movimentos da sua parede muscular e pela língua. Além disso, a
tendência natural da laringe subir ao cantarmos uma escala, juntamente com a
contração dos músculos do palato mole, faz reduzir o tamanho da faringe.
O palato mole é naturalmente subido durante a produção do som de vogais
puras e consegue fechar a cavidade nasal e a nasofaringe. O seu coreto
posicionamento é de grande importância durante o canto.
A cavidade nasal é também um dos principais ressoadores no canto e deve
estar sempre aberto e acessível à laringe. Esta também se conecta
diretamente com nasofaringe e ao fundo do palato duro. Qualquer
anormalidade nesta cavidade alterará por completo a qualidade da voz.
Cris O palato duro forma a parte frontal e rígida do céu boca. As suas
dimensões afetam significativamente a qualidade da voz e está relacionada
com características raciais.
A língua, juntamente com os lábios, altera o formato da cavidade oral, de
forma a produzir diferentes sons de vogais. Quando o som de uma vogal é
corretamente produzido, a língua irá mante-la na posição correta. Além disso, a
língua também é capaz de alterar a capacidade da cavidade oral, por exemplo,
quando deitada, a capacidade da boca atinge o máximo de volume.
Por fim, as partes da parede torácica, e particularmente o esterno, funcionam
como uma espécie de caixa de ressonância.
Neste vídeo podemos observar o funcionamento dos ressoadores durante a
fala: https://www.youtube.com/watch?v=SVKR3ESdAk8
Os Registos
Roxane O som característico de um tom num determinado registo é
influenciado pela mudança das cordas vocais e dos ressoadores. Muitos
cantores reconhecem a existência de vários registos nas suas vozes, por
exemplo os registos de “cabeça” e “peito” descrevem onde o cantor experiencia
a sensação máxima ao cantar uma nota particular. Quando o cantor e incapaz
de alterar mentalmente a tensão da laringe ao cantar uma escala ascendente e
descendentemente, ouve-se uma distinta quebra entre os registos. No entanto,
esta quebra é às vezes utilizada pelos cantores para efeitos dramáticos.
No seguinte vídeo, iremos observar um exemplo da diferença entre estes
registos vocais: https://www.youtube.com/watch?v=zM2GDKDLr8s (0:34)

Vibrato e Tremolo
Rita O vibrato é uma parte essencial da voz cantada que se manifesta
naturalmente quando a voz é produzida corretamente. Este consiste em
vibrações rápidas e regulares, embora leves, acima e abaixo da nota, dando
vida e ajudando o cantor a mover-se suavemente entre as notas em passagens
de legato.
Como dito anteriormente, as vibrações das cordas vocais produzem um
movimento ondulatório vertical e lateral causando uma pequena subida do tom,
e uma descida no tom quando regressam ao seu estado normal. Assim, na
sustentação de uma nota há uma flutuação rápida e regular em torno da nota
principal, criando uma pulsação responsável pela produção flexível do tom.
https://www.youtube.com/watch?v=2SZsxTBCzoA
Cris As funções musculares responsáveis pelo movimento das cordas vocais
durante a produção do vibrato não são de controlo voluntário. Quando o vibrato
é produzido forçadamente através de interferências musculares externas o seu
funcionamento é substituído por um tremulo irregular e desagradável.
Neste vídeo, explica-se a diferença entre a realização do vibrato e do tremulo,
sendo que o vibrato é uma variação em volta do tom e o trémulo consiste numa
variação da dinâmica do tom:
https://www.youtube.com/watch?v=5dK1CKdHM2E&feature=share (0:14)
Ao forçar a voz numa tentativa de aumentar a sua intensidade faz com que os
registos sejam empurrados além dos seus limites naturais o que resulta numa
variação irregular no tom e da amplitude – o “wobble”.
https://www.youtube.com/watch?v=3fXdjze3NFM

Falsetto
Roxane Toda a voz humana possuiu a capacidade inata de produzir um
falsetto que permite ao cantor estender o seu registo acima dos seus limites
naturais. Durante a realização de um falsetto, as cartilagens aritenoides estão
firmemente conectadas e apenas a parte frontal das cordas vocais vibra,
criando um som típico que segundo Kambata é caracterizado como “núcleo do
tom” (“core to the tone”).
Embora seja mais frequentemente ouvido nas vozes masculinas, a função de
falsetto também se encontra nas mulheres, sendo bastante útil para produzir
efeitos pianíssimo em notas muito agudas, servindo como uma preparação da
nota antes de utilizar o total da sua voz.
Eis um exemplo do famoso cantor Michael Jackson:
https://www.youtube.com/watch?v=yURRmWtbTbo (0:24)

Trilo
Rita A realização deste complexo efeito envolve a agitação da laringe. Para
isso, a laringe deve estar livre de quaisquer contrações musculares.
Há uma crença comum que grandes cantores são dotados com configurações
anatómicas especiais na laringe o que explicaria as suas preponderâncias
vocais, mas não existe evidencias de tal.
Como referido no livro de Kambata, Adelina Patti era uma cantora excecional
que realizava trilos perfeitamente afinados, uniformes e sustentados sem
qualquer preparação das notas.
https://www.youtube.com/watch?v=w2LY6YLHn7U (1:40)

Cris Por fim, o escritor cita Caruso alertando-nos de que o que importa é “um
grande peito, uma grande boca, 90% memória, 10% inteligência, muito trabalho
árduo e algo no coração”!

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