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Título: ESTUDO DE CONFIABILIDADE DAS PASTILHAS DE FREIO DOS

VEÍCULOS LS 1938

Motivação: AVALIAR O COMPORTAMENTO DO SISTEMA DE FREIO A


DISCO EM APLICAÇÕES TIPICAMENTE BRASILEIRAS

Objetivo: DETERMINAR A DURABILIDADE DAS PASTILHAS DE FREIO

Resultados: LEVANTAMENTO DA CURVA DE CONFIABILIDADE ESTIMADA


DAS PASTILHAS DO FREIO A DISCO DIANTEIRO E TRASEIRO
DO VEÍCULO LS 1938

1. Introdução

Em Setembro de 1998, a Mercedes-Benz do Brasil introduziu no mercado a sua nova família de


veículos extra-pesados L / LS 1938 equipada com o sistema de freio a disco pneumático Knorr
SB 7000 nos eixos dianteiro e traseiro. O desenvolvimento da tecnologia do freio a disco em
caminhões pesados vem de longa data na Mercedes-Benz, uma vez que este sistema já é utilizado
há 5 anos no caminhão extra-pesado ACTROS produzido na planta de Wörth na Alemanha. A
experiência adquirida neste período foi fundamental para que o freio a disco pneumático tivesse sua
implantação consagrada no mercado europeu face as vantagens que trouxe ao frotista como
segurança e custo de manutenção.

O desenvolvimento do sistema de freio a disco no veículo LS 1938 foi iniciado em 1996 com a
realização de cálculos teóricos, testes funcionais de frenagens “cavalo + semi-reboque” e testes de
durabilidade. Concluído o desenvolvimento, a Mercedes-Bens, procurando conhecer o real
comportamento deste sistema em aplicações tipicamente brasileiras, vem realizando um
acompanhamento periódico em 20 veículos produzidos na pré-série de julho de 1998. O objetivo
deste trabalho e apresentar os resultados de um estudo de confiabilidade das pastilhas de freio
destes veículos.

2. Preparação dos Veículos

Para que o acompanhamento da durabilidade das pastilhas destes 20 veículos pudesse ser feito de
maneira precisa, as pastilhas de freio tiveram que sofrer uma medição inicial e receber um número
de controle. A medição das pastilhas e a sua identificação, bem como a identificação dos cálipers,
foi realizada pela Fa. Knorr-Bremse na sua planta de Santo Amaro - SP. Quando os cálipers com as
pastilhas foram enviados para a linha de montagem de eixos da Mercedes-Benz, as pecas de teste já
estavam controladas: medidas e identificadas.

Dentro da Mercedes-Benz foi realizado um trabalho de amarração do número de controle dos


cálipers e pastilhas com o número de série dos eixos e posteriormente com o número do chassis de
cada um dos 20 caminhões. Deste modo, quando os caminhões foram entregues aos clientes, era
possível identificar qual o cáliper e pastilhas estavam montados em cada roda de cada caminhão.

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No método de medição utilizado, são medidos oito pontos em cada pastilha distribuídos conforme
mostra a figura abaixo. Com este método é possível encontrar um valor confiável para a espessura
média da pastilha, o que é de extrema importância uma vez que este valor é utilizado na estimativa
da vida da pastilha. A distribuição dos pontos também nos permite analisar a tendência de desgaste
em cunha da pastilha tanto radialmente como tangencialmente.

3 5

1 Inner Left 7 Distribuição dos pontos para


Outer Right pastilhas:
• Esquerda Interna
4 6 • Direita Externa
2 8

5 3

Distribuição dos pontos para 7 Inner Right 1


pastilhas: Outer left
• Esquerda Externa
• Direita Interna
6 4
8 2

3. Distribuição dos Veículos

Os 20 veículos pré-série foram distribuídos em 10 clientes sendo 2 veículos por cliente. A escolha
destes clientes procurou obedecer os seguintes critérios:

• Localização geográfica do trecho onde o veículo é utilizado: Procurou-se diversificar ao


máximo a localização geográfica onde é utilizado o veículo com a finalidade de expor o produto
a diferentes tipos de trecho (planos ou montanhosos, rodoviários ou urbanos) e a diferentes tipos
de cultura dos motoristas.

