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EHILA 28 Ensaios de Micro Historia 2016
EHILA 28 Ensaios de Micro Historia 2016
trajetórias e imigração
Maíra Ines Vendrame
Alexandre Karsburg
Paulo Roberto Staudt Moreira
(Orgs.)
Ensaios de Micro-História,
trajetórias e imigração
OI OS
EDITORA Estudos Históricos
Latino-Americanos
2016
© 2016 – Editora Oikos Ltda.
Rua Paraná, 240 – B. Scharlau
93120-020 São Leopoldo/RS
Tel.: (51) 3568.2848 / 3568.7965
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Conselho Editorial:
Eduardo Paiva (UFMG)
Guilherme Amaral Luz (UFU, Uberlândia, MG)
Horacio Gutiérrez (USP)
Jeffrey Lesser (Emory University, EUA)
Karl Heinz Arenz (UFPA, Belém, PA)
Luis Alberto Romero (UBA, Buenos Aires, Argentina)
Márcia Sueli Amantino (UNIVERSO, Niterói, RJ)
Marieta Moraes Ferreira (FGV, Rio de Janeiro, RJ)
Marta Bonaudo (UNR)
Rodrigo Patto Sá Motta (UFMG)
Roland Spliesgart (Ludwig-Maximilians-Universität München)
Editoração: Oikos
Revisão: Autores e Organizadores
Capa: Juliana Nascimento
Imagem da capa: “A aldeia: paisagem com agricultores”, de Pieter Bruegel (o jovem)
(1564-1636)
Arte-final: Jair de Oliveira Carlos
Impressão: Rotermund
Apresentação ......................................................................... 7
Resenha Crítica
“A história de Pierina” ........................................................ 363
Maíra Ines Vendrame
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Apresentação
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Apresentação
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Apresentação
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Apresentação
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Apresentação
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Os organizadores
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Parte I
Sobre a Micro-História:
caminhos e perspectivas
30 anos depois:
repensando a Micro-História1
Giovanni Levi
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Tradução e revisão: Francesco Santini, Maíra Vendrame e Alexandre Karsburg.
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NDT: Historiador alemão que faz parte da rede internacional de Micro-Histó-
ria (http://www.microhistory.eu/). Também é professor da Universidade de
Erfurt, Alemanha.
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LEVI, G. • 30 anos depois: repensando a Micro-História
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NDT: o autor refere-se ao período em que surge o Partito d’Azione, durante o
julho de 1942, em plena Guerra Mundial, pela confluência de duas organiza-
ções políticas antifascistas, o movimento Giustizia e Libertà (que entre os seus
fundadores vê o mencionado Carlos Rosselli) e do liberal-socialismo. Para mais
informações consultar a referência a seguir. Enciclopédia Treccani. Disponível
em: <http://www.treccani.it/enciclopedia/partito-d-azione_%28Enciclopedia-
Italiana%29/>. Acesso em: 13 nov. 2016.
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NDT: campanilismo é sinônimo de história paroquial.
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LEVI, G. • 30 anos depois: repensando a Micro-História
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NDT: professor de história cultural na Universidade de Helsinki, Finlândia,
que estuda o desenvolvimento da agricultura na Escandinávia.
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Referências
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ROCHE, Daniel. Journal de ma vie. Edition critique du jornal de Jacques-
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1982.
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A longa marcha da Micro-História:
da política à estética?*
Maurizio Gribaudi
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GRIBAUDI, M. • A longa marcha da Micro-História: da política à estética?
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GRIBAUDI, M. • A longa marcha da Micro-História: da política à estética?
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NDT: Gribaudi afirma que extraiu esta citação de uma ficha que havia feito no
livro Villaggi: studi di antropologia storica, organizado por Giovanni Levi, Il Mulino,
Bologna 1981. Infelizmente, ele diz que não sabe a referência exata da página.
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As etapas e os percursos dessa difusão são interessantes e mereceriam um estu-
do próprio. Estes colocam em destaque a geografia dos laços e das hierarquias
institucionais do mundo científico. Introduzida na França e nos Estados Uni-
dos graças a historiadores como Jacques Revel, Natalie Zemon Davis ou Ste-
ven Kaplan, a presença micro-histórica alastrou-se sucessivamente para os cen-
tros subordinados às academias parisienses e americanas, com tempos e dinâ-
micas típicas dos fenômenos de contágio. Seguindo o percurso de difusão da
micro-história, analisando simplesmente as traduções dos artigos principais de
“Quaderni Storici” e as traduções dos livros de Giovanni Levi e de Carlo Ginz-
burg (mesmo que seria importante separar e analisar em particular os projetos
micro-históricos e as realizações propostas por estes dois historiadores), perce-
bia-se, então, que a micro-história impôs-se na França e na América do Norte
durante os anos oitenta e sua influência se estendeu sucessivamente às univer-
sidades do Norte da Europa por volta do fim da década e o começo dos anos
noventa, para depois alastrar-se em seguida para os países do Leste Europeu,
portanto rumo à Europa do Sul, ao Norte da África, à Ásia e à América Latina
(neste último continente com ritmos e percursos particulares).
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GRIBAUDI, M. • A longa marcha da Micro-História: da política à estética?
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NDT: Na linguajem política e sindical, tendência que atribui um papel preva-
lente às reivindicações da classe operária, individuada como única força que
tem a função histórica e a capacidade de atuar na transformação das relações
econômicas e políticas entre as classes. Enciclopédia Treccani. Disponível em:
http://www.treccani.it/vocabolario/operaismo/, consultada em: 13 nov 2016.
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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NDT: A citação foi retirada diretamente da tese n°11 de Walter Benjamin so-
bre o conceito da história (BENJAMIN, 1987, p. 227-28).
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GRIBAUDI, M. • A longa marcha da Micro-História: da política à estética?
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NDT: Citação foi retirada da tese n°7 de Walter Benjamin sobre o conceito da
história ( BENJAMIN, 1987, p. 225).
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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NDT: o grupo do Laocoonte é uma escultura em mármore que representa La-
ocoonte e seus dois filhos sendo estrangulados por serpentes marinhas envia-
das pelo deus grego Poseidon. A estátua está exposta no Museu do Vaticano.
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GRIBAUDI, M. • A longa marcha da Micro-História: da política à estética?
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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NDT: Citação retirada dos escritos acerca de Laocoonte e sobre as artes de W.
Goethe (Goethe apud SELIGMANN-SILVA, 2005, p. 266).
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NDT: Citação retirada do escrito, A obra de arte na era da sua reprodutibilidade
técnica, de Walter Benjamin (1987, p. 170).
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GRIBAUDI, M. • A longa marcha da Micro-História: da política à estética?
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NDT: Gribaudi traduziu esta citação da edição francesa que, para ele, era “sin-
taticamente mais correta” apesar de na edição italiana a frase estar conceitual-
mente mais exata: “Non è che il passato getti la sua luce sul presente o il presente la
sua luce sul passato, ma immagine è ciò in cui quel che è stato si unisce fulmineamente
con l’ora in una costellazione. In altre parole: immagine è la dialettica nell’immobilità”
(BENJAMIN, 2007, p. 515).
10
NDT: Gribaudi se refere aos seguintes afrescos: Le ultime volontà di Francesco
Sassetti (1907) e Arte del ritratto e borghesia fiorentina. Domenico Ghirlandajo in
Santa Trinita: i ritratti di Lorenzo de’ Medici e dei suoi familiari (1902), publicado
em: WARBURG, 1966.
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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Georges Didi-Huberman operou uma atenta leitura dos textos florentinos de
Aby Warburg, mesmo fazendo uma leitura demasiado linear. Ver: DIDI-HU-
BERMAN, 1996, p. 145-163.
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GRIBAUDI, M. • A longa marcha da Micro-História: da política à estética?
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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moderna. Torino: Rosenberg & Sellier, 1985 (reedição de um artigo em
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WARBURG, A. Opere, I.1, La rinascita del paganesimo antico. Firenze: La
Nuova Italia, 1966.
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História Oral e Micro-História1
Alessandro Casellato
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Uma versão diferente deste artigo foi publicada com o título “L’orecchio e l’occhio.
Storia orale e microstoria” (CASELLATO, 2014). Tradução e revisão técnica do
presente artigo: Leonardo de Oliveira Conedera e Maíra Ines Vendrame.
2
Conhecer a Itália Contemporânea.
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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Movimentos de protestos coletivos que duraram dez anos na Itália. Sobre isso,
ver: DE LUNA (2011).
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CASSELATO, A. • História Oral e Micro-História
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História oral e Micro-História nasceram de uma insatisfa-
ção comum frente às disponibilidades da historiografia do seu
tempo, como também de exigência de compreender a sociedade
como é e como deveria ser (SALVATI, 2008, p. 91). Entre ambas
vieram definindo – isto é, se dão o nome e se formalizam como
um conjunto de práticas, lugares e redes de relações – no final dos
anos 70, mas possuem raízes longas e múltiplas, em grande parte
compartilhadas.
Os pioneiros da história oral italiana descobriram as fontes
orais fazendo trabalhos de História local: conduziram pesquisas
circunscritas, empiricamente fundamentadas, procurando novas
variedades de documentos, mesmo aqueles “menores”. Um dos
expoentes desta “nova esquerda historiográfica” foi Gianni Bosio,
intelectual socialista, fundador, já em 1949, da revista “Movimen-
to operário” e depois autor do livro Il trattore ad Acquanegra, que
começou em 1960 para contar a passagem da época: da mecaniza-
ção dos campos (o trator) e as suas consequências na cultura popu-
lar. Esse livro foi publicado postumamente em 1981 e apresentado
como “um exemplar de caso de Micro-História” produzido preva-
lentemente com fontes orais (BOSIO, 1981).
No mesmo âmbito político-cultural nasceu o primeiro livro
de Cesare Bermani, Pagine di guerriglia, que foi, de fato, a micro-
história de uma banda partigiana, realizado através de depoimen-
tos orais. A obra foi publicada no ano de falecimento de Bosio (1971)
e revelou uma resistência muito distante da imagem então canoni-
zada. Anos depois, repensando esse trabalho, Bermani lembraria
as reflexões de um escritor – Hans Magnus Enzensberger, em Lette-
ratura come storiografia – que o ajudaram a colocar em foco um as-
pecto importante da sua pesquisa: o interesse “pelo detalhe”, típi-
co dos narradores, muito mais que “pela totalidade”, à maneira
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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É uma conjuntura internacional: dois livros desse sintoma são o de Ernest F.
Schumacher (1973) e o de Raymond Carver (1976).
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CASSELATO, A. • História Oral e Micro-História
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Durante o congresso, a tradução da fala de Cesari Bermani e Bruno Cartosi sobre
subjetividade e história do movimento operário é interrompida e o texto de am-
bos não foi incluído nos anais do evento.
6
A revista Quaderni Storici (n. 35) de 1977 antecipa parte dos textos apresentados
no congresso de Bolonha.
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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CASSELATO, A. • História Oral e Micro-História
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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A sociologia também participa deste renovamento metodológico, sobretudo gra-
ças as contribuições e escolhas de de Franco Ferrarotti (1981), que recuperam e
sistematizam uma tradição de uso qualitativo das “histórias de vida” que vem da
Escola de Chicago e, na Itália, de Danilo Dolci e, sobretudo, de Danilo Montald.
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CASSELATO, A. • História Oral e Micro-História
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A parir daquele momento, História Oral e Micro-História
separaram as suas estradas. Já, Giovanni Levi (1980, p. 80) colo-
cou um alerta a partir “dos muitos equívocos e pelo incontrolado
sucesso” da História Oral, na qual “a capacidade emotiva de se
interessar é rapidamente substituída pelo trabalho de interpretação
e a responsabilidade do historiador fica escondida atrás da passiva
função de recolhedor de memórias”.
Parece-me interessante discutir essa posição de Levi porque
coloca em foco o ponto de divergência entre Micro-História e His-
tória Oral, que se aventou no princípio dos anos 80, isto é, no mo-
mento no qual as duas “comunidades de prática” se autonomiza-
ram, progressivamente destilando duas diferentes hermenêuticas:
aquela da visão, ou dos olhos, próxima aos micro-históricos, e aquela
do escutar, ou dos ouvidos, própria dos historiadores da oralidade
O artigo no qual Levi exprime mais completamente a sua
ideia de Micro-História foi publicado em 1991 na obra organizada
por Peter Burke, New perpectives on Historical Writing (Escritas da His-
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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CASSELATO, A. • História Oral e Micro-História
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NDT: Região sul da Itália, cuja capital é Nápoles.
9
Alessandro Portelli utilizou em várias ocasiões a metáfora do Atene e Gerusalem-
me para indicar os dois polos da narração histórica, como o fez em “Milano Co-
rea” di Montaldi e Alasia, “il manifesto”, 27 gennaio 2011.
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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CASSELATO, A. • História Oral e Micro-História
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Eu gostaria de concluir com um exemplo de alto artesanato
historiográfico realizado e praticado unindo a Micro-História e a
História Oral. O protagonista é um historiador genovês, não aca-
dêmico, muito pouco conhecido fora dos círculos que o estimam.
Chama-se Manlio Calegari, trabalhou no Centro Nazionale delle Ri-
cerche di Gênova; creio que não seja conhecido porque escolheu sem-
pre pequenas editoras locais de sua cidade sem grande distribui-
ção. O seu trabalho é um artesanato historiográfico que privilegia a
fieira curta: do produtor ao consumidor.
Calegari estudou a manufatura pré-industrial, as práticas ar-
tesãs do papel e dos metais, a história da Resistência na sua zona.
Do seu modo tem sempre utilizado as fontes orais, também quan-
do se ocupou de histórias de quatro séculos atrás, passando do ar-
quivo para o campo, da história à etnológica, um pouco como o fez
Nathan Wachtel (2013) em suas pesquisas sobre antropologia his-
tórica. A particularidade dos seus livros é que conseguem dar voz
aos personagens a ponto de o leitor imaginar tê-los a sua frente,
mesmo tendo aqueles vividos cinquenta ou quinhentos anos antes,
como se fossem pessoas vivas e falassem com voz própria.
Os livros sobre a história da Resistência em torno de Gêno-
va basearam-se sobre fontes orais que, porém, são o fruto de longas
relações e, portanto, de colóquios repetidos no curso de diversos
momentos: verdadeiras entrevistas em profundidade, para certos
aspectos maiêuticos. Calegari cruza as lembranças com as datas de
arquivo e com as informações da história ambiental, isto é, com a
estratificação de vestígios naturais e antrópicos daquele território
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
que ele sabe reconhecer. Mas os seus depoentes não são apenas
“fontes” que o historiador disseca e coloca sobre o microscópio;
são companheiros de estrada, pesquisadores, curiosos, sujeitos que
participam da pesquisa, que estão em pesquisa, disponíveis para
“repensar a [própria] história colocando-as no centro de outros ele-
mentos” que antes se encontravam nas margens.
