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Faculdade de Suzano

ESTUDO DIRIGIDO

Aluno : VAGNER GETÚLIO S. DE OLIVEIRA RA:


2018033027
DISCIPLINA : Direito penal lll

Dos Crimes Contra a Vida

Crimes contra a vida

Os crimes contra a vida são aqueles que mais imediatamente afetam a


pessoa (ente humano). Os bens físicos ou morais que eles ofendem ou ameaçam
estão intimamente consubstanciados com a personalidade humana. Tais são: a vida,
a intangibilidade corpórea (integridade corporal), a honra e a liberdade do indivíduo.

Os quatro são requisitos fundamentais para a vida comunitária, logo o bem


jurídico tutelado tem caráter eminentemente público (o Estado os resguarda e
defende).

Crimes contra a Vida

Homicídio:

“Hominis Excidium” – matar o homem


1. Conceito

É a eliminação da vida extra-uterina de uma pessoa por outra. Alguns autores dizem
que é a eliminação injusta, ilegal, ilícita, porém estas expressões já estão implícitas
no tipo da primeira definição. A expressão “vida extra-uterina” –5 art. da CF garante
a vida – é utilizada para diferenciar o homicídio do aborto.

Art. 121 do cp

§ 1º - 3 formas de homicídio privilegiado – homicídio doloso

§ 2º - homicídio qualificado – homicídio doloso

§ 3º - formas de homicídio culposo, exceto o de acidente de trânsito

§ 4º causas de aumento de pena / 1º parte – homicídio culposo / parte final –


homicídio doloso

§ 5º perdão judicial

2. Objetividade jurídica

É a vida extrauterina, previsão art 5, caput, da CF. Basta o início da


passagem à luz para caracterizar o homicídio. O parto cessa após a expulsão
secundinas (esvaziado o útero e expulsa a placenta), mesmo que não tenha sido
cortado o cordão umbilical. Terminada a vida intrauterina, matar o recém-nascido é
homicídio.

O final da vida é o final da tutela penal. A morte se dá com a cessação


concomitante e irreversível das atividades respiratória, circulatória e cerebral. A lei
que trata da remoção de órgãos e tecidos para fins de transplantes, é modelo
copiado da comunidade europeia. A lei diferencia vida biológica de vida jurídica. A
vida biológica termina como fim da atividade cerebral, estado irreversível,
independentemente da continuidade da atividade respiratória e circulatória. A morte
extingue a personalidade jurídica O corpo pode ser doado ou até vendido para
faculdades de medicina, pois houve o término da vida humana biológica.

Porém, declarada a morte encefálica, permanecendo a atividade circulatória e


respiratória, há tão somente a morte biológica, porque impossível o reconhecimento
da jurídica com a consequente extinção da personalidade. A Lei 9437/97 autoriza
tão somente o reconhecimento da morte biológica, não alterando o conceito de
morte no direito penal que se refere à morte jurídica e fim da personalidade.

O médico ao retirar o coração de uma pessoa que teve morte cerebral, acaba
por cessar todas as atividades do corpo, tanto a respiratória e a circular. Esse
médico não cometeu homicídio, por mais que o fato seja típico (matar alguém), pois
agir em conformidade da lei (9.437/97), o fato é lícito.

3. Sujeitos do delito

3.1 Sujeito ativo

Qualquer pessoa pode praticar homicídio. Trata-se de crime comum. O crime


é unissubjetivo, ou seja, basta uma pessoa para o crime seja caracterizado, a
pluralidade de sujeitos não integra o tipo. Permite concurso eventual de agentes
tanto na co-execução (coautoria) quanto na participação.

Ex: Assassinato da irmã Doroty – há um mandante (partícipe) e um executor (autor


realizou atos de execução), ambos respondentes pelo crime na medida de sua
culpabilidade.
3.1 Sujeito passivo

Sujeito passivo vem identificado pela elementar “alguém”, que é qualquer


pessoa (ser vivo nascido de mulher).

4. Tipo Objetivo

O núcleo do tipo é indicado pelo verbo “matar”, que significa eliminar, ceifar,
tirar a vida de pessoa humana.

Se há fato típico, antijuridicidade e culpabilidade, há crime.

1. Conduta “disparar” de A em B à
2. resultado morte em B (3 – há nexo causal / 4 – tipicidade) ß Art. 121 CP

Homicídio é crime de dano: ataque ao bem jurídico. Contrapõe-se ao crime de


perigo que é a exposição do bem jurídico a perigo de dano.

