Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ISSN: 2317-0018
Universidade Estadual de Maringá
12, 13 e 14 de Novembro de 2014
sentido quando o ser passa por essa experiência? Como é constituir-se enquanto projeto
sendo no mundo com uma doença mental? Há limitações, restrições na abertura ao ser?
Dessa forma o objetivo da pesquisa foi compreender o projeto existencial no modo de
ser esquizofrênico à luz da fenomenologia ontológica de Heidegger.
O diagnóstico de esquizofrenia utilizado contemporaneamente foi criado por
Eugen Breuler (1857-1939) ao descrever seus sintomas fundamentais - os “quatro As":
associação frouxa de ideias, ambivalência, autismo e alterações de afeto. São variados
os tipos de esquizofrenia e dividem-se em esquizofrenia simples, paranoica,
hebefrênica, catatônica e a dicotomização em subtipos I e II ou positivo negativo,
acréscimo este feito por Crow em 1980 (SILVA, 2006).
Seus primeiros sinais aparecem mais comumente entre a adolescência ou o inicio
da idade adulta. Sua causa é ainda desconhecida, porém considera-se que é uma doença
de fatores causais múltiplos, entre eles a genética, situação psicológica, estrutura
cerebral, fatores ambientais como estresse e uso de drogas, distúrbios do
neurodesenvolvimento na vida intrauterina entre outros. Os principais sintomas
encontrados na manifestação da patologia são as alucinações, delírios, transtornos de
pensamento e da fala, distúrbios comportamentais e corporais, perturbações das
emoções e do afeto, déficits cognitivos e avolição (SILVA, 2006). Em meados do
século XX iniciou-se o que Silva (2006) chamou de “Revolução Farmacológica da
Psiquiatria”, que culminou no desenvolvimento de antipsicóticos, o que abriu portas
para intervenções não apenas nos hospícios e hospitais, de encarceramento e isolamento
do doente mental, mas intervenções sociais e psicológicas, que trazem benefícios ao
paciente através de inserção e melhor compreensão de sua doença até mesmo no cunho
social. Segundo Augras (1986), fazer diagnóstico dentro da perspectiva fenomenológica
é identificar e explicitar o modo de existência do sujeito em seu relacionamento com o
ambiente em determinado momento e que feixes de significados ele constrói de si e do
mundo. A adequada descrição fenomenológica do mundo particular, singular e concreto
do sujeito e de sua situação atual tem de apoiar-se numa aproximação que procure
apreende-la em sua totalidade. Uma pessoa doente é antes de tudo uma pessoa que
sofre.
IV SEMINÁRIO DE PRÁTICA DE PESQUISA EM PSICOLOGIA
ISSN: 2317-0018
Universidade Estadual de Maringá
12, 13 e 14 de Novembro de 2014
em um sentido de iluminação para tudo aquilo que vem a sua existência, entes e mundo.
Ela diz:
Ó lá, os morros, as serras, as montanhas, a paisagem, e
Estamira!... Estamar... Estasserra... Estamira está em tudo quanto é
canto... Tudo quanto é lado... Até meu sentimento mesmo vejo... Todo
mundo vê Estamira! (PRADO, 2005)
Estamira afirma que possui um objetivo, uma missão, que sua existência :apenas
foi consolidada e se mantêm graças a ela. Mesmo em crise, sua fala remete ao ser que se
compreende enquanto abertura, uma pré-compreensão que já está sempre na abertura do
ser:
Antes de eu nascer eu já sabia de tudo. Antes de eu estar com carne e
sangue, é claro, se eu sou a beira do mundo. Eu sou Estamira. Eu tô lá,
eu tô cá, eu to em tudo quanto é lugar. E todos dependem de mim.
Todos dependem de Estamira. Todos. E quando desencarnar vou fazer
muito pior. (PRADO, 2005)
Ao dizer que está em todo lugar, que poderia ser isso ou aquilo, mas que não é.
Podemos pensar que Estamira mostra seu ser-aí como um poder-ser, como ser de
projeto, e como diz Heidegger, esse poder-ser não tem a ver com o planejar, da forma
como entendemos no cotidiano.
O projetar-se nada tem a ver com um possível relacionamento frente a
um plano previamente concebido, segundo o qual a pre-sença
instalaria o seu ser. Ao contrário, como pre-sença, ela já sempre se
projetou e só é na medida em que se projeta. Na medida em que é, a
pre-sença já se compreendeu e sempre se compreenderá a partir de
possibilidades. (Heidegger, 1927, p. 201)
SILVA, R. C. B. Esquizofrenia: uma Revisão. Psicologia USP: São Paulo, v. 17, n. 4, p. 236-
285, 2006.