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1.

INTRODUÇÃO

O setor de rochas ornamentais está em um ramo industrial que tem se


destacado no cenário mundial por movimentar milhares de empregos em todo
o mundo, além de se apresentar como atividade econômica muito promissora
para a sociedade nas próximas décadas.

Atualmente a produção brasileira de rochas ornamentais atinge cada


vez mais números crescentes de produção no cenário nacional, sendo o
Espírito Santo o principal produtor e exportador do país. Em contrapartida, o
setor proporciona também impactos ambientais negativos devidos,
principalmente, ao grande volume de recursos minerais extraídos e resíduos
gerados.

O seguinte trabalho aborda o estudo dos resíduos desde sua geração


em fases de extração e beneficiamento primário e secundário, bem como sua
possível utilização e o desenvolvimento de projetos sustentáveis de
processamento da lama abrasiva, por exemplo, com intuito de se obter
subprodutos. Descreve ainda, as principais atividades desenvolvidas e em
andamento por órgãos de pesquisas na atualidade, que buscam a
quantificação e qualificação dos resíduos, estudos de utilização e
desenvolvimento dentro do ciclo processamento de rochas ornamentais.
2. ROCHAS ORNAMENTAIS: RESÍDUOS

A cadeia produtiva mineral é um processo que envolvem múltiplos atores


e inclui as atividades de lavra, beneficiamento do minério e comercialização do
produto final. Como toda atividade mineral, ela produz impacto ambiental,
interferindo no ar, nas águas, produzindo vibrações, ruído e mudando a
dinâmica social do seu entorno. No caso do segmento de rochas ornamentais,
a extração ocorre nas pedreiras, seguindo-se nas serrarias o desdobramento
dos blocos, transformando-os em produtos semi acabados e, posteriormente, o
beneficiamento secundário em produtos acabados. Em cada fase do processo
existe um foco poluidor e a capacidade de produção de resíduos e rejeitos,
assim como as dificuldades relacionadas à destinação final tem sido o desafio,
especialmente após a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos
(PNRS).
Alternativas para a utilização dos resíduos gerados na lavra e no
beneficiamento de rochas ornamentais são estudadas de modo a considerar o
resíduo como um “minério” de interesse industrial e econômico e buscam
demonstrar sua viabilidade técnica e econômica de modo a torná-los insumos
potenciais dos principais setores industriais consumidores, como a Indústria
cerâmica, a agricultura, o setor de polímeros e a própria indústria de rochas
ornamentais e de revestimento (uso em mosaicos, tesselas, entre outros). Tais
iniciativas permitem novas possibilidades de retorno para a empresa, que
ampliará seu nicho de mercado, uma vez que a demanda por insumos minerais
é crescente, e atenderá às novas exigências ambientais quanto aos novos
padrões de consumo, a exemplo das certificações ambientais para a
construção civil.

2.1 RESÍDUOS DE EXTRAÇÃO

As atividades de mineração, como a lavra e o processamento, são


consideradas altamente agressoras ao meio ambiente, devido aos múltiplos
impactos que são produzidos a partir delas. Entre as agressões, podem
mencionar-se, a degradação da paisagem, do solo, do relevo, das águas,
transtornos à sociedade no entorno das minas, e sérios problemas à saúde das
pessoas diretamente envolvidas no empreendimento (Filho, et al, 1998; Silva et
al, 2002).

Paisagem desfigurada pela extração de mármores, Itaóca, Cachoeiro de Itapemirim -


ES Fonte: Google street view

A maior parte dos resíduos do setor de rochas ornamentais é constituída


por resíduos grossos gerados nas próprias pedreiras (blocos não aproveitados
por estar fora de padrão, fragmentos de rocha, rocha alterada do capeamento,
entre outros).
É visto a grande necessidade de que se busquem Medidas Mitigadoras
com relação à diminuição do volume de estéril na operação de extração e corte
dos blocos, algumas medidas devem ser tomadas para alcançar melhores
resultados.
Podemos citar entre muitas medidas, algumas que são essências para
um bom aproveitamento na lavra, são elas:
 Orientação junto aos operários de práticas corretas de explotação de
pedreiras;
 Orientação junto ao empresário de métodos de recuperação de áreas
degradadas pela pedreira;
 Orientação para um uso mais racional da matéria-prima local;
 Desenvolvimento de estudos para disposição do resíduo de acordo com
a legislação ambiental vigente;
 Desenvolvimento de estudos para o aproveitamento do material estéril
gerados da lavra e do rejeito no beneficiamento.