É crime de forma livre, ou seja, qualquer meio, ao menos relativamente


idôneo, capaz de produzir o evento morte é homicídio. É crime de forma vinculada,
pois a lei descreve o único caminho que se pode percorrer para obter o resultado.

O homicídio admite tanto a forma comissiva (ação), quanto a omissiva


imprópria (comissivo por omissão).

É crime, em regra, comissivo – se pratica por uma ação, excepcionalmente


comissivo por omissão (comissivo omissivo ou omissivo impróprio). A omissão é o
instrumento empregado para o resultado morte, exige que o agente tenha se
colocado na posição de garante ou garantidor.

Crime omissivo puro ou próprio – se esgota por não fazer.


Crime instantâneo de efeitos permanentes. É aquele em que o momento
consumativo se destaca da linha do tempo. O agente pratica a conduta e aguarda o
evento sob o qual não tem domínio. Efeito irreversível.

Crime permanente – o evento consumativo se prolonga no tempo a critério


único e exclusivo do agente. O agente tem o domínio do tempo. Ex: extorsão
mediante seqüestro

Crime progressivo – conduta viola diferentes graus de um mesmo bem


jurídico.

O homicídio é crime material de resultado naturalístico, o resultado é


exteriorizado, perceptível aos sentidos. Sempre deixa vestígio. Exige laudo de
exame de corpo de delito (art. 158 do cpp). Esse exame é necroscópico e prova
pericial objetiva. Não precisa encontrar o corpo, precisa da certeza da ocorrência do
crime para que haja julgamento.

Tipo Subjetivo Homicídio doloso

“Animus necandi” ou “animus occidendi” – O homicídio admite todas as


formas de dolo (direto, indireto, eventual e alternativo):

● Dolo indireto individual – assumir risco;


● Dolo indireto alternativo – agente vislumbra mais de um resultado e
assume o risco de produzir qualquer resultado
● Dolo indireto eventual – não quer produzir o evento morto, porém
assume o risco de produzir. Ex: racha.

Elemento volitível é o animus. A tipicidade só pode ser definida quando se


sabe o animus.
● Art. 5º, XXXVIII, d – Tribunal do Juri (competência para julgar os crimes
dolosos contra a vida).
● JECrim – Lei 9099/95 – crimes culposos.

Homicídio culposoForma culposa é a figura do parágrafo 3º. Exceto o


homicídio culposo decorrente de trânsito (art. da Lei 9503/97). O homicídio
doloso decorrente de trânsito continua no cp

Trata-se de tipo penal aberto, exigindo do magistrado o exame e o


acolhimento da prova da imprudência, negligência ou imperícia geradora do
resultado letal. O tipo culposo demanda, pelo órgão de acusação, a prova cabal da
culpa, da conduta reputada imprudente, negligente ou imperita.

Consumação e tentativa – art. 14, I e II

Homicídio se consuma com o evento morte. Tentativa não se obtém o


resultado morte e ocorre na terceira fase do inter criminis (fase mais rica). Sempre
que o resultado não ocorre, pergunta-se o porquê. O animus vai prevalecer. Deve-se
verificar se houve o arrependimento eficaz, desistência voluntária ou a tentativa. O
importante é a versão que se dá aos fatos e não o fato em si (sem alterar provas,
respeitando os limites da ética, pode-se valorar diversamente o fato – disputa entre
versões – elemento anímico).

Homicídio privilegiado

Privilegiado = § 1º - Pena diminuída em 1/6 a 1/3.

● A forma privilegiada do homicídio tem por natureza jurídica causas de


diminuição de pena aplicada na 3ª fase.
● As três formas privilegiadas são subjetivas, ou seja, ligadas à motivação
do crime.
● São excludentes entre si. Não existe homicídio duplamente ou
triplamente privilegiado.

Simples = “caput” – Pena de reclusão de 6 a 20 anos

Qualificado = § 2º - Pena de reclusão de 12 a 30 anos. Temos formas


subjetivas e objetivas ligadas aos motivos e meios de execução.

Privilegiado - § 1º

Formas do crime privilegiado

Relevante valor social - é um valor que reflete o interesse da coletividade, que


revela menor desajuste e diminuta periculosidade do homicida.