O último livro de Calegari (2014) baseia-se sobre o arquivo
de documentos pessoais e familiares entregues por um amigo fale-
cido, Gino Canepa, que foi operário em uma fábrica metalomecâ-
nica de Gênova. O trabalho é a história de uma amizade e do con-
texto social e político que a fez possível; é também a história de um
período historiográfico, que se abriu em torno de 1968 e veio exau-
rindo-se nos primeiros anos da década de 1980: por muitos aspec-
tos, essa é a pesquisa experimental dessa relação que referi sobre os
laços íntimos entre Micro-História e História Oral. Sobretudo, foi
uma pequena obra prima com utilização das fontes orais com uma
chave de leitura da Micro-História. Poucas entrevistas em profun-
didade, repetidas no tempo, são consideradas de forma intensiva,
junto a tudo isso que pode se tornar “fonte”: não por último a pai-
sagem, o território, no qual o olhar de Calegari – como se fosse um
arqueólogo – sabe reconhecer as estratificações de marcas deposi-
tadas pelos diversos usos que foram realizados. Tem atrás disso a
lição da Local History de matriz anglo-saxã, da qual Gênova foi um
laboratório e que a escola do autor se formou; e possui a sua expe-
riência de historiador do trabalho, das profissões e dos saberes táci-
tos, que o faz disponível para reconhecer e capaz de interpretar, ao
lado das palavras ditas nas entrevistas, também “a arte do tácito
comunicar”, que se exprime através dos silêncios, as atitudes, as
posturas, os modos de estar no espaço doméstico.
A uma única vida e ao canto do mundo que essa atravessou,
o historiador propõe perguntas importantes: “um empenho a todo
campo capaz de entrelaçar biografias a história familiar, aconteci-
mentos políticos gerais na história do bairro” (CALEGARI, 2014,
p. 160). E Calegari procura também novos caminhos, que o levam
para dentro do perímetro da historiografia daquelas coisas impal-
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CASSELATO, A. • História Oral e Micro-História
Referências
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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CASSELATO, A. • História Oral e Micro-História
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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História Total versus Global History:
a historiografia antes e depois
da Queda do Muro de Berlim1
Giovanni Levi
1
Este texto foi originalmente apresentado no Colóquio: “NATHAN WACHTEL,
HISTOIRE ET ANTHROPOLOGIE”, acontecido no “Musée du Quai Branly”
(Paris) nos dias 12 e 13 de maio de 2016.
2
NDT: Nathan Wachtel é historiador e antropólogo francês, especialista em
estudos da América Latina, onde trata da conquista espanhola no Peru. Há
alguns livros traduzidos para o português: Deuses e Vampiros (Edusp, 1996); A fé
na lembrança (Edusp, 2009) e A visão dos vencidos (Gallimard, 1971).
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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NDT: A soft-globalization, ou primeira globalização, havia levado à passagem
do feudalismo ao capitalismo, com as descobertas geográficas, o sistema colonial
e a rápida expansão de um mercado mundial entre os séculos XV e XVIII.
73
LEVI, G. • História Total versus Global History
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
4
Disponível em: <http://www.giornaledistoria.net/index.php?Indici=5C7D0A
71570A740321070E767773>. Acesso em: 07 dez. 2016.
5
Disponível em: <https://www.cairn.info/revue-annales-2011-4-page-
1081.htm>. Acesso em: 07 dez. 2016.
75
LEVI, G. • História Total versus Global History
76
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
6
Disponível em: <https://volltext.merkur-zeitschrift.de/ar ticle/
mr_2015_12_0036-0051_0036_01.pdf>. Acesso em: 07 dez. 2016.
77
LEVI, G. • História Total versus Global History
78
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
79
LEVI, G. • História Total versus Global History
7
Kostruktionen in der Analyse, 1937, p. 533-34, vol. XI. NDT: FREUD, Sigmund.
Moisés e o monoteísmo. Esboço de psicanálise e outros trabalhos. VOLUME XXXIII
(1937-1939). Ensaio “Construções em análise”, 1996. Edição standard brasileira
das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, Imago, p. 167-168.
80
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
8
NDT: As citações derivam dos escritos de Freud de adesão ao B’nai Brith de
1926, Mitglieder des Vereins B’nai B’rith, vol. X, p. 342.
9
NDT: Introduction a Marie-Noelle Bourget – L. Valensi – N. Wachtel (Eds.).
Between Memory and History, Harwood Academic Publishers, Chur, London,
Paris, N. Y., Melbourne, 1990, p. 1-18; Remember and never forget, ibidem, 1990,
p. 101-130.
81
LEVI, G. • História Total versus Global History
82
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Referências
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in Transnational History”. In: The International History Review, dez. 2011,
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Madrid: l’affaire Diego de Avila (1577-1580). Paris: Seuil, 2015.
BROOK, Timothy. Vermeer’s Hat: The Seventeenth Century and the Dawn
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DE MARTINO, Ernesto. La fine del mondo. Contributo all’analisi delle
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FREUD, Simond. Kostruktionen in der Analyse, 1937, v. XI, p. 533-34.
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XXXIII (1937-1939). Rio de Janeiro: Imago, 1996.
GRUZINSKI, Serge. ”Faire de l’histoire dans un monde
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1.091.
REVEL, Jacques; STRUCK, Bernhard; FERRIS, Kate. “Space and Scale in
Transnational History”. The International History Review. Dez. 2011, p. 573-
584.
83
LEVI, G. • História Total versus Global History
84
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Parte II
Estudos de Trajetórias
85
Investigação e formalização na
perspectiva da Micro-História
Alexandre Karsburg
Maíra Ines Vendrame
Introdução
1
Evidentemente, gostaríamos de realizar uma reflexão mais ampla sobre esta
premissa, pois acreditamos que estender o público do trabalho do historiador é
um elemento importante de modificação, ainda que pequeno, de outros hábitos
culturais e políticos da população. Portanto, não é só uma questão de ampliar a
audiência, muito menos de entregar para ela aquilo que ela deseja consumir: se a
história enquanto disciplina tem por objetivo derradeiro a transformação social,
por que, então, a escrita da história não pode seguir o mesmo fim? Estamos cien-
tes de que para superar tal barreira uma modificação das técnicas narrativas não
é suficiente, mas, apesar dos riscos da simplificação excessiva, acreditamos que a
escrita universitária necessita urgentemente de uma transformação.
86
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
2
Referimo-nos a pesquisadores universitários ligados à história, e não a jornalistas
que escrevem suas obras, ficcionais ou não, utilizando como pano de fundo al-
gum contexto ou personagem histórico. No Brasil, há exemplos de autores como:
Adriana Barreto de Souza (2008), Benito Schmidt (2004), Sidney Chalhoub (1990)
e Luiz Mott (1993). No exterior, são referência os conhecidos Carlo Ginzburg
(1987), Giovanni Levi (2000), Natalie Davis (1987) e Jacques Le Goff (1999),
além de outros que dão atenção para as questões narrativas.
3
O debate sobre a “história narrativa” não é recente, antes o contrário, vem de
longe e envolveu profissionais como Michel de Certeau (“Operação Historiográ-
fica”, 2002, p. 65-119) que visava, precisamente, equacionar o roteiro “pesquisar,
resumir e comunicar” a que faz referência Giovanni Levi. Além disso, “obras de
autores como Michel de Certeau, Paul Veyne, Paul Ricœur, entre outras, são
geralmente destacadas nesse sentido, mas há certo consenso de que Hayden White
e seu livro Meta-história figuram no centro dos questionamentos mais recentes
sobre a dimensão poética do ofício do historiador” (MARCELINO, 2012, p. 131).
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KARSBURG, A.; VENDRAME, M. I. • Investigação e formalização
na perspectiva da Micro-História
4
A origem desta metáfora de Giovanni Levi está nas páginas introdutórias de
um livro de Carlo Ginzburg e Adriano Prosperi, chamado “Giocchi di Pazien-
za. Un seminario sul ‘Beneficio di Cristo’” (1975), onde eles chamam a aten-
ção para a tendência dos historiadores de apresentarem seus resultados elimi-
nando qualquer vestígio do processo, nem sempre linear, e nem sempre bem
sucedido, da construção das suas hipóteses e argumentos. A ideia de integrar as
incertezas à narrativa não está, portanto, ligada à tentativa de tornar o texto
mais “atraente”, mas exatamente colocar a serviço da inteligibilidade histórica
as ferramentas da narrativa.
88
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
5
As etapas do trabalho do historiador foi tema de uma aula de Giovanni Levi,
em 2014, a alunos do Programa de Pós-graduação em História da Universida-
de Federal Fluminense (UFF) e do Programa de Pós-graduação em História
Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O resultado foi pu-
blicado em artigo intitulado: “Pesquisar, resumir, comunicar” (Revista Tempo,
vol. 20, 2014).
6
Ginzburg explicava isso em uma conferência em Tóquio no ano de 1992, por
ocasião do lançamento de seu livro História Noturna: decifrando o Sabá, traduzi-
do para o japonês.
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KARSBURG, A.; VENDRAME, M. I. • Investigação e formalização
na perspectiva da Micro-História
7
O livro “Os andarilhos do bem”, lançado por Ginzburg, na Itália, em 1966,
conta a história de praticantes de um culto agrário de fertilidade na região do
Friuli, entre o final do século XVI e a primeira metade do XVII. Os andarilhos
se diziam defensores das colheitas contra bruxas e feiticeiros. Uma vez alvos da
Inquisição, foram assimilados aos feiticeiros e praticantes do Sabá diabólico.
No Brasil, a obra foi lançada em 1988.
90
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
91
KARSBURG, A.; VENDRAME, M. I. • Investigação e formalização
na perspectiva da Micro-História
8
Ao longo de sua trajetória investigativa Ginzburg publicou uma série de artigos
e livros ligados ao tema feitiçaria, destacando-se: Os andarilhos do bem (1988); O
queijo e os vermes (1987); e História Noturna (1991).
92
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
9
O método onomástico faz uma referência genérica a um procedimento de pes-
quisa que se inspirava na demografia e estava ligada a certo tipo de documento,
no caso a documentação serial que poderia ser paroquial e notarial (GINZBURG;
PONI, 1989b, p. 174-175). No Brasil, alguns historiadores se dedicaram a pensar
as peculiaridades de tal método para as fontes brasileiras, como João Fragoso
(2002; 2006) e alguns autores presentes em dois livros organizados por Mônica
Ribeiro de Oliveira e Carla Maria Carvalho de Almeida (2006; 2009).
93
KARSBURG, A.; VENDRAME, M. I. • Investigação e formalização
na perspectiva da Micro-História
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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KARSBURG, A.; VENDRAME, M. I. • Investigação e formalização
na perspectiva da Micro-História
10
Jornal O Combatente, 07 e 11 de janeiro de 1900. Arquivo Casa de Memória
Edmundo Cardoso (VENDRAME, 2016, p. 40).
11
Ordem religiosa fundada por Vicente Pallotti, na Itália, na primeira metade do
século XIX, que tinha por lema Ora et Labora (Rezar e Trabalhar). A ordem
atuava para concretizar o projeto de romanização da Igreja, ou seja, diminuir
o poder leigo nas igrejas e transferi-los para os sacerdotes. Os padres palotinos
chegaram à região de colonização italiana no Rio Grande do Sul em 1886.
Sobre este assunto, consultar: BIASOLI, 2010.
96
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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KARSBURG, A.; VENDRAME, M. I. • Investigação e formalização
na perspectiva da Micro-História
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
crime por vingança, esta explicação não era contada “à voz aber-
ta” na região onde se deu o fato. Foi preciso juntar os fragmentos
para entender que havia uma lógica por trás desta versão, bem
como o silêncio que prevaleceu após a morte.
Reconstruir detalhadamente os diferentes contextos que se
amalgamaram localmente no final do século XIX e início do XX foi
importante para perceber as divisões e tensões existentes na comuni-
dade. Dentre tantas constatações da pesquisa, talvez a principal te-
nha sido a descoberta das normas que estavam na base das práticas
de justiça dos italianos, que podiam ser tão ou mais severas que a
justiça do Estado. O controle comunitário sobre os comportamen-
tos era, muitas vezes, opressivo e constrangedor, como bem demons-
tra o próprio padre Antônio Sório em uma carta escrita poucos
meses antes do falecimento. Neste documento, o sacerdote comen-
ta, com um colega de batina, estar temeroso por algo que possa lhe
acontecer: “caro amigo, andamos mal com este tempo ruim e com
certos ares que inspiram vingança” (VENDRAME, 2016, p. 357).
A versão de crime por vingança ficou circunscrita a poucas
vozes. Segundo se acredita, não foi aberta investigação porque imi-
grantes e autoridades não queriam agravar ainda mais as disputas e
problemas comunitários, pois um processo-crime colocaria em ex-
posição indivíduos, famílias e as autoridades públicas, essas res-
ponsáveis por manter a ordem e controle político local. Assim, in-
dependentemente da veracidade da explicação de vingança de hon-
ra, essa versão permitiu inferir sobre as várias maneiras que os imi-
grantes tinham para resolver impasses entre as famílias na comuni-
dade, indicando para os recursos que poderiam ser acionados quan-
do eventos rompiam com o ideal de equilíbrio almejado por todos.
A realidade complexa e conflitante, percebida através das diferen-
tes explicações sobre um mesmo fato, propiciou um melhor enten-
dimento a respeito dos contextos vividos e das percepções dos imi-
grantes. O evento em si (a morte do sacerdote) serviu como pretex-
to, ou fio condutor, para a referida pesquisa, sendo menos relevan-
te do que os contextos que se conseguiu reconstruir e interligar e
que permitiram distintos questionamentos.
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KARSBURG, A.; VENDRAME, M. I. • Investigação e formalização
na perspectiva da Micro-História
12
Nesse sentido, vale a leitura do artigo de Fragoso (2002, p. 41-70), que declarou ser
a época da história serial um período onde pesquisadores se “afogavam em núme-
ros”. Logo a seguir, com o aparecimento da micro-história italiana, que “preten-
dia enxergar a vida escondida em números”, os historiadores passaram a traba-
lhar com nomes, muitos nomes aliás, e o afogamento foi novamente inevitável.
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13
Para acompanhar a trajetória do gênero biográfico na literatura ocidental, in-
dicamos a leitura da obra de Dosse (2009) e Schmidt (2012). O texto de Gio-
vanni Levi, “Os usos da biografia” (2006, p. 167-182), traz uma discussão mais
clara sobre as distintas formas de biografia.
103
KARSBURG, A.; VENDRAME, M. I. • Investigação e formalização
na perspectiva da Micro-História
14
Sobre as sutis diferenças entre biografia e trajetória, foi escrito um pequeno
texto publicado em E-book (KARSBURG, 2015, p. 32-52).
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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KARSBURG, A.; VENDRAME, M. I. • Investigação e formalização
na perspectiva da Micro-História
15
Para se chegar aos dados apresentados na referida tabela foi preciso analisar
grande quantidade de documentos de natureza diversa e provenientes de dife-
rentes agentes históricos, bem como leitura bibliográfica de vanguarda. Para
mais informações, consultar: KARSBURG, 2014.
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Considerações finais
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KARSBURG, A.; VENDRAME, M. I. • Investigação e formalização
na perspectiva da Micro-História
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
16
Carlo Ginzburg, em “O fio e os rastros” (2007), lembra como a narrativa do
romance moderno e do cinema poderiam ensinar o historiador a pensar o en-
quadramento dos seus problemas sobre outras bases. No livro “O Queijo e os
Vermes” (1987), Ginzburg tentava de algum modo incorporar a ideia de que
uma mesma história poderia ser contada de muitos modos, com resultados
cognitivos diferentes. Sabemos que o problema da narrativa não se resolve
apenas como uma questão de “técnica”, mas implica questões epistemológi-
cas mais profundas. A “capacidade literária” de Ginzburg, portanto, não é
apenas uma questão de técnica apropriada, mas está ligada a uma reflexão
mais elaborada que ainda merece novas análises.
109
KARSBURG, A.; VENDRAME, M. I. • Investigação e formalização
na perspectiva da Micro-História
Referências
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(1870/1920). Santa Maria: Editora da UFSM, 2010.
