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CEDEPLAR - Departamento de Economia

APOSTILA DE MICROECONOMIA

Professor Rodrigo Raad

Belo Horizonte

2019
Conteúdo

1 Conceitos Básicos 2
1.1 Notação básica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 A derivada definida como uma função linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Alguns exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.4 Regra da cadeia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2 Teoria da Demanda 5
2.1 Demandas Walrasiana e Hicksiana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.2 Dualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.3 Demanda Hicksiana e Função de despesa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.4 Equação de Slutsky . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2.5 Identidade de Roy . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

3 Modelos de Tributação Ótima 9


3.1 Modelo de Ramsey para Mercados de Bens de Consumo . . . . . . . . . . . . . . . 9
3.2 Modelo de Ramsey para Mercados Financeiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

4 Equilíbrio Geral sem Incerteza 18


4.1 Definições Básicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
4.2 Primeiro teorema fundamental do bem estar econômico . . . . . . . . . . . . . . . 20
4.3 Segundo teorema fundamental do bem estar econômico . . . . . . . . . . . . . . . 21
4.4 Função de Bem estar Econômico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23
4.5 Existência de equilíbrio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

5 Exemplo de Equilíbrio Geral 27


5.1 Economia de Robinson cruzoe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
5.2 Pequena economia aberta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

6 Equilíbrio Geral com Incerteza 31


6.1 Equilibrio de Arrow Debreu com incerteza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
6.2 Equilíbrio de Radner . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32

7 Apêndice 39

1
Capítulo 1

Conceitos Básicos

1.1 Notação básica


Iniciaremos primeiro com algumas convenções básicas na notação. Vamos escrever um vetor
x ∈ Rn+ como  
x1
 x2 
(x1 , · · · , xn ) =  .. 
 
.
xn
sempre em formato de coluna. Temos então que por convenção notacional

[x1 , x2 , · · · , xn ] = (x1 , x2 , · · · , xn )>

em que o símbolo > significa a operação de transposição de matrizes.


Dados dois vetores x ∈ Rn e y ∈ Rn escrevemos quando não houver margem para ambiguidade
x> y simplesmente como xy.

1.2 A derivada definida como uma função linear


A derivada de uma função f : Rn → Rm em um ponto x será dada por uma função linear denotada
por Df (x) cuja matriz (ou Jacobiano) de dimensão m × n é dada por
 
∇f1 (x)
 ∇f2 (x) 
Df (x) = 
 
.. 
 . 
∇fm (x)

em que ∇fk (x) é o gradiente da função fk : Rn → R representando a k-ésima coordenada de f ,


ou seja,  
∇fk (x) = ∂1 fk (x), ∂2 fk (x), · · · , ∂n fk (x)
e ∂m fk (x) representa a derivada parcial de fk em relação à m-ésima coordenada calculada no
ponto x, também denotada por ∂fk (x)/∂xm . Dado x ∈ Rn e ẋ ∈ Rn , escreva x̊ = ẋ − x como o

2
incremento diferencial. Então a função derivada no ponto x aplicada a x̊ denotada por Df (x)(x̊)
é dada pela multiplicação matricial  
x̊1
 x̊2 
Df (x) ·  .. 
 
.
x̊n
e representa uma aproximação linear da variação f (ẋ) − f (x) pois ẋ = x + x̊ e portanto

f (x + x̊) ≈ f (x) + Df (x)(x̊)

Para o caso em que f : Rn → Rm × Rm é dada por f (x) = (g(x), h(x)) em que g, h : Rn → Rm


temos claramente para cada x ∈ Rn

Df (x)(x̊) = (Dg(x)(x̊), Dh(x)(x̊)) para todo x̊ ∈ Rn .

Denotamos também um vetor (x, y) ∈ Rn × Rm por



x1

 x2 
 . 
 . 
 . 
x 
 
(x, y) = (x1 , · · · , xn , y1 , · · · , ym ) =  n 
 y1 
 y2 
 
 . 
 .. 
ym

Além disso, denotamos para f : Rn × Rm → Rp

Dx f (x, y)(x̊) = Df (x, y)(x̊, 0) para todo x, x̊ ∈ Rn e todo y ∈ Rm .

Poderíamos também denotar Dx f (x, y)(x̊) por D1 f (x, y)(x̊) pois evita confusão. Por exemplo
Dx f (g(x), y)(x̊) significa derivar primeiro e depois calcular na função g(x) e não fazer a regra da
cadeia derivando em x. Neste caso a notação mais apropriada seria D1 f (g(x), y)(x̊) pois evitaria
esse tipo de confusão. Mas manteremos a notação do livro.

1.3 Alguns exemplos


Selecionamos alguns exemplos para clarear melhor alguns conceitos definidos acima.
Exemplo 1. Considere f : Rn × Rn → R definida por f (x, y) = x> y. Então ∇f (x, y) coincide
com o jacobiano Df (x, y) e tem dimensão 1 × n pois o contradomínio é R. Além disso temos

∇f (x, y) = [y1 , y2 , · · · , yn , x1 , x2 , · · · , xn ] = [y > , x> ]

e  

Df (x, y)(x̊, ẙ) = Df (x, y) · = y > x̊ + x> ẙ.

3
Como y > x̊ é uma matriz 1 × 1 então y > x̊ = (y > x̊)> = x̊> y, ou seja,

Df (x, y)(x̊, ẙ) = x̊> y + x> ẙ.

Exemplo 2. Derivada de uma função linear. Considere uma matriz A de dimensão m × n com
cada elemento denotado por aij com i ∈ {1, · · · , m} e j ∈ {1, · · · , n}. Então se f : Rn → Rm é
definida por f (x) = Ax temos Df (x) = A e Df (x)(x̊) = Ax̊.

1.4 Regra da cadeia


Temos o seguinte resultado abaixo

Teorema 1.1. Considere f : Rn → Rm e g : Rm → Rp . Defina h : Rn → Rp por h(x) = g(f (x))


para todo x ∈ Rn . Então dado x ∈ Rn

Dh(x) = Dg(f (x)) · Df (x) e Dh(x)(x̊) = Dg(f (x))(Df (x)(x̊))

para qualquer x̊ ∈ Rn .

Exemplo 3. Considere f : R3 → R2 definida por f (x) = (x22 , 2x1 + x22 − x3 ) e g : R2 → R2


definida por g(y) = (y2 − y1 , y13 ). Logo a composta de g com f denotada por h : R3 → R2 é
definida por h(x) = g(f (x)) = (2x1 − x3 , x62 ) e
 
  x̊1  
2 0 −1   2x̊1 − x̊3
Dh(x)(x̊) = · x̊2 =
0 6x52 0 6x52 x̊2
x̊3

Para comprovar a regra da cadeia, primeiro veja que


 
  x̊1  
0 2x2 0 2x2 x̊2
Df (x)(x̊) = · x̊2 =
 
2 2x2 −1 2x̊1 + 2x2 x̊2 − x̊3
x̊3
e      
−1 1 ẙ1 −ẙ1 + ẙ2
Dg(y)(ẙ) = · =
3y12 0 ẙ2 3y12 ẙ1 .
Fazendo y = f (x) = (x22 , 2x1 + x22 − x3 ) e ẙ = Df (x)(x̊) = (2x2 x̊2 , 2x̊1 + 2x2 x̊2 − x̊3 ) temos
     
−1 1 2x2 x̊2 2x̊1 − x̊3
Dg(y)(ẙ) = Dg(f (x))(Df (x)(x̊)) = · =
3x42 0 2x̊1 + 2x2 x̊2 − x̊3 6x52 x̊2

resultado idêntico ao da matriz Dh(x)(x̊).

4
Capítulo 2

Teoria da Demanda

2.1 Demandas Walrasiana e Hicksiana


Considere as definições abaixo.

Definição 2.1. Definimos a demanda Walrasiana como

x̂(p, w) = argmax{û(x) : p> x ≤ w}

além disso, definimos a utilidade indireta como v̂(p, w) = {û(x) : x ∈ x̂(p, w)}.

Definição 2.2. Definimos a demanda Hicksiana como

ĥ(p, u) = argmin{p> x : û(x) ≥ u}

Definimos a função de gasto como ê(p, u) = {p> x : x ∈ ĥ(p, u)}.

Note que quando a função utilidade é estritamente crescente, então x ∈ x̂(p, w) ⇒ p> x = w
(lei de Walras) e x ∈ ĥ(p, u) ⇒ û(x) = u.

2.2 Dualidade
A dualidade refere-se à equivalência teórica entre o problema de maximização de utilidade com
uma restrição orçamentária contingenciada na riqueza e o problema de minimização de custo
contingenciado aos níveis de utilidade.

Primeiro resultado
A demanda Hickisiana corresponde à demanda Walrasiana quando a renda é compensada exata-
mante no montante que mantém o nível de benefício, ou seja, a demanda Hicksiana caracteriza o
efeito substituição puro.

Teorema 2.3. Suponha que û seja estritamente crescente e contínua, então

ĥ(p, u) = x̂(p, ê(p, u))

5
Demonstração: Primeiramente vamos mostrar que ĥ(p, u) ⊂ x̂(p, ê(p, u)).
Suponha que x ∈ ĥ(p, u). Então px = ê(p, u) e û(x) = u. Seja x0 ∈ x̂(p, ê(p, u)). Então
û(x0 ) ≥ û(x) = u pois px ≤ ê(p, u) e x0 é uma escolha ótima. Se û(x0 ) > û(x) = u então
û(αx0 ) > û(x) = u para α ∈ (0, 1) suficientemente próximo de um. Mas x0 ∈ x̂(p, ê(p, u)) implica
px0 = ê(p, u) e, portanto, pαx0 < ê(p, u) levando à uma contradição pois û(αx0 ) ≥ u e ê(p, u) é a
despesa mínima dentre todas as cestas com benefício maior ou igual a u. Logo û(x0 ) = û(x), ou
seja, x ∈ x̂(p, ê(p, u)).
Agora vamos mostrar que x̂(p, ê(p, u)) ⊂ ĥ(p, u).
Suponha que x ∈ x̂(p, ê(p, u)). Então px = ê(p, u) = px0 para algum x0 ∈ ĥ(p, u), ou seja,
satisfazendo û(x0 ) = u. Logo û(x) ≥ û(x0 ) = u pois x maximiza a utilidade no nível de renda
ê(p, u) e px0 ≤ ê(p, u). Daí x ∈ h(p, u) pois px = ê(p, u) e û(x) ≥ u. 2
Este resultado implica como corolário que
v̂(p, ê(p, u)) = û(x̂(p, ê(p, u))) = û(ĥ(p, u)) = u

Segundo resultado
A demanda Walrasiana corresponde à demanda Hickisiana condicionada na utilidade compensada
exatamante sob os mesmos preços e a mesma riqueza.
Teorema 2.4. Suponha que û seja estritamente crescente e contínua, então
x̂(p, w) = ĥ(p, v̂(p, w))
Demonstração: Primeiramente vamos mostrar que x̂(p, w) ⊂ ĥ(p, v̂(p, w)).
Suponha que x ∈ x̂(p, w). Então px = w pela lei de Walras e û(x) = v̂(p, w). Seja x0 ∈
ĥ(p, v̂(p, w)). Então û(x0 ) = v̂(p, w) = û(x). Logo px0 ≤ px = w pois x0 minimiza despesa no
nível de utilidade û(x) = v̂(p, w). Se px0 < w então pαx0 < w para α > 1 e û(αx0 ) > û(x) uma
contradicão pois x é a escolha ótima dado (p, w), ou seja, x ∈ x̂(p, w). Logo px0 = px, ou seja,
x ∈ ĥ(p, v̂(p, w)).
Agora vamos mostrar que ĥ(p, v̂(p, w)) ⊂ x̂(p, w).
Suponha que x ∈ ĥ(p, v̂(p, w)). Então û(x) = v̂(p, w) = û(x0 ) para x0 ∈ x̂(p, w) e satisfazendo
px = w. Logo px ≤ px0 = w pois x minimiza despesa ao nível de utilidade v̂(p, w). Conclui-se
0

que x ∈ x̂(p, w). 2


Este resultado implica como corolário que
ê(p, v̂(p, w)) = pĥ(p, v̂(p, w)) = px̂(p, w) = w

2.3 Demanda Hicksiana e Função de despesa


Abaixo temos o resultado muito importante de dualidade relacionando a função de despesa e a
demanda Hicksiana
Teorema 2.5. Suponha que as demandas sejam funções diferenciáveis. Temos que
∇p ê(p, u) = (ĥ(p, u))> para todo (p, u) ∈ Rn × R (2.1)
em que ∇p ê(p, u) é um vetor linha em Rn cuja k-ésima coordenada representa Dê(p, u)(1k , 0) para
1k = (0, · · · , 1, · · · , 0) com 1 na k-ésima coordenada.