Relevante valor moral – refere-se a um interesse de cunho pessoal, que afeta


particularmente o agente e que abriga a chamada moralidade média. São motivos
considerados nobres e altruístas.

Ex: pai que mata o estuprador da filha. Curiosidade: Eutanásia e


Ortoeutanásia, na doutrina e na jurisprudência, recebem o tratamento de homicídio
privilegiado pelo relevante valor moral.

Domínio de violenta emoção logo em seguida a injusta provocação da vítima


Elementos

Emoção – é um estado de ânimo ou de consciência caracterizada por uma


viva excitação do sentimento. É um estado de espírito que altera momentaneamente
a capacidade de querer, entender, se determinar.

Violenta – emoção forte que atrapalha o pensamento.

Atuar sobre o domínio – Domínio ≠ Influência à influência atrapalha o


pensamento, o recurso às faculdades mentais. A mera influência de violenta emoção
é simples circunstância atenuante da pena (art. 65 – III, c). Domínio é subtração, a
pessoa perde momentaneamente a capacidade de querer entender e determinar-se.

Provocação – a vítima inicia a cena, é a provocação capaz de dominar a


emoção do homicida.

Logo em seguida – imediatamente. Se for momentaneamente = domínio de


violente emoção. Se tiver espaço de tempo é influência.

Forma qualificada

O acusado irá se defender dos fatos, e não da capitulação do crime apontado.


O réu também se defende da adjetivação dada ao fato, ou seja, da qualificadora. A
vingança é o maior exemplo prático de motivo torpe (repugnante).

Art. 121 do cp § 2º - Se o homicídio é cometido:

I - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;

Qualificadora da torpeza ou do motivo torpe – subjetiva, ligada à motivação do crime


II - por motivo fútil;

Qualificadora subjetiva, relativa ao motivo do crime. Fútil é o motivo


insignificante, diminuto, ínfimo. Não existe ausência de motivação. Às vezes não é
possível revelar o motivo do crime (sem autoria e materialidade e o réu continua
alegando o fato).

Parte da jurisprudência e da doutrina equipara a ausência de motivação ao


motivo fútil. A ausência de motivo é menos do que o motivo fútil, razão maior para
aplicar a qualificadora.

Outra corrente diz que, se o nada (ausência) é fútil, é o mesmo que dizer que
a ausência de motivo é até mesmo torpe. Assim, o crime é visto como simples, a fim
de não desrespeitar a legalidade. Se não há motivo, não há o que se analisar.

III - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso
ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum;

Qualificadora objetiva relativa ao meio de execução. Meio cruel é o meio


empregado pelo agente que gera sofrimento, desnecessário para a execução do
crime. Sempre que o agente recorre para praticar o homicídio com um meio
considerado cruel, revela perversidade.

● Veneno: toda substância mineral, vegetal ou animal, que introduzida no


organismo é capaz de, mediante ação química, bioquímica ou
mecânica, lesar a saúde ou destruir a vida. Ex: açúcar é veneno para o
diabético, veneno de rato.
● Fogo agrava o crime por ser meio cruel.
● Explosivo: qualquer corpo capaz de se transformar rapidamente em gás
à uma temperatura elevada. Ex: ataques do PCC, caso do Rio Centro
na década de 80.
● Asfixia: impedimento da função respiratória. Pode ser conseguida por:
esganadura (constrição do pescoço com as mãos), enforcamento
(constrição do pescoço pelo próprio peso da vítima), estrangulamento
(constrição do pescoço com objetos segurados pelo autor), sufocação
(travesseiro), soterramento (submersão em meio sólido) e afogamento
(submersão em meio líquido).
● Tortura: é a imposição de mal desnecessário para causar à vítima, dor,
angústia, amargura, sofrimento. Tortura moral é aquela provocada pelo
terror. Obs: tortura seguido de morte admite progressão de pena. O
homicídio qualificado pela tortura (dolo de matar) não admite progressão
de pena.
● Outro meio incidioso: é o clandestino desconhecido da vítima. Ex:
sabotagem do motor do automóvel.
● Outro meio cruel: é o meio bárbaro, aquele que sujeita a vítima à graves
e inúteis vexames. Ex: retalhar a vítima.
● Outro meio de que possa resultar perigo comum. Perigo comum
caracteriza-se quando o agente para a execução do homicídio expõe a
perigo de dano a incolumidade pessoal (vida, integridade física e saúde)
de número indeterminado de pessoas. Ex: ataques do PCC. É uma
qualificadora objetiva ligada ao meio de execução.
● Há traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso
que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;

Qualificadora da SURPRESA, objetiva relativa ao modo de execução.