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REIRA, Marieta de Moraes (Org.). Usos e abusos da história oral. 8. ed.
Rio de Janeiro: Editora da FGV, 2006, p. 183-191.
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Universitária, 2002.
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cadas da escravidão na Corte. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
DAVIS, Natalie Zemon. O retorno de Martin Guerre. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1987.
DOSSE, François. O desafio biográfico: Escrever uma vida. Tradução Gil-
son César Cardoso de Souza. São Paulo: Editora da Universidade de
São Paulo, 2009.
FRAGOSO, João L. R. “Afogando em nomes: temas e experiências em
história econômica”. In: Revista Topoi. Rio de Janeiro, dezembro de 2002,
p. 41-70. (http://www.revistatopoi.org/numeros_anteriores/topoi05/
topoi5a2.pdf. Acesso em: 22 dez. 2016).
_____. “Alternativas metodológicas para a história econômica e social:
micro-história italiana, Frederick Barth e a história econômica”. In:
17
O livro de Natalie Zemon Davis, “O Retorno de Martin Guerre” (1987), nos
traz muitos bons exemplos de como o historiador pode usar a imaginação como
suporte para escrever seus textos.
110
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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KARSBURG, A.; VENDRAME, M. I. • Investigação e formalização
na perspectiva da Micro-História
112
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
113
Entre o duque de Caxias
e dois capitães pardos:
escolha biográfica e
escrita da história
Adriana Barreto de Souza
1
Refiro-me ao II Seminário Internacional Micro-História, Trajetórias e Imigração, rea-
lizado na Unisinos entre os dias 7 e 9 de junho de 2016.
114
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
2
Essa reflexão de Marc Bloch me estimulou ainda a escrever um artigo sobre
minha experiência de pesquisa em arquivos militares. Ver: SOUZA, 2009.
3
O convite foi realizado por Benito Bisso Schmidt, a quem agradeço o incentivo
para que enfrentasse o tema. Trata-se do dossiê: Métis: História & Cultura. V. 2,
N. 3 (2003). Disponível em: <http://www.ucs.br/etc/revist as/index.php/me-
tis/issue/view/74/showToc>.
4
O dossiê encontra-se disponível em: <http://www.historiadahistoriografia.com.br/
revista/issue/view/HH9>. Agradeço às organizadoras o convite para participar
do dossiê.
115
SOUZA, A. B. de • Entre o duque de Caxias e dois capitães pardos
5
Integrei a equipe do projeto, coordenado por Celso Castro – CPDOC/FGV. O
resultado foi um livro do mesmo título. Ver: CASTRO, 2002.
116
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
117
SOUZA, A. B. de • Entre o duque de Caxias e dois capitães pardos
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
119
SOUZA, A. B. de • Entre o duque de Caxias e dois capitães pardos
marães. Ele o formulou assim: como escrever uma tese, lugar da-
quilo que é geral, a partir da singularidade de uma vida?
Definir com precisão problemas – várias hipóteses – não
era suficiente para enfrentar o debate que nos anos 1990 se ins-
taurou entre nós a partir de uma matriz predominantemente fran-
cesa. O livro de referência do debate aqui no Brasil é Usos e abusos
da História Oral. E, no interior deste livro, o artigo – hoje clássico
– de Pierre Bourdieu, “A ilusão biográfica”. Há um contexto de
produção deste artigo, um contexto francês, que por questão de
tempo não vou recuperar aqui. Se alguém tiver interesse, tentei
fazer isso no artigo da História da Historiografia (SOUZA, 2012).
O importante, no momento, é destacar que a grande polêmica
posta por este artigo – e pelo debate no qual ele se inscreve – é a
legitimidade de se falar do passado a partir da vida de um indiví-
duo, o que contrariava toda a tradição que fundou o social como
objeto de estudos científicos. Tradição toda ela pautada na com-
provação de nossa capacidade de realizar grandes sínteses, de pro-
duzir análises macroestruturais.
Esta tradição, tanto quanto a reação negativa à incorpora-
ção da biografia e da narrativa pela grande área das ciências so-
ciais, no entanto, é um fato francês. E hoje sabemos que deve ser
entendida nos quadros das intensas disputas políticas que funda-
ram a memória disciplinar naquele país (POMIAN, 1986; GUI-
MARÃES, 2003).
Sabina Loriga, mais recentemente, após examinar a obra
de pensadores que, ao longo do século XIX, procuraram restituir
a dimensão individual da história, afirmou que foi na França que
a biografia ficou mais prejudicada, passando a ser vista como um
dos maiores símbolos da história tradicional, mais interessada na
cronologia que nas estruturas e sistemas analíticos (LORIGA
2010, p. 51). Na verdade, essa avaliação de Loriga expressa a pers-
pectiva de outra tradição historiográfica – a italiana. Ainda em
meio ao caloroso debate francês de fins dos anos 1980, Giovanni
Levi já havia destacado – em artigo publicado nos Annales, três
anos após o de Bourdieu – que em sua feição mais recente o deba-
120
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
121
SOUZA, A. B. de • Entre o duque de Caxias e dois capitães pardos
122
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
6
O projeto intitulava-se: “200 anos de Justiça Militar no Brasil” e foi coordena-
do por Maria Celina D’Araújo, então pesquisadora do CPDOC/FGV. Tratava-
se de uma encomenda do Superior Tribunal Militar (STM) ao CPDOC. O resul-
tado foi um livro coletivo sobre a história do Superior Tribunal Militar – STM.
Mas, apesar de entregue e inteiramente pronto, o livro nunca foi publicado.
123
SOUZA, A. B. de • Entre o duque de Caxias e dois capitães pardos
7
A missão de pesquisa foi realizada entre dezembro de 2015 e março de 2016 na
Universidade de Paris I – Panthéon Sorbonne, sob da supervisão de Annick
Lamperière, com financiamento da FAPERJ. As ideias aqui apresentadas ain-
da precisam ser mais bem fundamentadas, sendo apresentadas aqui como hi-
póteses.
124
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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SOUZA, A. B. de • Entre o duque de Caxias e dois capitães pardos
A guisa de conclusão
126
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
127
SOUZA, A. B. de • Entre o duque de Caxias e dois capitães pardos
Referências
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BLOCH, Marc. Apologia da História ou o ofício do historiador. Rio de Janei-
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Minuit, 2000.
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ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
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FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaina (Org.). Usos & abu-
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GINZBURG, Carlo. O queijo e os vermes. São Paulo: Companhia das Le-
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_____. Itinéraires ouvriers: espaces et groupes sociaux à Turin au début du XXe.
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128
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
129
SOUZA, A. B. de • Entre o duque de Caxias e dois capitães pardos
130
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
A feiticeira do litoral:
comunidade, crença e gênero
(século XIX)
Nikelen Witter
Paulo Roberto Staudt Moreira
131
WITTER, N.; MOREIRA, P. R. S. • A feiticeira do litoral
1
“Qualquer tipo de baile, festa ou divertimento, farra” (BOSSLE, 2003, p. 238).
2
APERS – Cartório Cível e Crime, Comarca de Osório, Caixa 274, maço 13,
Processo 488.
132
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
*****
A presença histórica negra no litoral norte gaúcho é facil-
mente comprovada. Desde o início da conquista efetiva deste es-
paço sob a égide de Portugal, foram estes trabalhadores – a maio-
ria escravizados – as mãos e os pés dos engenhos, fazendas e mes-
mo de muitas das pequenas e médias propriedades. Escavações
arqueológicas feitas no abrigo do Monjolo, um “abrigo sob ro-
cha” localizado em Santo Antonio da Patrulha, revelaram vestí-
gios de ocupações bem mais antigas, datando de cerca de 8.000
anos, por comunidades de caçadores-coletores. No substrato aci-
ma desta ocupação, porém, foram encontradas peças cerâmicas
com “traços bantú”. Tais peças certificam que, onde hoje existe
um santuário de Nossa Senhora da Saúde, viviam no século XVIII
133
WITTER, N.; MOREIRA, P. R. S. • A feiticeira do litoral
População negra
Distritos Total Livres
Libertos Escravizados Total %
Santo Antônio da Patrulha 4.796 3.750 70 976 1.046 21,81
Miraguaia 1.388 1.044 9 335 344 24,79
Conceição do Arroio 3.348 2.341 43 964 1.007 30,07
Maquiné 1.386 982 22 382 404 29,15
Torres 2.765 2.364 49 352 401 14,50
Palmares 1.189 773 49 367 416 34,99
São José do Norte 1.972 1.286 37 649 686 34,79
Estreito 1.019 616 28 375 403 39,55
Mostardas 2.378 1.499 101 778 879 36,97
134
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
3
Neste total não estão computados 193 ausentes e 102 transeuntes.
4
Neste total não estão computados 26 cativos “ausentes”, provavelmente fugidos.
5
Neste total não estão computados 49 ausentes e 119 transeuntes.
6
Neste total não estão computados 6 cativos “ausentes”, provavelmente fugidos.
7
Leia-se por SAP: Santo Antônio da Patrulha; por OSÓ: Osório.
135
WITTER, N.; MOREIRA, P. R. S. • A feiticeira do litoral
8
Sobre a presença negra no litoral norte, ver: SANTOS (2009) e BARCELLOS
(e outros, 2004).
136
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
137
WITTER, N.; MOREIRA, P. R. S. • A feiticeira do litoral
9
Ou concentram. Sabemos que essas figuras ainda estão presentes no mundo
atual. O uso dos verbos no passado pretende apenas não extrapolar nossas con-
clusões para outras épocas que não aquela estudada no artigo.
138
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
10
Ver: WITTER (2000); MOREIRA (2015); WITTER & MOREIRA (2016).
139
WITTER, N.; MOREIRA, P. R. S. • A feiticeira do litoral
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APERS – Cartório Cível e Crime, Comarca de Osório, Caixa 274, maço 14,
Processo 490.
12
ACDO – Livro de Casamentos da Paróquia de Nossa Conceição do Arroio,
1773/1857, folha 137v.
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ACDO – Livro de Óbitos de Pessoas livres de Conceição do Arroio (1842/
1867), folha 76; Livro 3º de Óbitos de Pessoas Livres de Conceição do Arroio,
folha 4.
14
Segundo determinava as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia:
“Porque muitas vezes acontece perigarem as mulheres de parto, e, outrossim,
perigarem as crianças, antes de acabarem de sair do ventre de suas mães, man-
damos ás parteiras que, aparecendo a cabeça, ou outra alguma parte da crian-
ça, posto que seja mão, ou pé, ou dedo, quando tal perigo houver, a batizem na
parte que aparecer, e em tal caso, ainda que aí esteja homem, deve por hones-
tidade batizar a parteira, ou outra mulher que bem o saiba fazer” (VIDE, 2010,
p. 139 e 144).
144
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vivia, não apenas com Onofre, mas com boa parte de sua vizi-
nhança. É possível imaginá-la como uma benzedeira ou ligada a
outras atividades femininas que envolviam curas e o corpo de
mulheres e crianças, em especial. 2º) A inimizade entre Onofre e
Ana Joaquina não parece estar ligada a nenhum dos fatos relata-
dos. Parece mais antiga, sendo os fatos já apontados como decor-
rentes da dita inimizade. Portanto, a atribuição das mortes foi
provavelmente feita a posteriore, na medida em que a tensão entre
os dois vizinhos se aprofundava. Quem sabe a família de Ana
Joaquina não tenha sofrido (tantas) perdas, como a de seu vizi-
nho, fazendo parecer que ela gozava de alguma proteção que ge-
rou a inveja e o rancor dos moradores lindeiros.
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APERS – Juízo Municipal do Termo de Conceição do Arroio, Sumário Cri-
me, Processo Crime, nº 485, maço 14, 1870, Autora: a Justiça, Réu: Onofre
Pereira da Silva e o seu escravo Adão.
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APERS – Cartório de Órfãos e Ausentes, Inventário nº 239, maço 8, 1888,
Conceição do Arroio. Inventariado: João José da Silva, Inventariante: Maria
José Belmud (viúva).
17
Encontramos alguns indícios judiciários que apontam disputas entre vizinhos
naquela comunidade rural; em 1865, Bernardo José Pereira reclamou que Ono-
fre estava fazendo derrubadas (estragando os matos) em suas terras, no lugar de-
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Domingos Antônio de Pinho, o senhor de Manoel Nascimento, era casado
com Clarinda Maria Gertrudes. Ele era filho de Vicente Antônio de Pinho e
Leonarda Teodora do Amor Divino e ela de Inácio Rodrigues da Costa e Ger-
trudes Rodrigues da Costa (ACDO – Livro 6 de Batismos da Conceição do
Arroio de Brancos e Livres, 1856 /1863, folha 180v/181).
20
Malacara: “Animal que tem a testa branca, com uma lista da mesma cor que
desce até o focinho” (NUNES; NUNES, 1992, p. 276).
21
O lavrador Serafim Machado Lopes testemunhou que foi procurar um cavalo
seu “que costuma passar para o potreiro de Domingos Pinho” e que chamou
por Nascimento, “que estava em sua senzala e pedindo-lhe fogo acendeu o
cigarro”. Em um de seus depoimentos, Manoel informa que o escravo Adão
foi algumas vezes até a casa de seu senhor e que numa destas lhe pediu pousa-
da, a que ele teria respondido “que se entendesse com seu senhor, o que feito
este a concedeu”. Como o rancho era nas terras do senhor, onde devia ter uma
pequena roça, Manoel gerenciava aquele seu espaço com autonomia condicio-
nal ou relativa.
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22
APERS – 2º Distrito de São Domingos das Torres, Livro Notarial de Trans-
missões e Notas S/n.º – 1864 a 1885, folha 21r; ARQUIVO PÚBLICO DO
ESTADO DO RS, 2010: p. 427.
151
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Ver: ALVES, 2004; CHARÃO, 2002 e 2004; MOREIRA & MUGGE, 2014;
OLIVEIRA, 2006; TRAMONTINI, 2000; WITT, 2008.
152
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Um turbulento teuto-brasileiro
24
APERS – Cartório da Provedoria de Resíduos da Conceição do Arroio, Comar-
ca de Santo Antônio da Patrulha, Testamento nº 75, 1878; ROSA, 2005, p. 90.
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APERS – Juízo Municipal do termo de Conceição do Arroio, Processo Crime,
nº 544, maço 16, 1876, Autor: João Jacinto de Andrade, Réu: Augusto Kunz.
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Onofre Pereira da Silva também aparece metido nestas questões político-elei-
torais, reclamando ter sido qualificado com o nome errado. O apoio do Juiz de
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Direito a reivindicação de Onofre faz-nos crer que ele era simpatizante dos
conservadores. APERS – Cartório do Civel e Crime, Corpo de delito, nº 856,
maço 32, 1877, Vítimas: Augusto Kunz, Antonio Joaquim Teixeira e Miguel
Antônio Jacques; APERS – Habeas Corpus, nº 881, maço 33, 1877, Pacientes:
Augusto Kunz, Cândido Gomes Ribeiro e João Polidoro de Souza. Em 1870,
Augusto Kunz foi denunciado por ter injuriado o negro José Maria, conhecido
por Adão – chamando-o de ladrão, na casa de negócio do Alferes Antônio
Higino da Silva Freitas. Adão era uruguaio e movia um processo contra a sua
escravização ilegal por Felisbino Rodrigues Saraiva. APERS – Comarca de
Santo Antônio da Patrulha, Caixa 274, processo crime 480.