6
Demonstração: Considere g(p, x) = p> x e f (p, u) = (p, ĥ(p, u)). Então

Dg(p, x)(p̊, x̊) = p̊> x + p> x̊ e Df (p, u)(p̊, ů) = (p̊, Dĥ(p, u)(p̊, ů)). (2.2)

Temos que ê(p, u) = p> ĥ(p, u) para todo (p, u). Logo ê(p, u) = g(f (p, u)) e pela regra da cadeia

∇ê(p, u)(p̊, 0) = Dg(p, ĥ(p, u))(Df (p, u)(p̊, 0)) = Dg(p, ĥ(p, u))(p̊, Dĥ(p, u)(p̊, 0)).

Logo
∇ê(p, u)(p̊, 0) = p̊> ĥ(p, u) + p> Dĥ(p, u)(p̊, 0). (2.3)
Considerando o lagrangeano ` : Rn+ → R do problema de minimização de custos

ĥ(p, u) = argmin{p> x : û(x) ≥ u} = argmax{−p> x : û(x) ≥ u}

temos `(x) = −p> x + λ(û(x) − u) e

D`(x)(x̊) = −p> x̊ + λ∇û(x)(x̊) = (λ∇û(x) − p> )(x̊) para todo (x, x̊) ∈ Rn+ × Rn

A C.P.O. desse problema implica D`(ĥ(p, u))(x̊) = 0 ou seja1

p> x̊ = λ∇û(ĥ(p, u))(x̊) para todo x̊ ∈ Rn (2.4)

Além disso, como û(ĥ(p, u)) = u para todo (p, u) ∈ Rn+ × R temos pela regra da cadeia2

∇û(ĥ(p, u))Dĥ(p, u)(p̊, 0) = 0 para todo p̊ ∈ Rn .

Logo, fazendo x̊ = Dĥ(p, u)(p̊, 0) na equação (2.4) temos pelas equações (2.2) e (2.3)

∇ê(p, u)(p̊, 0) = p̊> ĥ(p, u) + λ∇û(ĥ(p, u))Dĥ(p, u)(p̊, 0) = ĥ(p, u)> p̊ para todo p̊

pois p̊> ĥ(p, u) é uma matrix 1 × 1 e portanto igual à sua transposta. Obtemos finalmente o
resultado fazendo p̊ = 1k para k ∈ {1, · · · n}. 2

Temos como corolário que Dp ĥ é negativa definida pois é a matriz Hessiana em p mantendo
fixa a variável u de ê.

2.4 Equação de Slutsky


Nesta seção vamos demonstrar a equação de Slutsky matricialmente.

Teorema 2.6. Temos

Dp x̂(p, w) = Dp ĥ(p, u) − Dw x̂(p, w)(x(p, w))>


1
Pode-se concluir também que p> = λ∇û(ĥ(p, u)) simplesmente escolhendo x̊ = (λ∇û(x) − p> )> .
2
Note que para a função g : Rn ×R → R definida por g(p, u) = u para todo (p, u) ∈ Rn ×R temos Dg(p, u)(p̊, ů) =
ů para todo (p̊, ů) ∈ Rn × R.

7
Demonstração: Sabemos que ĥ(p, u) = x̂(p, ê(p, u)) para todo p ∈ Rn+ . Escreva f (p, u) =
(p, ê(p, u)) e note que ĥ(p, u) = x̂(f (p, u)). Logo
Df (p, u)(p̊, 0) = (p̊, Dê(p, u)(p̊, 0)) = (p̊, Dp ê(p, u)(p̊)) = (p̊, (ĥ(p, u))> p̊) = (p̊, 0) + (0, (ĥ(p, u))> p̊).
Usando a regra da cadeia temos
Dĥ(p, u)(p̊, 0) = Dx̂(f (p, u))Df (p, u)(p̊, 0) = Dx̂(p, ê(p, u))(p̊, 0) + Dx̂(p, ê(p, u))(0, (ĥ(p, u))> p̊)
ou seja,
Dĥ(p, u)(p̊, 0) = Dp x̂(p, ê(p, u))p̊ + Dw x̂(p, ê(p, u))(ĥ(p, u))> p̊
Como
u = v̂(p, w) ⇒ w = ê(p, u) ⇒ ĥ(p, u) = x̂(p, ê(p, u)) = x̂(p, w)
então
Dp ĥ(p, u)p̊ = Dp x̂(p, w)p̊ + Dw x̂(p, ê(p, u))(x(p, w))> p̊ para todo p̊ ∈ Rn
ou seja,
Dp ĥ(p, u) = Dp x̂(p, w) + Dw x̂(p, w)(x(p, w))>
rearranjando
Dp x̂(p, w) = Dp ĥ(p, u) − Dw x̂(p, w)(x(p, w))>
2

2.5 Identidade de Roy


O próximo resultado caracteriza a identidade de Roy
Teorema 2.7. Temos
∇p v̂(p, w) + ∇w v̂(p, w)(x̂(p, w))> = 0 (2.5)
Demonstração: Defina f (p, u) = v̂(g(p, u)) e g(p, u) = (p, ê(p, u)) e note que f (p, u) = u para
todo p ∈ Rn+ e todo u ∈ R. Temos
Dg(p, u)(p̊, 0) = (p̊, ∇ê(p, u)(p̊, 0))
e
0 = Df (p, u)(p̊, 0) = ∇v̂(g(p, u))Dg(p, u)(p̊, 0) = ∇v̂(g(p, u))(p̊, ∇ê(p, u)(p̊, 0))
Logo
0 = ∇v̂(g(p, u))(p̊, 0) + ∇v̂(g(p, u))(0, ∇ê(p, u)(p̊, 0))
ou seja, fazendo u = v̂(p, w) então g(p, u) = (p, w) e portanto
∇p v̂(p, w)p̊ + ∇w v̂(p, w)∇ê(p, u)(p̊, 0) = 0
usando que ∇ê(p, u)(p̊, 0) = (ĥ(p, u))> p̊ = (x̂(p, w))> p̊ então
∇p v̂(p, w)p̊ + ∇w v̂(p, w)(x̂(p, w))> p̊ = 0 para todo p̊
ou seja
∇p v̂(p, w) + ∇w v̂(p, w)(x̂(p, w))> = 0
2

8
Capítulo 3

Modelos de Tributação Ótima

O modelo de Ramsey ilustra bem como os teoremas da teoria do consumidor podem ser aplica-
dos. De forma simples, esse modelo considera 3 mercados, em que o primeiro conteria o bem de
referência como unidade de conta. O planejador central está sujeito a um orçamento que é dado
exógeno e deve escolher qual a alíquota de imposto os mercados 2 e 3 receberão. O resultado
mostra que a alíquota de imposto será maior para o mercado com menor elasticidade da demanda.
Para o caso em que o mercado de referência seja substituído por um mercado de um determinado
ativo (ou moeda) podemos concluir que a inflação seria equivalente a um imposto endógeno aos
dois mercados (ou seja, escolhido pelos mercados e não pelo planejador central). Como o mercado
maximiza o bem estar social pelo primeiro teorema fundamental do bem estar, então os resultados
teóricos são equivalentes. Portanto, pode-se concluir do resultado do modelo de Ramsey que a
inflação incide mais sobre mercados de bens necessários, ou seja, incide mais sobre os indivíduos
de baixa renda.

3.1 Modelo de Ramsey para Mercados de Bens de Consumo


Observações inciais. Escrevemos a letra com o símbolo “ b” para diferenciar a variável da função.
da função x̂ no ponto (p, w). Escreva também x>
Por exemplo x = x̂(p, w) significa o valor x P
como a transposta de x ∈ Rn . Logo x> t = k≤n xk tk . Considere v̂(p, w) a função de utilidade
indireta e x = x̂(p, w) a demanda dada em um vetor de preços e riqueza (p, w) ∈ Rn+1 .

Caso mais simples com imposto sobre quantidade


O primeiro caso seria com utilidade separável e quasilinear no bem numerário, ou seja û(x) =
x0 +û1 (x1 )+û2 (x2 ). Supomos também que as utilidades marginais û0k são estritamente decrescentes
e portanto têm inversa (û0k )−1 . Neste caso a C.P.O. vem do Lagrangeano calculado no preços p0 e
pk = ṗk + ṫk para k = 1, 2
`(x) = x0 + û1 (x1 ) + û2 (x2 ) + λ(w − p0 x0 − p1 x1 − p2 x2 )
o que implica que as demandas pelos bens 1 e 2 dependem apenas do preço do bem correlacionado
ou seja x̂(p, w) = (x̂0 (p, w), x̂1 (p1 ), x̂2 (p2 )) para todo p. Com efeito, para p0 = 1 temos ∂x0 `(x) =
1 − λ = 0 implica λ = 1 e
∂xk `(x) = û0k (xk ) − λpk = 0 implica xk = (û0k )−1 (pk ) para k = 1, 2

9
logo temos que a matriz Jacobiana Dx̂(p, w) fica
 
∂p0 x̂0 (p, w) ∂p1 x̂0 (p, w) ∂p2 x̂0 (p, w) ∂w x̂0 (p, w)
Dx̂(p, w) =  0 x̂01 (p1 ) 0 0  (3.1)
0
0 0 x̂2 (p2 ) 0

e a matriz Dp x̂(p, w) fica


 
∂p0 x̂0 (p, w) ∂p1 x̂0 (p, w) ∂p2 x̂0 (p, w)
Dp x̂(p, w) =  0 x̂01 (p1 ) 0 .
0 0 x̂02 (p2 )

Então o problema do planejador com impostos sobre quantidade é dado pela definição abaixo

Definição 3.1. Definimos a problema do planejador central como

υ̂(ṗ, w) = max{v̂(ṗ + t, w) sobre as alíquotas t ∈ [0, 1]n satisfazendo t> x̂(ṗ + t, w) ≥ r}

em que r representa a despesa orçamentária dada como exógena.

O resultado abaixo caracteriza a condição de promeira ordem do problema acima

Teorema 3.2. A condição de primeira ordem do problema do planejador central é dada em qual-
quer ponto p = ṗ + ṫ como

∇p v̂(p, w)(t̊) + µ(t̊> x̂(p, w) + t> Dp x̂(p, w)(t̊)) = 0 para todo t̊ ∈ R2 (3.2)

Demonstração: O lagrangeano `(t) do problema do planejador central fica

`(t) = v̂(ṗ + t, w) + µ(t> x̂(ṗ + t, w) − r).

Derivando o lagrangeano `(t) do problema do planejador central e calculando no ponto ṫ obtemos


a solução. Escreva p = ṗ + ṫ. Logo

0 = ∇p v̂(p, w)(t̊) + µ(t̊> x̂(p, w) + t> Dp x̂(p, w)(t̊)).

As elasticidades cruzadas são dadas pela definição abaixo

Definição 3.3. Definimos ij como as elasticidades Hicksianas cruzadas calculadas em w = e(p, u)
e p = ṗ + ṫ como
ij (p, u) = pj Sij (p, u)/x̂i (p, w) = pj Sij (p, u)/ĥi (p, u)
para i, j = 1, 2, 3 em que S(p, u) = Dp ĥ(p, u) é a matriz de Slutsky. Note que Dp ĥ(p, u)> =
Dp ĥ(p, u) pela relação (2.1). Definimos ˜ij como as elasticidades Walrasianas cruzadas calculadas
em w = e(p, u) e p = ṗ + ṫ como

˜ij (p, u) = pj ∂pj x̂i (p, u)/x̂i (p, w).