Situação em que jamais poderia esboçar reação, defender-se.

1. Traição: ocorre quando essencialmente há quebra de confiança


depositada pela vítima em relação ao agente, que dela se aproveita
para matar. Pressupões vínculo de confiança pré-existente (pré-
constituído) entre as partes; o agente se vale desta confiança – a vítima
indefesa não esboçará reação Ex: atirar pelas costas, marido mata
mulher durante ato sexual.
2. Tocaia ou emboscada: sujeito ativo aguarda ocultamente a passagem
ou chegada da vítima, que se encontra desprevenida, para atacar. Há o
recurso da premeditação.
3. Dissimulação: disfarce, ocultação, que esconde o propósito delituoso.
Quando o agente ocultando o propósito homicida, se aproxima da vítima
para ganhar sua confiança para então atacá-la que, desprotegida, não
pode esboçar reação. Ex: criminoso age com falsas mostras de amizade
ou de tal modo que a vítima, iludida não tenha motivo para desconfiar
do ataque e é apanhada indefesa. Ex: maníaco do parque.
4. Recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. Ex:
matar vítima enquanto está dormindo.
5. para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de
outro crime:

Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.

Qualificadora da conexão, subjetiva relativa à motivação do crime. Há a


conexão teleológica (só a primeira figura – assegurar a execução de outro crime).
Ex: mata para executar outro crime. A prática do outro crime não é pressuposto da
qualificadora, é somente a garantia. A prova a ser produzia é quando na execução
do homicídio, o motivo era para executar outro crime.

Na conexão consequencial, o homicídio é consequência de outro crime. O


homicídio é praticado para assegurar a: ocultação, impunidade (queima de arquivo)
ou vantagem do crime anterior.

Todas as figuras do homicídio qualificado, bem como do homicídio simples,


quando praticado por grupo de extermínio (torpe – torpeza qualifica o homicídio),
conforme a Lei 8.930/94 que alterou a Lei 8.072/90, o tornam hediondo.
Meio cruel, perigo comum e surpresa a qualificadoras objetivas (meios e
modos de execução)

Torpe, fútil e conexão à qualificadores subjetivas (motivação)

Possibilidade de Cumulação de qualificadoras

Não se cumulam qualificadoras subjetivas. É possível, no entanto, a


cumulação de objetivas ou de uma subjetiva e uma ou mais objetivas.

Qualificadoras

Subjetivas, objetivas, motivação, meios e modos de execução

I – Torpe

III – Meio cruel

II – Fútil

III – Perigo comum

V – Conexão

IV – Surpresa

Possibilidade de Homicídio qualificado e, ao mesmo tempo, privilegiado

Homicídio híbrido
É a possibilidade de cumular uma forma privilegiada (subjetiva-motivação) ou
uma ou mais qualificadoras objetivas (meio ou modo de execução).

Perdem o atributo da hediondez porque na concomitância entre algo de


cunho subjetivo (motivação) e algo de cunho objetivo (meio ou modo de execução),
prevalece sempre aquele (subjetivo). A parte subjetiva não é hediondo.

Ex: pai que mata estuprador da filha – agir por vingança é torpeza (qualificadora
subjetiva). Pode-se dizer, ainda, que o crime é privilegiado pelo relevante valor moral
e social. Porém, o crime não pode ser privilegiado e qualificado ao mesmo tempo,
pois se trata de elementos subjetivos e não há cumulação neste caso.

Possível resultado: Art. 121, § 2º, I (torpe) e IV (surpresa) – 14 anos e regime


fechado

Possível resultado: Art. 121, § 1º - 4 anos e regime aberto

Quesitos – Tribunal do Júri

1) Autoria

2) Materialidade

3) Privilegiado ou não (relevante valor moral)

4) Torpeza (subjetivo)

5) Surpresa (objetivo)
Primeiro são julgados os quesitos da defesa, para beneficiar o réu. Se o crime
é julgado como privilegiado (4 votos contra 3), o quesito 4, torpeza, não irá a
julgamento (já definiu o motivo do crime-subjetivo).

Parágrafo 4º do art. 121

Causas de aumento de pena. Na primeira parte, as causas se aplicam


somente para crime culposo. Ex: fugir para escapar da prisão em flagrante. A
jurisprudência e doutrina não consideram essas causas de aumento de pena.

