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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ

THAÍS MANHÃES RANGEL

LÁGRIMAS DE MULHER
Resenha crítica

CAMPOS DOS GOYTACAZES


2020
1. Introdução
O filme em curta-metragem Lágrimas de Mulher, sob direção de Harlles
Bruno, publicado no Youtube em 15 de dezembro de 2017, apresenta a história dos
cônjuges Jair e Ângela, na qual mostra o cotidiano conjugal e com isso alguns
contratempos decorrentes desse vínculo.
O casamento é conceituado no Código Civil em seu art. 1.511 como
“comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos
cônjuges”. O casamento adota a teoria eclética ou mista no que concerne a sua
natureza jurídica, considerando sob um aspecto formal como contrato e institucional
quanto ao conteúdo.
A relação conjugal possui um novo parâmetro diante da sociedade nos dias
atuais, o casamento que antes era visto com objetivo principal de reprodução, ou
seja, ter filhos, no entanto, hoje é observado pela ótica do afeto, da relação
amorosa, levando em consideração não somente o fato de ter filhos, mas toda
questão afetiva que envolve o matrimônio.

2. Filme Lágrimas de Mulher


O filme em análise relata que a vida conjugal de Jair e Ângela apresenta
alguns conflitos no que tange a vontade dos cônjuges. Ângela notadamente deixa
explicito sua vontade em ter uma filha, enquanto Jair brinca com a situação e com a
possibilidade de ser um menino, e a questiona o motivo de querer um menino se ela
já possui o como cônjuge.
Aparentemente Ângela sabia que Jair tinha alguma dificuldade para
reproduzir, pois em uma de suas conversas ela indaga sobre o cônjuge varão iniciar
o tratamento para uma possível gravidez.
Jair é comerciante e todos os dias ao chegar do trabalho, sentava-se a mesa
e contabilizava e separava o dinheiro do dízimo, que era de costume ser ofertado
por ele à igreja. Contudo, além do envelope que possuía para guardar o dízimo,
parte do dinheiro ele colocava em um envelope apartado, o que deixou Ângela muito
desconfiada e começar a observar que o marido tinha sempre a mesma atitude.
Ângela com o intuito de descobrir o que o cônjuge a escondia, após o culto
em que sempre frequentavam, ficou observando o que Jair iria fazer com o outro
envelope que guardara em seu paletó. Jair com cuidado para que ninguém visse,
encontrou uma mulher em um beco, onde a entregou o envelope com dinheiro, e ela
o agradeceu, o entregou um papel e os dois se abraçaram. Contudo, Ângela seguiu
o marido e observou toda cena de longe.
No próximo dia, a personagem pegou o papel no paletó de seu cônjuge
enquanto ele dormia e viu que era um desenho de um homem e uma criança.
Ângela acreditando que seu marido estava a traindo, e que poderia até o desenho
representar ele com um possível filho, saiu de casa sem deixar vestígios.
Logo após, encontraram-se na igreja, Ângela, Jair, a mulher com quem
Ângela acreditava que Jair estava mantendo relações, e uma criança. A mulher
explica que Jair a ajudava após a morte do pai de seu filho, momento em que
passava por grandes dificuldades, e que queria se desculpar pelo grande equívoco
que tinha provocado. E Jair revelou a Ângela sua esterilidade, e impossibilidade de
gerar filhos. E assim se encerra o referido filme.

3. Teoria das nulidades na impotência couendi e impotência generandi

O art. 1.550, inciso III, do CC aduz que é anulável o casamento por vício da
vontade, por sua vez, o art. 1.556 e 1.557, inciso III, do CC dizem que o casamento
pode ser anulado por vício da vontade quando houver erro essencial quanto à
pessoa do outro, que pode se dar com a ignorância, anterior ao casamento, de
defeito físico irremediável.
Pode ser considerada como defeito físico irremediável a impotência coeundi.
A doutrina faz distinção entre a impotência coeundi e a impotência generandi, pela
primeira verifica-se a incapacidade de conjunção carnal e há a possibilidade de
anulação do casamento diante desse fato, já pela segunda observa-se a
incapacidade de gerar filhos, onde não há a autorização para anulação do
casamento, conforme ressalta Flávio Tartuce: “É importante destacar que a
impotência generandi ou concipiendi (para ter filhos) não gera a anulabilidade do
casamento”. Ratifica ainda o julgado a seguir:

“Duplo Grau Obrigatório de Jurisdição. Ação de anulação de


casamento. Sentença de procedência do pedido. Ausência de recurso
voluntario tempestivo. Reexame necessário do julgado no 2. Grau de
jurisdição.
Processo com tramitação regular, que foi acompanhado pela
representação do Ministério Público e contou com a atuação do
Curador do vinculo. Decisão monocrática embasada na prova dos
autos e fulcradas nas regras dos arts. 218 e 219, III, do Código Civil. A
impotência “coeundi”, mesmo relativa, se desconhecida anteriormente
pela mulher e impeditiva da consumação do casamento, com a
realização do ato sexual, segundo a doutrina e jurisprudência, constitui
motivo para se anular o matrimonio civil, por tratar-se de defeito físico
irremediável, considerado erro essencial sobre a pessoa do outro
cônjuge, capaz de viciar o consentimento dado para a celebração do
ato jurídico especial. Formalidades legais necessárias observadas.
Decisão judicial compatível. Confirmação do julgado no procedimento
sobre seu reexame obrigatório. (CTP)
(TJ-RJ – REEX: 00352763019998190000 RIO DE JANEIRO PARATY
VARA ÚNICA, Relator: RONALD DOS SANTOS VALLADARES, Data
de Julgamento: 09/10/2001, SEXTA CÂMARA CÍVEL, Data da
publicação: 09/10/2001).

4. Considerações finais

Portanto, o caso em análise trata da impotência generandi, impossibilidade de


gerar filhos, o que não possibilita cogitar a anulação do casamento de Ângela e Jair,
não causando interferência a indagação de que Jair tinha conhecimento da
esterilidade antes do casamento ou não. Ângela pode optar pelo divórcio,
dissolvendo a relação conjugal. A diferença encontra-se nas consequências jurídicas
dos dois institutos, de acordo com Pablo Stolze “anulado o matrimônio, a sentença
que o invalida retrotrai os seus efeitos para atingi-lo ab initio, cancelando inclusive o
seu registro, razão por que os cônjuges retornam ao estado civil de solteiro”. Ao
optar pelo divórcio ela terá o estado civil de divorciada, terão de resolver questões
patrimoniais no que tange o regime de bens adotado no casamento, podendo
permanecer com o nome de casada, caso tenha alterado quando do casamento.
No divórcio não há a necessidade de justificativa para fazê-lo, não
interessando quem é o culpado pelo término da relação, nem mesmo aguardar
qualquer prazo. Também não há que se falar em aceitação do outro cônjuge, trata-
se de direito absoluto.
Referências

Gagliano, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil, volume 6 : Direito de família —
As famílias em perspectiva constitucional / Pablo Stolze Gagliano, Rodolfo
Pamplona Filho. 2. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo : Saraiva, 2012.

Tartuce, Flávio. Direito civil, v. 5 : Direito de Família / Flávio Tartuce. – 12. ed. rev.,
atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2017.

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