10
Os resultados abaixo mostram que se o planejador central almeja minimizar as ineficiências
causadas pelo imposto, então deverá alocar alíquotas tributárias maiores nos mercados em que a
elasticidade da demanda é menor. Isto se dá pela relação
τ1 22 (p, w)
= .
τ2 11 (p, w)
ou seja, 11 (p, w) < 22 (p, w) implica τ1 > τ2 .
Teorema 3.4. Considere τ1 , τ2 as alíquotas de imposto ótimas relativas aos preços ṗ1 e ṗ2 respec-
tivamente para o planejador central, ou seja, τk = tk /pk para k ∈ {1, 2}. Então
τ1 ˜22 (p, w)
= .
τ2 ˜11 (p, w)
em que p = ṗ + ṫ e ṫ é a alíquota absoluta.
Demonstração: A condição de primeira ordem (3.2) para t = (0, t1 , t2 ) e t̊ = (0, 1, 0) fica
∂p1 v̂(p, w) + µ(x̂1 (p1 ) + t1 x̂01 (p1 )) = 0.
Logo pela identidade de Roy (2.5) e usando que u = v(p, w)
∂p1 v̂(p, w) + ∂w v̂(p, w)x̂1 (p1 ) = 0
ou seja
∂w v̂(p, w)x̂1 (p1 ) = µ(x̂1 (p1 ) + t1 x̂01 (p1 )).
Daí
∂w v̂(p, w) = µ(1 + τ1 p1 x̂01 (p1 )/x̂1 (p1 )) = µ(1 + τ1 ˜11 (p, w)). (3.3)
analogamente para o bem 2,
∂w v̂(p, w) = µ(1 + τ2 p2 x̂02 (p2 )/x̂2 (p2 )) = µ(1 + τ2 ˜22 (p, w)). (3.4)
Dividindo as equações (3.3) e (3.4) obtemos
1 + τ1 11 (p, w) = 1 + τ2 22 (p, w)
e temos o resultado. 2

Caso mais simples com imposto sobre valor


Nese caso o imposto incide sobre o preço ou seja a cesta de consumo x tem preço real de
X
(1 + tk )pk xk = (ṗ + Ṗ t)x.
k

em que Ṗ é a matriz com os preços ṗ na diagonal e zero no resto ou seja para o caso de dois bens
e o numerário  
ṗ0 0 0
Ṗ =  0 ṗ1 0  .
0 0 ṗ2

11
Logo o problema fica

υ̂(ṗ, w) = max{v̂(ṗ + Ṗ t, w) sobre as alíquotas t ∈ [0, 1]3 com t0 = 0 e t> Ṗ x̂(ṗ + Ṗ t, w) ≥ r}

Temos então o seguinte resultado

Teorema 3.5. Considere τ1 , τ2 as alíquotas de imposto ótimas relativas sobre valor respectivamente
para o planejador central. Então
τ1 ˜22 (p, w)
= .
τ2 ˜11 (p, w)
em que p = ṗ + Ṗ t e τk = tk /(1 + tk ) para k ∈ {1, 2}.

Demonstração: A condição de primeira ordem em p = ṗ + Ṗ t fica

Dv̂(p, w)(Ṗ t̊, 0) + µ t̊> Ṗ x̂(p, w) + t> Ṗ Dx̂(p, w)(Ṗ t̊, 0) = 0 para todo t̊ ∈ R2


Calculando a C.P.O em t = (0, t1 , t2 ) e t̊ = (0, 1, 0) fica por (3.1)

ṗ1 ∂p1 v̂(p, w) + µ(ṗ1 x̂1 (p1 ) + t1 ṗ21 x̂01 (p1 )) = 0.

Logo pela identidade de Roy (2.5)

∂p1 v̂(p, w) + ∂w v̂(p, w)x̂1 (p1 ) = 0

ou seja
ṗ1 ∂w v̂(p, w)x̂1 (p1 ) = µ(ṗ1 x̂1 (p1 ) + t1 ṗ21 x̂01 (p1 )).
Daí
∂w v̂(p, w) = µ(1 + t1 ṗ1 x̂01 (p1 )/x̂1 (p1 )) = µ(1 + t1 ˜11 (p, w)).
ou seja, considerando que p1 = (1 + t1 )ṗ1 então

∂w v̂(p, w) = µ(1 + τ1 p1 x̂01 (p1 )/x̂1 (p1 )) = µ(1 + τ1 ˜11 (p, w)).

analogamente para o bem 2,

∂w v̂(p, w) = µ(1 + τ2 p2 x̂02 (p2 )/x̂2 (p2 )) = µ(1 + τ2 ˜22 (p, w)).

Dividindo essas equações obtemos

1 + τ1 11 (p, w) = 1 + τ2 22 (p, w)

e temos o resultado. 2

12
Caso geral
O próximo teorema trata do caso mais geral com impostos sobre valor. O caso com impostos sobre
quantidade é análogo. Considere Ṗ é a matriz com os preços ṗ na diagonal e zero no resto ou seja
para o caso de dois bens e o numerário
 
ṗ0 0 0
Ṗ =  0 ṗ1 0  .
0 0 ṗ2

Logo o problema fica:1

υ̂(ṗ, w) = max{v̂(ṗ + Ṗ t, w) sobre as alíquotas t ∈ [0, 1]3 com t0 = 0 e t> Ṗ x̂(ṗ + Ṗ t, w) ≥ r}

O resultado abaixo caracteriza a condição de primeira ordem do problema acima

Teorema 3.6. A condição de primeira ordem do problema do planejador central é dada em qual-
quer ponto p = ṗ + Ṗ t como

∇p v̂(p, w)Ṗ t̊ + µ(t̊> Ṗ x̂(p, w) + t> Ṗ Dp x̂(p, w)(Ṗ t̊)) = 0 para todo t̊ ∈ R3 tal que t̊0 = 0. (3.5)

Demonstração: O lagrangeano `(t) do problema do planejador central fica

`(t) = v̂(ṗ + Ṗ t, w) + µ(t> Ṗ x̂(ṗ + Ṗ t, w) − r).

Derivando o lagrangeano `(t) do problema do planejador central e calculando no ponto ṫ obtemos


a solução. Escreva p = ṗ + Ṗ ṫ. Logo usando a regra da cadeia para a função g : R2+ → R4+ definida
por g(t) = (ṗ + Ṗ t, w) temos Dg(t)(t̊) = (Ṗ t̊, 0) e portanto

0 = Dv̂(p, w)(Ṗ t̊, 0) + µ t̊> Ṗ x̂(p, w) + t> Ṗ Dx̂(p, w)(Ṗ t̊, 0) .




Temos então o seguinte resultado mais geral.

Teorema 3.7. Considere τ1 , τ2 as alíquotas de imposto ótimas relativas para o planejador central.
Então
τ1 20 (p, u) + 21 (p, u) + 12 (p, u)
= . (3.6)
τ2 10 (p, u) + 21 (p, u) + 12 (p, u)
em que τk = tk /(1 + tk ) para k ∈ {1, 2}.

Demonstração: Voltando à identidade de Roy temos

∇p v̂(p, w) + ∇w v̂(p, w)(x̂(p, w))> = 0

e substituindo na condição de primeira ordem (3.5) dada por

∇p v̂(p, w)Ṗ t̊ + µ t̊> Ṗ x̂(p, w) + t> Ṗ Dx̂(p, w)(Ṗ t̊, 0) = 0 para todo t̊ ∈ R3 tal que t̊0 = 0


1
Vamos considerar t0 = 0 ou seja,não há tributação do numerário.

13
temos
∇w v̂(p, w)(x̂(p, w))> Ṗ t̊ = µ t̊> Ṗ x̂(p, w) + t> Ṗ Dp x̂(p, w)Ṗ t̊

(3.7)
Defina α = ∇w v̂(p, w) + µt> Ṗ Dw x̂(p, w) e note que

∇w v̂(p, w) = α − µt> Ṗ Dw x̂(p, w) e t̊> Ṗ x̂(p, w) = (x̂(p, w))> Ṗ t̊.

Logo pela equação (3.7) temos

(α − µt> Ṗ Dw x̂(p, w))(x̂(p, w))> Ṗ t̊ = µ(x̂(p, w))> Ṗ t̊ + µt> Ṗ Dp x̂(p, w)Ṗ t̊).

Daí
(α − µ)(x̂(p, w))> Ṗ t̊ = µt> Ṗ (Dw x̂(p, w)(x̂(p, w))> + Dp x̂(p, w))Ṗ t̊.
Então por slutsky, usando que u = v(p, w)

Dw x̂(p, w)(x̂(p, w))> + Dp x̂(p, w) = Dp ĥ(p, u)

ou seja,

(α − µ)(x̂(p, w))> Ṗ t̊ = µt> Ṗ Dp ĥ(p, u)Ṗ t̊ para todo t̊ ∈ R3 tal que t̊0 = 0.

Transpondo essa equação obtemos

t̊> Ṗ x̂(p, w)(α − µ) = t̊> Ṗ Dp ĥ(p, u)Ṗ tµ. (3.8)

Vamos escrever a matriz de Slutsky S como


 
S00 S01 S02
S = Dp ĥ(p, u) = S10 S11 S12 
S20 S21 S22

Defina    
0 0 0 0 0 0
Ṗ0 = 0 ṗ1 0  e Ṗ0−1 = 0 ṗ−1
1 0 
0 0 ṗ2 0 0 ṗ−1
2
e    
0 0 0 0 0 0
1
S0 = 0 S11 S12  e S0−1 = 0 S22 −S12 
detS0
0 S21 S22 0 −S21 S11
em que detS0 = S22 S11 − S12 S21 . Então
 
0 0 0
Ṗ Ṗ0−1 = SS0−1 = 0 1 0
0 0 1

Notando que t = (0, t1 , t2 ) e t̊0 = 0 temos

t̊> Ṗ S Ṗ tµ = t̊> Ṗ (S − S0 + S0 )Ṗ tµ = t̊> Ṗ0 S0 Ṗ0 tµ

14
e
˙ − P0 + P0 )x̂(p, w)(α − µ) = t̊> Ṗ0 x̂(p, w)(α − µ)
t̊> Ṗ x̂(p, w)(α − µ) = t̊> (P
ou seja (3.8) fica
t̊> Ṗ0 x̂(p, w)(α − µ) = t̊> Ṗ0 S0 Ṗ0 tµ.
Fazendo
t̊ = Ṗ0 x̂(p, w)(α − µ) − Ṗ0 S Ṗ0 tµ
em (3.8) temos que t̊0 = 0 e
Ṗ0 x̂(p, w)(α − µ) = Ṗ0 S0 Ṗ0 tµ
Definindo γ = (α − µ)/µ e multiplicando por Ṗ0−1 temos

S0 Ṗ0 t = x̂(p, w)γ

multiplicando por S0−1 ambos lados temos

Ṗ0 t = S0−1 x̂(p, w)γ

Logo

t1 ṗ1 = γ(S22 x̂1 (p, w) − S12 x̂2 (p, w))/ det S0


t2 ṗ2 = γ(−S21 x̂1 (p, w) + S11 x̂2 (p, w))/ det S0

e usando que p1 = (1 + t1 )ṗ1 e p2 = (1 + t2 )ṗ2 temos

τ1 p1 = γ(S22 x̂1 (p, w) − S12 x̂2 (p, w))/ det S0


τ2 p2 = γ(−S21 x̂1 (p, w) + S11 x̂2 (p, w))/ det S0 .