Podemos dizer que nesta última proposta é de especial importância já


que o aproveitamento do resíduo contribuiria para diminuir o impacto ambiental
dos volumes de materiais acumulados nas pedreiras. Ressalta-se que este é
um dos principais, senão o principal, problema observado hoje nas principais
pedreiras.

Pedreira de quartzito Verde Gaya – Marbrasa, Jaguarari – BA, Fonte: Arquivo


Marbrasa
Desse modo, é possível traçar pesquisas com estudos para alternativas
e novas metodologias tecnológicas que podem ser utilizadas para cada tipo
específico de resíduo produzido pelas pedreiras e como eles podem ser
classificados em função dos tamanhos, um modelo básico pode ser
apresentando a seguir;
Classe A: composto por areia e grãos de pequenas dimensões, na faixa de 0,1
a10 cm;
Classe B: constituído por fragmentos com forma regular ou irregular, com
dimensões de 10 a50 cm; e,
Classe C: composto pelos blocos com forma regular ou irregular, com
dimensões de 50 a150 cm.
Tais materiais foram produzidos, principalmente, pela desagregação
mecânica da rocha e pelo desmonte e corte dos blocos. Para o aproveitamento
desses resíduos têm sido propostas as seguintes alternativas:

Agregados para construção civil: Recomenda-se usar a fração de material


pertencente à Classe A, na faixa granulométrica entre 0,1 e 10 cm. Esse
material poderá ser britado e/ou peneirado para produzir agregados de
diferentes granulometrias, conforme as normas técnicas recomendadas pela
ABNT.

Fluxograma para tratamento de resíduos grossos


Substituição nas argamassas de areia natural pelo pó de pedra.

Placas e outros, para pisos e revestimento de muros: Para confecção de


placas, lajotas, bloquinhos, lajinhas e lajotinhas, com tamanhos diferenciados
aos padrões comerciais. O desplacamento dos blocos seria realizado através
de talhadeiras bem como empregando-se máquinas de corte providas de
arranjos de multidiscos diamantados. Os produtos poderão ser destinados a
pisos para edifícios e residências, e para revestimentos em muros externos. A
classe C desse material, na faixa entre 50 e 150 cm, poderá ser usada para
essa finalidade. Esse material seria aproveitado por pequenas serrarias para
suprir o mercado local.
Indústria cerâmica: Os resíduos denominados de classe A ou da classe B
poderão ser cominuídos (britado e moído) para liberação dos minerais e em
seguida separados através de concentração gravimétrica e/ou separação
magnética, visando a concentração do feldspato dos outros minerais como
quartzo e biotita.
Granitos artificiais: Os resíduos denominados da classe A e B poderão vir a
ser moídos em granulometria adequada para fabricação de granitos artificiais.
Essa tecnologia, apesar de recente, é muito promissora, especialmente, para
atender a demanda provinda do mercado interno e externo.
Muros e barragens de contenção: Os blocos de maiores dimensões (classe
C) podem ser usados na construção de muros de contenção em obras civis,
assim como em barragens de pequeno porte, e em edificações para dar
estabilidade à estrutura.
Mosaicos: Para fins decorativos de muros e pisos em residências e edifícios,
confeccionando figuras compostas empregando a técnica de mosaicos.

Essas alternativas, no entanto, para implantação precisam de prévia


avaliação tecnológica do resíduo, a partir de estudos de caracterização física,
mineralógica, química, propriedades mecânicas e ensaios de concentração,
para se determinar as adequadas aplicações do resíduo gerado na pedreira.
2.2 RESÍDUOS DE BENEFICIAMENTO PRIMÁRIO (SERRAGEM)