Na segunda parte, aplicam-se ao homicídio doloso. Fundamentos:

1) A idade da vítima integra o dolo do agente como elemento facilitador do resultado.

2) Criança, adolescente e idoso são pessoas destinatárias de políticas públicas


especiais.

Parágrafo 5º do art. 121 – Perdão judicial

No homicídio, só cabe no parágrafo 3º - só se concede perdão judicial ao


homicídio culposo. É causa extintiva da punibilidade. Arts. 107, IX e 120, CP.

Natureza jurídica da sentença que concede o perdão judicial: é meramente


declaratória, conforme Súmula 18 do STJ. O Estado perdeu o direito de punir.

Infanticídio

Sujeito ativo
Sujeito ativo, somente a mãe. É crime próprio, unisubjetivo e que admite
concurso de agentes.

O infanticídio, crime próprio, admite concurso de pessoas? Sim, quer na


execução, quer na co-execução.

Se um homem ajudar a mãe a cometer o infanticídio, este terá cometido que


crime? Há uma lacuna na lei, pois infanticídio tem sujeito determinado. Neste caso,
ambos responderam pelo crime de infanticídio.

Há dois fundamentos no conflito de tipificar a conduta:

Adoção da teoria unitária ou monista: unicidade de crime e pluralidade de


agentes. (art. 129 do CP). Todos os agentes são condenados pelo mesmo crime. Se
um dos acusados recorrer, a decisão alcança os demais acusados. A
incomunicabilidade das elementares de caráter pessoal (subjetivas) quando
integram a esfera de conhecimento dos agentes (art. 30 do CP).

Sujeito passivo

Sujeito passivo: nascente ou neonato (quem mata durante o parto, mata a


nascente).

Não admite a forma omissiva imprópria. Apenas para familiarizar, ao se falar


em omissivo impróprio, fala-se também em comissivo por omissão e comissivo-
omissivo. A omissão não se esgota em si mesmo, é omissão para produção de um
evento. Há certa confusão entre estado puerperal e depressão pós-parto. A
depressão pós-parto de amolda ao homicídio.

Estado puerperal: após o parto é o fenômeno biopsicológico, é reação


hormonal que desencadeia uma reação psicológica. Domina o pensamento da mãe
e está perde parcialmente a capacidade de pensar. A vida pregressa leva a essa
reação, ou seja, o abalo na vida durante a gravidez é fator gerador dessa reação.
Pode ser alegado a qualquer momento. Verifica-se a intensidade do estado
puerperal e não a duração. Alguns países consideram o estado puerperal em até 15
dias após o parto.

Sobre a gravidez, o direito brasileiro é referência mundial ao se tratar no


tratamento de crianças precárias. São feitos protocolos após o nascimento a fim de
evitar doenças vindas da mãe, como AIDS e Hepatite C.

Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio

Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio

Art. 122 - Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o
faça:

Este crime não é imutável a quem atenta. É a eliminação voluntária e diretada


própria vida.

Sujeito ativo

Qualquer pessoa pode praticar este crime, há concurso eventual


exclusivamente na modalidade PARTICIPAÇÃO, logo não admite co-execução, só
conduta acessória.

Sujeito passivo

Qualquer pessoa maior de 14 anos e portadora de higidez mental


(posicionamento amplamente dominante na doutrina e jurisprudência).
Homicídio em autoria mediata: vitima menor de 14 anos.

Tipo objetivo

Trata-se de tipo misto alternativo oi de conteúdo variado ou de conteúdo


múltiplo, ou seja, o crime é único– se violado mais de um verbo, o crime é único. Ex:
investigar e/ou auxiliar e/ou instigar.

a. Casos de participação moral

Induzir: fazer nascer a idéia, criar o propósito suicida.

Instigar: estimular, encorajar, ampliar o propósito já concebido.

b. Caso de participação material

Auxiliar: viabilizar os meios e os modos de fornecer material para o suicídio.

É crime exclusivamente de participação. A conduta do agente é acessória. Ao menor


ato de execução a conduta se amolda ao homicídio.

Tipo subjetivo

É o dolo direito ou indireto eventual. O agente deve querer a morte do outro.

Tentativa
Tentar não justifica a ação penal, não se pune a tentativa de instigar, auxiliar
ou induzir o suicídio.