Logo dividindo ambas equações por x̂1 (p, w)x̂2 (p, w) e entre si

p1 τ 1 S22 /x̂2 (p, w) − S12 /x̂1 (p, w)


= (3.9)
p2 τ 2 −S21 /x̂2 (p, w) + S11 /x̂1 (p, w)

Temos Sp = 0 pois h(αp, u) = h(p, u) para todo α derivando em α = 1 e usando a regra da cadeia.
Logo por p0 = 1
p1 S11 = −S10 − p2 S12
p2 S22 = −S20 − p1 S21
então multiplicando por −p2 o numerador e por −p1 o denominador de (3.9)

τ1 −p2 S22 /x̂2 (p, w) + p2 S12 /x̂1 (p, w)


=
τ2 p1 S21 /x̂2 (p, w) − p1 S11 /x̂1 (p, w)

Logo
τ1 20 (p, u) + 21 (p, u) + 12 (p, u)
= .
τ2 10 (p, u) + 21 (p, u) + 12 (p, u)
2

15
3.2 Modelo de Ramsey para Mercados Financeiros
considere um modelo cuja incerteza é descrita por dois eventos exógenos em um espaço amostral
S = {s1 , s2 }. Considere também um bem de consumo e dois ativos j ∈ {1, 2} com retornos dados
por variáveis aleatórias r̂j : S → R+ medidas em unidades do bem de consumo com r̂ = (r̂1 , r̂2 ).
Assuma mercados completos e que o agente tem dotação w0 de unidades do bem no período
corrente. O problema do agente então se restringe a escolha de um consumo x0 e uma carteira
a ∈ R2 de ativos no período corrente e o consumo contingente x̂1 : S → R+ no segundo período.
Logo o problema fica
( )
X
max u(x0 ) + β π(s)u(x̂1 (s)) : p0 x0 + qa ≤ p0 w0 e x̂1 (s) ≤ r̂(s)a para todo s ∈ S
s∈S

Escreva  
r̂1 (s1 ) r̂2 (s1 )
R=
r̂1 (s2 ) r̂2 (s2 )
e x1 = (x11 , x12 ) = (x̂1 (s1 ), x̂1 (s2 )). Então x̂1 (s) = r̂(s)a para s ∈ {s1 , s2 } implica que x1 = Ra e,
portanto, como os mercados são completos, a = R−1 x1 e o problema fica para (p1 , p2 ) = q > R−1

max {u(x0 ) + β(π(s1 )u(x11 ) + π(s2 )u(x12 )) : (x0 , x11 , x12 ) satisfaz p0 x0 + p1 x11 + p2 x12 ≤ p0 w0 }

Denote a solução por (x̂0 (p), x̂1 (s, p)). Isolando x1k para k ∈ {1, 2} e derivando em relação a
x0 temos a CPO

pk u0 (x̂0 (p)) − βπ(sk )p0 u0 (x̂1 (sk , p)) = 0 para k ∈ {1, 2} e todo p ∈ R3++

Derivando em relação a p0

pk u00 (x̂0 (p))∂p0 x̂0 (p) = βπ(sk ) u0 (x̂1 (sk , p)) + p0 u00 (x̂1 (sk , p))∂p0 x̂1 (sk , p)


ou seja, definindo âr (x1 ) = x1 u00 (x1 )/u0 (x1 ) para todo x1 ∈ R+ então

p0 pk u00 (x̂0 (p))∂p0 x̂0 (p) = p0 βπ(sk )u0 (x̂1 (sk , p)) 1 − âr (x̂1 (sk , p))p0 ∂p0 x̂1 (sk , p)/x̂1 (sk , p)


Usando a CPO novamente

p0 pk u00 (x̂0 (p))∂p0 x̂0 (p) = pk u0 (x̂0 (p)) 1 − âr (x̂1 (sk , p))k0 (sk , p)


ou seja,
p0 u00 (x̂0 (p))∂p0 x̂0 (p)/u0 (x̂0 (p)) = 1 − âr (x̂1 (sk , p))k0 (sk , p)


Logo, fazendo k = 1, 2 e dividindo as equações

âr (x̂1 (s1 , p))10 (s1 , p) = âr (x̂1 (s2 , p))20 (s2 , p).

Se âr (x̂1 (s1 , p)) < âr (x̂1 (s2 , p)) então 10 (s1 , p) > 20 (s2 , p) ou seja, τ1 < τ2 por (3.6) consi-
derando imposto sobre valor ou sobre quantidade. Logo devemos tributar mais o mercado com
maior aversão ao risco.

16
Obs. O resultdo acima vale sempre quando a utilidade é separável. Para o caso geral temos
que supor que a elasticidade renda não muda entre os estados. Com efeito, por slutsky para
u = v(p, w) temos

∂p0 ĥ1 (sk , p, u) = ∂p0 x̂1 (sk , p, w) + ∂w x1 (sk , p, w)x̂1 (p, u)

logo esse resultado somente é valido se a elasticidade renda não muda entre os estados s1 e s2 , ou
seja, w∂w x1 (s1 , p, w)/x1 (s1 , p, w) = w∂w x1 (s2 , p, w)/x1 (s2 , p, w). Isto implica que

10 (sk , p) > 20 (sk , p) ⇒ h10 (sk , p) > h20 (sk , p).

17
Capítulo 4

Equilíbrio Geral sem Incerteza

4.1 Definições Básicas


Vamos definir o ambiente de uma economia para caracterizar um equilíbrio de Arrow-Debreu.

1. I consumidores J firmas e L bens.

2. Preferências racionais1 i e dotação ei ∈ RL para i ∈ I.

3. Cada consumidor i tem dotações {θji }j∈J de cada firma com θji = 1 para cada j ∈ J.
P
i∈I

4. Conjunto de consumo X i ⊂ RL+ aberto e que não tem ativos com venda descoberta.

5. Conjunto de produção Y j tal que Y j ∩ RL+ ⊂ {0}

Quando Y = −RL+ então a economia é de trocas puras.

Definição 4.1. Uma alocação (x, y) ∈ RIL × RJL é factível quando


X X X
xi = ei + y j ∈ RL .
i i j

Denote por F o conjunto de todas alocações factíveis.

A definição de pareto otimalidade (ou de eficiência de uma alocação) garante que uma alocação
de produção e consumo satisfaz a propriedade de não ser possível melhorar alguma agente da
economia sem piorar outro.

Definição 4.2. Uma alocação (x, y) ∈ F é Pareto ótima quando não existe nenhuma outra alo-
cação (x̄, ȳ) ∈ F satisfazendo x̄i  xi para todo i e x̄k  xk para algum k.

Suponha que a fração dos lucros das firmas j ∈ J sejam transferidas para o indivíduo i na
proporção θi ∈ RJ .

Definição 4.3. Considere a econmia E = ({X i , i , ei }i∈I , {Y j }j∈J ). Uma alocação (x̄, ȳ) e um
vetor de preços p ∈ RL++ constituem um equilíbrio Walrasiano quando
1
Definimos uma preferência racional quando ela é transitiva e completa.

18
1. py j ≤ pȳ j para todo y j ∈ Y j e para todo j ∈ J
2. px̄i ≤ pei + j θji pȳ j
P

3. pxi ≤ pei + j θji pȳ j e xi ∈ X i implicam x̄i i xi


P

P i P i P j
4. i x̄ = ie + j ȳ

A condição 1 garante a maximização de lucro das firmas. A condição 2 garante a factibilidade


das alocações de consumo para os agentes e a condição 3 garante a maximização do benefício
individual dada a restrição orçamentária. Finalmente a condição 4 refere-se à restrição agregada
de bens da economia.
Condições de primeira ordem do equilíbrio Walrasiano. Suponha que o conjunto Y seja descrito
por uma função de transformação
Y j = {y j ∈ RL : F (y j ) ≤ 0}.
Quando existe uma função de produção então
Y = {y ∈ RL : ∃(y o , y ι ) ∈ R+ × ∈ RL−1
+ : y = (y o , −y ι ) e f (y ι ) ≥ y o }.
e F (y) = f (y ι ) − y o .
CPO
∂l F j (ȳ)/∂k F j (ȳ) = pl /pk = ∂l ui (x̄)/∂k ui (x̄) ∀i, j, l, k
Considerando o bem k como unidade de conta, temos que pl /pk representa o preço do bem l
medido em unidades do bem k. Logo, em equilíbrio, o preço do bem l medido em unidades do
bem k (preço relativo do bem l) é igual ao preço de reserva de qualquer consumidor que é dado
pela taxa marginal de substituição do bem k por uma unidade do bem l. Para as firmas temos
que a remuneração real do fator l dado em unidades do bem k seria igual ao produto marginal do
fator l medido em unidades do bem k.
Definição 4.4. Considere a economia E = ({X i , i , ei }i∈I , {Y j }j∈J ). Uma alocação (x̄, ȳ) e um
vetor dePpreços pP∈ RL++ constituem um equilíbrio com transferências quando existe (w1 , · · · , wi )
tal que i wi = i pei + j pȳ j
P

1. py j ≤ pȳ j para todo y j ∈ Y j e para todo j ∈ J


2. px̄i ≤ wi
3. pxi ≤ wi e xi ∈ X i implicam x̄i i xi
P i P i P j
4. i x̄ = ie + j ȳ

Observe que o equilíbrio Walrasiano é um caso particular do equilíbrio com transferências.


Além disso, em ambos temos p ≥ 0 se Y j apresenta livre descarte para algum j. Com efeito, se
assim não fosse, ȳ j não poderia maximizar o lucro já que este seria infinito se pl < 0 para algum l.
A próxima definição garante que as preferências sejam caracterizadas por curvas de indiferença
bem comportadas, representando bem a taxa marginal de substituição e sem possibilidade de
escolhas ambíguas dada uma restrição orçamentária. Em termos de saciedade, a definição abaixo
impede que o consumidor passe a considerar um bem como mal a partir de um certo nível de
consumo.

19
Definição 4.5. A relação de preferências i é localmente não saciável (L.N.S.) quando para todo
xi ∈ X i e todo  > 0 existe x̄i ∈ X i tal que ||xi − x̄i || ≤  e x̄i  xi .

A definição abaixo caracteriza preferências consistentes com o aumento conjunto de todos os


bens.

Definição 4.6. A relação de preferências i é estritamente monótona quando para todo xi ∈ X i


e todo x̄i ∈ RL+ com x̄ 6= 0 temos xi + x̄i  xi .

A definição de alocação maximal caracteriza a maximização de benefício em uma determianada


restrição orçamentária.

Definição 4.7. Dizemos que x̄i ∈ X i é maximal dados p e wi quando pxi ≤ wi e xi ∈ X i implicam
x̄i i xi .

A definição de alocação minimal caracteriza a minimização de custo mantido o nível de benefício


da mesma.

Definição 4.8. Dizemos que x̄i ∈ X i é minimal dados p e wi quando xi ∈ X i e xi i x̄i implicam
pxi ≥ wi .

Finalmente, a definição abaixo caracteriza uma economia em que os insumos são suficientes
para se produzir uma quantidade positiva de todos os bens da economia. Em outras palavras,
nenhum bem é impossível de ser produzido na economia considerando disponível toda a dotação
de insumos existente. Neste caso, a economia nunca terá riqueza agregada que colapsa para zero
para quaisquer níveis de preços não nulos.

Definição 4.9. Considere a economia E = ({xi , i , ei }i∈IP


, {Y j }j∈J
P). Dizemos que E tem produção
j j i j L
completa quando existe y ∈ Y para todo j ∈ J tal que i e + j y ∈ R++ .

4.2 Primeiro teorema fundamental do bem estar econômico


Nesta seção, mostraremos que todo equilíbrio Walrasiano ou com transferências é Pareto ótimo.
Primeiramente, temos o seguinte resultado auxiliar.

Proposição 4.10. Suponha que a relação de preferênicas satisfaça a monotoncidade estrita e


x̄i ∈ X i seja maximal dados p 6= 0 e wi . Então x̄i ∈ X i é minimal dados p 6= 0 e wi .

Demonstração: Com efeito, suponha que x̄i ∈ X i não seja minimal. Então existe xi ∈ X i tal
que xi  x̄i 6⇒ pxi ≥Pwi , ou seja, xi  x̄i e pxi < wi . Defina x̃ = (, · · · , ) em que  ∈ R++ é tal
que  < (wi − pxi )/( l≤L pl ). Então pela monotonicidade estrita, xi + x̃i  xi e p(xi + x̃i ) < wi o
que representa uma contradição por x̄i ser maximal pois xi + x̃i  xi i x̄i . 2

Teorema 4.11. Suponha que a relação de preferências racional satisfaça a monotonicidade estrita.
Então toda alocação de equilíbrio com transferências (x̄, ȳ, p) é pareto otima.

20
Demonstração: Suponha que exista uma alocação factível (x, y) que domina (x̄, ȳ). Logo,
x  x̄i para todo i e xk  x̄k para algum
i
P k.i Vamos
P mostrar P que (x, y) não pode ser um equilíbrio
i i j
para nenhum preço p e {w }i∈I tal que i w = i pe + j pȳ . Para verificar isso, vamos mostrar
que caso as condições 1,2,3 da definição do equilíbrio com transferências sejam satisfeitas então a
condição 4 não pode ser satisfeita.
Com efeito, se x̄i é maximal, então xi  x̄i ⇒ pxi > wi além disso, a proposição 4.10 implica
que xi  x̄i ⇒ pxi ≥ wi . Então pxi ≥ wi para todo i e pxk > wk . Logo
X X X X
pxi > wi = pei + pȳ j
i i i j

e como ȳ j maximiza lucro,


X X X X
pei + pȳ j ≥ pei + py j
i j i j

e então X X X X X
pxi > pei + pȳ j ≥ pei + py j
i i j i j

e a condição 4 da definição de equilíbrio com transferências não pode ser satisfeita pois
X X X X X X
xi = ei + yj ⇒ pxi = pei + py j .
i i j i i j

Mostramos que se uma alocação não é pareto ótima então ela não pode ser um equilíbrio com
transferências. Logo todo equilíbrio com transferências (x̄, ȳ, p) é pareto ótimo. 2

Teorema 4.12. Todo Equilibrio Walrasiano é Pareto ótimo.

