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Evolução da Higiene e

Segurança do Trabalho
(HST)
Evolução da Higiene e Segurança do Trabalho (HST)

A História abre portas para o entendimento do desenvolvimento do


conhecimento de todas as áreas, incluindo a medicina do trabalho e a
higiene e segurança do trabalho. Com o desenvolvimento da
humanidade e do labor, ao longo do tempo, as condições de trabalho
foram sendo cada vez mais determinantes para a ocorrência de
doenças e acidentes de trabalho, os quais resultaram em
incapacidades temporárias e permanentes e até mesmo na morte de
inúmeros trabalhadores (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Nos próximos tópicos serão explorados os principais marcos


históricos relativos ao surgimento e desenvolvimento da medicina e
higiene do trabalho, bem como o surgimento de regulamentações e
seus desdobramentos nas relações de trabalho e na incidência de
doenças e acidentes de trabalho.

Surgimento da medicina do trabalho


A Medicina do Trabalho surgiu no século XIX, através do
estabelecimento de uma relação entre saúde e trabalho. O estudo da
medicina do trabalho não era focado em torná-la uma especialidade,
mas sim na busca por formas de aumentar a produtividade de
trabalhadores e de minimizar as consequências das patologias
adquiridas em virtude das atividades laborais (MATTOS; MÁSCULO,
2019).

Bristot (2019, p. 174) define a medicina do trabalho como um:

Segmento da medicina tradicional, com


características diferenciadas dentro de um
programa de saúde ocupacional, objetivando a
realização das avaliações da capacidade física,
mentais e emocionais, para que o trabalhador
possa iniciar suas atividades laborais sem correr
riscos para si e para seus (BRISTOT, 2019, p.
174).

Logo, podemos afirmar que a medicina do trabalho é uma


especialidade médica dedicada ao tratamento de doenças e ao
restabelecimento da saúde do trabalhador que tenha sido vítima de
acidentes e doenças do trabalho. Desse modo, a medicina do
trabalho é decisiva para a associação dos agravos à saúde e o
desempenho do trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

A conexão entre os agravos e o trabalho remete aos estudos da


Escola da Administração Científica, idealizada e iniciada por Frederick
Taylor (1856-1915), a qual se desenvolveu nos Estados Unidos, com
o aporte de outros autores, como Henry Lawrence Gantt (1861-
1919), Frank Bunker Gilbreth (1868-1924) e Harrington Emerson
(1853-1931). A principal preocupação dessa corrente de pensamento
concentra-se na elevação da produtividade da organização através
do aumento de eficiência dos operários. Assim, no século XIX,
grande ênfase era dada à análise e divisão do trabalho do operário,
visto que cada função e cargo que ocupam consiste numa unidade
fundamental da empresa (CHIAVENATO, 2003).

Mattos e Másculo (2019) apontam que a atuação do médico abria


espaço para interpretações de acordo com o atendimento clínico
individual, não sendo incomum a dissociação dos agravos gerados à
saúde em relação ao trabalho. Isso beneficiava o paradigma
taylorista, uma vez que favorecia a seleção dos funcionários “mais
aptos” para uma função. A associação entre agravo e atividade
laboral, também favorecia o gerenciamento do retorno dos doentes e
acidentados e o controle do absenteísmo.

Porém, de forma um tanto crua, podemos dizer que cada vez mais o
“cerco foi se fechando”, pois, com a incorporação de conhecimentos
e das inovações técnicas (como os motores elétricos), foi ficando
cada mais difícil sustentar uma resposta que não traçasse uma ponte
direta entre o surgimento de agravos e a execução do trabalho, os
quais “inviabilizavam economicamente a produção, principalmente no
período pós-guerra, onde a economia estava sendo reativada e a
mão de obra reassumindo os postos de trabalho” (MATTOS;
MÁSCULO, 2019, p. 15).
Nesse contexto, aparece uma nova abordagem para a relação entre
saúde e trabalho: a saúde ocupacional, cuja finalidade consistia em
adequar-se à nova necessidade produtiva (MATTOS; MÁSCULO,
2019).

