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ORDEM DOS ADVOGADOS

CNEF / CNA
Comissão Nacional de Estágio e Formação / Comissão Nacional de Avaliação

PROVA ESCRITA NACIONAL DO EXAME


FINAL DE AVALIAÇÃO E AGREGAÇÃO
(RNE)

Questões de Deontologia Profissional


(6 valores)
e de
Prática Processual Civil
(5,5 valores)

18 de Julho de 2009
I
DEONTOLOGIA PROFISSIONAL

De forma sintética e objectiva comente e enquadre a problemática subjacente, à luz


das normas deontológicas aplicáveis, e a bondade das soluções jurisprudenciais
contidas nos seguintes segmentos dos respectivos Sumários:

A) Do Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça, de 19 de Fevereiro de 2008 (JUSNET


1837/2008),

“A junção aos autos, durante a realização de audiência de julgamento, de um


fax subscrito por advogado da parte contrária sem ter sido classificado como
documento confidencial e com a autorização expressa do presidente do
Conselho Distrital competente não está abrangido pelo sigilo profissional e é
apreciado livremente pelo Tribunal”. (1,5v)

B) Do Acórdão do STJ de 2 de Outubro de 2008 (Colectânea de Jurisprudência, Ano


XVI, T3, págs. 52),

I- “No exercício da sua actividade profissional, os advogados gozam de


discricionariedade técnica e de independência técnica. (0,50v)

II- Não pode exigir-se que o advogado adopte, em cada processo, a solução que
veio a ser adoptada pelo Tribunal, mas deve ser responsabilizado se praticar
um erro palmar, por incompetência, pois é seu dever recusar uma causa para
a qual não tenha capacidade. (1,00v)

C) Comente, de forma sintética e objectiva e enquadre, à luz do direito aplicável, a


problemática subjacente às asserções contidas nos seguintes extractos do Acórdão
da Relação de Coimbra, de 28 de Novembro de 2007 (JUSNET 7221/2007).
“No desempenho cabal do seu mandato, o Advogado tem o dever de agir de
forma a defender os interesses legítimos do seu cliente (…) e tem o dever de
dizer tudo quanto julgue conveniente ao bom desempenho do seu mandato,
ainda que arrisque afrontar o direito ao bom nome e reputação de outrem.

Daí que o mandato forense não possa, pois, ser exercido em estado de
constrangimento ou sob o perigo de, a cada passo, serem invocadas contra o
Advogado reacções criminais ou disciplinares decorrentes da tutela da honra
dos restantes intervenientes processuais.

Este maior sacrifício do bem jurídico da honra mostra-se justificado sempre que
o exercício concreto daquelas liberdades corresponda ao desempenho da função
de interesse público que lhes é própria, e que lhes confere uma dignidade
reforçada.

Caso típico a poder verificar-se quando a tutela do direito à honra de alguns dos
sujeitos processuais põe em risco o núcleo do direito à liberdade de expressão
do Advogado e faz perigar, por isso, de forma intolerável, a função pública que
dele depende – a administração da justiça.

Nessas situações, é necessário que a tutela da honra dos intervenientes no


processo recue para a fronteira que lhe é imposta pela necessidade de
conservação do núcleo essencial do direito à liberdade do Advogado”. (3,00v)
II
PRÁTICA PROCESSUAL CIVIL

Admita que, sendo já advogado(a), Pompília Santos o(a) contactou no seu escritório
para contestar a acção que lhe foi movida pelo senhorio Francisco Flores, cuja petição
se encontra em anexo.
A referida acção foi distribuída em 23 de Junho de 2009 no Juízo de Média e
Pequena Instância Cível de Estarreja, cabendo-lhe o nº 630/09, cujo duplicado foi
enviado por carta registada com aviso de recepção, assinado pelo marido dela, Jorge
Nuno Santos, no dia 10 de Julho de 2009, para a morada que consta na petição.

Na conferência que teve com a Pompília, esta confirmou-lhe ter levantado uma parede
divisória na sala, e ter feito obras nos tectos no hall de entrada e nas salas.

Contudo, a Pompília disse-lhe que a parede divisória é de “pôr e tirar”, e que os tectos
são falsos, para esconder as manchas de humidade e os cabos de electricidade.

Mais lhe disse que pintou a parede de cor de laranja porque gosta muito da cor.

