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ALMEIDA & CASTRO | autoridade em elevadores


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CABOS DE TRAÇÃO PARA ELEVADORES


INSPEÇÃO E CRITERIOS PARA CONDENAÇÃO

Introdução
No Brasil, a última norma que trata da inspeção em elevadores data de 1955. Desde a publicação pela ABNT-
Associação Brasileira de Normas Técnicas- desta norma, a NB 129, nada mais foi publicado pela associação
sobre o assunto. Mais recentemente a ABNT publicou uma norma sobre Cabos de Aço de Uso Geral, não
aplicável ao segmento Elevadores. Desse modo, não existe hoje em vigor no país, uma norma técnica que
fundamente os critérios de inspeção e/ou condenação de um cabo de tração para elevador. Esse estudo
pretende, de forma simples, mostrar como um cabo de tração de elevador deve ser inspecionado e quais os
critérios para sua condenação.

O cabo de tração do elevador


Os cabos de aço usados em elevadores são cabos de especiais, fabricados exclusivamente para a esse fim.
Têm denominação 8 x 19 Seale. Possuem alma de fibra, torção regular, lubrificação especial (de dentro para
fora) e são compostos por arames dimensionados exclusivamente para uso em elevadores em função de sua
resistência e flexibilidade. O número oito (8) da especificação do cabo representa o número de fieiras de
arames do cabo. O número dezenove (19) representa o número de arames que compõe uma fieira (também
chamada de trança). Esses dezenove arames, que são na realidade em número de 20 (o arame que fica no
centro da trança não é contado) possuem duas medidas de diâmetro. O arame mais externo da trança tem
diâmetro maior que o diâmetro dos arames internos. O 20º arame (o central) da fieira, ou trança, possui o
mesmo diâmetro dos arames externos.
O número mínimo de cabos permitido para um elevador é três. A norma ABNT que estabelece os critérios
para projeto, fabricação e montagem de elevadores em vigor, a NBR NM- 207/99, estabelece esse limite no
seu item 9.
O coeficiente de segurança adotado pela indústria fabricante de cabos oscila entre 12 e 24, o que atende à
norma ABNT NBR NM-207/99. É um coeficiente bastante alto quando comparado aos outros coeficientes de
segurança adotados para cabos de aço de uso geral, que ficam entre 3 e 5. Os diâmetros mais usados em
elevadores são: 3/8” (ou 9,5 mm), 1/2" (ou 13 mm) e 5/8” (ou 16 mm). Em alguns elevadores podem ser
encontrados cabos de 9/16” (14,5 mm) ou 7/8” (ou 22,0 mm).

Inspeção do cabo de tração do elevador- Preparo


A condição fundamental para uma inspeção eficaz é a limpeza. Não se pode inspecionar um cabo de tração se
ele estiver sujo, cheio de poeira misturada com graxa. Essa camada de sujeira “mascara” a inspeção,
encobrindo as eventuais falhas existentes no cabo. Nem sempre arames ou tranças danificados se soltam e
ficam visíveis. Muitas vezes o cabo está com arames e/ou tranças rompidos e não é possível detectar sem uma
boa limpeza prévia. Assim, antes de inspecionar os cabos de um elevador, é fundamental e
imprescindível que eles sejam limpos e desengraxados. Só então deve proceder-se à inspeção.