• Condições das estradas: Procuramos expor os veículos a estradas em boas e más condições de
preservação do pavimento visando analisar a influência deste fator no comportamento do freio a
disco

• Tipo de aplicação: Objetivando conhecer o comportamento do veículo e a opinião de


motoristas em diversas aplicações, procuramos cobrir os diversos tipos de implementos
utilizados no mercado nacional: Básculas, Graneleiros, Baús, Carga Seca e Tanques.

• Porcentagem da utilização carregado: Procuramos clientes que utilizam seus veículos


basicamente em duas condições: 100% do tempo carregado ou 50% do tempo carregado. Com
isto é possível analisar a durabilidade e sobretudo a sensibilidade do freio nestas duas condições.

Na tabela seguinte, podemos observar as características específicas de cada cliente:

2
CLI VEÍ IMPLEMENTO PBTC FATOR DE PERCURSO
ENT CUL Médio CARGA
E O

A 1 Tanque Combustível 40 ton 50% Carregado Sul da Bahia


2 Semi-reboque bi-direcional + reboque 54 ton Espirito Santo
B 1 Báscula de 40 m3 43 ton 95% Carregado Porto Alegre / Bejé / Rio
(Carvão / Cimento / Soja)
2 Rio Grande / Cajati
C 1 Báscula de 14 m3 42 ton 50% Carregado Descalvado / SP /
Sílica
2 S. J. dos Campo / Descalvado
D 1 Baú 40 ton Não disponível São Paulo / Porto Alegre
2
E* 2 Baú 40 ton Não disponível São Paulo / Recife / São Paulo
F 1 Baú 40 ton 85% Carregado Brasilia / São Paulo / Brasilia
2
G 1 Carga Seca 43 ton 100% Carregado Mato Grosso / Paraná
2
H 1 Carga Seca (açucar) 43 ton 100% Carregado Paraná / Bahia
2
I 1 Carga Seca 42 ton 95% Carregado Paraná / Bahia
2
J 1 Tanque Combustível 38 ton 50% Carregado Urbano - São Caetano do Sul
2 40 ton Rodoviário - Base Paulínea
* O veículo 1 do cliente E foi desativado

Obs.: No estudo de confiabilidade, a análise dos parâmetros obtidos com o computador de bordo
mostrou-nos ser necessária a não inclusão de um veículo (o qual está destacados na tabela
acima) pois o mesmo tinha aplicação diferenciada ( com alto nível de extres ) em relação
aos demais.

4. Colheta de Dados

4.1 Dados do Sistema de Freio

Com os veículos já em utilização pelos clientes, começaram a ser realizadas pela Mercedes-Benz,
Knorr-Bremse e Jurid (fornecedor das pastilhas) análises periódicas nas pastilhas de freio. As
analises são realizadas aproximadamente a cada 45.000 Km durante as revisões de manutenção dos
veículos nas concessionárias. As análises do sistema de freio consistem em:

• Verificação/medição dos discos de freio


• Verificação do funcionamento do cáliper
• Verificação/medição das pastilhas de freio.

As medições das pastilhas são realizadas conforme o método descrito no item 2 (oito pontos pôr
pastilha ). Com as medições podemos obter a espessura média útil de material de atrito na pastilha,
calcular o desgaste relativo e com a quilometragem do veículo podemos efetuar uma projeção linear
“Tendência” da vida da pastilha, conforme podemos a seguir:

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* Ep = espessura da plaqueta da pastilha (mm)
* Emín. = espessura mínima do material de atrito (mm)
* Ei = espessura da pastilha medida no ponto i (mm)
* Euo = Espessura média útil inicial de material de atrito na pastilha (mm)
* Dn-1 = Desgaste relativo na medição anterior (%)
* Qn = quilometragem do veículo na enésima medição (Km)
* Qn-1 = quilometragem do veículo na medição anterior (Km)

* Espessura útil de material de atrito no ponto i (mm):

Eui = Ei - (Ep + Emín )


* Espessura média útil de material de atrito na pastilha na enésima medição (mm):

Eun = Eu1+Eu2+Eu3+Eu4+Eu5+Eu6+Eu7+Eu8
8

* Desgaste relativo na enésima medição (%):

Dn = Euo - Eun * 100


Euo

* Projeção Linear “Tendência” da Vida da Pastilha na enésima medição (Km):

Vtn = (Qn - Qn-1)*(100 - Dn-1) + Qn-1


(Dn - Dn-1)