Regulamentação das condições de trabalho na Europa

Conforme discutido na aula 1, desde a Antiguidade os pensadores já


apontavam os possíveis efeitos nocivos da exposição prolongada a
diferentes substâncias durante a realização do trabalho. Porém,
bastante tempo depois vieram novos registros de estudos acerca da
toxicidade de substâncias e potenciais consequências à saúde. Em
1473, Ulrich Ellenborg associou sintomas de envenenamento
ocupacional por vapores metálicos (chumbo e mercúrio, por
exemplo), ácido nítrico e monóxido de carbono. Além disso, propôs
medidas de prevenção (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Entretanto, até o final do século XV publicações de investigações


sobre doenças provocadas por agentes químicos não costumavam
propor formas de tratar, apenas de preveni-las. George Bauer foi o
primeiro a conduzir um estudo completo em 1556. Sua obra,
intitulada “De Re Metallica” abordou as enfermidades relacionadas
com as atividades de extração e fundição de prata e ouro, bem como
as doenças e acidentes de trabalho mais frequentes entre mineiros.
O seu diferencial consistiu em propor, além de formas de prevenção,
como a garantia de condições apropriadas de ventilação, foi a
descrição dos sintomas e a evolução de uma moléstia referida por ele
como “asma dos mineiros”, a qual mais tarde chegou-se à
interpretação de ser equivalente ao que hoje se conhece como
silicose (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Em 1567, Aureolus Theophrastus Bembastus von Hohenheim,


conhecido como Paracelso, publicou o livro “Dos ofícios e doenças
da montanha”, que constituiu a primeira monografia cujo tema foram
as associações entre os métodos de trabalho e doenças ocasionadas
pelo contato com substâncias por profissionais de mineração e
fundição de metais, como a silicose e as intoxicações por chumbo e
mercúrio (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Como definitivamente as atenções estavam voltadas para o risco da


atividade de mineração, em 1665, na cidade Ídria, na Eslovênia, país
do Leste Europeu, reduz-se a jornada dos mineiros de mercúrio a fim
de diminuir a incidência do “idragismo”, doença ocasionada por esse
metal. Esse foi marco regulatório importante em matéria de saúde e
segurança do trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

Conforme já explanado na aula 1, no século XVIII vieram as


publicações de Ramazzini, tido como o Pai da Medicina do Trabalho,
fundamentais para estabelecer uma máxima válida até os dias atuais:
“Prevenir é melhor do que remediar.” Ramazzini descreveu não só as
doenças e suas respectivas medidas de prevenção, mas também
introduziu na anamnese médica o questionamento “Qual a sua
ocupação?” (MATTOS; MÁSCULO, 2019).

No ano de 1740 implementou-se na Dinamarca um sistema de saúde


nacional, criando-se os primeiros exames, os quais serviram de
modelo para os demais países europeus. Anos depois, em 1775, na
Inglaterra, o médico Percival Pott relatou o desenvolvimento de
câncer escrotal por limpadores de chaminés, devido à falta de higiene
e ao contato com fuligem. Treze anos mais tarde foi promulgada no
país a Lei de proteção aos limpadores de chaminé (MATTOS;
MÁSCULO, 2019).

Somente com o advento da Revolução Industrial, com a verificação


de quão degradas estavam as condições de trabalho e com a alta no
número de acidentes de trabalho graves, mutilantes e fatais,
mediante intensa reivindicação e atuação dos movimentos sociais,
introduziram-se medidas legais de controle das condições e dos
ambientes de trabalho. Era urgente que fossem regulamentados
muitos dos fatores que resultavam nos acidentes de trabalho a
época, entre eles: a falta de proteção das máquinas, a falta de
treinamento para sua operação, as extenuantes jornadas de trabalho,
os níveis elevados de ruído produzido pelas máquinas e as más
condições de higiene e segurança dos ambientes de trabalho
(MATTOS; MÁSCULO, 2019).

O impacto da abertura de novas fábricas e tipos de atividades


industriais, tornava-se cada vez mais insustentável, visto que subiam
os números de doenças e acidentes de origem ocupacional e não
ocupacional. Diante disso, com o Sir Robert Peel a frente, é
inaugurada uma comissão de inquérito no Parlamento britânico. Em
1802 foi aprovada a primeira lei de proteção aos trabalhadores,
chamada de “Lei da Preservação da Saúde e da Moral dos
Aprendizes e de Outros Empregados”, a qual, dentre outras
providências, fixava a jornada diária de doze horas de trabalho,
proibia o trabalho noturno, determinava a obrigação de garantir boa
ventilação nos ambientes de trabalho, assim como a limpeza das
paredes das fábricas duas vezes ao ano pelos empregadores. Outras
leis complementares foram promulgadas em 1819, mas segundo
Mattos e Másculo (2019), elas não foram propriamente levadas em
consideração respeitadas pelos empregadores, visto que isso exigiria
um investimento financeiro alto, que não era de seu interesse realizar.

Os estudos continuaram avançando ao longo do século XIX, até que


no século seguinte foi fundada a Organização Internacional do
Trabalho (OIT), em 1919, que culminou na evolução das legislações
trabalhistas, estabelecendo, criando condições necessárias para o
desenvolvimento dos aspectos técnicos da Higiene Industrial
(BRISTOT, 2019).

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