Inspeção e troca dos cabos de tração


A inspeção dos cabos no campo é visual. Por isso requer conhecimento e experiência. Quando há rompimento
visível de tranças ou mesmo arames, a inspeção é simples. No entanto, quando já ocorreu o rompimento e os
arames e/ou tranças ainda não se soltaram do cabo, apenas um exame mais cuidadoso e o conhecimento dos
critérios de condenação irão mostrar se os cabos devem ou não ser substituídos. O plural “cabos” aqui é
proposital. Ainda que apenas uma das pernas esteja comprometida, TODAS as pernas deverão ser trocadas
(perna é um cabo tratado individualmente). Assim, um elevador que possui um conjunto de cabos de tração
com quatro cabos tem quatro pernas de cabo. Essa distinção é necessária para evitar mal entendido na hora de
orçar uma troca de cabos. Sempre serão trocadas todas as pernas (todo o conjunto dos cabos de tração),
mesmo que apenas uma das pernas esteja condenada e as outras ainda em boas condições. Porque se tem que
trocar todas as pernas? Recomenda-se a troca de todo o conjunto uma vez que os cabos atuam juntos, numa
mesma polia de tração e têm distribuído entre si, a carga relativa aos esforços resultantes do peso do carro e

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dos passageiros. Outra razão é que os cabos estão dimensionados para uma determinada vida útil (em ciclos) e
devido ao seu movimento contínuo passando pelas polias, essa vida vai diminuindo com o subir e descer do
elevador. O fenômeno da “fadiga” ocorre a partir de um certo número de ciclos. Ainda há que se considerar o
desgaste do próprio cabo em função da sua passagem pelas polias de tração e desvio. Por fim, é importante
que todas as pernas venham de uma mesma corrida (ou lote de fabricação), para que sejam garantidas as
mesmas propriedades físico-químicas e, portanto tenham o mesmo comportamento e desempenho. Em geral
as empresas sérias de conservação de elevadores sabem disso e recomendam sempre a troca do conjunto de
cabos de tração.

Critérios de condenação de cabos de tração


Como já foi dito, não existe uma norma ABNT atualizada que trate do assunto. Os critérios aqui adotados são
baseados em normas e recomendações internacionais, principalmente nas americanas. Basicamente os
critérios para condenação de um cabo são três:
1. Desgaste e conseqüente diminuição do seu diâmetro;
2. Rompimento de arames e/ou tranças;
3. Deformação por nó ou amassamento.

1. Desgaste no diâmetro
Há um limite dentro do qual, embora com desgaste, um cabo possa trabalhar sem comprometer a segurança
do elevador. Para os cabos mais comuns, os limites de diâmetro passam a ser conforme tabelas a seguir:

Tabela 1: Limites para condenação de cabos quanto ao diâmetro, em polegadas


Diâmetro nominal do cabo Diâmetro mínimo permitido
3/8” 11/32”
1/2" 15/32”
5/8” 37/64”

Tabela 2: Limites para condenação de cabos quanto ao diâmetro, em mm.


Diâmetro nominal do cabo Diâmetro mínimo permitido
9,5 8,73
13 11,90
16 14,68

Exemplo
Pela Tabela 2, um cabo de tração de diâmetro nominal de 13 mm que na inspeção acusou 11,8 mm, está
condenado e deverá ser substituído. Observar na tabela que o limite para condenação é 11,90 mm.

Nota importante:
Basta que em um único ponto medido, o diâmetro seja inferior ao limite da tabela para que o cabo seja
condenado!

2. Rompimento de arames e/ou tranças


Passo
Antes de estabelecer o número de arames rompidos que condena um cabo de tração, é necessário definir o que
seja passo (rope lay, em inglês).
Passo é a distância percorrida no cabo, por uma volta completa de uma trança. A Figura 1, ilustra um cabo e
um passo.

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Figura 1- Cabo de tração e passo

Comprimento do passo
Uma regra prática é multiplicar o diâmetro do cabo por 6,5 para encontrar o comprimento do passo. Isso
facilita e acelera a inspeção no local. Desse modo, para um cabo de 9,5 mm, o passo terá aproximadamente
9,5 x 6,5 = 61,75 mm. Para um cabo de 1/2" (diâmetro nominal no Brasil de 13 mm), o passo terá 84 mm.

Critério de condenação- Número de arames e tranças rompidos


O cabo de tração deverá ser condenado se num passo, uma ou mais condições abaixo ocorrer:
3 arames de uma mesma trança estiverem rompidos;
5 arames de duas tranças estiveram rompidos;
1 trança rompida.