Pena

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão,


de 1 (um) a 3 (três) anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de
natureza grave.

Lesão grave com resultado morte: pena em abstrato de 1 a 3 anos.

Parágrafo único - A pena é duplicada:

Aumento de pena

I - se o crime é praticado por motivo egoístico;

Se o crime é praticado por motivo egoístico (todo motivo que acarrete uma
vantagem para o agente, não necessariamente econômica), terá a pena duplicada.

II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de


resistência.

Adotado o entendimento do motivo subjetivo, a vítima deve ser menor de 14 anos.


Fundamento: art. 121, § 4º, parte final. Se a vitima, por exemplo, está em crise
depressiva, e o agente se aproveitar dessa situação para induzi-lo ao suicídio, acaba
por diminuir a capacidade de resistência da vitima, e terá a pena aumentada.
Aborto

O termo aborto deriva de “ab ortus” e significa interrompido desde o início.

É a interrupção da gravidez com a morte do produto da concepção. Não há


necessidade de expulsar o feto do corpo da mãe, basta a interrupção da gravidez.
Há procedimento de mumificação do feto (consolidação) e até absolvição, isso
quando a gravidez é interrompida de pronto.

A conduta é o abortamento e o resultado é o aborto. Alguns doutrinadores


dizem que o crime é o de abortamento. A conduta de interromper a gravidez pode
ser realizada em qualquer fase da gravidez (óvulo fecundado, embrião e feto).

Objetividade jurídica

É a vida intra-uterina. Os arts. 1609, 1611 e 1799 do CC demonstram


de forma clara que a lei protege o nascituro.

Classificação

A regra é a não punição do aborto. Esse crime tipificado é exceção.

Aborto atípico

Quando não há a descrição do fato típico do aborto.

1. Aborto natural ou espontâneo: é o oriundo de causas patológicas


decorrentes de um processo fisiológico espontâneo do organismo
feminino. Ex: choque de PH.
2. Aborto acidental: deriva de causas exteriores e traumáticas. Ex: queda
de escada.
3. Aborto culposo: é o que resulta de culpa stricto sensu, ou seja, conduta
imprudente, negligente ou imperita. O que ganha destaque é o dolo
eventual (há crime) e a culpa consciente (não há crime). Não se pune
aborto culposo.

Aborto típico ou jurídico – art. 128 (excludentes de ilicitude)

Quando o fato é típico e lícito – aborto legal ou permitido. O fato é típico,


porém é lícito/jurídico. Logo não há crime. Além das 4 excludentes de ilicitude, a lei
pode criar excludentes específicas a um artigo específico. A finalidade deste artigo é
excluir o caráter ilícito do artigo, porém a redação leva a interpretar que a finalidade
seria excluir a tipicidade e punibilidade.

1. Aborto terapêutico ou necessário (inciso I): quando não há outro meio de


salvar a vida da gestante. A vida da mãe é uma realidade, a vida da criança é uma
possibilidade. Opta-se a vida da mãe para não perder as duas, logo não há nada
inconstitucional neste aborto.

Há dois estados de necessidade a serem analisados. O que gera a


excludente de ilicitude em geral (um dos 4 casos previstos no CP) e o estado de
necessidade que gera esta excludente, específica do crime de aborto.

Aqui o aborto só pode ser realizado por médico, mais ninguém. O estado de
necessidade geral pode ser qualquer pessoa. No estado de necessidade geral é
requisito o perigo atual. O perigo atual não é necessário nesta excludente de ilicitude
específico do aborto.

2. Aborto humanitário ou sentimental (inciso II): quando o aborto resulta de


estupro, com o consentimento da gestante. A lei faculta à gestante o aborto nesta
situação. Não é necessário permissão judiciária. O caminho normal é abrir inquérito
policial, a modo de garantir a não punibilidade do medito e da gestante que
consente.

Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico:

Aborto necessário

I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;

Aborto no caso de gravidez resultante de estupro

II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da


gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Aborto típico, antijurídico e culpável

É o aborto criminoso. É o aborto realizado pela própria gestante, ou por


terceiro, com ou sem o seu consentimento. O aborto criminoso é o aborto doloso,
com ressalva do art. 128.

1. Aborto eugênico ou eugenésico: realizado quando o feto apresenta graves


e irreversíveis defeitos genéticos. Ex: aborto de feto anencefálico.

2. Aborto econômico ou social: realizado para que não se agrave a situação


de penúria ou miserabilidade da gestante.

