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A Feira de Artes e Artesanato de Belo Horizonte teve seu início no final dos
anos 60, quando alguns artesãos e adeptos do movimento “hippie”
começaram a expor seu trabalho na Praça da Liberdade. O aumento do
número de expositores fez com que a Feira, inicialmente, ganhasse dois
dias de exposição (quinta-feira à noite e domingo pela manhã), e os
expositores, que passaram por dois processos licitatórios para demonstrar a
execução de seus trabalhos, foram credenciados pela Prefeitura, que
gerenciava e fiscalizava todo o funcionamento da feira que, logo, ganhou
renome em todo o País. Mas o grande aporte de visitantes, muitos deles de
outros Estados do Brasil, levou a Prefeitura de Belo Horizonte a se
preocupar com a preservação da histórica praça, buscando um novo espaço
em que coubessem todos os expositores por ela credenciados. Assim, a
antiga “Feira Hippie” passou a funcionar apenas aos domingos, sob o atual
nome de “Feira de Artes e Artesanato de Belo Horizonte”, na extensão da
Avenida Afonso Pena, centro da cidade, entre as ruas da Bahia e Guajajaras.
Vê-se, portanto, que a Feira conta com mais de trinta anos de atividade, e
muitos dos expositores que ainda hoje lá se encontram remontam aos
primeiros tempos, tendo tirado da Feira, como ainda tiram, o sustento
próprio e de suas famílias, aprimorando seus produtos e suas técnicas
artísticas ou artesanais para oferecer produtos de qualidade a preços
acessíveis.
Como dito alhures, a Feira conta com mais de trinta anos de existência e,
neste lapso temporal, muitos feirantes deixam de exercer suas atividades
por razões variadas: falecimento, impossibilidade (física, financeira, etc) de
continuar as atividades, ingresso em emprego formal, dentre outros.
Nestes casos, em todo esse tempo a Prefeitura raramente (para não dizer
jamais) realizou qualquer procedimento para seleção de novos artistas ou
artesãos para ocupar essas vagas. O que se sabe é que, na maioria das
vezes, estas vagas eram ofertadas pela Prefeitura a pessoas que não
passavam por qualquer procedimento licitatório, até para atender a pedidos
políticos. Em contrapartida, no caso de falecimento do expositor titular seus
sucessores não conseguiam licenciamento para exposição, ainda que
tivessem aprendido o mesmo ofício artesanal com seus antepassados.
Some-se a isso o fato de que a fiscalização da PBH jamais conseguiu apurar,
de forma consistente e irrefutável, a ocorrência da dita comercialização de
espaços. Ao contrário, justamente pela não-ocorrência desta dita
“comercialização” de espaços houve um esvaziamento da Feira, o que é
bem fácil de se apurar – basta verificar, nas folhas de chamada realizadas
pelos fiscais da PBH todos os domingos, a grande quantidade de barracas
para as quais não consta a assinatura do expositor ou de seu preposto.
Como se vê o que sempre faltou foi a devida fiscalização por parte do órgão
que concedeu a concessão. Jamais por desrespeito por parte dos artesãos
que fizeram e construíram aquele espaço, como dito, de renome nacional e
internacional.
De acordo com o edital, somente pessoas que têm baixo (ou nenhum)
grau de instrução e residem em moradias precárias e não dispõem
de veículo próprio – nem mesmo um veículo usado para uso
exclusivo de transporte de seus produtos para a Feira – possuem
condições reais e efetivas de alcançar a pontuação mínima exigida
no edital. Ou seja, aqueles expositores que, ao longo dos mais de trinta
anos, conseguiram a duras penas comprar sua residência em um dos
diversos planos governamentais de incentivo à casa própria, ainda que se
trate de imóvel financiado e até hoje não quitado, correm sério risco de não
alcançarem a pontuação necessária para a segunda fase de avaliação, o
mesmo ocorrendo com aqueles que alcançaram um grau de instrução um
pouco mais avançado – além do ensino fundamental.
No item 3.3, alínea “b” estabelece o referido edital que serão eliminados os
candidatos que não obtiverem ao menos 630 pontos na avaliação
socioeconômica prevista no item 4.1”.
Vale ainda lembrar que o processo seletivo, de acordo com o item 2.5
possui três fases distintas: I – inscrição; II – avaliação socioeconômica e III –
avaliação técnica.
Logo abaixo verifica-se que a Prefeitura também avalia melhor quem não
tem carro. O candidato que tenha um carro, mesmo que este seja utilizado
para transportar as suas mercadorias, que tenha mais de 5 anos, só tem 4
pontos simples. Quem não tem carro, ganha 40 pontos e quem só tem uma
motocicleta, ganha 6 pontos simples. Isso faz com que venha a ocorrer, por
incentivo do próprio órgão permissionário, uma corrida para transferir às
vezes o único imóvel (normalmente financiado) e o único carro para o nome
de terceiros, exatamente por achar que a miserabilidade vale muito mais do
que a pessoa que quer viver condignamente do seu trabalho, tendo
condições mínimas para poder levar seus produtos e vender no local
permitido.
Mas, mesmo que haja algum candidato que consiga 630 pontos para passar
para a última etapa do processo licitatório, ele, fatalmente não conseguirá
ultrapassar esta fase, que trata da avaliação técnica dos produtos, que
passamos a analisar.
Nesta etapa, o candidato terá que arrecadar mais 206 pontos no mínimo
para conseguir, finalmente, obter a sua credencial, sendo quase impossível
chegar ao final com tal pontuação, fato que passamos a examinar.
- POLÍTICA DE QUALIDADE
- CONTRATAÇÃO DE APRENDIZES
- CUSTOS DE MÃO-DE-OBRA
- PLANO DE AÇÃO
É, no mínimo, curioso ver que as duas avaliações não se coadunam entre si:
se, na fase socioeconômica, o edital privilegia o baixo grau de instrução,
baixa renda e condições precárias de residência, como poderia exigir, na
segunda fase, local próprio de produção, uso de equipamentos de proteção
individual, treinamento de aprendizes e “política de qualidade”, por
exemplo?