Nota importante:
Sempre que forem constatados arames rompidos durante a inspeção de um cabo de tração e sempre que o
número de arames quebrados não for suficiente para a condenação imediata do cabo, este cabo deverá ser re-
inspecionado periodicamente. Recomenda-se para elevadores residenciais, exames a cada 30 dias de modo a
permitir o monitoramento da evolução do rompimento dos arames.
No caso de elevadores comerciais, de maior número de partidas/hora, o exame periódico deverá ser feito
preferencialmente a cada duas semanas. Desse modo, as chances de o cabo se romper em operação
aproximam-se de zero e a troca do jogo de cabos poderá ser programada e realizada sem alardes.
Não é interessante deixar um cabo se romper para depois trocá-lo. No caso de elevadores, o fator
psicológico tem uma grande influência e poderá trazer desconfiança aos usuários no caso de um rompimento.
Sabe-se que o elevador não irá cair se um cabo se romper. No entanto, os usuários, por ignorância, tendem a
pensar o contrário. Rompimentos de cabos de tração durante a operação de um elevador não são nada
agradáveis para quem se encontra na cabina. O ruído á forte e podem ocorrer desdobramentos como atuação
da segurança, parando o elevador no meio da caixa de corrida ou danificação de componentes como
operadores de portas, informação de poço e outros. Haverá, quase sempre, prejuízo financeiro com a quebra
de um cabo em operação.

Condenação por rompimento nos “vales”


Podem ocorrer rompimentos de arames internos, não visíveis externamente ao cabo. Assim, ao examinar o
cabo, atentar para a região formada entre duas tranças vizinhas. Essa região, chamada “vale” deve estar bem
limpa durante a inspeção.
Havendo pelo menos um vale com arames rompidos, o cabo deverá ser condenado.

3- Condenação por deformação do cabo


Cabos “amassados” ou com “nós” devem ser monitorados sempre. Pode ocorrer fadiga nesse ponto de dobra,
vindo a provocar o rompimento do cabo. Os cabos costumam aparecer amassados devido ao incorreto
manuseio na hora da montagem no campo ou na preparação feita antes da montagem. Os cabos devem ser
desenrolados do carretel ou bobina preferencialmente na posição vertical, estando a bobina livre entre dois
cavaletes. A perna a ser cortada e posteriormente montada no elevador deve ser enrolada também na vertical.
Isso evita a torção do cabo e a formação dos “nós” ou “amassados”.

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Recomenda-se por fim, que não sejam aceitos cabos novos (elevadores novos, modernizados ou mesmo
elevadores que têm seus cabos substituídos pela firma de conservação) com amassados ou nós, em nenhum
dos trechos, mesmo que próximo aos tirantes do carro ou do contrapeso.

Figura 2- Cabo de tração


danificado. A inspeção
possibilitou a troca
ANTES do seu
rompimento em
operação.

Figura 3- Cabos de tração durante


preparação para a inspeção.
Observar que o cabo à esquerda já
está limpo, desengraxado, pronto
para a inspeção. Cabos sujos não
permitem uma inspeção segura. As
falhas na região dos “vales” jamais
serão detectadas..

Figura 4- Cabo de tração danificado. Fios e


cabos rompidos. Cabo deformado.

Figura 5- Polia de tração e cabos novos em


montagem. Observar na montagem “nós” e
“amassamentos”. Se ocorrer, recusar o cabo.

Bibliografia de referência:
ASME A 17.1
ASME A 17.2.1 e A 17.2.2
Inspection Handbook by Zack McCain
Catálogos de fabricantes de cabos: CIMAF, IPH
NBR-NM–207/99 (ABNT)
Obs: ASME – American Society of Mechanical Engineers- é a associação americana responsável pelas
normas de elevadores naquele país.

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