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Arquitetas, arquitetos, urbanistas e estudantes da área têm muito a aprender com os modelos construtivos
dos primeiros ocupantes do território brasileiro, que há muito tempo produzem abrigos adaptados ao
contexto local. Estabelecer um conjunto de características comuns às soluções arquitetônicas indígenas se
mostra uma abordagem muito superficial, já que as conformações e dimensões das ocas ou malocas
indígenas variam a depender da tribo e quantidade de pessoas que habitam ali. Porém, ao estudar os
diferentes exemplares da arquitetura indígena, é possível rever a noção de “tecnologia avançada” e
assimilar soluções sustentáveis e adaptadas às condições ambientais. Guardar
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22/03/2021 O que podemos aprender com a arquitetura indígena? | ArchDaily Brasil
Desde a invasão dos portugueses no Brasil, a colonização impôs parâmetros que se refletem até hoje na
forma de construir, habitar e analisar a arquitetura. A relação colônia/colonizado, ou centro/margem
persiste também no sentido que a ideia de tecnologia avançada ainda é entendida como aquela high tech,
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ou seja, baseada em um ideal progressista e universal. Mas o que deve ser entendido, sobretudo nos países
latino-americanos, como tecnologia avançada? A arquiteta argentina Marina Waisman, em seu livro “O
interior da história: historiografia arquitetônica para uso de latino-americanos”, além de responder à essa
pergunta, argumenta sobre a necessidade de se discutir uma historiografia latino-americana e reflete sobre
os conceitos de centro, periferia e região, fazendo uma análise de como alguns vocábulos devem ser
revistos quando aplicados na América Latina.
No Mato Grosso, o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Tecnologias Indígenas, Tecnoíndia, atua desde 2007
com o objetivo de organizar, manter e ampliar o acervo documental de bens materiais e imateriais
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indígenas, como fonte para trabalhos de pesquisa, extensão e projeto. O núcleo, criado pelos professores
Maria Fátima Roberto Machado, antropóloga, e José Afonso Botura Portocarrero, arquiteto, busca, através
da multidisciplinaridade,
Início
superar as visões tecnológicas
Projetos
e estéticas exógenas
Produtos
e hegemônicas, realidade
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presente no contexto brasileiro, sobretudo naqueles lugares onde a memória indígena foi quase
completamente apagada.
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O Centro Sebrae de Sustentabilidade (CSS), projetado pelo arquiteto José Afonso EU
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Portocarrero, é um
exemplo da forma que os estudos sobre tecnologias construtivas indígenas podem ser adotadas na
produção arquitetônica contemporânea. Em 2018 o edifício ganhou o prêmio de Melhor Edifício
Sustentável das Américas, o BREEAM Awards, além de outros prêmios de sustentabilidade, como o Procel
Edifica (2013) e o GBC Brasil Zero Energy (2017). Sua cobertura, conformada por duas cascas de concreto
espaçadas entre si permite a existência de um colchão de ar que mantém o interior da edificação a uma
temperatura agradável. A tecnologia foi inspirada nas construções indígenas formadas por várias camadas
de palha, que também permitem o conforto térmico através da formação de camadas de ar entre elas.
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Nos anos 80, a chamada “arquitetura regionalista” ganhou destaque com a publicação “Towards a critical
regionalism: six points for an architecture of resistance”, de Kenneth Frampton. A publicação lança
diretrizes para uma “arquitetura de resistência” que concilia princípios modernistas a aspectos regionais,
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como técnicas construtivas, materiais e adaptabilidade ao clima. No Brasil, a produção dos anos 60 aos
anos 80 do arquiteto Severiano Porto é considerada por alguns autores exemplo dessa abordagem por tirar
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Em tempos nos quais a sustentabilidade está no foco de discussões de como enfrentar questões climáticas
e ambientais, voltar o olhar a práticas vernaculares pode ser uma forma de aprender como lidar com estas
questões de uma maneira diversa. A partir do entendimento que tecnologia avançada é algo que vai além
de soluções inovadoras universalizantes - muitas vezes importadas de outros contextos -, é possível adotar
práticas projetuais baseadas na arquitetura indígena como forma de responder a demandas
contemporâneas, conciliando adaptabilidade ao contexto, interlocução com a comunidade e materiais e
técnicas construtivas locais.
Referências bibliográficas
CAU/RN. “Arquitetura Indígena no Brasil”. Acessado 24 Out 2019 <https://www.caurn.gov.br/?p=10213>.
HESPANHA, Sérgio Augusto Menezes. “Severiano Porto. Entre o regional e o moderno”. Arquitextos, São
Paulo, ano 09, n. 105.05, Vitruvius, fev. 2009. Acessado 24 Out 2019
<https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/09.105/76>.
PORTOCARRERO, José Afonso Botura. “Tecnologia indígena em Mato Grosso: habitação”. 2. ed. Cuiabá:
entrelinhas, 2018.
WAISMAN, Marina. “O interior da história: historiografia arquitetônica para uso de latino-americanos”. São
Paulo, SP: Perspectiva, 2019.
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Susanna Moreira
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