156
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27
APERS – Tribunal da Relação de Porto Alegre, Processo crime nº 993, Ape-
lante: Onofre Pereira da Silva, Apelada: Ana Joaquina de Oliveira. Data do
processo: 1875, Município: Osório, Comarca de Santo Antônio da Patrulha.
28
Sobre este assunto das “Estruturas de habitação como indicadores de estrutu-
ras sociais”, ver ELIAS (2001).
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No primeiro processo abordado neste artigo, o procurador da queixosa desen-
volve um violento arrazoado contra o réu, procurando demonstrar como ele
era mal visto naquela comunidade pelos maus tratos infligidos a sua família:
“como filho e esposo é o ente mais digno de excomunhão de Deus e dos ho-
mens, por que a sua desditosa mãe, na avançada idade de oitenta e tantos anos,
sucumbiu pela fome e serviu de pasto aos animais, que a devoraram no sertão,
onde se entranhou em consequência do abandono do apelante e outros filhos,
que a expulsaram fora de casa”.
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Bichará: “Tecido de lã grossa. O poncho ou cobertor feito dessa lã, com lis-
tras brancas e pretas ao comprido” (BOSSLE, 2003, 77/78). Durante a guer-
ra civil que assolou a província de 1835 a 1845 o comandante interino das
armas, João Manoel de Lima e Silva, em 8 de outubro de 1836, mandou que
os seus subordinados em Pelotas reunissem toda a lã e os teares que encon-
trassem nas vizinhanças e se dedicassem com afinco a fatura de ponchos bi-
chará. Os ponchos deveriam ser de uma cor só, usada a tintura feita da erva
da pedra, que era um líquen de cor cinza-avermelhada (ARQUIVO HISTÓ-
RICO DO RS, 2014, p. 374).
31
Enxergão: “Xairel de lã que se coloca sobre o lombo do cavalo, por baixo dos
arreios. O mesmo que baixeiro” (NUNES, 1992, p. 167). Nos inventários post-
mortem de Porto Alegre do período, acessados em função de outro projeto de
pesquisa, encontramos vários teares, avaliados entre 600 réis (um bem velho) e
11 mil réis. Em um inventário de 1862, que arrola os bens de uma propriedade
rural localizada no distrito sul de Viamão, encontramos um “tear de fazer enxer-
gões” (APERS – 2ª Vara de Família e Sucessão, Cx 004.1447, auto 273 – 1862;
APERS – 2ª Vara de Familia e Sucessão, Cx 004.1447, auto 279, 1863; APERS
– 2ª Vara de Família e Sucessão, Cx 004.1443, auto 219, 1859, Porto Alegre;
APERS – 2ª Vara de Familia e Sucessão, Cx 004.1442, auto 204, 1856; APERS
– 2ª Vara de Familia e Sucessão, Cx 004.1439, auto 159, Gravatai, 1857; APERS
– 2ª Vara de Familia e Sucessão, Cx 004.1441, auto 186; APERS – 2ª Vara de
Familia e Sucessão, Cx 004.1436, auto 132, 1856, Viamão, distrito Norte).
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Conclusões
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Abreviaturas
Referências
ALVES, Eliege. Presentes e Invisíveis – Escravos em Terras de Alemães.
São Leopoldo 1850-1870. São Leopoldo, Unisinos, 2004. [Dissertação
de Mestrado].
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1898. São Leopoldo: Editora da Unisinos, 2003.
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me 20). São Leopoldo: Oikos, 2014.
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Sul. Porto Alegre: Companhia Riograndense de Artes Gráficas (CO-
RAG), 2010 (Coordenação Jovani de Souza Scherer e Márcia Medeiros
da Rocha).
BARCELLOS, Daisy M.; CHAGAS, Miriam de Fátima, FERNANDES,
Mariana Balen; FUJIMOTO, Nina Simone; MOREIRA, Paulo Roberto
Staudt; MÜLLER, Cíntia Beatriz; VIANNA, Marcelo; WEIMER, Ro-
drigo de Azevedo. Comunidade negra de Morro Alto. Historicidade, identida-
de e direitos constitucionais. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004.
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Arqueologia do Sagrado:
crenças, histórias e mitos do Cariri
Edianne Nobre
Dizem que quem bebe da água do Cariri não sai mais de lá,
cai no feitiço das águas doces da Chapada do Araripe. Conhecida
principalmente pela riqueza de sua vegetação, terra fértil e suas
inúmeras fontes de água mineral, a região do Cariri – ou Vale do
Cariri, que compreende a Serra do Araripe e os afluentes dos rios
Jaguaribe e Piranhas – destaca-se por ter uma geografia distinta
das outras regiões do Ceará.
Viajantes e estudiosos da história local sempre chegaram
ao consenso, em suas narrativas, que a região se apresentava como
um alento diante do clima hostil predominante nas regiões vizi-
nhas. Um dos primeiros relatos conhecidos sobre o Vale é do pa-
dre e geógrafo português Manoel Aires de Casal que em sua Coro-
grafia Brasílica, publicada em 1817, afirmava:
Todas as árvores frutíferas do continente prosperam no fértil
terreno do seu distrito, onde se aproveitam as águas correntes
para regar as lavouras, sem excetuar os mandiocais, quando
lhes faltam as chuvas: razão por que se recolhe superabundân-
cia de mantimentos, que são o recurso de outros povos, quan-
do os anos secos experimentam carestia (CASAL, 1947, p. 231).
1
Destacamos que fizemos a correção ortográfica das citações de livros fac-sími-
les, bem como de todas as fontes documentais utilizadas neste trabalho a fim de
facilitar a leitura. Os periódicos citados foram pesquisados no acervo hemero-
gráfico da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro entre 2010 e 2011. Todas as
citações bíblicas foram retiradas da Bíblia de Jerusalém, São Paulo: Paulus, 2002.
167
NOBRE, E. • Arqueologia do Sagrado: crenças, histórias e mitos do Cariri
2
Cf. Concepção de “imaginário social” formulada por Baczko (1985, p. 309):
Por um lado, trata-se da orientação da atividade imaginativa em direção ao
social, isto é, a produção de representações da ordem social, dos atores sociais
e das suas relações recíprocas (hierarquia, dominação, obediência, conflito, etc.),
bem como das instituições sociais, em particular as que dizem respeito ao exer-
cício do poder, as imagens do chefe, etc. Por outro lado, o mesmo adjetivo
designa a participação da atividade imaginativa individual num fenômeno co-
letivo, indicando que todas as épocas produzem modos próprios de imaginar,
reproduzir e renovar o imaginário.
3
Cf. Concepção de arqueologia em Michel Foucault, como método de análise de
práticas discursivas: “[...] a arqueologia [...] Não é nada além e nada diferente
de uma reescrita: isto é, na forma mantida da exterioridade, uma transforma-
ção regulada do que já foi escrito. Não é o retorno ao próprio segredo da ori-
gem; é a descrição sistemática de um discurso-objeto” (2008, p. 158).
4
Referimo-nos ao conceito proposto por Merleau-Ponty, segundo o qual o espaço
não é um meio “real e lógico” sobre o qual estão dispostas as coisas, mas antes:
“[...] o meio pelo qual é possível a disposição das coisas. No lugar de pensarmos
o espaço como uma espécie de éter onde todas as coisas estariam imersas, deve-
mos concebê-lo como o poder universal de suas conexões” (1999, p. 328).
168
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
5
Rotura quer dizer: “uma abertura da comunicação entre os níveis cósmicos
(entre o Céu e a Terra) possibilitando a passagem, de ordem ontológica, de um
modo de ser [profano] ao outro [sagrado]” (ELIADE, 2001, p. 59).
6
A ordem dos Capuchinhos surgiu na Itália em 1525, como um terceiro ramo da
Ordem dos Franciscanos. O primeiro aldeamento teria sido o de São José dos
169
NOBRE, E. • Arqueologia do Sagrado: crenças, histórias e mitos do Cariri
Cariris Novos, atual Missão Velha no início do século XVIII (BRASIL, 1863,
p. 258; PINHEIRO, 1963, p. 18).
7
Thomaz Pompeu de Sousa Brasil (1863) e Irineu Pinheiro (1963) destacam a
vinda da Companhia de Jesus para o Ceará – litoral e serra da Ibiapaba – já nos
primeiros anos do século XVII, entre 1605 e 1608.
170
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
8
Canonicamente, as denominações “Igreja” e “Capela” tem sentido hierárqui-
co. A Capela, geralmente possui somente um altar e não tem sacerdote fixo,
recebendo os padres itinerantes enviados pela paróquia local. A Igreja, por sua
vez, comporta uma paróquia com um Vigário ou Pároco responsável pela sua
administração.
171
NOBRE, E. • Arqueologia do Sagrado: crenças, histórias e mitos do Cariri
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Não podemos desconsiderar também uma possível influência dos ritos indíge-
nas, uma vez que na região habitavam as tribos Kariris. Infelizmente é difícil
rastrear possíveis heranças das práticas e rituais peculiares destes, uma vez que
não há documentação que registre a catequese dos índios na região (os relatos
são de memorialistas que se basearam em Cartas de Sesmarias). Um dos moti-
vos da inexistência de tal documentação foi a expulsão e o aniquilamento dos
indígenas pelos colonos que povoaram a região com suas fazendas de gado. O
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Chefe da seção botânica, Freire Alemão tinha como missão coletar exempla-
res da flora brasileira e embora a expedição não tenha concluído sua missão,
os relatos deixados por ele em sua passagem pelo estado cearense interessam
pela riqueza de detalhes sobre o cotidiano local. É importante ressaltar que o
Ceará foi escolhido como ponto de partida para o início da missão, embora,
não se saiba bem ao certo os motivos dessa decisão, é possível que uma das
razões fosse a grande variação geográfica e climática da província.
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Entendo por espetáculo a trama de tensões e conflitos que se estabelecem nas
relações de poder entre os personagens de um enredo: “um jogo encenado –
recurso destinado a produzir efeitos que se comparam às ilusões criadas pelo
teatro” (SOUZA, 2007, p. 23).
180
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Disciplinas eram chicotes de couro com pontas cortantes utilizados pelos pe-
nitentes nos rituais de autoflagelação.
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Por outra passagem do relato de Bernardino Gomes, é possível entender que
as “pontas de vestidos” eram os vestidos curtos, sem mangas e/ou decotados,
isto é, um vestido incompleto e por sua vez, indecente. Segundo Carvalho,
essa prática era uma tradição antiga, herdada por Ibiapina de outros missioná-
rios e “pretendia erradicar a embriaguez, a prostituição, a ociosidade e a de-
sordem” (2008, p. 49).
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Nesse sonho, ocorrido em 30 de agosto de 1883, Dom Bosco é guiado por um
jovem até a América do Sul, chegando aos paralelos 15° e 20° que se localiza-
vam em um extenso planalto com um imenso lago.
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A entronização do Sagrado Coração de Jesus é uma prática católica que nas-
ceu na região do Cariri, na qual se inaugura uma casa com a colocação da
imagem do Sagrado Coração na sala principal, daí o verbo entronizar de “colo-
car no trono”. O rito possui orações, cantos e geralmente é feito por uma reza-
deira, uma leiga da comunidade local que dirige os ritos e cantos da ocasião.
189
NOBRE, E. • Arqueologia do Sagrado: crenças, histórias e mitos do Cariri
Referências
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190
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SOUZA, Ana Guiomar Rêgo. Paixões em cena: a Semana Santa na cidade
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191
NOBRE, E. • Arqueologia do Sagrado: crenças, histórias e mitos do Cariri
192
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Parte III
Contribuições da
Micro-História para
o estudo das e/imigrações
193
Storia e Microstoria
al tempo di internet
Emilio Franzina
1
Nel sito “htt://www.tuttogenealogia.it” alla voce “Per le mie ricerche -
Emigrazione e arruolamento per la Prima Guerra Mondiale” (ultima
consultazione di chi scrive del 3 marzo 2016).
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
d’italiani, sulla carta classe 1895 e venuto lui pure dal Brasile,
oltre ad aver condiviso con quello paulista non meglio identificato
l’esperienza dell’arruolamento nel regio esercito, aveva lasciato
scritte le proprie memorie di un anno di guerra sul fronte
dell’Isonzo: si chiamava Olyntho Sanmartin, figlio di emigranti
veneti stabilitisi sul finire dell’Ottocento a Santa Maria da Boca
do Monte (RS), che, per potersi avvalere delle agevolazioni fatte
per il viaggio transatlantico dalle autorità consolari “regnicole” a
chi avesse risposto positivamente alla chiamate alle armi, aveva
barato nel 1915 sulla propria data di nascita (30 dicembre 1895)
aggiungendosi un anno di età per venire a combattere in Italia
(SANMARTIN, 1957). Olyntho scelse con ogni probabilità di
partire perchè animato da sete d’avventura e forse anche perchè
imbevuto di idee desunte dalla cultura tipica del patriottismo
risorgimentale italiano che tuttavia abbandonò o cambiò in fretta
a contatto con la cruda realtà del fronte dove la sua maggior
preoccupazione divenne ben presto quella di dover condividere,
semmai, lo sgomento e l’orrore per la guerra con altri “volontari”
arrivati al pari di lui in Italia dal Brasile. Riformato per propria
fortuna e ritornato dopo un anno e mezzo nel Rio Grande do Sul
egli vi rimase sino alla fine dei suoi giorni professando sempre un
attaccamento, definito dal suo amico e biografo Moacyr Flores
“quasi morboso”, alla terra natale e in particolare a Santa Maria
da Boca do Monte.
Alla figura di Sanmartin ho già dedicato anch’io qualche
attenzione altrove, ma per saperne di più sul suo conto varrà la
pena di riferirsi, per il momento, alle indicazioni fornite oltre
quarant’anni fa appunto da Moacyr Flores (1975) nell’ambito di
una rivisitazione personale e un po’ anche di storia locale. Una
cosa però è certa: a patto che si presupponga e si individui con
nettezza un problema storico (qui, per me, la questione del
coinvolgimento nella grande guerra di singoli e di comunità
immigratorie in Sud America fra il 1914 e il 1918) ovvero un
problema a cui si ritenga utile e significativo trovare soluzione e
dare una risposta, persino da una singola storia di vita, meglio se
195
FRANZINA, E. • Storia e Microstoria al tempo di internet
196
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
2
Potrebbero provarlo anche le sviste (poichè solo di sviste probabilmente si tratta)
dell’anziana discendente di uno dei pochi scrittori applicatisi in chiave
propagandistica durante e subito dopo la fine del conflitto alla descrizione del
contributo civile e “militare” offerto dagli “italiani del Brasile” alla “epopea”
guerresca del ’15-’18. Alfredo Cusano, questo il suo nome, era stato attivo
soprattutto a San Paolo segnalandosi in veste di pubblicista con opere come Italia
d’oltre mare: impressioni e ricordi dei miei cinque anni di Brasile, Milano, Stab. tipogr.