Por outro lado, disse-lhe, também, a Pompília, que o A., Francisco Flores, estivera em
sua casa, em Abril de 2008, tendo visto (e apreciado) as referidas obras, sem fazer
qualquer comentário.

QUESTÕES

I – Tendo em conta os elementos fornecidos, elabore a minuta do articulado que a Ré

terá que apresentar no Tribunal. (4,5 valores)


NOTA: Para efeito da elaboração deste articulado é de considerar que no contrato

de arrendamento nada se convencionou quanto à realização de obras pela

inquilina.

II – Foi procurado, no seu escritório, por um seu cliente, o qual era portador de uma
notificação recebida de um Tribunal de Lisboa contendo a decisão que decretara o
arresto do automóvel do seu cliente.
O seu Cliente habilita-o com factos que considera que, a terem sido apreciados
pelo Senhor Juiz, teriam motivado o indeferimento da pretensão do Requerente.

O que deve fazer?


Como se desenvolve a instância? (1 valor)
Comarca do Baixo Vouga
Exmo Senhor Juiz de Direito do Juízo de Média e
Pequena Instância Cível de Estarreja

FRANCISCO FLORES, solteiro, maior, padeiro, contribuinte fiscal nº 123123123,


portador do Bilhete de Identidade nº 2222222, emitido em 2/1/2000 pelos SIC do Porto,
residente na Rua dos Senhorios, nº 30, em 1111 Estarreja,
Vem propor contra
POMPÍLIA SANTOS, doméstica, casada, contribuinte fiscal nº 234234234, residente
na Rua dos Estagiários Aflitos, nº 19-1º Esqº, em 0000 Beja,
Acção declarativa com processo comum sumário, nos termos e com os seguintes
fundamentos:

1.º
O A. é dono e legítimo possuidor de um prédio urbano sito na Rua dos Estagiários
Aflitos, nº 19, freguesia de Santa Eulália, concelho de Beja, descrito na Conservatória
do Registo Predial de Beja sob a ficha nº 111, e inscrito na matriz predial urbana da
respectiva freguesia sob o art. 22 (doc. nº 1, que se junta).
2.º
Por escrito de 1 de Outubro de 2002 o A. deu de arrendamento à R. o primeiro andar
esquerdo do prédio identificado no art. 1.º,
3.º
Com início no dia 1 de Outubro de 2000 e termo em 30 de Abril de 2001,
4.º
Pela renda mensal 400,00 euros, entretanto actualizada para 500,00 euros,
5.º
E destinando-se o arrendado à habitação da inquilina (tudo conforme doc. nº 2, que se
junta).
6.º
Sucede que a R. fez obras no locado,
7.º
Sem que para tal obtivesse autorização do senhorio, aqui A..
8.º
Na verdade, a R. construiu uma parede em tijolo a dividir a sala de estar,
9.º
Tendo assim reduzido a área útil do andar locado.
10.º
Além disso, a R. rebaixou os tectos do hall de entrada, da sala de estar e da sala de
jantar,
11.º
Tendo colocado holofotes nesses tectos.
12.º
Finalmente, a R. pintou as paredes do locado de cor de laranja vivo.
13.º
As obras realizadas pela R. não obtiveram a autorização do senhorio.
14.º
Representam o incumprimento das obrigações contratuais que impendiam e impendem
sobre a R..
15º
E têm como consequência a diminuição de valor do locado,
16.º
O qual agora vale apenas 300,00 euros no mercado de arrendamento e menos
10.000,00 euros caso o A. pretendesse vender o prédio.
17.º
Os factos descritos constituem fundamento de resolução do contrato de arrendamento,
nos termos do art. 1083.º, nºs 1 e 2 do Cód. Civil.

Nestes termos,
E nos mais de direito, deve a presente acção ser
julgada procedente por provada, sendo decretada a
resolução do contrato de arrendamento relativo ao
1º andar esquerdo do prédio sito na Rua dos
Estagiários Aflitos, nº 19, freguesia de Santa Eulália,
concelho de Beja, condenando-se a R. a entregar
de imediato ao A. o prédio locado, inteiramente livre
e devoluto.

Valor: € 15.000,00 (quinze mil euros)


Junta: Procuração forense, comprovativo do pagamento da taxa de justiça, 2
documentos e sua cópia e duplicado legal.

O Advogado
(assinatura e carimbo)

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