Um exemplo do resultado do cálculo da Projeção Linear “Tendência” pode ser visto no gráfico da
figura abaixo para as oito pastilhas de um veículo.
C U R V A D E D U R A B IL ID A D E T EN D ÊN C IA
L S 1938/46 - c/ S e m i-R e b o q u e F re io a T a m b o r
100

90

80

70

PDDE
60 PDDI
Desgaste ( % )

PDEE
PDEI
50
PTDE
PTDI
40 PTEE
PTEI

30

20

10

0
0 5 0 0 00 1 0 0 00 0 1 5 0 00 0 2 0 0 00 0 2 5 0 00 0 3 0 0 00 0 3 5 0 00 0 4 0 0 00 0
Qu ilô m e t r o s ( Km )

4
Embora saibamos que a vida de uma pastilha não pode ser representada exatamente por uma
projeção linear, este é até o momento a única maneira que dispomos para realizar esta estimativa.
Objetivamos, com a experiência que estamos adquirindo através do estudo da confiabilidade das
pastilhas de freio, podermos encontrar fatores de correção para a vida projetada linearmente que
possam nos fornecer valores mais condizentes com a realidade.

4.2. Dados Gerais do Veículo

Para seleção dos dados a serem utilizados no Estudo de Confiabilidade foi necessário realizar um
rastreamento detalhado da aplicação de cada veículo, de modo que os valores de estimativa de vida
considerados no estudo fossem provenientes de veículos utilizados de maneira semelhantes. Com
esta finalidade, a Fa. Netz desenvolveu uma sistemática avançada para o levantamento de dados,
onde os valores obtidos pudessem ser levantados de diferentes modos e então confrontados.

Os dados foram obtidos das seguintes maneiras:


„ Monitoração remota dos veículos através de computador de bordo;
„ Pesquisa com os motoristas e levantamento do consumo de combustível, óleo lubrificante e da
carga transportada através do preenchimento do livro de bordo;
„ Acompanhamento das falhas através do sistema de informação de garantia da Mercedes-Benz.

A monitoração remota dos veículos envolveu o controle dos seguintes eventos:


„ Velocidades: faixas de utilização, velocidades média e máxima;
„ RPM: faixa econômica, sobregiro, marcha lenta, etc.;
„ Quilometragem: parcial e total rodadas;
„ Utilização do veículo: tipo de carga, trajeto, etc.;
„ Utilização dos freios: serviço e top-break;
„ Utilização do ar-condicionado;
„ Acelerômetro: variações vertical e horizontal.

Como exemplo de dados que são obtidos a partir desta monitoração, segue abaixo uma tabela que
ilustra as variáveis controladas que podem estar relacionadas com a vida das pastilhas de freio.

Veículo Velocidade Aceleração Freio de Serviço Freio Motor Freio de Serviço


Média (Km/h) Lateral/Vertical Total (%) (%) + Freio Motor (%)
(ocorrências)
1 62,7 112 / 3.140 12,8 8,6 5,2
2 68,8 7 / 1.770 9,5 7,0 3,3
3 60,7 20 / 1.415 3,6 12,8 1,1
4 59,1 0 / 1.900 12,1 4,7 4,0

5. Tratamento dos Dados:

5
5.1. Engenharia da Confiabilidade:

Visando obter os resultados relativos a Vida Útil das pastilhas de freio foram empregados os
conceitos da Engenharia da Confiabilidade utilizando os dados coletados sobre o sistema de freio e
os dados das características da aplicação dos veículos.

Seguindo uma definição formal, a Engenharia da Confiabilidade aplica ferramentas práticas e


teóricas para estimar a probabilidade de componentes, equipamentos e sistemas em desempenhar
suas funções por um período determinado e sob condições de uso definidas.

A Engenharia da Confiabilidade busca suprir a necessidade da empresa em conhecer e controlar a


Vida Útil de seus produtos. Só assim ela poderá reduzir seus custos sem comprometer a qualidade,
a segurança e a disponibilidade destes, fornecendo ao mesmo tempo a garantia de que o produto
exercerá sua função no período determinado com um mínimo de falhas.