Reggiani, 1911 - Commercio ed emigrazione italiana al Brasile, Milano, Tip. Concordia,
1913 - La più grande guerra d’Italia., San Paolo, 1917 (São. Paulo, Typ. Paulista) - Il
paese dell’avvenire: Rio Grande del Sud. Roma, Buenos Aires ,San Paolo, Editrice
L’italo-sudamericana, 1920, ma soprattutto come autore dell’importante libro
panoramico sulle vicende che qui più ci interessano ovvero Il Brasile, gl’italiani e la
guerra (ivi, 1921). Ed ecco come, fattasi internauta e superati da poco i settant’anni,
ne discorre sua nipote Anna Chaim in Meu avô Alfredo Cusano (Arquivo da tag:
Il Brasile gli italiani e la guerra – Primeira geração, publicado em janeiro 3, 2012,
por Renata Chaim, https://vovofazia.wordpress.com/tag, ultima consultazione 4
aprile 2016): “Quando do falecimento de meu avô 1942 minha mãeestava me
preparando há quase nove meses. Mas a morte nãoespera e lá fui eu de canguru
na barriga da mamãe de teco teco de Marília [piccolo comune nella mesoregione
omonima di San Paolo] até São Paulo. Sobrevivi é obvio mas a emoção ficou
registrada no meu DNA. Dascoisa importantes que lembrodel eé queele escreveu
um livro queh oje é considerado raro. Seu título “Il Brasile, Gli italiani e la Guerra”
1919 . Esse livro retrata a vinda de imigrantes italianos para o Brasil depois da
segunda grande guerra [sic].”
197
FRANZINA, E. • Storia e Microstoria al tempo di internet
3
Cito dalla edizione italiana di quattro anni dopo: Peter Englund (2012).
198
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
199
FRANZINA, E. • Storia e Microstoria al tempo di internet
200
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
4
Una buona guida al riguardo è ancora quella offerta da un quotato storico
americano del fascismo come Roger A. Griffin curatore del libro on line Using
the Internet as a resource for historical research and writing, Austin 1999, URL: <http:/
/www.austincc.edu/history/inres04prm.html> [consultato il 20 aprile 2016].
201
FRANZINA, E. • Storia e Microstoria al tempo di internet
5
Titolo della conferenza da lui tenuta di fronte a un pubblico di oltre mille persone
in chiusura della quarta edizione del seminario Fronteiras do Pensamento (Porto
Alegre 29 novembre 2010, ora disponibile in video audio sub https://www.youtube.com/
watch?v=CqxP9taRUvA).
6
Attiva sino al 2013 presso l’Università Federale di Sergipe Anita Lucchesi
gestisce questo vivace blog di cui si può confrontare qualche esempio recente in
URL: https://historiografianarede.wordpress.com/tag/anita-lucchesi/
202
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
7
TROILO, Matteo. Il digitale che diventa archivio. Le fonti on-line per la storia economica
italiana. In: Diacronie. Studi di Storia Contemporanea: Digital History: la storia nell’era
dell’accesso”, 29/6/2012, URL: <http://www.studistorici.com/2012/06/29/
troilo_numero_10/>.
203
FRANZINA, E. • Storia e Microstoria al tempo di internet
8
Sulle postmemorie dei nipoti o dei pronipoti di coloro che vissero la grande
guerra in prima persona e sui ricordi più significativi, anche per questa via, del
primo conflitto mondiale (CASELLATO, 2016).
9
É, questa, fra le altre, la tesi sostenuta dal sociologo belga canadese Derrick De
Kerckhove (2016).
10
E provvisoriamente intitolato Tra due patrie. La grande guerra degli immigrati italo-
brasiliani (1914-1918), previsto in uscita a Belo Horizonte (MG) nel febbraio del
2017.
204
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
discendenti (quasi 400 dal solo Rio Grande do Sul), talvolta magari
gli stessi che in anni non lontani, all’inizio del Novecento, avevano
dato vita a proteste e a piccole sollevazioni in alcuni centri rurali
proprio per non obbedire all’obbligo di leva brasiliano adducendo
a giustificazione del proprio gesto il fatto d’essere italiani o figli
di italiani (VENDRAME, 2015, p. 31).
Non si può escludere che qualcuno di loro, che aveva
manifestato allora contro una coscrizione sulla carta già
obbligatoria al grido di “Viva l’Italia”, abbia più tardi partecipato
alla grande guerra, inizialmente come Sanmartin di buon grado,
militando nelle file del regio esercito in forza di un arruolamento
volontario e non necessitato almeno sin tanto che le gerarchie
militari brasiliane (SODRÉ, 1965, p. 198-99; BEATTIE, 2001) e
gli accordi un po’ tardivi stretti fra i due paesi alleati (le due patrie
italiana e brasiliana) non lo avessero reso tale e cioè reciproco
anche per il Brasile, ma del tutto in extremis a poche settimane
dalla conclusione del conflitto come si vide succedere nel settembre
del 1918 a San Paolo allorchè il Comandante della 6^ Regione
Militare di quello Stato decise di opporsi con successo alla partenza
per la guerra in Europa (dal 1917 appunto condivisa dagli USA e
dal Brasile) dell’ennesimo riservista italiano intenzionato a
raggiungere i campi di battaglia del Veneto:
Il Generale Luiz Barbedo – informava il “Fanfulla” – ha
impedito la partenza per l’Europa, quale volontario
dell’esercito italiano, al giovane Américo Umberto Matina,
nativo di Pedreira in questo Stato. Matina, che non ha ancora
compiuto i vent’anni, è stato compreso nel sorteggio di
quest’annoe deve servire nell’esercito brasiliano. Il Gen.
Barbedo ha comunicato questa decisione al R. Console
Generale d’Italia in San Paolo e al Delegato generale di polizia
perchè provveda ad impedire la partenza del Matina.11
11
La partenza di un riservista di San Paolo impedita dal Comandante la 6^ Regione
militare, in “Fanfulla” 11 settembre 1918.
205
FRANZINA, E. • Storia e Microstoria al tempo di internet
206
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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TROILO, Matteo. Il digitale che diventa archivio. Le fonti on-line per la storia
209
FRANZINA, E. • Storia e Microstoria al tempo di internet
210
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
1
O estudo da emigração/imigração entre Portugal e o Brasil tem sido objeto de
minhas pesquisas desde o início dos anos 2000. No âmbito do projeto “A imi-
gração invisível: Portugueses no Brasil independente” (2005), financiado pelo
CNPq e desenvolvido em parceria com Oswaldo Truzzi (UFSCar), foi analisa-
do o caso da Colônia da Nova Lousã. Atualmente este estudo está sendo reto-
mado, integrando o projeto “Percursos Histórico-Sociais na Incorporação de
Imigrantes no Oeste Paulista (1880-1950)”, coordenado por Oswaldo Truzzi e
financiado pela FAPESP.
2
Palestra de abertura proferida no Seminário Micro-história, trajetórias e imi-
gração, em 28 de outubro de 2014, publicada em 2015, conforme referência
citada ao final deste texto.
211
SCOTT, A. S. V. • “Entre idas e vindas”: a contribuição da Micro-História...
212
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
3
Para uma análise mais aprofundada da relação entre sistemas familiares no
noroeste português veja Scott, 2012, p. 55-69.
213
SCOTT, A. S. V. • “Entre idas e vindas”: a contribuição da Micro-História...
4
Entre os estudos que analisam com profundidade o perfil dos emigrantes da região
noroeste de Portugal, destacam-se trabalhos de Henrique Rodrigues (1995 e 2003).
214
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
5
O estudo de Miguel Monteiro sobre a região de Fafe (concelho situado no Baixo
Minho) analisa com detalhes as diferenças entre os padrões de emigração para o
Brasil e a migração interna sazonal no território português. Veja Monteiro, 1998.
215
SCOTT, A. S. V. • “Entre idas e vindas”: a contribuição da Micro-História...
6
Para mais informações sobre os portugueses em São Paulo, veja-se SCOTT, 2000.
216
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
217
SCOTT, A. S. V. • “Entre idas e vindas”: a contribuição da Micro-História...
7
Os dados estão disponíveis na S. Manuscritos – Fundo da Secretaria da Agri-
cultura e Abastecimento. Inspetoria de Imigração no Porto de Santos. Nº de
Ordem C09824 – Movimento Migratório (1907-1911).
218
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
219
SCOTT, A. S. V. • “Entre idas e vindas”: a contribuição da Micro-História...
8
Estudo fundamental sobre a emigração de lousanenses para os Estados Unidos
foi feito por Paulo F. Monteiro (1985).
220
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
9
Para uma discussão mais aprofundada da relação estabelecida entre proprietá-
rios e empregados da fazenda, veja (Truzzi e Scott, 2005; Scott e Truzzi, 2008).
10
Montenegro, João Elisário de Carvalho. Colônias Nova-Louzã e Nova Co-
lômbia. Relatório apresentado ao Exmo. Sr. Dr. Presidente da Província de
São Paulo. 06 de fevereiro de 1875. São Paulo: Typ. da Província de São Pau-
lo, 1875.
221
SCOTT, A. S. V. • “Entre idas e vindas”: a contribuição da Micro-História...
222
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
11
Algumas dessas trajetórias foram apresentadas inicialmente em Truzzi e Volpi
Scott, 2006/7.
223
SCOTT, A. S. V. • “Entre idas e vindas”: a contribuição da Micro-História...
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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SCOTT, A. S. V. • “Entre idas e vindas”: a contribuição da Micro-História...
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SCOTT, A. S. V. • “Entre idas e vindas”: a contribuição da Micro-História...
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SCOTT, A. S. V. • “Entre idas e vindas”: a contribuição da Micro-História...
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Considerações finais
231
SCOTT, A. S. V. • “Entre idas e vindas”: a contribuição da Micro-História...
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RODRIGUES, Henrique. Emigração e alfabetização. O Alto Minho e a Mira-
gem do Brasil. Viana do Castelo: Governo Civil de Viana do Castela, 1995.
232
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
233
Parentela y paisanaje en
la emigración zamorana a la
Argentina a comienzos del siglo XX
Alejandro Fernández
Introducción
234
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
1
Ver al respecto las observaciones de Devoto (1996, p. 479-505).
235
FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
2
Los resultados de esa convocatoria fueron dados a conocer en las siguientes
publicaciones: BLANCO RODRÍGUEZ; BRAGADO TORANZO (2007:
2009a: 2009b), BLANCO RODRÍGUEZ; BRAGADO TORANZO;
DACOSTA MARTÍNEZ (2011), BLANCO RODRÍGUEZ; BRAGADO
TORANZO; DACOSTA MARTÍNEZ; ESPADA RODRIGO (2012).
236
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
237
FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
3
Para una reflexión sobre la importancia de este tipo de documentación referida
a los sectores subalternos de la sociedad, en particular en el caso español
(CASTILLO, GÓMEZ, 2001, p. 9-34).
238
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
en otros, sin que sea posible repreguntar sobre los primeros, como
acontece en las entrevistas. En nuestro caso, por ejemplo, la
función de las remesas durante la etapa en que los emigrantes
seguían contando con familiares en la tierra de origen, sea que
mediante aquéllas colaboraran para que algunos de estos últimos
se sumaran al cruce transoceánico o para pagar las deudas
acumuladas en la explotación doméstica, se encuentra poco
mencionada en las memorias, mientras que cobran una
importancia mucho mayor los sucesivos pasos que permitieron la
integración del individuo en el país de destino y eventualmente
su ascenso social (obtención de nuevos empleos, paso por la escuela
argentina entre quienes arribaron siendo niños, mudanzas a otras
ciudades, incorporación a instituciones de la sociedad receptora,
matrimonio, nacimiento y educación de los hijos). No obstante,
sabemos por otras fuentes escritas, como las cartas, que la cuestión
de las remesas y su destino solía ocupar un lugar central en los
intercambios familiares durante coyunturas como la recién
mencionada (MARTÍNEZ MARTÍN, 2011, p.123-146).
Asimismo, las autobiografías suelen hallarse permeadas por
la experiencia del emigrante en el país receptor y por el éxito -o
falta de éxito- del proceso de adaptación y de incorporación de
los valores vigentes en este último, incluso si en algunos casos
están en contraste con los del país de origen (COTA FAGUNDAS,
2010, p.11-28).4 En los documentos que emplearemos, la escritura
corresponde a veces a los hijos de los inmigrantes, que recogen
los relatos orales de las historias de vida de sus padres y en cierto
modo retransmiten esos valores que asocian con la Argentina,
tales como la vigencia de las libertades civiles, las posibilidades
de movilidad social, la diversidad de su población, la ausencia de
rígidas jerarquías y, en algunos casos, el republicanismo.
4
Nuevamente, podemos mencionar aquí que se trata de una cuestión que suele
plantearse también en las entrevistas, pero que puede ser matizada o corregida
a través de nuevas preguntas por parte del investigador.
239
FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
240
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
241
FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
5
Basándose en actas de registro civil, Patricia Marenghi ha mostrado que las
provincias españolas con mayor presencia en el territorio de La Pampa entre
1900 y 1930 eran Salamanca, León y Zamora, lo que estaría en consonancia
con el momento relativamente tardío en que se produjo la colonización de la
región (MARENGHI, 2003, p. 135-204).
6
Los partes consulares eran expedientes que correspondían a cada viaje de los
buques que transportaban emigrantes a la Argentina, compilados en el momento
en que arribaban al puerto de Buenos Aires. Incluían, entre otra documentación,
las listas de emigrantes embarcados en cada puerto de escala, elaboradas en el
consulado argentino que correspondía al mismo. Como se trata de listas que en
muchos casos incluyen la localidad de nacimiento del emigrante -a diferencia
de los libros de desembarco-, resultan de gran utilidad para los estudios de escala
local, comarcal o regional (BERMASCONI, 1995, p. 191-201).
242
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
243
FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
7
Carina Frid (1996, p. 522-527) ha demostrado que el movimiento estacional de
albañiles italianos y de otros trabajadores afines presentaba hacia 1910 una
notable adherencia respecto del movimiento total de los emigrantes de ese origen,
tendiendo a concentrarse en los mismos meses que estamos señalando aquí.
8
El procedimiento que empleamos consiste en computar la cantidad de
emigrantes zamoranos según localidades de origen, teniendo en cuenta la
totalidad de los barcos arribados a Buenos Aires entre el 1 de enero de 1910 y el
31 de diciembre de 1912, tal como se desprende de los partes consulares. A
continuación hemos confrontado los totales por localidad con la población que
cada una de ellas había registrado en el censo de 1910, a los efectos de calcular
el índice de emigración. Desde luego, este último no es un índice de emigración
total, sino a la Argentina, dada la fuente empleada. Más detalles metodológicos
en Fernández (2008, p.565-593).
244
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
245
FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
246
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
11
Podría también señalarse una cuarta causa, que no solamente incluía a Zamora,
sino en general a España, y es que la revaluación de la peseta, derivada de las
reformas financieras emprendidas por el Estado luego de la guerra de Cuba,
hizo que los pasajes transatlánticos resultaran más baratos en términos de la
moneda propia. Sobre este punto cf. Sánchez (2000, p. 309-330). Sin embargo,
se trata de un factor que facilitó el proceso emigratorio, pero que sin dudas no
fue el que lo desencadenó.
247
FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
12
Ver al respecto las reflexiones de uno de los principales representantes del
regeneracionismo castellano de comienzos del siglo XX Senador Gómez (1992,
p. 229-267).
248
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
13
Sobre este fenómeno tradicional en la segunda comarca (FUENTES GANZO,
2005, p. 618-619).
14
Sobre el caso de Valladolid, Instituto de Reformas Sociales, Memoria acerca de
la información agraria en ambas Castillas, Madrid, Editorial de la Sucesora de
Minuesa de los Ríos, 1904, p. 135 y ss.; sobre el de Málaga (Andalucía) (MOYA,
2004, p. 86-88).
249
FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
15
Archivo Histórico Provincial de Zamora, Repartimientos individuales de la
contribución rústica y pecuaria en términos municipales de la provincia (1912),
Legajos 371-A, 372-A, 384-A y 391-A.