4.3 Segundo teorema fundamental do bem estar econômico


Nesta seção, mostraremos que toda alocação Pareto ótima pode ser atingida por uma economia
de mercado, contando que algumas transferências de soma zero sejam realizadas. Vamos começar
com algumas premissas básicas.

Definição 4.13. Uma preferência i é contínua quando para qualquer sequência {xin }n∈N ⊂ X i
satisfazendo lim{xin }n∈N = xi e xin i x para todo n ∈ N temos que xi i x.

Considere um agente i com preferências contínuas. O teorema abaixo mostra que toda alocação
minimal dados p e wi > 0 é maximal dados p e wi . Ou seja, vale a dualidade de maximização de
benefício e minimização de despesa.

Teorema 4.14. Suponha que X i seja convexo, 0 ∈ X i e i seja contínua. Então toda alocação
minimal dados p e wi > 0 é maximal dados p e wi .

21
Demonstração: Suponha que x̄i não seja maximal. Então existe xi ∈ X i tal que pxi ≤ wi e
xi i x̄i . Considere x̃i ∈ X i tal que2 px̃i < wi e defina xin = x̃i /n+(1−1/n)xi para todo n ∈ N. Se
x̄i i xin para todo n ∈ N então x̄i i xi o que é impossível. Então existe n ∈ N tal que xin i x̄i .
Logo, xin i x̄i e pxin < wi /n + (1 − 1/n)wi = wi o que é uma contradição pois x̄i é minimal dados
p e wi . 2

Observe que um equilíbrio com transferências é um quase-equilíbrio com transferências.

Teorema 4.15. Considere a econmia E = ({X i , i , ei }i∈I , {Y j }j∈J ) com produção completa e
suponha que Y j é convexa para todo j ∈ J e i é convexa e estritamente monótona para todo
i ∈ I. Então para qualquer alocação (x̄, ȳ) pareto ótima existe um vetor de preços p 6= 0 com
(x̄, ȳ, p) sendo um equilíbrio com transferências.

Demonstração: Defina wi = px̄i para todo i ∈ I. Considere os conjuntos


( )
X
xi : xi i x̄i para todo i ∈ I e xk k x̄k para algum k ∈ I
i

e ( )
X X
V = ei + y j : y j ∈ Y j para todo j ∈ J .
i j

Então U é convexo pois as preferências são convexas e V é convexo pois Y j é convexo para todo
j ∈ J. A otimalidade de pareto implica que U ∩ V = ∅. Portanto, existe p ∈ RL tal que pu ≥ pv
para todo u ∈ U e v ∈ V. Para mostrar que y maximiza lucros sobre p, seja3 xin → x̄i com xin i x̄i
para todo i. Então, como (x̄, ȳ) é factível,
X X X X
pei + pȳ j = p x̄i = lim p xin ≥ pv
n
i j i i

para qualquer v ∈ V . Fixando k, temos que dado y k ∈ Y k , fazendo v = i ei + y k + j6=k ȳ j


P P

temos pȳ k ≥ py k .
Agora vamos mostrar que x̄ é minimal dados p e wi , ou seja, para qualquer i temos xi i x̄i ⇒
pxi ≥ px̄i = wi . Com efeito, suponha que xk k x̄k e considere xin → x̄i com xin i x̄i para todo
i 6= k. Então
! ! !
X X X
p xk + x̄i = lim p xk + xin ≥ p x̄k + x̄i ⇒ pxk ≥ px̄k .
n
i6=k i6=k i6=k

De fato, i x̄i = i ei + j ȳ j ∈ V . Mostramos então que x̄ é minimal dados p e wi . Com a


P P P

hipótese de produção completaPvamosP mostrar finalmente que x̄ é maximal dados p e wi . Com


efeito, como existe ỹ j tal que i ei + j ỹ j ∈ RL++ então usando a maximização de lucro e que
p 6= 0 X X X X X X
wi = px̄i = pei + pȳ j ≥ pei + py j > 0 (4.1)
i i i j i j

2
Isto é possível pois wi > 0.
3
Isto é possível graças monotonicidade estrita.

22
ou seja, existe um k ≤ I tal que wk > 0 e, portanto, x̄k é maximal pela proposição 4.10. Daí
p ∈ RL++ pela monotonicidade estrita.4 Com efeito, suponha que pl = 0 para algum l ≤ L. Defina
k = (0, · · · , kl , · · · , 0) tal que x̄k + k ∈ X k e kl > 0. Logo p(x̄k + k ) = wk e x̄k + k  x̄k
uma contradição de x̄k ser maximal. Isto implica que para qualquer i tal que x̄i 6= 0 temos que
wi = px̄i > 0 e x̄i é maximal. Se x̄i = 0 então wi = 0 e x̄i seria também maximal pelo fato de ser
p ∈ RL++ , pois neste caso a única cesta factível seria x̄ = 0. 2

Os teoremas do bem estar mostram que para implementar uma alocação Pareto ótima, a
autoridade central deve garantir que os preços serão tomados como dados pelos agentes econômicos,
ou seja, deve tentar reduzir ao máximo qualquer forma de poder de mercado. Caso contrário, o
planejador central deve estabelecer algum tipo de regulação para equilibrar o preço em níveis
tais que se garanta um mercado competitivo. De qualquer maneira, uma transferência de renda
lump-sum através de um imposto pode não atingir a eficiência, já que o planejador central tem
que estimar todas as características da economia perfeitamente. Em geral, poucas alocações
Pareto ótimas são atingidas em preços de equilíbrio resultantes da implementação de impostos
de soma zero. Logo esquemas de redistribuição são distorcivos, caracterizando um trade-off entre
distribuição de renda e Pareto otimalidade.

4.4 Função de Bem estar Econômico


Neste capítulo, mostraremos que quando uma alocação é Pareto ótima, então existe uma função de
bem estar social cuja a solução ótima é exatamente a alocação Pareto ótima. Neste caso, podemos
concluir que em uma alocação Pareto ótima de mercado maximiza bem estar econômico. Mais
ainda: a função de bem estar social maximizada pela alocação de mercado é endógena, ou seja,
uma escolha da sociedade. Neste caso, os próprios indivíduos da economia estabelecem pesos para
os outros de maneira com que a alocação de equilíbrio maximize bem estar, no sentido de que não
é possível uma redistribuição sem redução de bem estar.

Definição 4.16. Uma alocação (x, y) ∈ RIL × RJL é factível quando


X X X
xi = ei + y j ∈ RL .
i i j

Denote por F o conjunto de todas alocações factíveis.

Conjunto de utilidade

Definição 4.17. Definimos o conjunto de possibilidades de utilidade como

U = {(u1 , · · · , uI ) ∈ RI tal que existe (x, y) ∈ F satisfazendo ui (xi ) ≥ ui para todo i ∈ I}

Fronteira de pareto

Definição 4.18. Definimos a fronteira de Pareto como

U P = {u ∈ U tal que não existe ū ∈ U com ūi ≥ ui para todo i ∈ I e ūk > uk para algum k ∈ I}
4
Estamos usando também que X k é um conjunto aberto.

23
Escreva um elemento u ∈ U como u = (u1 , · · · , uI ).
Teorema 4.19. Considere uma alocação factível (x, y). Então
(x, y) é Pareto ótima ⇔ (u1 (x1 ), · · · , uI (xI )) ∈ U P.
Demonstração:
Vamos mostrar primeiro a parte “⇒” ou o “somente se”. Suponha que u = (u1 (x1 ), · · · , uI (xI )) 6∈
U P e escreva u = (u1 , · · · , ui , · · · , uI ). Então existe ū ∈ U com ūi ≥ ui para todo i ∈ I e ūk > uk
para algum k ∈ I. Mas como ū ∈ U então existe uma alocação factível (x̄, ȳ) tal que ui (x̄i ) ≥ ūi
para todo i ∈ I. Logo, ui (x̄i ) ≥ ūi ≥ ui para todo i ∈ I e uk (x̄k ) ≥ ūk > uk , ou seja, (x, y) não é
pareto ótima.
Vamos mostrar agora a parte “⇐” ou o “se”. Suponha que (x, y) não seja pareto ótima. Então
existe (x̄, ȳ) factível e k ∈ I tal que uk (x̄k ) > uk (xk ) e ui (x̄i ) ≥ ui (xi ) para todo i ∈ I. Logo,
(u1 (x1 ), · · · , uI (xI )) 6∈ U P escolhendo ū = (u1 (x̄1 ), · · · , uI (x̄I )) ∈ U .
2

Definição 4.20. Suponha uma economia com I agentes e considere λ = (λi )i∈I ∈ RI++ um vetor
de pesos dados aos agentes. Definimos uma função de bem estar social como wλ : RI → R
X
wλ (u1 , · · · , uI ) = λi ui .
i∈I

Teorema 4.21. Suponha que ū ∈ RI satisfaça para algum vetor de pesos λ a equação:
ū ∈ argmax{wλ (u1 , · · · , uI ) tal que (u1 , · · · , uI ) ∈ U }.
Então ū ∈ U P .
Reciprocamente, se U é convexo, então para qualquer ū ∈ U P existe um vetor de pesos λ ∈ RI+
com λ 6= 0 e tal que
ū ∈ argmax{wλ (u1 , · · · , uI ) tal que (u1 , · · · , uI ) ∈ U }.
Demonstração: Suponha que ū 6∈ U P . Então existe ũ ∈ U com ũi ≥ ūi para todo i ∈ I e
ũk > ūk para algum k ∈ I. Logo, usando que λ ∈ RI++ então claramente, wλ (ũ) > wλ (ū) ou seja
ū 6∈ argmax{wλ (u1 , · · · , uI ) tal que (u1 , · · · , uI ) ∈ U }.
Para mostrar a segunda afirmação, considere ū ∈ U P . Note que U P e V = {ū} são convexos
e satisfazem U P ∩ V = {ū}. Então existe λ ∈ RI com λ 6= 0 tal que λū ≥ λu para todo u ∈ U .
Suponha que λi < 0 para algum i ∈ I. Defina ūr = (ū1 , · · · , ūi − r, · · · , ūI ) para qualquer r ≥ 0.
Então, como ū ∈ U , temos que ūr ∈ U para qualquer r ≥ 0. Logo podemos escolher um r
suficientemente grande tal que wλ (ūr ) > wλ (ū) o que seria uma contradição. Logo λi ≥ 0 para
todo i ∈ I e, portanto,
ū ∈ argmax{wλ (u1 , · · · , uI ) tal que (u1 , · · · , uI ) ∈ U }.
2

Observação. Note que os pesos {λi }i∈I dados no resultado acima formam uma espécie de
escolha social.

24
4.5 Existência de equilíbrio
Teorema 4.22. Suponha X ⊂ Rn e Y ⊂ Rm compactos. Considere o problema de maximização

max{f (x, y) : x ∈ X e g(x, y) ≥ 0}

com f : X × Y → R e g : X × Y → Rp contínuas e g satisfazendo a seguinte propriedade: se


g(x, y) ≥ 0 e xn → x então existe {nk }k∈N e yk → y tal que g(xnk , yk ) ≥ 0 para todo k ∈ N. Então
a correpondência ŷ : X → Y definida por

ŷ(x) = argmax{f (x, y) : x ∈ X e g(x, y) ≥ 0}

tem gráfico fechado.


Demonstração: Suponha que (xn , yn ) → (x, y) e yn ∈ ŷ(xn ). Então para todo n ∈ N

f (xn , yn ) ≥ f (xn , y 0 ) para todo y 0 tal que g(xn , y 0 ) ≥ 0.

Vamos mostrar que y ∈ ŷ(x) ou seja

f (x, y) ≥ f (x, y 0 ) para todo y 0 tal que g(x, y 0 ) ≥ 0.