3. Aborto “honoris causa”: praticado para ocultar desonra própria.

Exceção pluralística à teoria unitária:


Quando houver concurso de pessoas, no crime do aborto, os crimes
cometidos são diferentes para os intervenientes. Ex: gestante permite aborto e o
medito, com o consentimento, pratica o crime. A gestante responderá pelo crime
tipificado no art. 124 o medito responderá pelo crime do art. 126, ambos do CP.

Auto aborto – art. 124, 1ª parte

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.

Praticar aborto em si mesma. A objetividade jurídica é a vida intra-uterina.


Sujeito ativo é a gestante. O crime é próprio e unissubjetivo que admite concurso de
pessoas, exclusivamente na modalidade participação. Só há concurso de pessoas
quando o terceiro é partícipe. A participação pode ser material/auxílio ou
moral/indução/instigação. Não pode ter ato de execução por parte de terceiro, pois
assim a gestante apenas dá o consentimento e não pratica o crime. O sujeito
passivo é o feto.

O tipo objetivo é praticar aborto em si mesma. O verbo é aborto, praticar


manobras abortivas. É necessário que o verbo esteja vivo. Se estiver morto, não há
objetividade jurídica. Ex: deixar de tomar medicamente e provocar aborto (crime
comissivo por omissão).

O tipo subjetivo é o dolo, pode ser direto ou indireto eventual.

Consumação: consuma-se o auto-aborto com a interrupção da gravidez e a


conseqüente morte do produto da concepção.
Admite-se a tentativa de aborto.

Consentimento para abortar – art. 124, 2ª parte

Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento

Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:

Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.

A objetividade jurídica é a vida intra-uterina. O sujeito ativo, neste artigo, é a


gestante, trata-se de crime de mão própria. Não admite concurso de pessoa, pois o
consentimento é ato personalíssimo.

O tipo objetivo: aluir, permitir, concordar. O consentimento trás dois elementos


indispensáveis: consentimento válido (a gestante tem condições de consentir e sabe
o que está fazendo) e passagem da verbalização à ação (“o consentimento precisa
vir vestido”), ou seja, falar e pesquisar sobre o aborto não leva ao crime, deve haver
a materialização das ações, como ir à clínica para fazer o aborto com data agendada
(conduta deixa claro e inequívoco o consentimento do aborto).

O tipo subjetivo é o dolo, direito ou indireto eventual.

Quanto à tentativa de consentimento de aborto, há dois entendimentos:

● Basta que se passe da verbalização à ação. Para esta parte da


doutrina, basta ter consentido.
● outra parte da doutrina diz que se consuma quando o consentimento se
torna irreversível. Se a gestante se arrepende e impede a consumação
do aborto. Assim, só é considerada a tentativa quando há interrupção do
aborto, e a gestante não pôde voltar atrás no seu consentimento,
estando impedida ou sedada.

Neste crime, não é admitido a tentativa de consentimento/permissão. Ou há


consentimento ou não. A gestante deve concordar e consentir a prática de aborto
para tipificar, deve ser um consentimento perfeito, se haverá aborto ou não, deve-se
analisar a ação do terceiro. Se não houver aborto, ele comete tentativa de homicídio;
se houve o aborto, ele responderá pelo crime de aborto.

A gestante pode até desistir de permitir o aborto, porém é ato de preparação,


não entra na fase de execução. Não se considera tentativa.

Aborto sem o consentimento da gestante – art. 125

É a forma mais grave de aborto. A objetividade jurídica fundamental/principal


é a vida ultra-interina, é a preocupação principal. Porém há uma secundária
objetividade jurídica que é a incolumidade pessoal da gestante/da vida da gestante.
Logo, há dupla objetividade.

Sujeito ativo: qualquer pessoa, exceto a gestante. Logo o crime é comum e


admite todos os concursos de pessoas entre executores e participes.

Sujeito passivo: a primeira vítima é o feto, a segunda vítima é a gestante.

O tipo objetivo é o verbo provocar, realizar manobrar abortivas. É crime de


forma livre, qualquer meio idôneo para realizar o aborto. É material,
plurissubsistente, de dano, instantâneo e progressivo. A estrutura típica é
semelhante á primeira parte do caput.
Consumação: consuma-se com a interrupção da gravidez. Admite tentativa.

Não deve ter o consentimento da gestante.

Aborto provocado por terceiro

Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:

Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos.