16
Es posible que en Santa María de Valverde la proporción de esas tierras comunes
fuese mayor que en las otras tres localidades, ya que el resto de las propiedades
representa un monto menor. Esto sería consistente con la orientación más
ganadera de ese pueblo, pero se trata de una conjetura imposible de demostrar
ya que la fuente no incluía en este renglón en particular una estimación de lo
que se debería haber tributado.
250
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
251
FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
252
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
17
Por ejemplo en Simón Prieto (2009a, p. 385-395) y D’Amato Rodríguez (2011,
p. 25-56).
253
FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
18
De hecho, el principal contacto con la colectividad que mantenía, luego de
más de veinte años de arribar al país, es como integrante del consejo directivo
de la Cámara Española de Comercio de Buenos Aires, pero su acceso a la
misma se basa en la posición que para entonces tenía como gerente o contador
de empresas.
254
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
255
FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
19
Se podría agregar una cuarta evidencia, que tiene menos relación con el
argumento que estamos desarrollando en esta parte, y es la de los reiterados
encuentros de los padres de Julio con conocidos zamoranos que habían
regresado provisoria o definitivamente a España luego de haber vivido en
Argentina, sea que tales encuentros tuvieran lugar en la propia ciudad de
Zamora, en Sanabria, en Madrid o en Vigo, donde estuvieron parando los
últimos días antes de embarcar de nuevo hacia Buenos Aires. Esto demostraría
la fluidez de los contactos entre Zamora y Argentina que hacia 1929 había
generado la emigración.
256
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
257
FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
20
Véase por ejemplo Poyo García (2009a, p.129-138 y 239-260).
258
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
21
“Don Crespo, historia de un zamorano de Muga de Sayago”, en Blanco
Rodríguez (2012, p. 291-312, 296-302).
259
FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
22
Entrevista con Pedro Delgado, Buenos Aires, 11 de agosto de 2003.
23
Entrevista con Paula Fradejas, Benegiles, 6 de junio de 2005. En esa trayectoria
Mariano alternaba trabajos agrícolas estacionales con otros más permanentes
como albañil y alfarero en centros urbanos. Una trayectoria similar, si bien no
rematada por el retorno, es la de Miguel Rodríguez, de Fonfría (Aliste). Entre
1904, año de arribo a la Argentina, y 1914, en que Miguel, recién casado, logra
un trabajo estable como cochero en Mar del Plata, alternó la ocupación de
jornalero agrícola y varias otras urbanas, incluso en Paraguay (RODRÍGUEZ,
2009a, p. 335-341).
261
FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
Conclusiones
Zamora es un ejemplo de la gran difusión que alcanzó la
emigración a Argentina dentro de la península ibérica a comienzos
del siglo XX, cuando la economía del país receptor vivía su fase de
crecimiento más rápido y la del país emisor afrontaba serias
dificultades, sobre todo para su sector agropecuario. De hecho, se
trata de la provincia en la que el índice emigratorio respecto de la
población pre-existente más se incrementó entre finales de la década
de 1880 y comienzos de la de 1910. Según hemos comprobado,
alrededor del sesenta por ciento de los pueblos zamoranos figuran
en las listas de emigrantes contenidas en los partes consulares
confeccionados en la Argentina entre 1910 y 1912. Semejante
situación, que según la teoría normalmente corresponde a ejemplos
de emigración con una tradición mucho más prolongada,
determinó que en un puñado de años Zamora quedara más
asociada a la Argentina a través de la emigración que, en términos
relativos, casi cualquier otra provincia del reino.
El grupo social más característico que participó de este
proceso emigratorio fue el de los pequeños propietarios, sobre todo
si se dedicaban a la vitivinicultura como actividad principal,
aunque también quienes se especializaban en los cereales y en la
ganadería vacuna se vieron muy involucrados. En cambio, al igual
que lo que ocurrió en otras regiones españolas, los braceros sin
tierras quedaron excluidos, alcanzando por el contrario el
24
Entrevista con Juan José Moreno, Buenos Aires, 12 de marzo de 2007.
262
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
263
FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
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castellana y leonês. Zamora, Junta de Castilla y León-UNED Zamora, 2011.
264
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
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FERNÁNDEZ, A. • Parentela y paisanaje en la emigración zamorana
a la Argentina a comienzos del siglo XX
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Introducción
269
CEVA, M. • Inmigración y familia. Una mirada desde las redes
de inmigrantes italianos em la Argentina
270
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
1
Ciertamente, existe toda una discusión en torno al tema de comunidades
emocionales, por ejemplo si una persona puede pertenecer a más de una
comunidad, cómo se analiza el intercambio o la pertenencia a diferentes
comunidades, si existe una excesiva identificación entre “comunidades
emocionales” y “comunidades sociales” (familias, monasterios, cortes principescas).
Pero como ha señalado Zaragoza el gran mérito de la aproximación de
Rosenwein, donde las comunidades son pequeñas, cerradas y homogéneas en
su composición, consiste en resaltar el papel social de las emociones como
creadoras de comunidades. En nuestro caso contribuye a reforzar la idea de
relación íntima y afectiva y no sólo corporal entre los migrantes.
271
CEVA, M. • Inmigración y familia. Una mirada desde las redes
de inmigrantes italianos em la Argentina
2
Una síntesis de los avances registrados en Devoto (2005); también la revista
Estudios Migratorios Latinoamericanos.
272
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
3
Sobre estudios desde la correspodencia de los inmigrantes para el caso argentino,
Baily y F. Ramella (1988), E. Franzina (1979); E. Ciafardo (1991); M. Ceva
(2005); H. Otero (2006).
4
Sobre la metodología utilizada para la selección e identificación del grupo Cfr.
M. Ceva (2005).
273
CEVA, M. • Inmigración y familia. Una mirada desde las redes
de inmigrantes italianos em la Argentina
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
275
CEVA, M. • Inmigración y familia. Una mirada desde las redes
de inmigrantes italianos em la Argentina
276
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
5
A través de las entrevistas no logramos identificar a que se refieren con “pequeña
parcela de tierra”.
6
Entrevista a Liliana G., Buenos Aires, febrero 2016.
277
CEVA, M. • Inmigración y familia. Una mirada desde las redes
de inmigrantes italianos em la Argentina
278
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
7
La casa lleva el nombre de María Mazzarello como homenaje a la cofundadora
del Instituto, originaria de Mornés, en la campiña italiana.
279
CEVA, M. • Inmigración y familia. Una mirada desde las redes
de inmigrantes italianos em la Argentina
8
La utilización de “sentiers invisibles” es desarrollada por Rosental (1999).
280
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
9
Numerosos son los trabajos que buscan analizar los complejos procesos que se
generan en torno a la memoria familiar, la mayoría de ellos bregan en los estudios
pioneros de M. Halbwachs (1994) sobre como pensar lo social en los procesos
de memoria. Una excelente síntesis la ofrece J. Olick y J. Robbins (1998).
281
CEVA, M. • Inmigración y familia. Una mirada desde las redes
de inmigrantes italianos em la Argentina
A modo de conclusión
282
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Referências
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de inmigrantes italianos em la Argentina
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de inmigrantes italianos em la Argentina
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CEVA, M. • Inmigración y familia. Una mirada desde las redes
de inmigrantes italianos em la Argentina
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CEVA, M. • Inmigración y familia. Una mirada desde las redes
de inmigrantes italianos em la Argentina
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Parte IV
Ensaios de Micro-História
291
Redes mercantis e familiares
na Porto Alegre do século XIX
Gabriel Santos Berute
Introdução
1
Esta pesquisa fez parte do projeto “Província do Rio Grande de São Pedro,
século XIX: luso-brasileiros, redes mercantis e sociabilidade na Praça de Porto
Alegre”, supervisionado pelo Prof. Dr. Paulo Roberto Staudt Moreira (PPG-
História/UNISINOS); financiamento: bolsa Edital DOCFIX (CAPES-FAPER-
GS); Ano: 2015. Etapas anteriores da investigação foram realizadas como par-
te dos projetos “Gentes das Ilhas: trajetórias transatlânticas dos Açores ao Rio
Grande de São Pedro entre as décadas de 1740 a 1790.” e “Família e Sociedade
no Brasil Meridional (1772-1872) – Fase 2”, supervisionados pela Profª. Drª.
Ana Silvia Volpi Scott (NEPO/Unicamp); financiamento: PDJ-CNPq; Ano:
2012-2015.
2
Para uma síntese a respeito do diálogo entre história e demografia e uma análi-
se sobre as novas perspectivas da história econômica, ver respectivamente NA-
DALIN, 2004; FRAGOSO, 2002.
292
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
3
A respeito da micro história, ver: GINZBURG et al., 1989; LEVI, 1992; LEVI,
1998; LEVI 2000; LIMA FILHO, 2006;
4
Versões deste trabalho foram apresentadas no XXVII Simpósio Nacional de
História da ANPUH (Natal, 2013) e no V Simpósio Nacional de História da
População ABEP/UEG (Caldas Novas, 2013) e na I Jornada e Infância, Juven-
tude e Família (Porto Alegre, 2015).
5
Sobre o NACAOB e suas potencialidades, ver SCOTT; SCOTT, 2012.
293
BERUTE, G. S. • Redes mercantis e familiares na Porto Alegre do século XIX
6
Para abordagem recente a respeito das charqueadas e o comércio de carnes e de
couros no século XIX, ver VARGAS 2013.
294
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
7
Portanto, os dois portos não concorriam entre si, pois neles eram executadas
atividades mercantis complementares, ainda que existisse uma hierarquia entre
eles devido à maior vinculação de Rio Grande com o comércio marítimo. A
relação entre os portos de Lisboa, Porto e Viana foi caracterizada nestes termos
por Leonor Freire Costa (2002, p. 81-111) em sua investigação a respeito do
comércio entre Portugal e Brasil nos séculos XVI e XVII. Segundo a autora,
neste período, o porto de Lisboa exercia uma função de centro em relação aos
demais, não de monopólio sobre o comércio. Em termos gerais, o comércio en-
tre os portos de Buenos Aires, Montevidéu e da Colônia do Sacramento no sécu-
lo XVIII também foi assim definido por Fabrício Prado (2002, p. 31-185).
8
Com a ocupação espanhola da vila de Rio Grande (1763-1776), as sedes do
governo sul-rio-grandense e da Câmara foram transferidas para os Campos de
Viamão em 1763, onde permaneceram até 1773, quando foram transferidas
para Porto Alegre por ordem do Governador José Marcelino de Figueiredo.
(CESAR, 1970: 168-185; QUEIROZ, 1987, p. 107-145).
9
Aspecto este salientado nas anotações do botânico francês Auguste de Saint-
Hilaire (2000, p.67-68), por ocasião de sua passagem pela cidade no início da
década de 1820. Sobre a alfândega de Porto Alegre, ver EZEQUIEL, 2007.
10
Durante a Guerra dos Farrapos (1835-45), a capital foi sitiada pelas forças
farroupilhas durante três períodos nos primeiros anos do conflito (entre junho
de 1836 e dezembro de 1840). Os cercos prejudicaram as atividades econômi-
cas da capital (interrupção do transporte e das comunicações entre Porto Ale-
gre e Rio Grande, redução do numerário em circulação e a presença de grande
volume de moedas falsas) e limitaram a expansão urbana da capital (FRAN-
CO, 1983, p. 29-31; FRANCO, 1998).
295
BERUTE, G. S. • Redes mercantis e familiares na Porto Alegre do século XIX
As estratégias familiares da
comunidade mercantil de Porto Alegre
11
A este respeito de ambas as instituições, ver respectivamente KLAFKE, 2006
e MUNHOZ, 2003.
12
Para uma análise detalhada destes aspectos, ver BERUTE, 2011, p. 165-214.
296
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
13
APERS. 1º Transmissões e Notas, Porto Alegre, Livro 32-60, 1808-1850.
14
A matrícula foi instituída a partir da transferência da Corte para o Rio de
Janeiro em 1808 e a criação da Junta do Comércio no Rio de Janeiro e repre-
sentava uma diferenciação entre os grandes negociantes e os demais agentes
atuantes na América portuguesa. Constam na lista um total de 1.320 matricu-
las de negociantes de grosso trato. Os estabelecidos na província sul-rio-gran-
dense somavam 137 matriculados (atrás apenas do Rio de Janeiro e da Bahia)
e estavam estabelecidos nas seguintes praças mercantis: Cachoeira (2); Cangu-
çu (1); Pelotas (6); Porto Alegre (52); Rio Grande (62); Rio Pardo (4); São José
do Norte (5) e Rio Grande do Sul (5) (ANRJ. Junta do Comércio, Códice 170,
Volume 1-3, 1809-1850). Pontualmente consultei ainda o “Livro das justifica-
ções de matrículas” (ANRJ. Junta do Comércio, Códice 171, Volume 1 e 2, 1809-
1826). No geral, o livro repete as matrículas presentes no Códice 170. Sobre a
matrícula e Junta do Comércio de Lisboa e do Rio de Janeiro, ver entre outros
(PEDREIRA, 1995, p. 70-74; GUIMARÃES, 2008, p. 88-290; GORENSTEIN,
1993, p. 43; LOPES, 2009).
15
Magalhães afirma ter relacionado todos os comerciantes atuantes no Rio
Grande de São Pedro em 1808. Além dos residentes em Porto Alegre (57),
foram listados comerciantes residentes em Rio Grande (43); Rio Pardo (36);
Ilha de Santa Catarina (14) e Laguna (6), totalizando 156 agentes mercantis.
Utilizei a transcrição mais recente do também chamado “Almanack de 1808”,
elaborada pelo professor Fábio Kühn (UFRGS) (MAGALHÃES, 2008, p.
131-133), que elaborou ainda um estudo analítico do documento (KÜHN,
2008, p. 105-117).
297
BERUTE, G. S. • Redes mercantis e familiares na Porto Alegre do século XIX
298
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
16
Nos 4.163 assentos de casamentos de Porto Alegre (1772 e 1848) cadastrados
no NACAOB, em 731 matrimônios um ou ambos os nubentes, eram viúvos.
299
BERUTE, G. S. • Redes mercantis e familiares na Porto Alegre do século XIX
17
Sá e Brito teve quatro casamentos, três deles em Porto Alegre: Felícia Maria de
Oliveira; Ana Maria Joaquina de Oliveira (1805); Maurícia Joaquina de Oli-
veira (1829) e Maria Angélica de Freitas (1831) (NACAOB, ver também Ge-
nealogia [parcial] da família Sá e Brito: http://mitoblogos.blogspot.com.br/
2009/07/genealogia-422-familia-sa-brito.html).
300
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
18
Fundada em Rio Grande no ano de 1832, tratava-se de espaço de representa-
ção da elite local no qual os associados ligados ao comércio tinham grande
influência.