Considere y 0 tal que g(x, y 0 ) ≥ 0. Como xn → x então existe {nk }k∈N e yk0 → y 0 tal que g(xnk , yk0 ) ≥
0 para todo k ∈ N. Logo f (xnk , ynk ) ≥ f (xn , yk0 ) e passando ao limite temos f (x, y) ≥ f (x, y 0 ).
2

Teorema 4.23. Suponha que Z ⊂ Rn seja um conjunto convexo compacto. Uma correspondência
de gráfico fechado com valores convexos sempre tem ponto fixo.
Teorema 4.24. Em um ambiente de Arrow-Debreu com as hipóteses de convexidade no conjunto
de produção e nas preferências sempre há equilíbrio competitivo.
Demonstração: Suponha que X e Y são compactos e convexos tais que X × Y contenham o
conjunto ( )
X X X
(x, y) : xi = ei + yj
i∈I i∈I j∈J

em seu interior. Considere X


∆ = {p ∈ RL+ : pl = 1}
l

ˆ : X × Y → ∆ por
e defina ∆
( )
X X
ˆ
∆(x, y) = argmax p(xi − ei ) − py j : p ∈ ∆ .
i∈I j∈J

Suponha que x̂ : ∆ → X seja a correspondência de demanda e ŷ : ∆ → Y a correspondência de


oferta. Defina a correspondência Γ : X × Y × ∆ → X × Y × ∆ por
ˆ
Γ(x, y, p) = (x̂(p), ŷ(p), ∆(x, y)).

25
Então Γ é uma correspondência de grafico fechado se ei >> 0 para todo i ∈ I e portanto possui
ponto fixo (x̄, ȳ, p̄). Somando a restrição orçamentária de cada agente obtemos
X X
p(xi − ei ) − py j ≤ 0.
i∈I j∈J

Afirmamos que X X
(xil − eil ) − ylj ≤ 0
i∈I j∈J

para todo l ∈ L. Com efeito, se não fosse assim, (xil − eil ) − j∈J ylj > 0 para algum l ∈ L. Daí
P
escolhendo pl = 1 e pm = 0 para m 6= l obtemos
X X
p(xi − ei ) − py j > 0
i∈I j∈J

uma contradição. Logo (x, y) está no interior de X × Y e portanto tem de valer a lei de Walras
ou seja X X
p(xi − ei ) − py j = 0.
i∈I j∈J

Logo, X X
(xi − ei ) − yj ≤ 0
i∈I j∈J

implica X X
(xi − ei ) − y j = 0.
i∈I j∈J
2

26
Capítulo 5

Exemplo de Equilíbrio Geral

5.1 Economia de Robinson cruzoe


Pressupostos básicos:
1. I consumidores idênticos proprietários de J firmas idênticas.
2. Dois bens: horas de lazer x1 e um bem de consumo x2 .
3. Lazer (trabalho): insumo e o bem: produto para a firma.
4. O consumidor i tem 24 hs de lazer denotado por li e não tem dotação do bem de consumo.
5. A firma j utiliza y1j unidades de insumo lazer com preço w e produz y2j unidades de produto
com preço p de acordo com uma função de produção g : R+ → R+ . Logo, o conjunto de
possibilidades de produção se torna

Y j = {(−y1j , y2j ) ∈ R2 : y j ∈ R2+ e y2j ≤ g(y1j )}

6. Problema da firma j seria max{py2j − wy1j : y ∈ Y j }.


7. Podemos reescrever o problema da firma como max{pg(y1j ) − wy1j : y1j ≥ 0}. Com efeito,
temos que se ỹ1j ∈ argmax{pg(y1j ) − wy1j : y1j ≥ 0} então escrevendo ỹ2j = g(ỹ1j ) então
ỹ j ∈ argmax{py2j − wy1j : y j ∈ Y j }. Com efeito, se (y1 , y2 ) ∈ Y j então y2j ≤ g(y1j ) e

py2j − wy1j ≤ pg(y1j ) − wy1j ≤ pg(ỹ1j ) − wỹ1j = pỹ2j − wỹ1j

8. Como estamos trabalhando em um equilíbrio simétrico com y1j = y1 /J em que y1 = y1j ,


P
j∈J
então X X j
p g(y1j ) − w y1 = pJg(y1 /J) − wy1 .
j j

Definindo f (y1 ) = Jg(y1 /J) então o problema fica equivalente a

ŷ1 (p, w) = argmax{pf (y1 ) − wy1 : y1 ≥ 0}.

Denote por π(p, w), ŷ1 (p, w) e ŷ2 (p, w) = f (ŷ1 (p, w)) resp. o lucro, a quantidade de trabalho
exigidos pela firma e o produto.

27
9. problema do consumidor:

max{v(xi1 , xi2 ) : wxi1 + pxi2 ≤ wli + θi π(p, w)}

com θi = 1/I.
Analogamente no equilíbrio simétrico, xi1 = x1 /I, xi2 = x2 /I para todo i ∈ I em que xk =
10. P
i
i∈I xk para k = 1, 2. Logo, escrevendo u(x1 , x2 ) = v(x1 /I, x2 /I) e multiplicando a restrição
por I então
max{v(xi1 , xi2 ) : wxi1 + pxi2 ≤ wli + θi π(p, w)}
é equivalente a max{u(x1 , x2 ) : wx1 +px2 ≤ wl+π(p, w)} definido-se u(x1 , x2 ) = v(x1 /I, x2 /I)
e somando a restrição orcamentária em que defini-se l = Ili . Denote por x̂(p, w) a escolha
ótima do agente.
Como u, f são estritamente crescentes, um equilíbrio é um vetor (p̄, w̄) e uma alocação {x̄i }i∈I
e {ȳ j }j∈J tal que X X X
x̄i = ȳ j + ei
i∈I j∈J i∈I
i i
em que e = (l , 0), ou seja, escrevendo

x̄i = x̂(p̄, w̄)/I, ȳ1j = −ŷ1 (p̄, w̄)/J e ȳ2j = ŷ2 (p̄, w̄)/J

então
x̂2 (p̄, w̄) = f (ŷ1 (p̄, w̄)) = ŷ2 (p̄, w̄) e ŷ1 (p̄, w̄) + x̂1 (p̄, w̄) = l
ou seja, tudo que é produzido é consumido e o trabalho é todo empregado nas firmas e o restante
é consumido como lazer.
1/2
Suponha que f (y1 ) = 2y1 e u(x1 , x2 ) = ln x1 + ln x2 .
Com a condição de INADA a solução é interior. Com efeito, limyj →0+ pf 0 (y1j ) − w = ∞ ou seja,
1
pf (y1j ) − wy1j − pf (0) − w0 = (pf 0 (ỹ1j ) − w)y1j > 0 para y1j próximo de 0 e 0 < ỹ1j ≤ y1j .
Então a CPO da firma fica pf 0 (ŷ1 (p, w)) = w ou seja ŷ1 (p, w) = p2 /w2 e

π(p, w) = pf (ŷ1 (p, w)) − wŷ1 (p, w) = 2p2 /w − p2 /w = p2 /w

Utilidade do consumidor: u(x1 , x2 ) = ln x1 + ln x2 . Lagrangeano

L(x) = u(x1 , x2 ) + λ(wl + π(p, w) − wx1 − px2 ).

CPO: 1/x̂1 (p, w) = λw e 1/x̂2 (p, w) = λp o que implica x̂2 (p, w)/x̂1 (p, w) = w/p e portanto
wx̂1 (p, w)+wx̂1 (p, w) = wl +π(p, w), ou seja x̂1 (p, w) = (l +p2 /w2 )/2 e x̂2 (p, w) = (lw/p+p/w)/2.
Pelas condições de market clearing,

x̂2 (p̄, w̄) = y2 (p̄, w̄) e ŷ1 (p̄, w̄) + x̂1 (p̄, w̄) = l

ou seja
(lw̄/p̄ + p̄/w̄)/2 = f (p̄2 /w̄2 ) e p̄2 /w̄2 + (l + p̄2 /w̄2 )/2 = l.
Escrevendo r = w̄/p̄ como o salário real, ou seja, o salário dado em unidades do bem de consumo
produzido então
(lr + 1/r)/2 = 2/r e 3/(2r2 ) = l/2

28
p
ou seja r = 3/l e

ŷ1 (p̄, w̄) = l/3, x̂1 (p̄, w̄) = 2l/3, x̂2 (p̄, w̄) = rx̂1 (p̄, w̄) = 2(l/3)1/2 , com preços (w̄/r, w̄) : w̄ > 0

O caso de livre entrada e saída de firmas.

Neste caso, o salário, o preço do bem p e a alocação agregada de produto y seriam determinados
pelas relações:
p = cmed (w, y), p = cmg (w, y) w = pf 0 (ŷ1 (p, w))
Então o problema de minimização de custos fica: cj (w, y2 ) = min{wy1 : y2 ≥ f (y1 )}. Logo
c (w, y2 ) = wy22 /4. Daí cjmed (w, y2 ) = wy2 /4 e cjmg (w, y2 ) = wy2 /2. Se π(p, w) = 0 e a firma
j

maximiza lucro, então

p = cjmed (w, y2 ) = wy2 /4 e p = cjmg (w, y2 ) = wy2 /2.

Mas isto seria uma inconsistência já que neste caso p = 0 = y2 = y1 ou seja, nada seria produzido
e a demanda dos consumidores seria infinita.

5.2 Pequena economia aberta


Suponha um mercado mundial de alguns tipos de bens em que os fatores para produzi-los são
negociados apenas dentro de um pequeno país cuja produção não afeta os preços mundiais. Vamos
estudar o equilíbrio no mercado de fatores.
Suponha j firmas cada uma produzindo um único bem de preço pj , e com função de produção
suave q j = f j (z j ) em que z j = (z1j , ..., zlj , ..., zLj ) ∈ RL+ , ou seja, o mercado contém L fatores cuja
dotação total é denotada por d ∈ RL+ . Suponha que os preços dos bens p ∈ RJ+ são dados.
Problema da firma: max{pj f j (z j ) − wz j : z j ≥ 0} demanda ótima por fatores: ẑ j (w).
Uma configuração de preços e alocação de fatores {w̄j , z̄ j }j≤J representa um equilíbrio no
mercado de fatores quando X
z̄ j = ẑ j (w̄) e z̄ j = d.
j∈J

CPO no equilíbrio: ∂l f j (z̄ j ) = wl /pj . Explicar essa equação.


Esse equilíbrio implementa uma alocação de fatores equivalente àquela obtida caso um plane-
jador central queira maximizar a receita agregada das firmas. Ou seja, sob os preços de equilíbrio
w̄ temos X 
X
j j j
argmax p f (z ) : zj = d = (ẑ j (w̄))j≤J .
j j
P
Para ver isto basta notar que sob a condição de factibilidade j zj = d
X  X j j j
pj f j (z j ) − wz j = p f (z ) − wd.
j j

Com efeito, temos


X
pj f j (ẑ j (w̄)) − wẑ j (w̄) ≥ pj f j (z j ) − wz j para toda alocação {z j }j≤J tal que zj = d
j

29
ou seja, para toda alocação {z j }j≤J tal que z j = d temos
P
j

X  X  X 
j j j j j j j j j j j
p f (ẑ (w̄)) − wd = p f (ẑ (w̄)) − wẑ (w̄) ≥ p f (z ) − wz
j j j

logo
X  X  X 
j j j j j j j j j
p f (ẑ (w̄)) = p f (ẑ (w̄)) − wd + wd ≥ p f (z ) .
j j j

30
Capítulo 6

Equilíbrio Geral com Incerteza

Neste capítulo vamos modelar o equilíbrio de Arrow-Debreu com incerteza exógena. Mais ainda,
vamos caracterizar como um equilíbrio de Arrow-Debreu pode ser entendido como uma escolha
intertemporal com consistência intertemporal

6.1 Equilibrio de Arrow Debreu com incerteza


Considere um espaço de probabilidade S definindo contingências exógenas, ou seja, que indepen-
dem das ações dos agentes. Neste caso, as escolhas seriam contingenciadas pelos eventos em S.
Logo, em termos informais, podemos dizer que os agentes escolhem funções definidas em S. Temos
então as seguintes definições.

Definição 6.1. Considere um conjunto finito de contingências S. Um plano de consumo contin-


gente do agente i é uma função mensurável x̂i : S → X i . Analogamente, um plano de produção
contingente da firma j é uma função mensurável ŷ j : S → Y j . Definimos preços contingentes
como funções mensuráveis p̂ : S → RL+ .

Definição 6.2. Defina os custos de um plano de consumo contingente x̂i como


X
p̂x̂i = p̂(s)x̂i (s)
s∈S

e o lucro de um plano de produção contingente como


X
p̂ŷ j = p̂(s)ŷ j (s).
s∈S

Definição 6.3. Considere a economia E = ({X b i , i , êi }i∈I , {Yb j }j∈J ). Uma alocação contingente
(x̂, ŷ) e um vetor de preços contingentes p̂ constituem um equilíbrio Walrasiano quando

1. p̂y̌ j ≤ p̂ŷ j para todo y̌ j ∈ Yb j e para todo j ∈ J

2. x̌i ∈ X b i e p̂x̌i ≤ p̂êi + P θi p̂ŷ j implicam x̂i i x̌i


j j
P i P i P j
3. i x̂ = i ê + j ŷ

31
Se as preferências forem representadas por uma função utilidade esperada então
X
x̂i i x̌i para todo x̌i ∈ X
b i tal que p̂x̌i ≤ p̂êi + θji p̂ŷ j
j

é equivalente a
( )
X X
i i i i bi i i
x̂ ∈ argmax π̂(s)u (x̌ (s)) : x̂ ∈ X e p̂x̌ ≤ p̂ê + θji p̂ŷ j
s∈S j

No caso S = {s1 , s2 } podemos representar a economia de trocas puras na caixa de Edgeworth.