O beneficiamento primário de granitos comerciais consiste no


desdobramento de blocos rochosos de aproximadamente 9 m³ em chapas
retangulares de aproximadamente 5 m². O desdobramento é feito utilizando
máquinas denominadas teares, podendo ser tanto de lâminas de aço
(multilâmina) quanto de fios diamantados (multifio).
A serragem dos blocos, na sua grande maioria, é realizada com os
teares multilâminas, que representam um modelo mais tradicional e
amplamente difundido para o desdobramento de granitos comerciais.
Quando os teares realizam o processo de desdobramento do bloco em
chapas, liberam uma espécie de pó resultante do corte dos blocos de granitos,
que juntamente com a cal e a granalha, formam uma lama denominada de
lama abrasiva, que tem como principais objetivos: lubrificar e resfriar as
lâminas, evitar a oxidação das chapas, servir de veículo ao abrasivo (granalha)
e limpar os canais entre as chapas. A lama abrasiva é distribuída por chuveiros
sobre o bloco através de bombeamento.

Um importante mecanismo deste processo é o controle da viscosidade


da lama, que é realizado acrescentando-se periodicamente água e
descartando-se a parcela da mistura de menor granulometria, é bombeada
para um tanque onde é efetuada a separação da mistura de maior
granulometria. Nos casos mais gerais, esta separação é feita por densidade.
Deixa-se o tanque ser preenchido completamente e separa-se a fração de
menor granulometria que se posiciona na região superficial, de onde será
descartada por transbordamento (ROCHAS DE QUALIDADE,1993).
A partir deste descarte, o resíduo é transportado e, posteriormente,
depositado em poços e lançados em tanques de deposição final, estes tanques
absorvem toda a geração de rejeito do desdobramento. Uma vez cessada esta
capacidade, o volume depositado é removido para que o tanque fique
novamente pronto para estocagem de nova quantidade de resíduo
(FARIAS,2002).
A lama abrasiva, gerada no desdobramento de granito, é um grave
problema para as indústrias de beneficiamento de rochas ornamentais, devido
ao descarte desta no meio ambiente, sendo esta uma preocupação dos
empresários a fim de buscar soluções adequadas para o manejo e gestão
deste passivo ambiental.

Os teares multifio representam uma evolução tecnológica idealizada a


partir do sucesso do uso do fio diamantado na lavra de rochas ornamentais.
Eles são constituídos de uma estrutura (armação) metálica, com suportes
cilíndricos que se movimentam em sentido vertical, sobre os quais se dispõem,
de forma equidistante e tensionados, até 72 fios diamantados, que realizam um
movimento rotatório em torno dos suportes. Esse conjunto armação/fios é
suportado por duas ou quatro colunas (dependendo do fabricante e do modelo)
e girando e movimentando-se verticalmente em sentido descendente, os fios
diamantados entram em contato com o bloco proporcionando o seu
desdobramento em chapas. O corte é realizado a úmido, sendo o conjunto
constantemente molhado com água. Chama-se cala (velocidade de corte) à
distância percorrida na descida do conjunto em função do tempo gasto.
A tecnologia de fio diamantado aplicada ao beneficiamento primário de
granitos comerciais melhora a produtividade, pois a cala do tear multifio (até 80
cm/h) é maior que à do tear multilâmina (até 20 cm/h). O fio diamantado (figura
3) é constituído por um cabo de aço sobre o qual são fixadas pequenas
peças cilíndricas diamantadas (pérolas), distanciadas entre si por um
plástico/borracha especial injetado
a alta pressão. A pérola diamantada utilizada no fio apresenta,
aproximadamente, diâmetro inicial de 6,7mm, tendo sua utilização finalizada
quando apresentar diâmetro de 5,2mm.