Como resultados, Estudos de Confiabilidade fornecem informações que, uma vez compiladas e
analisadas, permitem estimar estatisticamente:

„ A Vida Útil do produto, com a classificação das falhas levantadas como de projeto (ou
processo), ocasionais ou por desgaste (ou fadiga);
„ Tempo Médio Entre Falhas (MTBF), que permite dimensionar estoques de reposição e planos de
manutenção;
„ A necessidade de correções em projetos e recalls, antes que as falhas em campo ocorram em
grande volume;
„ A confiabilidade necessária aos novos projetos, de modo a atender às espectativas crescentes
dos clientes.

5.2. Desenvolvimento e Análise:

Para o levantamento das Curvas de Confiabilidade foi necessário extrair os dados de uma amostra
representativa tanto qualitativa como quantitativamente. Após cerca de 6 meses de utilização dos
20 veículos, com rodagens entre 30.000 e 130.000 Km, foram realizadas medições das pastilhas e
com os dados obtidos foi realizada a Projeção Linear Tendência da vida das pastilhas, conforme
descrito no item 4.1 acima.

Partindo dos dados de projeção da vida útil das pastilhas, utilizando a ferramenta de confiabilidade
e os dados de tempo de frenagem fornecidos pelo computador de bordo, a Fa. ReliaSoft elaborou
gráficos que mostram a expectativa de vida das pastilhas do freio a disco nos veículos para os eixos
dianteiro e traseiro, como observamos a seguir:

Desconfiabilidade
100
Weibull
Freio Dianteiro

P=3, A=MLE-S 6
F=40 | S=0
Freio Traseiro
D
50 P=3, A=MLE-S
es F=40 | S=0
Confiabilidade
10
Weibull
Freio Dianteiro

P=3, A=MLE-S
8 F=40 | S=0
Freio Traseiro

P=3, A=MLE-S
C F=40 | S=0
on
6
fia
bi
li
da 4
de

0
0 600.00 1.200.00 1.800.00 2.400.00 3,00E+6 K

β1=0,68, η1=8,04Ε+5, γ1=2,82Ε+5


β2=1,05, η2=4,97Ε+5, γ2=1,92Ε+5

Confiabilidade das Pastilhas de Freio


Dos gráficos podemos concluir:

Confiabilidade das Pastilhas de Freio:

7
(Km) 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000
Eixo Dianteiro 100% 100% 93% 76% 66%
Eixo Traseiro 100% 98% 82% 67% 55%

Exemplo 1: Há 93 % de probabilidade de que as pastilhas do eixo dianterio durem 300.000 Km


ou mais.

Exemplo 2: Há 82 % de probabilidade de que as pastilhas do eixo traseiro durem 300.000 Km


ou mais.

6. Conclusão:

O Estudo de Confiabilidade mostrou que as pastilhas de freio tem apresentado boa durabilidade
uma vez que a vida útil mínima é de aproximadamente 300.000 Km para o eixo dianteiro e de
200.000 Km para o eixo traseiro. Também podemos perceber que a vida útil das pastilhas será
maior que 500.000 Km para 66% dos veículos no eixo dianteiro e 55% dos veículos no eixo
traseiro.

Também com base no estudo podemos afirmar que as pastilhas do freio do eixo dianteiro
apresentarão uma vida útil maior que as pastilhas do eixo traseiro em 70 % dos veículos. Isto pode
ser explicado pelo fato de a massa do eixo traseiro ser maior que a massa do eixo dianteiro e pelo
fato das condições de refrigeração das pastilhas ser mais eficiente no eixo dianteiro, o que acaba
fazendo com que as pastilhas do eixo traseiro trabalhem por mais tempo a altas temperaturas. Como
o desgaste das pastilhas é função da temperatura, as pastilhas do eixo traseiro sofrerão maior
desgaste.

Os valores da Vida Útil da pastilha encontrados através do Estudo de Confiabilidade nos mostra
que o sistema de freio a disco, quanto ao aspecto de durabilidade, tem mostrado uma boa adaptação
às características das aplicações dos veículos pesados do mercado brasileiro, uma vez que estes
valores são superiores aos valores conhecidos para a vida útil das lonas de um freio a tambor nas
mesmas aplicações.

Como o Sistema de Freio a Disco ainda pode ser considerado uma nova tecnologia sendo
introduzida no mercado brasileiro, o acompanhamento da durabilidade da pastilha ainda irá se
estender, porém o Estudo de Confiabilidade já nos permite concluir que este sistema apresenta
resultados muito superiores que os dos sistemas convencionais utilizados hoje em dia.

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