No equilíbrio de Arrow-Debreu, no primeiro período são negociados todos os contratos definindo
o fluxo de consumo entre estados da natureza no período seguinte. Como o equilíbrio é pareto
ótimo, os agentes não têm incentivo a renegociar os contratos no período seguinte. Todos os
teroemas feitos para modelos sem incerteza valem aqui neste caso.

6.2 Equilíbrio de Radner


No caso em que os contratos não permitem algum tipo de transferência entre os estados, então po-
dem haver renegociações no período seguinte. Neste caso dizemos que os mercados são incompletos
e então a abordagem de equilíbrio é feita pelo artigo de Radner (Econometrica 1972).
Nesse conceito, ativos que pagam certas quantidades em unidades do numerário em cada estado
são negociados no período inicial e no segundo período esses contratos são efetivados.
Definição 6.4. Um ativo numerário de vida curta (short-lived asset or security) é um contrato ou
uma promessa de pagamento no período seguinte de um montante (também chamado de retorno
quando o preço de compra é unitário) dado em unidades do numerário e contingente às realizações
de cada contingência. Mais precisamente, os retornos são dados por uma variável aleatória (ou
função mensurável) r : S → R e esse contrato tem de ser exercido no período seguinte. Um ativo
de vida longa tem as mesmas características porém paga retornos em todos os períodos e portanto
pode ser negociado em todos os períodos.
Definição 6.5. Um derivativo é um ativo que tem os retornos baseados em retornos de outros
ativos.
Exemplo Opções de compra européia (só pode ser exercida na data de exercício). Considere
um ativo de vida longa (uma ação por exemplo) com pagamentos (retornos) r̂ : S → R. Se a
opção tem preço de exercício r então seu pay-off ro será
r̂o (s) = max{0, r̂(s) − r} para todo s ∈ S.
Pois neste caso ele pode comprar o ativo no período seguinte por r e receber seu pagamento (vender
o ativo no mercado) r(s) caso o estado s ocorrer. Para o caso de opção de venda
r̂o (s) = max{0, r − r̂(s)} para todo s ∈ S.
Pois neste caso ele pode comprar o ativo no período seguinte por r̂(s) e revender por r. No caso
em que ele já possui uma unidade do ativo então
r̂o (s) = max{r̂(s), r} para todo s ∈ S.

32
Uma opção pode ser vista como uma apólice de seguro;
A opção de venda é análoga a um seguro de automóvel. Por exemplo, um automóvel tem um
preço r(s) caso s seja um sinistro e r(s0 ) caso não haja um sinistro no estado s0 . O seguro fornece
a opção do dono vender seu automóvel a um preço r para a seguradora (ou para o mercado)
independente de ser o estado s ou s0 .
A opção de compra é semelhante ao sinal pago na compra de um imóvel.
Crença no aumento dos pagamentos em relaçao ao preço de exercício: opção de compra.
Crença na redução dos pagamentos: opção de venda.
Venda descoberta de uma unidade do ativo: promessa de pagar r̂(s) unidades de numerário
caso ocorra a contingência s.
Se o agente vende a descoberto z1 > 0 unidades do ativo 1 com pagamentos r̂1 e compra z2 > 0
unidades do ativo 2 com pagamentos r̂2 de forma com que q2 z2 ≤ q1 z1 então ele terá o montante
−z1 r̂1 (s)+z2 r̂2 (s) caso ocorra a contingência s no período seguinte se não possuir nenhuma dotação
no período inicial. Quando −z1 r̂1 (s) + z2 r̂2 (s) ≥ 0 para todo s ∈ S com a desiguladade estrita
para algum s, então dizemos que existe arbitragem nesse mercado.

Definição 6.6. Vetor aleatório de pagamentos. Suponha que um mercado tenha K ativos. Então
definimos o vetor de pagamentos dos ativos como a variável aleatória r̂ : S → RK .

Definição 6.7. Um portfolio é um vetor z ∈ RK em que cada coordenada zk representa a quanti-


dade comprada zk ≥ 0 ou vendida descoberta zk < 0 de cada ativo.

Ambiente de Radner sem firmas.

1. Dois períodos e S estados de contingência exógenos.

2. L bens de consumo

3. I agentes com dotações contingentes êi : S → RL+ , função de utilidade i L


P u :i R → R côncava
i
e contínua e probabilidades subjetivas π̂ : S → [0, 1] satisfazendo s∈S π̂ (s) = 1.

4. K ativos com pagamentos definidos por um vetor aleatorio r̂ : S → RK dado como exógeno.
Em um modelo de dois períodos, esse pagamento tem a interpretação dos dividendos pagos
pelo ativo.

5. Preferências definidas pela função de utilidade esperada de Savage.

Conjunto de restrição orçamentária

Definição 6.8. Definimos o conjunto de restrição orçamentária do agente i como

B i (s, p̂, q) = (xi , z i ) ∈ X i × RK ; qz i ≤ 0 e p̂(s)(xi − êi (s)) ≤ z i r̂(s)




Relembre que z i r(s) = k≤K zki rk (s) para todo s ∈ S.


P

Definição 6.9. Considere

1. Um vetor de preços dos ativos q̄ ∈ RK


++ no período corrente,

2. Um vetor de preços contingentes p̂ : S → RL++ no período seguinte,

33
3. Um vetor de portfolio z̄ i ∈ RK para cada agente i ∈ I,

4. Uma alocação de consumo contingente no período seguinte x̂i : S → RL+


Dizemos que esses preços e alocações formam um equilíbrio de Radner em dois períodos se
1. Para cada i ∈ I, o portfolio z̄ i e a alocação x̂i resolvem
( )
X
i i i i i i i i
(x̂ , z̄ ) ∈ argmax π̂ (s)u (x̌ (s)) : (x̌ (s), z ) ∈ B (s, p̂, q̄) para todo s ∈ S (6.1)
s∈S

2. Valem as condições de market clearing


X X X
z̄ki = 0 e x̂i (s) = êi (s) para todo k ≤ K e s ∈ S.
i∈I i∈I i∈I

Definição 6.10. Dado p ∈ RL+ e z i ∈ RL defina

x̃i (s, p, z i ) = argmax{ui (xi ) : xi ∈ X i e pxi ≤ pêi (s) + z i r̂(s)}

Lema 6.11. Considere (x̂i , z̄ i )i∈I a alocação e (p̂, q) um preço de equilíbrio de Radner com π̂ i > 0
para i ∈ I. Então
( )
X
z̄ i ∈ argmax π̂ i (s)ui (x̃i (s, p̂(s), z i )) : z i ∈ RK e qz i ≤ 0 .
s∈S

Reciprocamente, se (x̂i , z̄ i )i∈I satisfaz x̂i (s) ∈ x̃i (s, p̂(s), z̄ i ) para todo s ∈ S,
( )
X
z̄ i ∈ argmax π̂ i (s)ui (x̃i (s, p̂(s), z i )) : z i ∈ RK e qz i ≤ 0
s∈S

e as condições de market clearing, então (x̂i , z̄ i )i∈I é um equilíbrio de Radner.


Demonstração: “⇒”. Temos que

B i (s, p̂, q) = (xi , z i ) ∈ X i × RK ; qz i ≤ 0 e p̂(s)xi ≤ p̂(s)êi (s) + z i r̂(s) .




Suponha que exista z i ∈ RK tal que qz i ≤ 0 e


X X
π̂ i (s)ui (x̃i (s, p̂(s), z i )) > π̂ i (s)ui (x̃i (s, p̂(s), z̄ i )).
s∈S s∈S

Então temos uma contradição com (6.1) fazendo x̌i = x̃i (s, p̂(s), z i ) pois

(x̃i (s, p̂(s), z i ), z i ) ∈ B i (s, p̂, q) para todo s ∈ S.

“⇐” Reciprocamente, suponha que (x̂i , z̄ i )i∈I satisfaz x̂i (s) ∈ x̃i (s, p̂(s), z̄ i ) para todo s ∈ S e
( )
X
i i i i i i K i
z̄ ∈ argmax π̂ (s)u (x̃ (s, p̂(s), z )) : z ∈ R e qz ≤ 0
s∈S

34
Considere (x̌i , z i ) tal que (x̌i (s), z i ) ∈ B i (s, p̂, q) para todo s ∈ S. Então qz i ≤ 0 e
X X
π̂ i (s)ui (x̃i (s, p̂(s), z i )) ≤ π̂ i (s)ui (x̃i (s, p̂(s), z̄ i )).
s∈S s∈S

Como (x̌i (s), z i ) ∈ B i (s, p̂, q) para todo s ∈ S então

ui (x̌i (s)) ≤ ui (x̃i (s, p̂(s), z i )) para todo s ∈ S.

Como ui (x̃i (s, p̂(s), z̄ i )) = ui (x̂i (s)) para todo s ∈ S então


X X X X
π̂ i (s)ui (x̌i (s)) ≤ π̂ i (s)ui (x̃i (s, p̂(s), z i )) ≤ π̂ i (s)ui (x̃i (s, p̂(s), z̄ i )) = π̂ i (s)ui (x̂i (s))
s∈S s∈S s∈S s∈S

Teorema 6.12. Suponha que r̂(s) ≥ 0 para todo s ∈ S. Se q ∈ RK é um preço de equilíbrio de


Radner, então existe µ̂ : S → R++ tal que
X
q= µ̂(s)r̂(s)
s∈S

Demonstração: Considere (x̂i , z̄ i )i∈I a alocação de equilíbrio. Então pelo lema anterior
( )
X
z̄ i ∈ argmax π̂ i (s)ui (x̃i (s, p̂(s), z i )) : z i ∈ RK e qz i ≤ 0 .
s∈S

Defina o Lagrangeano como


X
Li (z i ) = π̂ i (s)ui (x̃i (s, p̂(s), z i )) − λi qz i
s∈S

então X
π̂ i (s)∂zk ui (x̃i (s, p̂(s), z i )) = λi qk
s∈S

Como

ui (x̃i (s, p̂(s), z i )) = max{ui (xi ) + γ i (s)(p̂(s)êi (s) + z i r̂(s) − p̂(s)xi ) : xi ∈ X i }

então pelo teorema do envelope, ∂zk ui (x̃i (s, p̂(s), z i )) = γ i (s)r̂k (s). Logo
X
π̂ i (s)γ i (s)r̂k (s) = λi qk para todo k ∈ K.
s∈S

Escolhendo qualquer individuo i e definindo

µ̂(s) = π̂ i (s)γ i (s)/λi

obtemos o resultado e de lambuja uma maneira de calcular o equilíbrio de Radner em dois estágios
de maximização. 2

35
Definição 6.13. Dizemos que um vetor de preços q ∈ Rk+ é livre de arbitragem quando não existe
nenhum portfolio z i ∈ RK tal que qz i ≤ 0, z i r̂(s) ≥ 0 para todo s ∈ S e z i r̂(s̄) > 0 para algum
s̄ ∈ S tal que π(s̄) > 0.
Teorema 6.14. Em um equilíbrio de Radner não há arbitragem.
2
P
Demonstração: Basta usar que q = s∈S µ̂(s)r̂(s)

Eficiência do equilíbrio de Radner.


Definição 6.15. Dizemos que uma alocação z i é factível quando
X
z i ≤ 0.
i∈I

Definição 6.16. Suponha que exista um único bem e defina


X
ûi (z i ) = π̂ i (s)ui (êi (s) + z i r̂(s)).
s∈S

Definição 6.17. Uma alocação factível {z̄ i }i∈I é pareto ótima restrita quando não existir outra
alocação factível {z i }i∈I tal que

ûi (z i ) ≥ ûi (z̄ i ) para todo i ∈ I e ûk (z k ) > ûk (z̄ k ) para algum k ∈ I.