301
Quadro 2: Agentes mercantis casados em Porto Alegre (1787-1838)
Cônjuge
Agente mercantil 1ª núpcia 2ª núpcia Ano
302
1. Antônio Fernandes Teixeira Inácia Rodrigues Vale 1821
(PT, São Miguel de Arcozelo, Bispado do Porto) viúva de Francisco José Afonso Alves
2. Antônio José de Oliveira Guimarães Francisca Cândida de Souza 1826
(PT, Portugal) (BR, RS, Porto Alegre)
3. Antônio José Teixeira de Macedo Francisca Antônia Viana 1812
(PT, Santiago de Figueiró, Arcebispado de Braga) viúva de Francisco José Araújo
4. Antônio Monteiro de Barros Ana Maurícia da Silva 1787
(PT, São Bartolomeu de Barqueiros, Bispado do Porto) (BR, RS, Viamão)
5. Antônio Peixoto do Prado(BR, RJ, Sé do Rio de Janeiro) Eufrásia Antônia Oliveira Rego 1803
6. Bernardino José de Sena(BR, PE, Pernambuco) Antônia Leonor de Jesus [ou Lima] 1808
viúva de Manuel Silva Gradil
7. Custódio de Almeida e Castro Leocádia Úrsula Nascimento 1817
(PT, Nossa Senhora de Oliveira, Bispado do Porto) viúva de Severino José Santos
8. Custódio Gonçalves Lopes Maria Francisca Viana Maria Gonçalves Santos 1803/
(PT, Vila do Conde, Bispado do Porto) (BR, RS, Viamão) (BR, RS, Aldeia dos Anjos) 1833
9. Domingos de Almeida Lemos Peixoto(PT, Porto) Luísa Joaquina Silveira 1790
10. Domingos José Afonso Alves Inácia Rodrigues Vale 1813
(PT, Lugar de Paravelha, Arcebispado de Braga) (BR, RS, Porto Alegre)
11. Domingos José Araújo Bastos Mariana Antônia Jesus Joaquina Pereira Azevedo ?/1822
(PT, São Miguel de Refojos de Basto, Arcebispado de Braga) Souza (BR, RS, Osório)
12. Domingos Martins Barboza Ana Joaquina Justiniana de Freitas 1825
(PT, Porto) (BR, RS, Porto Alegre)
13. Francisco de Sá e Brito Felícia Maria de Oliveira Ana Maria Joaquina de Oliveira ?/1805/
(BR, RJ, Magé) (BR, RS, Porto Alegre) 1828/1831
Maurícia Joaquina da Silva
(BR, RS, Porto Alegre)
Maria Angélica Freitas
(BR, RJ, Magé)
14. Francisco José da Cunha Teodora Felícia Conceição 1834
(BR, SC, Laguna) viúva de Hermógenes Antônio Reis
BERUTE, G. S. • Redes mercantis e familiares na Porto Alegre do século XIX
Fonte: AHCMPA. Livros de registro de casamento da Freguesia de Nossa Senhora Madre de Deus de Porto Alegre (1772-1848). Banco
de dados NACAOB: extração de 13/09/2015.
19
303
AHCMPA. Autos de habilitações matrimoniais: Manuel José Vieira de Lima e Balbina Antônia de Miranda, nº 157, cx. 180 (1826).
BERUTE, G. S. • Redes mercantis e familiares na Porto Alegre do século XIX
20
A esposa do negociante de grosso trato, Manuel José Vieira de Lima, Balbina
Antonia de Miranda, também era filha de um dos comerciantes apresentados
no Quadro 1: o comerciante do “Almanack de 1808”, Lourenço Antônio Pin-
to de Miranda.
21
APERS. 1º Transmissões e Notas, Porto Alegre, L58, fl. 9v; L60, fls. 235, 274.
22
ANRJ. Junta do Comércio, Códice 170, v.1, fl. 26v.
23
A nominata completa encontra-se em (AHRS. Assembleia Legislativa, Conselho
Geral, A9.001, Comissão de Comércio, 15 set. 1824). Agradeço ao Gabriel
Aladrén pela indicação da fonte.
304
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
24
Em quatro escrituras registradas entre os anos de 1843 e 1850, Maurícia Cân-
dida da Fontoura consta como “sua mulher” (APERS. 1º Transmissões e Notas,
Porto Alegre, L52, fl. 231; L53, fl. 26v; L58, fl. 9v; L60, fl. 274).
25
Travassos é um dos comerciantes selecionados com a prole mais numerosa,
conforme se observa no Quadro 1: oito filhos de cada casamento, além do
filho teve a filiação reconhecida (COMISSOLI, 2011, p. 300). Na base de da-
dos (NACAOB, registro 25.313) consta que em 10/08/1829, Bernardina Cân-
dida dos Anjos batizou um filho legítimo (Albino), nascido em 27/06/1829,
cujo nome do pai não foi anotado!
26
Comissoli (2011, p. 272; 299-302), afirma que o testamento foi feito em 1848 e
o inventário aberto em 1851, mas encerrado somente em 1877 (APERS. Inven-
tário de Manuel José de Freitas Travassos, 2° COPOA, processo 1809ª, maço
86, ano 1877). Indicando que não houve “consenso entre os herdeiros após a
morte do líder do grupo parental” (p. 301). O autor destaca que o testamento
do comendador Manoel José de Freitas Travassos é extremamente detalhado e
cuidadoso no que diz respeito à administração e transmissão dos bens da famí-
lia, que incluía também a execução do inventário de seu próprio pai, Miguel
305
BERUTE, G. S. • Redes mercantis e familiares na Porto Alegre do século XIX
306
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
30
Segundo Comissoli (2011, p. 273), Manuel José de Freitas Travassos Filho foi
deputado provincial em 1850, 1851, 1854, 1855, 1856 e 1857.
31
AHCMPA. Autos de habilitações matrimoniais: Domingos Martins Barboza e
Ana Joaquina Justiniana de Freitas, nº 25, cx. 172 (1825).
307
BERUTE, G. S. • Redes mercantis e familiares na Porto Alegre do século XIX
32
Meu grifo. AHCMPA. Autos de habilitações matrimoniais: João Afonso Vieira
de Amorim e Joaquina Justiniana de Freitas, nº 109, cx. 174 (1825).
33
Não se trata de uma característica peculiar das fontes eclesiásticas, pois é um
problema comum enfrentado pelos pesquisadores que adotam a metodologia
onomástica em suas investigações sobre populações luso-brasileiras. A grande
presença de homônimos e a ausência de uma regra de transmissão de nome
contribuíam para a existência de inversões e alterações de sobrenomes. Em
especial entre as mulheres, era frequente a ausência dos sobrenomes de família
e a repetições de nomes com evocações religiosas (tais como, “de Jesus” ou
“do Espírito Santo”) (SCOTT; SCOTT, 2001). Para diferentes perspectivas a
respeito das práticas de nomeação, ver; WEIMER, 2008, p. 237-332; HAMAIS-
TER, 2006, p. 78-141; CAMILO, 2016.
308
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
34
Travassos Filho e Vieira Amorim tiveram filhos batizados como Manuel e que
tiveram o comendador como padrinho (NACAOB).
35
No caso do primeiro filho de Ana Joaquina e Domingos Martins, por exem-
plo, a criança recebeu o mesmo nome de seu pai e teve como padrinhos uma
de suas tias, Donaciana, e Miguel José de Freitas, seu bisavô materno.
309
BERUTE, G. S. • Redes mercantis e familiares na Porto Alegre do século XIX
36
Comissoli (2011: 301-302) registra no seu testamento, Freitas Travassos desti-
nou para o casal de sua filha Ana Joaquina de Freitas e Domingos Martins
Barbosa “moradas de casa e um valor em dinheiro que serviu para comprar
um brigue. Ainda assim, constou haver pendente um “ajuste de contas particular”
entre genro e sogro além de um abono pago por uma letra de que o comendador era
fiador ao marido da filha” [meus grifos].
37
APERS. 1º Transmissões e Notas , Porto Alegre, L49, fl. 134.
38
Matriculado na Junta do Comércio (29/01/1816): ANRJ. Junta do Comércio,
Códice 171, Volume 1, fl. 160v; ANRJ. Junta do Comércio. Pedidos de matrículas
de comerciantes, Cx. 393, pct 02.
39
AHCMPA. Autos de habilitações matrimoniais: João Afonso Vieira de Amorim e
Joaquina Justiniana de Freitas, nº 109, cx. 174 (1825).
310
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
311
BERUTE, G. S. • Redes mercantis e familiares na Porto Alegre do século XIX
40
APERS. Inventário e testamento anexo de Antônio José de Oliveira Guimarães,
1º COPA, processo nº 1.013, Ano: 1830; APERS. 1º Transmissões e Notas. Porto
Alegre, Livro 32-60 (1808-1850). Ver também, BERUTE, 2011.
41
Sobre os expostos em Porto Alegre, ver SILVA, 2014.
312
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Considerações finais
42
Para uma contribuição recente a respeito da utilização destes dois tipos de
fontes para a análise de grupos mercantis, ver SAMPAIO, 2014, p. 187-208.
313
BERUTE, G. S. • Redes mercantis e familiares na Porto Alegre do século XIX
Referências
BASSANEZI, Maria Silvia. Os eventos vitais na reconstituição da histó-
ria. In PINSKY, Carla Bassanezi; LUCA, Tania Regina de (Org.). O his-
toriador e suas fontes. São Paulo: Contexto, 2009, p. 141-172.
BERUTE, Gabriel Santos. Atividades mercantis do Rio Grande de São Pedro:
negócios, mercadorias e agentes mercantis (1808-1850). 2011. 309p. Tese
(Doutorado em História). PPG-História/UFRGS, Porto Alegre.
BERUTE, Gabriel Santos. Com quem casar, a quem apadrinhar: um
ensaio sobre matrimônio e relações de compadrio na comunidade mer-
cantil de Porto Alegre. In XXVII Simpósio Nacional de História. Dispo-
nível em: <http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/
1364770467_ARQUIVO_GabrielBerute_textocompletoXXVIIANPUH.pdf>.
Acesso em: 21 nov. 2013.
BERUTE, Gabriel Santos. Família e redes mercantis: Porto Alegre, sé-
culo XIX. Comunicação apresentada na I Jornada de Infância, Juventude e
Família (GT História da Infância, Juventude e Família da ANPUH-RS).
Porto Alegre: APERS, 16 e 17 de outubro de 2015.
CAMILO, Nathan. “É preferível bom nome a muitas riquezas”: dinâmica
das práticas de nominação no extremo sul do Brasil entre o final do sécu-
lo XVIII e o início do século XIX. 2016. Dissertação (Mestrado em His-
tória). São Leopoldo: PPG-História/UNISINOS.
CESAR, Guilhermino. História do Rio Grande do Sul. Período Colonial. Porto
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CESAR, Guilhermino. O Conde de Piratini e a Estância da Música. Adminis-
tração de um latifúndio rio-grandense em 1832. Porto Alegre/Caxias do Sul:
EST/IEL/UCS, 1978.
COMISSOLI, Adriano. A serviço de Sua Majestade: administração, elite e
poderes no extremo meridional brasileiro (1808c.-1831c.). 2011. Tese de
Doutorado (História), PPG-História Social/UFRJ, Rio de Janeiro.
314
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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BERUTE, G. S. • Redes mercantis e familiares na Porto Alegre do século XIX
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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BERUTE, G. S. • Redes mercantis e familiares na Porto Alegre do século XIX
318
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
1
Este trabalho foi apresentado como comunicação no 6º Encontro Escravidão e
Liberdade no Brasil Meridional (Florianópolis, 2013) e constou nos anais ele-
trônicos do mesmo evento.
319
FARINATTI, L. A. • Vozes da Ordem: proprietários, trabalhadores livres e
escravos na fronteira meridional do Brasil (Alegrete 1827-1850)
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Nos confins
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FARINATTI, L. A. • Vozes da Ordem: proprietários, trabalhadores livres e
escravos na fronteira meridional do Brasil (Alegrete 1827-1850)
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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FARINATTI, L. A. • Vozes da Ordem: proprietários, trabalhadores livres e
escravos na fronteira meridional do Brasil (Alegrete 1827-1850)
2
Conceito desenvolvido em MORAES, 2006.
3
Povos situados às margens do rio Uruguai, os mais meridionais de todo o comple-
xo missioneiro: eram os de Japejú, San Francisco de Borja, La Cruz, Santo Tomé.
324
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
325
FARINATTI, L. A. • Vozes da Ordem: proprietários, trabalhadores livres e
escravos na fronteira meridional do Brasil (Alegrete 1827-1850)
4
Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul (AHRS). Fundo Justiça. Alegrete,
Juiz de Paz, 1834.
326
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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FARINATTI, L. A. • Vozes da Ordem: proprietários, trabalhadores livres e
escravos na fronteira meridional do Brasil (Alegrete 1827-1850)
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FARINATTI, L. A. • Vozes da Ordem: proprietários, trabalhadores livres e
escravos na fronteira meridional do Brasil (Alegrete 1827-1850)
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
5
Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul (AHRS). Fundo Justiça. Alegrete,
Juiz de Paz, 1834.
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FARINATTI, L. A. • Vozes da Ordem: proprietários, trabalhadores livres e
escravos na fronteira meridional do Brasil (Alegrete 1827-1850)
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6
Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul (AHRS). Fundo Justiça. Alegrete,
Juiz de Paz, 1834.
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FARINATTI, L. A. • Vozes da Ordem: proprietários, trabalhadores livres e
escravos na fronteira meridional do Brasil (Alegrete 1827-1850)
7
Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul (AHRS). Fundo Justiça. Alegrete,
Juiz de Paz, 1834.
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Considerações finais
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FARINATTI, L. A. • Vozes da Ordem: proprietários, trabalhadores livres e
escravos na fronteira meridional do Brasil (Alegrete 1827-1850)
Referências
ESPADA LIMA, Henrique. A micro-história italiana: escalas, indícios e sin-
gularidades. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.
FARINATTI, Luís Augusto. Confins Meridionais: famílias de elite e socieda-
de agraria na fronteira sul do Brasil (1825-1865). Santa Maria: Editora da
UFSM, 2010.
FRAGOSO, João. O Capitão João Pereira de Lemos e a parda Maria
Sampaio: notas sobre as hierarquias rurais costumeiras no Rio de Janei-
ro do século XVIII. In: OLIVEIRA, Mônica Ribeiro de; ALMEIDA,
Carla. Exercícios de micro-história. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2009.
336
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
337
“Entre o local e o global”:
imigração, relações sociais e
perfil ocupacional dos estrangeiros
na cidade de Pelotas (1850-1890)1
Jonas M. Vargas
Introdução
1
As ideias desenvolvidas neste texto são fruto de minha Tese de Doutorado e
foram parcialmente publicadas em VARGAS (2016).
338
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
2
Censo Geral de 1872 (disponível em: http//www.ibge.gov.br).
339
VARGAS, J. M. • “Entre o local e o global”: imigração, relações sociais e
perfil ocupacional dos estrangeiros na cidade de Pelotas (1850-1890)
3
De acordo com o Censo de 1872, as três paróquias recenseadas somariam 3.590
escravos. No entanto, o registro de matriculas de escravos para o ano de 1873
marcou 8.141 cativos, ou seja, mais do que o dobro recenseado. Para maiores
detalhes destes dados, ver VARGAS (2012).
4
Somados os livres com os escravos, a população classificada como preta era de
3.167 e parda de 2.404. Entretanto, como o número de escravos da paróquia
parece estar sub-representado, é possível que a população de cor ultrapassasse
os 6 mil habitantes. Novos estudos podem iluminar melhor estes dados.
340
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
5
Embora a população escrava e a população livre de Pelotas tenham crescido
entre os anos 1830 e 1870, o percentual dos cativos em relação ao total caiu
bastante. Em 1833, 51% da população pelotense era cativa, enquanto que, em
1858, este índice já havia caído para 37,1% e, em 1872, é provável que tenha
ficado entre 30% e 33%.
341
VARGAS, J. M. • “Entre o local e o global”: imigração, relações sociais e
perfil ocupacional dos estrangeiros na cidade de Pelotas (1850-1890)
6
Embora Rio Grande possuísse o único porto marítimo da Província, Itaqui, no
outro extremo da província, também possuía uma importante comunidade de
comerciantes estrangeiros que, por meio do rio Uruguai, movimentava amplos
negócios com os países do Prata (VOLKMER, 2013).