Aborto com consentimento da gestante – art. 126

É o mesmo caso do art. 125. A diferença é que neste caso há o


consentimento da gestante. A partir do consentimento, deve-se analisar se este é
válido ou não.

● Válido – art. 126 com a pena do art. 126: se o consentimento for


considerado válido, sai do art. 125 e vai para o art. 126, sendo aplicada
a pena deste.
● Não válido – art. 126 com a pena do art. 125, por força do parágrafo
único do art. 126: se o consentimento for não for considerado válido,
permanece no art. 126, com a pena do parágrafo único.

Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante:

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.

Parágrafo único - Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de


14 (quatorze) anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido
mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Dissentimento - parágrafo único do art. 126

(Aborto praticado por terceiro, com o CONSENTIMENTO NÃO VÁLIDO da


gestante)

Real

É o consentimento real, admitido pela gestante.

● Fraude: enganar, levar ao erro.


● Grave ameaça: ameaça verossímel, realizável, causa medo a ponto de
levar ao consentimento. A violência não é física, é “vis relativa”/violência
moral. Não se confunde com grave ameaça o temor reverencial. Neste
caso, a gestante responde pela parte final do art. 124 e quem abortar
responde pelo art. 126 (consentimento válido).
● Violência: é a violência física, a “vis absoluta”.

Ficto

É o consentimento presumido, não válido.

● Menor de 14 anos:
● Alienada: não tem compromisso com a realidade, não se confunde com
o rebaixamento mental.
● Débil mental: expressão antiga (parte especial do código) –
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, pessoa com o
rebaixamento mental

Resumindo
Autoaborto X Aborto com ou sem consentimento

A estrutura típica é a mesma. O verbo é o mesmo. O que muda são os


agentes.

Causas de aumento de pena

Não é forma qualificada.

A lesão grave está no art. 129, parágrafos 1º e 2º.

Há três coisas a serem analisadas:

1. São preterdolosas: dolo no aborto e culpa no resultado lesão ou morte.


O aborteiro quer ou assume o risco de provocar o aborto, entretanto,
causa lesão grave ou morte da gestante, por imperícia, negligência ou
imprudência.
2. As causas de aumento de pena são aplicam exclusivamente nos arts.
125 e 126, ou seja, só poderá aumentar a pena no aborto cometido por
terceiro, com ou sem o consentimento da vítima. A gestante é vítima,
logo a objetividade jurídica, mesmo que secundária, é a incolumidade
pessoal
3. Há dois resultados: um resultado pode ocorrer durante o aborto, o outro
resultado pode ocorrer depois de realizado o aborto, mas por causa
dele.

Se o aborteiro quiser lesar ou matar a gestante, ele agirá com dolo e serão
aplicados os arts. 126 + 121. Não aplicar-se-á o art. 127.

Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um
terço, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a
gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer
dessas causas, lhe sobrevém a morte.

Aborto de feto anencefálico

Não há lei que permita o aborto de feto anencefálico.

Liminar foi cassada: delicadeza do tema (decidido apenas por uma única
pessoa e órgão colegiado) e liminar satisfativa (após o aborto, não há mais interesse
– satisfaz a autora).

O julgamento demora, basta uma lei federal para definir este assunto. Porém,
o legislador tem receio de enfrentar questões polêmicas, deixando para o Judiciário
julgar casos concretos, criando uma jurisprudência sobre o assunto.

Fundamentos utilizados

Dignidade da pessoa humana, em especial a dignidade da mulher: a


aplicação desse fundamento significa afronta a dignidade da mulher obrigá-la a
gestar um feto sem perspectiva de vida, no seu mais cristalino extinto, a gestar uma
vida inviável (sacrifício da gestante).

● Excludente de culpabilidade da inexigibilidade de conduta diversa, o fato


é típico, antijurídico, porém não culpável: não é razoável exigir que
mulher leve a termo gestação inviável.
● Aborto de feto anencefálico é crime impossível: se não há expectativa
de vida, não há proteção à vida intra-uterina, logo, não há aborto.
Ex: TJ SP – Sessão Criminal - MS 990.09.100.286-0 / 2ª vara / Mogi das Cruzes:
interrupção da gravidez no 7º mês de gestação – gêmeos sem probabilidade de vida
após o parto. Decisão: liminar indeferida. O aborto foi permitido “A vida faz o direito
e não o direito faz a vida”.

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