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Agravo em execução penal nº 977.459.3-5 – Presidente Prudente


Agravante: Ministério Público
Agravado: Benedito Antunes do Amaral.

Colenda Câmara:

Inconformado com a r. decisão de fls. 14, em que,


na execução de nº 596.667, ao sentenciado, condenado por crime hediondo, com imposição do
regime fechado para o cumprimento integral da reprimenda privativa de liberdade, foi deferida
a progressão ao regime de prisão semi-aberto, ao argumento de que incidentalmente, no
julgamento do Habeas corpus nº 82.959-7, por maioria de votos, foi declarada pelo Supremo
Tribunal Federal a inconstitucionalidade do dispositivo legal que determinava o cumprimento
da pena de reclusão integralmente em regime fechado, e considerados preenchidos todos os
requisitos legais, foi deferida a progressão ao regime semi-aberto, o ilustre e esclarecido Dr.
Promotor de Justiça agrava para esse Egrégio Tribunal pleiteando sua reforma, com a cassação
da “decisão de primeiro grau e determinando-se que o agravado retorne ao regime fechado”,
pelas razões de fls. 20/44.

O agravo, interposto tempestivamente e


processado na forma da lei, comporta provimento.

Procede, sem a menor sombra de dúvida, a


argumentação expendida na objetiva, precisa e muito bem elaborada e fundamentada minuta do
agravo do Ministério Público, à qual, em verdade, nada tenho a acrescentar, porque
absolutamente desnecessário, sob pena de ser inutilmente repetitivo, afigurando-se-me também
a mim, no tocante à preliminar argüida, que se a imposição do regime de prisão inicial fechado
para o cumprimento integral da reprimenda aplicada por prática de crime hediondo ocorreu no
juízo de conhecimento, de igual instância do juízo da execução, confirmada a decisão
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condenatória em grau de apelação, não podia o magistrado a quo, na execução do julgado,


rescindi-lo parcialmente para promover o sentenciado a regime de prisão inicial menos
rigoroso, imposto o fechado por expressa determinação legal cuja constitucionalidade fora
reconhecida, reiteradamente, tanto pelo Superior Tribunal de Justiça como pelo Pretório
Excelso, não podendo prevalecer validamente, de conseguinte, a decisão agravada, e no mérito
impõe-se reconhecer que o disposto no § 1º, do art. 2º, da Lei 8.072/90, declarado agora
inconstitucional pela mesma Corte Suprema, por maioria de um voto, não foi suspenso pelo
Senado Federal, permanecendo em vigor, como decidido por esse Egrégio Tribunal, com
incontestável acerto, no julgamento do mandado de segurança de nº 902.673.3-8, rel. Des.
Guilherme G. Strenger, julgado em 29.03.2006, a que se acrescenta que essa Augusta Corte,
anteriormente, já proclamara que “o regime prisional fechado em sua integralidade, para
desconto da corporal, é obrigatório, conforme dispõe o artigo 2º, par. 1º, da Lei 8.072/90, cuja
constitucionalidade – pese decisão recente da Corte Suprema adotada em caso concreto, mas
sem força e efeito vinculante das instâncias inferiores – também já foi proclamada em
entendimento antes sufragado pelo seu Plenário (RTJ 147/598), ao qual continua se filiando
esta C. 5ª. Câmara Criminal, onde se adotou entendimento da inexistência de conflito com o
art. 5º, XLVI, da CF/88, pois a Carta Magna conferiu ao legislador ordinário competência para
dispor sobre a individualização da pena” (H.C. nº 903.174.3/8, rel. Des. Marcos Zanuzzi,
julgado em 16.03.2006).

À vista do exposto, o parecer é pelo


provimento do agravo.

São Paulo, 10/julho/2006.

José Roberto Garcia Durand


Procurador de Justiça

Agravo em execução penal nº 977.459.3-5 – Presidente Prudente.


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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

REGISTRADO(A) SOB Nº 01103731

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo em Execução Penal, No.


00977459.3 da Comarca de Presidente Prudente, em que é(são) AGRAVANTE(s)
MINISTERIO PUBLICO, sendo AGRAVADO(s) BENEDITO ANTUNES DO AMARAL.

ACORDAM, em 14ª Câmara do 7° Grupo da Seção Criminal, proferir a


seguinte decisão: “DERAM PROVIMENTO, NOS TERMOS QUE CONSTARÃO DO
ACÓRDAO. V.U.”, de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento foi presidido pelo(a) Desembargador(a) DECIO BARRETTI e


teve a participação dos Desembargadores ALFREDO FANUCCHI, SERGIO RIBAS.
São Paulo, 17 de agosto de 2006
FERNANDO MATALLO
Relator
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AGRAVO EM EXECUÇÃO n° 9774593/5-0000-000


Comarca: PRESIDENTE PRUDENTE - (Ação Penal n° 596.667)
Juizo de Origem: Vara das Execuções Criminais
Órgão Julgador: Décima Quarta Câmara Criminal
Agravante: o MINISTÉRIO PÚBLICO
Agravado: BENEDITO ANTUNES DO AMARAL