Teorema 6.18. Suponha que exista somente um bem de consumo e o pagamento dos ativos são
dados em unidades desse bem de consumo. Então o equilíbrio de Radner z̄ é pareto ótimo restrito.
Demonstração: Suponha que {z̄ i }i∈I e q̄ seja um ER e não seja pareto ótimo restrito. Então
supondo que r̂ é dada em unidades do bem de consumo com preço normalizado p̂(s) = 1 para
todo s ∈ S então x̂i (s) = êi (s) + z i r̂(s) ou seja,

z̄ i ∈ argmax{ûi (z i ) : q̄z i ≤ 0}.


i i
P i que {z̄ }i∈I e q̄ não seja pareto ótimo restrito. Então existe outra alocação {z }i∈I tal
Suponha
que i z ≤ 0

ûi (z i ) ≥ ûi (z̄ i ) para todo i ∈ I e ûk (z k ) > ûk (z̄ k ) para algum k ∈ I.

temos1 q̄z i ≥ 0 para todo i ∈ I e q̄z k > 0. Logo i∈I q̄z i > 0 uma contradição pois
P
portanto
i L
2
P
i∈I z ≤ 0 e q̄ ∈ R++ .

Equivalência entre os equilíbrios de Radner e Arrow Debreu quando os mercados são completos.
Definição 6.19. Dizemos que os mercados são completos quando existe um subconjunto A do
conjunto de ativos {1, 2, ..., K} tais que as funções de pagamentos contingentes {r̂k : k ∈ A} geram
todo o espaço das funções ĥ : S → R.
Teorema 6.20. Se os mercados são completos então os equilíbrios de Radner e de Arrow Debreu
são equivalentes (implementam as mesmas alocações de consumo contingente).
1
Observe que ûi é estritamente crescente em z i .

36
Considere (x̂i , z̄ i , q, p̂) um ER. Então existe µ̂ : S → R+ tal que q = s∈S µ̂(s)r̂(s). Defina
P
p̌(s) = µ̂(s)p̂(s) para todo sP ∈ S. Logo (x̂i , p̌) é um equilíbrio de Arrow Debreu. Com efeito,
suponha que x̌i (s) satisfaça s∈S p̌(s)(x̌i (s) − êi (s)) ≤ 0. Vamos mostrar que existe z i tal que
(x̌i (s), z i ) ∈ B i (s, p̂, q) para todo s ∈ S e portanto
X X
π̂ i (s)ui (x̌i (s)) ≤ π̂ i (s)ui (x̂i (s)).
s∈S s∈S

Com efeito, considere a função ŵi : S → R definida por

ŵi (s) = p̂(s)(x̌i (s) − êi (s)) para todo s ∈ S.

ComoP{r̂k : k ∈ A} geram todo o espaço das funções ĥ : S → R, então existe z i ∈ Rk tal que
ŵi = k≤K zki r̂k = z i r̂ e portanto
X X X
qz i = µ̂(s)z i r̂(s) = µ̂(s)ŵi (s) = p̌(s)(x̌i (s) − êi (s)) ≤ 0.
s∈S s∈S s∈S

Além disso,
p̂(s)(x̌i (s) − êi (s)) = ŵi (s) = z i r̂(s) para todo s ∈ S
ou seja, (x̌i (s), z i ) ∈ B i (s, p̂, q) para todo s ∈ S. Finalmente, para finalizar a primeira parte do
teorema temos que mostrar que x̂i satisfaz as restrições de AD. Com efeito,

p̂(s)(x̂i (s) − êi (s)) ≤ z̄ i r(s) para todo s ∈ S

implica
µ̂(s)p̂(s)(x̂i (s) − êi (s)) ≤ µ̂(s)z̄ i r(s) para todo s ∈ S.
Logo,
X X X
p̌(s)(x̂i (s) − êi (s)) = µ̂(s)p̂(s)(x̂i (s) − êi (s)) ≤ µ̂(s)z̄ i r(s) = qz̄ i ≤ 0.
s∈S s∈S s∈S

Como as funções objetivo dos modelos de Radner e Arrow Debreu são as mesmas, x̂i maximiza
dentre todas alocações factíveis e também é factível então x̂i é a escolha ótima dados os preços p̂.
Considere agora (x̂i , p̂) um EAD. Defina q = s∈S r̂(s) e
P

ŵi (s) = p̂(s)(x̂i (s) − êi (s)) para todo s ∈ S.

Então s∈S ŵi (s) ≤ 0 e i∈I ŵi = 0 pelas condições de market clearing do EAD. Como {r̂k : k ∈
P P

A} geram todo o espaço das funçães ĥ : S → R, então existe z i ∈ Rk tal que ŵi = k≤K zki r̂k para
P

i ∈ I − 1 e defina z I = − i∈I−1 z i . Para verificar que z i é factível, note que


P

X XX X
qz i = z i r̂(s) = zki r̂k (s) = ŵi (s) ≤ 0.
s∈S s∈S k≤K s∈S

Além disso,
p̂(s)(x̂i (s) − êi (s)) = ŵi (s) = z i r̂(s) para todo s ∈ S

37
ou seja, (x̂i (s), z i ) ∈P B i (s, p̂, q) para todo s ∈ S. Vamos mostrar que (x̌i (s), z i ) ∈ B i (s, p̂, q) para
todo s ∈ S implica s∈S p̂(s)(x̌i (s) − êi (s)) ≤ 0. Com efeito, se qz i ≤ 0 e p̂(s)(x̌i (s) − êi (s)) ≤
z i r̂(s) para todo s ∈ S então
X X XX X X
p̂(s)(x̌i (s) − êi (s)) ≤ z i r̂(s) = zki r̂k (s) = zki r̂k (s) = qz i ≤ 0.
s∈S s∈S s∈S k≤K k≤K s∈S

Logo (x̌i (s), z i ) ∈ B i (s, p̂, q) para todo s ∈ S implica


X X
π̂ i (s)ui (x̌i (s)) ≤ π̂ i (s)ui (x̂i (s))
s∈S s∈S

pois s∈S p̂(s)(x̌i (s) − êi (s)) ≤ 0 e x̂i é a escolha ótima no equilíbrio de Arrow-Debreu. Como
P
(x̂i (s), z i ) ∈ B i (s, p̂, q) para todo s ∈ S então isto é suficiente para mostrar que (x̂i , z i )i∈I , q e p̂ for-
mam um ER, já que as condições de market clearing nos bens de consumo estão automaticamente
satisfeitas e além disso, i∈I z i = 0 por construção.
P

38
Capítulo 7

Apêndice

Atenção: alguns dos exercícios deveriam ter sido feitos de acordo com as seguintes premissas:

• I consumidores e J firmas

• Quatro bens de consumo para o individuo i: Bens A e B além das horas de lazer que podem
ser utilizadas na produção de A e as horas de lazer que podem ser utilizadas na produção
de B nas quantidades (xi , y i , k i , li )

• Lazer (trabalho) utilizado como insumo. O bem de consumo também é um produto para a
firma.

• O consumidor i tem dotações (x̄i , ȳ i , k̄ i , ¯li ) e função utilidade ui definida para cada (xi , y i , k i , li )
no coujunto de possibilidades de escolha.

• A firma j utiliza k j unidades de insumo lazer para produzir A e lj unidades de insumo lazer
para produzir B segundo as funções de produção f j e g j respectivamente. E maximiza lucro
que é dividido entre os consumidores para cada firma j pela fração θij .

O conjunto de possibilidades de produção da firma j fica

Y j = {(xj , y j , −k j , −lj ) ∈ R4 : f j (k j ) ≥ xj e g j (lj ) ≥ y j }

a fronteira de possibilidades de produção seria

Y j = {(xj , y j , −k j , −lj ) ∈ R4 : f j (k j ) = xj e g j (lj ) = y j }.

Um preço para esta economia seria dado por (p, q, r, s) correspondendo aos preços dos bens A,
B e dos insumos para produzi-los respectivamente. Logo o problema da firma j seria

π j (p, q, r, s) = max{pxj + qy j − rk j − slj : (xj , y j , −k j , −lj ) ∈ Y j }

dado que a firma não desperdiça recursos então

π j (p, q, r, s) = max{pf j (k j ) + qg j (k j ) − rk j − slj : (k i , k j ) ∈ R2+ }

39
O conjunto de restrição orçamentária do agente i fica
X
Ri = {(xi , y i , k i , li ) ∈ R4 : pxi + qy i + rk i + sli ≤ px̄i + q ȳ i + rk̄ i + s¯li + θij π j (p, q, r, s)}
j∈J

O problema do consumidor fica


X
max{ui (xi , y i , k i , li ) : pxi + qy i + rk i + sli ≤ px̄i + q ȳ i + rk̄ i + s¯li + θij π j (p, q, r, s)}
j∈J

as condições de market clearing de uma alocação de consumo e de produto ficam


X X X
(xi , y i , k i , li ) = (xj , y j , −k j , −lj ) + (x̄i , ȳ i , k̄ i , ¯li )
i∈I j∈J i∈I

ou seja, tudo que é consumido é igual a tudo que é produzido mais a dotação de bens dos consu-
midores X X X
xi = xj + x̄i
i∈I j∈J i∈I
e X X X
yi = yj + ȳ i .
i∈I j∈J i∈I

A quantidade de lazer utilidada pelos trabalhadores mais as horas trabalhadas para se produzir
os bens A e B representam o total de horas disponíveis dos trabalhadores.
X X X
ki + kj = k̄ i
i∈I j∈J i∈I

e X X X
li + lj = ¯li
i∈I j∈J i∈I

Para se resolver o problema, deve-se montar os lagrangeanos (e mostrar que não haverá condição
de canto, portanto não se deve igualar as TMST’s das firmas com as TMS’s dos consumidores!)

Lj = pf j (k j ) + qg j (lj ) − rk j − slj + λk k j + λl lj

e
Li = ui (xi , y i , k i , li ) + λi (wi − pxi − qy i − rk i − sli ) + λx xi + λy y i + λk k i + λl li
em que wi = px̄i + q ȳ i + rk̄ i + s¯li + π j (p, q, r, s). Para resolver é importante tentar mostrar que a
maioria dos λ’s são zero, assim resolvendo o problema encontrando os preços usando as condições
de market clearing. Para facilitar, seria melhor usar que um preço é igual a 1.
No caso do exercício da prova, todos os preços poderiam ter sido considerados unitários por
simetria. Mas isto não acontece em geral.
Caso geral de uma função de produção. No caso geral, temos o conjunto de possibilidades de
produção gerado por uma função F : Rn → Rm para n > m em que F = (F1 , · · · , Fm ) e

Y = {y ∈ Rn : F (y) ≥ 0} cuja fronteira de produção seria ∂Y = {y ∈ Y : F (y) = 0}

40
Temos então que o problema da firma fica

π(p) = max{py : F1 (y) ≥ 0, · · · , Fm (y) ≥ 0}.

O lagrangeano `(y) = py + λ1 F1 (y) + · · · + λm Fm (y) leva à condição de primeira ordem

pk = λ1 ∂k F1 (y) + · · · + λm ∂k Fm (y) para k = 1, · · · , m

logo temos a relação pk /pl = ∂k Fi (y)/∂l Fi (y) para dado k, l apenas quando existe i ≤ m tal que
∂k Fp (y) = 0 e ∂l Fp (y) = 0 para p 6= i. De fato, neste caso

pk = λi ∂k Fi (y) e pl = λi ∂l Fi (y).

Quando DF (y) é uma matriz com m linhas linearmente independentes, então geralmente
podemos encontrar uma função ŷ : Rp → Rn tal que F (ŷ(z)) = 0 para todo z ∈ Rp . Então pela
regra da cadeia DF (ŷ(z))Dŷ(z) = 0 e assim encontramos as relações entre os preços de equilíbrio
e as taxas marginais de substituição técnica.
Quando p = 1 suponha que ŷ1 tenha inversa ŷ1−1 tal que ŷ1−1 (ŷ1 (z)) = z e ŷ1 (ŷ1−1 (y1 )) = y1 .
Então defina ỹ2 (y1 ) = ŷ2 (ŷ1−1 (y1 )) e note que a taxa marginal de transformação do bem 2 pelo
bem 1 seria dada por ỹ20 (y1 ).
No caso do exercício 13.6 do Nicholson por exemplo, temos
p p
FA (x, y, lx , ly ) = ( lx − x, ly − y, 100 − lx − ly )

e p p
FB (x, y, lx , ly ) = ( lx /2 − x, ly /2 − y, 100 − lx − ly )
como as funções de transformação das regiões A e B respectivamente.

41

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