O resíduo gerado quando se considera o tear multifio é uma lama


composta basicamente por pó de rocha e alguns micro cristais de diamante
que vieram a se desprender do fio diamantado e água. Já no tear multilâmina,
a lama contém pô de rocha, cal, água, granalha de aço ou ferro e a lâmina
desgastada. Em ambos os casos, mais de 95% da água utilizada é recirculada.
Foram feitos cálculos para verificar a quantidade de resíduo que é gerado nas
serradas analisadas, mensurando o volume de rocha desgastada pela largura
dos sulcos que são feitos no bloco, ao ser cortado com os teares em questão
(aproximadamente 6,8 mm no tear multifio e 7,6 mm no tear multilâmina). Eles
indicaram que aproximadamente 26% do volume do bloco é perdido na forma
de resíduo fino. Mais especificamente, no tear multifio o volume de resíduo
mensurado equivale a 26,35% do volume do bloco e no tear multilâmina
equivale a 26,88%. Porém, no tear multilâmina os insumos utilizados também
se transformam em resíduo, o que indica que a quantidade é maior que no tear
multifio. Em termos quantitativos, os cálculos mostram que a quantidade de
resíduo em função da quantidade de chapa produzida (kg/m²) que é gerado no
tear multifio equivale à 79% do que é gerado no tear multilâmina. Além disso,
na maioria das serradas são gerados casqueiros (irregularidades na largura e
comprimento do bloco) que em sua grande maioria são perdidos. Quando se
utiliza o tear multifio para o desdobramento do bloco, de acordo com as
planilhas consideradas, essa perda equivale a aproximadamente 10% do
volume do bloco, já no tear multilâmina ela corresponde a aproximadamente
15%. Em termos qualitativos há também uma grande diferença entre os
resíduos gerados, já que o tear multilâmina contém resíduos metálicos dos
insumos de corte que podem ser prejudiciais ao meio ambiente, resíduos
inexistentes na lama do tear multifio.

2.2 RESÍDUOS DE BENEFICIAMENTO SECUNDÁRIO (POLIMENTO)

O processo de polimento e lustro de placas de rochas ornamentais constitui-se


de uma série de operações que reduzem a rugosidade da superfície serrada
para imprimir determinada intensidade de brilho. É feito por meio de elementos
abrasivos que, conduzidos em movimentos de fricção sobre o material, vão
desbastando-o até atingir o grau de polimento desejado. A qualidade final do
polimento de uma placa de rocha ornamental é determinada apenas por
métodos empíricos. Como regra geral, tal parâmetro é inferido pela
granulometria dos abrasivos utilizados durante as etapas de polimento
(SILVEIRA, 2004).
Os equipamentos utilizados nessa operação são chamados de politrizes, que
utilizam rebolos abrasivos (Figura 1) fixados em cabeçotes rotativos que, por
sua vez, são aplicados sob pressão e em movimentos circulares sobre a
superfície das placas. Como as chapas provenientes do desdobramento de
blocos apresentam uma rugosidade elevada, o polimento deve ser realizado
pela diminuição gradual dessa rugosidade. Para tal, utilizam-se rebolos de
grãos abrasivos de granulometrias diferentes, em seqüência decrescente. Para
refrigeração do processo e limpeza da chapa ao longo do polimento, utiliza-se
um fluxo constante de água (MACHADO e CARVALHO, 1992).

Foto politriz
CONCLUSÃO

As atividades de lavra, especialmente, a extração de rochas


ornamentais, acarretam impactos ao meio ambiente, em diferentes níveis e
intensidades. Entretanto, seus impactos ambientais poderão ser minimizados e
controlados se medidas de prevenção fossem adotadas. Caso isso não seja
possível, ainda têm-se medidas remediadoras para restabelecer o meio
ambiente original da pedreira. Em termos de custo, as medidas preventivas são
menos onerosas que as medidas remediadoras.
Nesse tipo de atividade, se recomenda a adoção de um programa de
prevenção a fim de que cuidados sejam tomados, através do planejamento pré-
operacional da lavra, envolvendo métodos de avaliação e pesquisa mineral do
maciço rochoso, caracterização tecnológica com ênfase na previsão dos
impactos ambientais.
O meio ambiente é o bem mais precioso para a manutenção da humanidade, bem como de
todos os seres vivos, para tanto as intervenções antrópicas devem ser feitas com
responsabilidade, respeitando a legislação vigente. Diante do exposto, fica evidente que a
exploração de rochas ornamentais tem uma grande importância econômica e social para o
município de Picuí, porém acarreta grandes impactos ambientais que precisam urgentemente
de soluções. Este trabalho permitiu identificar os principais problemas ambientais associados à
exploração de rochas ornamentais na Pedreira Saco da Serra, tais como desmatamentos,
descarte de rejeitos em locais impróprios, assoreamento de açude, e consequentemente
indicar alternativas mitigadoras simples e que agreguem trabalho e renda para o homem que
lida com a lavra de bens minerais.
REFERÊNCIAS

http://www.pedreirassaotome.com.br/produtodetalhado.php?
idprod=1467&tituloproduto=PEDRAO%20CORTE%20MANUAL%20PARA
%20MURO...

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