A Saúde do Trabalhador

Uma Visão Histórica

Manoel Deusdedit Júnior

Existe alguma relação entre
Trabalho e Adoecimento?
 Doença e Trabalho na Antigüidade
 Grande desinteresse, já que trabalho (sobretudo o
manual) era destinado aos escravos;
 Hipócrates (460-375 aC) descreve o quadro clínico
da intoxicação saturnina (chumbo) em um
trabalhador mineiro;
 Primeiras preocupações com o trabalhador –
Lucrécio (sec. I aC), poeta que se perguntava, ao
se referir aos cavouqueiros das minas:
“Não viste ou ouviste
como morrem em tão pouco tempo
quando ainda tinham tanta vida pela frente?”
 Entre os romanos, já encontramos algumas
preocupações com os trabalhadores das minas
(Plínio, 23-79 dC)
 Idade Média
 Há poucas referências sobre estudos da
relação saúde / trabalho na Idade Média.

 Por que?
 Primeiras deduções:
 O interesse pela saúde do trabalhador
está intimamente relacionado à
importância que é dada ao trabalho pela
sociedade.
 A Idade Moderna
 Dois autores se destacam nas décadas
finais dos anos 1400 e início dos 1500:

 Agricola (1494-1555)

 Paracelso (1493-1541)
 Agricola
 Ao tratar dos aspectos relacionados à extração de
metais (prata e ouro) dedica um capítulo aos
acidentes do trabalho e às doenças mais comuns
entre os mineiros (dá destaque ao que chama de
“asma dos mineiros”, provocada por poeiras
“corrosivas”);
 Relata casos de mulheres que chegavam a se casar
sete vezes, dadas as constantes mortes dos
homens;
 Assinalava que esses problemas poderiam ser
evitados; não se tratava de uma questão médica,
mas tecnológica.
 Paracelso
 Descreve, onze anos depois, quadros
patológicos, também em mineiros.

Questão: Por que essa

preocupação com os
trabalhadores das minas?
 1700 – “As Doenças dos
Trabalhadores”
 Ramazzini:
 em 1700, publica “As doenças dos
trabalhadores”, livro que representa um marco
no campo da Saúde do Trabalhador;
 Propõe que se acrescente às perguntas
hipocráticas, na anamnese, a seguinte questão:
“qual é a sua ocupação?”
 lança as bases da medicina social, ao propor
que se estude as relações entre saúde e
condições de vida, que são determinadas pela
posição social que cada um ocupa.
 A Revolução Industrial
 Período alvo de diversos estudos:

 Condições do trabalho longo, penoso e perigoso;

 Ambientes de trabalho agressivos ao conforto e

à saúde;
 A Revolução Industrial
 Produção de graves danos à saúde dos
trabalhadores: acidentes graves,
mutilantes e fatais; intoxicações agudas e
outros agravos à saúde;
 Condições impostas a homens, mulheres
e, inclusive, crianças de cinco, seis ou sete
anos de idade.
 A Revolução Industrial
 A situação descrita acima gerou um
movimento social, com adoção de medidas
legais de controle das condições de trabalho:
 Em 1802: regulamentação da idade mínima para
o trabalho, redução da jornada e medidas de
melhoramento ambiental das fábricas;
 Em 1833: “lei das fábricas” – amplia as medidas
de proteção aos trabalhadores;
 Contratação de médicos pelas empresas.
 Contemporaneidade
 O século XIX é rico em estudos no campo da
saúde do trabalhador;
 Nesse período, começam a surgir, ao lado dos
estudos das doenças de inquestionável
caracterização, alguns estudos sobre danos à
saúde de difícil caracterização objetiva e
rigorosamente “médica”, mas de inconfundível
nexo com o trabalho (como a fadiga, o
envelhecimento precoce, o desgaste e ...)
 Contemporaneidade
 ... alterações do comportamento – “psicopatologia
do trabalho”:
 Delprech (1856), por exemplo, estuda os efeitos do
enxofre: depressão, perda da força de vontade, da auto-
estima e da memória; a pessoa torna-se incapaz de
trabalhar em outra atividade;
 Um médico da Califórnia estuda os efeitos do sulfeto de
carbono: transforma as pessoas em “acusatórias e
paranóides”;
 A Revista Dangerous Trades (1902), ao falar do sulfeto de
carbono, relata que uma indústria colocou grades nas
janelas para impedir que os trabalhadores, nos surtos (por
causa do CS2 ), se jogassem pela janela
 A Saúde do Trabalhador no Brasil
•“Momentos” na busca pela saúde dos trabalhadores:
 Luta pela sobrevivência
 A Saúde do Trabalhador no Brasil
•“Momentos” na busca pela saúde dos trabalhadores:
 Luta pela reparação dos acidentes e mutilações
 A Saúde do Trabalhador no Brasil
•“Momentos” na busca pela saúde dos trabalhadores:
 Luta pela identificação e reparação das doenças

atribuídas ao trabalho
 A Saúde do Trabalhador no Brasil
•“Momentos” na busca pela saúde dos trabalhadores:
 Luta pela sobrevivência
 Luta pela reparação dos acidentes e
mutilações Estratégias
“reparacionistas”
 Luta pela identificação e reparação das
doenças atribuídas ao trabalho

– Luta pela saúde no trabalho Enfoque “sanitarista”,

(década de 60) “ambientalista”

Desafio: Saúde do Trabalho

 Referências Bibliográficas
 MENDES, René. “Aspectos históricos da patologia
do trabalho”. In: MENDES, Rene (org) Patologia do
trabalho. Rio de Janeiro: Atheneu, 1995. (pp 5-15)
 RAMAZZINI, Bernardino. “Prefácio”. In: RAMAZZINI,
Bernardino. As doenças dos trabalhadores. (trad.
Raimundo Estrela. 3. ed.). São Paulo:
FUNDACENTRO, 2000.
 REBOUÇAS, Antônio José de Arruda. “Introdução”
In: REBOUÇAS, Antônio José de Arruda et al. Morte
lenta no trabalho: a insalubridade no Brasil. São
Paulo: Oboré, 1989. (pp. 19-23)