VOTO DO RELATOR

O Ministério Público agrava da respeitável decisão do Meritíssimo Juiz de


Direito em exercício no Juízo da Vara das Execuções Criminais da Comarca de Presidente
Prudente, que nos autos da Execução 596.667, deferiu ao sentenciado BENEDITO ANTUNES
DO AMARAL a progressão ao regime semi-aberto em face de declarada inconstitucionalidade
pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento do habeas corpus 82.959-7.
Alega impossibilidade de progressão a crime hediondo em razão de expressa
vedação legal, aduzindo que o disposto no § 1°, do art. 2°, da Lei 8.072/90 não foi sus penso
pelo Senado federal, permanecendo em vigor.
Mantida a respeitável decisão, a Defesa opina
pela sua manutenção.
A douta Procuradoria Geral de Justiça manifesta-se pelo provimento do
agravo, cassando-se a decisão agravada.

É o breve relatório.

O recurso comporta provimento.

O agravado cumpre 08 anos de reclusão, em regime integralmente fechado,


por prática de crime de extorsão mediante seqüestro (crime hediondo) e roubo qualificado.
Deve cumprir integralmente no regime fechado a pena do crime hediondo e
mais 1/6 da outra pena (roubo), cujo lapso temporal será alcançado em 23.5.2009.
Preliminarmente, cumpre anotar que este
E. Tribunal manteve a r. sentença condenatória (feito 1137/2001 — 2
execução), no que tange à proibição da progressão de regime, de modo que não pode o d.
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Magistrado “a quo” modificá-la, porque a vedação da progressão de regime encontra-se


acobertada pela coisa julgada.
Diferente seria se a modificação do termo da sentença fosse advinda do
resultado de ação revisional ou habeas corpus, emanados de instâncias competentes.
Assim pelo fato da sentença condenatória ter expressamente fixado o regime
integral fechado para o cumprimento da pena, quer já tenha feito coisa julgada ou ainda
dependa de reavaliação por parte da Superior Instância, não se tem como admissível sua
alteração na fase de execução para que seja possibilitada ao agravado a progressão de seu
regime prisional.
Por outro lado cumpre anotar que não há falar em inconstitucionalidade da
Lei 8.072/90 ou revogação do art. 2°, § 1°, da referida Lei.
É bem verdade que o Plenário do Supremo Tribunal Federal afirmou a
inconstitucionalidade do § 1167, do art. 2°, da Lei 8.072/90 (que proíbe a progressão do regime
de cumprimento de pena para os condenados por crimes hediondos) no julgamento do
HABEAS CORPUS 82959, impetrado em favor de Oseas de Campos.
Contudo, a eficácia dessa decisão está circunscrita ao caso em que foi
proferida.
Enquanto não por suspensa a execução do § 1°, do art. 2°, da Lei 8.072/90,
pelo Senado, a vigência desse preceito persiste, e só terão efeito vinculante, em relação aos
demais órgãos do Poder Judiciário quando vier a ser publicada na imprensa oficial uma súmula
específica aprovada por decisão de dois terços dos Ministros que integral o Pretório Excelso.
(Constituição Federal de 1988 — art. 103-A, incluído pela Emenda Constitucional n° 45 de
2004).
Merece destaque a observação de que a lei em comento foi editada
justamente em atenção ao disposto na própria Constituição Federal que exigiu tratamento mais
rigoroso àqueles que praticarem crimes hediondos ou a ele equiparados (art. 50, XLIII).
Portanto, a melhor tese ê aquela que reconhece a constitucionalidade da
norma proibitiva em comento.
Ainda que fosse suplantado o óbice legal aqui enunciado, verifica-se que o
ora agravado cumpre pena de extorsão mediante seqüestro e roubo qualificado, possuindo
situação processual indefinida (fls. 07), registra em seu prontuário a prática de falta disciplinar
de natureza grave, tendo sido agraciado anteriormente coma progressão ao regime aberto,
traindo a confiança que lhe foi depositada pra ticando novo crime (feito 1137/2001).
Assim, diante do quadro que apresenta não poderia ter sido promovido sem o
devido exame criminológico, não obstante o advento da controvertida Lei 10.792/03.
Se por um lado os laudos não vinculam o Julgador, sob pena de transformar o
perito em Juiz, de outro é igualmente certo que os laudos técnicos fornecem ao magistrado
informações que normalmente o Julgador não possui, pois foge à sua especialidade, daí a
necessidade, quando o caso concreto a indicar, de se proceder à análise mais aprofundada do
mérito pessoal do apenado.
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Diante de tais considerações é possível concluir que as inovações trazidas


pela Lei 10.792/03 não são positivas, pois retiram do Magistrado importante instrumento de
apreciação do mérito pessoal do apenado, se sua interpretação não for cautelosa.
Nem por isso, a má qualidade da legislação enseja a meu ver, a
inconstitucionalidade antevista pelo i. recorrente.
Desse modo, os elementos extraídos do presente instrumento de agravo dão
conta de que deveria o magistrado ter agido com maior cautela devendo a decisão agravada ser
cassada.
Ante o exposto, por meu voto, DOU PROVIMENTO ao recurso interposto
para cassar a decisão agravada.

FERNANDO MATALLO
relator

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