7
Nas paróquias urbanas de São Paulo (Sé, Santa Efigênia e Consolação) este
índice era de 11,8% entre os habitantes livres. Em Recife, era de 6%, em São
Luis, no Maranhão, era de 6,8%, em Salvador, era 5,8% e em Ouro Preto era
3,3% (Censo geral de 1872. Disponível em: http//www.ibge.gov.br).
342
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
343
VARGAS, J. M. • “Entre o local e o global”: imigração, relações sociais e
perfil ocupacional dos estrangeiros na cidade de Pelotas (1850-1890)
8
Lista de estrangeiros que receberam passaporte policial. Fundo Polícia, Pelotas,
Maço 15, AHRS.
9
Para alguns lugares como Espanha e Uruguai são citadas as cidades de onde o
listado nasceu e não o país. O mesmo é percebido para Alemanha e Itália, que
ainda não possuíam um estado nacional unificado.
344
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
345
VARGAS, J. M. • “Entre o local e o global”: imigração, relações sociais e
perfil ocupacional dos estrangeiros na cidade de Pelotas (1850-1890)
346
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
10
O restante era formado por paraguaios (62), argentinos (16), suíços (9), austría-
cos (7), gregos (3), dinamarqueses (2), holandeses (2), norte-americanos (2),
suecos (2) e boliviano (1).
347
VARGAS, J. M. • “Entre o local e o global”: imigração, relações sociais e
perfil ocupacional dos estrangeiros na cidade de Pelotas (1850-1890)
348
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
livres com profissão.11 Dos homens deste grupo, 59% eram es-
trangeiros. Outro grupo com representação significativa eram os
operários das “produções manuais ou mecânicas” que reunia 1.000
homens. Eram 156 operários em metais, 398 em madeiras, 84 em
couros e peles, 36 em chapéus, 5 em mineração e 321 em calçados.
Nestas profissões, 67% dos homens eram estrangeiros. Os artistas
reuniam 530 homens livres, sendo 61% de estrangeiros. Penso que
a diferença deste grupo de operários para com os “artistas” é que
aqueles eram assalariados e, portanto, não trabalhavam por conta
própria. O grupo dos “manufatores e fabricantes” compunha 250
homens. A grande maioria, ou 87,3% deles, eram estrangeiros. É
possível que muitos fossem patrões dos operários citados.
A descrição de algumas indústrias existentes em Pelotas
neste período ajuda a colorir os números apresentados. Confor-
me Fernando Osório, entre 1835 e 1912, podia-se contar em tor-
no de 6 mil firmas que apareceram e giraram na cidade. Em 1910,
existiam 188 fábricas, 278 oficinas e 822 casas de negócio diver-
sas. Entretanto, até a década de 1870, não existiam muitas. Em
1845, o francês Carlos Ruelle fundou a primeira fábrica de seges e
carros, que, em 1865, recebeu a visita do Imperador D. Pedro II.
Também em 1845, João Barcellos fundou uma chapelaria e 3 anos
depois, Antônio Lopes dos Santos abriu sua Loja de Ourivesaria.
Em 1855, Diogo Higgins fundou uma oficina para consertar ins-
trumentos musicais. Em 1860, José Gonçalves estabeleceu uma
Latoaria na cidade e em 1864, Frederico Lang fundou uma fábri-
ca de sabão. O autor ainda cita outros estabelecimentos como
olarias, fábricas de anil, de papel, de louças e carnes em conserva
(OSÓRIO, 1997, p. 141-142).
No entanto, foi a partir dos anos 1870 que as indústrias e
companhias fabris começaram a se proliferar por Pelotas. Marcos
dos Anjos verificou um grande número de novas fábricas de fumo,
11
Este índice converge com o encontrado para o total da categoria “comércio”
na lista dos estrangeiros entrados na cidade de Pelotas em 1855 (28%) e da lista
de qualificação de votantes de Pelotas de 1865 (23%).
349
VARGAS, J. M. • “Entre o local e o global”: imigração, relações sociais e
perfil ocupacional dos estrangeiros na cidade de Pelotas (1850-1890)
12
Os italianos dominavam o ramo da hotelaria e, na Santa Casa e em clínicas
particulares, vários médicos europeus exerceram a sua profissão. Para uma
análise da imigração italiana em Pelotas ver POMATTI (2011).
350
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
351
VARGAS, J. M. • “Entre o local e o global”: imigração, relações sociais e
perfil ocupacional dos estrangeiros na cidade de Pelotas (1850-1890)
13
Outros investidores seguiram o exemplo, como os herdeiros do charqueador
Domingos de Castro Antiqueira (Colônia São Domingos, 1875), José Bento
de Campos (Colônia Santo Bento, 1899), Manoel Batista Teixeira (Colônia
Santa Áurea, 1893), Pedro Nunes Batista (Colônia São Pedro), Epaminondas
Piratinino de Almeida (Colônia Santa Bernardina e Colônia São Domingos).
14
Carta de Domingos José de Almeida ao presidente da Província do Rio Grande
do Sul. Pelotas, 04.10.1861. Anais do Arquivo Histórico do RS, CV-686, p. 154.
352
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
15
“Apesar de distantes de seus países de origem, os estrangeiros continuavam
ligados a eles por fortes laços de subordinação, veneração e por afetos familia-
res. Através das entidades coletivas organizadas, o contato com a pátria mãe e a
atuação frente a episódios de repercussão internacional tornava-se mais fácil,
propiciando, àqueles estrangeiros envolvidos, um reforço positivo no íntimo de
suas cidadanias enfraquecidas. Assim, em 1878, a comunidade francesa compa-
deceu-se pela morte de Thiers; em 1883, a comunidade alemã da cidade uniu-se
na tentativa de amenizar o sofrimento das vítimas das inundações e do inverno
cruel que abalara a Alemanha naqueles anos; em 1890, os portugueses em Pelo-
tas fizeram subscrições e angariaram fundos para serem remetidos a Portugal,
caso houvesse um conflito com a Inglaterra (questão da Zambesia); e, durante o
ano de 1898, a ‘colônia espanhola’ mobilizou-se na formação de uma ‘Liga Pa-
triótica’ para angariar donativos a serem enviados ao governo da Espanha, que
se encontrava em guerra com os Estados Unidos” (ANJOS, 1996, p. 90).
353
VARGAS, J. M. • “Entre o local e o global”: imigração, relações sociais e
perfil ocupacional dos estrangeiros na cidade de Pelotas (1850-1890)
16
A grande presença de estrangeiros era reconhecida pela própria população.
Na edição de 20 de julho de 1884, o Correio Mercantil de Pelotas iniciava uma
matéria sobre as Sociedades de Socorros Mútuos da seguinte forma: “Em to-
das as cidades populosas como a nossa, onde avulta o elemento estrangeiro,
este deve congregar-se […]” (ANJOS, 1996, p. 89).
17
É possível que muitos tenham deixado suas esposas em seus países, mas como
se trata de uma população fixa e não flutuante, estes casos não devem ser
muitos. Os dados do Censo de 1872 contribuem novamente para esta questão.
Se entre os brasileiros o número de mulheres era maior que o de homens, entre
os estrangeiros, para cada mulher havia 4 homens. Dos 2.443 estrangeiros do
sexo masculino, 935 eram casados, e das 566 mulheres estrangeiras, 187 eram
casadas. Portanto, havia um grande número de estrangeiros casados para um
pequeno número de mulheres estrangeiras casadas. Estes dados além de reve-
larem que os homens migravam muito mais, demonstram que vários deles
tendiam a contrair matrimônio com as mulheres da terra.
354
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
18
Para uma consideração a cerca dessa diferença, ver BELL (1993).
355
VARGAS, J. M. • “Entre o local e o global”: imigração, relações sociais e
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perfil ocupacional dos estrangeiros na cidade de Pelotas (1850-1890)
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Considerações finais
19
Jornal do Comércio, 14 de janeiro de 1875 (Biblioteca Pública Pelotense).
359
VARGAS, J. M. • “Entre o local e o global”: imigração, relações sociais e
perfil ocupacional dos estrangeiros na cidade de Pelotas (1850-1890)
Referências
ANJOS, Marcos Hallal dos. Estrangeiros e modernização: a cidade de Pelotas
no último quartel do século XIX. Dissertação de Mestrado em História.
PUCRS, 1996.
BELL, Stephen. Early industrialization in the South Atlantic: political
influences on the charqueadas of Rio Grande do Sul before 1860. Jour-
nal of Historical Geography, n. 19, 1993, p. 399-411.
BOTELHO, Tarcísio R. População e nação no Brasil do século XIX. 1998.
Tese de Doutorado em História. USP, 1998.
CARVALHO, José Murilo de. Os Bestializados. São Paulo: Companhia
das Letras, 2000.
360
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
361
VARGAS, J. M. • “Entre o local e o global”: imigração, relações sociais e
perfil ocupacional dos estrangeiros na cidade de Pelotas (1850-1890)
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
RESENHA CRÍTICA
WADI, Yonissa. A história de Pierina: subjetividade, crime
e loucura. Uberlândia: EDUFU, 2009. 464p.
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VENDRAME, M. I. • Resenha crítica – A história de Pierina
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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VENDRAME, M. I. • Resenha crítica – A história de Pierina
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
1
A ordem das irmãs de São José de Moûtiers se instalou em Garibaldi em 1898,
a convite do bispo de Porto Alegre Dom Cláudio Ponce de Leão. Na região
colonial se dedicavam à educação dos jovens e aos cuidados ligados à saúde das
famílias imigrantes (WADI, 2009, p. 231).
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VENDRAME, M. I. • Resenha crítica – A história de Pierina
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VENDRAME, M. I. • Resenha crítica – A história de Pierina
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Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
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VENDRAME, M. I. • Resenha crítica – A história de Pierina
Referências
DAVIS, Natalie Zemon. O retorno de Martin Guerre. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1987.
GINZBURG, Carlo. “Provas e possibilidades”. In: A micro-história e outros
ensaios. Lisboa: Difel. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989, p. 179-202.
_____; PONI, C. “O nome e o como: troca e mercado desigual e merca-
do historiográfico”. In: GINZBURG, C. Micro-história e outros ensaios. Rio
de Janeiro: Difel, 1989a, p. 169-178.
2
Edoardo Grendi (1977; 2009) foi quem primeiramente definiu o “excepcional/
normal” para os documentos.
372
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
373
374
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Alejandro Fernández
Doutor en História pela Universidad de Barcelona e Mestre
em Ciências Sociais pela Faculdade Latinoamericana de Ciências
Sociais (FLACSO). Professor e investigador da Universidad Nacio-
nal de Luján, aonde dirige o mestrado em Ciências Sociais. Ex- pro-
fessor visitante em Universidades da Espanha, Itália e França. Co-
diretor da revista Estudios Migratorios Latinoamericanos. Autor de Un
mercado étnico en el Plata. Emigración y exportaciones españolas a la Argen-
tina, 1880-1935, Madrid, CSIC, 2004; Migraciones internacionales, acto-
res sociales y Estados, Madrid, Iberoamericana-Vervuert, 2014 (com
E.González Martínez); Las migraciones españolas a la Argentina. Varia-
ciones regionales (siglos XIX y XX), Buenos Aires, Biblos, 2008 (con N.De
Cristóforis) y La inmigración española en la Argentina, Buenos Aires,
Biblos, 1999 (com J.C. Moya).
375
Sobre os autores e as autoras
Alessandro Casellato
Pesquisador de História Contemporânea vinculado ao Dipar-
tamento di Studo Humanistici da Università Ca’Foscari, Veneza. Ensina
história contemporânea e história oral; têm estudado movimentos
sociais e políticos do século XIX e XX na Itália e no Vêneto e escrita
autobiográfica. Foi co-diretor do Istituto per la storia della Resistenza e
della società contemporanea di Treviso (1998-2013), membro diretivo da
Associazione Italiana di Storia Orale (2007-2013). Foi organizador de
diversos livros e autor vários artigos sobre história contemporânea da
Itália e os usos das fontes orais.
Alexandre Karsburg
Doutor em História Social pela Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). Autor de dois livros: “O Eremita das Américas”
(2014) e “Sobre as ruínas da velha matriz” (2007), ambos publicados
pela editora da Universidade Federal de Santa Maria. Possui gradua-
ção em História Licenciatura Plena pela Universidade Federal de Santa
Maria – UFSM – (2004) e Mestrado pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS – (2007). Participa do gru-
po de investigação sobre o movimento do Contestado, projeto vincu-
lado a Universidade Federal de Santa Catarina. Professor colabora-
dor e bolsista Capes de pós-doutorado (PNPD) no Programa de Pós-
Graduação em História da UNISINOS.
376
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Emilio Franzina
Professor emérito da Università degli Studi di Verona. Estudioso
da emigração italiana no mundo, do movimento católico e socialista
do Vêneto, tem pesquisado sobre temas referentes ao processo emi-
gratório dos séculos XIX e XX. É autor de vários livros sobre o tema
das migrações históricas internacionais, que foram publicados em di-
versas línguas. No Brasil: A Grande Emigração: o êxodo dos italianos
do Vêneto para o Brasil (2006).
377
Sobre os autores e as autoras
Giovanni Levi
Professor emérito História Moderna da Università di Ca’foscari
Venezia, Itália. Também trabalhou na Universidade de Turin, Viterbo
e numerosas universidades estrangeiras (França, Espanha, Argenti-
na, Estados Unidos). Dirigiu a coleção Microstorie (Einaudi) e a revista
“Quaderni storici”. É coordenador do doutorado “Europa, o Mundo
Mediterrâneo e sua Projeção Atlântica” do programa de estudos avan-
çados da Università Pablo de Olavide di Siviglia. Também é membro do
conselho didático do doutorado de História Social Europeia do Me-
dievo à Idade Moderna da Università di Ca’ Foscari. Escreveu os li-
vros: “A herança imaterial”, publicado no Brasil em 2001 pela Com-
panhia das Letras; Centro e periferia di uno stato assoluto, Torino, Rosen-
berg, 1985. Foi organizador, juntamente com Jean-Claude Schmitt, do
livro “História dos Jovens”, publicado pela companhia das letras, em
1996. É autor de vários artigos em livros lançados no Brasil.
378
Ensaios de micro-história, trajetórias e imigração
Mariela Ceva
Doutora em História, investigadora do CONICET (Consejo
Nacional de Ciencia y Técnica de la Argentina) e docente de História
Social da Argentina, na Universidade Nacional de Luján. Professora
em seminários de pós-graduação na Universidade Católica Argenti-
na e na Universidade de Luján. Especializou-se em história da imi-
gração e história de empresas na Argentina e na preservação do patri-
mônio histórico industrial. Publicou diversos livros, entre outros:
Empresas, Immigración y Trabajo e la Argentina: dos estúdios de caso (Fá-
brica Argentina de Alpargatas y Algodonera Flandria), na coleção La
379
Sobre os autores e as autoras
Maurizio Gribaudi
Professor da École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris.
Foi membro da comissão diretiva da revista Quaderni Storici (2008-
2011) e também diretor do Laboratoire de Démographie et Histoire Sociale
E.H.E.S.S. (http://www.ehess.fr/LaDéHiS/). Seu principal projeto
de pesquisa está ligado à análise das redes sociais e práticas culturais
do mundo operário, destacando-se a obra: Mondo operaio e mito
operaio. Spazi e percorsi sociali a Torino nel primo novecento, Torino, 1987.
Possuí artigos traduzidos para vários idiomas, tendo sido traduzido
para o português “Escala, pertinência, configuração”, publicado no
livro Jogos de Escalas, de Jacques Revel (1998).
380